domingo, agosto 24, 2014

FRANCISCO DE ASSIS DANTAS


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 19 de julho de 2014.

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

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ENTREVISTADO: FRANCISCO DE ASSIS DANTAS

 

Simpático e sorridente, características que marcam aqueles que abraçam a profissão, Francisco de Assis Dantas nasceu em Ituverava a 5 de março de 1956, filho de Jorcelino Pereira Dantas e Maria Augusta da Silva Dantas pais de onze filhos: José, Otila, Alcino, Sebastião, Juvercília, João Natal, Cassiano, Luiz, Odila, Almiro e o caçula Francisco. Francisco de Assis Dantas casou-se a 13 de junho de 1980 com Marineusa Generoso Dantas, são pais de Daniela com 33 anos e André com 31 anos. Em 2013 Francisco de Assis Dantas representou o Brasil em um Congresso Mundial de Hotelaria e Alimentação em Genebra, reunindo 179 países. É Vice-Presidente da Federação dos Empregados do Comércio Hoteleiro do Estado de São Paulo.

O seu pai exercia qual profissão?

Meu pai tinha uma venda na beira da estrada, era pouso de boiadas. Havia um pasto que era alugado para deixar os animais, os peões pernoitavam até seguir viagem no dia seguinte. Havia um campo de boche, um campo de futebol, quando mudamos de lá eu tinha sete anos. O meu primeiro ano de escola eu estudei lá. A professora era Dona Teresa, mais conhecida como Terezinha. Tinha um fazendeiro que morava nas proximidades, o Seu Antonio Henrique, foi ele quem construiu a escola dentro da sua fazenda. Meu pai vendeu o armazém e adquiriu um sítio de 21 alqueires na região de São José do Rio Preto, no município de Nhandeara. Isso foi em meados de 1962. Lá meu pai cultivava a terra, os filhos ajudavam. Eu era o menor, ia a pé até a escola que ficava a quatro quilometros de distância. Era a Escola Mista do Bairro Córrego da Areia., onde estudei até o quarto ano primário. A seguir fiz o curso de admissão em  Nhandeara para poder fazer o ginásio. Nós faziamos o percurso até a escola a pé. Naquela época a área rural era bastante habitada. A criançada ia junto até a escola, com chuva, sem chuva, não havia merenda escolar, minha mãe preparava um caldeirãozinho com arroz, feijão, ovo frito, carne e eu levava para a escola. A escola funcionava meio período, quando retornava ao sítio, meu serviço era cuidar dos animais. Alimentá-los. Com nove a dez anos já fazia isso. Meu pai tinha um cavalo branco, o Gaúcho. Meu pai tinha um carinho muito grande por aquele animal. Naquela época não existia brinquedo industrializado, nós improvisávamos. As vezes iamos rolando um pneu para a escola. Usávamos o embornal (ou “emborná”) feito de tecido de saco de açucar, era o equivalente a mochila que os estudantes levam atualmente. Na época não existia a mochila que conhecemos atualmente.

O senhor chegou a concluir o ginásio?

Conclui. E fui trabalhar na roça. Nesse período minha mãe teve um AVC, ela tinha a doença de Chagas . (Alargamento das ventrículos do coração levando a insuficiência cardíaca). Meu pai para poder cuidar melhor da minha mãe, vendeu o sítio e adquiriu uma casa em Campinas, no Jardim São Vicente. Isso foi em 1972. Os irmãos mais velhos vieram primeiro e por algum tempo foram morar com dois irmãos do meu pai que já residiam em Campinas. Eu tinha a experiência de ter trabalhado no sítio. Em Campinas fui trabalhar em uma banca de revistas situada na Praça Carlos Gomes, o prprietário era o Seu Romeu. Era conhecida como Banca do Romeu. Sempre gostei de ler. Meu sonho era ser mecânico. Em 1974 minha mãe faleceu. Seis meses depois meu pai faleceu. Ficamos em casa trê filhos e uma filha, os outros irmão já eram casados. O meu sonho de continuar estudando parou por ali. Minha irmã, Odilia conheceu um rapaz chamado Ismael, e vieram a se casar. O Ismael trabalhava como garçom no Restaurante Rosário em Campinas. Meu irmão Cassiano também trabalhava como garçom.

