PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E
MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 9 de agosto de 2014.
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 9 de agosto de 2014.
Entrevista: Publicada aos sábados na
Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADO: ALCINDO MACHADO DE OLIVEIRA FILHO
ENTREVISTADO: ALCINDO MACHADO DE OLIVEIRA FILHO
Alcindo Machado de Oliveira Filho
nasceu em Americana a 22 de setembro de 1958. São seus pais Alcindo Machado de
Oliveira e Verônica Moia Machado. Seus pais tiveram os filhos: Alcindo, Lourdes,
Roselene, Rosangela, Leonilda, José Carlos e Vera Lúcia. Seu pai trabalhava em
tecelagem, residiam na Vila Gallo.
Alcindo Machado, ainda residindo em Americana
em que escola você estudou?
Até o quarto ano primário,
estudei no Dom Bosco, havia um convênio entre o poder público e a escola.
Estudava de manhã, a tarde voltava para a escola porque sempre tinha alguma
atividade extra, catecismo, esportes. Lembro-me de um diácono, Leonel, ele que
organizava os treinos.
Americana era um entroncamento importante?
Ali é passagem dos trens que vem
de São Paulo e dirigem-se até o entroncamento de Rio Claro. Até hoje vemos os
trens passar por Americana, só que atualmente são só trens de carga.
Na época existiam cinemas no centro da
cidade?
Tinha o Cine Cacique, o Cine
Comendador, Cine Brasil.
O ginásio você cursou em qual escola?
Estudei o ginásio na Escola Estadual Presidente
Kennedy.
Com que idade você começou a trabalhar?
Quando fui cursar o ginásio, para poder estudar a
noite tinha que ter algum documento que demonstrasse que estava trabalhando
durante o dia. Era a norma na época. O aluno só estudava a noite se trabalhasse
durante o dia. Na época eu tinha de 12 para 13 anos. Pelo período de um ano, um
ano e pouco, trabalhei na tecelagem Machado & Marques.
Qual era a sua atividade na tecelagem?
Era auxiliar de tecelão. Naquela
época já tinham mudado o tear mecânico para um tear semi-automático. Existia as
“lançadeiras”, que é o local aonde ia a linha, a trama, o auxiliar tinha que
pegar a lançadeira, colocar a trama em um dispositivo onde à hora em que a
trama terminasse era trocada.
Era um serviço que exigia muita atenção?
Você não parava! No inicio o
tecelão ajudava, ensinava o serviço, depois já dizia: “ –Acelera ai que essa
parte é sua!”.
Após esse período na tecelagem, qual foi a
sua próxima etapa?
Na visão do meu pai aquele era um
trabalho que não oferecia maiores perspectivas.
A seu ver eu deveria estudar e
arrumar um serviço. Fui ser office-boy em um escritório, Escritório Universal,
situado bem no centro de Americana. Era uma cidade de porte pequeno (Em 1970 o município tinha 66.370
habitantes, em 1980 122.004, conforme www.campinas.sp.gov.br). Foi nessa época que meu pai
deixou de trabalhar na tecelagem, adquiriu um estabelecimento
comercial, um bar. Era situado em um posto de gasolina, e que hoje denominamos
esse tipo de comércio como de “Estabelecimento de Conveniência”. Ficava situado
no centro de Americana, o posto tinha um lava - rápido, era um local com
bastante movimento. No período em que trabalhei no escritório começou a minha
paixão pela fotografia, atividade que eu exercia mais nos finais de semana.
Como surgiu a fotografia em sua vida?
Eu tinha um amigo chamado
Paulinho, cujo tio Gerson veio de São Paulo e passou a trabalhar com um
japonês, o Yamashita. Eles fotografavam em Americana em Santa Barbara D`Oeste,
cidade vizinha. Faziam reportagens fotográficas de batizados, casamentos. Como
o Studio fotográfico ficava em Americana era dada a preferência dos
fotografados em ir até lá. Em Santa
Bárbara D`Oeste e mesmo os batizados em Americana, tirávamos as fotografia e os
respectivos endereços para posteriormente fazer as entregas. O Gerson passou ao
seu sobrinho a tarefa de entregar as fotografias prontas. O Paulinho também
pediu que eu entregasse as fotos reveladas.
O meu sonho era fotografar e não apenas entregar fotos. O estúdio
fotográfico desse japonês era em frente a matriz antiga de Santo Antonio,
existe até hoje, embora tenham construído uma matriz nova. (A Fidam primeira
edição da Feira Industrial de Americana foi realizada em 1961, no salão de
festas da nova Igreja Matriz de Santo Antônio).
