sexta-feira, agosto 29, 2014

FREDERICO ALBERTO BLAAUW


ENTREVISTA REALIZADA NO DIA 21 DE AGOSTO DE 2014 A RUA ALFERES JOSÉ CAETANO, 581

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 23de agosto de 2014.

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

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ENTREVISTADO: FREDERICO ALBERTO BLAAUW

 

 

Em uma reunião a 9 de setembro de 1968 o Conselho Diretor do Instituto Piracicabano decidiu encaminhar o pedido de autorização para mais dois cursos: o de Direito e o de Ciências Biológicas. Frederico Alberto Blaauw foi o primeiro colocado no primeiro vestibular, realizado a 14 de fevereiro de 1970, com um total de 159 inscritos e um total de 115 aprovados. Frederico Alberto Blaauw, que se tornaria professor do curso já era professor de línguas e literatura no Colégio Piracicabano. Formado em Direito, continuou na docência. Nascido em São Paulo, na Rua Piratininga, a 27 de outubro de 1933, filho primogênito de Frederico Blaauw e Ana Henriques Blaauw  que ainda tiveram os filhos José Carlos e João Paulo.

Qual era a atividade profissional do pai do senhor?

Meu pai era funcionário da Shell. Eu tinha alguns meses de vida quando a nossa família mudou-se à Piracicaba. No inicio residimos em uma casa situada a Rua São José, 1182, ficava a meio quarteirão abaixo do Largo Santa Cruz. Depois mudamos na esquina, no Largo  Santa Cruz, 862,  esquina com a Rua São José. Na época o Largo Santa Cruz era chão de terra. Tinha uma capelinha no centro do Largo Santa Cruz, onde  havia festas.

Com que idade o senhor começou a freqüentar a escola?

Aos sete anos iniciei o curso primário no Grupo Escolar Moraes Barros. Minha primeira professora foi Maria Emilia Cardinalli. Prestei o curso de admissão e fiz o ginásio no Piracicabano, situado na Rua Boa Morte. O Curso Científico fiz no Instituto Sud Mennucci onde tive aulas com Argino da Silva Leite, que ensinava matemática, Benedito de Andrade que lecionava português. Demosthenes Santos Corrêa professor de química. Fui aluno do Archimedes Dutra.Conclui o científico aos 18 para 19 anos.

O senhor tinha algum curso como meta?

Eu desejava entrar para a escola de cadetes., em Resende. Eu tinha um pendor para isso. Só que nessa época, em 1954, meu pai faleceu. Como filho mais velho tive que assumir os encargos da família. Prestei o concurso para o SESI, fui aprovado como educador social. Por ter sido aprovado nesse concurso, fiz a Escola de Sociologia e Política, com bolsa do SESI em São Paulo, onde permaneci por três anos residindo em uma casa situada no Brás. A Escola de Sociologia Política ficava bem no centro, ao lado da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, atualmente é a Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo. Após concluir esse curso voltei para Piracicaba como Educador Social do SESI. Atendia as empresas. 

 

Em poucas palavras qual era a função do Educador Social?

A função primordial era trabalhar no sentido em que houvesse a paz social. Evitar litígios entre funcionários e empresas. Já existia sindicalismo, com um enfoque diferente. Hoje as empresas e os sindicalistas são antagônicos. Antigamente procuravam caminhar juntos.

Quanto tempo o senhor permaneceu no SESI?

Foram mais de 30 anos. Assumi a supervisão do Centro Social número 20 que abrangia Piracicaba. Eram ministradas palestras, principalmente cursos, de formação cívica, de supervisão de pessoal, de relações humanas. Esse trabalho do SESI hoje não existe mais. Infelizmente a própria relação patrão-funcionário deteriorou. O intuito principal era estabelecer o dialogo, a paz social. Os cursos eram dirigidos nesse sentido.

O senhor lecionava?

Fui educador social ministrando as aulas. Depois assumi a direção, passando a ter uns oito ou nove subordinados. Pode-se dizer que nunca houve um clima extremamente pesado (de guerra) entre a classe patronal e a classe de trabalhadores, como ocorreu em outras regiões do país.

O sobrenome Blaauw tem qual origem?

A origem é holandesa, de Amsterdam Meu avô paterno, Frederico Blaauw era engenheiro, veio para Campinas quando a Companhia Mogiana de Estradas de Ferro estava sendo implantada. Acabou casando-se em Campinas. Meus avós maternos eram portugueses, ela era Ascenção da Silva Henriques e meu avô era Alberto Henriques. Minha avó materna passava temporadas conosco, depois voltava para Lisboa. Blaaaw na Holanda é um nome tão comum como Silva no Brasil. Blaaw quer dizer “azul”. No Nordeste existe uma cantiga que fala do “Boi Blau” quando ele aparece traz sorte. A  origem está no período da Invasão Holandesa.

O que o levou a cursar direito?

Fiz o curso de direito na UNIMEP. No vestibular da UINIMEP fui aprovado em primeiro lugar. Isso foi em 1970, sou da primeira turma, formei-me em 1973. Eu tinha 37 anos.

O senhor resolveu trabalhar na área jurídica ou continuar na área de ensino?

Até então eu trabalhava no SESI e também lecionava. Fui professor de português por muito tempo, em várias escolas. Lecionei no Colégio Piracicabano, na Escola Industrial, por muito tempo lecionei na Escola de Comércio do Zanin (Escola de Comércio Cristóvão Colombo).

Há quem diga que a lingua portuguesa é complexa, o senhor concorda?

Se você comparar a lingua portuguesa com o inglês, a aplicabilidade dela é a mesma. Só que o inglês é uma lingua praticamente universal e o português é restrito.

A análise sintática tem algum segredo para que o aluno tenha bom entendimento?

Eu acredito que não existem segredos. O que existe é a aplicação do aluno. E o aluno é sempre uma resposta em relação ao professor. Na medida em que o professor exige o aluno corresponde.

Qual foi sua atividade referente ao direito logo após a sua formatura?

Passei a dar aulas na própria faculdade.

O senhor pratica algum esporte?

Faço caminhadas. Antes eu praticava corrrida, dois a dois quilometros e meio todos os dias. Eu morava em uma casa situada na Avenida Independência esquina com a Rua Samuel Neves. Fazia aquele percurso até a Esalq, dava um giro pelo campus e voltava.

O seu porte ereto, a postura elegante, é genético ou força do habito?

Acho que é força de vontade!

No campo do direito qual é a especialidade do senhor?

O meu escritórios´trabalha com pesssoa juridica. Prestamos assessoria para empresas. Obviamente que para os sócios das empresas nós prestamos serviços. Isso sempre foi assim, desde o começo.

O senhor nunca atuou na área criminal?

Essa parte criminal não fazemos. Só trabalhamos com direito civil, direito de trabalho, direito tributário. Contratos.

O Direito no Brasil é o mesmo direito dos outros países?

Acho que há um equilibrio.

Qual é a importância da Ordem dos Advogados do Brasil, OAB? 

