segunda-feira, março 14, 2016

LISABETH CANNAVAM RIPOLI (BETTH RIPOLLI)

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 12 de março de 2016.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://www.teleresponde.com.br/ 
ENTREVISTADA: ELISABETH CANNAVAM RIPOLI 
                               (BETTH RIPOLLI)



Artista renomada  Betth Ripolli no próximo dia 18 de março irá realizar um show em homenagem ao Mês Internacional Das Mulheres. São cinco mulheres tocando diversos instrumentos, Betth toca piano e violão, outras duas artistas tocam saxofone e flauta alternada ou simultaneamente, uma das artistas toca guitarra e baixo e outra toca percussão e bateria. O dinamismo do show envolve o público. Esse show foi eleito no ano passado como um dos melhores da cidade de São Paulo.  Será em Piracicaba, no Teatro  Erotides de Campos (Teatro do Engenho). Betth têm plena consciência de que as pessoas estão cansadas de notícias e músicas ruins.
Piracicaba é uma cidade que surpreende e encanta quanto mais a conhecemos. Com uma história riquíssima, um sólido patrimônio cultural, ao pesquisador quando parecer ter explorado tudo surge uma excelente novidade.
Betth Ripolli é o nome artístico de Elisabeth Cannavam Ripoli, nascida em Piracicaba a 2 de abril de 1952. Seu pai Romeu Ítalo Ripoli deu-lhe esse nome porque a rainha Elisabeth da Inglaterra estava sendo coroada naquele ano. Ainda mandou vir da Inglaterra um piano inglês, acústico, de cauda, como presente para sua filha. Sua mãe é Florisbella Cannavam Ripoli, mais conhecida como “Bella”, que também teve o filho Thomaz Caetano Cannavam Ripoli, falecido precocemente há três anos. Tem ainda o prazer de ter mais dois irmãos: Antonio Roberto de Godoy e Edson Diehl Ripoli, o primeiro general piracicabano, um orgulho para a nossa cidade.
Betth, seus primeiros estudos foram feitos em que escola?
Estudei no Grupo Escolar Prudente de Moraes, no bairro Cidade Jardim, loteado por meu pai. Construiu a primeira casa( pode tirar)com piscina da cidade foi a primeira ,tinha que ser um modelo para as demais que seriam construídas. Ela existe até hoje e está alugada para um escritório de advocacia. Meu pai era afilhado do Comendador Mário Dedini que foi quem emprestou o dinheiro para o loteamento .



Qual é o nome do livro?
“A  Sintonia Com A Alma – Largou O Marido E Abraçou O Piano”
Você lembra-se do nome de alguma das suas primeiras professoras?
Se não estiver enganada era Maria do Carmo Jordão. Estudei quatro anos no Grupo Escolar Prudente de Moraes. Ainda muito nova eu já me destaquei nesse esporte. Participávamos dos Jogos Abertos do Interior. Pequena e magra, muito ágil, acabei sendo campeã de natação por Piracicaba. Com 10 a 12 anos já tinha uma caixa de medalhas de campeã de natação. Até desfilei em um carro aberto segurando uma tocha. Eu procurava ser a melhor em tudo. Já estudava piano, dançava balé. Com sete anos dencei na TV TUPI. Dava entrevistas para o jornal dizendo que iria ser uma bailarina famosa na Europa. Como o mundo gira!!! Na adolescencia meu sonho era casar com o Roberto Carlos.



E o piano?
O piano estudei forçada pelos meus pais. Aos  doze anos eu dizia à minha mãe que não queria estudar piano, preferia ser lixeira na rua. Ela dizia: “ Filha, estuda meia horinha depois você vai para o clube. Um dia você irá me agradecer” Não tem um dia da minha vida que eu não diga: “Obrigada minha mãe, por você ter feito me formar, ou hoje eu não seria pianista”. Aos 16 anos entreguei o diploma a ela não mais toquei por quase vinte anos. Porém, foi esta base que me tornou uma pianista popular, quando fui estudar com o Zimbo Trio .  Aprendi inglês, na marra, já que tínhamos uma professora que almoçava em casa aos domingos, a Miss Elsie. Ou seja, meu pai me preparou para a vida. Do Grupo Escolar Dr Prudente de Moraes fui para o Colégio Assunção.



                                     BETTH RIPOLLI INTERPRETA HINO DE PIRACICABA
Como foi sua trajetória no tradicional Colégio Assunção?
No primeiro ano me apaixonei pela filosofia de freira maravilhosa, culta, chamada Irmã Ana e resolvi que queria ser freira. No segundo, já tinha perdido um pouco do entusiasmo. No terceiro ano não queria mais. No quarto ano briguei com a Madre. Tive q sair do colégio efui para o Sud e fiz Normal. Eu era politizada.  Entreguei meus diplomas para minha mãe,  e fui dar aulas: de piano, inglês e violão ( como autodidata).  Arrumei 55 alunos, de manhã, a tarde e a noite. Comecei a ganhar muito dinheiro, eu não tinha nenhuma despesa! Meu pai que era superprotetor, só me permitiria namorar aos 16 anos e beijar só depois de casada. Hoje eu tenho a certeza de que fez isso pelo meu bem. Com 15 anos descobriu que fui à matinê com um garoto, no Cine Polyteama. Eu cheguei antes e o menino sentou-se após apagar a luz... ele nem virou para o meu lado. Meu coração parecia que ia sair pela boca e ele acabou indo  embora antes de acender a luz e sem trocar uma palavra. Só que o meu pai era amigo do lanterninha que “me entregou”. Meu pai rasgou o meu vestido de debutantes ( haveria um baile no Clube Coronel) com um canivete, por conta do episodio da  matinê. Foi a única surra que levei do meu pai. Ele me bateu porque estava me protegendo, ele tinha medo de que os homens se aproximassem de mim. Quando fiz 19 anos já tinha um dinheirinho guardado, fui estudar nos Estados Unidos. Nessa época ela já estava há cerca de um ano na cama, com uma depressão que durou dois. Houve um fato que fez com que isso acontecesse,  está na minha biografia. Será um livro histórico, conto tudo do Esporte Clube XV de Novembro, como ele perdeu do Palmeiras em 74. Tenho no meu livro depoimentos do Wagner Ribeiro, empresário do Neymar, do Milton Neves, do Jairo Mattos. Na viagem comprei pintura, bijuteria, trouxe, e ao voltar, vendi tudo e acabei pagando meus custos. Meu pai me ensinou a lidar com dinheiro. Tanto é que quando me casei, como ele estava saindo da sua doença, eu é que, com meu dinheiro, dei uma festa para duzentas pessoas, fiz meu enxoval, confeccionei minha camisola da noite e até meus lençois.



Seu pai foi um grande empreendedor imobiliário, isso não lhe trouxe recursos?
Ele fez a Cidade  Jardim, o Jardim Europa e o Jardim Brasil que passou a ser denominado pejorativamente como Ripolândia.
Essa denominação partiu de uma iniciativa desprezível de um adversário político
Toda essa história está no livro também! Eu sofri muito por conta disso, eu não sabia a história real.  As pessoas achavam que ele era muito rico, ele falava para mim e para o meu irmão Caetano: “ Deixa achar!” Ele não era rico. Em meu livro conto a passagem em que alguns comunicadores da grande mídia de São Paulo diminuíram sua capacidade, usaram termos pejorativos. Ele mandou convocar a imprensa toda da época, para responder à altura. Quando ele chegou aos estúdios, onde a mídia em suas diversas modalidades estava presente, sedenta de lincha-lo intelectualmente, ele iniciou sua fala dizendo: “ Prezados, em que idioma vocês querem que eu dê as respostas que desejam?”   Um silêncio sepulcral tomou conta do ambiente. Ele simplesmente desmontou o circo que haviam armado. Romeu Ítalo Ripoli era acima de tudo folclórico. 
Você casou-se em Piracicaba?
Casei-me na Igreja dos Frades, em novembro de 72. Já em SP, dava aulas de piano, violão e inglês nas casas dos alunos. Só que eu não tinha feito faculdade! Comprei as apostilas para um vestibular, li uma vez para não me confundir, e passei em quarto lugar. Durante os estudos tive meus dois filhos, Giulianno e Tatianna, minhas bênçãos.  Quem quer faz!
Você continuava morando em São Paulo?
Fiz a faculdade, continuei dando aulas.Pintava porcelana e vendia. Adquiria roupas na  Rua José Paulino  e as vendia. Sempre soube ganhar dinheiro. Eu tinha voltado a dançar  balé pela Joyce Ballet até que aos 33 anos tive artrite e depressão. O médico recomendou  voltar a tocar piano.Fui atrás de tocar musica popular: meu sonho era tocar Garota de Ipanema, Madalena. Em dois anos eu me sai super bem. O pessoal do Zimbo Trio,  me convidou para ser pianista profissional. Eu cheguei em casa, parecia que o George Clooney havia me pedido em casamento, eu iria ser uma pianista profissional!
Qual foi a reação do seu marido?
Quando dei-lhe a notícia a reação dele foi totalmente contrária. Comentou – “ mulher minha não toca na noite!” Consegui encontrar forças para não ter nenhuma reação intempestiva. Eu não queria uma separação, para mim a família é sagrada, é até o fim. Só que eu estava infeliz e não sabia. E hoje sei,  a artrite é a doença da mágoa. As minhas articulações estavam enrijecendo todas, porque eu não dava vazão à musica. Quando me assumi como pianista a dor sumiu. Comecei a tocar em casas noturnas requintadas. Na época não havia muita mulher pianista. Como eu não conseguia ir a três lugares na mesma noite chamava outras pessoas, para me substituir. Quando conheci meu atual marido, o jornalista Luiz Carlos Franco, ele sugeriu que abrisse a Harmonia Eventos Musicais, hoje com 26 anos de mercado. Só na sala de embarque da TAM tenho 12.000 apresentações, graças ao Comandante Rolim que criou um projeto de musica para os passageiros. Das seis da manhã até a noite tocando em duas salas.E nos aviões...

Como você desenvolve o seu lado espiritual?
Eu me apeguei muito ao espiritual.Estudo de antroposofia e PNL há 25 anos .Tenho um astrólogo que consulto todos os anos, um numerólogo que colocou um “t” e um “l” em meu nome. Faço curso com um alquimista todo mês e adoro tudo que é o mundo invisível pois isso me dá um equilíbrio.
Isso tem alguma influência do seu pai?
Nada. Meu pai era falante, inteligentíssimo. Assim como meus irmãos Beto, Caetano e Edson. Esse lado espiritual  é uma coisa minha: um pé na Terra e dois no Céu. Eu creio, não acredito, o “a” de a-credito tira o crédito, portanto creio em uma força maior que me rege. Tudo que eu tenho é fruto das minhas escolhas, nada do que me acontece é responsabilidade do outro.
Essa sua força tem origem em seus pais?
Meu pai era um homem muito forte, minha mãe sempre foi uma mulher resiliente, herdei essas características dos dois. Oro várias vezes ao dia e não durmo pensando em problemas. Dou importância ao que de fato tem importância. Um astrólogo disse-me: “-Você não está na sua missão”. Disse-lhe”: “ Sou voluntária há 12 anos no Hospital do Coração”, vou ao Lar dos Velhinhos e quando estou ganhando dinheiro dizem que estou fazendo bem às pessoas porque toco a alma. Ele disse-me: “Você veio para ajudar o mundo, não veio para falar para 4 pessoas nem 40, veio para falar para 400, 4.000 veio para fazer a diferença.” Virei palestrante por acaso, no Hospital do Coração, numa dessas apresentações  percebi um senhor ao meu lado que pedia  música . Era o Benedito Rui Barbosa”!Nossa|!Foi demais! O filho dele acabou fazendo meu terceiro CD. Por estar la me solicitaram para tocar no dia do enfermeiro, à noite, para aqueles que ficam na UTI, no Pronto Socorro . Respirei e comecei a contar para eles a história de uma menininha do interior, de um pai rigoroso e de um marido opressor.Só que eu falava um pouco e tocava uma música relacionada com  as passagens na vida daquela menininha.Fiquei uma hora e meia, as pessoas cantaram, se emocionaram. E agradeceram”. Fui embora chorando muito ao perceber minha missão. Peguei todos os meus conhecimentos, fiz um PPT e sai vendendo palestras.. Já fui fazer para a Dudalina, em Blumenau, Portugal para meninas que concorriam ao título de Miss Brasil-Europa, no Cassino Estoril. Tenho feito palestras onde me chamam porque ela junta autoconhecimento, autoajuda, motivação, permeadas da música. É uma palestra é uma transformação. Há dois anos tenho um programa do bem na www.alltv.com.br- SINTONIA, chamado do bem.Estão todos no meu site www.betthripolli.com.br em vídeos, no You Tube. Mais de 120.000 pessoas já nos assistiram
Como você trata como suas possíveis doenças?
Tomar Antroposofia, Homeopatia. Não trato uma dor, trato o sentimento que gerou a dor. Se eu tiver dor de cabeça, não vou tomar uma pílula contra dor de cabeça, vou descobrir o que gerou a dor de cabeça, pode ser que esteja sem me alimentar.
Hoje sou Palestrante Motivacional com uma banda feminina, 2 sax/flauta, piano , violao, baixo e bateria. Participam Betth Ripolli, Luciana Romanholi, Nina Novoselecki, Sintia Piccin e Alcione Ziolkowski. Já toquei em um congressopara o Rubinho Ometto, da Raizen, tive o prazer de receber seu abraço no palco. 1.000 pessoas, num lindo piano de cauda , o Hino de Piracicaba.

Você fará um show em Piracicaba?
Dia 18 de março, no Teatro do Engenho, (Teatro Erotides de Campos) e os grandes responsáveis por eu estar vindo para Piracicaba são Lucila Piedade Cesta e seu marido Francisco Cesta. Os valores dos ingressos são R$ 30,00 para estudantes, professores e aposentados. Até 72 horas antes, R$ 45,00 .Duração 1h 15´.Teremos cortesia do Café Morro Grande , mimos da Bauducco e o catering dos músicos ficara por conta do restaurante Marrom Glace. A Raizen está dando apoio com a filmagem. E a força do Jairinho Mattos da Rádio Jovem Pan, que será o meu mestre de cerimônias. Vendas pela bilheteria rápida on line, na do teatro (15 às 18) Livrarias Nobel.

E o seu livro quando irá sair?
Sai este ano. Na minha cabeça ele já é um Best Seller. A gente cria a realidade. Criei que será um Best Seller. É a biografia da Betth Ripolli?  É um poudo de tudo. Romance,, cultura , auto ajuda.  
Relato meus altos e baixos. Hoje sou compositora, tenho quatro CDs gravados, meu quarto CD é inteirinho autoral

Esses CDs estarão a venda em seu show em Piracicaba?
Sim.
Você tem algum apelido conhecido pelos familiares e amigos?
Tenho! BBB – Betth, Brilho,Batom! Minha camisola tem brilho, meu biquíni tem brilho, passo batom depois de tirar a pintura, ao me levantar, antes de tomar café passo batom. Eu quero me olhar e me amar. Quero estar com esse carrinho até os 95 a 100 anos, bem!
Esse carrinho é você?
Esse carrinho sou eu! Todo mundo pega um carrinho para passar nesta vida! Somos um carro, se o deixarmos no relento, na chuva e no sol, sem nunca cuidar dele, ele irá se estragar. Como esse carro que sou eu, vai atravessar a minha vida comigo, vai me conduzir, será meu estereótipo físico. Vou a eventos, palestras, pago cursos. Por que? Para quem não faz nada, não acontece nada! Não ri nem chora, está tudo bem. Considero “O mal como um bem deslocado”. Tudo na vida é semente para uma nova oportunidade. Eu sou responsável por tudo àquilo que me acontece. Sou a prova viva disso.



Instagram: @betthripolli
harmonia.eventos@uol.com.br
facebook: Harmonia Eventos Musicais
f: 11 5535 3675 / 11 5536 3772


CECÍLIA SODERO POUSA

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 27 de fevereiro de 2015.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADA: CECÍLIA SODERO POUSA

