PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E
MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 28 de junho de 2014.
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 28 de junho de 2014.
Entrevista: Publicada aos sábados
no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
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http://blognassif.blogspot.com/
ENTREVISTADA: WALTERLY MORETTI ACCORSI e LUCAS TEIXEIRA DE MORAES
Walterly Moretti Accorsi é
farmacêutica diplomada pela Unimep, advogada formada pela PUC de Campinas, nascida
em Piracicaba, em 1944, a Rua Governador Pedro de Toledo esquina com a Rua
Voluntários de Piracicaba, filha dos professores Walter Radamés Accorsi e
Judith Moretti Accorsi. Walter Accorsi lutou na frente de batalha da Revolução
Constitucionalista de 1932 e Judith costurava, fazia alimentos, doces, para
mandar para a linha de frente dos revolucionários. Tem uma irmã, Waldith. Ao lado está o universitário Lucas Teixeira
Franco de Moraes conhecido na Esalq como “Jayminho” isso porque seu avô, Aldir
Alves Teixeira, também estudou na Esalq, formado na turma de 1959, quando
estudante trabalhou nos Correios como telegrafista. Atualmente ele tem um laboratório em São
Paulo que trabalha com a qualidade do café.
Waterly você tem larga
experiência em fitoterapia?
Como diria uma amiga, Dra.
Cilene, não é mais sangue que corre nas veias, é puro verde! Cresci dentro
disso, quando me casei foi com um botânico, agrônomo, fui morar no Nordeste do
país, conheci coisas maravilhosas, Sou formada em farmácia. o Brasil é um país
fantástico, de dimensões continentais, um povo maravilhoso, uma etnia
fantástica. Temos todas as origens e todos os vieses. A planta em si é
encantadora. A origem do homem é o reino vegetal. O reino vegetal veio preparar
o caminho do homem. Claro que é a abençoada química que interfere. Que tira a
dor, tira o infarto, faz nascer o bebê que não está conseguindo nascer. No
crônico, no preventivo, as outras alternativas são bem válidas e muito
importantes. Todos estão muito intoxicados, quando há a ingestão de muita
medicação antes de ocorrer um quadro agudo já foi criada a tolerância, no
estado agudo dificilmente as substâncias terão o efeito esperado pelo médico.
Daí a singularidade de não mais vender sem receita médica antibióticos,
antiinflamatórios. Isso porque não tem mais o que fazer, terceira, quarta ou
quinta geração já não faz mais efeito. Eu nunca tomei nenhum antiinflamatório,
ma se pego uma gripe de uma pessoa que contumaz no uso dele, esse vírus que me
foi passado está resistente, ele não irá responder a nenhum tratamento. É um
problema endêmico. Um problema social, brasileiro.
Você se casou com um agrônomo?
Casei-me com José de Souza
Sobrinho, agrônomo, botânico. Natural de Pernambuco, temos os filhos Walter e
Ricardo, gêmeos. Tenho cinco netos.
Atualmente você tem um importante
laboratório fitoterápico em Piracicaba?
Antonio Perecin que era um grande
amigo do meu pai dizia: “- Accorsi, você não pode perder esse conhecimento, ele
tem que ficar para o Brasil, para o mundo!”. Meu pai era um entusiasta, gostava
de divulgar seus conhecimentos, gostava de estudar. Tinha um grande
conhecimento, tanto no Brasil como no exterior. Muitas vezes no exterior ele
terminou algumas pesquisas que as pessoas estavam por concluir. Isso ocorreu
nos Estados Unidos, no Japão, Canadá. Nos últimos 23 anos da vida dele
dedicou-se só a fitoterapia, ele estava focado em tudo que dizia a respeito. Às
vezes uma pequena palavra que alguém dizia era o que faltava para ele completar
a conclusão dele.
Como começou a paixão dele por
plantas?
Foi desde criança. Meu avô tinha
duas fazendas de café. Quando criança gostava de passear pelos cafezais, e por
muitas vezes ouviu alguém dizer que tal planta era boa para isso ou para
aquilo. Desde criança ele tinha um olhar especial pela plantinha que era tida
como daninha, mas era medicinal. Meu pai estudou no Mackenzie em São Paulo
depois veio estudar na Esalq.
Foi na Esalq que ele desenvolveu
esse setor?