Quanto tempo o senhor permaneceu trabalhando na banca de revistas?

Foi em torno de um ano. Em seguida fui trabalhar na Fábrica de Móveis Zanolini, situada no centro de Campinas, na Rua José Paulino, 515. Entrei como ajudante, fui promovido para a pintura, laqueava os móveis com o uso de revolver de pintura. Fui transferido para um departamento onde o pessoal fazia os entalhes de madeira. O Seu Orlando foi quem me ensinou a trabalhar. Aprendi a fazer entalhes, de ajudante passei a entalhador. Trabalhei um período como entalhador. O Ismael, na época ainda namorado da minha irmã, dizia que eu ganhava muito pouco na fábricade móveis. Nos anos dourados os garçons ganhavam muito bem. Ele me convidou, fui trabalhar como cumim no Restaurante Rosário (Ajudante de garçom; aquele que auxilia o garçom, ou maitrê, antes e depois de  por a mesa.).

O que servia o Restaurante Rosário?

Até hoje, o Restaurante Rosário é um dos melhores restaurantes de Campinas. Os proprietários eram Sr. Jair e Sr. Euclides. Funcionavam o restaurante, a pizzaria e o Bar Rosário todos freqüentados pela elite da cidade. Nós usávamos o termo “Mise en place” (pronuncia-se “miz on plas”) é um termo francês que significa "pôr em ordem, fazer a disposição". O termo também é utilizado para a montagem da mesa, quando se deve colocar os talheres, taças e pratos, bem como os outros utensílios, que serão utilizados para degustar e saborear os alimentos. A mise en place é sobretudo função do garçom. O Restaurante Rosário era uma escola de fato, na época já era usada gravata borboleta, só que não adquirida com o nó pronto, era uma gravata comprida que os garçons davam o nó transformando-as em borboleta. Os garçons usavam gravata preta e os comuins gravata branca. Todos usavam calça preta, smoking branco, sapato preto, meia preta, camisa branca de piquet, uma faixa preta na cintura.

O cliente olhando de frente para o prato de que lado ficam os respectivos talheres?

A faca fica do lado direito e o garfo do lado esquerdo. O garfo apoia a carne com a mão esquerda e a faca corta com a mão direita. Em uma mesa básica coloca-se um copo para àgua, à direita do prato, no centro da mesa. Era habito antigamente servir uma sopa de entrada então era colocada a colher. Vinha o garfo de peixe, faca de peixe, garfo e faca de sobremesa.

Em uma mesa quem deve ser servido primeiro?

Se uma mesa tem criança é servida em primeiro lugar. Depois a senhora e por ultimo o senhor. Outra coisa que deve ser observada é a idade dos integrantes da mesa. Se tiver jovens e idosos na mesa, primeiro deve serem servidos os idosos.

Quanto tempo você permaneceu no Restaurante Rosário?

Sai logo que completei dezoito ou dezoneve anos Para passar a ser garçom no Restaurante Rosário só havia duas possibilidades: ou um gaçom pedia a conta ou falecia. Não havia vaga. Quem trabalhava no Restaurante Rosário era altamente conceituado na cidade. Ganhava-se muito bem. Como cumim ia para casa de taxi todas as noites após o trabalho. Eu queria trabalhar como garçom, a melhor opção que encontrei foi através de um maitre de restaurante chamado Cláudio, ele era gerente de uma casa noturna em Campinas, chamada Apocalipse o proprietário é uma pessoa de extremo bom gosto, chama-se J. D'ávila, ele montou uma casa muito requintada no auge da discoteca, era frequentada pela alta sociedade de Campinas. Nessa boate, quando chegávamos para trabalhar, o Cláudio Brito alinhava os garçons, olhava as unhas, pegava algodão, passava na barba, se ficasse preso o algodão tinha que ir fazer a barba. Tinha que levantar a calça para ver se estava de meia preta. A fase da discoteca passou ele transformou o Apocalipse em uma boate altamente requintada, só com bebidas importadas, shows de grandes nomes como Jô Soares, Ary Toledo, Cauby Peixoto e outras estrelas da época. Com isso conheci muitos artistas de renome nacional. Atualmente o J. D'ávila é o empreendedor da Limelight em São Paulo.

