sexta-feira, outubro 03, 2014

ALDO PERNAMBUCO SOBRINHO


 PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 04 outubro de 2014.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
 

ENTREVISTADO: ALDO PERNAMBUCO SOBRINHO

 

Aldo Pernambuco Sobrinho nasceu em Piracicaba a 30 de agosto de 1971 é filho de James Pernambuco (Conhecido como Bilo) e Diva de Moraes Pernambuco que tiveram os filhos James, Gisele e Aldo. Aldo é casado com Renata, são pais de um filho, Bryan.

Seus estudos você realizou em que escola?

Estudei no Grupo Escolar Moraes Barros, meu primeiro professor foi Seu Dirceu.  Estudei depois na Escola Estadual Prof. Mello Moraes e Colégio Técnico Industrial de Piracicaba. Ainda existia o Estádio Roberto Gomes Pedrosa, antigo campo do VX de Novembro, onde atualmente existe um supermercado.

Você chegou a freqüentar o antigo campo do XV de Novembro?

Meu pai gostava do XV e tinha muita amizade com o Colega que o convidava e eu acabava indo junto. Sempre joguei futebol, mas não profissional. Quando eu era jovem, o Córrego Itapeva era a céu aberto, junto onde hoje é a Avenida Armando Salles de Oliveira. Já existia a Cidade Jardim, o Jardim Europa.

O seu pai foi um entalhador?

Na realidade meu pai foi um marceneiro, ele trabalhou onde hoje é o Posto de Saúde, na Rua D.Pedro I, atrás do Mercado Municipal, ali era a oficina do Neno, meu pai trabalhou muitos anos com o Neno, como era conhecido Eugênio Nardin. O Neno fabricava móveis e entalhava também, tinha os entalhadores, os lustradores. Meu pai é natural de Piracicaba, começou a trabalhar lá ainda garoto. Meu pai sempre trabalhou como marceneiro, com o Neno ele deve ter trabalhado uns 15 anos. Fazia móveis finos.

Que tipo de madeira era usada naquela época?

Acho que mais cedro e imbuia.

E Pinho de Riga?

Em Piracicaba não se acha mais, em São Paulo pode até ser que você encontre. Mogno é raridade, não se acha mais

Antigamente o bacalhau era importado embalado em caixas de pinho de Riga.

Hoje vem em uma madeira bem mole. Descartável. Antes as madeiras eram boas, hoje a maioria dos moveis é em MDF. (MDF é a sigla de Medium Density Fiberboard, que significa placa de fibra de média densidade, é um material oriundo da madeira, fabricado com resinas sintéticas).

O sobrenome Pernambuco sugere que há uma ligação com aquele estado.

Já me perguntaram qual é a origem do sobrenome Pernambuco, eu não sei dizer. Meus tios também são todos de Piracicaba. Não há nenhuma relação próxima com o estado de Pernambuco.

Quando seu pai deixou de trabalhar com o Eugenio Nardin, montou a sua própria marcenaria?

Exatamente! Meu pai nasceu em 1919, creio que ele veio para cá na década de 40. Aqui meus tios Aldo e Julio o ajudaram a comprar as máquinas. Meu tio Aldo foi o primeiro motorista do Engenho Central, meu pai guardava tudo que era publicado a respeito, após seu falecimento esse material se perdeu. Ha muitos anos saiu em “O Diário” uma matéria sobre o meu tio Aldo que foi buscar um automóvel Ford ano 1929 no porto de Santos. Meu pai ainda muito jovem passou a fabricar móveis, charretes, as rodas eram de madeira e o aro de ferro que eram feitos pelo Romeu Ferreiro, estabelecido na curva do “S”, existente na Avenida Armando Salles de Oliveira.

A charrete mais conhecida é a de tração animal, mas na época existiam charretes de mão?

Acho que para a charrete de mão em 1958 era dada pela prefeitura uma placa que era a licença PMCM Prefeitura Municipal Carro de Mão era necessário ter aquela licença para transportar mercadorias. Eram umas carroçonas grandes, altas, ele saia daqui e levava os móveis não sei para quem, lá na Estação da Paulista.

Subia a Rua Boa Morte?

Subia empurrando na mão. Eu tinha uma até um ano atrás.

Eram muito comuns umas carrocinhas conduzidas à mão.

Até hoje existe no Cemitério da Saudade. No Museu da Água existe uma exposta.

O seu pai tinha o desejo de que os filhos seguissem a carreira dele?

O meu pai tinha a preocupação de que os filhos sofressem algum tipo de acidente por causa do grande número de máquinas cortantes. Depois que ele viu que eu passei a me interessar mais, vir com mais freqüência para ver ele fabricar as peças, ele foi abrindo mais a porta, deixando eu vim ver. Mostrava, falava o que era. Como eram feitos os móveis, os encaixes. E de fato é grande o número de ferramentas perigosas. Meu pai mesmo teve uns dois ou três acidentes, mas era um marceneiro que tinha todos os dedos.

Os clientes traziam os projetos dos móveis que desejavam?

Traziam sim, desenhos feitos a nanquim, escrivaninhas. Ele tinha uma pasta só com esses projetos.

Que idade você tinha quando começou a olhar com mais interesse as coisas que o seu pai fazia?

Eu estava com uns treze anos quando comecei a ver as peças que ele fazia com outros olhos a parte da marcenaria. A parte do entalhe foi com 15 a 16 anos que passei a freqüentar a oficina do Eugenio Nardin, situada na Rua do Vergueiro. Eugenio fazia todo tipo de móvel fino, restauração, pintura.

Você lembra-se da sua primeira obra em madeira?

Foi um banquinho! Meu pai não deixava mexer nas máquinas, ele tinha muito cuidado para não acontecer nenhum acidente.

Por que você gosta do entalhe?

Porque você pega uma madeira bruta e consegue fazer o que desejar com a madeira.

Quais são as madeiras boas para entalhes?

Cedro, imbuia, cerejeira, se tivesse, mogno.

Para realizar o entalhe é necessário ter muitas ferramentas?

Há a necessidade de ter um arsenal de ferramentas. Uma da bancas de carpinteiro que meu pai utilizava tem a data atrás, 16 de outubro de 1933. É de cabriúva. Meu pai e um amigo dele que fizeram. As roscas são de madeira.

Você após freqüentar a oficina do Eugênio Nardin, voltava para a oficina do seu pai?

E tentava entalhar algumas coisinhas.

Seu pai permaneceu aqui na oficina até que ano?

Faz oito anos que ele faleceu, aos 85 anos, trabalhou até falecer.

Devagarzinho você foi ganhando espaço na arte do entalhe?

Meu pai tinha uma roda de amigos que freqüentavam a marcenaria, ao final de tarde aparecia muitos amigos para conversar, trocar idéias. Ele pegava algum entalhe que tinha feito e mostrava com orgulho aos amigos. Aprendi entalhe com Eugênio Nardin e com Pedro Senicato, o Pedrinho Entalhador. O Sbrissa e o Pedrinho Entalhador faziam sobre tampo de caixão funerário. Não era com resina sintética como hoje, era tudo entalhado. Alguns entalhavam o caixão inteiro.

Você já entalhou urna funerária?

Entalhei só um sobre tampo. O Pedrinho desenhou como estava bem doente, pediu para o Hélio entrar em contato comigo. Fiz o sobre tampo para o Hélio tirar o molde em resina e comercializar para as fábricas de urna. Eu fiz o molde. Ele faz a peça em resina. Com 23 anos eu já estava bonzinho no entalhe. É uma arte em que a cada dia vai se aprendendo alguma coisa. O que gostava de fazer era porta. A minha primeira peça que fiz e gostei muito foi um relógio de madeira.

Você dá aulas de entalhe?

Dou aulas todas às tardes.

Qual é o requisito para ser aluno da arte de entalhar?

Qualquer pessoa dos 12 aos 99 anos pode estudar entalhe! O aluno mais novo acredito que foi o Marcelinho, tinha uns 12 anos. Atualmente tenho cerca de 15 alunos, de 23 a 75 anos.  Um dos alunos é um senhor que vem de Tietê. Eles dizem que é uma terapia. Tanto é que saiu uma matéria chamada “Terapia do Entalhe”. Tem que ter calma se tiver pressa não irá conseguir fazer nada. Sou detalhista, se o aluno errar irá fazer novamente. Você pega uma madeira cheia de farpa, tira na plaina. Nas máquinas pesadas eu faço o trabalho, por precaução e cuidado com o aluno. Nas aulas eles usam as minhas ferramentas, quando começam a gostar passam a adquirir as próprias ferramentas.

Quem tem mais facilidade para entalhar o homem ou a mulher?

Ambos têm condições, depende apenas do aluno ou aluna. Tive uma aluna, a Eliane, que tinha uma mão para entalhar que era muito eficiente.

O entalhe está voltando a entrar em evidência?

Acho que o entalhe está sendo realçado. O surgimento de novelas de época traz muitas peças entalhadas. Muitas molduras. A atenção dos decoradores está se voltando para peças diferentes. Através da internet mantenho contato com entalhadores praticamente do mundo todo. Há uma grande troca de informações. Até mesmo na maneira de como se amola um formão.

Você faz entalhes específicos, sob encomenda?

Antes de começar a entalhar a peça propriamente dita eu faço um estudo. Temos exposto ali a parte de cima de uma cabeceira de cama. Depois de feito o estudo, se o cliente aprovar passo a entalhar.

Quem gosta de móveis entalhados?

Pessoas mais maduras e refinadas. Há uma movimentação nesse sentido, se só o móvel entalhado pode criar um ambiente mais sóbrio, a mescla com outro tipo de decoração pode dar refinamento.

Para ser entalhador tem necessariamente que ter a mão firme?

Não. Quando o aluno ingressa seus primeiros trabalhos são um peixe e uma flor. Nesses trabalhos fico conhecendo o movimento de mão, a coordenação do aluno. Faço trabalhar a mão direita e esquerda que são os movimentos contrários do cérebro.

A seu ver em matéria de entalhe quais são os países que se destacam?

Eu creio que seja a Espanha e a Alemanha.

Na cidade de São Paulo tem bons entalhadores? Eles o conhecem?

Existem bons entalhadores, alguns me conhecem. Em meu conceito o entalhe é uma arte que deve ser ensinada, passada aos que interessarem, muitas pessoas podem ter até um dom maior do que quem ensina.

Proprietários de antiquários procuram seu trabalho?

Alguns sim. Tenho sido procurado por igrejas, atualmente estou restaurando peças da Catedral de Santo Antonio. Às vezes as pessoas falam: “- Mas é um dedo que você está fazendo!”. Só que para esculpir um dedo tem que dar o volume certo, a nervura certa. Fazer a unha perfeita, igual a outra.

Entre as centenas de ferramentas de entalhe, uma se destaca pelo formato, o macete do entalhador. Como pode ser definido seu uso?

Uma das aulas é usada para ensinar os alunos a fazerem seu próprio macete. É feito de madeira dura, geralmente o rouxinho, garapeira, cabreuva. Existem macetes antigos, como de bronze por exemplo.

Quanto tempo dura um curso de entalhe?

Depende do aluno. Esse senhor que vem de Tietê faz cinco anos que está comigo como aluno. É um bom entalhador. Ele vem às terças-feiras, e segundo suas palavras se não vier a semana fica sem sentido. É uma terapia.

Quando o futuro aluno mostra interesse em matricular-se qual é a primeira providência que você toma?

Eu digo: “- Vamos fazer uma aula para ver se é isso mesmo que você gosta de fazer”. Uma aula dura cerca de duas horas.

Você tem um grande número de ferramentas diferentes, todas são necessárias?

Cada formão tem um formato. As goivas, que são formões com sulcos, formões retos, semi-goivas.

Você tem uma furadeira manual que deve ser muito antiga.

Deve ter umas oito décadas.

O que é a ferramenta chamada guilherme?

É uma ferramenta utilizada antigamente para fazer os rasgos para encaixar porta. O barilete, que é um tipo de raspilha.

A madeira para ser trabalhada tem que estar totalmente seca?

Para ficar totalmente seca pelo menos uns seis meses.

Você está restaurando uma espada e uma palma em madeira, que pertencem a Catedral de Santo Antonio. Você tem conhecimento de quem é essa obra?

Não sei responder com exatidão, a informação que me chegou é de que veio de Portugal. Aquele Cristo Rei veio todo desmontado. As placas são encaixadas, parafusadas.

Você dá aula de entalhe para restaurador?

No momento estou dando aula para uma pessoa que restaura.

As ferramentas profissionais de entalhe são fáceis de encontrar?

Normalmente as melhores ferramentas são as importadas da Europa, Estados Unidos. No Brasil temos apenas uma fábrica e cuja qualidade fica aquém das importadas. As ferramentas fabricadas na Argentina já têm uma qualidade melhor.

Mundialmente o entalhe é uma arte que tende a aumentar ou a diminuir?

Tende a crescer. No Brasil já esta havendo uma nova mentalidade sobre o entalhe. Na Espanha e na Alemanha são matérias curriculares.

Você está no face book?

Estou como Aldo Entalhe. E quem quiser vir conhecer, fazer uma aula, fica feito o convite, estou aqui a disposição.

Quantos entalhadores existem em Piracicaba?

Entalhadores estilo ornato, que é o estilo que eu faço, que eu saiba só existe eu. Depois existem entalhadores que fazem placas. Sou um pesquisador nato, gosto de saber como o pessoal fazia, eu procuro descobrir quem se dedica a arte do entalhe.

Aldo, você se considera o único representante de uma arte que está quase em extinção em nossa cidade?

Por isso sempre procurei divulgar pela mídia, as pessoas que faziam em Piracicaba foram aos poucos falecendo. No sul Treze Tílias é uma cidade que tem uma feira só de escultores, acontece durante uma semana. Em Campinas tem uma catedral muito bonita, entalhada, demoraram treze anos para entalhar. No centro de convivência tem um entalhador muito bom. O Mosteiro São Bento, em São Paulo, é maravilhoso em termos de entalhe. Em Piracicaba tem entalhe na Igreja dos Frades, a porta da Igreja da Paulicéia, a porta da Igreja São Dimas, a Catedral tem alguma coisa. Agora a porta entalhada na igreja ao lado da Matriz da Vila Rezende. Levo meus alunos a esses locais para que conheçam os estilos, como se pode fazer uma voluta, um contorno. Não sou dessa época mas dizem que o Colégio Industrial ensinava a entalhar. Atualmente o pessoal não tem muita paciência para fazer um entalhe, por isso você vê todo mundo estressado, todo o mundo quer tudo muito rápido, apressado.

Você recomenda à quem está quase a beira de uma terapia, que venha fazer uma experiência com entalhe em madeira?

É uma sugestão interessante. Aqui você vai trabalhar o seu lado psicológico. Os alunos comentam e eu tenho um aluno que era muito ansioso ele disse que aprendeu a curar a ansiedade aqui. Tem até um médico cardiologista que é aluno, faz o curso para relaxar o stress.

sexta-feira, setembro 26, 2014

PEDRO LUIZ DEFAVARI - CLUBE DOS VETERANOS


 PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 27 setembro de 2014.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/




ENTREVISTADO: PEDRO LUIZ DEFAVARI - CLUBE DOS VETERANOS

 

Pedro Luiz Defavari nasceu em Rio das Pedras a 20 de maio de 1959, filho de Izaltino Roque Defavari e Alzira Longatto Defavari (Dona Lila) que tiveram os filhos: Maria José (Zinha), Carlos, Pedro, Valdir e Adilson. Pedro é casado com Da. Rosangela, são pais de Douglas e Amanda. Pedro é o fundador do Clube dos Veteranos de Rio das Pedras, fundado a 23 de outubro de 1989. O que sobressai no Clube dos Veteranos é que é uma reunião de amigos com objetivos de amizade e respeito.

Pedro você além do seu trabalho tem um hobby ao qual se dedica muito.

Meu hobby principal é o futebol. Gosto também da pesca. Posso afirmar que cerca de setenta por cento das amizades que tenho foram feitas por intermédio do futebol.

Você chegou a jogar  em times de expressão no futebol?

Cheguei a jogar no juvenil do Esporte Clube XV de Novembro de Piracicaba. O presidente era Romeu Italo Ripoli, o responsável por nós era o Pedro Sallun.  Jogávamos na preliminar depois jogava o time principal. Viajamos para outras cidades junto com o time titular. Foi um período em que o Esporte Clube XV de Novembro  estava muito bem classificado. Com 15 anos fiz teste na Associação Portuguesa de Desportos em São Paulo, fui aprovado. Foi até curiosa a circunstância, um amigo, o Aristides, que jogava na Portuguesa, levou o Vanderlei para fazer o teste, meu pai estava dirigindo o veículo, eu fui junto, mais por curiosidade. Acabei entrando em campo na hora de fazer o teste, fui aprovado enquanto meu companheiro foi barrado, não pelo futebol, mas pela idade. Na semana seguinte voltamos Aristides, Vanderlei e eu, sendo que o Aristides que tinha 18 anos permaneceu em São Paulo, o Vanderlei com 16 e eu com 15  ficamos retidos na rodoviária pelo fato de termos menos de 18 anos e não estarmos acompanhados de um adulto. Por sorte, encontramos a Da. Lurdinha Vicente, esposa de Vicente Borsatto, ela perguntou o que estava acontecendo. Expliquei. Ela assumiu a responsabilidade sobre nós perante o juizado de menores, assim voltamos. Meu pai e Romeu Gardim tinham ido nos buscar. Isso foi por volta de 1976.  Fiz também teste no Guarani Futebol Clube, passei. Por um ano treinei no Juvenil do XV de Novembro.

Seus estudos foram feitos em Rio das Pedras?

O primário eu estudei no Barão de Serra Negra, o ginásio na Escola Estadual Professor Manoel Costa Neves depois fui estudar contabilidade na Escola Municipal Contador Waldomiro Domingos Justolim, conhecida popularmente como Escola de Comércio. Na época o Zicão era o diretor, tinha os professores Genival, Avelino.

Na época qual era a atividade profissional dos seus pais?

Meu pai tinha um bar e mercearia, que depois passou para mini-mercado. Ficava na Rua Prudente de Moraes, 825. O começo de tudo foi no final da Rua Prudente de Moraes, onde hoje é a rotatória. Do lado direito de onde hoje há um posto de gasolina era o Bar do Gustão Scarassatti, pai do Anésio, do Mário. Ao lado tinha outro bar de propriedade dos irmãos Tota e Quinca, Meu pai transferiu de um lado para outro, depois passamos para um prédio próprio, na Rua Prudente de Moraes mesmo, mais acima um pouco. O Sr. Bussolotti fez um empréstimo ao meu pai que acabou construindo um pequeno barracão. Isso foi por volta de 1970. Em 1980 adquirimos do Comendador Oswaldo Miori o supermercado situado na Rua Pudente de Moraes.

Com quantos anos você começou a ajudar os seus pais?

Com 12 ou 13 anos, no bar e mercearia. A pessoa vinha com a listinha de compras, nós pegávamos a mercadoria e entregava ao cliente. As entregas eram feitas pelo meu pai com uma perua Kombi, de vez em quando eu ia junto também. A Kombi era a condução da família nos momentos de lazer. Na frente iam meus pais e atrás os cinco filhos!

Após deixar o XV de Novembro você continuou jogando?
                                          ASSOCIAÇÃO ATLÉTICA RIOPEDRENSE

Comecei a brincar na Associação Atlética Riopedrense, da Terceira Divisão. Sempre joguei como meia-direita, sempre com a camisa 8. Fiquei um ano, depois o time perdeu a vaga.  Joguei na época em que o presidente era Antenor Soave e o Toninho Bassa era o técnico. Vieram umas normas da Federação Paulista de Futebol, que era necessário construir uma arquibancada para 3.000 pessoas. O time ficou um ano sem disputar o campeonato. A proposta era de ser feita a arquibancada nesse ano, o que não aconteceu e a Riopedrense parou de disputar.

O jovem em Rio das Pedras tem recebido incentivo para praticar esportes?

A situação dos jovens é digna de tristeza. A falta de interesse por qualquer tipo de esporte por parte de alguns mandatários anulou a participação do jovem em atividades esportivas. Já tivemos períodos de intensa atividade esportiva, como na época de Geraldo Bianchin, havia campeonatos, era completamente diferente.

A seu ver qual é a importância da prática de esportes?

Como disse no início, a maior parte das amizades que tenho fiz por intermédio do futebol. Quem gosta de esportes, de futebol, para fazer amizade com outra pessoa que faz a mesma coisa é a coisa mais simples, a gente fala a mesma lingua. Conhece o carater da pessoa mais fácil ainda. Quem pratica esporte só tem a ganhar, quem pratica por algum tempo dificilmente extravia sua conduta. Isso é fato!

As autoridades constituidas, em todos os níveis, federal, estadual, municipal, deveriam incentivar mais a prática de esportes de uma forma geral?

Nós vemos em entrevistas concedidas por atletas o pouco caso com relação a pratica de esportes. Aqui em Rio das Pedras tem um atleta que pratica corrida, o Mazaia, ele se inscreveu em uma corrida em Santos, ele necessitava de um patrocínio de R$ 400,00, a prefeitura da cidade não tinha essa verba. Infelizmente isso ocorre tanto no esporte profissional como no amador na natação, futebol, volei. É só dizer que necessita de patrocínio e não encontra nenhum tipo de incentivo. A única coisa que ainda está em pé em Rio das Pedras é o Clube de Campo, o Banhara que fez, o Comendador Oswaldo Miori é que estava dando-lhe suporte, isso faz 50 anos ou mais. Em 2003 conseguimos fazer o Clube dos Veteranos, o time de futebol iniciciou-se em 1989.

Como surgiu o Clube dos Veteranos?

Quando fiz 30 anos convidaram-me para disputar um campeonato em Cerquilho, jogando pela Meias Selene. O Carlos Hansen, foi talvez o único profissional que sobressaiu na cidade, que jogou no Comercial Futebol Clube de Ribeirão Preto, por sete anos. No caminho pensei em montar um time de veteranos, o Carlos Hansen disse que ajudava.  Escolhi 17 pessoas, não necessáriamente bons jogadores de futebol. O primeiro jogo que fizemos foi em 1989 em Saltinho. Para nós jogar futebol é um pretexto, o gostoso é após o jogo, sentar, bater um papo, criar um ambiente descontraido. Comecei por brincadeira e deu certo. De 1989 até 2002 jogávamos na região, Iamos com vários carros, quando iam muitas pessoas alugávamos onibus.

Que cor era o uniforme?

O primeiro uniforme nosso já existe a 25 anos, está intacto, a camisa nas cores azul, vermelha e branca, cores da bandeira de Rio das Pedras. Até hoje as pessoas que ingressam no time vestem essa camisa e tiram uma fotografia uniformizado.

Você tem um carinho muito especial pelo clube.

Já passaram 63 pessoas pelo clube, jogando bola.

Você tem todas as estatísticas do clube?

Tenho tudo. Desde o primeiro jogo. Quem marcou, quem jogou. Qantos jogos fizemos, quanto tempo o jogador permaneceu. Quantas presenças a pessoa teve. Estou fazendo uma revista onde estou contando a história de cada um.

Isso é uma característica da sua formação como contabilista?

Pode até ser. Mas eu acho que é mais porque gosto. Acho que nunca ninguém fez isso. O profissional tem esses dados porque está documentado em televisão, ou em outra mídia. Agora ter o capricho de pegar um caderninho e marcar o dia do jogo, quem veio jogar, quem jogou, quem marcou gol, digo: é muito dificil encontrar quem faça.

Você é o Rocha Neto (Maior documentarista de esportes de todos os tempos)de Rio das Pedras?

Mais ou menos! Um fato que considero marcante é o de um atleta que sempre saiu vencedor em um esporte de competição individual. Um dia encontrei-o completamente alcoolizado, sem forças para ficar em pé. Conversei rapidamente com ele. Aos poucos ele passou a freqüentar o Clube dos Veteranos. Sentiu-se valorizado. Hoje é um grande companheiro. Essa é uma das historinhas que marcaram.

Qual é a faixa etária dos freqüentadores do Clube dos Veteranos?

O mais novo é o Fernando, está com 29 anos. A norma é ter no mínimo 30 anos para ingressar no clube. Com mais idade, que está jogando, é o Nico Padovese, com 66 anos. Se deixar ele joga o primeiro e o segundo tempo de jogo. A regra é jogar meio tempo cada um, para dar a oportunidade de todos jogarem. O João Morales (João Pitoco), também tem 66 anos e joga só que é 5 meses mais novo do que o Nico Padovese. São pessoas privilegiadas. O meu sonho era também estar jogando até hoje, consegui jogar até os 50 anos, o meu joelho me obrigou a parar.

A que horas começa o jogo?

Aos sábados às três horas da tarde o pessoal começa a chegar normalmente o jogo inicia-se três e meia, quatro horas. São dois tempos de 40 minutos cada um. Após o jogo o pessoal toma uma cervejinha, come um petisco, brincam, conversam. Lá pelas sete e meia da noite o pessoal começa a ir embora.

Em que dia você se casou?

Foi em 18 de setembro de 1988

Como sua esposa vê essa sua dedicação ao Clube dos Veteranos?

Fui um privilegiado. Ela gosta de atletismo, apóia, é companheira mesmo. Vamos fazer 26 anos de casados, nunca discutimos.

Seu filho gosta de futebol?

Gosta, o que o meu pai fez para mim eu fiz para ele. Ele ficou até mais tempo do que eu no Esporte Clube XV de Novembro de Piracicaba. Ficou de dois a três anos, saiu, fez um teste no Noroeste de Bauru, passou no teste, ficou por lá. Quando ia começar o campeonato ele parou e veio trabalhar comigo.

Qual é a área total do Clube dos Veteranos?

São 62.000 metros quadrados. Dividimos em 22 chácaras, entre os 22 jogadores do time, cada um na época adquiriu uma chácara para ele. Acredito que seja algo inédito, um condomínio de 22 amigos. O engenheiro Walmir Marcelo que também fazia parte do time fez a divisão.

Se alguém quiser adquirir um terreno lá, como funciona?

O interessado em vender informa ao conselho do clube. Se ninguém do Clube dos Veteranos quiser, passa a prioridade de venda ao Master.

O que é Master?

É outro time que criei que joga aos domingos, já faz seis anos. Os Veteranos jogam com times convidados. O Master só joga entre eles. Camisa vermelha contra camisa branca. Hoje tem 65 participantes do Master, aos quais dedico o domingo. São dois jogos, acima de 50 anos é uma turma, abaixo de 50 anos é outra turma que joga. Ao todo somando os participantes dos Veteranos e do Master são cerca de 100 pessoas. O jogo começa às oito e meia da manhã para o pessoal com mais de 50 anos, das dez horas em diante o pessoal com menos de 50 anos. Hoje no Master tem o Samuca que está jogando futebol todos os domingos aos 73 anos. O Master joga 35 minutos cada tempo. Muitos fui convidando, eles diziam “- Eh Pedro! Você está louco! Faz 10 anos que parei de jogar futebol, hoje tenho 50 anos!”. Eu dizia “- Começa devagarzinho! Deixa a mulher um pouco sossegada em casa!”.  Hoje tem fila com 10 pessoas esperando uma vaga para poder participar do clube. Tem um médico, Dr. Renan, que joga e faz plantão.

Infelizmente existem alguns pseudo-atletas que usam uma partida de futebol como pretexto para se excederem na bebida na confraternização após a partida. Como você controla isso com um número tão grande de pessoas?

A base de tudo é o respeito. Sinto-me muito respeitado. Acredito que isso seja um dom. Convidar alguém para participar é fantástico. Convidar alguém para se retirar é muito difícil. Infelizmente passei duas vezes por isso. Teve um caso em que a pessoa era muito polêmica, achava que todos estavam contra ele. Eu tentei ajudá-lo, lapidar, não é assim fulano. Isso durou três anos. Chegou a um ponto em que não tinha mais o que fazer, fizemos uma cartinha de dispensa. Outro caso no primeiro dia em que ele foi ao clube já discutiu com um sócio. Tentamos mais algumas vezes, mas ele sempre acabava discutindo com alguém, ao que parece alguns não simpatizavam com ele. Até que fui obrigado a dizer-lhe que parasse de freqüentar por algum tempo. Foi muito difícil dizer-lhe isso.

Vocês jogam boche?

As sextas-feiras uns 10 ou 12 sócios se reúnem, fazem um jantar e jogam boche. Eu tinha 3 anos, meu pai tinha a cancha de boche, e de tempo em tempo é passado o rodo para nivelar a cancha, eu sentava em cima do rodo enquanto meu pai puxava! Essa convivência com o boche é desde a infância. Posso afirmar que jogo bem a ponto, e mesmo atirando a bola. Para conviver com outras pessoas tem que ter autocontrole. Cada jogo é uma história. Antes de jogar costumamos rezar. Aos que vão para somar a porta sempre estará aberta. Os que imaginam em dividir não serão bem vindos. É nossa palavra de ordem. O respeito é o alicerce, nossa base. Estamos sempre lapidando.

A seqüência de quem ingressa é jogar futebol no Clube dos Veteranos, com mais idade passa para o Master e com o passar do tempo passa a jogar boche.

Seria isso mesmo! Hoje o Veteranos está completo, com 22 jogadores, se necessitar de um jogador os 22 escolhem um nome para colocar dentro do clube. O Conselho recebe o nome dessas pessoas e é feita a votação. Não é importante apenas que o atleta seja bom de bola, ele deve vir para somar com suas qualidades pessoais. A confraternização após o jogo torna o evento importante para todos.

É um lugar onde encontramos tranqüilidade, diversão sadia. Em dia de jogo quem quiser conhecer o Clube dos Veteranos é só dirigir-se até lá. Fica a dois quilômetros da Praça da Matriz. Dá para ir caminhando.

sábado, setembro 20, 2014

FELISBINO DE ALMEIDA LEME (BINO)


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 20 setembro de 2014.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/


ENTREVISTADO: FELISBINO DE ALMEIDA LEME (BINO) 

Felisbino de Almeida Leme, o Bino, estará lançando o seu terceiro livro que é “Canto de Paz” sendo que o valor apurado na venda dos livros será totalmente revertido para o CECAN. Será lançado no dia 27 de setembro, as 19:30 horas, no salão da Escola de Mães, situada na Rua Prudente de Moraes, 1578, esquina com a Rua Alfredo Guedes. O prefácio é de Selma Ferrato, a apresentação foi realizada por Conceição Pipa Soave. Uma das orelhas do livro foi feita por Maria Helena Corazza, presidente da Academia Piracicabana de Letras e a outra orelha do livro foi feita pelo Padre Antonio Célio Costa Francisco, o Padre Célio da Igreja Bom Jesus.
Felisbino de Almeida Leme nasceu a 27 de setembro de 1944 em Piracicaba na Rua Tiradentes, entre a Rua Voluntários de Piracicaba e Rua Treze de Maio. É filho de  Noemia Godoy Leme e Acácio de Almeida Leme que foi músico por 50 anos, tocou em bandas de Piracicaba, Capivari. Tocava saxofone e clarinete. O casal teve sete filhos: Leonidas, Dirce, Clarice, Rubens, Florivaldo (Chicoca), Antonio e Felisbino (Bino). Bino iniciou seus estudos no Grupo Escolar Moraes Barros, sua primeira professora foi Dona Mariazinha (Maria). Nas proximidades do grupo escolar havia uma venda famosa, com sua vitrine de doces, pertencia ao Bento Chulé, um doce muito apreciado era o pudim de pão popularmente chamado de “mata-fome”.

Bino você guarda muitas lembranças dessa época?

Na Rua Alferes José Caetano em frente ao Grupo Moraes Barros, existia o escritório de um dos grandes advogados que atuou em Piracicaba, Dr. Jorge Canaã, era ali que muitas vezes Jacob Diehl Neto, Noedy Krahenbuhl, Francisco Lagreca também célebres advogados,encontravam-se para confabularem. Na esquina da Rua Treze de Maio com Alfres José Caetano, onde atualmente é a Pizza do Bira, era onde funcionava a agência de correios de Piracicaba. Em frente, ficava a loja de Oscar Elias Neme. Na Rua Alferes José Caetano, esquina com a Rua Voluntários de Piracicaba, havia uma casa enorme, onde por muitos anos funcionou a Biblioteca Municipal, Nas dependências anexas ao casarão morava Dona Diva, mãe da Isalina, Lucia, Rosa, que eram minhas colegas. A Dona Diva era enteada do Seu Joaquim Corre-Corre, casado com Dona Maria. Moravam todos juntos. O casarão da frente era a biblioteca. (Foi derrubado recentemente e está dando lugar a um edifício). Na esquina oposta havia uma funerária, do Longatto, com os esquifes  expostos. Ao lado, adiante um pouco, na Rua Alferes José Caetano havia a Fábrica de Bebidas Andrade, que pertencia a família de Thales Castanho de Andrade. Um fato curioso é quando o esposo da professora entrava na sala de aula nós levantávamos e cantávamos: “ –Bom dia Seu Aldino ! Como vai?”.

O curso primário você concluiu lá mesmo?

Fui transferido para o Grupo Escolar Prudente de Moraes. Ia a pé, passava pelo Córrego Itapeva. Minha mãe faleceu quando eu tinha seis anos. Minha avó Maria Erlinda Hellmeister Godoy ( Dona Cota) , e meu tio Nelson Godoy se incumbiram de cuidar de mim. Morávamos na Rua Luiz de Queiroz, entre a Rua Voluntários da Pátria e Treze de Maio. Ali crescemos juntos, Beto Pianelli, Pedro Arnould, hoje médicos conceituados.

O chão era calçado ou de terra?

Era chão de terra nua. Tinha um campinho de futebol. Mais adiante tinha um parquinho municipal, Dona Cacilda Azevedo Cavagionni era a chefe.

O ginásio você cursou onde?

Fiz no Colegio Estadual e Escola Normal Monsenhor Jeronimo Gallo, na Vila Rezende. O diretor era Helly de Campos Melges, tempo do Professor Lineu Alfredo Cardoso, Professsor Marques, Professor Waldemar. Funcionava no mesmo prédio onde era o Grupo Escolar José Romão. Nosso uniforme assemelhava-se muito a uma farda, na cor caqui. Estudava de manhã, a tarde ajudava a minha avó e meu tio. Levava almoço ao meu tio que trabalhava no Engenho Central, tinha que atravessar a ponte sobre o Rio Piracicaba. Para mim era uma diversão. Cheguei a nadar no Rio Piracicaba, pescava muito peixe cascudo.  O Rio Piracicaba ficava muito próximo de onde morávamos. Havia muito peixe, lembro-me do Tangará, Mário Pinazza, pescavam peixes enormes, jaús, dourados. Um tipo folclórico de Piracicaba que conheci foi o Espetete, seu filho Valdemar é muito meu amigo. Tudo que ele falava terminava com “ete” : cachorrete, cavalete, peixete.

Piracicaba era uma cidade relativamente tranquila, todos se conheciam.

Tinhamos habitos mais caseiros. Para ir ao ginásio ia de bonde até a Vila Rezende. Eu cantei no Coral São Luiz, como tenor, o maestro era Vicente Gimenes. Esaiavamos no prédio da Sociedade Portuguesa, na Rua do Rosário, o prédio existe até hoje.  O coral era composto por cerca de 30 elementos, viajavamos muito, cantávamos em solenidades, casamentos. Ditinho, pai do musico Janu, cantava nesse coral.

Nessa época você já estava trabalhando em alguma empresa?

Passei a trabalhar como continuo no Banco Paulista do Comércio situado bem em frente a loja A Porta Larga, na Rua Governador Pedro de Toledo esquina com a Rua Moraes Barros. Ao lado era a “A Musical” do Walter Pousa. A seguir passou a se chamar Banco América. O Banco Itau assumiu. Logo em seguida eu fui fazer o Tiro de Guerra que ficava na Avenida Dr.Paulo de Moraes, eu ia de bonde, em pé no estribo. Após um ano terminei de servir o Titode Guerra.

Você foi fazer o que em seguida?

Fui para São Paulo, isso foi em 1966, fui de trem. Fui até a casa do meu tio Antonio Godoy, o sogro do meu sobrinho, Helio Pianelli trabalhava na Editora Abril, um primo do meu primo trabalhava na TV Excelsior, na Vila Guilherme, onde eram feitas as novelas, eles tinham um estúdio na Rua Nestor Pestana, centro de São Paulo. Conduzido pelo meu primo entrei na Excelsior como escriturário, fui evoluindo, me aproximando mais no núcleo de novelas, acabei dando assistência a produção e direção.

Qual foi a primeira telenovela que você deu assistência?

Foi “Redenção”. Uma novela que ficou quase dois anos no ar. Na época tinha que ter o visto da censura. Cheguei a levar uma gravação para pegar o visto em Brasília. Nessa época eu morava na Rua Augusta. Dona Gê era costureira da TV Excelsior, ela abrigava em seu apartamento alguns artistas que vinham do Rio para São Paulo. O Rony Cócegas ficou muito tempo nesse apartamento. Moravamos todos nesse apartamento, e era próximo da TV Excelsior. Da Nestor Pestana era transmitida a Luta Livre, a Hora do Bolinha, Show Riso, Os Adoráveis Trapalhões que quando começou era formado pelo Renato Aragão, Didi,  o Wanderley Cardoso, Vanusa, Ted Boy Marino, Ivon Curi. Mais tarde saiu esse quarteto e entrou Muçum e Zacharias. Com onibus ou perua da TV Excelsior íamos até os estúdios da Vila Guilherme, era um dos melhores estúdios da América do Sul.

A Luta Livre era um show?

Era um show já ensaiado. Quem assistia em casa ficava nervoso, mordia a unha. Isso em uma época em que poucos tinham televisão, e era em branco e preto. Quando terminavam a luta, saiam do estudio e dirigiam-se a um barzinho que existia em frente  ao prédio da TV Excelsior, iam tomar cerveja, bater papo. O Show Riso estorou em São Paulo, vinha o pessoal do Rio de Janeiro para fazer o programa. Ary Leite criou o “Saraiva”, personagem característico por ser neurótico.

Para um rapaz que saiu do interior o impacto foi muito grande?

Na época mergulhei no meio artistico, cheguei a ter muitos amigos. Na TV Record quando o Agnaldo Rayol fez “As Pupilas do Senhor Reitor” , com Fulvio Stefanini, Dionisio Azevedo interpretava o reitor,  o Agnaldo viajava muito, eu pegava seu texto, marcava sua fala, levava para a casa da sua mãe, Dona Rosinha, seu pai era Seu Agnelo, deixava lá. Quando ele chegava de viagem já estava tudo pronto para ele decorar o texto. Muitas vezes um ator fazia o ensaio para gravar imediatamente. O “script” era rodado em mimeografo a alcool! Era uma dificuldade! Para fazer uma cena externa ia trator, caminhão, jipe. Na Excelsior permaneci dois anos. Ela faliu e nós fomos para a TV Record. Dr. Paulo Machado de Carvalho era o comandante. Ele tinha escritório na Rua Quintino Bocaiuva, mas passava diariamente na emissora. O Vicente, que era o barbeiro, fazia sua barba. Depois ele ia ao escritório. Seus tres filhos: Paulo Machado de Carvalho Filho, o Paulinho, cuidava da parte artística, o Tuta, cuidava da parte técnia, é pai do Tutinha que comanda a Jovem Pan, o Alfredinho cuidava da parte comercial. Tive a felicidade de trabalhar com quatro diretores bons: Dionizio Azevedo, Valter Avancini, Regis Cardoso e Ivan Mesquita. O Pagano Sobrinho pediu que eu fizesse Juri Popular  no programa “É Proibido Colocar Cartaz” , programa de calouros, nesse programa que levei o Beto Surian. Consegui levar vários valores artísticos para iniciar carreira. Na Record surgiu a Joven Guarda, depois a Praça da Alegria com Manoel da Nóbrega, depois veio o Festival da Musica Popular Brasileira. Elis Regina, Jair Rodrigues, Chico Buarque de Holanda, Gilbeerto Gil.

Você permaneceu por quanto tempo em São Paulo?

Foram cinco anos. Na época a febre que contagiou a juventude era viajar como mochileiro. Conhecer novos lugares. Eu e um amigo decidimos percorrer a estrada. Chegamos até a Argentina. Eu deveria ter por volta de vinte e poucos anos. Era muito jovem. Viajei sabendo que podia contar com a ACM, Associação Cristã de Moços. O espírito do mochileiro era de percorrer a rota através de qualquer meio de transporte, a pé, de carona. Permanecemos uma semana na Argentina. Decidimos retornar.

Você voltou à Piracicaba?

Cheguei e procurei o Tiquinho como era conhecido Haldumont Nobre Ferraz. Ele era assessor do Prefeito Cássio Paschoal Padovani. O SEMAE- Serviço Municipal de Águas e Esgotos estava sendo criado. A sede era na Rua São José, entre a Praça José Bonifácio e a Rua Alferes José Caetano. Fiz a Faculdade de Serviço Social. Com essa formação desenvolvi e implantei vários projetos visando qualificar e aperfeiçoar a condição de vida dos funcionários, que na época eram em torno de 600. Alfabetização de adultos, grupos de recuperação de auto-estima, diversas iniciativas que beneficiaram e beneficiam até hoje os funcionários. 

Quando você se casou com a sua esposa Rosaly Aparecida Curiacos de Almeida Leme?

Casamos a 24 de maio de 1979 na Igreja dos Frades o celebrante foi Frei Augusto, dessa união nasceu nosso filho José Alexandre.

Bino você teve alguma ligação com o escotismo?

Logo após ingressar no SEMAE passei a participar do Grupo de Escoteiros Tamandaré, já na função de chefia. Praticamente fundamos esse grupo, junto com meu irmão, com o Shirley Prado, da Receita Federal.

Quantas obras editadas você já tem?

Meu primeiro livro foi “Encantos de Outrora”, lançado em 2008. O segundo livro foi “ O Relato de Minha Vida” lançado em 2011, que narra minha vida, minha infância, minha juventude e meu trabalho ligado a televisão. E agora estou lançando o terceiro que é “Canto de Paz” sendo que o valor apurado na venda dos livros será revertido para o CECAN. São 120 poemas, simboliza meus 70 anos de vida, mais 50 anos de comunicação, no total de 120 anos. Será lançado no dia 27 de setembro no salão da Escola de Mães, situada na Rua Prudente de Moraes, 1578, esquina com a Rua Alfredo Guedes.

Quando você pediu a mão da Rosaly em namoro foi com algum poema?

A Rosaly me conheceu quando eu estava dando uma palestra sobre o livro de Erich Fromm abordando o tema “O Amor é Vida”. Ela achou minha voz bonita, e ela precisava de uma pessoa que falasse na inauguração da escola EE Profa Maria Guilhermina Lopes Fagundes em Santa Bárbara D`Oeste. A direção da escola queria alguém que fizesse a oração de agradecimento em nome de Jesus pelo material como cimento, cal, às pessoas que trabalharam na obra como o pedreiro por exemplo. A Rosaly conversou com a Ana Maria, esposa do Ary Camolesi. O Ary é um dos fundadores do VEA, e eu fazia parte do VEA.

O que significa VEA?

Forma uma cruz  Vá de Espírito Aberto e Volte Espalhando Amor. A Rosaly me convidou, fui até a casa dela que morava com sua família, nisso chegou sua irmã Helena e disse que me convidasse para ficar para o almoço. A Rosaly disse que me conhecia muito pouco. Nisso a sua irmã Helena retrucou: “-Ele será seu namorado!”. Acabamos nos conhecendo e casando.

Você participou de muitas instituições em Piracicaba, pode citar algumas delas?

Primeiro foi o escotismo. Depois fui para o VEA, onde era um grupo formado por adultos. Funcionava no Seminário do bairro rural Nova Suiça. Ia na sexta-feira a tarde e voltava no domingo. Era no formato de um cursilho. Foi em uma época em que havia vários movimentos jovens cristãos, como Geração Nova, Topada.  Participei da Associação Piracicabana de Assistência Carcerária (APAC). Atuei no Centro Cultural e Recreativo Cristovão Colombo como Diretor de Comunicação ( Gestão José Domingos Cristofoletti) Diretor Cultural (Gestão Milton Marcos Ducatti), época em que criei o coral do Cristóvão, com o Maestro Joaquim Bonilo, o coral existe até hoje. Criei a “Nossa Mostra” que existe até hoje, eram apresentadas obras de artistas plásticos que eram associados do clube. Foram criados cursos de pintura, escultura. Fui Diretor Ouvidor ( Gestão Orlando Antonio (Tato) Pereira. Fui Vice-Presidente do Clube do Escritor do Carlos de Moraes Júnior. Fui diretor da Sociedade Beneficente Sírio Libanesa, com Alexandre Neder e com Jorge Sallum Nassin (Jorginho). Por dois anos fiquei como Diretor Social na gestão de Elia Youssef Nader e Silvana Zen Boaventura. Estamos na Academia Piracicabana de Letras ha muitos anos, onde sou o primeiro secretário e a Rosaly é a segunda secretária. Fiz parte dos Amigos do Museu da Odontologia com o Dr. Waldemar Romano. Tenho matérias publicadas em O Diário, no Jornal de Piracicaba, A Tribuna Piracicabana, Gazeta de Piracicaba, Capivariano, Laranjal Paulista, Cosmópolis Jornal de Aparecida do Norte. Nas revista Brasil Rotário ( Rio de Janeiro) e Família Cristã. Fui membro das Comissões organizadoras dos Salões InternacionaL do Humor de 1977 e 1978. Presidi a Comissão Organizadora dos Prêmios Escriba: de Contos, de Poemas e de Crônicas., com nivel nacional e internacional. A primeiro de agosto de 2008 recebi o título “Piracicabanus Praeclarus” e no dia primeiro de agosto de 2013 a “Medalha de Mérito Legislativo” e várias “Moções de Aplauso” pela Câmara Municipal dos Vereadores de Piracicaba.

Como você vê a situação cultural do nosso país?

A tecnologia veio e deu uma alavancada em tudo. A juventude de hoje é bem diferenciada da época da minha juventude.  A velocidade de informações é imediata. Acredito que os valores efêmeros podem e deve ser mudado, o que deve ficar são os valores permanentes: o amor, o respeito.

Rosaly cita uma frase de seu pai, José Curiacos, que foi pessoa de grande sabedoria.

Meu pai sempre dizia que se você tiver uma lata de tinta cor-de-rosa e se cair um pingo de tinta verde todos irão dizer que estão vendo o pingo de tinta verde. Enquanto isso acontecer, significa que a maioria não está em evidência. Pior seria se fosse ao contrário. Se o mal fosse maior do que o bem. O que está é muito difícil de manter os valores perenes com a juventude atual. A propaganda dessas outras coisas todas é muito grande. 

Bino, o livro terá uma embalagem especial?

Foram feitas 200 sacolinhas de tecido com o poema “Seja Você Mesmo” da Madre Tereza de Calcutá impresso.

Seja Você Mesmo

Dê sempre o melhor...
E o melhor virá.
Às vezes as pessoas são egocêntricas,
Ilógicas e insensatas...
Perdoe-as assim mesmo.
Se você é gentil, as pessoas podem
Acusá-lo de egoísta e interesseiro...
Seja gentil assim mesmo.
Se você é um vencedor, terá alguns
Falsos amigos e alguns inimigos verdadeiros...
Vença assim mesmo.
Se você é honesto e franco,
As pessoas podem enganá-lo...
Seja honesto e franco assim mesmo.
O que você levou anos para construir,
Alguém pode destruir de uma hora para outra...
Construa assim mesmo.
Se você tem paz e é feliz,
As pessoas podem sentir inveja...
Seja feliz assim mesmo.
O bem que você faz hoje
Pode ser esquecido amanhã...
Faça o bem assim mesmo.
Dê ao mundo o melhor de você,
Mas isso pode nunca ser o bastante...
Dê o melhor assim mesmo.
E veja você que, no final das contas,
É entre você e Deus...
NUNCA SERA ENTRE VOCÊ E ELES!

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