sexta-feira, abril 03, 2015

PAULO DE TARSO PORRELLI

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 24 janeiro de 2015.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADO: PAULO DE TARSO PORRELLI

Paulo de Tarso Porrelli nasceu a 7 de maço de 1961 em Piracicaba, na Santa Casa de Misericórdia. Filho de Arcanjo Porrelli e Maria José Moroni Porrelli, que tiveram os filhos: Vera Lúcia, Maria de Fátima, Marcos Paulo Vinicius e Paulo de Tarso. Seu pai foi Assistente Social, Professor de Latim e Português do Senai. Ele faleceu no dia 2 de março de 1969, aos 48 anos. Paulo de Tarso Porrelli é casado em segundas núpcias com a advogada Maria Esperança Marianno.
Em que bairro a família residia?
Morávamos a Rua Prudente de Moraes, em um daqueles sobradinhos entre a Rua Bom Jesus e Rua São João. Depois moramos um bom tempo na Rua Bom Jesus. Em 1969, quando meu pai faleceu mudamos para a Rua Ipiranga onde permanecemos até 1975, quando mudamos para o Edifício Prudente de Moraes esquina com a Avenida Armando de Sales Oliveira. Eu fui trabalhar em São Paulo e a minha mãe permaneceu nesse local até oito anos atrás, quando passou a morar com a minha irmã Vera Lúcia.
Você freqüentava igreja?
Freqüentei a Igreja Bom Jesus, depois a Catedral de Santo Antonio onde fiz a minha primeira comunhão. Participei do Movimento Jovem no Colégio Dom Bosco. A Rua Ipiranga marcou muito a minha adolescência, foi um grande carrossel, uma escola. Morávamos no número 360. Não existia nem o SESC ainda. Era amigo de infância da família Negri, do grande fotógrafo Davi, do seu pai Paulo, das famílias Guerrini,  Bortoletto.
Quais escolas você freqüentou?
O primeiro ano estudei no Instituto Marta Watts. Eu ia e voltava com a minha professora Márcia, já falecida. Foi a minha primeira professora.  A Unimep Centro estava sendo construída. Após o falecimento do meu pai fui para a Escola Prudente de Moraes onde estudei por seis meses. Era no tempo ainda em que as carteiras eram ocupadas por dois alunos, lembro-me que a filha do Dr. Odair Bortolazzo dividia assento comigo. Não peguei o tempo da caneta tinteiro, mas tinha na carteira o buraco onde era encaixado o vidro de tinta. De lá fui estudar no Grupo Escolar Barão do Rio Branco, estudei com o Francisco Roberto Cabrini com quem eu trabalhei mais tarde, ele me ensinou a fazer televisão, trabalhei com ele 5 anos na TV Bandeirantes. Quando conclui o curso primário no Barão do Rio Branco fui para o Sud Mennucci e terminei o colegial no Colégio Dom Bosco. Tanto no Sud como no Dom Bosco toquei nafanfarra, sempre gostei. Participei de competições de fanfarras. O meu instrutor de fanfarras no Sud Mennucci era o Helinho, hoje é colega da Ana Boatafogo Nascido em Piracicaba, Hélio Bejani mora no Rio de Janeiro há 26 anos. Atualmente é o diretor do corpo de balé do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, onde já foi primeiro bailarino. O Hélio foi Guarda-Mirim, era trompetista. Ele é um exemplo de sucesso do trabalho da Guarda-Mirim de Piracicaba, que está sendo resgatada agora. O Maestro Isaac Karabtchevsky em uma de suas palestras falava da importância da preservação de coretos, de bandas marciais, de fanfarras, de bandas como é a União Operária aqui em Piracicaba, são preciosidades que as cidades do interior têm. Eu costumo dizer que vivemos em um universo multimídia que atropelou a humanidade, as pessoas não estão sabendo o que fazer com tanta informação, com tantas opções de escolha. Como diz muito bem Washington Olivetto as redes sociais já existiam nas cadeiras nas calçadas com as nossas tias e vovós tricotando, conversando. Só que olhos nos olhos.
Piracicaba é privelegiada em muitos aspectos com relação a cultura.
A Secretária Rosangela Camolesi está criando o Museu da Imagem e do Som, para guardar acervos preciosos, Piracicaba tem grandes talentos, grandes cabeças. Salão Internacional do Humor. Salão de Belas Artes. A Rádio Educativa é um tesouro.
Voltando a nossa linha do tempo, quando jovem, em Piracicaba, você trabalhava?
Sempre trabalhei! O primeiro emprego com registro em carteira foi no Hospital Cesário Mota, como auxiliar de pratice terapia, uma terapia de práticas manuais. Nessa época eu tinha de 16 para 17 anos. Eu tinha de cinco a seis chaves na mão para chegar ao setor, era perigoso, havia ferramentas, alguns pacientes gostavam de ficar ali. Era um barril de pólvora. Funcionava na Rua do Trabalho. Para a minha idade era uma experiência muito pesada. Até hoje tenho recordações de coisas inaceitáveis. Era uma unidade exclusivamente masculina. De lá fui trabalhar com o Chico na Libral. Uma grande pessoa. A Libral situava-se em frente a Rádio Educadora. Após uns seis ou sete meses fui trabalhar no Banco Nacional, situado na Rua Prudente de Moraes esquina com a Praça José Bonifácio.  Até que aparece o radio em minha vida, eu vivia na loja Som-6 situada na Galeria Lucia Cristina, a Silvana, esposa do Christiano Diehl era a gerente. Como eu não tinha dinheiro para adquirir discos, mas como sempre fui apaixonado por musica, estudei na Escola de Musica uma época, fui bolsista lá, sempre gostei de percurssão. Eu ia na Som-6, colocava um disco e ficava escutando, a Silvana sabia que eu gostava, deixava. O Marcos Turolla da Rádio Difusora sempre ia lá. Começamos a trocar idéias musicais até que ele me perguntou: “-Você já entrou em uma rádio?” Ele então disse que quando quizesse poderia ir até a Difusora para conhecê-la. Era tudo que eu precisava! Apareceu a oportunidade, virei 'disc-jockey'!  (Profissional que seleciona e "toca" as mais diferentes composições, previamente gravadas ou produzidas). O primeiro programa de FM ao vivo em Piracicaba foi o Lair Braga e eu que fizemos quando o Lair saiu da Joven Pan, chamava-se “Roller Skating Music”. Roberto de Moraes já era reporter. Isso foi nos finais dos anos 70. Já escrevia algumas coisas para a Tribuna, tinha um link com o Evaldo Vicente, o Mestre. Esse é o Mestre mesmo! Eu tinha uns 18 a 19 anos. Dentro da Difusora estava conversando sobre a minha indignação de uma conta de luz que eu considerava injusta. O nosso querido Jaime Luiz da Silva disse-me: “-Vamos lá no ar! Vamos falar!”. Foi quando me disse: “Você tem que ser repórter menino! Tem eloquencia! Fluência!”. Comecei a pegar o gosto, fui reporter de jornalismo,  era o “Jornal da Difusora”, levado ao ar na hora do almoço e a tarde também. Trabalhei com Edirley Rodrigues. Meu nome é Paulo de Tarso, meu apelido é Lo. O pai de um amigo, Seu Lastória começou a brincar comigo e a me chamar de Lo. Acabei usando o nome “Lo Porrelli”, como nome artístico. Na Difusora fiquei de 79 até 84, uns cinco anos mais ou menos, conheci Dona Maria Conceição Figueiredo, José Soave, Waldemar Bília, Atinilo José, Garcia Neto, Orlando Murillo, Ary Pedroso, Benedito Hilário, Tarcisio Chiarinelli. Até que a vida andou, o Jamil Netto fundou a Rádio Educativa,  trabalhei com o Benedito Hilário na Rádio Educativa quando o Jamil montou a Rádio Educativa, que na época funcionava junto ao SEMAE. Lembro-me que o Jamil disse-me que “Lo Porrelli” não era um bom nome, parecia mais nome de boutique. “-Seu nome é Paulo de Tarso Porrelli!”.
Que instrumento você tocava na Escola de Musica?
Estudei um ano e meio, fagote, com o Paulo Giusti.
Você foi para São Paulo em que ano?
Fui para São Paulo no final de 1989. Fui trabalhar na Jovem Pan, na Avenida Paulista, 807, 24 andar, Edifício Winston Churchill. Lembro-me que tinha um sapato e uma calça. No primeiro momento fiquei na casa de amigos, aluguei um quarto, fui me virando, conheci o Antonio Augusto Amaral de Carvalho, o “Tuta”, seu filho, o “Tutinha”. Eu escrevi para o Fernando Vieira de Mello que introduziu no Brasil o estiloAll news”de rádio termo usado para designar uma emissora, seja de rádio, seja de televisão, cuja programação é composta apenas de notícias ou reportagens, ou seja, de cunho apenas jornalístico. Nessa carta que escrevi disse-lhe que estava insatisfeito no interior, queria aprender, trabalhar em uma grande rádio, a Jovem Pan é a minha paixão, eu tinha TRANSGLOBE, um receptor de rádio multibanda fabricado pela Philco Brasileira. Ouvia na Rádio Mundial do Rio de Janeiro “Big Boy Show” e “Ritmos de Boite”.Trabalhei com produções teatrais, trabalhei com o Roberto Diehl no Teatro Municipal, fiz contra-regragem, cenotécnica, fiz backstage que em um show vai desde a preparação e montagem de palco até a execução do mesmo, do som e iluminação. Fazia a  divulgação. Apresentação. Fazia de tudo, tocava percussão em uma banda chamada “Casa Nova”
Financeiramente compensava?
Teve uma época em que vivemos de música. Tinha bailes todos os finais de semana, domingueiras. Fiz divulgação de discos. Toquei em festivais. Inclusive toquei no Festival da Musica Independente, em São Paulo, na Fundação Padre Anchieta, no Teatro Sesc Anchieta da Rua Doutor Vila Nova, 245 - Vila Buarque. Fiz teatro com a Berenice Danelon, participei de produções da Caterpillar, junto com o Studio 415. Sempre estive envolvido com arte, poesia. Sempre escrevi poesia.
Você tem quantos livros publicados?
Tenho um: “Nós de Nada. Uma Belezura de Figura e Palavreado”, ilustrado pelo Palmiro Romani. O segundo livro está saindo agora: “O Som da Pétala Ágata”. Ele é ilustrado pela Carla Durante uma artista gráfica, editora de arte, com quem eu trabalhei na Rede Globo. O prefácio é do Dr. Ivan Amaral Guerrini que é físico quântico pela Unesp e a apresentação do Pasquale Cipro Neto, professor de lingua portuguesa. A Editora é a Palavra Impressa, situada em São Paulo, de propriedade do Julio, um grande parceiro.
Você recebeu alguma resposta da Jovem Pan quando mandou a carta à Fernando Vieira de Mello?
Um dia cheguei no SEMAE na Rádio Educativa, que era FM Municipal, recebi uma ligação do Fernando Vieira de Mello dizendo para que eu fosse até a Jovem Pan em São Paulo. Cheguei lá, ele me disse”-Gostei de você! Vamos para a reunião de pauta!” Fui, estavam lá Maria Elisa Porchat, que escreveu o livro “Radio e Jornalismo na Jovem Pan”, Drauzio Varella, Helvio Borelli, Valmir Salaro, Pedro Bassan, pessoas com condições mais privilegiadas do que a minha que estava começando.  Nos primeiros seis meses viajei de São Paulo à Piracicaba quase todos os dias. Se eu fosse fazer o trânsito já tinha um carro esperando, passava as informações sobre o trânsito, depois ia para a redação, fazia a reunião de pauta, e da-lhe telefone, checagem, reportagem. Marcelo Parada foi meu chefe de redação na Jovem Pan e hoje é diretor nacional de jornalismo no SBT.