E um orgão que disciplina, organiza, tem uma amplitude muito grande em relação aos advogados. É o orgão de controle da advocacia. Hoje ela está mais voltada para a sua própria atividade, ela não ten a expressão política. Ela já teve uma participação politica maior. Hoje ela está mais voltada para a prória classe.

Em 1964 o senhor ainda não era advogado, mas já estava inserido no sistema de serviço publico. O senhor vê que o Movimento de 1964 trouxe resultados positivos?

O golpe de 1964 foi bem recebido pela população de uma maneira geral, pela igreja, pelas instituições, pelo empresariado. Dados os desmandos que havia. Depois as coisas foram mudando e a visão passou a ser outra. Só que durante 20 anos vivemos garroteados. Fui vereador em duas legislaturas. No governo de Cassio Paschoal Padovani e no governo de Adilson Benedito Maluf, quando fui o vereador mais votado do MDB – Movimento Democrático Brasileiro, oposição a Aliança Renovadora Nacional – ARENA. O deputado Francisco Antonio Coelho era presidente do diretório do MDB. Fui líder da bancada do MDB. Fui fundador do Lions Cidade Alta.

Qual fato o senhor pode destacar como muito representante para Piracicaba no período em que o senhor foi vereador?

No governo do prefeito Adilson Benedito Maluf a vinda da Caterpillar para Piracicaba foi muito marcante! Talvez seja a mais importante mudança que Piracicaba teve nos últimos anos e se deve ao prefeito Adilson Benedito Maluf que nunca foi reconhecido como gestor que trouxe a cidade para Piracicaba. O Adilson era filiado ao MDB. Foi uma grande luta sua trazer a Caterpillar à Piracicaba, esteve até nos Estados Unidos, em Peoria, onde fica a matriz da Caterpillar.

Nessa época ser oposição ao governo era uma atitude muito complicada?

Precisava ter muito peito!

Depois que deixei o mandato fui secretário de finanças do João Hermann Netto, e fui também Procurador Geral do Município. Na época de Luciano Guidotti fui presidente do Departamento Municipal de Cultura, naquela época não existia secretaria. Havia também o Departamento de Turismo. Fui presidente da Guarda Mirim, criei o departamento feminino da Guarda Mirim. O Ciappina era o comandante. Quando a Guarda Mirim foi criada o menor podia trabalhar, o objetivo era tirá-los da rua, dar uma formação, o que a Guarda Mirim fazia muito bem, e encaminhá-los para o serviço. Hoje só pode ser feito com 14 ou mais anos.  Fui presidente da Comissão Municipal do Mobral, formamos muita gente em Piracicaba. Consegui doações para adquirir a sede do Mobral em Piracicaba, com a extinção do Mobral esse imóvel passou a ser propriedade da Prefeitura Municipal de Piracicaba, na Rua José Pinto de Almeida quase esquina com a Rua São José.

Dr. Frederico Alberto Blaauw qual era o salário do senhor como vereador?

Nenhum! Não se ganhava nada para trabalhar como vereador. O combustível que eu usava no meu veículo era pago por mim mesmo. O carro que eu utilizava para trabalhar como vereador era o meu próprio carro. Não havia ajuda nenhuma. Não tinha secretária, assessor. Não tinha nem local para se trabalhar. Cada um trabalhava no seu escritório ou na sua casa.

O senhor atua como advogado especializado em direito comercial há quarenta anos, no decorrer desse tempo o direito mudou muito. Como o senhor avalia essas mudanças?

Até 2002 tínhamos um código comercial. Com o advento do novo código civil uma parte do direito comercial passou a ser incorporada ao direito civil. A parte de contratos, sociedades, deixaram de pertencer ao código comercial e passaram para o código civil.

Esse cipoal de leis que existe beneficia a quem?

Só dificulta. Para o interprete e para as partes. Eu diria que a tendência é tentar simplificar, mas nós não atingimos ainda esse estágio. A burocracia está enfronhada no sistema. É difícil desligar-se dessa situação. Nosso sistema sempre foi burocratizado, isso traz entraves. No Brasil para se abrir uma empresa leva-se no mínimo, correndo tudo bem, de três a quatro meses. Em determinados países você consegue abrir uma empresa em três dias!

O recolhimento de tributos é um problema?

A complexidade de recolhimentos é espantosa. Por exemplo, um tributo dos municípios que é recolhido para as prefeituras, o ISS, Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza. Onde se recolhe esse imposto? Você paga onde a empresa tem sua sede, onde está o estabelecimento principal, ou você paga aonde o serviço é prestado. Só que as prefeituras exigem que a empresa que tem sede em Piracicaba, mas presta serviços em Campinas recolha o imposto aqui. A prefeitura de Campinas também exige que recolha lá, o serviço foi prestado lá. Há uma bitributação.

O senhor tem um cálculo aproximado de para quantos bacharéis em direito lecionou?

São 36 anos lecionando, em um cálculo rápido foram aproximadamente 2.900 profissionais do direito. Que hoje são bacharéis, advogados, promotores públicos, juízes, desembargadores.

Se o senhor não fosse advogado seguiria a carreira militar, não há um contraste nessa afirmação? Como um político da oposição se identifica com o militarismo?

Está havendo um equivoco! Militarismo é uma coisa, pertencer as Forças Armadas é outra coisa totalmente diferente! As Forças Armadas pertencem a própria instituição da nacionalidade. O próprio PT sempre foi oposição mas convive com as Forças Armadas, que é uma instituição.

O senhor tem algum livro na gaveta para ser lançado?

Eu contribuo com artigos no jornal “A Tribuna Piracicabana”. Pode ser que um dia reúna todos os artigos que publiquei e os publique em forma de livro..O que escrevo procuro dar um enfoque sempre de caráter prático. Não apenas a parte teórica.

O senhor acompanha a tecnologia?

Não tem como fugir! Antigamente a movimentação junto ao fórum era só através de papel, hoje não, é tudo digitalizado.

A profusão de novas normas, leis e decretos, obrigam o advogado a estar sempre muito bem informado?

A legislação vai se adequando a uma realidade nova que vai surgindo por força da própria evolução. Isso não há como evitar. Essas mutações fazem com que você fique sempre voltado para essas alterações. O direito evolui.

Essas mudanças de legislações não ocorrem só no Brasil?

Ocorrem mudanças em todo o mudo, só que no Brasil elas são decorrentes de uma imposição mais tática e não estratégica. Mais para atender o dia a dia e não a longo prazo. Hoje o empresário brasileiro está preocupado com o que pode vir a acontecer. Ele se prepara para isso. Só que ele não tem ajuda do governo. O governo visa apenas a arrecadação. É preciso levar em conta que o que mantém o governo é a empresa. A empresa mantém o governo, mantém o sindicato, mantém a economia funcionando, o emprego, ela tem que receber um tratamento especial para que possa suprir as necessidades da própria sociedade. Mas não é o que acontece. A empresa é vista como inimiga. Isso é uma mentalidade atrasada. Característica do Brasil. Eu acho que o enfoque teria que ser outro.  

