PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E
MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 26 de julho de 2014.
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 26 de julho de 2014.
Entrevista: Publicada aos sábados
no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
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http://blognassif.blogspot.com/
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ENTREVISTADO: JOSÉ ANTONIO DUARTE PENTEADO
ENTREVISTADO: JOSÉ ANTONIO DUARTE PENTEADO
José Antonio Duarte Penteado, ou
Antonio José como é mais conhecido no meio radiofônico de Piracicaba, nasceu a
15 de julho de 1947, em Piracicaba, na Vila Rezende, na Avenida Conceição, 492,
próximo a então estação da Estrada de Ferro Sorocabana, onde hoje funciona o
Pronto Socorro Municipal da Vila Rezende. Isso na época em que a Família Valler
tinha diversas atividades comerciais nas proximidades. A casa onde nasceu
existe até hoje. O bonde que fazia a linha Vila Rezende parava próximo a
estação. José Antonio Duarte Penteado é filho de Emílio Duarte Penteado e
Amábile Maria Schiavolin Penteado, que tiveram quatro filhos: Valdemar, José
Antonio, Dorival, Antonio Carlos.
Você estudou em que escola?
Eu fiz parte da história do
bonde, até o segundo ano primário estudei no Grupo Escolar Moraes Barros, vinha
de bonde todos os dias com o meu pai, ele era funcionário da Biblioteca Pública
Municipal, situada na Rua Alferes José Caetano esquina coma a Rua Voluntários
de Piracicaba, onde mais tarde funcionou a Escola João Wesley e recentemente
foi demolido para dar lugar a uma nova construção.
Aquela casa, onde funcionou a Biblioteca
Municipal pertenceu a quem?
Ali chegaram a morar diversas
pessoas, uma delas era o Sr. Joaquim, conhecido como Joaquim Corre-Corre,
negro, que trabalhou e aposentou-se na biblioteca. Os moradores anteriores eu
não tenho conhecimento de quem seriam. Infelizmente colocaram abaixo um prédio
com muitas décadas de história.
Lembra-se o nome das suas primeiras
professoras no Grupo Moraes Barros?
A primeira foi Dona Amélia,
depois foi Dona Irene, nessa época estudávamos eu e o Beto Pianelli, a quem
chamo de forma carinhosa de Betão, e o famoso jogador Coutinho, ex-jogador do
Santos Futebol Clube, o nome do Coutinho era Wilson Honório. Ele morava no
Bairro Alto.
Quando você vinha de bonde, vinha sentado ou
em pé no estribo do bonde?
Se o meu pai não “pegava no meu
pé” eu vinha no estribo, gostava de vir em pé no estribo! No Grupo Escolar
Moraes Barros eu estudei até o segundo ano, quando passei para o terceiro ano
fui estudar no Grupo Escolar Honorato Faustino, na Vila Boyes, onde meu pai
tinha adquirido uma casa. Nesse período meu pai ficou muito doente, quando eu
tinha 14 anos ele faleceu. Passei a trabalhar na Biblioteca Pública Municipal,
onde permaneci de 1962 a 1964. O chefe era o Professor Leandro Guerrini.
Como era Leandro Guerrini?
Uma pessoa sensacional! Espírita
de carteirinha. Uma pessoa extremamente correta. Sua esposa era a Professora
Jaçanã.
O seu trabalho na biblioteca era
de atendimento?
O consulente buscava os dados no
fichário, preenchia uma papeleta, retirava o livro e por três dias ficava com
ele emprestado pela biblioteca.
O leitor então trazia o livro de
volta?
Quando não traziam eu ia buscar.
Não era muito comum ter que ir buscar, mas tinha algumas pessoas que davam
trabalho. Uma das formas de punição era impedir que aquela pessoa retirasse
qualquer livro da biblioteca por um determinado período.
Você lia muito?
Eu gostava muito do Cornélio
Pires.
Na esquina, oposta a biblioteca,
havia uma funerária?
Correto, era uma funerária, onde
hoje funciona um laboratório de análises clínicas.
Ao lado havia a Fábrica de
Bebidas Andrade?
Antes de ir trabalhara na
biblioteca trabalhei na Fábrica de Bebidas Andrade, devia ter uns onze anos,
fui ajudar a lavar garrafas. Valter e Djalma Altafim eram os proprietários.
Produzia-se entre outras bebidas a Cotubaina, Gengibirra, Caçulinha, “Caninha
Tourinho”. Um refrigerante de grande sucesso, tão comum como determinada marca
que existe hoje no mercado das colas, era a Abacatina. Melhor que muitos
refrigerantes atuais.
Uma curiosidade mais do que
normal, logo que você entrou para trabalhar na Indústria de Bebidas Andrade,
fartou-se de tanto refrigerante?
Os proprietários permitiam, e
nessa idade era uma grande oportunidade de tomar refrigerante à vontade, uma
vez que na época só se bebia refrigerantes em épocas ou ocasiões muito
especiais (Natal, Ano Novo, casamentos, batizados, e mesmo assim de forma muito
moderada).
Como era o processo de lavagem
das garrafas de vidro?