Ele estudou, quando ele se
aposentou foi concedido a ele o título de professor emérito, foi lhe concedido
um espaço na própria Esalq, onde permaneceu os últimos vinte e três anos e meio
da sua vida. Ele sempre foi muito ético. Quando descobria algo que podia fazer
bem e que não oferecia risco a saúde da pessoa, ele divulgava. Meu pai foi uma
pessoa que percorreu o Brasil todo, viajou por muitos países, ele trazia
consigo os conhecimentos étnicos. Ele sabia interpretar. Tinha muitos amigos na
área médica, agronômica. Ele tinha segurança no que dizia. Antigamente havia
pechas impingidas em portadores de certos males como câncer, AIDS. São
colocadas por algumas pessoas sobre outras com o intuito de intimidar. Poucos
sabem que esses males são frutos de experiências realizadas em buscas de outras
medicações. Por isso se alastrou. Isso foi dito por pessoas que estavam no auge
da vida acadêmica, eram pessoas de expressão, que poderiam sofrer represálias
por conta dessa divulgação. Iriam incomodar alguns interesses. Essas pessoas
que fizeram essas afirmações já não estão mais vivas. Meu pai tinha um amigo de
infância, Coronel Fiori Marcelo Amantea,
cuja esposa estava muito debilitada, com câncer, meu pai tinha ganho um
caminhão de casca de ipê roxo que veio de Cruz das Almas, Bahia. Meu pai deu um
saquinho com essa casca, para ser fervida. O coronel fez o chazinho, deu a sua
esposa e essa senhora dormiu por três dias. A mulher melhorou, passou a ter uma
qualidade de vida, o câncer tem marcadores, é como a diabetes, uma vez com ele
sempre com ele. O oncogen está dentro da gente, ele irá se manifestar por
genética, por estress.
Qualquer pessoa tem o oncogen?
Sim, e pode ser benigno ou maligno. Pode se
manifestar ou não. Uma vez manifestado é possível ter qualidade de vida. Assim
como a diabetes, pode estabilizar nos níveis aceitáveis, mas não existe como
dizer que está curado, a qualquer momento ela pode se manifestar.
Após a melhora da esposa do coronel o que ocorreu?
Elçe ficou tão entusiasmado que passou a divulgar,
ele foi falar com a Xênia que tinha um programa na televisão. Me lembro que
todos os domingos iamos almoçar coma a minha avó em São Paulo. Estávamos todos
almoçando quando o coronel ligou. Sabiamos que poderiamos colocar um artigo no
jornal, ser um multiplicador, mas não tinhamos estrutura para atender a todos
que procurassem após uma divulgação em massa. Foi feita a divulgação, meu pai
ficou muito triste, vieram os interesses economicos, em vez de ter no mercado
um produto de segurança foi constatado que algumas pessoas vendiam até
serragem.
A Rede Globo divulgou os benefícios do ipê roxo.
Foi veiculado no programa Fantástico. Após isso meu
pai ficou mais cuidadoso em divulgar os benefícios das plantas. Atualmente a
maior quantidade de plantas fornecidas por distribuidoras são feitas por
extrativismo. Isso significa que tem que ser tomado muito cuidado porque elas
podem acabar. Não existe o cultivo de plantas medicinais.
Ha a presença de pesquisadores estrangeiros em nossas matas?
De fato eles estão mesmo pesquisando nossa flora.
Como tudo é bio-tecnologia, uma questão de clone de células, uma pequena
raspadinha com uma tampa de caneta é suficiente para levar omaterial genético
para o exterior. Isso foi presenciado por uma pesquisadora. O quimico,
bio-quimico ou fitoquimico, consegue desenhar aquela estrutura, seja ela de que
origem for. Uma vez desenhada pode ser copiada na parte alopática. É uma
pré-sintese de tudo: da fauna ou da flora.
Ha quanto anos você está nesse meio?
Eu cresci nesse meio. Morei de onze a doze anos no
nordeste, com isso conhecia mateiro, reserva indigena, via como eram feitas as
curas. Passar cinco horas com recursos acadêmicos de saúde e sarar no dia
seguinte com uma planta. Ai que vem o sincretismo religioso e o foco daquela
pessoa com a divindade, aquela crença. Tive uma vivência indigena que foi
fantástica, fui para o Alto Araguaia, estava em uma reserva de Xavantes,
permanecemos por vinte dias lá, pegamos gripe. Eles entram na mata e trazem
para cada um uma plantinha que serve para a gripe. Dizem que a planta
escolheuaquela pessoa para curar.
Lucas você é acadêmico da Esalq?
Estou no quinto ano de Engenharia Agronomica, nasci
em 30 de setembro de 1991. Meu interesse por essa área surgiu a partir de quando
passei a frequentar um centro de xamanismo, que é a prática espiritual mais
antiga da humanidade. De ver o sagrado na natureza. De tentar uma conexão mais
profunda com a natureza, como se ela fosse divina.
Lucas , você chegou a visitar alguma tribo indígena?
Já fui a uma tribo na Amazonia, conheci aqui em São
Paulo a Aldeia Quiruá. Acredito que exista muito interesse dos jovens pelo
assunto, embora esses aspectos não sejam muito abordados dentro da universidade
ou mesmo em nosso contexto social. As pessoas não tem acesso a essas
informações.
Há outros jovens estudantes com essa visão mais voltada ao mistico, ao
espiritual?