Quanto tempo você ficou na Jovem Pan?
Fiquei uns sete anos. Conheci o Seu Brim (Alberto Brim D´ Araújo Filho), era natural da Bahia, locutor, trabalhava no comercial da Pan, era uma pessoa sempre de bom humor, com seu vozeirão ele sempre me dizia: “-Oi Piracicaba! Tudo Manteiga!”. Para ele a vida era tudo manteiga. A Jovem Pan foi uma grande escola, fiz bons amigos. Ai fui fazer assessoria de imprensa, dentro de agências de assessoria de imprensa, escritórios de comunicação, que tem seus clientes, são empresas que contratam essas assessorias de imprensa. Trabalhei com a Câmara de Comércio Suiço-Brasileira, Redes de Hotéis de Santa Catarina, várias editorias na área de alimentos, turismo, política, economia, negócios, finanças, atendia a Zurich Financial que é uma seguradora suiça muito famosa.
Para o profissional de comunicação financeiramente a asssessoria de imprensa é interessante?
Financeiramente é o melhor caminho. Se tiver bons clientes, os resultados são interessantes. Ocorre que assessoria de imprensa é uma cultura pouco difundida. Quem contrata imagina que o assessor de imprensa é aquele que irá dar visibilidade para você desde a hora em que você acorda até a hora em que você irá dormir. A atividade do assesssor de imprensa é administrar fluxos de informação. Tornar a relação entre a fonte e as redações a mais expontânea e produtiva possível para que isso se traduza em algo de interesse público. O que o assessor de imprensa tem que fazer? Detectar no status da empresa e nos seus produtos aquilo que é realmente jornalístico para que se transforme em notas, matérias, entrevistas, artigos, crônicas. Para se ter o melhor aproveitamento de comunicação jornalística.
Paulo, você demonstra ter um conhecimento prático muito expressivo.
Sou autodidata, intuitivo, do batente mesmo. Aprendi conforme a água ia subindo eu saia nadando. Na Bandeirantes trabalhei com Fernando Mitre, José Ochiuso Júnior, piracicabano, Carlos Colonnese um dos maiores produtores de TV, piracicabano, eu era da equipe do Cabrini, produtor e editor. O Cabrini que me levou para a Bandeirantes e me ensinou na prática a trabalhar na televisão. Eu já fazia produção independente para ele, fizemos aquele Globo Repórter com a Jorgina Maria de Freitas (Jorgina Maria de Freitas Fernandes é uma ex-advogada brasileira e ex-procuradora previdenciária. Organizou um esquema de desvio de verbas de aposentadoria).
Como reporter investigativo o Cabrini é um exemplo a ser seguido?
Sob o meu ponto de vista o Cabrini é um dos maiores reporteres da televisão brasileira. Ele é intrépido, não  sossega, é essenciamente investigativo. É um Sherlock Holmes, um 007 do jornalismo. Ele não desiste enquanto não esgota todas possibilidades de uma checagem de uma fonte, de uma pesquisa, um levantamento, uma apuração, ele vai fundo. Nem precisava, ele tem um nome muito respeitado, não precisa provar mais nada para ninguém. Cobriu como jornalista correspondente  sete guerras, muitas olimpíadas, Formula 1, Copas do Mundo, ele iniciou na televisão com 17 anos. Não tem o que ele não faça na televisão.
Depois de sair da Jovem Pan você foi fazer assessoria de imprensa, foi em um único local ou em várias empresas?
Ai eu rodei bastante. Sempre com a base em São Paulo, mas rodando bastante.
Você trabalhou com Washington Olivetto?
Atualmente estou em contato com ele por algumas questões profissionais. Ele está recebendo um prêmio em Nova Iorque. Não tive a felicidade de trabalhar com ele. Conheci o Washington na época da Democracia Corinthiana, com o Magrão (Dr. Sócrates) que me chamava de Geninho. O Casagrande me chamava de Ruminigh.
Você morou fora do Brasil?
Morei um período em Portugal, em 1992, permanecilá por uns seis meses. Foi uma oportunidade de fazer rádio em Portugal.
Qual é a reação dos portugueses ao ouvir um locutor brasileiro, com sotaque brasileiro?
Eles são apaixonados pela nossa eloquencia, pelo nosso ritmo, pela nossa fala. Naquela época estava uma efeverscência em Portugal, por um lado os dentistas, por outro lado os radialistas. Fiquei em Faro, colonizada pelos mouros, depois subi para Lisboa e em seguida fui para Figueira da Foz. Era contrato com prazo determinado. Na época eu não tinha a cidadnia italiana, só tornei-me um cidadão italiano em 1994. Hoje tenho dupla cidania, brasileira e italiana. Na Inglaterra tenho o National Insurance Number. Equivale a receita e ao seguro social brasileiro.
De Portugal para qual pais você dirigiu-se?
Voltei ao Brasil, continuei com meus trabalhos de Jovem Pan, cobrindo estâncias, fazia projetos de inverno e verão com eles,.
Você é um agitador cultural?
Já fui! Até a Rua do Porto, em Piracicaba, em parte tem pouco do meu suor ali. Lembro-me que o Aldano Benneton era da COOTUR enquanto o Alceu Marozzi Righetto era da Ação Cultural. Eu dizia: “- Aldano, me dá um palanque , um som, eu vou lá fazer uns happiness (alegrar). Fazer um varal literário. Artes plásticas. Chamo umas bandas para tocar. Lembro-me que o Faganello ia. A Rua do Porrto era muito diferente do que é hoje, além do Arapuca tinha um ou outro barzinho. Eu fazia uma movimentação enorme já preconizando a idéia do calçadão, aquela movimentação toda, deslumbrando um complexo turístico. Sonho com a volta do bonde em Piracicaba, eu andei de bonde! Em 2004 fui para a TV Bandeirantes com o Cabrini, fiquei no Jornal da Band, só tenho a agradecer a família Saad, a Band é uma excelente empresa. Trabalhei com a Eleonora Paschoal no Jornal da Band, uma profissional fantástica. Aprendi muito, fui muito bem tratado. O Cabrini é um profissional excepcional. Grande companheiro, homem de uma generosidade muito grande. Só tenho boas lembranças da Rede Bandeirantes de Televisão. Permaneci lá por cinco anos. Dai o Cabrini foi para a Record, e eu fui para a Globo, ela já estava instalada na Avenida Doutor Chucri Zaidan, cubri as férias de uma colega que trabalhava no Jornal Hoje, com a Tereza Garcia. O Mariano Boni de Mathis hoje diretor executivo de jornalismo da Rede Globo de Televisão é para mim é um dos mais competentes homens da televisão brasileira. Está lá ha quase 30 anos já ocupou inumeros cargos.
Qual era a sua função na Globo?
Era editor de texto, Primeiro no Bom Dia São Paulo, depois fiz um pouco de Bom Dia Brasil, SPTV1, SPTV2, trabalhei com Sandra  Annenberg, Evaristo Costa, Cesar Tralli, Carlos Tramontina. Ai fiquei locado no Jornal da Noite com William Waack e Christiane Pelajo. Permaneci por 3 anos na Globo. O meu contrato era um contrato de prazo determinado, eu pleiteava uma vaga, é muito dificil porque quem está não quer sair. A Rede Globo é indiscutivelmente uma das melhores empresas do mundo para se trabalhar. Não é o salário. É o conjunto da obra. É o trato humano, como o RH cuida de você, são os benefícios que você tem, é uma grande empresa. O Dr. Roberto Marinho ensinou uma coisa muito importante, e que fique esse legado, as empresas precisam de gente que sabe lidar com gente.
Após deixar a Globo qual foi seu próximo destino?
Fui para a Inglaterrra onde permaneci por dois anos. Aluguei um quarto, em uma casa de uma inglesa, fazia meus trabalhos como free-lancer (profissional autônomo) mandei uns artigos para a Tribuna. Foi um período de calma e reflexão. A essa altura da vida posso dizer que de rádio eu entendo, de TV eu entendo, de jornalismo eu entendo, de assessoria de imprensa eu entendo. Permeiei por campos que me deram condições de saber onde hoje eu ponho ordem na casa. Ergo o telhado, sei onde está a bagunça e rapidamente eu ponho ordem na casa. Sei lidar com as pessoas, gosto do ser humano, porque eu gosto de mim. Tive bons mestres, aqui o Evaldo Vicente, o Fernando Vieira de Mello na Jovem Pan, Augusto Mario Ferreira, já falecido, me ensinou tudo sobre assessoria de comunicação, um dos maiores reporteres que o Globo já teve, o glorioso JB Jornal do Brasil já teve, foi asessor de imprensa do Banco de Tokio, da COSIPA, um dos maiores textos que já vi. Trabalhei com Aureliano Biancarelli da Folha de São Paulo. Eu me sinto contemplado por Deus, agradeço muito, e isso não é um ato político, falo o que meu coração sente, o Ferrato é um homem sensivel, viu em mim um potencial, sabe que desde o dia 5 de janeiro de 2015 eu estou aqui das sete horas da manhã até as sete horas da noite. As coisas foram acontecendo naturalmente, sem atropelo sem ninguém forçar a natureza dos acontecimentos. Entendo muito bem como é a malha social piracicabana. A nossa área é muito dificil. O mercado é restrito. Eu sempre peço a Deus, não quero ocupar o lugar de ninguém, quero apenas o meu lugar. Acho que Deus me ouviu, o Ferrato foi sensível a isso, o Miromar também. Tenho o Evaldo como um irmão mais velho, nem sei dizer como ele me conduziu em muita coisa. Sou um piracicabano que voltei para casa literalmente. O Evaldo fala que foi por amor e pelo amor. Estou perto da minha mãe que está com 94 anos e muito feliz por eu estar aqui. O que peço à Deus? Que me dê saude para ter a maior aplicabilidade do conhecimento que trago lá de fora, técnico, humanístico, profissional à Piracicaba.
Ha quanto tempo você assumiu a direção da Rádio Educativa?