A religiosa Irmã Cecília Sodero Pousa nasceu em Piracicaba a 31 de dezembro de 1931 a Rua do Rosário, nas proximidades do Grupo Escolar Moraes Barros.
A que distância do Grupo Moraes Barros ficava a residência da família da senhora?
Fica a apenas duas quadras, no sentido centro bairro. Era uma rua por onde o bonde passava, Dizem que nasci assim que o bonde passou, às oito horas e vinte minutos da noite. Sou filha de Orlandina Sodero Pousa e José Pousa de Toledo, ambos eram professores. Papai lecionava no bairro Pau Queimado, ele não saiu de lá por sua própria opção, ele queria lecionar no meio dos trabalhadores, agricultores.
Qual era o meio de transporte que ele utilizava para ir até a escola?
Usava seu próprio carro, sendo que levava também outras professoras.
A senhora lembra-se que modelo de carro que ele utilizava?
Sei que em certo momento ele utilizava uma “baratinha” azul. Eram veículos da época.
A senhora teve irmãos?
Tive uma irmã, Ângela Pousa de Coimbra casada com Plauto Lapa Coimbra, filho do Sr. Lamartine Teixeira Coimbra, que era Diretor do Instituto de Educação Sud Mennucci  O Plauto era sociólogo e advogado, trabalhou muito na área jurídica em Piracicaba. Isso na década de 50. A minha irmã era professora, ocupava cargos de orientação de ensino.
A senhora começou seus estudos em qual escola?
Foi no Grupo Escolar Moraes Barros. Minha primeira professora foi Dona Elisa Magalhães, ela deu aulas nos meus quatro primeiros anos. Conclui o primário e fui prestar exame no Instituto de Educação Sud Mennucci para entrar no ginásio. Ali fiz o ginásio e o curso Normal onde me formei como professora. Tive aulas com professores da família Dutra: Desenho, música.
Nessa época Erotides de Campos lecionava na Escola Normal?
Lecionava, embora eu nunca tenha sido sua aluna o conheci muito por que ele era muito amigo do meu pai. Meu pai também era musicista. Ele tem coisas lindas. Era seresteiro, aceitava muito as letras que os amigos dele faziam e pediam para ele colocar a música, então ele entrava muito na dinâmica daquela letra.
O pai da senhora frequentava a casa de Erotides de Campos?
Frequentava!
Qual era o instrumento musical que o pai da senhora tocava?
Meu pai tocava flauta. Estudava até de madrugada, dormíamos ao som da flauta dele.
Com isso despertou na senhora a vontade de tocar algum instrumento?
Desde oito a nove anos eu tocava piano. Estudei piano, até receber o diploma do Conservatório Musical de São Paulo. Depois estudei os cursos adjacentes que eles chamavam de Canto Orfeônico Eram cursos que nos preparavam para sermos professores de música. no ensino médio. Estudei na Escola do Maestro Julião. Estudei  piano com Fritz Jank No exame do Conservatório eu toquei uma música de autoria do meu pai chamada “ Meditação” que foi muito aplaudida. Uma valsa muito bonita.
O que significa a música para a senhora?
Eu nunca pensei nisso! Para mim significa a harmonia do Universo. A coletividade dos seres do Universo. Que faz esse Universo caminhar, crescer, produzir, Produzir artes, produzir o belo, o bom, a música reúne tudo isso, uma imensa produção dos sons que ela pode criar. A minha mãe na juventude dela tocou piano e a minha irmã Ângela tocou piano em sua infância. Sou formada como professora pela Escola Normal e também como professora de música e como musicista, pianista.
Quando a senhora concluiu a Escola Normal qual foi a próxima etapa?
Continuei a estudar música, em São Paulo. Eu viajava, não todos os dias, porque o curso era dado às vezes por semanas, depois eram feitas as provas.
A senhora ia como para São Paulo?
Ia de trem, a Companhia Paulista de Estradas de Ferro era muito boa! Para as aulas de piano com o Fritz Jank que morava nas proximidades do Cemitério da Consolação, no bairro Pacaembu, eu ia sozinha. Para os cursos de formação musical, com o Maestro Julião, a minha mãe ia também porque ela fez o curso.
Em seguida o que a senhora fez?
Eu tinha que decidir o futuro da minha vida. Através de muitas experiências, muitos contatos, de visitar muitos setores da sociedade e refletir eu resolvi dedicar a minha vida a um trabalho popular. Comecei uma série de estudos, especialmente a Educação Popular.
A senhora ingressou em uma instituição religiosa?
Essa organização religiosa tem o nome de congregação, é a Congregação de Nossa Senhora – Cônegas de Santo Agostinho,é uma congregação agostiniana, fundada a mais de 400 anos. É muito antiga, então o nome também é antigo, a sede no Brasil é em São Paulo, a sede internacional é em Roma, mas trabalhamos muito mais em Paris.
Quais idiomas a senhora fala?
Falo o português, francês e espanhol. Não estudei inglês, quando comecei a estudar inglês em Piracicaba a minha irmã faleceu, ai eu parei. Nunca tive a necessidade explicita do inglês, na Congregação todos pelo menos entendem, lê um pouco ou fala mesmo o francês. Após concluir a universidade trabalhei no setor internacional da Congregação
Em qual universidade a senhora estudou?
Primeiro morei por dois anos em São Paulo, no bairro Pompéia, depois em Perdizes. Estudei Letras, na Pontifícia Universidade Católica de Porto Alegre. Uma universidade católica, que era conduzida pelos Irmãos Maristas. Morei seis anos em Porto Alegre, logo após ter ingressado na Congregação. Lá eu estudava e dava aulas. Fui lecionar em um colégio bom, novo, em uma região nova de Porto Alegre, adiante um pouco de Viamão.
Nesse período de permanência em Porto Alegre a senhora adquiriu algum habito típico gaucho, como tomar chimarrão?
Não chegou a ser habito, mas posso dizer que gostei demais de Porto Alegre, assim como gostei muito do contato com as minhas companheiras de lá, com as quais até hoje tenho uma amizade muito boa. Apreciei muito a força desse povo, a autonomia que eles têm a força de produzir e amar cultura. Valorizar sua cultura. Eles preservam e apreciam sua cultura, produzem muita cultura, eles crescem. Eles afinaram a intelectualidade. Agora é mais direta, mais simples, mais orgânica.
A tão decantada “globalização” faz com que muitos percam sua identidade?
Isso ai, agora acho que tem que voltar para outra ponta. Depende da educação que as pessoas recebem ou não recebem. Depende da educação que penetra e que transforma, ou da educação que fica na superfície. Que passa e se esquece. A educação do berço está junto. Toda educação da vida fortalece a educação do berço. Ou então nos leva a ignorar. Procurar outros destinos.
Como educadora, em sua opinião, a aprovação quase compulsória de um aluno que não reúne o mínimo de conhecimentos básicos não é prejudicial ao aluno?
A meu ver a educação é muito institucionalizada. Quanto mais institucionalizada mais ela foge dos valores atuais. Mais ela entra nos esquemas propostos desde o passado. Penso que a educação tem que partir da experiência, da vida, dos valores. A educação não pode partir da instituição senão será repetitiva. E ela não pode ser repetitiva, tem que ser criativa.
A senhora acredita na formação do caráter do indivíduo?
Acredito! Senão não se forma ninguém! A educação é a formação do caráter pessoal e coletivo. A minha Congregação é educadora. Tem como trabalho nesse grupo a educação. Essa reflexão sobre educação é a proposta de processos criativos e educativos.
Cada instituição tem um lema, qual é o lema da Congregação a qual a senhora pertence?
O lema vem de quem fundou há 400 anos. Nós seguimos duas frases. Um delas é: “ Bem à todos, mal à ninguém.” Essa é uma frase do início da Congregação. A outra frase é pensando um pouquinho nos valores religiosos::“ Faze-o crescer”.
Quem fundou a Congregação?
Foi um vigário, de paróquia. Ele era cônego de Santo Agostinho. Era uma congregação masculina. Isso em um condado da França. Ele era um visionário, tem muitas cartas, completamente fora do estilo da época. Essas duas frases não dele, são da fundadora que fundou junto com ele, as Canonisas ou Cônegas de Santo Agostinho (Canonicæ Sancti Augustini) (CSA), fundada, em Lorena, França, em 1597, pela beata Alice Leclerc sob orientação do Padre Pierre Fourrier, com a finalidade de dedicar à educação das jovens. Inicialmente, a congregação tinha o nome de Cónegas de Nossa Senhora (Chanoinesses de Notre-Dame), mas em 1932 foi reformada, com o nome de Cónegas de Santo Agostinho.
A senhora de Porto Alegre foi para qual cidade?
Após seis anos em Porto Alegre vim para São Paulo, a Rua Caio Prado. Ali estava nosso colégio, que foi vendido, o Colégio Des Oiseaux, demolido em 1974.e até hoje não fizeram nada, é um estacionamento. Era um colégio lindíssimo, tinha um palacete na entrada. Tinha uma capela lindíssima. Tínhamos alguns momentos guardados por 400 anos. Um desses momentos era que nós rezávamos o ofício da igreja que é o que os padres rezam até hoje, o breviário. Rezávamos inteiramente. Era sete vezes na capela durante o dia. Para poder cumprir esse programa para cada dia. Essa capela era muito bonita, tinha uns lugares que chamamos de estalas, eram cadeiras especiais que davam toda a volta em todo o correr da capela. Quando tínhamos hóspedes, pessoas que também gostavam de rezar eles entravam também nas estalas.
Quantas irmãs residiam a Rua Caio Prado?
Quando eu entrei tinha umas oitenta.
A senhora permaneceu lá até que ano?
Fiquei no Colégio Des Oiseaux, que é o Colégio das Cônegas de Santo Agostinho, fazendo estudos por uns três anos, aprofundando os conhecimentos teológicos. Entrando em um campo em que teria que trabalhar com tudo, mais uma luz de fé. Fiz um curso de teologia, fiz um curso de experiência de missão, foi na época do Concilio Vaticano II, por volta de 1962 a 1963. Depois disso trabalhei um pouco com as jovens que estavam chegando à Congregação. .Ao mesmo tempo pedi para ir para o Nordeste.
O que a levou a fazer esse pedido?
Está  na base da minha escolha de vida. Resolvi dedicar a minha vida a essa população. Naquele tempo tínhamos apenas uma casa em Recife. Quando cheguei ao Nordeste a coisa cresceu, criaram-se outros grupos. Quando eu vim para ficar havia o colégio em Recife. Tínhamos um programa que atendia tanto as alunas filhas  de usineiros, mas também tinha escolas para pessoas que não podiam pagar. Eu  cheguei ao Nordeste em 1970. Cheguei a Recife, era uma comunidade com umas 18 a 20 irmãs. Havia varias sulistas, paulistas. O convento e o colégio lá foram criados pelas nossas irmãs da Alemanha. Nós de São Paulo fomos criadas pelas belgas. O que aconteceu é que quando anexaram os condados na Europa a Congregação foi perseguida e as que conseguiram fugiram para Portugal. Foi uma perseguição política Nesse desmembramento e saída para outro país, se formaram vários mosteiros separados. Como se formaram núcleos diferentes, depois esses núcleos foram se reunindo em uma modernidade mais avançada. A Congregação assumiu características do pais onde estavam sediadas, Alemanha, França, Bélgica. Até que decidiram ir em missões em outros continentes, para o Brasil inicialmente vieram as belgas que se instalaram em São Paulo.Depois as alemãs vieram para o Nordeste. Os dois grupos mantiveram a comunicação entre si, porém com muitas coisas diferentes entre elas. Com tradições diferentes. Após ficar em São Paulo estudando, passei dois anos na Bélgica em um grande colégio da Congregação. Era próxima a Bruxelas, eu ia todos os dias até Bruxelas para estudar. Isso foi em 1966, de lá fui para Paris várias vezes, seguíamos cursos interessantes.
Deixar a Europa e ir para o Nordeste do Brasil foi uma decisão de coragem?

