domingo, agosto 13, 2017

ADOLPHO CARLOS FRANÇOSO QUEIROZ



PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 22 de julho de 2017

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

http://blognassif.blogspot.com/


http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADO:
 ADOLPHO CARLOS FRANÇOSO QUEIROZ


 

Adolpho Carlos Françoso Queiroz possui graduação em Comunicação Social Publicidade e Propaganda pela Universidade Metodista de Piracicaba (1980); mestrado em Comunicação pela Universidade de Brasília (1992) ; doutorado em Comunicação Social pela Universidade Metodista de São Paulo (1998) e pós doutorado em Comunicação pela Universidade Federal Fluminense (2009). Atualmente é professor do curso de Publicidade e Propaganda da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Tem experiência na área de Comunicação, com ênfase em Publicidade e Propaganda, atuando principalmente nos seguintes temas: comunicação, marketing político, propaganda política, publicidade e propaganda . Ex- presidente da INTERCOM, Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação, fez parte do Conselho Curador da entidade; um dos fundadores e atual Presidente de Honra da POLITICOM, Sociedade Brasileira dos Pesquisadores e Profissionais de Comunicação e Marketing Político; diretor administrativo e financeiro da ABP2, Associação Brasileira dos Pesquisadores de Publicidade e Propaganda; membro do Conselho Fiscal da SOCICOM, Federação das Associações Científicas de Comunicação do Brasil; sócio da ABCOP, Associação Brasileira dos Consultores Políticos e atual Presidente do Conselho Consultivo do Salão Internacional de Humor de Piracicaba. Adolpho Carlos Françoso Queiroz nasceu em Piracicaba a 18 de setembro de 1956 é filho de Adolpho Carlos de Souza Queiroz, funcionário público municipal e Maria Zélia Françoso Queiroz, funcionária pública municipal, atualmente aposentada que tiveram também a filha Lia Raquel Françoso Queiroz.

Seus primeiros estudos foram feitos em qual escola?

Fiz uma parte do primário no Instituto Sud Mennucci e outra parte no Grupo Escolar Barão do Rio Branco. No final dos anos 60, o Sud Mennucci teve um problema inusitado, um formigueiro de proporções gigantescas, colocou em risco uma parte da estrutura do prédio. Por precaução muitos dos alunos foram deslocados para o Grupo Escolar Barão do Rio Branco, até que o problema foi resolvido. Com isso terminei o curso primário no Barão do Rio Branco e o ginásio e colegial voltei a estudar no Sud Mennucci.

Nessa época você morava em que local da cidade?

Eu morava no Edifício Lúcia Cristina , na Rua XV de Novembro, em frente ao atual INSS. Logo na esquina havia o Supermercado Pão de Açúcar, atualmente Supermercado Jaú, no andar superior havia a Rádio A Voz Agrícola do Brasil. Essa esquina antes de ser supermercado foi a padaria do Seu Arthur Azevedo. O Lúcia Cristina é um dos edifícios pioneiros de Piracicaba. O meu pai trabalhava na prefeitura, que na época ficava no centro, mais precisamente no palacete que foi do Barão de Serra Negra, posteriormente demolido e hoje é utilizado como estacionamento da Câmara Municipal de Piracicaba, na esquina da Rua São José com Rua Alferes José Caetano. Depois construíram o prédio maior ao lado, e por um período foi alugada a casa da esquina com a Rua do Rosário com a Rua São José onde funcionou o gabinete do prefeito. A seguir o prefeito Adilson Benedito Maluf construiu o edifício onde atualmente funciona o Centro Cívico, nas proximidades da Rua do Porto.

O seu pai conheceu o prefeito Luciano Guidotti?

Ele trabalhou sob a liderança de Luciano Guidotti. Meu pai era fiscal de rendas da Prefeitura Municipal. Um fato marcante da minha infância é que no dia da sua nomeação ele me levou junto. Eu devia ter de quatro a cinco anos. Alguns anos depois eu estava junto as minhas primas que trabalhavam no Centro de Reabilitação, quando o prefeito Luciano Guidotti chegou. Se não me engano Dona Hilda Gobbo era uma das lideranças. Ela disse: Prefeito, estamos precisando de tais coisas, e foi relatando. Luciano Guidotti enfiou a mão no bolso, tirou um maço de dinheiro e disse: “-Veja o que dá para fazer!”. Dinheiro dele, pessoal, em espécie. Luciano Guidotti era muito desprendido. Criou-se certo folclore sobre a figura de Luciano Guidotti, mas era um grande empreendedor pelo que sabemos. Tenho uma lembrança muito positiva a respeito dele.

Como você ingressou no jornalismo?

Eu tinha uns quinze anos de idade quando meu pai faleceu. Minha mãe passou a trabalhar no IPASP, na prefeitura, eu tive meu primeiro emprego em “O Diário”. A minha mãe trabalhava no IPASP que nessa época localizava-se a Rua Prudente de Moraes, entre a Rua Tiradentes e a Rua Luiz de Queiroz, todos os dias ela passava em frente ao “O Diário”, nessa época situado no Edifício Terenzio Galesi, onde atualmente funciona um banco . Um dia minha mãe se encheu de coragem e entrou em “O Diário”, explicou a situação, que o meu pai havia falecido, embora eu fosse muito novo gostava muito de ler, escrever, eu era datilógrafo! O Cecílio Elias Neto disse para que fosse até lá. Com cinco minutos de conversa, ele disse-me que iria dar-me uma oportunidade como repórter. A partir de então me encantei com o campo de jornalismo. Lembro-me que fiz uma bela reportagem sobre o Museu Prudente de Moraes. Da. Helena Benetton era diretora do museu. Presidente da Associação dos Amigos do Museu. Quem fez as fotografias foi o Aldano Benetton, filho dela. O João Chiarini também me “adotou” na época, eu conversava muito com ele. Isso que está sendo feito hoje eu já fiz em 1970 em “O Diário”, dois ou três domingos, mostrando um pouco dos monumentos da cidade. Comecei a gostar do campo de humor gráfico, em 1973 fui por minha conta e risco cobrir a primeira instalação do Salão de Humor do Mackenzie. Pedi a máquina de fotografia ao Cecílio, fui de ônibus para lá. Publiquei. o Alceu Marozzi Righetto, o Roberto Antonio Cêra (Cerinha) viram, O Carlos (Carlinhos) Colonnese viu também a matéria. Acharam muito interessante,  e surgiu a idéia de fazer um salão de humor também em Piracicaba. Era a época do jornal “O Pasquim”, um período difícil da intervenção militar. “ O Pasquim” era uma leitura de muito impacto à minha geração que estava começando a gostar de política.

Nessa época “O Diário” criou uma página denominada “Recados”?   

Era comandada pelo Cerinha, como se fossem as notas do Pasquim. Pílulas de texto pequeno. Antes do Orkut, do Facebook, do WhatsApp, do Twitter de 140 caracteres,  “Recados” era uma forma de comunicação bem diversificada. Seguia um pouco a linha do Pasquim. Ali havia muitos colaboradores: Caetano Ripoli, Cerinha, Alceu, Padre José Maria Almeida, Padre Pettan, João Maffeis, de vez em quando o próprio Cecílio escrevia, Marisa Bueloni, havia uma rede de colaboradores, era uma página muito lida. Pode-se dizer que era “O Pasquim” de Piracicaba na época, uma página ousada para o tempo. O Cecílio como jornalista dava muita liberdade para todos nós, em termos culturais, políticos. Ele construiu uma equipe de colaboradores, jornalistas muito aguerridos. Seguimos muito o estilo do Cecílio de fazer críticas. Foi uma fase muito boa, o Araken desenhando, o Jago na diagramação e nos desenhos também.  “O Diário” foi inovador na implantação do sistema offset, foi o terceiro jornal no Estado de São Paulo, tínhamos “O Cruzeiro do Sul” de Sorocaba, o jornal “A Franca” de Franca, “O Diário” foi o terceiro jornal, antes de “Folha”, do “Estadão”, do próprio “Jornal de Piracicaba”. Houve um empenho muito grande das lideranças políticas da época, o Cecílio estava muito envolvido com o José Aldrovandi que era Presidente da Associação dos Fornecedores de Cana e outras lideranças da cidade que acabaram bancando as máquinas.

Era um equipamento caríssimo.

Eram muito caros, equipamentos importados do Canadá. Houve a necessidade de treinar a equipe técnica para imprimir o jornal, foi uma mudança radical para a época.

A dinâmica do jornal passou a ser muito grande?

Muito maior, recebíamos informações internacionais das agencias como a United Press International (UPI), ANSA, tinhamos um produto jornalístico que mesclava Piracicaba e o mundo. ”O Diário” foi um jornal de vanguarda.