O senhor diria que o empresário antes de tudo é um forte, parafraseando Euclides da Cunha que escreveu que o sertanejo é antes de tudo um forte?

Eu acho que se aplica bem a situação. Os jornais de hoje estampam a execução de imóveis de um tradicionalíssimo grupo de empresas de Piracicaba, quem está executando é a Receita Federal. Trabalham lá atualmente 3.000 empregados. Qual será o destino daqueles imóveis? O que a Receita Federal irá fazer com aquilo? O que mantém o que mantém o Status Quo (estado atual) hoje? É a economia. E a nossa economia está em uma situação extremamente complicada. Piracicaba sempre dependeu das usinas, quantas fecharam as portas?

Há um grupo muito poderoso, de capital internacional, que está adquirindo tudo que atua nesse setor?

Monopólio sempre existe, não há como evitar. Acho que é muito mais uma questão de política econômica do que interesses privados.

Como o senhor vê o momento político atual?

Conturbado.

O senhor viveu o ambiente de 1964, há como fazer uma comparação com dos dias atuais?

 A situação é completamente diferente. Hoje a democracia está estabilizada no Brasil. Hoje o Brasil é uma democracia firme. Para ser plena falta muito, mas caminhamos para isso. A não ser que sobrevenha uma situação inusitada.

O senhor tem algum hobby?

Gosto de chácara, de plantar, gosto de cavalo árabe, tive um chamado Koltov, de cachorro, sempre gostei da raça fila brasileiro, hoje tenho um, o Kaiser.

domingo, agosto 24, 2014

ALCINDO MACHADO DE OLIVEIRA FILHO


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 9 de agosto de 2014.

Entrevista: Publicada aos sábados na Tribuna Piracicabana
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ENTREVISTADO: ALCINDO MACHADO DE OLIVEIRA FILHO

 

Alcindo Machado de Oliveira Filho nasceu em Americana a 22 de setembro de 1958. São seus pais Alcindo Machado de Oliveira e Verônica Moia Machado. Seus pais tiveram os filhos: Alcindo, Lourdes, Roselene, Rosangela, Leonilda, José Carlos e Vera Lúcia. Seu pai trabalhava em tecelagem, residiam na Vila Gallo.

Alcindo Machado, ainda residindo em Americana em que escola você estudou?

Até o quarto ano primário, estudei no Dom Bosco, havia um convênio entre o poder público e a escola. Estudava de manhã, a tarde voltava para a escola porque sempre tinha alguma atividade extra, catecismo, esportes. Lembro-me de um diácono, Leonel, ele que organizava os treinos.

Americana era um entroncamento importante?

Ali é passagem dos trens que vem de São Paulo e dirigem-se até o entroncamento de Rio Claro. Até hoje vemos os trens passar por Americana, só que atualmente são só trens de carga.

Na época existiam cinemas no centro da cidade?

Tinha o Cine Cacique, o Cine Comendador, Cine Brasil.

O ginásio você cursou em qual escola?

Estudei o ginásio na Escola Estadual Presidente Kennedy.

Com que idade você começou a trabalhar?

Quando fui cursar o ginásio, para poder estudar a noite tinha que ter algum documento que demonstrasse que estava trabalhando durante o dia. Era a norma na época. O aluno só estudava a noite se trabalhasse durante o dia. Na época eu tinha de 12 para 13 anos. Pelo período de um ano, um ano e pouco, trabalhei na tecelagem Machado & Marques.

Qual era a sua atividade na tecelagem?

Era auxiliar de tecelão. Naquela época já tinham mudado o tear mecânico para um tear semi-automático. Existia as “lançadeiras”, que é o local aonde ia a linha, a trama, o auxiliar tinha que pegar a lançadeira, colocar a trama em um dispositivo onde à hora em que a trama terminasse era trocada.

Era um serviço que exigia muita atenção?

Você não parava! No inicio o tecelão ajudava, ensinava o serviço, depois já dizia: “ –Acelera ai que essa parte é sua!”.

Após esse período na tecelagem, qual foi a sua próxima etapa?

Na visão do meu pai aquele era um trabalho que não oferecia maiores perspectivas.

 

 

 

A seu ver eu deveria estudar e arrumar um serviço. Fui ser office-boy em um escritório, Escritório Universal, situado bem no centro de Americana. Era uma cidade de porte pequeno (Em 1970 o município tinha 66.370 habitantes, em 1980 122.004, conforme www.campinas.sp.gov.br). Foi nessa época que meu pai deixou de trabalhar na tecelagem, adquiriu um estabelecimento comercial, um bar. Era situado em um posto de gasolina, e que hoje denominamos esse tipo de comércio como de “Estabelecimento de Conveniência”. Ficava situado no centro de Americana, o posto tinha um lava - rápido, era um local com bastante movimento. No período em que trabalhei no escritório começou a minha paixão pela fotografia, atividade que eu exercia mais nos finais de semana.

Como surgiu a fotografia em sua vida?

Eu tinha um amigo chamado Paulinho, cujo tio Gerson veio de São Paulo e passou a trabalhar com um japonês, o Yamashita. Eles fotografavam em Americana em Santa Barbara D`Oeste, cidade vizinha. Faziam reportagens fotográficas de batizados, casamentos. Como o Studio fotográfico ficava em Americana era dada a preferência dos fotografados em ir até lá.  Em Santa Bárbara D`Oeste e mesmo os batizados em Americana, tirávamos as fotografia e os respectivos endereços para posteriormente fazer as entregas. O Gerson passou ao seu sobrinho a tarefa de entregar as fotografias prontas. O Paulinho também pediu que eu entregasse as fotos reveladas.   O meu sonho era fotografar e não apenas entregar fotos. O estúdio fotográfico desse japonês era em frente a matriz antiga de Santo Antonio, existe até hoje, embora tenham construído uma matriz nova. (A Fidam primeira edição da Feira Industrial de Americana foi realizada em 1961, no salão de festas da nova Igreja Matriz de Santo Antônio).

Quando você foi tirar a primeira foto?

Foi de um batizado com uma máquina Yashica 6x6, o flash era separado da máquina, tinha um cabo ligando-a a máquina para que no momento do disparo agissem em conjunto luz e fotografia. Na época o flash requisitava o uso de uma bateria enorme, um estojo de couro levado ao lado do corpo. Era um equipamento que exigia conhecimento técnico do fotógrafo, tinha que regular abertura, foco. As pessoas tiravam poucas fotos, duas, três, quatro. Nessa época eu tinha uns 14 anos. As fotos eram em preto e branco.

A partir de então você passou a tirar fotografias de casamento, batizado, formatura?

Após tirar as fotografias geralmente éramos convidados a participar da festa. Foi assim que conheci a minha esposa.

Qual era o tipo de roupa que você utilizava para tirar fotografias?

No começo usava as roupas vestidas pelas pessoas comuns. Depois, à medida que o volume de trabalho foi crescendo, dependo da ocasião, se fosse necessário usava uma roupa mais formal.

Qual é a fotografia mais difícil de ser tirada?

Após aprender a tirar fotografia, dominar os recursos da máquina, todas as fotografias são difíceis, é importante saber o roteiro do que irá acontecer. Se você não estiver na posição correta, a sua fotografia será péssima, irá sair uma fotografia sem mostrar o que de fato está acontecendo. Sempre aprendemos que temos que saber em que posição vamos tirar a fotografia. Um casamento ou um batizado terá forma própria conforme o celebrante. Nunca será igual ao outro. Praticamente você irá antecipar o que irá acontecer para ter condições de que a foto saia privilegiada. Sente-se que hoje estão de volta as fotos em estúdio, os famosos “books”.

Você pode traçar um paralelo entre as postagens realizadas hoje no face book e as fotos daquela época?

O que vejo atualmente é muitas fotos sem critério algum. Hoje vemos os selfies (Selfie é uma palavra em inglês, um neologismo com origem no termo self-portrait, que significa auto-retrato, e é uma foto tirada e compartilhada na internet). A qualidade dessas fotografias não são as melhores. Fotografia sempre foram luz e sombra.

Você revelava fotografias?

Revelei! Trabalhei no laboratório muitos anos. Laboratório é um ambiente escuro, com várias banheiras, cada uma com um produto químico. O filme tem que ser tirado da máquina em um ambiente totalmente escuro. Após retirado era colocado em uma banheira com revelador, o tempo médio de revelação do filme branco e preto era medido muito mais pela sensibilidade do fotografo, dependendo da temperatura ambiente. Depois um banho com fixador e em seguir lavava o filme e punha para secar. O fixador interrompia a revelação, se simplesmente o deixasse ele iria comendo o filme. Depois ampliava o filme e passava para o papel fotográfico. Já para o filme colorido tudo tem que seguir um padrão de medidas e escalas. Temperatura de 33 graus centígrados. O filme colorido passa por mais banhos, como o branqueador por exemplo. O papel utilizado para filme preto e branco e para filmes coloridos são diferentes. O colorido tem mais camadas de cor. Com o filme preto e branco era utilizado um ampliador com uma luz só, uma luz branca, no filme colorido já entrava os filtros. O ampliador era como um projetor, nessa luz branca era colocado três filtros. Todos tinham uma numeração de acordo com o filme, eram feitos uns testes para graduação e saber quanto de luz de cada cor deveria incidir sobre o filme, assim como o tempo necessário.

Você montou laboratório fotográfico em Rio das Pedras?

Montei! Hoje não existe mais, mas foi um dos primeiros laboratórios fotográficos de Rio das Pedras, situava-se na Rua Prudente de Moraes, iniciei já que mudei de Americana para Rio das Pedras. Até então existia outra casa de fotografias onde revelava apenas o preto e branco. O filme colorido era mandado para outra cidade para ser revelado.

Como você conheceu sua esposa?

Eu deveria ter uns quinze ou dezesseis anos quando conheci. Minha esposa Zenite Aparecida Gallo Machado de Oliveira. Quando a conheci já fazia uma ano, um ano e meio que estava trabalhando com fotografia. O dono da empresa de fotografias chamava-se Yoshio Yamashita, ele contratava 10 a 20 casamentos para serem fotografados em um sábado.

Zenite você trabalhava em que área?

Eu trabalhava na Loja Marisol, em Americana. Na minha casa de filhos éramos eu e meu irmão Zildo Gallo. Meus pais são Aristides Gallo e Aparecida da Silva Gallo. Meu pai trabalhou muitos anos na Companhia Paulista de Estradas de Ferro. Andei muitas vezes de trem.

Alcindo, assim que você e sua esposa se casaram foram morar em que cidade?

Quando nos casamos fomos morar em Araraquara por um período de tempo, trabalhei com outro fotógrafo, sendo que meu serviço era mais interno ao laboratório, de segunda a sexta-feira. Antes de nos casarmos eu saia de Americana logo pela manhã, chegava a Araraquara ao meio dia, onze horas. De ônibus da Viação Cometa ia mais rápido do que de trem da Cia. Paulista. Lá eu me hospedava em uma pensão.

Que dia vocês se casaram?

Foi no dia 28 de setembro de 1979, em Americana, na Igreja São João Bosco, quem celebrou o casamento foi o padre Julio Combo, a música tocada foi Ave Maria de Gounod. Tivemos os filhos: Ariella, Rafael, Gabriela.

Nessa época você trabalhava com que máquina?

Era uma Canon AE1, com baioneta. Eu tinha um amigo que tinha montado um laboratório. Permaneci com ele uns dois ou três anos. A seguir fui trabalhar com um fotógrafo muito famoso em Americana, Strikis, era leto. Por volta de 1986 a 1987  Esmeralda Schiavon, tinha uma loja muito grande em Rio das Pedras, o “Lojão da Nove de Julho”.  Ela fez o convite para que viéssemos para Rio das Pedras, havia campo na cidade para um fotografo. Ela nos disse que o pessoal do corte de cana recebia por semana e gastava.

Que tipo de fotografia você tirava desse pessoal do corte de cana?

Tirava fotografias 3x4, fotografias deles compondo um grupo. Eram fotografias que mandavam para o local de origem deles. Todos os eventos da cidade eu sempre tirei. Cheguei a tirar fotos de pessoas falecidas, geralmente eram pessoas que vinham trabalhar na safra, acabavam falecendo aqui e os amigos queriam mandar à família do mesmo como última recordação. Antigamente tínhamos um paletó, camisa e até gravata, para tirar fotografia para documento oficial. Hoje o fotografado vai de camiseta, através do photoshop colocam-se artificialmente os mesmos acessórios. .

Quantas fotografias você calcula que realizou sobre Rio das Pedras?

Não tenho uma noção precisa, mas são bem mais do que 100.000 fotografias. Tirei fotos de personalidades, cantores famosos, artistas de renome. Faço fotos para CD`s, são pessoas que querem gravar músicas.

Você pensa em montar um memorial ou algo parecido?

Por enquanto ainda não.

Você manteve estúdio aberto ao publico por quanto tempo em Rio das Pedras?

Desde 1988, são de 26 a 27 anos de estúdio.

Da. Zenite Aparecida Gallo Machado de Oliveira a senhora também é fotografa?

Com a convivência acabei aprendendo o ofício e tive a oportunidade de fazê-lo profissionalmente.

Há cliente que pede para fazer uns retoques com photoshop em foto normal?

Tornou-se quase normal, tanto homem como mulher pedir para dar um toquezinho em alguma mancha ou marca. Às vezes a pessoa é muito auto critica com ela mesma.

Qual é a mágica para fazer foto de candidato a cargo político?