Quanto tempo você permaneceu no Apocalipse?

Trabalhei seis anos no Apocalipse.

O sindicato promove algum curso de qualificação profissional?

Nós já promovemos vários cursos de formação de garçom, garçonete, barmam temos mantido conversações com o sindicato patronal. Há uma necessidade muito grande da qualificação da mão-de-obra. Acontece um fenomeno na área. A carga horária são de oito horas diárias. Quarenta e quatro horas semanais. Isso é previsto pela CLT. Só que na prática isso nem sempre acontece. O garçon entra para trabalhar no almoço, ele acaba tendo um espaço das três às seis horas da tarde, volta, serve o jantar, chega em casa a meia noite ou uma hora da manhã. E aí é que vem o problema, grande parte das empresas acabam não pagando as horas extras, adicional noturno. O trabalhador nosso está a disposição da empresa aos sábados, domingos, feriados, de dia, a noite, a folga dele é no meio da semana. Eu não acompanhei o crescimento dos meus filhos em função do trabalho. Devido o longo tempo de permanência do profissional em seu ambiente de trabalho, no seu único dia de folga ele não tem disponibilidade ou disposição para frequentar um curso de aperfeiçoamentro. Nosso pedido ao sindicato patronal é que libere o profissional, em horario de serviço, remunerado, nem que seja ao menos um curto período diário para que ele faça um curso, que irá trazer benefícios diretos à empresa. Uma empresa com pessoal qualificado tem enormes vantagens sobre uma empresa que não tem nenhuma qualificação. O retormo é visivel.

Ao seu ver não é uma forma contraproducente para o empresário que age assim, uma vez que o garçom é o cartão de visitas do restaurante e ele já vai atender ao cliente extenuado por uma carga de trabalho bastante pesada?

No ano passado é que saiu um projeto de lei para aposentadoria por tempo de serviço especial. O garçom fica um número de horas muito grande em pé. Sem poder encostar em nada. Sem poder sentar-se. Isso causa muitos problemas de saúde, como varizes, problemas na coluna, tendenite no braço em função de levar as bandejas. O garçom tem que sempre estar sorrindo, entender um pouco de futebol, de novela, muitas vezes é um conselheiro. Há certas regras básicas de comportamento do garçom, não deve tocar no cliente, não usar perfume, tem que usar desodorante neutro.

Existem garçons que se tornam intimos de alguns clientes isso é bom?

Eu mesmo tive clientes que se eu saisse de determinado restaurante e fosse para outro o cliente me acompanhava. Isso é uma questão de empatia.

Como é de fato a história dos dez por cento acrescidos ás despesas do clinte junto ao estabelecimento?

Os dez por cento é um costume , uma tradição. Muitos denominam de gorjeta. Pessoalmente  discordo dessa denominação. Vejo mais como uma  comissão de venda, ela é compulsória. Não é expontânea. Existe um projeto a respeito que está tramitando. Desde que estou nessa profissão são cobrados os dez por cento mas não é legalizado. As empresas cobram, muitas vezes nem repassam aquilo para o trabalhador, isso existe justamente pela empresa não possuir mão de obra qualificada. Tem empresa que recruta um jovem, ele vai carregar uma bandeja, sem conhecimento nenhum. Ele não sabe que se estou comendo peixe devo beber um vinho tinto ou branco.   