                43º Salão Internacional de Humor de Piracicaba - Vídeo de Abertura

A HISTÓRIA DO SALÃO INTERNACIONAL DE HUMOR DE PIRACICABA - TV CULTURA – 2001
Nesse período, há algumas passagens que são quase folclóricas, como a delegação de Piracicaba que foi ao jornal “O Pasquim” no Rio de Janeiro?

“O Diário” havia mudaddo da Rua Prudente de Morais para a Rua São José, em um prédio moderno, onde anteriormente funcionava a loja de máquinas e equipamentos de Tuffi Elias, pai do Cecílio Elias Neto. Foi em frente a esse prédio que Alceu Marozzi Righetto fez a proposta de fazer o Salão de Humor de Piracicaba, após ter lido a reportagem do Salão de Humor do Mackenzie que eu havia feito. Ele disse que ia convidar o Carlinhos Colonnese, iriamos conversar com o “Fagundinho” como era carinhosamente chamado o Cordnador de Turismo Luiz Antônio Fagundes. O prefeito era Adilson  Benedito Maluf. Pretendíamos que a prefeitura nos ajudasse a fazer o Salão. Isso foi em fevereiro, era carnaval. Logo em seguida, em um sábado de carnaval, o Alceu, o Colonnese e eu fomos entrevistar o pessoal que veio fazer parte do júri do carnaval de Piracicaba daquele ano, isso foi em 1974. Na piscina do Hotel Beira Rio começamos a conversar, e uma das pessoas que nos deu mais atenção na época foi um jornalista do jornal Ultima Hora, chamado José Maria do Prado. Conversamos bastante sobre cultura, carnaval, estávamos a vontade, quando o Alceu disse: “Zé, será que você não marca com alguém em São Paulo, vamos um dia para lá, para que alguém possa nos ajudar a organizar o “Salão do Humor” pretendemos fazer um Salão de Humor em Piracicaba, na hora o Zé Maria disse que era muito amigo do Zélio Alves Pinto, irmão do Ziraldo, que era um dos diretores do Pasquim. O Alceu queria chegar ao Pasquim mas não tínhamos uma forma clara de como entrar. Alguns dias depois, conversamos com o Fagundinho, com o Luiz Mattiazzo que era o Chefe de Gabinete do prefeito Adilson, a principio não havia verba disponível para realizar o Salão. Um dia o Alceu me chamou, assim como  o  Carlinhos Colonnese e disse que o Fagundinho queria conversar conosco. O pessoal do Clube Orquidófilo de Piracicaba que iria fazer uma tradicional  exposição no Teatro São José, estava com alguma dificuldade, e parece que tem uma “fortuna” de 10.000 cruzeiros para fazermos o salão. O Alceu acionou o José Maria do Prado, que entrou em contato com o Zélio, marcamos um almoço em um restaurante em São Paulo. O Zélio gostou muito da idéia. Convidou-nos para ir tomar o café na sua casa, assim conheceríamos o seu ateliê, fomos, tomamos o café, lembro=me do Zélio ter fincado um compasso em cima do mapa do Estado de São Paulo, a ponta seca em Piracicaba e com o grafite começou a desenhar círculos de raios cada vez mais abertos em torno da cidade de Piracicaba, dizendo: “Olha só o poder de disseminação que nós temos com relação ao salão para projetar Piracicaba nacional e internacionalmente!”. Uns dias depois o Zélio ligou para o Alceu dizendo: “Consegui que o  Ziraldo receba vocês no Pasquim situado a Rua Saint Germain. Era um casarão antigo, parecia uma vila. A secretária do Pasquim era a Dona Nelma. Normalmente as sextas-feiras era fechamento do Pasquim, estavam todos presentes: Ziraldo, Jaguar, Paulo Francis, Henfil. Ai vai dar para mostrar o projeto para toda a turma. O Mattiazzo emprestou o famoso automóvel Galaxie preto do prefeito Adilson, com o motorista do Adilson, o Kaoro, um japonês, que nunca tinha ido ao Rio de Janeiro. Fomos o Alceu, o Carlos Colonnese e eu para apresentarmos o projeto. Nisso já tínhamos convidado o Zélio para fazer o cartaz do Salão de Humor, e ele fez. Esse primeiro cartaz ficou um ícone. Passamos no Seu Julio Romano, que comercializava pinga em garrafão, compramos cinco garrafões e levamos. Todos apreciavam uma cachaça boa, mas era a predileção do Jaguar. Seu Júlio tampou os garrafões com rolha, amarrou, quando chegamos próximos a Campinas, a pressão forçou a saída das rolhas, como champanhe. O aroma da cachaça invadiu o interior do veiculo, fomos de Campinas ao Rio de Janeiro aromatizados pelo odor da legitima cachaça. Chegamos quase inebriados ao destino. Assim que chegamos, após as devidas apresentações, o Jaguar já emborcou um dos galões, tomou uma talagada de bom tamanho. Emendando: “É a melhor pinga do Brasil!” A pinga foi nas devidas proporções o nosso espelhinho de índio. O pessoal do Pasquim entrou de cabeça, pediram o cartaz do Zélio, na época tinha que fazer clichê. Prontificaram a publicar no Pasquim. O Jaguar chamou o Fortuna, para fazerem o regulamento do Salão. Eles perceberam a ousadia de uma cidade como Piracicaba, a ousadia daquele grupo de jovens.