Por muitos anos tenho tirado fotografias de candidatos. Para cargos como prefeito e vereador as fotografias são mais simples. As imagens recebem um tratamento diferenciado quando se trata de candidato para cargo com alcance nacional. Sempre fui muito sincero, se o candidato dá sugestões para mudanças muito radicais na fotografia eu deixo bem claro que o próprio leitor pode acabar não o reconhecendo. O leitor tem grandes possibilidades de achar que não é a mesma pessoa.

Você acredita que a fotografia digital determine o fim da fotografia como conhecemos até algumas décadas?

A fotografia não vai terminar! O que está acabanado é a fotografia no papel. A grande procura é por armazenamento eletrônico. É muito mais prático. Só que também é mais fácil de perder. Tenho um computador que impede que descarregue determinadas fotos. Tem uma pessoa que consegue recuperar, mas não consegue a recuperação de todas as fotos. A tecnologia ainda é confiável até certo ponto, você não tem garantia absoluta das imagens que você transfere a um equipamento, mesmo que faça cópia poderá ter problemas.

MARIA ANGELA STURION - LAVANDERIA MARIO


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 02 de agosto de 2014.

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

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ENTREVISTADA: MARIA ANGELA STURION

 

A tradição de um povo é tão importante que alguns países ainda sustentam reinados como símbolos de um passado glorioso. Apesar de sermos um país jovem temos muito do que nos orgulhar. Piracicaba cresceu lentamente, com organização e sempre inovando em diversos setores. Culturais, artísticos e empresariais. Com a evolução tecnológica surgiram novos hábitos. Um deles é o de como vestir-se. Com a globalização praticamente a humanidade uniformizou-se. Até a pouco tempo usava-se roupas conforme a faixa etária ou classe social. Os tratos dessas roupas exigiam cuidados profissionais. Muitos ainda mantêm o habito de usarem esses cuidados em suas roupas de uso pessoal e mesmo domésticos. Um imigrante japonês, que para facilitar o contato com seus clientes adotou o nome de Mario criou a primeira lavanderia profissional de Piracicaba. Isso remonta algumas décadas. O tempo passou, os hábitos foram mudando, e a Lavanderia do Mario, ou Lavanderia Mario, pertenceu há vários proprietários, sendo que a atual proprietária Maria Angela Sturion está algumas dezenas de anos a frente da empresa. O que desperta mais a curiosidade é que seu marido, Leandro Filier Neto, com quem conviveu por mais de trinta anos, tinha dotes artísticos refinados: pintou telas usando diversas técnicas, escreveu livros, gravou disco e CD. Um artista na acepção da palavra. A lavanderia era sua forma de subsistência.

Maria Angela Sturion nasceu a 24 de julho na atual cidade de Saltinho, que na época era distrito de Piracicaba, filha de José Mario Sturion e Ema Arthur Sturion. Sua mãe era do lar e seu pai funcionário público estadual, trabalhava no Departamento de Estradas de Rodagem- DER. O casal teve cinco filhos: Maria Dinorah, José Dirceu, Maria Angela, José Angélico e Maria Conceição. 

A senhora morava com a sua família em Saltinho?

Na época só havia duas ruas, a Sete de Setembro e a que a que morávamos, a Rua Joaquim Mendes Pereira. Estudei o primário lá, uma das professoras chamava-se Zilda, outra era a Professora Maria Lucia. Na época não havia asfalto em Saltinho, quando chovia era um barro só, e quando não chovia era só poeira! Na rua em que morávamos só havia casas de um lado, em frente era uma plantação de eucaliptos. A estrada que liga Piracicaba a Tietê, Cornélio Pires, passava ao lado de Saltinho, como é atualmente.

Na época a população de Saltinho estava mais dispersa pela área rural?

Era composta mais por sitiantes, em Saltinho meus avô tiveram uma venda. O José Bernardino, casado com Dona Dalva é meu primo. O pai dele é irmão do meu pai. Foi um membro da família Pompermayer que adquiriu a nossa casa quando mudamos para Piracicaba. Era muito famoso o “fumo do Bairrinho”, fumo de corda.

Em sua infancia qual era o lazer  predileto das crianças?

Brincar na rua! Brincar de “pega”. Tenho as marcas que ficaram em minhas pernas, de cair, brincar! Uma das vezes enrosquei em uma lata, fiz um corte profundo.  Pulava amarelinha, pulava corda. Não existia brinquedo de nenhum tipo, boneca nem pensar! Ovo de Páscoa nosso era aquele ovo de galinha que a nossa mãe cozinhava na água colorida com anelina. Lembro-me de que havia a Igreja Sagrado Coração de Jesus. O Padre Brandão permaneceu muito tempo na paróquia, ele que ministrou a minha primeira comunhão.

A senhora concluiu o primário em Saltinho?

Conclui, para continuar a estudar tinha que frequentar a ecola em Piracicaba. Permaneci em Saltinho, ajudava nos afazeres domésticos. Já existia energia elétrica. Geladeira era artigo de luxo, só as famílias ricas é que possuiam. Lembro-me das famílias Cassano, Schiavinatto, Vecchini da padaria.

A família da senhora permaneceu em Saltinho?

Nós mudamos para Piracicaba, viemos morar em uma casinha na Avenida Dona Jane Conceição. Fui trabalhar no Supermercados Brasil, de propriedade de Lélio Ferrari (Pioneiro no Estado de São Paulo no sistema de auto-serviço). Eu trabalhava na loja da Rua Governador Pedro de Toledo, no centro, entre a Rua Xv de Novembro e Rua Moraes Barros. Meu serviço era no setor de frios. Fui em seguida trabalhar na Lobras (Lobras-Lojas Brasileiras foi rede de lojas de departamentos e variedades. Encerrou as operações em 1999. Possuía 63 lojas espalhadas por vinte estados do Brasil). Era uma loja enorme, situada na Rua Governador Pedro de Toledo entre a Rua Rangel Pestana e D.Pedro II. O Seu Irandir (Didi) Cardinalli, um dos proprietários da loja Ao Cardinalli Presentes através de suas funcionárias convidou-me e a uma colega para ir trabalhar na Ao Cardinalli Presentes, situada na Rua Governador Pedro de Toledo entre a Rua São José e Rua Prudente de Moraes. Lá trabalhei por 15 anos, nesse período fiz o curso de Secretariado no Instituto Piracicabano, foram 3 anos a noite.

Qual era a atividade da senhora em Ao Cardinalli Presentes?

Trabalhava como vendedora, tinha presentes finos, brinquedos. No caixa ficavam os pais do Didi, Seu Augusto e Dona Ida. Também sua irmã Arlete trabalhava na loja.

Na mesma quadra instalou-se uma loja similar, a Casa Portuguesa.

Antes de trabalhar na LOBRAS trabalhei na Casa Portuguesa, Francisco Coa era o proprietário. Quando ocorreu a queda do Edificio Luiz de Queiroz (COMURBA), a casa dele na Rua Prudente de Moraes, foi atingida, matando sua esposa e um filho ou filha. Foi uma tragédia que o abalou muito.