Estou aqui ha duas semanas, acho que já produzi sensíveis mudanças. Tenho o proposito de suprapartidariamente, apartidariamente de prestar o melhor serviço à comunidade piracicabana, aos piracicabanos, a cidade e região, para deixar esta rádio melhor ainda em todos os sentido: técnicamente, jornalisticamente, musicalmente, artisticamente, educacionalmente, a função dela é educativa, deixar essa rádio com uma grade de programação estratificada, junto ao publico de forma equanime, sutil, elegante, gostosa, contemplando as músicas de todas as nações, uma rádio além fronteiras. É uma rádio que vai respeitar muito produções locais, musicos locais, a Pá Moreno já está no ar, vamos tentar radiografar as necessidades com a equipe que temos, e em um curto espaço de tempo promover e despertar os profissionais que estão aqui dentro. É uma equipe maravilhosa, dedicada, temos aqui, Xilmar Ulisses que é um dos radialistas mais experientes que nós temos na cidade, com um programa estratificado que é o “Bom Dia Cidade”, das 7:30 as 9:30. Já estamos fazendo das 9:30 às 12:00 horas só MPB. “Educativa MPB – Os Clássicos da Música Popular Brasileira” Na hora do almoço, herança do Jamil , inteligenmtemente, o  programa “A La Carte” vamos engordá-lo com musicas instrumentais que vão além de Ray Connif, com outros grandes maestros, musicos, Big Bands, anos 30,40. Buscar equilibrio entre música, informação, entretenimento, prestação de serviços. Tudo isso 24 horas no ar. Em breve vou conversar com a tecnologia de informática da prefeitura, logo estarei conversando com a secretária Angela que está voltando de férias, tenho estado diariamente com o Miromar, ele tem um dominio muito grande da comunicação como um todo, ele é o diretor do Centro de Comunicação Social da Prefeitura, um profissional muito experiente, sensível, está me dando toda retaguarda. Tiramos a programação do ar até o inicio de fevereiro, justamente para repaginar, revigorar, voltar com força, alguns programas realocados. Deixar uma grade equilibrada, desengessar. A Rádio Educativa não pode ser oficialesca. Por isso quero pegar o site dela e transformar em um portal com Podcast (nome dado ao arquivo de áudio digital). João Umberto Nassif deu uma entrevista boa para a rádio, pego uma foto sua, aspas, e ponho lá: “-Ouça a reportagem!”. Pego um depoimento seu, isso desdobra no facebook, nas outras mídias, videos com depoimentos, eu quero que o piracicabano se veja e se ouça através da Educativa.
O profissional de comunicação tem que estar sempre atento as minúcias?
Samuel Pfromm Netto dizia: “Infeliz é o jornalista que não sabe da importância de um telefone que está tocando!” Isso na época em que existia “furo”, hoje com o advento da internet muitas coisas mudaram.
Posso afirmar que estou diante de um “monstro sagrado da comunicação”.
De forma alguma! Apenas passei por inúmeras dificuldades e situações onde fui lapidando minhas dificuldades. Eu estava na Inglaterrra e por insistência de uma pessoa muito próxima decidi voltar para Piracicaba, minha terra natal. É a celebre frase de Leon Tolstoi : “Se queres ser universal, começa por pintar a tua aldeia”. É um aspecto curioso, algumas pessoas que conhecem a minha trajetória por veículos de expressão nacional, ficam intrigadas ao me verem aqui em Piracicaba, o que para alguns pode a principio aparentar um retrocesso, na verdade é uma opção de vida pessoal, de foro intimo, que eu escolhi, foi uma decisão minha.
Você tem uma passagem muito interessante logo no início da sua carreira.
No vigésimo quarto andar do prédio onde fica a Jovem Pan, você vê toda a zona sul de São Paulo. Estavamos em uma reunião de pauta, com o time de jornalistas completo. A Saldiva Associados Propaganda Ltda. Tinha feito uma campanha para descobrir a cara de São Paulo. A Folha de São Paulo ia noticiar na segunda feira. O Fernando Vieira de Mello ficou sabendo. Estavamos eu e o grande roteirista Valmir Salaro, que hoje é do programa Fantástico, de plantão naquele fim de semana. Seu Fernando ligou agitado na rádio Jovem Pan, pedindo que achasse o telefone da Rose Saldiva. O caipirão aqui foi como um cão perdigueiro procurando. Até que consegui convencer uma telefonista da Telesp a dar o número de telefone de algum Saldiva. A Rose Saldiva era “blindada”. Consegui o telefone de uma pessoa próxima a Rose Saldiva, após muito conversar, e sob a condição de não revelar a ninguém que tinha sido ela que tinha fornecido o número, consegui o número do telefone da Rose Saldiva. As duas e meia da tarde, olhei para o Claudio Mauricio, chefe de reportagem que estava logo atrás de mim. Liguei para a Rose Saldiva, identifiquei-me e a convenci a falar com o Fernando Vieira de Mello. Quando disse que a Rose  Saldiva estava na linha, ninguém na redação acreditou. Era no tempo da máquina de escrever ainda, todos se levantaram, vieram próximos ao telefone. Gravamos com ela, “furamos” a Folha de São Paulo. Na segunda feira eu estava viajando de onibus de Piracicaba à São Paulo, a rádio pagava minha passagem. Fui tirar carteira de motorista aos 27 anos. Durante uma semana a Jovem Pan divulgou o trabalho da Saldiva , mostrando a cara de São Paulo.  O Fernando Vieira de Mello um dia me chamou, no meio da reunião de pauta, tinha umas 20 pessoas mais ou menos, e disse: “Isso é lição para todos nós, moramos aqui, temos empregada, carro, vida estável, e esse menino está dando tanto quanto nós, conta do recado. Ele viaja de onibus todo dia daqui para lá e de lá para cá. São 170 quilometros de vinda e 170 quilômetros de volta, mais as estações de metrô. Esse menino é um exemplo de ética”. Na Rede Globo eu cobri as férias no Jornal Hoje, e a Teresa Garcia me ensinou um termo que eu nem conhecia.  Quando cumpri aquelas férias e voltei para a Bandeirantes, antes de voltar a ser contratado pela Rede Globo, ela disse-me: “ Paulo, muito obrigado, sobretudo pelo seu trato humano com a minha equipe”. Eu estava trabalhando com pessoas traquejadas: Sandra Annenberg, editores de noticias internacionais, de alto nível, repórteres com muito tempo de vídeo, Ernesto Paglia, gente que passa noventa por cento da vida dele dentro da televisão.  Posso afirmar que Pedro Bassan é um dos integrantes mais brilhantes da televisão brasileira. Trabalhei com ele na Jovem Pan, estive com ele em Lisboa quando ele foi correspondente lá.
A exigência de uma formação acadêmica para a profissão de jornalista está sempre criando polemica. Com toda sua experiência, qual é o seu ponto de vista a respeito?
Clovis Rossi faz uma reflexão magnifica: “Jornalismo é um exercício basicamente simples, que depende da boa execução de apenas quatro verbos: saber ler, ouvir, ver e contar. Se alguém acha que ao menos um desses verbos (o ideal seria que fossem todos) pode ser ensinado em uma faculdade de jornalismo, deve mesmo ser a favor do diploma específico. Quem, como eu, duvida dessa possibilidade só pode ser contra. Eu sou. Pegue-se o verbo ler, em ambos os sentidos, o mais primário, de alfabetização para compreender palavras escritas, e o mais nobre, o de gosto pela leitura. No primeiro caso, ou se aprende a ler na escola primária ou nunca mais, salvo raros casos de autodidatas. No segundo, tampouco a faculdade pode ensinar o gosto pela leitura. Ou vem do berço ou se adquire nos primeiros tempos pós-alfabetização. Como não creio que se possa escrever bem sem ler bastante, depender da faculdade de jornalismo para desenvolver esse gosto só fará o profissional chegar ao mercado de trabalho com um deficit talvez irreparável. Alguma faculdade pode ensinar a ver? Ou a ouvir? Duvido. Pode, sim, desenvolver o talento, de todo modo natural, para contar histórias. Mas qualquer faculdade pode fazê-lo, acho. Pulemos da teoria para os fatos concretos. Ricardo Kotscho não fez faculdade de jornalismo. Nem qualquer outra, a não ser depois que já estava solidamente instalado na profissão. Nada disso o impediu de se tornar um dos melhores repórteres de todos os tempos no jornalismo brasileiro. Se, quando eu lhe dei o primeiro emprego na chamada grande imprensa (no "Estadão"), já vigorasse a exigência do diploma, o jornalismo brasileiro teria perdido um imenso talento. Se a obrigatoriedade do diploma valesse nos anos 1960, o jornalismo brasileiro teria ficado sem o gênio de Cláudio Abramo (1923-1987), que foi co-responsável pelas reformas que tornaram o "Estadão", primeiro, e a Folha, depois, os grandes jornais que são. Abramo não tinha diploma algum. Não obstante, foi convidado pela USP para ministrar curso de aperfeiçoamento para estudantes de pós-graduação. Irônico, não? Desconfio que boa parte das equipes com as quais Cláudio trabalhou tampouco tinha diploma de jornalista, o que não impediu que fizessem grandes jornais. Esclareço, antes que alguém suspeite que estou advogando em causa própria, que eu, ao contrário de Kotscho e Abramo, tenho, sim, diploma específico, aliás o único. Mas garanto que aprendi mais, na prática, com gente como Kotscho, Abramo e tantos outros sem diploma do que na faculdade. Um segundo ponto que me leva a ser contra o diploma específico é a evidência de que nem a mais perfeita faculdade de jornalismo do mundo pode ter um currículo que ensine a seus alunos todos os temas que, um dia ou outro, podem lhes cair sobre a cabeça. Não dá para ensinar agricultura e transportes, tênis e política, legislação e teatro e por aí vai. Não dá. Quem pensa em entrar para o jornalismo com um objetivo definido (jornalismo econômico, digamos) deve fazer economia e não jornalismo. Se tiver desenvolvido os quatro verbos-pilares (ver, ouvir, ler e contar), estará mais pronto para a profissão, na área específica, do que se fizer jornalismo. Último ponto: não entro na discussão sobre a diferença entre profissões (medicina, engenharia, por exemplo) que, mal exercidas, podem matar, e aquelas (jornalismo) que não podem e, portanto, não precisam de diploma específico. Jornalismo pode matar, sim, mesmo que seja moralmente. Mas é de uma presunção absurda supor que só faculdades de jornalismo ensinam ética.”
Em Assessoria de Imprensa cada detalhe passa a ter uma importância que pode fazer a diferença?
Em Assessoria de Imprensa eu atendi a um Cluster (concentração de empresas) de pousadas em uma praia catarinense. Lá tem a APA Área de Proteção Ambiental da Baleia Franca, são 130 quilômetros de Florianópoilis para baixo, onde de julho a novembro elas vão procriar e amamentar filhotes ali. Fiz muita coisa lá, cadernos de turismo, Estadão, Folha. Levei um grande número de jornalistas para lá, inclusive jornalistas de outros países. Fiz o Globo Ecologia lá. 
Quantos idiomas você fala?
O inglês, o italiano mais em função da origem da minha família, como sou filho temporão meu bisavo Arcanjo Porrelli e minha bisavó Maria Lucafó, se radicaram e ajudaram a fundar Mombuca. Meu pai é natural de Mombuca. Minha mãe nasceu em Capivari. Minha avó materna, Angelina Perini e o pai da minha mãe Paschoal Moroni, falavam italiano. A minha mãe acabou falando o italiano abrasileirado. Meu pai sempre dizia: “- Uma única palavra pode custar vidas”. Mal sabia ele que eu iria fazer da palavra a minha ferramenta principal.  