Quando eu morei em São Paulo viajei muito com as irmãs que eram professoras do nosso colégio em São Paulo, elas levavam grupos de alunas para conhecer o Nordeste. Talvez o meu primeiro impacto foi nessa viagem que fiz com as alunas, nós ficamos hospedadas com as irmãs que eram alemãs, mas que eram da nossa Congregação levantávamos as cinco horas da manhã com as noviças para ver os jangadeiros partirem na busca de peixe as famílias na praia, as mulheres rezando para ter bom tempo, todos os cantos de Dorival Caymi. Tudo isso era uma coisa muito bonita. A questão da vida, da sobrevivência.  Isso me tocou muito, até hoje me lembro. Íamos também para ver os jangadeiros que chegavam da noite, com os peixes, vendiam quase tudo ali. Eu tive a sorte de visitar bastante o Nordeste, não só Recife. A nossa educação é muito sólida. Uma das  irmãs que veio liderando essa excursão, é introdutora no Brasil dos métodos ativos em educação, que já abre pistas para Paulo Freire, para toda essa gente que depois fez toda uma metodologia para educação popular.  A nossa irmã é que trouxe de cursos que ela fez na Europa com um padre chamado Faure era o grande idealizador desses métodos mais ativos. Isso nós  levávamos para todos os cantos. 
A senhora está morando no Nordeste do Brasil desde que ano?
Desde 1970, portanto são 46 anos. A sua permanência por tanto tempo permitiu acompanhar o desenvolvimento de várias gerações, muitas mudanças.
O que mudou no Nordeste nesse período de quase meio século?
Morei 14 anos no sertão, havia o sistema de coronelismo, inclusive com a anuência de uma autoridade eclesiástica em conluio com os coronéis, para manter os “status quo” (no mesmo estado). Fui expulsa do sertão pelos coronéis. Era um trabalho que incomodava o sistema político e social deles, Fomos obrigadas a sair de lá, se permanecêssemos os pobres seriam sacrificados, naquele tempo havia o processo das listas das pessoas que seriam abatidas ou sacrificadas, pessoas que incomodavam a política deles. O meu nome estava em duas dessas listas. Quem nos contava era o povo trabalhador. Nós tínhamos muito contato com os sítios, saíamos muito para os sítios, e isso incomodava demais porque as cidades eram pequenas diante dos sítios, era o curral humano dos coronéis. Nós ficamos sete anos no Estado de Pernambuco e sete anos no Estado de Alagoas. Era um lugar onde Pernambuco e Alagoas eram limítrofes. Não podíamos manter grandes escolas, tínhamos que manter pequenas escolas. Em periferia, no interior, era esse o publico que precisava de nós.
E as filhas dos fazendeiros, frequentavam as escolas?
Elas estavam nos grandes colégios de Recife. Quando cheguei ao Nordeste fui eleita no ano seguinte fui eleita Regional no Nordeste, fiquei coordenadora nessa região. Meu trabalho era mais de animação dos pequenos grupos das irmãs. Nossa mentalidade naquele tempo dizia que era bom ir conviver mais com o povo e não ficar em colégio. Uma pessoa que teve muita influência em nossa decisão foi Dom Helder Câmara. Uma senhora que trabalhava para ele tinha uma filha que estudava conosco  no colégio de Recife, e Dom Helder ia lá às vezes por causa dessa menina. Um dia ele me disse: “É muito bom o colégio, mas tem muitos colégios religiosos aqui em Recife, as Damas Cristãs, os Maristas, os Dominicanos, muita gente trabalhando na formação do povo que era a elite da sociedade, seria tão bom se vocês descobrissem um valor em sair deste ambiente, não para rejeitar, mas para fazer uma coisa diferente, ir um pouco para o interior, ver o que se passa por ai, ver a educação como é que anda por aí criar um sistema de educação popular”..  Foi ele quem deu o primeiro empurrão. E daí começamos a discutir isso na comunidade das irmãs. Essa discussão nos levou a fechar o colégio de Recife. O colégio era bom, não tinha problemas financeiros, professores bons, mas a coisa caminhou tão forte na linha missionária que em 1974 resolvemos fechar o colégio. Foi uma zoada em Recife. Ninguém entendia. Tivemos que explicar, fazer um processo bem detalhado, com os pais dos alunos, professores, amigos, com pessoas que se juntavam a nós no colégio, e todo o mundo ajudou a fechar esse colégio. Chamei de São Paulo duas irmãs: uma para cuidar das finanças e a outra para ser a diretora do colégio nesse momento de fechamento. Organizamos-nos com elas e fechamos o colégio, Daí que eu fui para o sertão.
Para qual localidade do sertão a senhora foi?
Fui para Itacaratu, Pernambuco, é um município aonde tem muitos indígenas, os Pankararus, ali nós não criamos a primeira comunidade nossa, descemos a serra, embaixo tem uma vila que pertence a Itacaratu, nessa vila nos estabelecemos, chama-se Caraibeiras. O povo da região é artesão de redes de dormir, ou cobertas e cama, tudo feito no tear. Naquele tempo eram dependentes profundamente dos donos dos fios, que recebiam as redes prontas, quem fabricava rede guardava tudo, o fiozinho que sobrava, a lãzinha que saia da tecelagem, quando eles entregavam as redes para quem deu o fio, tinham que colocar junto tudo que tinha saído dos fios. Se desse um peso diferente os tecedores teriam que pagar. Era um cuidado para não deixar desviar nada. Se levassem 50 quilos de fio e recebessem de volta 45 quilos, os tecedores tinham que pagar cinco quilos de fio. Nós trabalhamos muito com esse pessoal do artesanato.
Qual era a alimentação básica deles?
Macaxeira (mandioca), comem muito inhame, muito milho, carne de bode, ovelha e também boi. Íamos a feira, eles matavam os bichinhos e vendiam o fígado quente. A matança dos bois não dá nem para pensar. Nos insurgimos muito contra essas coisas, como dependia dos homens que viam de longe para fazer essas coisas as nossas preces não ajudavam muito. Comiam muito feijão, que é o que eles plantam, além de comerem macarrão e bolacha. Morava conosco uma irmã francesa, que até hoje mora comigo, a Irmã Genevieve Remy ela ia comprar pão pela manhã, era bem jovem, tinha vinte e poucos anos, todo mundo a chama de Dona Gê. O padeiro dizia: “ Dona Gê! O pãozinho francês está quente!” Ela chegava em casa com aquele pão feito com água de barreiro. Marrom. Eles não tinham consciência do que seria a manifestação de bactérias. Essa irmã é enfermeira, ficou nove anos nessa vila, fez um trabalho maravilhoso de educação, saúde pública, sanitária, ela formou pessoas. Trabalhou muito a saúde alternativa, os remédios alternativos com o pessoal da roça. Quando saímos de lá tinha muita coisa nascendo e o povo assumindo. A gente só trabalha se o povo assumir. Não fazemos no lugar do povo. Há uns dez anos mais ou menos. Voltamos para lá, e encontramos as pessoas com quem trabalhamos, que já são mãe de famílias, e essas pessoas que ela formou, são todas que ocupam os cargos no posto de saúde de lá, e ganham para isso.
Essa consciência, motivada por uma vocação religiosa não deveria ser uma consciência nacional?