A primeira lavanderia de Piracicaba, ao que consta, era propriedade de um japonês que adotou o nome de Mário. Lavanderia do Mário sempre foi sinonimo de perfeição e rapidez. Como a senhora tornou-se a proprietária dessa lavanderia?

Eu ainda trabalhava em Ao Cardinalli Presentes quando conheci Leandro Filier Neto, natural de Santa Gertrudes, filho de Maria Beloto Filier e Lourenço Filier. Na época ele trabalhava como representante de um laboratório farmacêutico. Com um conhecido de Rio Claro ele teve a oportunidade de adquirir a tradicional Lavanderia Mário, situada a Rua Moraes Barros, ao lado da loja Ao Zequita (Ao Zequita posteriormente mudou-se para a esquina logo abaixo, do lado oposto da rua.). A Lavanderia Mário funcionava do lado direito da Rua Moraes Barros, no sentido centro-bairro, logo a seguir existia Ao Zequita e ao lado a Funerária Libório. Quando o Leandro e seu sócio, o Daniel, adquiriram a lavanderia ela já não pertencia mais ao proprietário que a tinha fundado, o Mário, já era um brasileiro o seu dono. Ainda tinha japoneses que trabalhavam lá, mas como funcionários. A cidade inteira levava suas roupas finas para a Lavanderia Mario lavar. Na época usava-se muito o terno de linho. Sai da loja Ao Cardinalli e fui cuidar do atendimento na Lavanderia Mario. O Daniel deixou a sociedade e o Leandro assumiu a lavanderia. Isso foi por volta de 1980.

Como era o local onde ficava a lavanderia?

Era uma casa antiga que foi adaptada para lavanderia. A frente tinha aspecto comercial, com porta de aço, internamente tinha os cômodos de uma residência. Além dos ferros a vapor para passar roupas tinha calandra para passar peças maiores, como lençóis, por exemplo. As entregas eram feitas com perua, outras através de meninos com bicicletas. A lavanderia atendia também grandes empresas, lavava roupas de enfermarias.

Na Rua Moraes Barros quanto tempo permaneceu a lavanderia?

Acredito que permaneceu mais uns seis anos. Depois mudou para a Rua D.Pedro II quase esquina com a Rua Benjamin Constant, ali funcionou por mais uns oito anos, era uma casa bem antiga de propriedade do Dr. Marcos Toledo Pizza. Um dia vi uma placa de um imóvel que estava para ser alugado, situado na Rua Benjamin Constant, 1445, onde permanecemos por mais de 30 anos.

O trabalho em lavanderia envolve muitas etapas?

Desde o registro da entrada, a lavagem em si, muitas vezes retirar manchas de gorduras, tintas, passar a roupa, embalar, emissão de nota fiscal, entrega. São várias operações realizadas até chegar ao cliente.

Atualmente a Lavanderia Mario está instalada na Rua Benjamin Constant logo acima da Avenida Dona Jane Conceição. Desde quando ela passou a existir neste lugar?

Na década de 70 meu pai adquiriu esta casa. Meus pais faleceram, ficaram minhas irmãs e minha sobrinha. A lavanderia funciona aqui cerca de três a quatro anos. Em 2006 o Leandro faleceu. Quando mudei para cá tive que fazer uma boa reforma, principalmente no quintal, a minha mãe tinha uma horta no quintal.

A clientela sempre acompanhou as mudanças da lavanderia?

Sempre! Tenho clientes que vem do condomínio Colinas de Piracicaba!

Em que época do ano lava-se mais roupas? No calor ou no frio?

Antigamente era no inverno, em período de festas. Cada ferro de passar roupa pesa dois quilos e quinhentas gramas.

A senhora conseguiu conservar o nome da primeira lavanderia de Piracicaba.

E tenho que conservar a qualidade do serviço! Não me preocupo com a quantidade e sim com a qualidade.

Em alguma ocasião a senhora teve que lavar e passar o traje de alguém que estava prestes a falecer?

Já aconteceu algumas vezes da pessoa trazer a roupa para ser lavada com urgência para vestir o futuro falecido. Há uma preocupação de algumas famílias em deixar tudo pronto quando percebem que o falecimento é certo.

Quem é mais exigente, em termos de vestir, homem ou mulher?

Tem homem que é muito exigente. Temos uma série de acessórios para passar roupas, como por exemplo uma sapata que é colocada sob o ferro de passar e não dar brilho na roupa passada. Há uma capa térmica que vai sobre a tábua de passar. A roupa desliza sobre ela. Eu tenho cliente que exige que a camisa seja passada sem vinco. O tempo gasto para passar sem vinco é muito maior do que o normal. E tem que ter bastante habilidade. Tem clientes que exigem que as calças sejam passadas sem vinco.

A senhora já passou vestido de noiva?

Muito! Dá trabalho! Tem que passar a parte de cima, coloca-se no cabide e passa a parte de baixo. Hoje não se usa tanto vestido de noiva com cauda, usam muitas saias. Até batina de padre eu lavo e passo, tem uma aqui. (Ela exibe uma batina branca, impecável). Roupa de militar, marinheiro, geralmente são roupas de festa de gala, casamentos. Já lavei e passei tudo que se possa imaginar, fantasia de carnaval, roupa de mãe-de-santo.

A senhora participou de algum coral?

Eu e o Leandro participamos muito tempo do coral da Cintia Pinotti. Meu marido escreveu três livros, um deles é “Santa Gertrudes a história que eu conto”, gravou um disco em vinil na Discos Continental, B.M.G. em São Paulo. Gravou um CD. Ele tocava gaita, o disco é instrumental. Tocava saxofone. Pintou vários quadros. Ele tinha a veia artística. Ele apresentou-se em diversas rádios, canais de televisão. O nome artístico dele era Larry Fillier. Seus quadros participaram de exposições, ele pintava a óleo, aquarela, lápis. Ele tinha paixão pelas artes, gostava muito de ler. Jogava muito bem dama, participou de campeonatos. Uma das suas paixões era fazer mágicas para as crianças da família. Tinha caixas de mágica. O Leandro respirava arte e cultura, realizou-se mesmo não tendo seus trabalhos reconhecidos pelo grande público.

JOSÉ ANTONIO DUARTE PENTEADO


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 26 de julho de 2014.

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

http://blognassif.blogspot.com/


http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADO: JOSÉ ANTONIO DUARTE PENTEADO

 

José Antonio Duarte Penteado, ou Antonio José como é mais conhecido no meio radiofônico de Piracicaba, nasceu a 15 de julho de 1947, em Piracicaba, na Vila Rezende, na Avenida Conceição, 492, próximo a então estação da Estrada de Ferro Sorocabana, onde hoje funciona o Pronto Socorro Municipal da Vila Rezende. Isso na época em que a Família Valler tinha diversas atividades comerciais nas proximidades. A casa onde nasceu existe até hoje. O bonde que fazia a linha Vila Rezende parava próximo a estação. José Antonio Duarte Penteado é filho de Emílio Duarte Penteado e Amábile Maria Schiavolin Penteado, que tiveram quatro filhos: Valdemar, José Antonio, Dorival, Antonio Carlos.