OLIVIO NAZARENO ALLEONI

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 31 janeiro de 2015.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADO:  OLIVIO NAZARENO ALLEONI

Olívio Nazareno Alleoni nasceu em Piracicaba a 15 de abril de 1947, na Avenida Rui Barbosa, quase em seu final, no último quarteirão do lado esquerdo no sentido centro-bairro, isso no tempo em que a maior parte das crianças nascia em sua própria casa. Filho de José Santo Alleoni e Antonieta Busatto Alleoni que tiveram mais dois filhos José Rossini e Maria Ruth. Olívio Nazareno Alleoni é médico, cirurgião vascular, escritor, com vários livros e grande número de artigos publicados. Membro do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba, da Academia Piracicabana de Letras, do Clube do Escritor. Pesquisador realizou trabalhos inéditos junto a fontes de tradições como o cururu, Festa do Divino. Com dedicação e inúmeras horas de trabalho, viagens, noites não dormidas, conseguiu reunir farto material envolvendo imagens e som nunca antes obtidos. Voluntário dedicado do Lar dos Velhinhos tem dado sua incansável contribuição para a divulgação e preservação do mesmo.
Qual era a atividade principal do seu pai?
O meu pai era agricultor, sempre foi agricultor. Minha mãe era professora primaria. Morei na Vila Rezende até uns três anos, dos três aos seis morei na fazenda. Aos seis anos mudamos para a casa situada na região central de Piracicaba, onde residimos até hoje.
Seus primeiros estudos foram feitos em que escola?
Estudei no Grupo Escolar Dr. Moraes Barros, distante algumas quadras de casa. Minha primeira professora foi Dona Amélia, a segunda professora foi Dona Djanira Ribeiro Germano, mãe da Professora, Doutora, Marly Therezinha Germano Perecin. O curso ginasial e o científico eu estudei no Colégio Piracicabano. Fiz o cursinho preparatório em Campinas, na Praça Carlos Gomes, para ingressar na faculdade.
A sua intenção era prestar vestibular em que área?
Já tinha definido que iria cursar medicina. Entrei com 18 a 19 anos. Cursei medicina na Faculdade de Medicina de Taubaté, hoje Universidade de Taubaté – UNITAU foram seis anos de curso. Durante todo esse tempo fui monitor de biofísica. Eu tinha a intenção de fazer biofísica, um professor, Bonoldi, chefe da biofísica, me fez ver os inconvenientes dessa escolha, pelo pouco ou quase nenhum incentivo que iria encontrar como pesquisador, pelo menos naquela época. Biofísica é ciência pura, é um trabalho onde o profissional torna-se um cientista. Algo que infelizmente no Brasil é pouco estimulado. O Professor Bonoldi percebeu que eu gostava dessa área, tinha aptidão, desenvolvia muito bem as aulas a que me propunha a realizar, mas as perspectivas não eram promissoras. Foi um choque nas minhas pretensões. Dediquei-me um ano trabalhando na área de psiquiatria.
Na época, a psiquiatria era ainda uma ciência que exigia muito do profissional, sem muitos recursos hoje disponíveis?  
Era uma área extremamente desgastante, utilizando recursos disponíveis e conhecidos na época. Trabalhei no Hospital Psiquiátrico de São José dos Campos que era um hospital particular. Por um bom tempo o Professor Tarciso Ulhoa Cintra era diretor da Casa de Custódia e Tratamento de Taubaté. Lá tive contato mais próximo com indivíduos com graves desvios de conduta, inclusive psicopatas. Os hospitais psiquiátricos eram verdadeiros depósitos de pacientes.
Esses locais não existem mais, as doenças não existem mais ou os pacientes migraram para outras áreas?
Os casos mais graves vão para a Casa de Tratamento e Custódia de Taubaté.  Houve uma evolução muito expressiva nos medicamentos, muitos pacientes permanecem junto a sua própria família. Os estudos internacionais avançaram muito, os padrões eletros-fisiológicos cerebrais são distintos em indivíduos com comportamentos diferenciados.  A grande pergunta é até quando muitos comportamentos podem ser rotulados de doenças, variações, ou de algo adquirido durante a formação embrionária?
O funcionamento do cérebro humano ainda é um grande universo a ser desvendado?
Temos conhecimentos superficiais. A fundo não o conhecemos. Há muito sendo feito.  Existem muitos estudos, trabalhos, que revelam indícios na relação entre meio externo e ondas cerebrais, seus efeitos, suas conseqüências.
Após esse período trabalhando com psiquiatria qual foi seu próximo destino?
Fui para o Hospital das Clínicas, em São Paulo, na Avenida Dr. Arnaldo. Resolvi fazer anestesia. Tornei-me médico-anestesista. A primeira turma formada pela Faculdade de Medicina de Taubaté foi uma turma privilegiada, os professores eram os mesmos que davam aulas na Escola Paulista de Medicina.  Fiquei uns seis meses trabalhando como anestesista. Perguntei-me: “- Será que é isso realmente que eu quero?”. Voltei para Taubaté, fiz um ano de cirurgia geral em Taubaté. Nesse tempo conheci Ohannes Kafejian, ele era cirurgião vascular, precisava de alguém que ficasse em Taubaté acompanhando os pacientes vasculares. Comecei a fazer, fiquei um ano em Taubaté, ai fui para São Paulo, comecei a ficar no Hospital Heliópolis e no Hospital Santa Cruz.  Isso foi por volta de 1974. Fiquei com Ohannes Kafejian de 1974 a 1978. Uma vez por semana eu ia para Taubaté. No Hospital Santa Cruz permaneci até 1979. Ao mesmo tempo comecei a fazer Terapia Intensiva, comecei a fazer UTI também no Hospital A.C. Camargo, Hospital do Cancer. Permaneci trabalhando em São Paulo de 1974 a 1979. Em 1979 meu pai teve infarto. Eu estava em São Paulo, quando Dr. Bicudo telefonou-me comunicando que meu pai tinha tido um enfarte grande, com poucas posssibilidades de sobrevivência. Deixei tudo e vim para Piracicaba, era um enfarto que atingiu toda a parede anterior, não havia muito o que fazer  a não ser medicar e orar. Milagrosamente meu pai conseguiu superar isso. Ele era acima de tudo um atleta, andava no mínimo uns 10 a 15 quilômetros por dia, no sítio, na cidade. Ele superou o enfarto.  Só que apareceram outros probleminhas de saúde. Na época ele tinha cerca de 70 anos. Nesse tempo ele teve um acidente com o jipe, fez um hematoma extra-dural. Começou a juntar sangue entre o osso do cranio e o cérebro, comprimindo o cérebro. Naquele tempo era um problema extremamente sério. Fez uma cirurgia em Campinas. Com sucesso.
Isso fez com que você viesse a trabalhar em Piracicaba?
Montei meu consultório em Piracicaba, passei a fazer parte da Unimed, do Hospital dos Fornecedores de Cana, no Hospital Piracicaba do Dr. Adib Coury.
Você trabalhou também no INSS?
Trabalhei, o vinculo que eu tinha com a UTI no Hospital Heliópolis era um vinculo com o INSS, naquele tempo era chamado INAMPS. Passei em um concurso de cirurgia vascular e passei em um concurso de UTI. Apesar de ter um ótimo relacionamento profissional em São Paulo, por razões familiares decidi permanecer em Piracicaba. Na década de 2000 cessei minhas atividades profissionais na área médica.
Foi com a disponibilidade maior de tempo que você decidiu escrever um livro?
A história do primeiro livro surgiu a partir do falecimento de uma tia, na década de 70, uma série de documentos que estavam com ela veio parar em casa. Não era do agrado da minha mãe que mexesse nesses documentos. Por volta de 2000 minha mãe autorizou que mexêssemos nesses documentos, 30 anos depois. Comecei a revirar esses documentos, ai surgiu a idéia de escrever a história da família, a história da comunidade italiana em Piracicaba. Surgiram dois livros, o primeiro que embora pronto, considero que não é o momento histórico de ser publicado. Escrevi um segundo livro, com base nesses documentos e publiquei-o. Foi o primeiro livro que lancei: “Uma Fresta Para o Passado”.
Como surgiu a inspiração para escrever esse livro?
Nessa época minha mãe estava muito doente, ela reagia de maneira imprevisível, com isso fui obrigado a permanecer mais em casa, a disposição dela, com toda a documentação que eu tinha nessa mala, comecei a escrever. Abordei aspectos como o imigrante italiano era tratado, quais eram os valores dele em substituição ao negro pela mão de obra italiana. A escravidão branca, não deixava de ser uma escravidão.
A repercussão desse livro foi muito boa?
Acredito que teve uma boa repercussão. Alguns outros livros se basearam nele, para serem escritos, como o livro de Samuel Pfromm Netto, muitos detalhes citados pelo Pfromm em seu último livro que foram retirados de lá. Recebi um elogio muito grande do Samuel Pfromm Netto que me orgulhou muito. O livro foi distribuido pelo Estado de São Paulo e deve ter atravessado as fronteiras de São Paulo. Nessa fase vim a perder minha mãe.
O seu segundo livro surgiu como?
Apareceu-me o Oscar Bueno, conhecido como “Serrinha”, filho de Sebastião da Silva Bueno, o Nhô Serra, com o propósito de escrever um livro sobre o pai dele. No fim saiu o livro “Cururu em Piracicaba”. Escrever o livro foi um verdadeiro exercício de terapia.
Além do livro você um vasto material visual e de áudio sobre o cururu?
Tenho. Tenho muito material sobre cururu.
Pode-se dizer que hoje você é a pessoa que mais conhece sobre cururu em Piracicaba?
Acredito que essa avaliação deve ser feita por outras pessoas, não por mim.
Podemos afirmar que em termos de documentação você tem o maior volume de material sobre cururu?
Eu acho que sim. Entre filmagens, expressão, conhecimento, gravação.
Você já foi procurado alguma vez para expor sobre o assunto?
Já me procuraram algumas vezes para falar sobre o material.
Ai surgiu o terceiro livro?
O terceiro livro foi “Trinta Anos do Teatro Municipal Dr. Losso Netto”.  O quarto livro foi “Lar dos Velhinhos de Piracicaba”  Referente aos 100 anos de existência do Lar dos Velhinhos de Piracicaba. Talvez tenha sido o livro mais elaborado, capa dura. O livro “Uma Fresta Para o Passado” é um livro mais analítico, mais pesquisa.
Agora você está lançando outra obra?
O Dr. Jairo Ribeiro de Mattos me procurou com interesse em apresentar as obras de artes existentes no Lar dos Velhinhos de Piracicaba. Existem muitas obras, são obras de valor estimativo que refletem uma fase da pintura em Piracicaba. Tem obras que são manifestações espontâneas do desenvolvimento pessoal cujo valor é a sua existência e pela força com que foram feitas.
Que tipos de obras existem no Lar dos Velhinhos?
Temos os afrescos, pinturas a óleo, esculturas, e alguns objetos não existentes mais. Totalizam aproximadamente 300 obras, é o patrimônio artístico do Lar.
É do conhecimento de grande número de pessoas que o Lar dos Velhinhos está sempre em busca de recursos, a venda dessas obras poderia trazer esses recursos?
Eu diria que o valor monetário não é representativo a ponto de cobrir compromissos financeiros. Considero que uma publicação desse nível, eu não sei ainda se terá outra publicação mais elaborada, mas ela tem algumas funções: 1-) Conscientizar Piracicaba das obras que existem lá, para serem vistas, mostrando o desenvolvimento da pintura em Piracicaba. Com alguns artistas mais simples e outros de renome. 2-) Serve para se fazer um inventário mostrando quais obras estão no Lar, sedimentando esses valores como obras que são do Lar. Se amanhã por algum motivo essas obras vierem a ser extraviadas esta é uma prova cabal, pública, de que a obra não pertence a um terceiro.
Para o morador do Lar qual é a importância da existência dessas obras?
Eu acho que significa muito, o idoso infelizmente está meio jogado ao léu pela sociedade, o Lar tem sempre uma capacidade de criar estímulos para atividades próprias à terceira idade. Nesse aspecto o Lar constitui em um desenvolvimento e estimulo á terceira idade, há muitas pinturas simplistas, mas dentro da simplicidade elas carreiam o estimulo que foi para os abrigados pintarem aquilo. Estatutariamente nenhuma dessas obras está a disposição para venda. Uma boa parte dessas obras foi doada pelo Dr. Jairo Ribeiro de Mattos, outras foram feitas pelo Rodrigues (Baia), que retratou muita coisa.
Essas obras acabam transformando o cotidiano do abrigado?
Eu acho que se existisse uma pessoa que fosse uma vez por semana, a cada duas semanas, e estimulasse os idosos, realizar uma oficina de arte, poderia ter vários artistas estimulando os talentos mais diversos possíveis. Todo mundo tem sua veia artística. Isso ajudaria na terapia do idoso, ele teria um compromisso perante ele próprio, isso é importante para o idoso, não teria o sentimento de inutilidade que muitas vezes domina a terceira idade.
Esse trabalho que está sendo apresentado tem quais características?
Foi feito um levantamento fotográfico, item a item, as imagens foram tratadas.
Fotografar obra de arte exige algumas técnicas específicas?
As disposições de algumas obras são em locais de acesso mais difíceis, a iluminação influi muito, para remover todas as obras para locais ideais é praticamente impossível. As obras foram fotografadas, editadas, corrigidas as deformações. Saiu um caderno com aproximadamente 300 imagens, alguma coisa foi colocada na internet. Existe o interesse do Dr. Jairo Ribeiro de Mattos em realizar uma exposição em nível internacional com os artistas, algumas obras provavelmente serão adquiridas, outras talvez sejam doadas ao Lar, e é também outra forma de motivar os idosos nesse aspecto. É uma idéia interessante, um salão de artes internacional voltado ao idoso e ao Lar dos Velhinhos.
Esse seu trabalho como autor tem algum custo para o Lar?       
É um trabalho voluntário, ao Lar não custa nada. Dos trabalhos que realizei nunca foi cobrado nada do Lar. É uma forma que encontrei em contribuir com a instituição.
Estará sendo realizada a Primeira Exposição Internacional de Arte Voltada ao Idoso?
As obras a serem apresentadas estão dentro de um tamanho padrão, a apresentação pode ser em óleo, crayon, grafite ou mesmo escultura. O motivo é voltado ao idoso. Um artista jovem pode realizar sua obra, desde que o tema seja o idoso.
É sabido que Piracicaba é muito rica em artistas plásticos, muitos são desconhecidos do grande publico, esta será uma oportunidade de exporem suas obras?
É uma oportunidade de se tornarem um pouco mais conhecidos, estarão colaborando com o Lar, provavelmente será feito um catalogo da exposição onde estará a obra de arte e o nome do artista.




ADILSON BATISTA DE OLIVEIRA

ENTREVISTA REALIZADA NO DIA 24 DE DEZEMBRO DE 2014 ESTÁDIO BARÃO DE SERRA NEGRA 
PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 17 janeiro de 2015.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADO: ADILSON BATISTA DE OLIVEIRA