Precisaria ser! Sinto-me na obrigação de dizer sobre as mudanças de dez anos atrás para hoje. Obviamente que tudo não é ótimo. O Estado da Paraíba é o estado campeão da violência contra as mulheres. É um sentimento vivo da tradição do povo machista, como acontece em muitos lugares do Brasil. O sentimento vivo das classes sociais diferenciadas. O Nordeste é muito popular e pobre financeiramente. Por outro lado no Nordeste existe uma elite. Os ricos, que administram, que sabem tudo, que mostram os caminhos, isso é uma elite intelectual, financeira, social, amoral e não ética. Tem uma elite que vive isso muito forte, esse sentimento vivo sustenta essa discriminação. É uma confirmação da classe dominante que vem do passado, do tempo das capitanias hereditárias, dos ricos de Portugal.
Há a influencia da colonização holandesa?
Os holandeses eram poderosos, tem o poder e tem a riqueza, as duas coisas às vezes coincidem, mas também podem não coincidirem. A pessoa pode ser poderosa sem ter riqueza. A classe de elite do Nordeste é poderosa e construiu a riqueza do Nordeste. Os pobres do Nordeste até chegar um Lula no governo não tinham nada. Os que subiam na política, deputados, senadores, vinham como representantes da região em Brasília, eles maltratavam o povo. De Caraibeiras fomos morar em Inhapi, próximo a Canapi, terra da Ex-mulher do Collor, a Roseane, seu pai é um dos coronéis. Tem mais dois irmãos dela, um que fica em Inhapi e outro que fica em Mata Grande. São as três principais cidades da região. Os irmãos da Roseane são quem dominam a região, eles que nos mandaram embora. Esse espírito de posse que eles têm, a terra é deles, tudo é deles, o povo é deles, os votos são deles O Nordeste não digo que seja feudal, mas é agrário. É uma região agrícola do Brasil.
E a seca?
A seca é um fenômeno, que atrapalha que não é agradável.
Pode ser resolvido esse problema?
Não será resolvido.
Israel conseguiu resolver!
Aqui para o Brasil, pelo menos Roberto Malvezzi pensa assim, é um problema que temos que conviver. O que o Governo da Presidente Dilma fez? Milhares de cisternas. Hoje não falta água para aquele povo. Caso não tenham água na cisterna por ficar dois ou três meses sem chuva, o Governo Federal manda carros pipa enchendo de água a cisterna deles. Os governantes dos Estados do Nordeste tem a intenção de abafar isso: não parte deles e ao mesmo tempo tira o poder que eles tem. Não generalizo e nem posso generalizar, há regiões que são atendidas a contento outras ainda não, há um impedimento na ação do governo central.
O fato de pode mostrar que é possível, que é viável já não é um grande avanço?
A Dilma proporcionou a aquisição de máquinas para eles trabalharem no campo, motos para eles irem trabalhar geralmente em locais distantes, essas motos permite que eles tragam o que puderem da produção, inclusive água. As mulheres andavam até seis quilômetros com duas latas de água. A tarde voltavam a pé mais seis quilômetros para pegar água para a noite. Eu sei porque vivi 14 anos no campo, e até então era tudo movido por tração animal e tração braçal. Fui muito para a roça com eles, aquelas roças imensas. Que não eram deles e sim dos senhores da terra. Isso tem a ver com aquelas listas de nomes de pessoas. Essas pessoas trabalham como “alugados” aos senhores da terra, eles vão até a casa do proprietário da terra para receberem o salariozinho deles. Escutavam toda a conversa e nos contavam. Nós mantemos o contato com elas até hoje, elas nos escrevem ou telefonam, Dizem: “Precisam ver o campo como está! As hortaliças como estão!”. Isso é mérito da Lula e da Dilma. Nenhum político fez isso antes. Nem os políticos nordestinos.
E o Movimento dos Sem Terra – MST?
Eu tive contato mais seguido quando o movimento começou na área, isso a mais de vinte anos, agora não sei como estão na área. Eles estavam na área há vinte anos como os donos da verdade, tínhamos pessoas das comunidades de base da igreja, eram boas pessoas, trabalhavam bastante, tinham casas de farinha. Aí começaram a dar cursos e a fazer uma análise histórica da igreja, a meter o pau na igreja. A Igreja não é santa não, mas precisamos entender o tempo, a época, porque agiram assim. Que mentalidades tinham.
A seu ver o MST saiu do seu objetivo principal?
Acho que mais pela falta de pessoas que orientassem, o movimento crescia e tinham poucos lideres. bem situados. Lá no sertão eles ficavam sozinhos e nós procurávamos ajudar. Hoje acho que amadureceram, não estou falando da região, estou me referindo ao movimento.
É inegável que existe uma rejeição ao MST por parte da população em decorrência das atitudes de alguns líderes.
É um movimento que cuidando de si está cuidando dos outros. É mais do que sabido que eles têm muita gente hoje no Brasil. São muitas famílias com muitas crianças, eles instituíram escolas com métodos ativos, dinâmicos, usam muito a metodologia do Paulo Freire. Eles cuidam deles, essas crianças estão crescendo, já têm jovens cursando as universidades. Entre as faculdades cridas recentemente está nascendo uma de medicina para cuidar dos membros do MST. Eles não são egocentristas, são missionários.
Pode  existir correntes de pensamentos divergentes dentro do MST?
Isso pode existir. O movimento é muito grande, alguns não permanecem. Devem produzir o trabalho exigido pelo MST. São conduzidos, tem os animadores, tem que trabalhar, não podem apenas ir e desfrutar tem que trabalhar para poder usufruir.
E a Amazônia como a senhora vê?
Conheço pouquíssimo a Amazônia. Acredito que o perigo de perdermos a Amazônia já foi mais forte. Acredito que exista muito preconceito, são criados pelos que não querem perder nada, então eles atacam E há uma tendência dos preconceitos se popularizarem. A nossa organização tem uma unidade na Amazônia, sendo que uma das integrantes é quase doutora em Engenharia Florestal. Temos outras irmãs que dirigem o grupo, vão para congressos, elas são ótimas. Estão abrindo uma casa na fronteira da Bolívia, Peru e Acre. São quase todas descendentes de indígenas. Elas conhecem a vida indígena. Estive lá há dois anos, elas tiveram uma reunião entre elas, eu participei, elas puxaram muita coisa de mim, tive que dizer o que pensava e também o que eu perguntava, elas respondiam, eu disse o que pensava, o que eu via, dentro do trabalho delas que não é só social é também político. 
A senhora está morando no Nordeste do Brasil desde que ano?
Desde 1970, portanto são 46 anos. A sua permanência por tanto tempo permitiu acompanhar o desenvolvimento de várias gerações, muitas mudanças.
O que mudou no Nordeste nesse período de quase meio século?
Morei 14 anos no sertão, havia o sistema de coronelismo, inclusive com a anuência de uma autoridade eclesiástica em conluio com os coronéis, para manter os “status quo” (no mesmo estado). Fui expulsa do sertão pelos coronéis. Era um trabalho que incomodava o sistema político e social deles, Tivemos que sair de lá, se permanecêssemos os pobres seriam sacrificados, naquele tempo havia o processo das listas das pessoas que seriam abatidas ou sacrificadas. Entre as faculdades cridas recentemente está nascendo uma de medicina para cuidar dos membros do MST. Eles não são egocentristas, são missionários.
Com relação aos medicamentos naturais, obtidos das plantas qual é a impressão da senhora?
Eles estudam muito as plantas, são doutores em plantas e efeitos. Sabem muito sobre o assunto, fazem misturas, há remédios feitos por eles que são preciosos. É uma grande riqueza, abandonada de um lado e explorada de outro lado. Os norte-americanos, japoneses, já vieram explorar muito as patentes. Houve um momento em que isso esteve em perigo. 


domingo, março 13, 2016

ANTONIO GORGA

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 13 de fevereiro de 2016.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADO: ANTONIO GORGA


Antonio Gorga nasceu a 4 de agosto de 1928, em Piracicaba, no Bairro Alto, próximo onde atualmente é o Corpo de Bombeiros, na Avenida Independência. Ali era uma região formada por chácaras: das famílias Gorga,Carrara, Picinatto, e outras. Já existia o Cemitério da Saudade, o famoso Bosque do Cemitério, onde hoje é o Estádio Barão de Serra Negra.  Mais abaixo, na Rua Silva Jardim, onde hoje existe um grande supermercado, era o local onde ficava vivendo isolados os doentes de hanseníase na época uma doença incurável. Permaneciam próximos a caixa de água da prefeitura, a área atrás da chácaraonde residia a família Gorga, depois teve ali o “cano frio”. Era um terreno vago, tinha umas casas muito precárias. A terra era ruim para o cultivo, conhecida como piçarra. Não produzia nada, não dava nada.
Como é o nome dos pais do senhor?
Miguel Gorga e Maria Irma Rubens Gorga, brasileiros, filhos de italianos. Meus avôs vieram da Itália como imigrantes, conheceram-se durante a viagem, chegando a São Paulo casaram-se.
Foram morar em que localidade?
Vieram morar nessa chácara em Piracicaba, ela era propriedade de um comerciante que morava em São Paulo. Essa pessoa trouxe o casal para cá, instalando-os como empregados. Não era uma área muito grande, devia ter em torno de 2 alqueires (48.400 metros quadrados), abrangia uns quatro quarteirões, incluindo boa parte da atual Avenida Independência. Não existia a Avenida Independência, era um carreador, um caminho, depois a avenida foi alargando, entrando na chácara, até então um dos lados da chácara ficava ao lado da estradinha de terra que mais tarde tornou-se a Avenida Independência. Na realidade a estradinha foi aberta no meio da chácara. Onde hoje há a Clinica do Dr. Bicudo, aquela esquina era o canto da chácara. Dali até o cemitério deve dar uns 200 metros. Atualmente o cemitério chega até ao lado do Corpo de Bombeiros, o cemitério cresceu.
Naquele tempo havia muitas superstições, que ainda existe até hoje, não havia nenhum receio de estar morando tão próximo ao cemitério?
Não, pelo contrário! Colhíamos mamão verde, furávamos o mamão, simulando um crânio, colocávamos uma vela dentro, no canto do cemitério, em cima do muro, acendíamos a vela, eu tinha uns sete ou oito anos, ficava esperando voltar a moçada do bairro que tinha ido ao centro a noite. Lá pelas nove a dez horas voltava todo mundo, atravessavam o bosque de canto a canto, quando chegavam junto ao muro do cemitério viam aquela “caveira”, alguns saiam correndo com medo, outros já sabiam. Nós ríamos muito. Era uma brincadeira sadia.
A água era de poço ou encanada?
Ali não havia poço, atrás da chácara já tinha a caixa de água que distribuía água para a cidade toda. Essa caixa de água existe e funciona até hoje. Tínhamos água, mas não tínhamos a luz elétrica. Ficamos muito tempo sem que a energia elétrica chegasse até lá. Tínhamos que estudar a luz de vela, lamparina. Tapávamos o nariz, a fumaça do querosene deixava-o preto. Usávamos também o lampião a querosene. Fogão a lenha. A cama tinha colchão com palha de milho. Para fazer o colchão tínhamos que rasgar a palha “na unha”. Como não havia energia elétrica, a comida era conservada na banha de porco. Tínhamos três “cevas” para porco, comprava um porquinho, colocavam-os na ceva, os três, quando um estava gordo era abatido, minha mãe e meu pai faziam a linguiça. Em cima do fogão a lenha tinha um varal, enchia esse varal de linguiça, a gordurinha ia pingando. Eu ia ao grupo escolar, levava como lanche o pão que a minha mãe sempre fazia em casa, com dois gomos de linguiça curtida no fogo, eu sentava para comer a molecada ficava ao meu lado, eu tinha que dar um pedaço para cada um.
O senhor estudava em qual escola?
Estudava na Escola Normal (mais tarde denominada Sud Mennucci). O Grupo Escolar Alfredo Cardoso não existia ainda, foi implantado mais tarde. A Escola Normal era a mais próxima que existia na época. Cruzávamos onde hoje é o campo de futebol do Palmeirinha, com isso diminuíamos a distância. Ali era tudo pasto, só tinha terra ruim, só piçarra. A nossa chácara já pegou uma parte de terra melhor. Era uma terra boa.
O que a chácara produzia?
A chácara era inteirinha de frutas, um pedaço era horta. A renda da chácara era só verdura e frutas, era tudo levado até o mercado municipal, a minha avó Rosa é que tinha a banca no mercado. Era uma mesa quadradona, grande. Isso no tempo de mercado antigo. Meu tio Antonio (Nico) Gorga, todo dia engatava o carrinho no animal. Minha avó tinha sete filhos e duas filhas. A chácara era pequena para sustentar tantas pessoas, a maioria saia para aprender um ofício. Tenho tios que são marceneiros, carpinteiros, meu pai foi trabalhar na Escola de Agronomia, assim como o meu tio Francisco. Naquela época meu pai estudou a noite, formou-se como guarda-livros (contador). Só que ele não gostava dessa atividade. Ele entrou na Escola de Agronomia no setor de Horticultura, isso na época do Dr. Phillipe Westin Cabral de Vasconcellos. Meu tio mais velho do que o meu pai, Francisco Gorga morava na Escola Agrícola, era chefe do setor de Horticultura. Abriu uma vaga, meu pai falou com o Dr. Phillipe e foi trabalhar na roça da escola. Mais tarde ele passou a trabalhar só na horta. Passou um tempo, meu tio Francisco aposentou-se, o Dr. Phillipe chamou o meu pai e o nomeou como chefe da seção. Meu tio mudou-se para a cidade, a casa onde morava na Escola Agrícola ficou disponível, meu pai mudou-se para lá, na época eu tinha nove anos de idade. Havia cinco colônias de casas na Escola de Agronomia. A nossa casa era logo depois do ponto final do bonde, havia uma série de casas, a nossa era a segunda casa. A primeira casa era a carpintaria. Após trabalhar por 35 anos na ESALQ meu pai aposentou-se.
Após concluir o primário o senhor fez algum curso?
Fui estudar na Escola Cristóvão Colombo, mais conhecida como Escola do Zanin. Não cheguei a me formar, parei de estudar no ultimo ano. Eu não gostava dessa atividade, não conseguia permanecer por muito tempo em ambiente fechado. Eu tinha uns 17 anos. Quando estavam fazendo o aviário na Escola, aqueles postinhos de cimento, as cercas de tela, foram feito tudo com menores de 18 anos, era a criançada que trabalhava ali. Naquele tempo podia. Apareceu uma vaga na seção, fiquei sabendo, fui falar com o Dr. Phillipe. Fui para a Horticultura, varrer a sala de aula, limpar e trabalhar no laboratório.
O que o senhor fazia no laboratório?