Você estudou em que escola?

Eu fiz parte da história do bonde, até o segundo ano primário estudei no Grupo Escolar Moraes Barros, vinha de bonde todos os dias com o meu pai, ele era funcionário da Biblioteca Pública Municipal, situada na Rua Alferes José Caetano esquina coma a Rua Voluntários de Piracicaba, onde mais tarde funcionou a Escola João Wesley e recentemente foi demolido para dar lugar a uma nova construção.

Aquela casa, onde funcionou a Biblioteca Municipal pertenceu a quem?

Ali chegaram a morar diversas pessoas, uma delas era o Sr. Joaquim, conhecido como Joaquim Corre-Corre, negro, que trabalhou e aposentou-se na biblioteca. Os moradores anteriores eu não tenho conhecimento de quem seriam. Infelizmente colocaram abaixo um prédio com muitas décadas de história.

Lembra-se o nome das suas primeiras professoras no Grupo Moraes Barros?

A primeira foi Dona Amélia, depois foi Dona Irene, nessa época estudávamos eu e o Beto Pianelli, a quem chamo de forma carinhosa de Betão, e o famoso jogador Coutinho, ex-jogador do Santos Futebol Clube, o nome do Coutinho era Wilson Honório. Ele morava no Bairro Alto.

Quando você vinha de bonde, vinha sentado ou em pé no estribo do bonde?

Se o meu pai não “pegava no meu pé” eu vinha no estribo, gostava de vir em pé no estribo! No Grupo Escolar Moraes Barros eu estudei até o segundo ano, quando passei para o terceiro ano fui estudar no Grupo Escolar Honorato Faustino, na Vila Boyes, onde meu pai tinha adquirido uma casa. Nesse período meu pai ficou muito doente, quando eu tinha 14 anos ele faleceu. Passei a trabalhar na Biblioteca Pública Municipal, onde permaneci de 1962 a 1964. O chefe era o Professor Leandro Guerrini.

Como era Leandro Guerrini?

Uma pessoa sensacional! Espírita de carteirinha. Uma pessoa extremamente correta. Sua esposa era a Professora Jaçanã.

O seu trabalho na biblioteca era de atendimento?

O consulente buscava os dados no fichário, preenchia uma papeleta, retirava o livro e por três dias ficava com ele emprestado pela biblioteca.

O leitor então trazia o livro de volta?

Quando não traziam eu ia buscar. Não era muito comum ter que ir buscar, mas tinha algumas pessoas que davam trabalho. Uma das formas de punição era impedir que aquela pessoa retirasse qualquer livro da biblioteca por um determinado período.

Você lia muito?

Eu gostava muito do Cornélio Pires.

Na esquina, oposta a biblioteca, havia uma funerária?

Correto, era uma funerária, onde hoje funciona um laboratório de análises clínicas.

Ao lado havia a Fábrica de Bebidas Andrade?

Antes de ir trabalhara na biblioteca trabalhei na Fábrica de Bebidas Andrade, devia ter uns onze anos, fui ajudar a lavar garrafas. Valter e Djalma Altafim eram os proprietários. Produzia-se entre outras bebidas a Cotubaina, Gengibirra, Caçulinha, “Caninha Tourinho”. Um refrigerante de grande sucesso, tão comum como determinada marca que existe hoje no mercado das colas, era a Abacatina. Melhor que muitos refrigerantes atuais.

Uma curiosidade mais do que normal, logo que você entrou para trabalhar na Indústria de Bebidas Andrade, fartou-se de tanto refrigerante?

Os proprietários permitiam, e nessa idade era uma grande oportunidade de tomar refrigerante à vontade, uma vez que na época só se bebia refrigerantes em épocas ou ocasiões muito especiais (Natal, Ano Novo, casamentos, batizados, e mesmo assim de forma muito moderada).

Como era o processo de lavagem das garrafas de vidro?

Colocavam-se os vasilhames em um tacho com soda cáustica, usávamos luvas protetoras, ficava de molho para retirar o rótulo e impurezas, depois as garrafas eram colocadas em uma escova elétrica, eram lavadas externamente e internamente, enxaguadas, quando saiam dalí eram colocadas como gargalo voltado para baixo, a água escorria por gravidade, quando iam para a máquina para engarrafarem os produtos os vasilhames estavam limpinhos. De vez em quando a pressão com que eram preenchidas provocava o estouro de algumas garrafas. Isso às vezes provocava pequenos acidentes, Eu mesmo cheguei a fazer um corte em uma das mãos.

Aos 16 anos você saiu da biblioteca?

Quando eu estava trabalhando lá o prefeito era Francisco Salgot Castillon, quem assumiu o próximo mandato foi Luciano Guidotti. Teve a chamada “poda”, foram demitidas mais de 100 pessoas e eu fui um deles. Meu pai tinha falecido, em casa era minha mãe, que lavava roupas de terceiros para ganhar algum dinheiro, meus tres irmãos e eu. Muitas vezes meu irmão mais velho, o Valdemar e eu chegamos a descer a Rua Tiradentes com malas de roupas para lavar e também subir com elas limpas, lavadas pela minha mãe. Nós morávamos na Vila Boyes, na Rua Dona Eugênia. Senti que tinha que arrumar um serviço. Fui trabalhar na Mausa, entrei como ajudante geral, tinha uns 16 anos. Varria chão, trabalhava na politriz, polia peças. Trabalhei com Abilio, Dorival “Diva” Gobbo,  Antonio “Gibinho” Gibin, Francisco “Chico” Gobbo.

A que horas você entrava na Mausa?

Entrava as seis e meia, levantava as cinco horas, ia trabalhar a pé, atravessava a Cidade Jardim inteira, dava umas quinze quadras. Levavava a cestinha de vime, com um caldeirãozinho, dentro tinha arroz, feijão e um “medalhão” (ovo frito). Carne era um acompanhamento elitizado!Trabalhei na Mausa de março de 1964 até julho de 1967. Um dia conversando com o Paulo Moraes,na época reporter da Rádio Educadora, hoje gerente do Esporte Clube XV de Novembro de Piracicaba,  tinhamos estudado no Honorato Faustino, disse a ele que gostaria de tentar uma vida no rádio. Ele e Xilmar Ulisses são os melhores repórterers de campo que eu conheci. Se o Xilmar Ulisses fosse meu irmão de sangue talvez eu não o quisezesse tão tão bem como o tenho em consideração.

Como surgiu esssa paixão por rádio?