Adilson Batista de Oliveira é advogado. Também é formado no ano de 1986 em educação física pela Unimep Universidade Metodista de Piracicaba. Como advogado atua em diversas especialidades da área. Nascido em Piracicaba a 22 de outubro de 1968. Filho de Mário Batista de Oliveira e Malvina Jorge de Oliveira que ainda tiveram os filhos Jurandir, Maria Julia, Jacira e Joseane. Adilson é casado com Geisiane Patricia Costa de Oliveira, pai de três filhos.
Qual era a atividade principal do seu pai?
Meu pai foi encarregado de montagem da Dedini, onde trabalhou por 35 anos. Ele chegou a trabalhar diretamente com O Comendador Mário Dedini nos anos 50. Minha mãe era do lar, mas tinha como atividade secundária a costura. Fazia toalhas, vestidos, roupas.
Em que escola você iniciou seus primeiros estudos?
Inicialmente estudei no SESI 165, no Jardim Primavera, localizava-se em frente a minha casa. O curso colegial eu estudei no COTIP – Colégio Técnico de Piracicaba, na época fiz o curso colegial técnico em metalurgia. A Faculdade de Direito fiz em São Carlos, tendo concluído em 1991.
O que o motivou a fazer dois cursos tão distintos entre si?
Eu já estava inserido na área de esportes, já havia jogado futebol em algumas equipes, percebi a necessidade de ter um curso superior nessa área, para ter maior estabilidade no futuro. Com o passar do tempo, por influência do meu tio Pedro, advogado, acabei ingressando na área de direito, onde tive a oportunidade de me destacar.
Isso significa que você era até então um atleta?
Joguei futebol em algumas categorias de base, no Rio Claro, na Ferroviária de Araraquara, com o Bazani, maior ídolo da Ferroviária. Na ocasião Bazani estava como treinador, supervisor e coordenador das categorias de base. Treinava lá no campinho da Fonte Luminosa, no campinho de areia. Joguei no Independente Futebol Clube, o Galo de Limeira, disputei o Paulista de Junior para eles. Disputei o Campeonato Paulista para a Ferroviária. No Rio Claro participei de algumas partidas no time profissional. Depois fui jogar em um time que hoje não existe mais, Estrela da Bela Vista Esporte Clube conhecido como Estrela da Bela Vista ou Estrela de São Carlos, o fundador foi João Ratti.
Você jogava em que posição?
Minha posição sempre foi quarto zagueiro e volante. Cheguei a jogar de lateral direito com o Bazani. Tive também uma passagem pela Portuguesa de Desportos com o Ivair Ferreira, o "Príncipe do Parque", ex-ponta-de-lança da Portuguesa. Joguei no Paulista Infantil  na Portuguesa.
Quanto tempo você ficou no futebol?
Como jogador foi pouco, uns dez anos. Como dirigente faz uns trinta anos.
A seu ver, o atleta torna-se “estrela” por quais razões?
Hoje, um atleta de futebol já nasce com as condições de ser um grande jogador. O que ele necessita é de incentivo. Quantos jogadores de Piracicaba que o Dinival Tibério conheceu e que acompanha há anos os jogadores de várzea, presenciou isso. O menino tem todos os pré-requisitos, mas não tem incentivo, ele tem que trabalhar para ajudar no orçamento familiar. É necessário incentivo financeiro, apoio, orientação. Quantos meninos apareceram na várzea como talentos, mas não tiveram como dar seqüência porque no cotidiano não tinham condições na família ou um patrocinador sustentar esse atleta.
Como advogado militante, esportista, a seu ver o esporte em todas as suas modalidades pode ser uma das formas mais eficazes e ao menor tempo possível, diminuir a criminalidade?
Acredito que sim. Se a pessoa tiver o incentivo para se dedicar ao esporte e sentir-se apoiado, com certeza ela não desviará sua atenção para outras atitudes.
O que está faltando para isso aconteça?       
Mais incentivo! Sinto que no passado recente tínhamos mais campos na várzea, mais situações em que o atleta podia praticar o esporte. Hoje há carência de atletas! Infelizmente caiu muito a prática de esportes. Nos anos 60,70 e 80 dava para formar três times de futebol amador para disputar o Campeonato Paulista. Hoje está difícil encontrar dois ou três jogadores de nível semelhante aos que existiam. Se for procurar na várzea quem é bom, conseguiremos até uns cinco jogadores há uns 15 ou 20 anos com certa facilidade encontrávamos até trinta bons jogadores na várzea.
O que mudou? Hoje o esportista bem sucedido tem uma receita financeira muito além do que a maioria das profissões. Antigamente jogava-se apenas pelo amor a camisa.
Um dos incentivos que faltam, principalmente no primeiro semestre, em Piracicaba, são as ligas soltarem os campeonatos que existiam antes: dentinho, dente de leite, infantil, juvenil. Hoje só tem o “Rocha Neto” que é de agosto a dezembro. Isso diminuiu as competições que existiam. A nossa cidade tem que ter mais iniciativas. Todos os campeonatos que estamos disputando, que estou vendo, as outras cidades estão sobressaindo mais. Inclusive o XV de Novembro as suas duas categorias perderam para Americana e Santa Bárbara D`Oeste no final da Copa Graal. Isso porque nessas localidades é bem maior o numero de atletas e também de times. 
De quem é a responsabilidade por ser criada essa situação em nossa cidade?
Sob o meu ponto de vista a própria comunidade, isso incluí as grandes empresas, indústrias, apóiam de forma muito tímida, inclusive a própria Liga deveria incentivar mais campeonatos no primeiro semestre isso em todas as categorias.
Infelizmente temos atletas de outros esportes que são campões muitas vezes até disputando em nome de cidades de outros estados que os patrocinam. Deixando bem claro que isso acontece já há décadas. Isso é deixar de olhar a educação como um todo para concentrar-se apenas na educação formal, de bancos escolares?
Concordo plenamente, a cidade deve investir. O que tem ocorrido hoje é que tendo como objetivo máximo fortalecer a categoria, com isso algumas cidades vão buscar atletas em outras localidades. Piracicaba ficou em segundo lugar nos Jogos Abertos, mas temos procurado investir nos valores locais.
Profissionalmente hoje o senhor exerce quais atividades?
Sou advogado, tenho escritório ao lado do Fórum local, sou diretor do Jardim Primavera Esporte Clube, sou diretor Esporte Clube XV de Novembro, onde sou diretor adjunto das categorias de base.
Qual é a função do Diretor das Categorias de Base que o senhor exerce?
É coordenar as categorias menores, no sentido de coordenar jogos, trazer patrocínio, trazer jogadores. Coordenar os técnicos, os preparadores, sempre acompanhando os trabalhos para ver se está fluindo, se está rendendo.
Quantas vezes por semana o senhor vem até o XV de Novembro?
Venho todos os dias, acompanho os jogos de categoria de base, ontem teve um jogo do Sub-20 em Hortolândia, eu estava lá.
A Categoria de Base abrange quais idades?
O Sub-20 é a categoria com idade máxima das categorias que disputam o Campeonato Paulista e a Copa São Paulo, é para atletas nascidos nos anos 1995,1996 e 1997. O Sub-17 é outra categoria de base para atletas nascidos em 1998 e 1999 e o Sub-15 que é para atletas nascidos em 2000 e 2001. São essas três categorias que o XV de Novembro tem atualmente. Futuramente vão fazer o Sub-13 e Sub-11.
Esses jogadores têm alguma remuneração?
No XV os juniores todos ganham uma ajuda de custo na faixa de R$ 200,00 a R$ 300,00. A grande meta é ir para o time profissional. Caso eu não esteja enganado este ano seis atletas saíram da categoria de base e foram para o quadro principal.
Há quanto tempo você participa do XV de Novembro?
Faz dois meses que retornei. No passado, tempo em que a TAM era parceira do XV fiquei por quatro anos, de 1993 a 1997 na gestão do time.
Porque a TAM deixou o XV de Novembro?
Foi uma parceria que deixou a desejar, por parte de ambos os lados.
O XV de Novembro de Piracicaba é um dos times mais antigos do Brasil, em sua opinião, não passou da hora dele estar ao lado dos times tidos como grandes?
Concordo, pela própria tradição do time, em minha opinião está caminhando para isso. O XV deve participar do Campeonato Brasileiro da série D. É o primeiro degrau para ele futuramente disputar o Campeonato Brasileiro da Série A. São quatro divisões: A,B,C e D. Com essa subida há um ganho, uma projeção,  em que ele consegue manter um elenco durante todo o ano. É importante para o XV e para Piracicaba que o clube esteja na série D.
Sob sua visão o XV de Novembro tem condições para ir para a série A, que é a principal?
O XV de Novembro já disputou as séries D, C, B e a série A também. Nossa cidade hoje tem em torno de 380.000 habitantes, tem estrutura para isso. É uma cidade que participa, vai ao estádio, e a partir do momento em que o XV começa a colher bons resultados, já temos visto isso, o campo fica cheio de torcedores.
Está sendo feita uma campanha bastante motivadora para que o torcedor associe-se ao XV de Piracicaba?  
A pessoa pode associar-se pagando os valores de R$ 25,00, R$ 40,00 e R$ 70,00 além de poder freqüentar aos jogos o associado tem uma série de benefícios diretos, como descontos em estabelecimentos comerciais, agora além dos descontos nos ingressos há também os descontos de todos os conveniados do XV. O associado que paga R$ 25,00 paga meio ingresso na geral, o associado que contribui com R$ 40,00 pagará meio ingresso no Campeonato Paulista em Piracicaba e o contribuinte com R$ 70,00 entra de graça em qualquer parte do campo. A Ponte Preta tem 8.000 associados. O Guarani tem 4.000 associados. O XV de Novembro tem 736. Se Campinas tem 1.900.000 habitantes, em contrapartida tem dois times rivais entre si. Piracicaba tem só o XV de Novembro.
Ninguém pode negar o carisma que o XV de Novembro exerce em qualquer parte do Brasil. Basta o piracicabano ser reconhecido como tal, uma das primeiras perguntas que lhe é feita é: Como está o XV de Novembro?
Dinival Tibério presente a entrevista dá seu testemunho: “Fui a praia, estava com minha neta, brincando na praia, com a camisa do XV, duas moças pararam e ficaram olhando minha neta e eu brincando na praia, até que uma delas aproximou-se e disse-me que morava no Rio de Janeiro, onde há uma torcida organizada do XV de Novembro no Rio de Janeiro, já tinham estado no Estádio Barão de Serra Negra em Piracicaba, assistindo ao jogo do XV de Novembro, queriam a todo custo adquirir a camisa do XV que eu estava usando, sorteei entre as duas e dei a uma delas”. Quando transmitimos jogos do XV de Novembro recebemos e-mail de muitos países querendo adquirir a camisa do XV de Novembro.  É possível associar-se ao XV pela internet, basta entrar no site www.nacaoxv.com.br, você recebe a sua carteirinha de associado em casa, pode pagar as mensalidades pela internet ou por boleto. Quem ficar sócio do XV ganha o livro dos 100 anos do XV.
Em que local o piracicabano pode adquirir a camisa do XV de Novembro?
Um dos locais é a própria loja do XV, sendo que o associado tem desconto.
Qual é a visão da imprensa piracicabana com relação ao XV de Novembro?
A imprensa dá muito apoio.
Quantos diretores integram a direção do XV?
Hoje eu, Adilson, e o Ivan Oriani fazemos parte da diretoria do XV na categoria amador. O presidente do XV é o Rodrigo Boaventura e o Vice-presidente de futebol é o Renato Bonfiglio.
O uniforme do time amador e do quadro principal são iguais?
São idênticos.
Qual é o tempo de treinamento que o atleta tem que se dedicar ao XV?
No Sub-20 o tempo de treinamento é o período integral.
O candidato acha que reúne condições ideais para ser um bom jogador, qual é o procedimento que ele deve ter para ingressar no time?
Primeiro passo é passar por uma avaliação médica. A seguir procurar o supervisor da base, que atualmente é o ex-jogador Carlos Quirino, o Carlão, ele fica no próprio XV, no Departamento Amador. Será preenchida uma ficha, o candidato passará a fazer um treinamento.
Como são vistos os campos de propriedade particular que existem na cidade?
São campos que preservam o gramado, não são cedidos com facilidade. Os times de base já usou muito os campos da Esalq, da Usina Costa Pinto, hoje o que está sendo mais utilizado é o da Usina Modelo e o Monte Alegre, o campo do Tiro de Guerra, e o campo da Área de Lazer. Estamos para fazer uma parceria com o Clube Atlético Piracicabano para o Sub-15, Sub-17 e alguns jogos do Sub-20. Possivelmente no final de janeiro de 2015 deveremos passar a usar esse campo também.
Uma interação com cidades vizinhas pode dar uma dinâmica maior aos treinamentos das categorias de base?
Sem dúvida alguma! Hoje posso salientar que estamos trabalhando exclusivamente com jogadores da cidade. Acho que podemos através do poder público oferecer um lanchinho frugal, composto por uma fruta e algum alimento energético, como pão, suco. Coisas simples. Vejo como necessidade durante as partidas a disponibilidade de uma ambulância que possa atender a necessidade em qualquer partida que esteja em andamento, não há a  necessidade de uma ambulância em cada campo. Isso nos jogos de categoria de base, algumas cidades da região disponibilizam esses recursos.
Há uma imagem de que quando o time de base descobre algum valor expressivo, ele transfere esse jogador a algum time interessado, o motivo principal é angariar fundos para subsistência do time. Isso é fato?
Sem duvida. É o caso do Paulinho, se ele vingar no Flamengo financeiramente para o XV será muito bom o retorno. Principalmente os quatro times grandes, em especial o Santos, trabalham muito as categorias de base. O Santos atualmente está recebendo bons dividendos das categorias de base, ele está revelando grandes atletas.
Piracicaba tem como fazer isso?
Estamos voltados para isso. Estou com essa função dentro do XV. Evitar a evasão de valores em potencial. Valorizar outros da região e trazê-los para o XV.
O atleta permanece no XV ou em suas casas?
Tem alguns juniores que são de outras localidades, uns quatro ou cinco jogadores, que tem o próprio alojamento.
Como é a alimentação dos atletas?
Muito boa. Eu estranhei quando vim ao XV. Tem nutricionista acompanhando. Uma estrutura excelente.
A camisa que neste momento você está usando tem uma história?
É da Seleção Brasileira de Futebol. Ganhei do Gabriel Silva que jogou comigo, fui técnico dele. Ele jogou no Sub-15 e deu a camisa para mim na época. Hoje ele está no Palmeiras e foi para o Lazio (Società Sportiva Lazio) em Roma

REVERENDO SÉRGIO PAULO MARTINS NASCIMENTO

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 03 Janeiro de 2015.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADO: REVERENDO SÉRGIO PAULO MARTINS NASCIMENTO  IGREJA PRESBITERIANA DO BRASIL – PIRACICAMIRIM