                    Como surgiu o Salão Internacional de Humor de Piracicaba

Como foi a reação em Piracicaba?

Voltamos e logo começamos a divulgar. Surgiu um novo problema, em Piracicaba não tínhamos onde fazer o Salão. Na época o Mário Terra era colunista social de “O Diario”. Era também diretor social do Clube Coronel Barbosa. O presidente na época era o Dr. Heitor Montenegro, professor da ESALQ. Uns dias depois, o Mário voltou meio chateado, e comunicou-nos  de que o pessoal do Clube Coronel Barbosa estava com receio, a exposição tinha um caráter político. A idéia inicial era fazer no Teatro São José. O Clube se propôs a bancar o coquetel da abertura do Salão, iriam fazer uma divulgação. O Mário Terra tinha um amigo, o Renan Cantarelli que era gerente do Banco Itaú, o qual havia adquirido o Banco Português, que funcionava na Praça José Bonifácio, ao lado da Banca de Revistas do Gianetti, da Rádio Difusora, o Alceu mencionou que era uma exposição de arte, para comemorar  o aniversário de Piracicaba, Quando o Renan ficou sabendo que era o Salão de Humor já não tinha mais como adiar. Só que ele estabeleceu um prazo máximo para ser retirado do prédio. Com isso o Primeiro Salão de Humor abriu em um sábado, 26 ou 27 de agosto, e ficou só 15 dias, vieram para Piracicaba Jaguar, Fortuna, Ziraldo, Zélio e Wilde Weber que era cartunista do “Estadão”. O Pasquim mandou os trabalhos censurados, montamos com esses trabalhos uma mostra paralela.


      SALÃO DE HUMOR DE PIRACICABA - TV CULTURA 1998 - A HISTORIA



Após fazer o Primeiro Salão de Humor de Piracicaba, qual era a intenção? Prosseguir?

Nós não tínhamos a expectativa de fazer o Segundo.

Teve algum tipo de censura?

Houve um episódio que eu chamaria de surreal. O Capitão Alfredo Mansur era diretor do Tiro de Guerra e era o chefe indireto do SNI Serviço Nacional de Informações em Piracicaba. Era um militar bastante socializado a cultura de Piracicaba. Em um dos dias o Alceu me chamou e mostrou que algum visitante tinha colocado uma fita adesiva preta em cima de um determinado cartum. Como se quisesse dizer censurado. O Alceu criu a lenda de quem tinha feito aquilo foi o Capitão Mansur. O SNI tinha censurado o Salão! Passados esses anos todos e conhecendo o espírito anárquico do Alceu, eu diria que foi ele mesmo quem colocou o adesivo! Para criar um clima. Os artistas do Pasquim foram muito bem recebidos em Piracicaba. Saíram deslumbrados com Piracicaba. E voltaram muitas vezes depois.


                                      Salões de Humor de Piracicaba 1974 1975


Hoje nós estamos em qual Salão?

Vamos abrir agora no dia 26 de agosto o Salão de numero 44. É o Salão de Humor mais antigo do mundo! Na época em que abrimos o salão as referencias eram o Salão de Lucca na Itália, que não existe mais, o Salão de Toronto no Canadá e o Salão de Tóquio no Japão, que também não existem mais. Nesse livro que fiz recentemente sobre a História do Primeiro Salão do Mackenzie conseguimos identificar hoje no Brasil a existência de 126 Salões de Humor.

Quantos trabalhos vocês receberam no ano passado e quais são as expectativas para esse ano?

No ano passado recebemos quase 3.000 trabalhos, a expectativa é mais ou menos próxima a isso esse ano. São selecionados cerca de 400 trabalhos. O trabalho mais difícil é o da comissão de seleção. A comissão de seleção se reúne dias 28,29 e 30 no Hotel Center Flat,

Qual é a importância do cartum?