Como você transferiu-se para Piracicaba?

Os Shopping Centers começaram a aparecer no Brasil, isso em 1978,1979, em São Paulo havia o Shopping Iguatemi. Quando veio o Shopping Igatemi de Campinas o o J. D'ávila abriu uma lanchonete chamava-se Hobby`s, era muito requintada. A medida que os shoppings foram abrindo ele foi abrindo as lanchonetes, dia 21 de outubro de 1987 foi inaugurado o Shopping Piracicaba. Ele montou uma lanchonete aqui. Eu estava morando em Campinas. Eu nem conhecia Piracicaba. Uns 15 dias antes de inaugurar o Shopping Piracicaba vim para trabalhar na lanchonete, fiquei responsável pelo salão da lanchonete e treinando o pessoal daqui.

Hoje você é presidente do SINTCHOSPIR- Sindicato dos Trabalhadores no Comércio Hoteleiro, Bares, Restaurantes, Hotéis, Motéis, Lanchonetes, Apart-Hotéis e Fast Food de Piracicaba e Região.

Eu trabalhava no Shopping, em 1987 ainda era associação, não era sindicato, um amigo era associado e queria me trazer para cá. O presidente era Orlando Venâncio de Melo, uma pessoa com grande experiência na área, nessa época a sede do sindicato ficava na Rua do Rosário. A Associação foi fundada em 24 de fevereiro de 1986, foi reconhecido como Sindicato pelo Ministério do Trabalho em 22 de março de 1990. Conheci melhor o Seu Orlando, vi que era uma pessoa atenciosa, criamos uma amizade, ele me chamou para fazer parte da diretoria. Fiquei como diretor, mas não afastado, era diretor mas continuava trabalhando na empresa. Com o transcorrer do tempo passei a me dedicar cada vez mais ao sindicato. Faleceu o tesoureiro do sindicato, como primeiro suplente assumi a tesouraria.

Quantas cidades abrange o sindicato?

São as seguintes cidades: Àguas de São Pedro, Americana, Charqueada, Cosmópolis, Divinolândia, Ipeúna, Itobi, Leme, Piracicaba, Porto Ferreira, Rafard, Rio das Pedras, Saltinho, Santa Barbara D`Oeste, Santa Cruz das Palmeiras, Santa Gertrudes, Santa Maria da Serra, São José do Rio Pardo, São Pedro, São Sebastião da Grama, Tambaú, Tapiratiba, Vargem Grande do Sul. Temos um diretor afastado em Americana, em São Pedro, em Porto Ferreira. Em Leme temos um funcionário que administra. Aqui eu, Edmilson e Marcos, somos no total seis diretores afastados. Somos filiados a Força Sindical.

Quantos associados o sindicato têm em média?

Em torno de 3.500 associados.

Quais beneficios o sindicato oferece aos associados?

Temos serviço odontológico gratuito, há uma parceria com a Unidonto onde 4 profissionais trabalham nas dependencias do sindicato. Temos um laboratório de informática com aproximadamente 160 alunos que frequentam as aulas. É um curso gratuito com alunos adultos, jovens e crianças. Há um convenio médico com a Amhpla. Temos uma colonia de férias na Cidade Ocian, na Praia Grande com 52 apartamentos. Há convenios com auto-escolas, salões de beleza, farmácias, clínicas, há um manual com 20 páginas de profissionais e empresas conveniadas, só nas cidade de Piracicaba, Americana, Santa Barbara Dòeste, Leme, São Pedro, Águas de São Pedro e Porto Ferreira.

Hoje há uma informatização muito acelerada dentro da profissão de garçom?

Sim, sem duvida. Em alguns lugares o garçom atende com laptop se não dominar a tecnologia está fora do mercado de trabalho. O cliente faz o pedido, ele digita, uma impressora já imprime o pedido na cozinha.

Existe escola de garçom?