O Reverendo Sérgio Paulo Martins Nascimento nasceu em Campinas a 4 de agosto de 1960, filho de Noêmia Martins Nascimento, nascida em Avaí, interior de São Paulo,  e Joel Silva Nascimento, sergipano da cidade de Riachão dos Dantas, que veio para São Paulo ainda muito jovem. Os dois se conheceram na Igreja em Campinas, no bairro Campos Elíseos. Seu avô paterno é presbiteriano desde 1914. O casal Noêmia e Joel teve cinco filhos: Sérgio, Raquel, Edson Fernando, Carlos Eduardo, Julia Maria além de uma irmã adotiva, a Araceli.
Em que ano o pai do senhor veio para Campinas?
Foi em 1956, veio para trabalhar como carpinteiro em uma construtora, que depois veio a ser a famosa Lix da Cunha. Ele desenvolveu a carreira até ser mestre de obras.  Aposentou-se após trabalhar por mais de quarenta anos na mesma empresa. É algo raro em um setor que tem grande rotatividade de funcionários.
O senhor iniciou seus estudos em que escola?
Estudei no Colégio Padre José dos Santos, no bairro Campos Elíseos, na mesma rua morava a hoje atriz consagrada Regina Duarte, o Luiz Ceará, jornalista esportivo, eram pré-adolescentes, era da nossa turma, estudou conosco, o jornalista da TV Globo Heraldo Pereira. Campinas deu muitos artistas para a Globo: Claudia Raia, Luis Scamparini, Maitê Proença, Faustão. Nessa escola fiz até o ginásio. Depois fui estudar o segundo grau no Vitor Meirelles.
O senhor trabalhava nessa época?
Sempre trabalhei!  Comecei a trabalhar desde os oito anos. Meu avô materno, Sebastião, gostava de plantar alface eu colocava em uma cestinha de vime e saía vendendo pela vizinhança. Vendia pipoca. Tinha uma senhora negra que tínhamos um carinho muito grande por ela, ela fazia uma paçoquinha de amendoim muito boa, eu vendia, ajudava-a e eu sempre tinha uns trocadinhos, vendi picolé. Nunca tive problema com trabalhar. Tem até uma coincidência interessante, aos 12 anos eu vendia pamonha de Piracicaba.
Como a pamonha de Piracicaba chegava a Campinas?
No centro da cidade, no Largo do Rosário, tinha um estacionamento, e um rapaz ia com uma Kombi de Piracicaba à Campinas, isso todos os dias. Levava curau, pamonha e bolo de milho. Ele então distribuía para alguns meninos que pegavam por consignação, no final do dia fazia o acerto com ele. Na época eu vendia uma média de cem pamonhas por dia! Saia às oito horas da manhã, caminhava a pé pelos bairros, vendendo de porta em porta. A escola eu freqüentava a noite.
O fato de o senhor não ter tido muito tempo para brincar quando era criança o prejudicou em alguma coisa?
Não, acredito que não me prejudicou em nada. Eu gostava de jogar bola, jogava muito, mesmo com todas essas atividades eu tinha o sonho de ser jogador de futebol, era o sonho de todo garoto daquela época. Dentro das possibilidades todo final de semana jogava futebol.
Um jogo clássico de Campinas é do Guarani Futebol Clube e Associação Atlética Ponte Preta, qual é o time do seu coração?
Sou pontepretano! Ia assistir aos jogos, participei das “peneiras” lá da Ponte Preta, comecei a jogar, como centro-avante, era mais meio-direita. Fazia muito gol. Aos finais de semana, as vezes durante a semana frequentávamos a Igreja Prebisteriana do Brasil – Campos Elíseos.
A Igreja Presbiteriana mantém alguma ação social em Piracicaba?
Mantemos a Associação Cristã de Filantropia que mantém o Projeto Crescer. Uma entidade que tem repercussão no Brasil todo é a Universidade Presbiteriana Mackenzie. A mantenedora do Mackenzie é a Igreja Presbiteriana do Brasil. Foi iniciada por missionários presbiterianos, em uma época em que infelizmente havia muita discriminação contra protestantes, judeus e negros então recém-libertos. Os filhos dos missionários não tinham como estudar nas escolas, os missionários que chegaram aqui abriram essa essa escola que era acessivel a negros, judeus e protestantes. (O Instituto Presbiteriano Mackenzie iniciou suas atividades em 1870. Fundado pelo casal de missionários presbiterianos George e Mary Ann Annesley Chamberlain‎. Três crianças, sendo dois meninos e uma menina, foram os primeiros alunos de um sistema educacional em turmas mistas, sem os castigos físicos adotados na época. Em 1879, Dona Maria Antônia da Silva Ramos, baronesa de Antonina, vendeu ao Reverendo Chamberlain, por 800 mil réis, área de sua chácara em Higienópolis. Em 1880, adquiriu-se uma área de 27,7 mil metros quadrados no bairro de Higienópolis. Aceitando a proposta do jornalista José Carlos Rodrigues, adotou-se o nome de Escola Americana. A fama da Escola Americana não se restringia ao Brasil, chegando aos ouvidos do advogado americano John Theron Mackenzie que, sem nunca ter vindo ao Brasil, fez constar em seu testamento, em 1890, uma doação à Igreja Presbiteriana americana para que se construísse no Brasil uma escola de Engenharia. Desta forma, tem início o nome utilizado até hoje: Mackenzie.). Além do Mackenzie temos escolas esplhadas pelo Brasil todo, hoje são mais de 80.000 alunos. Temos dois grandes hospitais: um em Rio Verde (Goiás) e outro em Dourado (Mato Grosso do Sul). São hospitais da igreja.
Com que idade o senhor definiu qual seria a sua trajetória profissional?
Aos 18 anos eu já tinha uma clareza do que deveria fazer em relação ao chamado ministerial. Entendi a vocação, especialmente com o foco de povos não alcançados com o evangelho. Eu era muito ligado ao meu avô materno, ele morava conosco, e todos da família dizem que eu sou o mais parecido com ele, inclusive fisicamente. Eu deveria ter de quatorze para quinze anos quando um dia ele convidou-me para ir a uma reunião que haveria em uma casa naquela semana, acho que foi em uma terça-feira. E para incitar a minha curiosidade ele disse-me que deveria encontrar um grupo de indígenas naquele lugar. Eu nunca tinha visto um índio em minha vida! A noção que a população tinha de índios era distorcida. A curiosidade natural de adolescente me levou a ir com meu avô nessa reunião de oração e estudo bíblico. Encontrei um grupo de cinco índios, guaranis e terenas, vindos de Dourados, Mato Grosso do Sul, também protestantes.
Índios protestantes?
Exato! Eles vieram, estavam dando testemunhos de Jesus, falando e cantando em suas próprias línguas. Aquilo me chamou muito a atenção. A barreira que existia entre nós caiu por terra. Comecei a me perguntar, se tem esses têm outros! Onde estão os outros? Se tiver mais grupos, quem são esses grupos? Onde eles estão? Isso me levou em minha curiosidade de adolescente a pesquisar, aí descobri que nós tínhamos centenas de etnias no Brasil, todas diferentes, e que todas precisavam ter a oportunidade que aqueles estavam tendo de também ouvir o evangelho de Cristo. De uma forma genuína, clara. E lógico que a decisão seria deles. Mas teria que ter essa apresentação do Cristo do Evangelho, para eles também. E não só para eles, aí passei a verificar a partir de pesquisas que fiz naquela época, na década de 70, que havia muitos outros grupos nas mesmas condições, denominados grupos tribais, localizados na África, na Ásia, em várias partes do mundo, que também tinham a mesma necessidade. Aí então passei a me especializar nessa área. Entrei para fazer teologia, com foco na missiologia, para trabalhar em prol da evangelização desses povos não alcançados no mundo. Fui para uma escola específica de treinamento teológico, em Jacutinga, Minas Gerais, Instituto de Treinamento Missiológico Peniel.
Qual é o significado de Peniel?
É uma palavra hebraica que significa face a face com Deus. Jacó deu o nome a esse lugar, foi quando ele lutou com Deus e teve a sua vida transformada, e ai passou a ser chamado Israel. Jacó significa usurpador. Israel quer dizer “Príncipe de Deus”. Jacó lutou com Deus para o seu caráter ser mudado. Deus o tocou na coxa e ele ficou manco a partir daí. Um sinal dessa luta com Deus que lhe disse: “-A partir de agora serás chamado Israel”.
O senhor ficou por quanto tempo freqüentando essa escola?
Todo o curso são cinco anos de duração. São várias fases, tem a parte teológica, a parte missiológica, o treinamento de selva, como íamos trabalhar em contexto de selva com povos nativos, e até mesmo com povos não alcançados em contato com a sociedade envolvente, tínhamos que ter um treinamento específico. Fui entender o valor quando tive que colocar em prática. Além de aspectos como antropologia, lingüística, fonética.



Quantos idiomas o senhor domina?
Além do português, o inglês, comunico-me bem em espanhol, e as línguas tribais, quando você está com eles desenvolvemos, depois se acaba perdendo o domínio por falta de uso. Para se ter uma idéia, tenho aqui umas dez línguas de bíblias já traduzidas. Tenho uma do grupo que trabalhei quando tinha quatorze anos, e foi entregue traduzida no ano passado. Outra é da Guiana Francesa, tem outra que é dos nativos dos Andes, tanto no Peru como no Equador, são índios da região andina. Outra é uma região de Goiás. Outra bíblia está traduzida para o idioma dos índios do Paraná e Rio Grande do Sul. Outra é de índios do Maranhão. Cada bíblia dessas está na língua falada pela tribo, e são totalmente distintas. Quem traduz a bíblia para cada uma dessas línguas são missionários. É um trabalho que consome praticamente uma vida inteira. A que levou menos tempo, foi feita em oito anos. A Bíblia só está traduzida em 443 línguas, para um universo de 6.600 línguas faladas no mundo. È feito um dicionário que antecede a tradução da Bíblia. Um deles está aqui, estive com esse grupo, fui o diretor, esse trabalho foi lá em São Gabriel da Cachoeira na divisa com a Colômbia, era uma língua ágrafe (que não tinha grafia), até quatro anos passados. Em, suas mãos está o dicionário que trabalhou a grafia da língua. È um grupo pequeno, deve ter uns duzentos indivíduos, aqui temos o glossário semântico gramatical desse povo, com tradução para o português. É o projeto inicial, que é quando você trabalha a questão da grafia, a partir dos fonemas, e ai você vai descobrindo os substantivos, os verbos, advérbios, pronomes. A partir disso é formatada a grafia. Na formatação da grafia você vai partir para outro prisma que é a tradução. É um trabalho longo, árduo, demorado. Normalmente isso leva uns 20 anos. Só após definir a grafia é que se elabora a tradução.  A tradução geralmente é feita dos originais, grego, hebraico, para a língua então estudada. E não do português para a língua recém codificada. Existem os colecionadores de Bíblia, Antonio Cabrera, que inclusive foi Ministro da República, ele é presbiteriano, mora na região de São José do Rio Preto, é o maior colecionador de Bíblias do Brasil senão do mundo. As que eu apresentei a você tem uma participação direta ou indireta do meu ministério. Algumas dessas eu estava lá, entregando o trabalho pronto.


                             BÍBLIAS TRADUZIDAS NOS MAIS DIVERSOS IDIOMAS INDÍGENAS BRASILEIROS, ALGUMAS DEMORARAM ATÉ 30 ANOS PARA SEREM TRADUZIDAS, UMA VEZ QUE TEM QUE PRIMEIRO SER ELABORADA A GRAMÁTICA INDÍGENA EXISTENTE APENAS DE FORMA ORAL. 
Pode-se dizer que é muito semelhante ao trabalho que os monges faziam nos mosteiros há alguns séculos?
Exatamente! O meu foco foi trabalhar com esses povos, fui para a Amazônia, mais especificamente Santarém, no Pará, nessa ocasião era recém formado, tinha 22 anos, recém casado com a minha esposa Marlene Xavier Nascimento, temos dois filhos, Felipe e Guilherme.  A Marlene tem a mesma formação, nos conhecemos na igreja, ela estava especializando-se nessa área, casamos. Mais tarde ele veio a fazer mais outras faculdades, inclusive formou-se em Direito. Eu sou formado na área de Missiologia e Teologia. Fiz posteriormente o mestrado. Atualmente estou terminando o mestrado em Antropologia Cultural. Tenho a intenção de voltar à academia.   



Algumas pessoas chegam a determinada idade e sentem-se já maduras demais para continuarem a estudar, isso é uma lenda?
É uma lenda e ao mesmo tempo preguiça! A pessoa nessa situação tem um sentimento de inutilidade. Há pessoas que chegam a um determinado tempo da vida que não se consideram mais úteis. Acredito que isso é um fator cultural, considera tudo que é velho como imprestável, não serve para mais nada. Isso é também com referência ao idoso. É diferente da cultura oriental, onde o idoso é venerado. Nesse aspecto a cultura oriental é muito superior a nossa. Valorizam as pessoas mais experientes. Como o país está a cada dia envelhecendo mais, acredito que essas mudanças têm que ocorrer. Tem que haver uma conscientização. O Brasil está envelhecendo, a média de vida hoje é de 74,2 anos. E isso tende a aumentar cada vez mais. Está na hora de quebrar esse paradigma de que o idoso é inútil. Atualmente, pela pressão social e cultural a pessoa considera que ao chegar a determinada idade não tem mais o que fazer. Eu não creio nisso, enquanto tivermos fôlego de vida estamos ai. Estando ai e temos muito que fazer. Se for possível você fazer, atualizar-se, reciclar, conhecendo novos desafios. Eu vivo de desafios, sempre fui assim.
A primeira missão que o senhor realizou deu-se em que local?
Fui trabalhar com um grupo que ainda estava em fase de reconhecimento da existência ou não deles, fiz parte de uma equipe que tinha chegado antes de mim, fui fazer parte desse grupo. O trabalho era o reconhecimento ou não desse grupo tribal, havia vestígios em uma determinada área, próxima a cidade de Oriximiná, uma cidade do Pará, quase chegando ao Amazonas, próxima ao sul de Roraima, junto a um afluente do Rio Trombetas. Fui fazer contato com esse grupo, chamado de grupo arredio, em contato com a sociedade envolvente. Eu ficava por três meses na selva, minha esposa e meu filho recém-nascido ficavam na cidade de Santarém, lá era a nossa base. Subíamos levando 14 horas de barco, até Oriximiná, e depois andávamos cerca de 150 quilômetros na selva. A pé. Com a mochila nas costas, cada um levando o necessário para passar dois a três meses.
Aí que entra a importância do treinamento de sobrevivência na selva?
Exatamente! É ai que sentimos a importância do treinamento. Hoje é tudo mais fácil, existe o auxilio de GPS, roupas apropriadas. Naquela época entravamos uma selva usando Kichute (calçado, misto de tênis e chuteira, produzido no Brasil desde a década de 1970 pela Alpargatas). Ele era um calçado que não escorreva muito.
Como era feita a alimentação?
Alimentação encontrada na selva. Caça, pesca, frutos. Nós estavamoe em uma fase de contato, que chamavamos de “varação”, tinha que abrir uma picada na selva, não havia muito tempo para parar. A gente comia na medida em que ia encontrando coisas pelo caminho. Muita castanha do Pará, muito açaí, pupunha ou palmito do açai.
Os riscos eram enormes. Uma picada de cobra como poderia ser curada?
Nós levávamos soros antiofídicos eficazes contra o veneno de cobras conhecidas. Passamos por momentos dificeis, mas Deus nos livrou de todos eles.
Você portavam armas?
Sim, mas para caçar  para sobrevivência, era uma cartucheira simples. Jamais para ataque humano. Tinhamos um slogam “ Morremos, mas o indio não”. Estavamos prontos para morrer se necessário fosse, mas não iriamos reagir em hipose alguma para tirar a vida de ninguém. Estávamos conscientes do preço que iriamos pagar caso tivesse algum contato beligerante.
Como foi esse contato?
O contato foi interessante. Descobrimos a existência deles, inicialmente por um sobrevoo que fizemos, identificamos uma clareira na selva, conseguimos baixar com o avião que haviamos alugado, quando nos aproximamos dessa clareira a percepção foi clara de que era uma aldeia, ao baixarmos um pouco mais começou a vir flechadas em nossa direção, percebemos então que tinhamos sido identificados e que havia ali um grupo de seres humanos. A reação deles foi em ddcorrência de que nunca tinham visto aquilo. Aí fomos fazer o contato pessoal por terra, quando mais ou menos estabelecemos esse lugar, já tinhamos aberto uma clareira, tinhamos feito uma espécie de uma cabana, para ficarmos ali até que fossemos entrando, para não chegar imediatamente. Nas trilhas que percebemos, fomos colocando panos vermelhos, espelhos, facão, machado, que faz parte do processo de atração. Um dia os colegas tinham saido para caçar, tinham andado umas seis horas dentro da mata, deram de encontro por acaso com homem, uma mulher, uma criança e um idoso. Os colegas estavam voltando com a caça, tinham abatito um catitu, resolveram repartir ali como sinal de amizade. Já havia a perceção de que eles já estavam sabendo da nossa existência ali. Mais do que imaginávamos. Até porque a mulher estava com um pano desses que haviamos deixado. A principio os dois homens o mais novo e o mais idoso tentaram reagir para proteger a mulher e a criança, sem agreção, porém protegendo-os. O colega que estava com o catititu, ou porco do mato, nas costas, fez sinal de que ia repartir, Eles aceitaram e foram embora. Ele fez um sinal e entenderam que três ou quatro dias desceriam todos para lá. Nessa ocasião desceram os guerreiros mesmo, foi um momento muito tenso. O contato foi sendo estabelecido aos poucos. Essse grupo chama-se Zoé, durante a Copa do Mundo o Ronaldo e o Lucian Huck estiveram lá, entregaram bolas para eles.
O inicio do contato era feito por mímica?
A princípio era feita a comunicação por mímica, Depois fomos descobrindo, aprendendo a lingua, descobrimos que o tronco deles era Tupi-Guarani.
Quanto tempo o senhor permaneceu lá?
Fiquei dois anos e meio. Dormia em rede. Claro que não fiquei o tempo todo lá, vinha para a cidade, passava um tempo com a família. Quando estabelecemos contato abrimos uma pista para aviões, até que contruíssemos as casas para as esposas virem com os filhos. De lá fui para a Guiana Francesa, em São Jorge, divisa com o Oiapoque.
Qual era o idioma naquela região?
Era o francês. Embora na divisa com o Brasil exista uma língua utilizada que é uma mistura do créole, de influência africana, tinha o patuá, que é uma mistura do creóle, francês e línguas tribais maiores que existiam ali. Era uma Torre de Babel! Ouvíamos muitas línguas ao mesmo tempo.
Como é possível pregar para essas pessoas?
É um grande desafio! Primeiro tem que conhecer a língua. A língua que fala ao coração é a língua dele, não é a minha. Nosso objetivo não é cristianizar. Evangelizar é diferente de cristianizar. A evangelização parte do principio de que a pessoa tem o conhecimento de Deus. Inerente a própria raça humana. Esse conhecimento como Paulo diz, pelas coisas criadas os ensinamentos de Davi: “Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras das suas mãos.” O ser humano, não importa em que condição ele esteja, ele tem o conhecimento intrínseco de que existe um ser superior, de que existe um Deus. Por mais que os ateus queiram questionar isso, essa é a minha verdade de vida, em contexto até com os que não têm contato nenhum com a chamada civilização. Cristianização nada mais é do que cristianizar as pessoas. A evangelização parte do princípio de ele tem um conhecimento de Deus, desse Deus criador, por exemplo, algumas tribos têm um Deus que é um dos muitos deuses, só que esse Deus é um Deus bom, criador, que dá o sustento, nos cultos dentro do contexto tribal, na sua liturgia cultica, era o único dos deuses nesse Panteão de deuses que havia a participação da família nessa celebração: esposa, filhos, avós, de todo o grupo. Os outros tinham só a participação dos homens onde geralmente havia o consumo da bebida alcoólica feita através da mandioca, milho. Havia muita briga entre eles. Embriagavam-se, drogavam-se.
Qual droga era a mais usada por eles?
Eles retiravam de um cipó, transformavam em uma espécie de pó, e inalavam. A semelhança de uma cocaína, provocando um efeito alucinógeno. Nesses rituais pode ocorrer até morte. Nesse ritual em que todos os membros da tribo participam, as famílias, isso já não tem o risco de acontecer.  Quando o missionário na época chegou lá e foi morar com eles, fazer a grafia da língua, convivendo durante 20 anos, e vendo esses cultos, ele identificou nesse Deus bom, o mesmo Deus que nós cremos. O missionário disse-lhes: “ Esse Deus que vocês cultuam, é um Deus bom, é um Deus que criou todas as coisas, é o Deus que provê as nossas necessidades para a nossa subsistência, não é como os outros deuses que vocês tem medo, por isso vocês constroem as casas altas com medo desses deuses entrarem em suas casas e levarem seus filhos. Para eles ficou a história desse Deus bom ter um filho e esse filho chama-se Jesus que veio para redimir, ser a salvação. A evangelização parte desse principio. Isso não é possível com todos, isso porque esse Deus bom é um Deus casado, que já teve outros filhos. Nesse caso a comparação não dá para ser usada. Mas existem casos em que o Deus é um Deus superior mesmo, que não teve filhos. A partir desse principio que ele já conhece culturalmente, transmitido de forma oral, fica mais fácil para introduzir Jesus como sendo filho desse Deus.
Essas tribos cultuavam alguma imagem?
Todos eles tinham o culto animismo. Tudo é Deus, todas as nossas etnias no Brasil são animistas. Cultuam árvores, animais. O ser humano é animista na sua origem religiosa, intrínseca da natureza humana, ele é um religioso animista. Quando ele vem ter a idéia de um Deus trino: Pai, Filho e Espírito Santo, o animismo fica relegado a um segundo plano.
Os missionários em atividade, para integrar-se a um grupo, tem os mesmos hábitos desse grupo?
Não éramos obrigados e nem nós obrigávamos eles a nada. Essa é a grande questão, eu nunca serei um índio e eles nunca serão como os brancos. Às vezes somos bombardeados pelos antropólogos, de uma forma geral, quando eles afirmam que nós estamos querendo mudar a cultura desses povos. Nós não queremos mudar a cultura de ninguém.
A reserva Raposa do Sol tem qual significado nesse contexto?
É muito complexo. Embora nós já temos na reserva muitos protestantes. Ali tem uma complexidade de fronteira, a Amazônia como um todo é muito complexa. Só que o nosso foco é o ser humano, não importa se for trabalho com nativos na Índia, África, já estive em todos os continentes.
Após permanecer na proximidade de Oriximiná qual foi sua próxima missão?
Após dois anos e meio em Oriximiná fui para a Guiana Francesa, onde permaneci um ano, trabalhava no treinamento e capacitação de lideranças. É um território francês até hoje, inclusive a moeda que circula é o Euro. É o único lugar nas Américas onde o Euro é a moeda corrente..De lá vim para Anápolis, em Goiás, trabalhar no setor de administração, treinamento. na sede da base missionária onde iria trabalhar. Nunca perdi o foco, ia e vinha atuando nessa área. Em paralelo fiz consultoria em várias áreas, com outras agências, inclusive com americanos, alemães, ingleses, estrangeiros que vinham ao Brasil e queriam atuar com os povos nativos. Atualmente a maior parte do trabalho da missão é feita por brasileiros.

A sede nacional da Igreja Presbiteriana do Brasil situa-se em que localidade?
Fica em Brasília. Tem um presidente que é eleito pela Assembléia Geral a cada quatro anos, atualmente é o Reverendo Roberto Brasileiro.
O senhor viajou por quantos países?
Já estive em 36 países. Sempre trabalhando. Em alguns atuo até hoje, sou diretor já faz 20 anos desse departamento da igreja: APMT Agencia Presbiteriana de Missões Transculturais, temos hoje missionários espalhados por 44 países, somos cerca de 140 famílias missionárias (marido, esposas, filhos). Casais que estão em Angola, Moçambique, Guiné Bissau, Senegal, África do Sul, Europa: Portugal, Inglaterra, Espanha, Itália, Romênia, Albânia, temos missionários brasileiros presbiterianos presentes nesses países.
Qual país tem uma presença presbiteriana maior?
Estados Unidos e Coréia do Sul. A palavra “presbiteriano” significa um sistema de governo. É a igreja governada por presbíteros. Presbíteros são os lideres eleitos pela comunidade para ser a sua liderança.
Quantos presbiterianos temos em Piracicaba atualmente?
Pouco mais de mil fiéis. Estou calculando uma média de 200 por igreja, são cinco igrejas.
Existe algum cemitério presbiteriano em Piracicaba?
Não temos. Os reverendos Astrogildo de Oliveira Godoy  e Ademar de Oliveira Godoy que por muitos anos foram presbiterianos, ao falecerem foram sepultados no Cemitério Parque da Ressurreição. A Igreja tem algum endereço para contato via Facebook, que é: Igreja Presbiteriana do Piracicamirim. E também tem o meu pessoal que é:  Sergio Paulo Martins Nascimento.
O que o trouxe à Piracicaba?
Eu vim para Piracicaba em 1999, foi uma história interessante, eu estava em Casa Branca nessa época, após cinco anos de permanência lá, dentro do contexto do que podia fazer naquela localidade cheguei a um ponto de buscar novos desafios, temos vários projetos em andamento, são trabalhos muito sérios, um deles é a recuperação do dependente químico (alcool). Chama-se NECI (Núcleo Evangélico de Cura Interior), esse tem um site. Trabalhamos a idéia de que o alcoolismo precisa de uma cura interior. O foco é o alcoolismo, com a grande expansão de pessoas com outras dependências químicas acabamos recebendo-as. Estamos lá ha 18 anos, Tem uma equipe que trabalha lá, sou diretor fundador do projeto, atuo como diretor conselheiro, continuo assessorando a equipe que permanece lá no dia a dia.
Há controvérsias sobre a urbanização de povos até então vivendo em seus redutos?
Hoje a grande questão tribal é que estamos vivendo um processo, cada vez mais crescente, de aproximação dos indígenas dos grandes centros urbanos. Os aldeados estão se tornando minoria.  O que mostra essa questão do ser humano de buscar a melhoria de vida. Por mais que exista o desejo de afirmar que o indígena deveria ficar no seu contexto eles não irão ficar. È da natureza do próprio ser humano. Sempre trabalho o indígena, o nativo, por isso preservamos a língua através do Novo Testamento, através da grafia, na preservação da língua é preservada a cultura também. Se perder a língua perde a cultura. Se você for para uma região onde há uma aproximação dos centros urbanos, principalmente os adolescentes resistem em falar a língua da sua tribo. Querem falar a língua portuguesa. Quer acesso a tecnologia, a mídia. Isso prova que são seres humanos. Temos uma organização que tem a sede em Dourados, Mato Grosso do Sul, chama-se Missão Evangélica Caiuá, ligada à Igreja Presbiteriana. Trabalha com os Caiuá e com os Guaranis,Terenas, vai fazer 80 anos essa organização. Lá temos o hospital indígena, inclusive hospital para crianças desnutridas que chegam das aldeias, e o hospital de atendimento à população indígena. Essa organização acabou sendo convidada pelo Governo Federal para assumir a questão da saúde indígena em quase todo Brasil. Eu acabei de assumir a direção dessa entidade, Só o convenio que existe com o Governo Federal são mais de 300 milhões de reais por ano. Mais de 800.000 atendimentos por ano, da população indígena. Temos médicos, enfermeiros, dentistas, são equipes multidisciplinares. o atendimento é feito “in loco”. Vão às aldeias.. Eu assumi, vou tomar posse agora como Diretor da Missão Caiuá. É um grande desafio. Pelo que tenho analisado são mais de 7.000 funcionários espalhados nesses convênios que são convênios anuais, renováveis. Fiquei sabendo que ia assumir na Assembléia Geral que se realizou na igreja. Eu até levei um susto. Com isso a gente tem muita atividade, cuida desde a saúde indígena, cuida da evangelização, dos projetos educacionais, projetos sociais.
O senhor mencionou que os indígenas estão em contato a tecnologia, de que forma?
Nas aldeias mais próximas das cidades a maioria dos jovens adolescentes está com computadores e tablets. Em Dourados temos seis escolas grandes, em uma delas a nossa igreja aqui de Piracicaba construiu uma sala ampla que se tornou a biblioteca para eles. Isso foi em uma aldeia próxima da cidade de Amambai.  
O que o senhor pode nos informar sobre a Associação Presbiteriana de Filantropia de Piracicaba?
É uma atividade que é muito cara aos meus olhos e coração. Há oito anos criamos esse projeto aqui. Sou o presidente dessa entidade, que tem o Projeto Crescer como o seu projeto. O objetivo é cuidar das crianças, que as chamo de minhas crianças, portadoras de Síndrome de Down, déficit intelectual.
São quantas crianças que estão freqüentando a Associação?
Hoje são 18 crianças. Nosso projeto é manter 20 crianças. Isso no espaço que temos. Agora estamos com um desafio, ampliarmos fisicamente nossas instalações, já temos o local, o projeto aprovado, estaremos iniciando nos próximos dias a construção desse projeto. Fica no Jardim Califórnia, próximo ao Jornal de Piracicaba. Esse é o nosso desafio, um desafio para nós e para a cidade. Esse projeto é mantido por voluntários, os associados, hoje temos uma parceria com a prefeitura através da Ação Social, temos o reconhecimento como entidade de utilidade pública da cidade. O nosso alvo é nessa sede atender até 190 crianças por dia, de manhã e a tarde. Ela irá ter essa capacidade para atender por dois períodos até 190 crianças. Hoje nosso foco é trabalhar com adultos, portadores da síndrome de Down, é a nossa principal meta. É um grupo que não tem muita gente trabalhando com eles. Nosso desejo é construir essa sede nos próximos 18 meses. Já temos o apoio do Fórum local, que nos ajudou para dar um início.
Esse projeto originou-se como?
Na verdade veio de um sonho muito antigo, quando vi inclusive crianças indígenas com síndrome de Down.
Lenda ou não, há uma noção divulgada de que as crianças indígenas com síndrome de Down são sacrificadas.
Alguns são. Depende do grupo. É uma luta nossa, o articulador da lei é um presbiteriano, o pastor Henrique Afonso, deputado federal, inclusive ele e a esposa adotaram como filhos deles duas crianças indígenas que seriam sacrificadas. Há uma corrente de antropólogos que defendem esse procedimento praticado por alguns grupos, alegam que faz parte da cultura. Alguns classificam os indígenas em um sub raça e outros em uma sobre raça, uma visão antropológica equivocada onde colocam o indígena um patamar acima dos demais seres humanos.    
Aberrações dessa natureza, outras totalmente contestáveis nasce em uma das mais conceituadas universidades do país. Isso é um esnobismo pseudo-intelectual?
Não tenho como definir o porquê isso acontece. Uma das coisas que também é verdade, na preservação desses grupos nativos “in natura” é que muitos antropólogos irão perder suas fontes de pesquisas. Isso é esmurrar o vento. Vai ter um fim.
Qual é o horário do culto na Igreja Presbiteriana do Brasil – Piracicamirim?
Nossos cultos semanais é das 9:00 horas da manhã até as 10:00 horas, depois temos a Escola Bíblica Dominical, que começas as 10:10 horas até as 11:00 horas, voltado para crianças, jovens e adultos. Só que dividimos em faixas etárias para estudarmos a Bíblia em faixas etárias e a noite das 19:00 às 20:00 horas, com estacionamento próprio.
Que mensagem o senhor quer passar para o ano que se inicia?

Por natureza sou otimista, nasci com esse otimismo, tenho a fé em Deus acima de tudo, o ser humano tem grandes possibilidades a partir do seu encontro com Deus. Nesse encontro com Deus e com outro ser humano muitas coisas podem ser mudadas e transformadas para melhor.  A minha fé em Deus é que nesse encontro dos homens com Ele as pessoas se transformem e nessa transformação a sociedade ganhe pessoas melhores. Voltadas mais para o todo do que para si mesma. Temos esse momento histórico denominado pós-modernismo que levou as pessoas a uma individualização muito grande a olhar só para si, para seus próprios interesses, esquecendo do interesse coletivo. Esquecendo da esposa, do esposo, dos filhos, dos pais, esses valores judaico-cristãos foram se perdendo, muitos são religiosos, hoje há uma profusão de religiões, o que pregamos não é religião, pregamos vida com Deus, que é diferente de religião.  É comprometimento com o Reino de Deus. A igreja é uma agência do Reino de Deus, o Reino de Deus não é guerra, não é comida nem bebida, é justiça e paz. Sabemos que o futuro melhor é no Eterno, embora saibamos que podemos ter aqui novos céus e nova terra. Quero deixar a mensagem de que nunca devemos perder a esperança. A esperança não está assentada no homem, quando está assentada no homem a própria Bíblia diz “Maldito aquele que confia no homem”.  Ela diz “Abençoado aquele que teme o Senhor, ama o Senhor e espera pelo Senhor Deus”. Não significa que não devemos confiar no homem, mas sim que quando a nossa confiança esta só no homem ai nos tornamos amaldiçoados, por quê? Porque o homem é imperfeito. O homem é pecador, corrupto. Quando vemos a corrupção nada mais é do que o ser humano. Ficamos indignados, mas quando olhamos para nós mesmos percebemos que somos tão corruptos quanto. Talvez Freud explique, recriminamos o espelho. De alguma forma a gente se vê naquele espelho do corrupto que foi pego, mas poderia ter sido qualquer um de nós. Por mais que a gente queira, esses não são os meus valores, o ser humano é tendencioso a fazer isso. A única que faz a diferença nos transforma para não sermos assim é a presença de Cristo entre nós. Ai os seus valores passam a ser os nossos. Viver Cristo é diferente de viver a religião. A religião tem normas, uma série de coisas, mas o cristianismo é a Vida de Cristo. Ele não veio para vivermos os valores pregados por ele, Ele veio para vivermos a vida Dele em nós. Sermos como Ele foi. Esse é um princípio do cristão. A palavra cristão quer dizer isso, pequenos Cristos. Quando essa palavra foi introduzida pela primeira vez na Antioquia foi exatamente nesse sentido, antes eles eram chamados de “seguidores do caminho”. Eles passam a serem chamados de cristãos porque eram identificados como pequenos Cristos. Agiam como Cristo. Os que conheciam a vida de Cristo viam naqueles que passaram a chamar de cristãos, as mesmas ações. Paulo disse:”- Você também pode, nós podemos, lutarmos para sermos imitadores de Cristo”. Cristo buscou a paz entre os homens, valorizar o homem, curar suas feridas, acolhe-los em amor, arrepender do erro, quando for necessário. E Ele diz: “Vai e não peques mais!” É o caminho do arrependimento, do reencontro que muda e transforma a vida. Quando entendemos que o cristianismo é mais do que viver o que o Cristo pregou, mas viver a sua vida, então ai há esperança. Porque a nossa vida será semelhante a de Cristo. Nossas ações serão a semelhança Dele. Nosso falar, nosso agir, nosso pensar. Paulo quando escreve aos Coríntios disque “Nós temos a mente de Cristo”. É pensar como Cristo. O pensar como Cristo é olhar as escrituras, a base são as escrituras sagradas. Paulo escreve aos Filipenses quando ele diz “ – Esquecendo as coisas que para traz ficam, olho para as que estão diante mim, sigo para o alvo, todavia, andemos de acordo com o que já alcançamos.” Na medida e que ficamos remoendo o passado, as vezes pensando que o passado foi melhor, ou pior, ai ficamos vivendo no passado e do passado. Por outro lado não podemos ficar vivendo dizendo que o futuro será melhor, e vivendo desse futuro que nunca chega. Tenho que ter consciência de que o passado me ajuda a não cometer os mesmos erros. E esse olhar no futuro se torna melhor na medida em que tomo medidas acertadas no presente. Olhando as experiências passsadas para que eu não cometa os mesmos erros. Meu futuro pode ser diferente! A partir das medidas corretas que eu tome no presente. Preisamos sermos gratos por aquilo que já temos, que já alcançamos, isso em todas as áreas da vida. As vezes a gente fica mais preocupadp com o ter do que o ser, o ser é muito mais ter do que o ter. Muitos esquecem de que a gente tem, sendo. E não tendo. Conhecemos casos de pessoas da sociedade que tem muita coisa mas não são. São vazios, vivem nas angustias, nas depressões, vivem a base de diazepans, de whiskys, encontram nessa forma um refugio, um consolo, uma muleta. Mas porque não teve um encontro transformador com esse Cristo, ainda. Tem coisas mas eles não são. Outros não tem nada e são! São gente, seres humanos que nos ensinam verdades profundas. Estão muitas vezes nas periferias da vida. Creio que precisamos voltar para esses valores. A sociedade evaziou-se desses valores de um modo geral. Foram introduzindo outros valores nessa sociedade pós-moderna. Não existem mais valores absolutos, os valores absolutos são individualizados, é para você, isso não tem influência em mim, eu tenho os meus valores. Precisamos cobrar o valor comum que une um ser humano a outro ser humano a sociedade de uma forma geral para vivermos o bem comum. Vejo isso a partir dessa vida em Cristo. A minha mensagem é de esperança, olhando para um Deus que é, que em Cristo veio, que transforma a nossa vida para que sejamos semelhante a ele. Nesse ser semelhante a Ele teremos um olhar diferenciado para nós mesmos que foi o principal mandamento: “– Amar a Deus sobre todas as coisas e o proximo como a si mesmo”. Isso fará vermos como somos, seres dependentes de Deus. Dependentes uns dos outros. Nem mem melhor nem maior do que o outro. Mas que esse olhar de amor para com o outro seja esse amor que tenha essa reciprocidade que transforma para melhor, sempre. 

Postagem em destaque

      TÉO AZEVEDO E THAIS DE ALMEIDA DIAS     TÉO AZEVEDO E THAIS DE ALMEIDA DIAS       TÉO AZEVEDO E THAIS DE ALMEIDA DIAS             ...