Quando você foi tirar a primeira
foto?
Foi de um batizado com uma
máquina Yashica 6x6, o flash era separado da máquina, tinha um cabo ligando-a a
máquina para que no momento do disparo agissem em conjunto luz e fotografia. Na
época o flash requisitava o uso de uma bateria enorme, um estojo de couro
levado ao lado do corpo. Era um equipamento que exigia conhecimento técnico do
fotógrafo, tinha que regular abertura, foco. As pessoas tiravam poucas fotos,
duas, três, quatro. Nessa época eu tinha uns 14 anos. As fotos eram em preto e
branco.
A partir de então você passou a
tirar fotografias de casamento, batizado, formatura?
Após tirar as fotografias
geralmente éramos convidados a participar da festa. Foi assim que conheci a
minha esposa.
Qual era o tipo de roupa que você
utilizava para tirar fotografias?
No começo usava as roupas
vestidas pelas pessoas comuns. Depois, à medida que o volume de trabalho foi
crescendo, dependo da ocasião, se fosse necessário usava uma roupa mais formal.
Qual é a fotografia mais difícil
de ser tirada?
Após aprender a tirar fotografia,
dominar os recursos da máquina, todas as fotografias são difíceis, é importante
saber o roteiro do que irá acontecer. Se você não estiver na posição correta, a
sua fotografia será péssima, irá sair uma fotografia sem mostrar o que de fato
está acontecendo. Sempre aprendemos que temos que saber em que posição vamos
tirar a fotografia. Um casamento ou um batizado terá forma própria conforme o
celebrante. Nunca será igual ao outro. Praticamente você irá antecipar o que
irá acontecer para ter condições de que a foto saia privilegiada. Sente-se que
hoje estão de volta as fotos em estúdio, os famosos “books”.
Você pode traçar um paralelo
entre as postagens realizadas hoje no face book e as fotos daquela época?
O que vejo
atualmente é muitas fotos sem critério algum. Hoje vemos os selfies (Selfie é uma palavra em
inglês, um neologismo com
origem no termo self-portrait,
que significa auto-retrato, e é uma foto
tirada e compartilhada na internet). A qualidade dessas fotografias não são as
melhores. Fotografia sempre foram luz e sombra.
Você revelava fotografias?
Revelei! Trabalhei no laboratório muitos
anos. Laboratório é um ambiente escuro, com várias banheiras, cada uma com um
produto químico. O filme tem que ser tirado da máquina em um ambiente
totalmente escuro. Após retirado era colocado em uma banheira com revelador, o
tempo médio de revelação do filme branco e preto era medido muito mais pela
sensibilidade do fotografo, dependendo da temperatura ambiente. Depois um banho
com fixador e em seguir lavava o filme e punha para secar. O fixador
interrompia a revelação, se simplesmente o deixasse ele iria comendo o filme.
Depois ampliava o filme e passava para o papel fotográfico. Já para o filme
colorido tudo tem que seguir um padrão de medidas e escalas. Temperatura de 33
graus centígrados. O filme colorido passa por mais banhos, como o branqueador
por exemplo. O papel utilizado para filme preto e branco e para filmes
coloridos são diferentes. O colorido tem mais camadas de cor. Com o filme preto
e branco era utilizado um ampliador com uma luz só, uma luz branca, no filme
colorido já entrava os filtros. O ampliador era como um projetor, nessa luz
branca era colocado três filtros. Todos tinham uma numeração de acordo com o
filme, eram feitos uns testes para graduação e saber quanto de luz de cada cor
deveria incidir sobre o filme, assim como o tempo necessário.
Você montou laboratório fotográfico em
Rio das Pedras?
Montei! Hoje não existe mais, mas foi um
dos primeiros laboratórios fotográficos de Rio das Pedras, situava-se na Rua
Prudente de Moraes, iniciei já que mudei de Americana para Rio das Pedras. Até
então existia outra casa de fotografias onde revelava apenas o preto e branco. O
filme colorido era mandado para outra cidade para ser revelado.
Como você conheceu
sua esposa?
Eu deveria ter uns
quinze ou dezesseis anos quando conheci. Minha esposa Zenite Aparecida Gallo
Machado de Oliveira. Quando a conheci já fazia uma ano, um ano e meio que
estava trabalhando com fotografia. O dono da empresa de fotografias chamava-se
Yoshio Yamashita, ele contratava 10 a 20 casamentos para serem fotografados em
um sábado.
Zenite você
trabalhava em que área?