Garçom não é reconhecido nem como profissão! Não é regularizada!

Mas como pode ter registro em carteira de trabalho?

Temos coisas que não conseguimos entender. Não é regulamentada mas existe na CBO-  Classificação Brasileira de Ocupações. (A CBO em seu histórico de ocupações inclui  Garçom,  Garçom (serviços de vinhos), Cumim, Barman,  Copeiro,Copeiro de hospital, Atendente de lanchonete, Barista).

Quando é o dia do garçom?

Eu consegui negociar aqui em Piracicaba, na convenção coletiva para que toda empresa seja obrigada a pagar ao seu trabalhador um dia de serviço a mais no mês de agosto. No dia 11 de agosto considerado o “Dia da Pendura” é o Dia do Garçom, comemora-se também o dia da categoria hoteleira

Quantas bandejas você consegue carregar?

Trabalhando não ha possibilidade de usar duas bandejas, Uma mão tem que ficar livre para servir. Para recolher, quando é churrascaria, o pessoal usa uma bandeja grande vai calçando um prato no outro, faz uma armação, uma pilha de pratos, carrega o que aguentar, porque prato é pesado. À la carte eu consigo carregar seis pratos com alimentos, obviamente que depende do tipo de alimento, tem alimento que não é possivel ser levado nessa quantidade de pratos.  

sexta-feira, julho 25, 2014

WALTERLY MORETTI ACCORSI e LUCAS TEIXEIRA DE MORAES


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 28 de junho de 2014.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/

ENTREVISTADA: WALTERLY MORETTI ACCORSI e LUCAS TEIXEIRA DE MORAES

 

Walterly Moretti Accorsi é farmacêutica diplomada pela Unimep, advogada formada pela PUC de Campinas, nascida em Piracicaba, em 1944, a Rua Governador Pedro de Toledo esquina com a Rua Voluntários de Piracicaba, filha dos professores Walter Radamés Accorsi e Judith Moretti Accorsi. Walter Accorsi lutou na frente de batalha da Revolução Constitucionalista de 1932 e Judith costurava, fazia alimentos, doces, para mandar para a linha de frente dos revolucionários. Tem uma irmã, Waldith.  Ao lado está o universitário Lucas Teixeira Franco de Moraes conhecido na Esalq como “Jayminho” isso porque seu avô, Aldir Alves Teixeira, também estudou na Esalq, formado na turma de 1959, quando estudante trabalhou nos Correios como telegrafista.  Atualmente ele tem um laboratório em São Paulo que trabalha com a qualidade do café.

Waterly você tem larga experiência em fitoterapia?

Como diria uma amiga, Dra. Cilene, não é mais sangue que corre nas veias, é puro verde! Cresci dentro disso, quando me casei foi com um botânico, agrônomo, fui morar no Nordeste do país, conheci coisas maravilhosas, Sou formada em farmácia. o Brasil é um país fantástico, de dimensões continentais, um povo maravilhoso, uma etnia fantástica. Temos todas as origens e todos os vieses. A planta em si é encantadora. A origem do homem é o reino vegetal. O reino vegetal veio preparar o caminho do homem. Claro que é a abençoada química que interfere. Que tira a dor, tira o infarto, faz nascer o bebê que não está conseguindo nascer. No crônico, no preventivo, as outras alternativas são bem válidas e muito importantes. Todos estão muito intoxicados, quando há a ingestão de muita medicação antes de ocorrer um quadro agudo já foi criada a tolerância, no estado agudo dificilmente as substâncias terão o efeito esperado pelo médico. Daí a singularidade de não mais vender sem receita médica antibióticos, antiinflamatórios. Isso porque não tem mais o que fazer, terceira, quarta ou quinta geração já não faz mais efeito. Eu nunca tomei nenhum antiinflamatório, ma se pego uma gripe de uma pessoa que contumaz no uso dele, esse vírus que me foi passado está resistente, ele não irá responder a nenhum tratamento. É um problema endêmico. Um problema social, brasileiro.