Colocavam-se os vasilhames em um
tacho com soda cáustica, usávamos luvas protetoras, ficava de molho para retirar
o rótulo e impurezas, depois as garrafas eram colocadas em uma escova elétrica,
eram lavadas externamente e internamente, enxaguadas, quando saiam dalí eram
colocadas como gargalo voltado para baixo, a água escorria por gravidade,
quando iam para a máquina para engarrafarem os produtos os vasilhames estavam
limpinhos. De vez em quando a pressão com que eram preenchidas provocava o
estouro de algumas garrafas. Isso às vezes provocava pequenos acidentes, Eu
mesmo cheguei a fazer um corte em uma das mãos.
Aos 16 anos você saiu da
biblioteca?
Quando eu estava trabalhando lá o
prefeito era Francisco Salgot Castillon, quem assumiu o
próximo mandato foi Luciano Guidotti. Teve a chamada “poda”, foram demitidas
mais de 100 pessoas e eu fui um deles. Meu pai tinha falecido, em casa era
minha mãe, que lavava roupas de terceiros para ganhar algum dinheiro, meus tres
irmãos e eu. Muitas vezes meu irmão mais velho, o Valdemar e eu chegamos a
descer a Rua Tiradentes com malas de roupas para lavar e também subir com elas
limpas, lavadas pela minha mãe. Nós morávamos na Vila Boyes, na Rua Dona
Eugênia. Senti que tinha que arrumar um serviço. Fui trabalhar na Mausa, entrei
como ajudante geral, tinha uns 16 anos. Varria chão, trabalhava na politriz,
polia peças. Trabalhei com Abilio, Dorival “Diva” Gobbo, Antonio “Gibinho” Gibin, Francisco “Chico”
Gobbo.
A que horas você entrava na
Mausa?
Entrava
as seis e meia, levantava as cinco horas, ia trabalhar a pé, atravessava a
Cidade Jardim inteira, dava umas quinze quadras. Levavava a cestinha de vime,
com um caldeirãozinho, dentro tinha arroz, feijão e um “medalhão” (ovo frito).
Carne era um acompanhamento elitizado!Trabalhei na Mausa de março de 1964 até
julho de 1967. Um dia conversando com o Paulo Moraes,na época reporter da Rádio
Educadora, hoje gerente do Esporte Clube XV de Novembro de Piracicaba, tinhamos estudado no Honorato Faustino, disse
a ele que gostaria de tentar uma vida no rádio. Ele e Xilmar Ulisses são os
melhores repórterers de campo que eu conheci. Se o Xilmar Ulisses fosse meu
irmão de sangue talvez eu não o quisezesse tão tão bem como o tenho em
consideração.
Como surgiu esssa paixão por
rádio?
Foi
por vontade própria, de escutar o rádio. Escutava muito jogo de futebol, sou
corintintiano. O Paulo Moraes me apresentou o Garcia Neto que me deu uma
oportunidade. O Garcia Neto disse-me: “-O rádio tem um problema, só paga quando
tem verba!”. Isso foi em setembro de 1967. Teve uma época, no final do ano, que
a minha mãe me disse: “-Você não recebe, não vai ficar mais lá!”. O Garcia
trabalhava na Rádio Nacional e na Rádio Educadora.Era comentarista de futebol. Duas
vezes por semana ele ia para as transmissões em São Paulo. O Garcia me disse :
“-Se você quiser ficar você fica, nós não temos condições de pagar!”. Minha mãe
achava que eu tinha que arrumar algum trabalho que ganhasse algum dinheiro.
Acabei narrando isso ao Garcia. Ai entra a minha admiração por Xilmar Ulissses,
todo dia de pagamento ele fazia uma “vaquinha” onde perticipavam ele, o Mike, o
Paulo Moraes, Edirley Rodrigues, Fernando Rui Coutinho, Jamil Netto, Nadir
Roberto, dessa vaquinha saia o meu salário. Chegou uma época em que o Garcia
Neto me levou para trabalhar na TV Excelsior, em um programa chamado “Aquela
Feliz Cidade”. Isso foi entre 1967 e 1970. Eu viajava toda quinta feira logo
cedo e voltava na sexta-feira, o programa era na quinta feira a noite. Gravava
e voltava. Trabalhava com Ary Leite, Dedé Santana, Gastão Rene, Costinha.
Conheci Ary Toledo quando ele casou-se com Marly Marley. Ele ia leva-la na
TV Excelcior em um Fusquinha amarelo. O Rony Cócegas chegava em outro fusquinha
bem deteriorado. Conheci Arthur Miranda, que depois tornou-se em um dos
componentes da equipe do Neymar de Barros. Minha mãe achava que aquela minha
aventura na Excelsior não iria resultar em nada. Eu ganhava por programa o que
ganhava no mês aqui na rádio. Trabalhei junto com o Mussum. Conheci a Regina
Duarte que com Francisco Cuoco na época iam começar a novela “Sangue do Meu
Sangue”. Nessa época a Excelsior foi cassada. Voltei à Piracicaba e continuei
trabalhando na Rádio Educadora. Em 1970 fui para a Rádio Difusora com o Garcia
Neto, integrar a “Seleção de Ouro”. Foi no tempo do José Roberto Soave.