O primeiro serviço era fazer café. Todo mundo tomava e gostava! No laboratório fazia análise de abacate, o Montenegro estava fazendo a tese, ele desejava passar para catedrático. Eu analisava a gordura de cada tipo de fruta. A floração. Às seis horas da manhã eu ia ao campo esperar abrir a primeira flor, para ver se era masculina ou feminina.
Como o senhor conhecia se era uma flor masculina ou feminina?
Há uma diferença bem perceptível entre uma e outra. O abacate depende muito do cruzamento. A flor de abacate às seis horas da manhã está se abrindo, são todas flores masculinas, não tem uma flor feminina. Isso dura até ao meio dia, pontualmente. Ao meio dia vai fechando aquela flor masculina e vem abrindo a flor feminina. Fica fora de posição para a abelha fazer o cruzamento. Tem variedades de abacates que é ao contrário, de manhã abre a flor feminina e a tarde abre a flor masculina. A abelha tem como trabalhar, ela leva o pólen da flor masculina para a flor feminina. Tinha que conhecer as variedades e plantar de forma alternada. De tal forma que a abelha pudesse trabalhar de uma planta para outra. A polinização era feita pela abelha.
Essas abelhas vinham de qual lugar?
Eram nativas e do apiário da Escola de Agronomia.
Que tipo de abelha havia no apiário da Escola?
Popularmente era conhecida como abelha italiana, naquele tempo não havia a abelha africana. Uma das atividades que eu tinha que saber fazer era a enxertia, conforme a variedade se faz uma estaca para se fazer uma muda. Tem estaca que enraíza bem e outras não. Têm que ter bastante habilidade para preparar tudo isso. O milho é muito utilizado quando se trata de uma planta grande, uma arvore com aquele torrão de terra grande, faz-se uma cova grande, joga-se bastante milho embaixo, é um adubo, não fermenta e não prejudica a raiz. Ele ajuda, dá um alimento à raia para puxar o enraizamento, já é próprio para isso.
Em que tipo de árvore eu  posso usar esse processo?
Em qualquer uma, a jabuticabeira por exemplo. Se você quiser mudar ela de lugar, sendo uma jabuticabeira grande, tira-a com um torrão de terra grande, um guincho, transporta-a para uma cova grande, conforme o tamanho da árvore pode-se colocar cinco, dez quilos. Irá servir como adubo. Se for uma jabuticabeira pequena, onde seja plantada em uma cova de um metro de comprimento por um metro de largura, jogam-se uns 5 quilos de milho. Quando a jabuticabeira foi retirada foi cortada a raiz, terá que sair outra raizinha. O milho irá ajudar.
Em que ano o senhor começou a trabalhar na Escola de Agronomia?
Foi em 1943 aposentei-me em 1985. Aos nove anos mudei com a minha família para uma casa na Escola Agrícola. Com 16 anos eu queria trabalhar. Trabalhei com o Dr. Phillip uns 15 anos. Meu pai aposentou-se, o Dr. Phillip me chamou e perguntou se eu queria substituir a vaga do meu pai. Eu quis, já estava bem entrosado com a rotina do campo, nessa época eu já não estava mais no laboratório. O Dr. Montenegro queria que eu permanecesse em função da sua defesa de tese. Tudo que era enxertia, estaquia eu fazia. Continuei morando na casa, antes disso a escola estava mudando um pouco e precisava dos prédios. A ESALQ adquiriu aquela parte da frente, próxima a Avenida Centenário, era tudo propriedade particular, não era da escola e construiu uma casa para o meu pai ali. Quando meu pai aposentou-se eu fiquei na casa em que ele morava. Já era fora da Escola, embora pertencesse a Escola.
A condução que o senhor usava para ir ao centro da cidade era o bonde?
Usava o bonde para ir a qualquer lugar, a Avenida Carlos Botelho era com o chão de pedregulho. As lâmpadas eram muito fracas, não chegavam a clarear nem o chão. Quando perdia o último bonde, as onze horas, tinha que vir a pé. Ia do centro até a Rua Santa Cruz e caminhava até chegar a Escola. Tudo terra. Pedregulho e cachorrada latindo atrás, a gente andando a noite no escuro.
Quando o senhor assumiu a chefia, quantos funcionários o senhor tinha como seus subordinados?
Tinha 73 funcionários. A seção de horticultura era a maior seção da Escola. Todos os parques da Escola, esses gramados, a Engenharia, o tanque, tudo era cuidado pela horticultura.  Só nesse parque eu tinha 10 funcionários. Tinha mais funcionários no  pomar, dos dois lados do Campo de Aviação.
Ia até o Campo de Aviação?
O Campo de Aviação está no meio do pomar. A Usina Monte Alegre precisava de uma área ideal para utilizar como campo de viação. A área escolhida foi onde está até hoje. A divisa da Usina Monte Alegre é logo após o campo, onde tem um declive, tinha uma nascente de água, dentro da Escola, é a que abastece a Escola hoje. O Morganti, propôs à Escola em trocar: ele dava uma área que lhe pertencia e a Escola dava-lhe a área onde estava o pico, ideal para a pista do Campo de Aviação. A Escola concordou. Foi feita uma permuta, o terreno dele que era só cana-de-açúcar nós transformamos em um pomar. Depois o Campo de Aviação precisou de mais terreno, o governo passou a doar mais alguns pedaços. Então arranca todo o pomar e vai aumentando o campo. A Fazenda Areão era ocupada pela ESALQ, atualmente encontram-se instaladas a Escola de Engenharia de Piracicaba e a Faculdade de Odontologia de Piracicaba FOP- UNICAMP.
Os produtos que a ESALQ produzia eram comercializados?
A horta pertencia a Horticultura, tinha três homens trabalhando na horta. Havia dois homens trabalhando na floricultura, plantávamos todo tipo de flor. Os produtos que colhíamos, vendíamos, nós precisávamos da renda, não tínhamos dinheiro.
Quais máquinas eram utilizadas?
Era tudo movido com burro. Arado, burro carroça. Depois de muito tempo adquirimos um trator Zadruga, esse trator está lá até hoje. Depois ganhei da seção de máquinas  um trator velho para cortar a grama da Escola, era um Massey Ferguson. Antes a grama embaixo das árvores era cortada com alfanje. . Aí comprei o tratorzinho pequeno, coloquei o trator grande no campo e o pequeno em locais onde o acesso era mais delicado. O resto da turma estava toda no pomar, carpindo na enxada. Eram pomares grandes de abacate, laranja, manga, tínhamos 56 variedades de mangas. Mais tarde o Professor Salim Simão ficou catedrático e passou a ser conhecido pelos seus conhecimentos inclusive na cultura de mangas. O Professor Salim Simão tinha uma grande confiança no meu trabalho, delegava muita responsabilidade para que eu cuidasse com afinco do pomar. Tenho boas lembranças do Professor Salim, uma excelente pessoa. Foi uma pessoa que teve muitas dificuldades no seu inicio, ele morava no sítio no hoje Bairro da Pompéia, quando chovia ele tinha que vir de lá e não tinha carro. O irmão dele o trazia com uma charretinha, debaixo de chuva. Ele já era professor. Naquele tempo tinha um livro em cima da mesa do Filipão, como era conhecido o Dr. Phellipe, era o livro-ponto, os professores assistentes tinham hora para entrar e hora para sair. Tinham que assinar o livro.
O senhor conheceu o Professor Doutor Friedrich Gustav Brieger?