Você se casou com um agrônomo?

Casei-me com José de Souza Sobrinho, agrônomo, botânico. Natural de Pernambuco, temos os filhos Walter e Ricardo, gêmeos. Tenho cinco netos.

Atualmente você tem um importante laboratório fitoterápico em Piracicaba?

Antonio Perecin que era um grande amigo do meu pai dizia: “- Accorsi, você não pode perder esse conhecimento, ele tem que ficar para o Brasil, para o mundo!”. Meu pai era um entusiasta, gostava de divulgar seus conhecimentos, gostava de estudar. Tinha um grande conhecimento, tanto no Brasil como no exterior. Muitas vezes no exterior ele terminou algumas pesquisas que as pessoas estavam por concluir. Isso ocorreu nos Estados Unidos, no Japão, Canadá. Nos últimos 23 anos da vida dele dedicou-se só a fitoterapia, ele estava focado em tudo que dizia a respeito. Às vezes uma pequena palavra que alguém dizia era o que faltava para ele completar a conclusão dele.

Como começou a paixão dele por plantas?

Foi desde criança. Meu avô tinha duas fazendas de café. Quando criança gostava de passear pelos cafezais, e por muitas vezes ouviu alguém dizer que tal planta era boa para isso ou para aquilo. Desde criança ele tinha um olhar especial pela plantinha que era tida como daninha, mas era medicinal. Meu pai estudou no Mackenzie em São Paulo depois veio estudar na Esalq.

Foi na Esalq que ele desenvolveu esse setor?

Ele estudou, quando ele se aposentou foi concedido a ele o título de professor emérito, foi lhe concedido um espaço na própria Esalq, onde permaneceu os últimos vinte e três anos e meio da sua vida. Ele sempre foi muito ético. Quando descobria algo que podia fazer bem e que não oferecia risco a saúde da pessoa, ele divulgava. Meu pai foi uma pessoa que percorreu o Brasil todo, viajou por muitos países, ele trazia consigo os conhecimentos étnicos. Ele sabia interpretar. Tinha muitos amigos na área médica, agronômica. Ele tinha segurança no que dizia. Antigamente havia pechas impingidas em portadores de certos males como câncer, AIDS. São colocadas por algumas pessoas sobre outras com o intuito de intimidar. Poucos sabem que esses males são frutos de experiências realizadas em buscas de outras medicações. Por isso se alastrou. Isso foi dito por pessoas que estavam no auge da vida acadêmica, eram pessoas de expressão, que poderiam sofrer represálias por conta dessa divulgação. Iriam incomodar alguns interesses. Essas pessoas que fizeram essas afirmações já não estão mais vivas. Meu pai tinha um amigo de infância, Coronel Fiori Marcelo Amantea, cuja esposa estava muito debilitada, com câncer, meu pai tinha ganho um caminhão de casca de ipê roxo que veio de Cruz das Almas, Bahia. Meu pai deu um saquinho com essa casca, para ser fervida. O coronel fez o chazinho, deu a sua esposa e essa senhora dormiu por três dias. A mulher melhorou, passou a ter uma qualidade de vida, o câncer tem marcadores, é como a diabetes, uma vez com ele sempre com ele. O oncogen está dentro da gente, ele irá se manifestar por genética, por estress.

Qualquer pessoa tem o oncogen?

Sim, e pode ser benigno ou maligno. Pode se manifestar ou não. Uma vez manifestado é possível ter qualidade de vida. Assim como a diabetes, pode estabilizar nos níveis aceitáveis, mas não existe como dizer que está curado, a qualquer momento ela pode se manifestar.

Após a melhora da esposa do coronel o que ocorreu?

Elçe ficou tão entusiasmado que passou a divulgar, ele foi falar com a Xênia que tinha um programa na televisão. Me lembro que todos os domingos iamos almoçar coma a minha avó em São Paulo. Estávamos todos almoçando quando o coronel ligou. Sabiamos que poderiamos colocar um artigo no jornal, ser um multiplicador, mas não tinhamos estrutura para atender a todos que procurassem após uma divulgação em massa. Foi feita a divulgação, meu pai ficou muito triste, vieram os interesses economicos, em vez de ter no mercado um produto de segurança foi constatado que algumas pessoas vendiam até serragem.

A Rede Globo divulgou os benefícios do ipê roxo.

Foi veiculado no programa Fantástico. Após isso meu pai ficou mais cuidadoso em divulgar os benefícios das plantas. Atualmente a maior quantidade de plantas fornecidas por distribuidoras são feitas por extrativismo. Isso significa que tem que ser tomado muito cuidado porque elas podem acabar. Não existe o cultivo de plantas medicinais.

Ha a presença de pesquisadores estrangeiros em nossas matas?

De fato eles estão mesmo pesquisando nossa flora. Como tudo é bio-tecnologia, uma questão de clone de células, uma pequena raspadinha com uma tampa de caneta é suficiente para levar omaterial genético para o exterior. Isso foi presenciado por uma pesquisadora. O quimico, bio-quimico ou fitoquimico, consegue desenhar aquela estrutura, seja ela de que origem for. Uma vez desenhada pode ser copiada na parte alopática. É uma pré-sintese de tudo: da fauna ou da flora.

Ha quanto anos você está nesse meio?

Eu cresci nesse meio. Morei de onze a doze anos no nordeste, com isso conhecia mateiro, reserva indigena, via como eram feitas as curas. Passar cinco horas com recursos acadêmicos de saúde e sarar no dia seguinte com uma planta. Ai que vem o sincretismo religioso e o foco daquela pessoa com a divindade, aquela crença. Tive uma vivência indigena que foi fantástica, fui para o Alto Araguaia, estava em uma reserva de Xavantes, permanecemos por vinte dias lá, pegamos gripe. Eles entram na mata e trazem para cada um uma plantinha que serve para a gripe. Dizem que a planta escolheuaquela pessoa para curar.

Lucas você é acadêmico da Esalq?

Estou no quinto ano de Engenharia Agronomica, nasci em 30 de setembro de 1991. Meu interesse por essa área surgiu a partir de quando passei a frequentar um centro de xamanismo, que é a prática espiritual mais antiga da humanidade. De ver o sagrado na natureza. De tentar uma conexão mais profunda com a natureza, como se ela fosse divina.

Lucas , você chegou a visitar alguma tribo indígena?

Já fui a uma tribo na Amazonia, conheci aqui em São Paulo a Aldeia Quiruá. Acredito que exista muito interesse dos jovens pelo assunto, embora esses aspectos não sejam muito abordados dentro da universidade ou mesmo em nosso contexto social. As pessoas não tem acesso a essas informações.

Há outros jovens estudantes com essa visão mais voltada ao mistico, ao espiritual?

Há sim. As plantas são cultuadas e sendo reconhecidas como sagradas pelos nossos ancestrais, desde o começo elas tinham esse poder divino de conexão com o mundo espiritual e do poder de cura do fisico, espiritual e mental. Durante a história da humanidade todas as civilizações tinham algumas plantas de conexão, as plantas ritualísticas, e dentro disso tinham as plantas medicinais, eram utilizadas com preceitos religiosos. A primeira bebida que seria sagrada na história da humanidade é o Soma. (Soma é uma bebida ritual da cultura védica e hindu, é também o nome da própria planta da qual se extrai a bebida, bem como a personificação do Deus dos Deuses. Existem nos Vedas (Rigveda, Soma Mandala) 114 hinos exaltando suas qualidades). No Brasil temos uma bebida que já foi considerada patrimonio cultural brasileiro pelo então Ministro da Cultura Gilberto Gil que é a Ayahuasca.

Walterly você já esteve no Japão, qual é a opinião deles a respeito das plantas?