Permaneci lá até 1982, criei um programa, por sugestão do Capitão Furtado, um
dos renomados compositores de musica sertaneja na época, o nome dele era
Ariovaldo Pires. Passei a fazer o programa “Bom Dia Homem do Campo”. Comecei a
fazer esse programa em 1971, era apresentado aos domingos das 5 as 7 horas.
Terça e quinta eu fazia o programa “Boa Noite Homem do Campo”, das 20:30 às
22:00 horas. Nessa época já era patrocinado e recebia comssão. Lá eu permaneci
até julho de 1982. Nesse ano fui trabalhar no Teatro Municipal, com Roberto Diehl
e Alceu Marozzi Righetto. Tenho uma admiração muito grande pelo Dr. Adilson
Benedito Maluf, sua esposa, Dona Rosa. O Dr. Adilson é do tempo em que o fio de
bigode tinha tanto valor como o que estava escrito. Um dia Jamil Netto me
convidou para participar de shows de bairros, o objetivo era divulgar a
candidatura a prefeito do Dr. Adilson. Passei a apresentar programa sertanejo
em bairros. Aprendi muito com o Nhô Serra, ele foi meu padrinho de casamento. O
Adilson tornou-se prefeito, entrou no gabibete no dia primeiro de fevereiro de 1982.
No dia 2 eu estava trabalhando com ele, Jamil Neto, Gaiad, Justino, Benedito
Hilário, Atinilo José. Permaneci na assessoria de imprensa por uns quatro anos.
Com o Paulinho Mazziero e Jailton fomos trabalhar no Procon, ajudamos a fundar
o Procon em Piracicaba. Sai de lá em 1994 e fui para a FM Municipal. O Gaiad
era diretor da FM Municipal e precisava de alguém para apresentar musica
sertaneja. Passei a fazer o horário das 5 às 7:30 horas. Fazia o programa e ao
mesmo tempo junto com Xilmar Ulisses redigia o Jornal da Manhã. Quero muito bem
ao Xilmar Ulisses. Ele é uma potência em Piracicaba. Em novembro de 1998
aposentei-me na Rádio Educativa.
Você aposentou-se e por um
período ficou sem participar do rádio. Como foi o seu retorno ao rádio?
Conversando uma vez com Murilo
Urbano ele intercedeu junto a Professora Ana Maria Meirelles de Mattos, o Zé
Mineiro tinha saído, o horário estava vago, e assim faz dois anos e meio que
estou na Rádio Educadora. Apresento o programa “Bom Dia Homem do Campo” das 5
às 8 horas da manhã, apresento musica sertaneja. Dona Ana me acolheu, sou muito
grato a ela, assim como sou grato ao Jairinho.
Você participou do carnaval de
Piracicaba?
Fui Rei Momo em 1967 pelo Clube
de Regatas Piracicaba, a pedido do Dorival “Diva” Gobbo que na época era
presidente do Regatas. Por cinco anos
fui Rei Momo de Piracicaba. Com o Taquara, com o Aldano, Marilena Voltani, Pela
antiga Casa Portuguesa, situada na Rua Governador Pedro de Toledo, ao lado do Cardinalli fui Papai Noel da cidade. A pessoa adquiria
um presente na Casa Portuguesa eu ia levar caracterizado como Papai Noel. O
primeiro ano em que fui Rei Momo quem me acompanhou em desfile de carro aberto
foi o saudoso Humberto D`Abronzo e o Cesário Ferrari que está em plena
atividade empresarial.
Qual foi a reação da sua esposa
quando você foi eleito Rei Momo?
Foi a pior possível. Nessa época
existia as escuderias em Piracicaba, a Equipelanka, Ekyperalta , Pé Chato, Zoom
Zoom. Outro dia conversando com o Mugão, José Inácio Mugão Sleimann, ele chorou. O Mugão é um
guerreiro. Tenho um grande carinho por ele. Através do Mugão chegamos na TV
Tupi, no programa do Airton e Lolita Rodrigues, “Almoço Com as Estrelas”. A
maquiagem do Rei Momo era feita dentro do onibus, pela Célia.
Essa sua atividade intensa em várias áreas artisticas sempre foi movida
pela emoção?
Sempre fui expontâneo, sou aquilo que sou. Aprendi
com o Luizão Carreteiro, que se ficar sentado em seu canto já não está
incomodando ninguém.
Você é religioso?
Todo sábado participo de missa, lembrando que
participar é diferente de apenas assistir. As quarta feiras temos no bairro a
novena de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Todos os dias as seis horas da
tarde rezamos o terço. Casei-me em 24 de janeiro de 1976 com Luiza de Fátima
Arthuso Penteado, na Igreja São José, o celebrante foi o então Conego, hoje
Monsenhor Luis Juliani. O casamento deve ter sido um dos poucos, senão o único
transmitido pela rádio, o Djansen fazia um programa todos os sábados das 14 as
18 horas, ele cedeu o horário prara transmitir meu casamento.
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