Foi por vontade própria, de escutar o rádio. Escutava muito jogo de futebol, sou corintintiano. O Paulo Moraes me apresentou o Garcia Neto que me deu uma oportunidade. O Garcia Neto disse-me: “-O rádio tem um problema, só paga quando tem verba!”. Isso foi em setembro de 1967. Teve uma época, no final do ano, que a minha mãe me disse: “-Você não recebe, não vai ficar mais lá!”. O Garcia trabalhava na Rádio Nacional e na Rádio Educadora.Era comentarista de futebol. Duas vezes por semana ele ia para as transmissões em São Paulo. O Garcia me disse : “-Se você quiser ficar você fica, nós não temos condições de pagar!”. Minha mãe achava que eu tinha que arrumar algum trabalho que ganhasse algum dinheiro. Acabei narrando isso ao Garcia. Ai entra a minha admiração por Xilmar Ulissses, todo dia de pagamento ele fazia uma “vaquinha” onde perticipavam ele, o Mike, o Paulo Moraes, Edirley Rodrigues, Fernando Rui Coutinho, Jamil Netto, Nadir Roberto, dessa vaquinha saia o meu salário. Chegou uma época em que o Garcia Neto me levou para trabalhar na TV Excelsior, em um programa chamado “Aquela Feliz Cidade”. Isso foi entre 1967 e 1970. Eu viajava toda quinta feira logo cedo e voltava na sexta-feira, o programa era na quinta feira a noite. Gravava e voltava. Trabalhava com Ary Leite, Dedé Santana, Gastão Rene, Costinha. Conheci Ary Toledo quando ele casou-se com  Marly Marley. Ele ia leva-la na TV Excelcior em um Fusquinha amarelo. O Rony Cócegas chegava em outro fusquinha bem deteriorado. Conheci Arthur Miranda, que depois tornou-se em um dos componentes da equipe do Neymar de Barros. Minha mãe achava que aquela minha aventura na Excelsior não iria resultar em nada. Eu ganhava por programa o que ganhava no mês aqui na rádio. Trabalhei junto com o Mussum. Conheci a Regina Duarte que com Francisco Cuoco na época iam começar a novela “Sangue do Meu Sangue”. Nessa época a Excelsior foi cassada. Voltei à Piracicaba e continuei trabalhando na Rádio Educadora. Em 1970 fui para a Rádio Difusora com o Garcia Neto, integrar a “Seleção de Ouro”. Foi no tempo do José Roberto Soave. Permaneci lá até 1982, criei um programa, por sugestão do Capitão Furtado, um dos renomados compositores de musica sertaneja na época, o nome dele era Ariovaldo Pires. Passei a fazer o programa “Bom Dia Homem do Campo”. Comecei a fazer esse programa em 1971, era apresentado aos domingos das 5 as 7 horas. Terça e quinta eu fazia o programa “Boa Noite Homem do Campo”, das 20:30 às 22:00 horas. Nessa época já era patrocinado e recebia comssão. Lá eu permaneci até julho de 1982. Nesse ano fui trabalhar no Teatro Municipal, com Roberto Diehl e Alceu Marozzi Righetto. Tenho uma admiração muito grande pelo Dr. Adilson Benedito Maluf, sua esposa, Dona Rosa. O Dr. Adilson é do tempo em que o fio de bigode tinha tanto valor como o que estava escrito. Um dia Jamil Netto me convidou para participar de shows de bairros, o objetivo era divulgar a candidatura a prefeito do Dr. Adilson. Passei a apresentar programa sertanejo em bairros. Aprendi muito com o Nhô Serra, ele foi meu padrinho de casamento. O Adilson tornou-se prefeito, entrou no gabibete no dia primeiro de fevereiro de 1982. No dia 2 eu estava trabalhando com ele, Jamil Neto, Gaiad, Justino, Benedito Hilário, Atinilo José. Permaneci na assessoria de imprensa por uns quatro anos. Com o Paulinho Mazziero e Jailton fomos trabalhar no Procon, ajudamos a fundar o Procon em Piracicaba. Sai de lá em 1994 e fui para a FM Municipal. O Gaiad era diretor da FM Municipal e precisava de alguém para apresentar musica sertaneja. Passei a fazer o horário das 5 às 7:30 horas. Fazia o programa e ao mesmo tempo junto com Xilmar Ulisses redigia o Jornal da Manhã. Quero muito bem ao Xilmar Ulisses. Ele é uma potência em Piracicaba. Em novembro de 1998 aposentei-me na Rádio Educativa.

Você aposentou-se e por um período ficou sem participar do rádio. Como foi o seu retorno ao rádio?

Conversando uma vez com Murilo Urbano ele intercedeu junto a Professora Ana Maria Meirelles de Mattos, o Zé Mineiro tinha saído, o horário estava vago, e assim faz dois anos e meio que estou na Rádio Educadora. Apresento o programa “Bom Dia Homem do Campo” das 5 às 8 horas da manhã, apresento musica sertaneja. Dona Ana me acolheu, sou muito grato a ela, assim como sou grato ao Jairinho.

Você participou do carnaval de Piracicaba?

Fui Rei Momo em 1967 pelo Clube de Regatas Piracicaba, a pedido do Dorival “Diva” Gobbo que na época era presidente do Regatas.  Por cinco anos fui Rei Momo de Piracicaba. Com o Taquara, com o Aldano, Marilena Voltani, Pela antiga Casa Portuguesa, situada na Rua Governador Pedro de Toledo, ao lado do Cardinalli  fui Papai Noel da cidade. A pessoa adquiria um presente na Casa Portuguesa eu ia levar caracterizado como Papai Noel. O primeiro ano em que fui Rei Momo quem me acompanhou em desfile de carro aberto foi o saudoso Humberto D`Abronzo e o Cesário Ferrari que está em plena atividade empresarial.

Qual foi a reação da sua esposa quando você foi eleito Rei Momo?

Foi a pior possível. Nessa época existia as escuderias em Piracicaba, a Equipelanka, Ekyperalta , Pé Chato, Zoom Zoom. Outro dia conversando com o Mugão, José Inácio Mugão Sleimann, ele chorou. O Mugão é um guerreiro. Tenho um grande carinho por ele. Através do Mugão chegamos na TV Tupi, no programa do Airton e Lolita Rodrigues, “Almoço Com as Estrelas”. A maquiagem do Rei Momo era feita dentro do onibus, pela Célia.

Essa sua atividade intensa em várias áreas artisticas sempre foi movida pela emoção?

Sempre fui expontâneo, sou aquilo que sou. Aprendi com o Luizão Carreteiro, que se ficar sentado em seu canto já não está incomodando ninguém.

Você é religioso?

Todo sábado participo de missa, lembrando que participar é diferente de apenas assistir. As quarta feiras temos no bairro a novena de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Todos os dias as seis horas da tarde rezamos o terço. Casei-me em 24 de janeiro de 1976 com Luiza de Fátima Arthuso Penteado, na Igreja São José, o celebrante foi o então Conego, hoje Monsenhor Luis Juliani. O casamento deve ter sido um dos poucos, senão o único transmitido pela rádio, o Djansen fazia um programa todos os sábados das 14 as 18 horas, ele cedeu o horário prara transmitir meu casamento.

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