Fui acompanhando o meu pai, ele foi quatro vezes ao Japão. Conhecemos um Japão ocidentalizado, com o consumo de muito tabaco, cerveja, remédios alopáticos. Mas há um Japão que ainda cultiva a tradição, dos chás, eles cultuam muito o idoso que foi produtivo, fomos levados para conhecer um idoso que esteve presente em Hiroshima. Ele nos ofereceu um chá de babosa. Tem um gosto horrível.

Walterly quando se produz um remédio sintético é utilizada como base algo produzido na natureza?

A primeira síntese foi do salgueiro: o ácido acetilsalicílico, Em 1897, o laboratório farmacêutico alemão Bayer conjugou quimicamente o ácido salicílico com acetato, criando o ácido acetilsalicílico foi o primeiro fármaco a ser sintetizado na história da farmácia e não recolhido na sua forma final da natureza. Foi a primeira criação da indústria farmacêutica. A visão da pessoa pelo Oriente é como um todo, a soma que é a parte física e o sutil, que é a nossa emoção, a nossa alma. É interessante como os nossos indios agem, ele dá um chá, uma determinada bebida ou ainda ele fuma e põem em você a fumaça. Essa fumaça penetra os oros e faz um outro tipo de tratamento.

Pelo que estou entendendo, se a pessoa sofre de um problema cardiaco a origem pode ser emocional?

Não! A pessoa tem programado geneticamente para ter esse problema. Pode se acentuar ou suavizar através da vida dessa pessoa. Com seus traumas e suas realizações.

Qual é a receita para viver bem?

Meu pai dizia três frases: 1-) Se ocupe. Não se preocupe. 2-) Não deixe que as coisas interfiram em você. 3-) Ontem é a base do futuro e a força do presente. Todo ese conhecimento, o que você acertou, continue pesquisando. O que errou, pare. O que vai fazer essa análise é o presente. O que hoje é muito doido amanhã não será mais. O que hoje é muito importante incorpore a sua vida. O que doeu muito use como exemplo para que não ocorra mais.

A humanidade está em uma corrida suicida?

As pessoas se preocupam em ter e não em ser. Isso é uma corrida suicida. O modelo economico é que fez isso. Se você não estiver com o sapato da moda, não tiver o carro da moda, se não visitar os países da moda. A sua felicidade está na sua mão, você não depende de nada de fora, de ninguém. A sua felicidade pode ser acrescentada por agentes externos, mas não depende dos outros a própria felicidade.

Qual sua visão de evolução humana, Lucas?

Aos poucos as pessoas estão tomando conciencia de que a forma em que vivemos não é a forma correta. Em janeiro desse ano Domenico De Masi (Sociólogo italiano contemporâneo, famoso pelo seu conceito de "ócio criativo" segundo o qual o ócio, longe de ser negativo, é um fator que estimula a criatividade pessoal), escreveu um texto dizendo que o Brasil poderia inspirar a humanidade na criação de um novo modelo de desenvolvimento, e que esse modelo poderia surgir dos indios. Acredito que a desigualdade social, depresão, corrupção, violência, são doenças que afetam nossa população. A cura vem da reintegração do homem com a natureza. Da utilização das plantas como remédio.

Walterly a humanidade está doente?

Não está doente, está em transição.

Walterly, a nossa flora oferece muitas opções?

O açafrão-da-terra (curcuma longa) é o açafrao brasileiro, não é concentrado como o indiano, que é caríssimo, esta sendo realizado um trabalho com a coordenação do Professor Lindolfo, que é de multiplicar essas plantas, fazer um horto de plantas medicinais, ensinar como devem serem usadas, a Dra. Nair, médica sanitarista instrui sobre o uso dessas plantas. Outra planta fantástica é a ora pro nobis (Pereskia aculeata), é muito consumida no Sul de Minas Gerais consumida com frango, parece uma verdura, é extremamente proteico. O Brasil tem muitos recursos.

 

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