Eu trabalhava na Loja
Marisol, em Americana. Na minha casa de filhos éramos eu e meu irmão Zildo
Gallo. Meus pais são Aristides Gallo e Aparecida da Silva Gallo. Meu pai
trabalhou muitos anos na Companhia Paulista de Estradas de Ferro. Andei muitas
vezes de trem.
Alcindo, assim que
você e sua esposa se casaram foram morar em que cidade?
Quando nos casamos
fomos morar em Araraquara por um período de tempo, trabalhei com outro
fotógrafo, sendo que meu serviço era mais interno ao laboratório, de segunda a
sexta-feira. Antes de nos casarmos eu saia de Americana logo pela manhã,
chegava a Araraquara ao meio dia, onze horas. De ônibus da Viação Cometa ia
mais rápido do que de trem da Cia. Paulista. Lá eu me hospedava em uma pensão.
Que dia vocês se casaram?
Foi no dia 28 de
setembro de 1979, em Americana, na Igreja São João Bosco, quem celebrou o
casamento foi o padre Julio Combo, a música tocada foi Ave Maria de Gounod. Tivemos os filhos: Ariella, Rafael, Gabriela.
Nessa época você
trabalhava com que máquina?
Era uma Canon AE1,
com baioneta. Eu tinha um amigo que tinha montado um laboratório. Permaneci com
ele uns dois ou três anos. A seguir fui trabalhar com um fotógrafo muito famoso
em Americana, Strikis, era leto. Por volta de 1986 a 1987 Esmeralda Schiavon, tinha uma loja muito
grande em Rio das Pedras, o “Lojão da Nove de Julho”. Ela fez o convite para que viéssemos para Rio
das Pedras, havia campo na cidade para um fotografo. Ela nos disse que o
pessoal do corte de cana recebia por semana e gastava.
Que tipo de fotografia você tirava desse
pessoal do corte de cana?
Tirava fotografias
3x4, fotografias deles compondo um grupo. Eram fotografias que mandavam para o
local de origem deles. Todos os eventos da cidade eu sempre tirei. Cheguei a
tirar fotos de pessoas falecidas, geralmente eram pessoas que vinham trabalhar
na safra, acabavam falecendo aqui e os amigos queriam mandar à família do mesmo
como última recordação. Antigamente tínhamos um paletó, camisa e até gravata,
para tirar fotografia para documento oficial. Hoje o fotografado vai de
camiseta, através do photoshop colocam-se artificialmente os mesmos acessórios.
.
Quantas fotografias você calcula que
realizou sobre Rio das Pedras?
Não tenho uma noção
precisa, mas são bem mais do que 100.000 fotografias. Tirei fotos de
personalidades, cantores famosos, artistas de renome. Faço fotos para CD`s, são
pessoas que querem gravar músicas.
Você pensa em montar um memorial ou algo
parecido?
Por enquanto ainda
não.
Você manteve estúdio
aberto ao publico por quanto tempo em Rio das Pedras?
Desde 1988, são de 26
a 27 anos de estúdio.
Da. Zenite Aparecida
Gallo Machado de Oliveira a senhora também é fotografa?
Com a convivência
acabei aprendendo o ofício e tive a oportunidade de fazê-lo profissionalmente.
Há cliente que pede
para fazer uns retoques com photoshop em foto normal?
Tornou-se quase
normal, tanto homem como mulher pedir para dar um toquezinho em alguma mancha
ou marca. Às vezes a pessoa é muito auto critica com ela mesma.
Qual é a mágica para
fazer foto de candidato a cargo político?
Por muitos anos tenho
tirado fotografias de candidatos. Para cargos como prefeito e vereador as
fotografias são mais simples. As imagens recebem um tratamento diferenciado
quando se trata de candidato para cargo com alcance nacional. Sempre fui muito
sincero, se o candidato dá sugestões para mudanças muito radicais na fotografia
eu deixo bem claro que o próprio leitor pode acabar não o reconhecendo. O
leitor tem grandes possibilidades de achar que não é a mesma pessoa.
Você acredita que a fotografia digital
determine o fim da fotografia como conhecemos até algumas décadas?
A fotografia não vai terminar! O que
está acabanado é a fotografia no papel. A grande procura é por armazenamento
eletrônico. É muito mais prático. Só que também é mais fácil de perder. Tenho
um computador que impede que descarregue determinadas fotos. Tem uma pessoa que
consegue recuperar, mas não consegue a recuperação de todas as fotos. A
tecnologia ainda é confiável até certo ponto, você não tem garantia absoluta
das imagens que você transfere a um equipamento, mesmo que faça cópia poderá
ter problemas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário