domingo, agosto 15, 2010

Tereza Takagi Sato e Susumu Sato

JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 14 de agosto de 2010
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
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ENTREVISTADOS: Tereza Takagi Sato e Susumu Sato

A comunicação imediata de qualquer acontecimento no planeta colocou por terra as grandes distâncias entre os povos de cada nação, um fato impensável há um século. A mobilidade de massas populacionais pelas mais variadas razões, fatos políticos, pouca disponibilidade de recursos naturais para a sobrevivência, discriminações religiosas, e algumas vezes o espírito de buscar novas oportunidades fez com que os países da América ganhassem uma nova face, uma fenomenal mistura de raças que conserva as melhores características de cada uma delas. No Brasil os japoneses e seus descendentes são respeitados pelo profissionalismo e honestidade de propósitos com que atuam nas mais diversas áreas. Os descendentes já nascidos no Brasil são carinhosamente denominados também de japonês. Ninguém questiona a qualidade de um pastel feito por um japonês, da mesma forma que confia no projeto estrutural de um edifício feito por um engenheiro calculista japonês. O imigrante japonês sempre foi muito criativo, adaptou-se logo ao Brasil, transformou o que seriam dificuldades em oportunidades, á custa de uma dedicação obstinada avançou com coragem e firmeza, conquistando o respeito e admiração, evoluindo rapidamente na pirâmide econômica e social. Uma enorme diferença cultural, de hábitos alimentares, costumes, barreira do idioma, foram obstáculos demolidos pelo imigrante japonês, a custa de muito suor, com raríssimas exceções podemos afirmar que é um povo que veio, viu e venceu. O bairro da Liberdade em São Paulo é um pedaço do Japão no Brasil, em Piracicaba o bairro com maior presença de japoneses e seus descendentes é a Paulista, que exibe entre outros, sobrenomes como Takaki, Sato, Ito, Nishimura, Kawai, Kubo, Otsubo, Icizuka, Mizutani, Takematsu, Hara, Yamashita, Komatsu, Nishide, Kamiyama, Hayashi, Onishi, Sudo, Miyazaki. Nas esquinas da Avenida do Café com Rua Sud Mennucci está a sede do Clube Cultural Nipo Brasileiro de Piracicaba, que preserva os costumes e tradições japonesas. Tereza Takagi Sato nasceu no Porto João Alfredo, hoje Ártemis, em 10 de junho de 1930, Susumu Sato nasceu em Yokohama, Japão, a 27 de outubro de 1924 casaram-se há seis décadas conforme o antigo costume japonês, onde a futura esposa era escolhida e após a concordância paterna celebrava-se o casamento. Ela é filha de Shigueki Takaki, o primeiro imigrante japonês falecido em Piracicaba, cujo nome denomina uma das mais conhecidas praças de Piracicaba situada na Paulista. Takaki em japonês significa “árvore grande”.

Susumu o senhor veio com quantos anos para o Brasil?

Ao completar seis anos vim com a minha família composta pelos meus pais e mais cinco filhos. Descemos em Santos, de onde seguimos para Piracicaba, ao chegarmos havia uma recepção festiva com banda de música e tudo, ficamos contentes achando que era pela nossa chegada, quando na realidade era em homenagem ao Governador do Estado que vinha naquela composição. Fomos para a Fazenda Pau D`Alho de propriedade de Paulo Moraes Barros, médico e político piracicabano, era colônia de café. No Japão não se carpia o mato, e sim se arrancava com a mão, aos imigrantes carpir era quase uma novidade. Plantávamos arroz no Japão, para consumo próprio.

Ao chegar à fazenda foram residir em casa?

Cada família passou a residir em uma casa da colônia, já havia japoneses que havia chegado antes. O primeiro impacto que sofri foi com a barreira da língua, próximo a minha casa moravam uns meninos negros, tínhamos vontade de brincar, mas não havia forma de nos comunicarmos pela palavra. Tanto a linguagem como as brincadeiras eram muito diferentes. Logo que cheguei já fui para a escola, só que por três anos permaneci estudando no primeiro ano, simplesmente não sabia falar português! Alguns colegas japoneses, que tinham chegado antes, tinham um pouco mais de domínio da língua e nos ajudavam. Em matemática conseguia excelentes notas, mas quando o professor fazia o “ditado”, onde ele lia e nós tínhamos que escrever, eu recebia péssima nota. A professora era a Dona Candinha.

Com que idade o senhor passou a trabalhar?

Minha família após permanecer por três anos no Bairro Pau D`Alho, mudou-se para o Bairro dos Marins, fomos tomar conta da chácara do Sr. Emilio Fabri. Minha mãe estava grávida, logo nasceram meus irmãos gêmeos, a Maria e o Mario, seu Emilio queria batizar as crianças, ele e a sua filha batizaram a menina, a sua esposa e o filho batizaram o menino. Com seu Ford 1929 ele ia sempre ao sitio, era proprietário de um armazém situado onde hoje está o Bradesco da Paulista, ali ele tinha uma área que abrangia boa extensão do quarteirão, além do armazém tinha um salão onde estocava algodão que adquiria de plantadores da região. Nossa família mudou-se para Tanquinho, de lá mudamos para o bairro da Assistência, próximo a Rio Claro. Com doze anos passei a trabalhar na lavoura, arar, gradear, em lavoura de algodão, isso na Fazenda Itaúna, onde permanecemos por sete anos.

No período da Segunda Guerra Mundial os japoneses no Brasil sofreram algumas restrições?

Pelo fato de morarmos no sitio sentimos pouco as medidas tomadas em relação aos imigrantes. Como era natural, tínhamos armas de fogo para a defesa contra possíveis ataques de animais silvestres. Meu pai tinha um revolver Smith & Wesson que ele deu para o administrador da fazenda guardar. Desmontamos as espingardas, acondicionamos em papel e as colocamos debaixo do paiol. Não podíamos ter rádio, os japoneses, italianos e alemães eram chamados de “quinta-coluna”. (Quinta coluna é um termo usado para se referir a grupos clandestinos que trabalham dentro de um país ou região, ajudando a invasão armada promovida por outro país em caso de guerra).

Qual foi o próximo trabalho que o senhor realizou?

Meu pai percebendo que a rentabilidade do trabalho na lavoura estava ameaçada pela ambição do proprietário das terras arrendadas, decidiu que deveríamos mudar, ou para nossa própria terra ou para a cidade. Estávamos cansados de tanto trabalhar com agricultura, decidimos mudar para a cidade, adquirimos o Restaurante Central, na cidade de São Pedro. Não entendíamos nada de cozinha brasileira, conhecíamos a comida japonesa, permaneceram trabalhando conosco o cozinheiro e dois garçons. Eu e meu cunhado tomávamos conta do restaurante, fomos adquirindo prática.

Nessa época que o senhor e sua esposa se conheceram?

Minha esposa morava com a família em Artemis, ia sempre á São Pedro para visitar um irmão que morava lá.

O namoro japonês é diferente?

Naquela época não havia namoro, os padrinhos é que ajeitavam o casamento. O Chico, que era verdureiro, foi quem ajeitou meu casamento. Toda vez que a Tereza ia visitar seu irmão, passava em frente ao bar onde eu trabalhava. O Chico falou com o pai dela, ela nem sabia que iria se casar comigo.

Dona Tereza, como a senhora recebeu a noticia que iria se casar com uma pessoa que praticamente nem conhecia?

Eu tinha dezenove anos, o Susumu tinha quase vinte e cinco anos, eu disse que não queria me casar, mas meu pai me convenceu a aceitar. O padrinho falou com o meu pai e já marcaram a data do casamento. O casamento foi realizado na igreja de São Pedro no dia 28 de março de 1951.

Após o casamento o senhor trabalhou no que?

Permaneci trabalhando no restaurante de nossa propriedade. Após algum tempo fui plantar em uma área de terras cujo administrador era o Sr. Orestes, por um ano cultivei arroz e algodão, ia para lá na segunda feira, retornava na quarta feira, na quinta feira já ia de novo para a lavoura, era próxima a Santa Maria da Serra, ia de caminhão com o encarregado da fazenda, isso foi em 1952. Minha esposa permanecia trabalhando no restaurante. Terminada a colheita, um conhecido que tinha uma leiteria ofereceu-me uma área de terras para cultivar verduras, assim passei a fazer, e ajudando-o a entregar leite para a sua freguesia, era litros fechados com sabugo e palha de milho. Meu pai voltou para a fazenda Itaúna e me convidou para ir fazer uma lavoura de dez alqueires de mandioca, sempre fui muito bom para riscar a terra. Meu sogro em uma visita que nos fez achou que eu poderia ter melhores condições trabalhando na cidade, meu cunhado Julio ajeitou um trabalho com o Seu Maneco, um português que tinha um bar e restaurante na esquina da Rua Governador Pedro de Toledo com a Rua D.Pedro II, onde hoje está à loja de roupas Hot Point. Trabalhei lá por um ano como pasteleiro, fazia coxinhas. Dia 15 de junho de 1953 mudei para uma casa de propriedade do Sr. Vecchini, situada na Avenida do Café, 533, onde morei por três anos, as ruas eram de terra, com pedregulhos.

Qual é o segredo de um bom pastel?

Pastel é a coisa mais simples de se fazer, não adianta ensinar, mesmo ensinando nunca fazem igual, a massa de pastel é feita com farinha, água, sal e óleo, não se acrescenta mais nada, nem fermento, pinga, ovos. Fazíamos pastel de carne e queijo. Comprava no mercado frangos, galinhas, abatia-as e fazia coxinhas.

Em seguida o senhor trabalhou onde?

Comprei banca no mercado, no tempo em que tinha mesas de um metro, parte do prédio era descoberta, nessa época o mercado foi reformado, por três anos fiquei no mercado. Eu tinha trabalhado como pasteleiro com o Abe, pai do Antonio, Ricardo e do Fernando, aos sábados e domingos ele me chamava para ir trabalhar na pastelaria. Os irmãos Plínio e João Zaia tinham um bar situado atrás da Catedral, chamava-se Americana, encostado ao bar existia a agência de viagens da Viação Piracicabana, ele ofereceu-me porcentagem sobre as vendas de pastel para ir trabalhar com ele. Entrava às seis horas da manhã e ficava até as onze horas da noite, nessa ocasião eu morava no Jaraguá. Até a esquina da Rua do Rosário com a Avenida Dona Jane Conceição havia casas, da Rua do Rosário para baixo, sentido do Jaraguá não havia nada, apenas pastos. Cheguei a jogar futebol no Campo do MAF, no campo do Jaraguá Futebol Clube. Na quadra entre a Rua da Palma, Rua Campinas, Avenida Dona Jane Conceição e Avenida Dr. Edgar Conceição era o campo do MAF. As ruas estavam com suas quadras definidas, mas era tudo mato. Quando eu tinha horta, como havia muitos animais soltos, vacas, cavalos eu catava esterco por essa região onde hoje é o Bairro Jaraguá. Após para com a horta aprendi a trabalhar como cabeleireiro, montei um salão na Rua Prudente de Moraes entre a Rua do Rosário e a Rua Tiradentes. Corto cabelo até hoje. Meu cunhado Ângelo fez o curso de cabeleireiro em São Paulo veio trabalhar comigo, uma mocinha era a manicure. Eu penteava os cabelos de senhoras, fazia permanente. Minha esposa passou a trabalhar também como cabelereira.Uma das minhas freguesas era funcionária da Ultralar na Rua Governador Pedro de Toledo, eles precisavam de uma pessoa para trabalhar lá. A princípio eu fui trabalhar com botijão de gás. Aprendi a montar e desmontar fogões a gás e passei a cuidar dsso, fazia entregas, tive a oportunidade de conhecer a cidade de ponta a ponta.

Sr. Susumu o senhor era católico?

Pelo fato de ser japonês, tinha o budismo como religião em minha terra natal. Quem nos casou foi o padre Peroni, era muito conhecido na cidade de São Pedro. Em Piracicaba, participei do Movimento dos Cursilhos de Cristandade, queriam me batizar. Fui batizado quando tinha 52 anos, pelo Cônego Luiz Gonzaga Juliani.

Da. Tereza o seu pai, Shigueki Takaki veio morar onde?

Ele dirigiu-se a Fazenda Pau D`Alho, em seguida ele adquiriu uma área na Fazenda Cachoeira.

Como se deu a denominação da Praça Takaki em homenagem ao seu pai?

Meu pai foi o primeiro imigrante japonês a falecer em Piracicaba, em junho de 1958, fizeram essa homenagem a ele e a colônia japonesa, a Praça Takaki foi inaugurada em 17 de abril de 1960, a Paulista é o bairro onde existe a maior concentração de japoneses. Meu pai foi um dos fundadores do Clube Cultural Nipo Brasileiro de Piracicaba.

Qual é o objetivo principal do Nipo Brasileiro?

Quando o meu pai fundou o objetivo principal era fortalecer a união entre os japoneses, desde aquela época existe a gincana, onde há a participação de concorrentes em diversas modalidades de atrações com premiação aos melhores colocados. O baseball já existia. Festas de casamentos eram realizadas ali, naquele tempo era um clube destinado exclusivamente á japoneses, atualmente temos até diretores brasileiros, como o nosso Vice-Prefeito, o médico Dr. Sergio Pacheco.

Sr. Susumi como surgiu o grupo da terceira idade dos japoneses?

Na administração do prefeito José Machado, a primeira dama Janete Machado disse que seria interessante montar um grupo de terceira idade dos japoneses, na época uns trinta associados nessa faixa etária participava do baseball, incluímos essa turma toda no novo grupo. Com o tempo foram aproximando-se mais associados, inclusive brasileiros. Tanto eu como a Tereza por vários anos fomos diretores do grupo da terceira idade.

Dona Tereza, a senhora como cabeleireira conheceu muitas pessoas importantes da sociedade piracicabana?

Conheci, a esposa de Erotides de Campos foi minha cliente, senhoras francesas esposas dos diretores do Engenho Central, moças da família Kraide, Ana D`Abronzo, moças e senhoras da família Ometto.







sábado, agosto 07, 2010

LUIZ ANTONIO COPOLI

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 07 de agosto de 2010
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
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                                                                                            Foto by JUNassif
Luiz Antonio Copoli e sua esposa Terezinha Aparecida Furlam Copoli
ENTREVISTADO: LUIZ ANTONIO COPOLI
A imaginação humana sempre criou um fascínio pelo desconhecido. Basta ver a atração que as chamadas redes sociais da internet exercem sobre milhões de pessoas. O rádio sempre foi um dos grandes elementos que aguçam a criatividade do seu ouvinte, como foram os célebres contadores de história ao correr do tempo. Versos de Camões, modinhas, repentes, desafios, histórias de cordel, são relatos que estimulam o imaginário, cada individuo dá forma própria aos fatos relatados. O cérebro, esse nosso desconhecido, atua de forma maravilhosa, expande fantasias, dá seu colorido próprio, a cenografia e a sonoplastia são características de cada individuo. O bom orador sabe trabalhar muito bem com seu público, estimula ao máximo o exercício de criatividade de cada ouvinte. Saber trabalhar de forma interativa com sua audiência é a grande magia do apresentador de rádio. Transforma o comunicador em alguém muito próximo do ouvinte, passa a ser quase intimo do individuo. Essa é uma das razões pela qual ao conhecer um locutor o ouvinte parece estar revendo uma pessoa de suas relações mais próximas, mesmo sem nunca o ter visto antes, para aquele que acompanha um programa de rádio, o apresentador é uma pessoa que integra o seu cotidiano. Saber interpretar esses sinais de interação, conduzir o imaginário do ouvinte, despertar emoções é a grande habilidade de um apresentador de rádio. Muito diferente de uma pessoa que simplesmente fala ao microfone. Piracicaba tem um grande apresentador de rádio, que com seu “Programa da Amizade” encanta seus ouvintes há quase 30 anos. Conduz seu programa com maestria, tem um público extremamente fiel, é um Midas da propaganda. Titio Luiz é o alter ego (outro eu) de Luiz Antonio Copoli. Assim como Pelé é o alter ego de Edson Arantes do Nascimento. Titio Luiz acumula grandes performances, quer desenvolvendo campanhas de arrecadação ou motivando centenas de ouvintes a viajarem de navio pela primeira vez na vida. Se alguns torcem o nariz ao ouvirem seu programa, muitos o escutam de forma apaixonada, já o integraram em suas vidas, ele é uma extensão da família de cada um deles. Luiz Antonio Copoli nasceu em 22 de dezembro de 1946, é um homem de estatura elevada, que se veste de maneira clássica, esbanja simpatia, sempre atento aqueles que se dirigem a ele. Refere-se ao Titio Luiz como uma terceira pessoa, o cidadão Luiz Antonio Copoli tem plena consciência de que ele é responsável pelo ídolo Titio Luiz.
Quando foi o inicio do programa que o senhor apresenta?
O Programa da Amizade que apresento pela Rádio Educadora, fará em janeiro próximo 30 anos de existência, iniciei em janeiro de 1981. A estréia do programa foi em uma segunda feira, no domingo à tarde ainda não tinha encontrado o nome que daria ao programa. Dirigi-me á uma estante, para pesquisar alguns nomes, quando me deparei com o título do livro “A Amizade” pensei: “- Esse é o nome!”. O formato do programa foi sempre o mesmo, o fato de ser improvisado torna-o cada dia um novo programa. Não produzo nada antes de apresentá-lo, não crio nenhum roteiro prévio, não sou a favor disso, mas pelo fato de ser sozinho posso ter esse privilégio. Tudo acontece de forma natural, e assim transcorre a cada programa, apresentado diariamente das nove horas da manhã até ao meio dia.
Onde o senhor busca inspiração para motivar o seu público?
É algo que me perguntam, posso dizer que devo muito ao Padre Jorge iniciei com ele na década de 60, acredito que foi em 1964 ou 1965, o Padre Jorge me ensinou muito, a Igreja Católica Apostólica Romana me ensinou demais, além dos meus pais quem me educou foi o Padre Jorge. A minha educação é muito católica, apesar de hoje eu não freqüentar mais a igreja devo muito a igreja católica. Acredito que Jesus deixou uma doutrina, não deixou uma religião, visito locais de outras religiões sempre que me convidam. Gosto muito de ouvir padres, pastores, pregadores, acompanho pela televisão os pregadores que me despertam a atenção, tenho acompanhado o R.R. Soares, alguns pastores da Igreja Universal, Padre Jonas Abib da Canção Nova, Padre Eduardo da TV Século 21, Padre Zezinho, acompanho os bons pregadores. Deus para mim é você. Hoje meu Deus é o meu próximo. Digo às pessoas que se nós perdêssemos a bíblia e ficássemos apenas com “Amar a Deus sobre todas as coisas e o próximo como a si mesmo”, nada estaria perdido, meu Deus é o amor ao próximo. Começo na minha família, não adianta amar seu irmão de caminhada se não amar a sua família. Não somos santos, e nem a minha família é perfeita, a minha família é composta por pessoas imperfeitas. Na minha profissão, na ótica do meu filho, procuro respeitar as pessoas, aceita-las como são. Há um bom tempo eu queria mudar as pessoas, mas não queria mudar a minha maneira de ser. Hoje procuro mudar a mim mesmo e não aos outros, cada um tem os seus direitos, não existe uma única verdade, cada um tem a sua verdade, temos que lutar pela nossa verdade.
Algum dia o senhor pensou em tornar-se padre?
Quando eu era moço foi cogitada a possibilidade de tornar-me missionário passionista, fui convidado por uma congregação de Curitiba. Pelo fato de ser o filho mais velho, portanto arrimo de família e de meu pai ganhar pouco, em hipótese alguma eu poderia ir ao seminário. Somos cinco irmãos, renunciei a ser missionário passionista em função dos meus pais e meus irmãos. Acredito que hoje o meu trabalho é tão importante quanto ao de um padre ou de um pastor, tenho o privilegio de falar para um numero maior de pessoas através do radio.
Qual é a faixa etária do público que o acompanha?
São pessoas com mais de vinte e cinco anos, poucos jovens ouvem o meu programa, porque poucos o entendem, o perfil dos jovens da minha época e os atuais, mudou muito, mesmo que eu queira que os jovens ouçam o meu programa eles não saberão o porquê de me ouvirem. As minhas palavras ajudam, àqueles que não a entendem atrapalha um pouco e até incomoda.
Seus ouvintes o procuram para conversar fora do horário do programa?
Diariamente atendo a pessoas que dizem: “-Seu programa mudou a minha vida!”, “-Seu programa mudou a minha família”, “-Seu programa me tirou da depressão, me tirou do fundo do poço”. São pessoas com mais de vinte cinco anos. Recebo em minha sala pessoas que me procuram, são pelo menos dez pessoas a cada semana. Muitas vêm com problemas sérios, acredito que o que o padre escuta no confessionário eu escuto aqui. A minha sala foi feita especialmente para isso, tem uma porta mais larga, é só o espaço vazio, não tem as folhas da porta, está permanentemente aberta. A minha esposa Terezinha fica logo ali, ao lado. Converso de portas e coração aberto.
Já houve muito choro na sua sala?
Muitas lágrimas foram derramadas, já trouxeram muito desespero, mas eu tenho tido a Graça de Deus, um presente de Deus, que as pessoas saem daqui confortadas. Com toda minha pequenez diante de Deus e pela misericórdia dele ele me dá a palavra, a palavra vem.
São problemas de origem financeira?
Não! Atualmente os grandes problemas da humanidade são os ciúmes e a desconfiança. Ninguém mais acredita em ninguém! Quando se trata de marido e mulher não é diferente, e isso tende a crescer, aqueles que não conseguem administrar alimentam as desconfianças e os ciúmes.
Homens ou mulheres o procuram mais?
Os problemas afetam a ambos, só que o homem é mais resistente a buscar ajuda, uma atitude machista, quando me procuram é por problemas com a família, filhos envolvidos com drogas. Atendo a todas as pessoas que me procuram.
Na maior parte do tempo o senhor escuta ou aconselha?
Geralmente eu só escuto a pessoa que me procura, assim como a que procura a um padre ela necessita falar, são poucas as que estão prontas para ouvir. A cada dez ou vinte palavras que ouço, falo apenas duas! Ouço coisas terríveis. Em minha casa às vezes Terezinha diz que estou muito quieto. É tão cansativo ouvir, que por isso admiro os padres, que não tem com quem conversar, não a respeito do problema, mas simplesmente conversar após ouvir por muito tempo problemas geralmente muito sérios. A falta de dialogo é muito grave atualmente.
A depressão é a moda do momento?
Depressão é uma forma de fugir da realidade. Você faz a opção por ela. Para depressão não existe remédio, você a cura. Existem casos em que é mais fácil optar pela depressão do que estar de bem com a vida, estar deprimido é uma forma de fugir de um problema, só que problemas existirão sempre! Temos que aprender a resolvê-los! Colocar acima de tudo a humildade, a paciência, a renuncia, o que não é fácil! Nos dias de hoje uma das coisas mais difíceis é renunciar. Por que os casamentos atualmente não vão bem? Porque nenhum dos dois quer renunciar. “- Eu tenho razão, eu mando, eu faço!”. Com isso surgem os atritos que acabam em separação.
A atual tendência para um individualismo mais acentuado pode acarretar em problemas?
Algumas pessoas acham que são donas da verdade, do mundo e das coisas. Só elas estão certas. Estabelecem normas, não aceitam que podem ter motivos para erros, ou que tem problemas.
A pessoa pensa: “-Eu sou único, sou verdadeiro, eu sou eu, sou bom pai, bom marido...”, isso tudo é bobagem! Somos todos iguais, Deus não estabeleceu diferenças para ninguém. Nós é que fazemos com que as pessoas sejam diferentes.
Alguma vez já ocorreu do senhor considerar seu ingresso na política?
Não! Já fui convidado para fazer parte de alguns partidos, á concorrer para cargos eletivos, mas penso que o radialista que se envolve com política tem vida curta no radio, e acaba tendo vida curta na política. Os colegas que entraram para a política pararam no meio do caminho. O radialista não pode se envolver com política. O radialista tem a fisionomia que o ouvinte gosta. O excesso de exposição da imagem pode atrapalhar a audiência do programa. Se Titio Luiz for candidato os eleitores não estarão elegendo o Luiz Antonio, eles estarão elegendo Titio Luiz. O Titio Luiz é perfeito, Luiz Antonio é imperfeito.
Como é a convivência do Titio Luiz com o Luiz Antonio?
Não é fácil, mas eu convivo. O Titio Luiz exige muito de mim. Ele é perfeito, e luta com a imperfeição do Luiz Antonio. Para mim o Titio Luiz existe das nove horas da manhã até ao meio dia, dentro da Rádio Educadora. Permaneço trabalhando no rádio muito pela gratidão que tenho á Dona Ana Maria Meirelles de Mattos, eu era torneiro mecânico, quando ela e seu pai, Dr. Nelson Meirelles me tiraram do torno para trazer á Rádio Educadora.
Quantos anos de rádio o senhor completou no dia 3 de agosto?
São 35 anos de rádio.
Qual é receita que o senhor dá para ser bem sucedido na vida?
Trabalhar! Trabalhar e Trabalhar! Eu não era nada, não tinha nada. Há 41 anos casei-me com Terezinha Aparecida Furlam Copoli, na Igreja da Vila Rezende, o celebrante foi o primo da Terezinha, Padre José Mainardi, fomos morar na Rua Ângelo Bachi, 6, Vila Bachi, ali na Curva do “S”. De lá mudamos para a Rua Dr. Koch, 340, era uma casa muito velha que compramos para pagar em cinco anos, isso foi em 1978. Os pais têm que ter objetivos para os filhos também terem. Aos 13 anos o meu filho Flavinho começou a trabalhar na Ótica Piracicaba. Passei momentos dificílimos no inicio do meu trabalho no rádio, de sentar em um banco na praça, com a pasta de propaganda e chorar. O grande erro do homem é ao pegar o salário, achar que é mixaria, por menor que seja deve agradecer a Deus. Abençoar aquilo que conseguiu.
O veículo de comunicação é mais importante do que o apresentador?
Não adianta a rádio me colocar no ar se não tenho talento, eu irei ser mais um. Se você não tiver talento só a radio não irá torná-lo um bom profissional. Algumas vezes os interesses comerciais de algumas emissoras prevalecem independentemente de ter talento ou não. Já faz alguns anos que os anunciantes do meu programa me procuram no meu escritório ou na rádio. No inicio da minha carreira já bati muito na porta de clientes, foi muito difícil. Devo gratidão a muita gente, o Ermelindo Sturion da Casa do Papai foi o meu primeiro anunciante, no dia 3 de agosto fez 35 anos que ele anunciou comigo. Sou grato a Ótica Piracicaba, do Norival Favaro, ele me ajudou muito, a Charm Cosméticos do Toninho, me ajudou muito, eu não tinha um nome ainda conhecido, eles fizeram pela nossa amizade. A propaganda é um produto, ela tem que dar um retorno ao anunciante. Deus me deu tanto quanto eu mereço, mais do que preciso, guarde essa frase.
No Programa da Amizade há um momento especial, o momento da consagração, o senhor pode falar a respeito?
Aprendi a Consagração de Nossa Senhora com o Padre Vitor de Almeida Coelho, o Jair de Souza Palma gravou e colocou na internet, pelas suas mãos recebi um certificado dado pelo Papa Bento XVI, seu secretariado está fazendo uma pesquisa para santificação do Padre Vitor, e encontrou a minha apresentação da consagração que é de autoria do Padre Vitor. Conheci o padre Vitor em Aparecida do Norte, ele fazia um programa chamado Marreta na Bigorna, era um programa muito bonito, duro.
O senhor é tímido?
Sou muito tímido! Falo em publico quando faço uma palestra uma vez por ano, geralmente em alguma igreja que me convida.
Seus fãs solicitam seu autógrafo?
Já pediram, mas não gosto de dar autógrafos, fico muito tímido, abraço a pessoa dou um beijo. Tiro muitas fotos, geralmente com senhoras da terceira idade.
Como são os passeios de navio que o senhor promove?
Para mim foi uma vitória. Promovo uma viagem por ano, em 2008 levei 1380 pessoas, já estamos promovendo pelo sexto ano, fico no navio como passageiro, tiro muitas fotos.
Muitos ouvintes colocaram em seus filhos nomes inspirados pelo seu programa?
Existem muitos rapazes que levam o nome de Flávio por seus pais assimilarem o nome que dei ao meu filho, agora tem ocorrido com meninas cujos pais inspiram-se no nome da minha neta Luisa.
A naturalidade com que o senhor apresenta o programa é perceptível!
Todos falam isso, até o Marcos Turolla, nosso colega da Rádio Difusora, com 38 anos de rádio, diz sempre para mim: “-Titio Luiz eu ouço o seu programa no meu carro, parece que você está sentado ao lado, no banco do passageiro!”. Isso me honra muito, principalmente vindo de um profissional como o Marcos Turolla. O rádio tem me dado muitas alegrias.
O senhor recusa-se a fazer propaganda de algum produto?
Não faço propaganda de motocicleta e nem de bebida alcoólica. O que não serve para a minha família não serve para a sua.
Qual seu prato preferido?
Ultimamente tenho comido muito pouco, mas gosto de arroz e feijão bem temperado.
O senhor já narrou alguma partida de futebol?
Eu não aprendi a gostar de futebol. Até o Mário Luiz fala que o sonho dele é me levar para o estúdio para comentar uma partida.

quarta-feira, agosto 04, 2010

MARCELO RICARDO GIMENES



PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
Sábado 31 de julho de 2010
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://www.teleresponde.com.br/                                   
                                                      Foto by JUNassif

ENTREVISTADO: MARCELO RICARDO GIMENES
Dois artistas holandeses Marcelo Gimenes e Jaap Snijder, com reconhecimento mundial, estão trazendo novas técnicas de arte, para exposição no período de 28 de julho a 22 de agosto, no Espaço Cultural “Eugenio Nardin”, no Engenho Central. Uma iniciativa da Barce Fundation (Holanda), que tem como objetivo principal iniciar e financiar projetos culturais para adultos e crianças carentes no Brasil. A Fundação Barce não tem fins lucrativos e arrecada fundos através da venda das obras de arte a preços acessíveis. O valor das vendas é totalmente revertido á Fundação. O que chama a atenção de forma especial é de que um desses artistas é brasileiro naturalizado holandês, tem dupla nacionalidade, e para orgulho de Piracicaba, ele é piracicabano! Marcelo Ricardo Gimenes é filho de Antonio Raul Gimenes e Maria Esther Crivello Gimenes, nasceu um Piracicaba no dia 1 de outubro de 1967. Muito jovem, reuniu a coragem e o destemor próprios da idade e fez o caminho contrário dos seus antepassados, com mil idéias na cabeça e alguma bagagem na mão foi descobrir o Velho Mundo. Desembarcou na Espanha, preferindo imediatamente fazer uma conexão para Lisboa. Ali começava a sua descoberta da Europa. Em 1985 trabalhou na Megastore Benetton do Amoreiras Shopping Center, o primeiro grande Centro Comercial de Portugal. Muito comunicativo, fez novos amigos, com muito talento em decorações logo foi trabalhar em uma empresa que trabalhava com plantas permanentes. Em um dos seus trabalhos teve a oportunidade de trocar rapidamente algumas palavras com o Presidente Sarney, que visitava aquele local. Suas criações artísticas despertaram a atenção de representantes de uma universidade holandesa que fez o convite para cursar a faculdade de arte e design na Willem de Kooning Art Academy A Holanda dita as novas tendências de decorações de interior para a Europa e em conseqüência para o mundo, foi na mais importante instituição que Marcelo foi trabalhar. Galgou os cargos mais importantes, tornou-se o designer mais influente da Holanda, e também cidadão holandês. Foi diretor de arte da Dutch Press Center for Design (Centro de Design da Imprensa Holandesa). É mentor da Fundação Barce. Sem deixar de ser cidadão brasileiro. A história de um Pedro Álvares Cabral no sentido contrário de direção: da ex-colônia para a terra mãe. Marcelo Ricardo Gimenes em 2007 recebeu a “Médaille d'Argent” (Medalha de Prata) "Pour les Hauts serviços rendus uma cultura la" da Societé Académique Arts Sciences Lettres Paris. Teve obras de sua autoria expostas no Salon Du Louvre em exposição da Société Nationale des Beux-Arts.

Exposições relevantes: Salon Nationale des Beaux-Arts du Louvre - Salon Dez.2007;

Bienal de Artes Ciências Lettres - Le Salon d'Arts Plastiques sep.2007; Galerie Philippe Gelot - Paris aug.2007 ; Société Académique Arts Sciences Lettres Paris apr.2007 ; Galerie L'Angle (expo AGH) - Paris may.2007 ; Secretaria de Ação cultural - Pinacoteca Miguel Dutra - Ministerie van van Cultuur São Paulo - Brasil oct.2007

SAC - Salão de Arte Comtemporânea - São Paulo oct.2007 ; Alliance Française Rotterdam feb.2007 ; Banco Fortis Rotterdam jan.2006 ; Voorjaarsexpo 2006 AGH mei.2006 ; Galerie Artwerk - Westvoorne sep.2006 ; A galeria de visão em crianças - Londres - okt.2006 ; Artevent - Feira de Arte de Haia nov.2006 ; Kunst-en Atelierroute Rotterdam mrt.2005 ; Feira de Arte em Ahoy Rotterdam Kunst - may.2005 ; expositie Jaaroverzicht Grupo de Arte Holanda nov.2005 ; Openeningstentoonstelling Grupo de Arte Holanda jun.2004; Kunst Lente Festijn Rotterdam mrt.1997 ; Vernissage Rotterdam - Atelier 47E oct.1995 ; Vernissage São Paulo - Atelier 47E dec.1993

Museu Luiz de Queiroz - USP - Universiteit van São Paulo - Brasil sep.1992

De Regentenkamer, The Hague janeiro. 2008; centrum Rechtbank Rotterdam may.2008 ; Voorjaarsexpo AGH, Rotterdam jun.2008 ; Galeria de MSR, Rotterdam, okt.2008

Seus primeiros estudos foram realizados em Piracicaba?

Estudei no Grupo Escolar Dr. João Conceição, na época em que se hasteava a bandeira do Brasil e cantava-se o hino nacional, todos os dias de aula. Minha primeira professora foi a Dona Mara. Freqüentei o curso científico no Colégio Estadual Dr. Jorge Coury, fomos na época responsáveis pelo retorno desse curso ao colégio. Quando meu pai faleceu, eu tinha seis anos, éramos quatro filhos, minha avó tomava conta de nós enquanto a minha mãe trabalhava. O meu primeiro emprego foi em um escritório de arquitetura que ficava em frente ao prédio do terminal urbano, mais tarde reformado e que deu lugar ao atual. Uma das lembranças que guardo é que ao lado desse escritório existia uma oficina onde era cromados metais, algo impensável nos dias atuais. Com17 anos fui trabalhar como revisor no “O Diário”, situado na Rua São José, entre a Praça José Bonifácio e a Rua Governador Pedro de Toledo, trabalha a noite geralmente até a uma hora da manhã. O editor era o jornalista Nelson Bertolini, o Mario Evangelista trabalhava lá. No inicio trabalhei como revisor, depois apareceu uma vaga como arte-finalista. Eu sempre soube que deveria sair de Piracicaba para outros centros maiores, na época havia uma série de restrições para realizar-se uma viagem ao exterior, uma carga de imposto de cinqüenta por cento em cima do valor da passagem, só podia comprar quinhentos dólares, além disso, tinha um deposito compulsório de vinte e cinco a trinta por cento, pagos ao estado, mas não poderia viajar com menos de mil dólares, dificultava a saída de qualquer cidadão brasileiro para o exterior. Economizei o que pude para realizar a viagem á Europa. Aos dezenove anos fui para Portugal, tinha concluído meus estudos no Mello Moraes, saí do Aeroporto de Viracopos, voei por uma empresa de aviação com sede em um país da Americana Latina, aqueles vôos que são uma verdadeira aventura, era uma das passagens mais baratas que existia na época.

Você desceu onde na Europa?

Desci no Aeroporto de Madri, pretendia ficar por lá, meu avô era madrileno. Não sai do aeroporto, não quis ficar por lá. Fui para Lisboa a minha primeira sensação foi: “Isso é tudo?”, a impressão que o brasileiro tinha e ainda conserva, infelizmente, é de que a Europa é melhor em tudo. A ditadura portuguesa tinha acabado em 1975, estava sendo inaugurado o primeiro centro comercial de Lisboa, existia uma escada rolante, os portugueses vinham do país inteiro para andar na escada rolante, isso para dar uma idéia do atraso do país na época. O Brasil estava já naquela época a anos-luz a frente de Portugal.

A primeira noite em Portugal, quando você colocou a cabeça no travesseiro, qual é a sua sensação?

Essa sensação eu tive já quando cheguei ao aeroporto, coloquei as malas no chão e pensei: “-O que eu vou fazer agora?”. Fiquei uma meia hora, sentado, pensando. Não foi mede, mas a certeza de muita coisa iria mudar. Tomei um taxi do aeroporto até o centro, eu não entendia o que eles falavam. Hoje é outra história, houve uma mudança enorme na língua em Portugal. Naquela época eles estavam bravos com tudo e com todos, tinham perdido o domínio sobre Angola, Moçambique, e na época achavam que os brasileiros chegavam a Portugal para criarem mais dificuldades a eles. A reforma da língua em Portugal iniciou-se nos meios universitários, as universidades de Portugal começaram a crescer, a aparecer novas pessoas, novos cursos. Uma faculdade de medicina pode adotar livros em inglês ou em português, esses livros vem com informações de outros países, a tradução desses livros é dada de acordo com a relevância da língua. Livros em português são traduzidos pela quantidade de pessoas falando português no mundo. O Brasil impôs a condição de unificar a língua portuguesa ou então iria criar a língua brasileira. Os países africanos juntaram-se ao Brasil nessa disputa. Portugal se viu na situação de ter que aceitar a mudança ortográfica.

E a linguagem oral?

Logo que cheguei a Portugal, estava no Shopping Amoreiras, que tinha sido recém inaugurado, fui entrevistado e ao perguntarem-me o que achava da obra. Respondi o que realmente pensava: “-Quando não se tem criatividade constrói-se isso.” Não imaginei que fossem ficar tão magoados comigo por ter dito isso. Tínhamos só duas redes de televisão a RTP1 e a RTP2 uma começava quando outra terminava, uma funcionava até as seis da tarde outra até a meia noite. Fiz muitas amizades, e eles achavam bonita a forma que eu falava. Quando apareceram as primeiras novelas brasileiras elas eram legendadas! Conservo grandes amigos em Lisboa, recentemente passei por lá, pude observar o quanto a língua mudou. A TAP hoje voa para quase todas as capitais brasileiras.

Qual foi seu primeiro trabalho em Portugal?

Foi em uma loja da Benetton no Shopping Amoreira. Para os padrões portugueses eu era alto, por isso chamava a atenção, trabalhei como modelo, em Portugal na época para ser modelo bastava ter todos os dentes era uns pais de desdentados. Os portugueses adoravam os dentistas brasileiros, verdadeiros pedreiros. Os dentistas portugueses diziam: “-Doeu? Então extrai o dente!” Imagine tratar um canal, o que é isso? Víamos pessoas novas sem dentes. Trabalhei várias vezes como modelo para estudantes de uma escola de fotografia.

Você criou um circulo de amigos?

Tínhamos um pequeno grupo de brasileiros. Uma amiga, a Diva Pavesi, trabalhava para a Rádio Cidade uma rádio pirata brasileira, dentro de Lisboa. Era um underground. (expressão usada para designar um ambiente cultural que foge dos padrões comerciais), Portugal ainda tinha muito do europeu, uma festa em boate exigia que se usasse smoking, não se pagava para entrar, tinha que ser selecionado na porta. Se tivesse uma cara boa, se fosse uma pessoa conhecida você entrava. Caso contrário, nem pagando poderia entrar. Até hoje eles são assim. O barzinho “Três Pastorinhos” localizado no Bairro Alto, em Lisboa, é muito pequeno, tinha uma senhora que ficava na porta, parecia uma figura saída de um desenho animado, toda colorida, pequenininha, ela abria o postigo, uma pequena portinha na própria porta, olhava para o rosto do candidato ao ingresso no local, muitas vezes falava: “-Não!” e fechava o postigo. Para outras pessoas dizia: “- Aí, tudo bem? Entre!”, abria a porta e convidava a pessoa a entrar. O contato certo, com a educação certa, tratando as pessoas como elas são as coisas acontecem naturalmente.

Seu próximo trabalho foi aonde?

Conheci a família portuguesa Ferreira que havia morado em São Paulo, tinham trabalhado em uma empresa de concreto no Brasil, ao retornarem a Portugal levaram plantas brasileiras desidratadas. Contrataram-me para trabalhar, montava as plantas, eram árvores, fiz o Hotel Ritz, o Aeroporto do Porto. Existe um restaurante chamado Alcantara-Mar onde construí sete árvores com seis metros de altura, foram mais de mil furos em cada tronco, com um galho de avencão em cada furo, no meio ao restaurante estão quatro arvores imensas de avencão com ventiladores em volta, parecem reais. No Hilton, quando estava montando duas árvores imensas no hall de entrada, o diretor do hotel disse ao presidente José Sarney que estava em visita: “Este rapaz que está trabalhando é brasileiro!”. O presidente Sarney perguntou-me: “Você é brasileiro?”. Respondi-lhe que sim. Disse-me então: “Que você esta fazendo aqui? Que pena que deixou o Brasil!”. Disse-lhe: “-Se eu tivesse tido as mesmas facilidades culturais não teria saído do Brasil”. Deu-me um sorriso e continuou caminhando. Não foi uma frase de cunho político, mas muito natural da minha parte, e a passagem dele por aquele corredor foi casual, sendo que a sua atenção sobre mim foi despertada pelo diretor do hotel.

A sua permanência em Portugal estava legalizada?

Como brasileiro tinha direito a dupla nacionalidade por pertencer a uma ex-colônia de Portugal, só que eles enrolavam e não concediam. Eu tinha registro, podia trabalhar, pagava impostos, mas não podia ter uma conta bancaria como turista podia dirigir, como residente não! Fui chamado pela Policia de Estrangeiros, pegaram meu passaporte e colocaram um imenso carimbo dizendo que eu tinha 30 dias para sair do país. Eu já estava em Portugal há uns três anos e meio, tinha conhecido algumas pessoas da Holanda, inclusive tinha recebido um convite para estudar na Academia de Artes.

Qual motivo foi alegado para que eles tomassem uma atitude dessas?

Apesar de eu estar trabalhando, ter o meu apartamento, tudo de forma absolutamente correta à afirmativa deles é de que eu não tinha meios para sobreviver em Portugal! O cargo de Presidente da Republica em Portugal é mais representativo do que executivo, mantendo influencia política. Uma senhora, com quem eu tinha grande amizade e que foi diretora da Lancôme, mais tarde foi diretora da Avon, em Portugal, era muito amiga do Mario Soares, Presidente da Republica português que mandou uma carta á Policia de Estrangeiros, para que fosse revisto o meu caso. Nesse meio tempo tinha recebido o convite da Academia de Artes de Rotterdam, com o direito de residir na Holanda enquanto estivesse estudando. Após receberem a carta a Policia de Estrangeiros chamou-me, afinal não era tão comum esse tipo de documento. Fui bem mal educado com eles, e me neguei a aceitar a reconsideração. Em 27 de julho de 1990 fui para a Holanda. Hoje tenho dupla nacionalidade, sou brasileiro e holandês. A Rainha da Holanda concedeu-me a nacionalidade por merecimento.

Qual foi o impacto que você teve ao passar a morar na Holanda?

Foi o desenvolvimento social, cultural, econômico, fiquei fascinado com a educação, a organização. Todos têm os mesmos direitos. O básico para o povo holandês, a cesta básica, além de comer, beber e se vestir é a educação, a cultura, o direito as férias.

Você acha a humildade importante?

É tudo! Não existem pessoas arrogantes, existem pessoas menos desenvolvidas moralmente.




quarta-feira, julho 28, 2010

Na quase totalidade de nossos insucessos o grande responsável somos nós mesmos, por sentimentos como inveja, ódio, preguiça, mesquinhez, e um bom número de obstáculos que criamos consciente ou inconscientemente, para o nosso desenvolvimento.
Jean de LeBourget

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