Há sim. As plantas são cultuadas e sendo
reconhecidas como sagradas pelos nossos ancestrais, desde o começo elas tinham
esse poder divino de conexão com o mundo espiritual e do poder de cura do
fisico, espiritual e mental. Durante a história da humanidade todas as
civilizações tinham algumas plantas de conexão, as plantas ritualísticas, e
dentro disso tinham as plantas medicinais, eram utilizadas com preceitos
religiosos. A primeira bebida que seria sagrada na história da humanidade é o
Soma. (Soma é uma bebida ritual da cultura védica e hindu, é também o nome da própria planta da
qual se extrai a bebida, bem como a personificação do Deus dos Deuses. Existem nos Vedas (Rigveda, Soma Mandala) 114 hinos exaltando suas qualidades). No Brasil
temos uma bebida que já foi considerada patrimonio cultural brasileiro pelo
então Ministro da Cultura Gilberto Gil que é a Ayahuasca.
Walterly você já esteve no Japão, qual é a opinião deles
a respeito das plantas?
Fui acompanhando o meu pai, ele foi quatro vezes ao
Japão. Conhecemos um Japão ocidentalizado, com o consumo de muito tabaco,
cerveja, remédios alopáticos. Mas há um Japão que ainda cultiva a tradição, dos
chás, eles cultuam muito o idoso que foi produtivo, fomos levados para conhecer
um idoso que esteve presente em Hiroshima. Ele nos ofereceu um chá de babosa.
Tem um gosto horrível.
Walterly quando se produz um remédio sintético é
utilizada como base algo produzido na natureza?
A
primeira síntese foi do salgueiro: o ácido acetilsalicílico, Em 1897, o
laboratório farmacêutico alemão Bayer conjugou
quimicamente o ácido salicílico com acetato, criando
o ácido acetilsalicílico foi o primeiro fármaco a ser sintetizado na história
da farmácia e não
recolhido na sua forma final da natureza. Foi a primeira criação da indústria
farmacêutica. A visão da pessoa pelo Oriente é como um todo, a soma que é a
parte física e o sutil, que é a nossa emoção, a nossa alma. É interessante como
os nossos indios agem, ele dá um chá, uma determinada bebida ou ainda ele fuma
e põem em você a fumaça. Essa fumaça penetra os oros e faz um outro tipo de
tratamento.
Pelo que estou entendendo, se a pessoa sofre de um
problema cardiaco a origem pode ser emocional?
Não! A pessoa tem programado geneticamente para ter
esse problema. Pode se acentuar ou suavizar através da vida dessa pessoa. Com
seus traumas e suas realizações.
Qual é a receita para viver bem?
Meu pai dizia três frases: 1-) Se ocupe. Não se
preocupe. 2-) Não deixe que as coisas interfiram em você. 3-) Ontem é a base do
futuro e a força do presente. Todo ese conhecimento, o que você acertou,
continue pesquisando. O que errou, pare. O que vai fazer essa análise é o
presente. O que hoje é muito doido amanhã não será mais. O que hoje é muito
importante incorpore a sua vida. O que doeu muito use como exemplo para que não
ocorra mais.
A humanidade está em uma corrida suicida?
As pessoas se preocupam em ter e não em ser. Isso é
uma corrida suicida. O modelo economico é que fez isso. Se você não estiver com
o sapato da moda, não tiver o carro da moda, se não visitar os países da moda.
A sua felicidade está na sua mão, você não depende de nada de fora, de ninguém.
A sua felicidade pode ser acrescentada por agentes externos, mas não depende
dos outros a própria felicidade.
Qual sua visão de evolução humana, Lucas?
Aos poucos as pessoas estão tomando conciencia de
que a forma em que vivemos não é a forma correta. Em janeiro desse ano Domenico De Masi (Sociólogo italiano
contemporâneo, famoso pelo seu conceito de "ócio
criativo" segundo o qual o ócio, longe
de ser negativo, é um fator que estimula a criatividade pessoal),
escreveu um texto dizendo que o Brasil poderia inspirar a humanidade na criação
de um novo modelo de desenvolvimento, e que esse modelo poderia surgir dos
indios. Acredito que a desigualdade social, depresão, corrupção, violência, são
doenças que afetam nossa população. A cura vem da reintegração do homem com a
natureza. Da utilização das plantas como remédio.
Walterly a humanidade está doente?
Não está doente, está em transição.
Walterly, a nossa flora oferece muitas opções?
O açafrão-da-terra (curcuma longa) é o açafrao brasileiro,
não é concentrado como o indiano, que é caríssimo, esta sendo realizado um
trabalho com a coordenação do Professor Lindolfo, que é de multiplicar essas
plantas, fazer um horto de plantas medicinais, ensinar como devem serem usadas,
a Dra. Nair, médica sanitarista instrui sobre o uso dessas plantas. Outra
planta fantástica é a ora pro nobis (Pereskia
aculeata), é muito consumida no Sul de Minas Gerais consumida com frango,
parece uma verdura, é extremamente proteico. O Brasil tem muitos recursos.
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