O Professor Brieger foi um grande amigo, ele gostava muito de mim. Ele tinha verba, conseguia junto a seus contatos no exterior, a Fundação Rockefeller estimulava o ensino e a pesquisa, destinando recursos próprios.  O Dr. Brieger tinha um grande prestigio junto a Fundação Rockefeller, com isso obtinha recursos com mais facilidade. Até mesmo os meios de locomoção eram renovados anualmente. Dispunha de implementos agrícolas e até mesmo tratores com facilidade. Tudo doado por entidades estrangeiras. O Brieger era uma pessoa que trabalhava muito. Um dos seus objetivos era ter a maior variedade de orquídeas possível. Para aumentar a coleção da ESALQ. Na nossa região, percorríamos toda a redondeza de Piracicaba. Cada vez que ele saia com a perua para procurar novas espécies de orquídea ele me telefonava e íamos juntos. Passávamos o domingo no mato coletando orquídeas. O Brieger era excelente, um cientista. Conheci o Professor Dr. Guido Ranzani, o “Guidão”, era gente boa! Foi o responsável pela criação e direção do Centro de Estudos de Solos da ESALQ. A ESALQ me proporcionou além de uma carreira a realização de grandes amizades, com pessoas de grande projeção como o Professor Dr. Jairo Ribeiro de Mattos, um grande amigo, com o qual sempre que podemos conversamos e trazemos as lembranças gloriosas dessa grande instituição que é um orgulho para Piracicaba e para o Brasil, a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz – ESALQ. 
Antonio Gorga nasceu a 4 de agosto de 1928, em Piracicaba, no Bairro Alto, próximo onde atualmente é o Corpo de Bombeiros, na Avenida Independência. Ali era uma região formada por chácaras: das famílias Gorga,Carrara, Picinatto, e outras, elas tomavam parte do leito carroçável da Avenida Independência que não era senão um pequeno “carreador”. Seu avô trabalhou na ESALQ. Seu pai trabalhou e morou na ESALQ  por 35 anos. Aos nove anos de idade Antonio Gorga mudou-se com seus pais para uma casa pertencente a ESALQ. Aos dezessete anos foi um dos garotos que ajudou na construção do aviário da ESALQ. Antonio Gorga trabalhou na ESALQ de 1943  até aposentar-se em 1985. Foi encarregado da Horticultura, que além de cuidar das verduras e legumes, cultivavam flores das mais variadas espécies. Foi responsável por 73 funcionários. Um dos seus passatempos prediletos era acompanhar o reconhecido cientista Professor Doutor Friedrich Gustav Brieger, ambos aos finais de semana internavam-se nas matas da região em busca de novos espécimes de orquídeas, formando um dos mais ricos acervos de orquídeas brasileiras. Antonio Gorga sempre foi um homem de campo, Como auxiliar de laboratório em seu trabalho praticamente anônimo teve participação fundamental nas experimentações que geraram grandes teses de renomados nomes da ESALQ. Fez muitas amizades, com nomes de expressão no cenário nacional. Conserva muitos amigos, entre eles o Professor Doutor Jairo Ribeiro de Mattos, um apaixonado pela ESALQ e pelo Lar dos Velhinhos de Piracicaba, local que conheceu mais proximamente quando ainda era estudante da ESALQ e foi responsável pelo plantio de inúmeras mudas de árvores.  Antonio Gorga manifesta sua tristeza em ver o pomar que formou e aos poucos foi sendo substituído por outras culturas, por construções de prédios.Antonio Gorga nasceu a 4 de agosto de 1928, em Piracicaba, no Bairro Alto, próximo onde atualmente é o Corpo de Bombeiros, na Avenida Independência. Ali era uma região formada por chácaras: das famílias Gorga,Carrara, Picinatto, e outras, elas tomavam parte do leito carroçável da Avenida Independência que não era senão um pequeno “carreador”. Seu avô trabalhou na ESALQ. Seu pai trabalhou e morou na ESALQ  por 35 anos. Aos nove anos de idade Antonio Gorga mudou-se com seus pais para uma casa pertencente a ESALQ. Aos dezessete anos foi um dos garotos que ajudou na construção do aviário da ESALQ. Antonio Gorga trabalhou na ESALQ de 1943  até aposentar-se em 1985. Foi encarregado da Horticultura, que além de cuidar das verduras e legumes, cultivavam flores das mais variadas espécies. Foi responsável por 73 funcionários. Um dos seus passatempos prediletos era acompanhar o reconhecido cientista Professor Doutor Friedrich Gustav Brieger, ambos aos finais de semana internavam-se nas matas da região em busca de novos espécimes de orquídeas, formando um dos mais ricos acervos de orquídeas brasileiras. Antonio Gorga sempre foi um homem de campo, Como auxiliar de laboratório em seu trabalho praticamente anônimo teve participação fundamental nas experimentações que geraram grandes teses de renomados nomes da ESALQ. Fez muitas amizades, com nomes de expressão no cenário nacional. Conserva muitos amigos, entre eles o Professor Doutor Jairo Ribeiro de Mattos, um apaixonado pela ESALQ e pelo Lar dos Velhinhos de Piracicaba, local que conheceu mais proximamente quando ainda era estudante da ESALQ e foi responsável pelo plantio de inúmeras mudas de árvores.  Antonio Gorga manifesta sua tristeza em ver o pomar que formou e aos poucos foi sendo substituído por outras culturas, por construções de prédios.
O senhor praticou algum esporte?
Joguei futebol em um dos principais clubes do futebol amador que foi o São João da Montanha. Esse time tem a origem do seu nome na Fazenda São João da Montanha, de propriedade de Luiz Vicente de Souza Queiroz e doada ao Estado para a construção de uma escola agrícola. Eu jogava como beque esquerdo, o pessoal reclamava um pouco porque eu jogava meio pesado. Joguei todo o campeonato, fiquei tri-campeão na cidade. Um dos nossos adversários mais ferrenhos era o River Plate  da Vila Rezende.
O senhor conheceu o Dr. Jairo Ribeiro de Mattos em que época?
Eu o conheci quando ele ainda trabalhava na Casa da Lavoura. Depois que ele ingressou na ESALQ.
A ESALQ cresceu muito?
A escola cresceu, mas a meu ver o piracicabano não a valoriza como foi no passado. Era muito frequentada pela cidade todos os dias. Andavam, passeavam adquiriam verduras, tinha um ponto de venda de frutas, verduras, flores. Tínhamos mudo de todo tipo de planta que se possa imaginar, principalmente as frutíferas. Da estrada do Monte Alegre para lá, aquilo era tudo viveiro de mudas. Vendíamos barato. Eu tinha o preço da concorrência, como as mudas de Limeira, por exemplo, vivíamos pela metade do preço. A cada 15 dias ia até o Mercado Municipal de Piracicaba, fazia um levantamento de preços e vendia cinquenta por cento mais barato. Com esses recursos fazia uma caixinha para as necessidades básicas da seção. O dinheiro da renda do mês eu recolhia para a reitoria, a reitoria devolvia à diretoria da escola, Setenta por cento do valor vinha para o nosso departamento, trinta por cento ficava com a finalidade de ajudar nas despesas da diretoria.
E defensivo agrícola já era utilizado?
Usava-se muito pouco. Não tinha dinheiro para adquirir também, naquele tempo as coisas eram difíceis. O mais utilizado na época era o BHC,  um inseticida sua sigla advém do nome inglês - Benzene Hexachloride - é um produto que combate pragas na lavoura Seu uso foi banido.
E  a frase a frase “Ou o Brasil acaba com a Saúva ou a Saúva acaba com o Brasil”?
Eu tinha três homens o dia inteiro trabalhando só na máquina para exterminar a saúva. A máquina era composta por uma ventoinha, dentro de uma caixa de ferro fundido, enchia de carvçao, colocava fogo no varvão, colocava a saída de uma mangueira na entrada do “olheiro” do formigueiro. Abria a tampa  daquela fornalha colocava duas colheres de arsênico. O arsênico descia junto ao carvão em brasa e saia junto com a fumaça. Essa fumaça entrava pelo canal, ficavam dois homens, andando com a enxada na mão e fechando os “olheiros” onde saia a fumaça. Matva aquele mas vinha outro, vinha muito do Monte Alegre, da usina de cana-de-açúcar. Ninguém ia matar saúva em cana. Em novembro os iças saiam voando, caia no meio do pomar, caiam por todos os lados. Tinha dois homens que no tempo de içã pegavam a enxada e iam para o pomar passear. Quando o içá cai, afunda e forma uma panelinha para ela. As sauvinhas já começam a sair. Nesse caso não precisa de veneno, com a enxada cavoca e mistura tudo. Mata com a enxada, Isso um mês depois que o içá caiu e já formou um formigueirinho. Quando está em um local cheio de capim, não se enxerga com facilidade essa panelinha.
E cobras tinha muitas?
Cobra sempre teve. Nunca tivemos funcionários picados de cobra. Tinha jararaca, jararaquinha e jaracuçu. A jararaca tem uma característica, você pensa que ela foi embora ela volta, é dissimulada. Cobra não ataca as pessoas. Nós é que as atacamos. Se você não bater nela ela n]ao faz nada. Ela vai embora, foge da gente.
Hoje é comum termos estudantes de agronomia do sexo masculino e feminino, antigamente era assim também?
Era comum ter no máximo uma ou duas moças que estudavam agronomia. Ultimamente aumentou muito o número de mulheres que fazem o curso. Hoje a ESALQ está mais voltada à pesquisa.
Como surgiu a intenção de construir uma usina de açúcar dentro da ESALQ?
Surgiu com a iniciativa do Professor Dr. Jaime da Rocha de Almeida, diretor da ESALQ. Naquela época as usinas de açúcar estavam no auge, com uma usina funcionando dentro da escola o aluno tinha a facilidade de aprender tudo ali dentro, já para sair, trabalhar ou montar uma usina. Ao que contam a verba para concluir o prédio da usina infelizmente não foi deliberada. E caso estivesse entrado em atividade atualmente não teria mais condições de funcionar.
O senhor conheceu o Engenho Central?
Muito! Carregava bagacinho de cana para usar na composição de esterco para a Horticultura. Eu mandava o caminhão com dois homens, até a hora do almoço lotava o caminhão de bagaço de cana de açúcar. Na zootecnia eu mandava uma carroça por dia, eu aproveitava o esterco dos bezerros. Todo dia um funcionário meu colocava uma carroça na esterqueira para curtir. Não tinha dinheiro para comprar adubo. Plantava milho para alimentar 36 burros. Eram burros chucros, que vinham de Minas Gerais, tinha dois funcionários meus, dois irmãos: Silvio Pavão e Virgilio Pavão, dois irmãos, que os domavam. Três burros eu tirava para puxar charrete. Um era para uso da esposa do Dr. Phillipe em sua charrete esse era o único que usava ferradura. Os demais não precisavam porque só andavam na terra.
O Rio Piracicaba passa pela ESALQ?
Passa entre a Fazenda Areaão e o bairro Santa Rosa. O Piracicamirim passa no meio da ESALQ,Tem um salto no meio do mato, é uma beleza, Tinha a colônia da Zootecnia, a colônia da Fazenda Modelo, a colônia da Horticultura, a colônia do prédio principal e a colônia do Pombal. Todas cheias, hoje estão todas fechadas. Hoje estão todas fechadas.
O senhor mantém contato com o pessoal daquela época?
Infelizmente com poucos, uma boa parte já faleceu. Dos funciorios, de setenta e poucos sei de apenas dois que estão vivos.
Atualmente temos frutas com aspectos muito bonitos, mas não são tão saborosas como eram antigamente. Por que?
Quando trabalhava na Hoticultura da ESALQ cheguei a usar uma variedade de caqui permitia transformá-lo em passa, plantei uma verdadeira coleção de Tâmara na ESALQ.Colhia a tâmara, colocava em um quarto, passava enxofre pra não dar fungo, deixava amudaerecer, todos os dias tinha que ir lá colher. Hojes são frutas sem sabor, não tem açúcar suficiente, são produtos híbridos. Antigamente tinha a laranja Serra D`Agua, era enjeitada, é uma laranja antiga, ninguém ligava para ela, Agora deram esse nome á um tipo de laranja baiana. Hoje o  mamão é uma fruta que está bem cultivada. Infelizmente a pulverização aérea da cana-de-açúcar destrói tudo. E depois que me aposentei, no meu sítio tive leiteria, parei. Passei a trabalhar com carneiro, cheguei a ter 300 cabeças parei também.
Sou muito amigo do Marinho, da Agropecuária Marinho. Trabalhamos na ESALQ na mesma época.  Conheci muito Dr. Walter Accorsi. Assim como era utilizado fórceps para fazer um parto humano com dificuldades, o Spalini usava trator para auxiliar as vacas a parirem. Isso é muito antigo. Urgel de Lima, formou-se e tornou-seprofessor da ESALQ onde aposentou-se. 

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