Ele fala por si próprio, independente da nacionalidade ou regime político em que o artista vive. É uma linguagem universal. É ácido, contundente, provocador.

O Delfim Neto é um colecionador de caricaturas?

É ! E é um sábio. Sempre foi um sujeito criticado, por trabalhar com uma área difícil que é a economia, ele imitou outro craque da área chamado Getulio Vargas. Faziam criticas do Getulio ele mandava chamar o autor, dizia que queria comprar a arte, com isso virou um colecionador dos seus desafetos. O Delfim é hoje um dos maiores colecionadores de caricaturas e cartuns. Quem sabe um dia ele empreste esse material para expormos em Piracicaba, eu sei que ele tem muitos amigos em Piracicaba. Podemos até mandar um fotógrafo para fotografar o material. Isso para evitar qualquer risco de extravio. Sei que o Barjas é um grande colecionador de charges e caricaturas, tem muitas obras do Erasmo Spadoto.

O Erasmo tem um humor mordaz?

Mordaz! É uma capacidade de reação ao momento. O Barjas era prefeito, recebeu uma verba para pintar o Estádio Barão de Serra Negra. Houve uma especulação de que ele iria pintar o estádio de amarelo e azul, que são as cores do seu partido PSDB. O Erasmo fez uma charge de um assessor perguntado ao Barjas. Como irá se chamar o estádio após a pintura: “ Barjão de Serra Negra” ou “Barão de Serra Negri”? .O artista gráfico tem um poder de síntese que nós jornalistas não possuímos.

Quantos livros sobre cartuns você já editou?

No campo de cartum já editei seis livros. Fiz o primeiro do Erasmo sobre as capivaras; do Luciano Veronezzi que publica na Gazeta de Piracicaba; do Edson Rontani, “A História do Nhô Quim”; fizemos três livros de trabalhos vencedores do Salão: “Balas Não Matam Idéias”; “Caixara de Forfe” e o “Risadaria no Salão”. A partir deste ano com a instituição da AHA (Associação dos Amigos do Salão Internacional de Humor de Piracicaba) Estamos lançando uma coleção de livros sobre humor gráfico. Quem gostar de humor, e queira filiar-se pode entrar em contado através do e-mail adolpho.queiroz@mackenzie.br. Podem participar pessoas de toda a região. Temos também o “Salãozinho” para crianças de 7 a 14 anos. Este ano tivemos 4.000 trabalhos inscritos.






                                   O Pasquim - A Subversão do Humor - PARTE1



 
                                   O Pasquim - A Subversão do Humor - PARTE2



                                   O Pasquim - A Subversão do Humor - PARTE3



                                 O Pasquim - A Subversão do Humor - PARTE4




                                         A Subversão do Humor - PARTE5



                                 



MARCELO MAGRO MAROUN – SOCIEDADE BENEFICENTE SÍRIO LIBANESA


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 15 de julho de 2017

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

http://blognassif.blogspot.com/










ENTREVISTADO: MARCELO MAGRO MAROUN
SOCIEDADE BENEFICENTE SÍRIO LIBANESA

 

A Sociedade Beneficente Sírio Libanesa, localizada em Piracicaba, é uma das mais tradicionais entidades do gênero no Brasil. Fundada a 16 de novembro de 1902 sua sede localiza-se a Rua Governador Pedro de Toledo, 1045, centro. Com horário de funcionamento de segunda a sexta feira das 9 às 12 horas e das 13 às 18 horas. Sábado das 9 às 13 horas. Inicialmente constituída só por imigrantes do Líbano cuja independência deu-se a 22 de novembro de 1943 e da Síria que se tornou independente como país a 17 de abril de 1946, hoje tem entre seus associados não só os imigrantes como também seus descendentes e agregados. A principio muito conservadora, restringia os associados apenas a imigrantes, sendo a sua magnífica sede suficiente para abrigá-los com conforto. Recentemente adquiriu uma área de 1.307,81 metros quadrados em local de fácil acesso e que proporcionará aos associados o espaço necessário às suas atividades. Como uma grande família, consta em seu quadro cerca de 350 associados. É necessário registrar que embora não sejam associados formalmente há um número bem maior de descendentes de imigrantes dessas duas nações, sendo sempre irmanados pela própria origem. Empreendedores, dinâmicos, festivos, emotivos, participantes, comunicativos, trazem em sua carga genética a cultura milenar de um povo. Muitos sírio-libaneses ocupam cargo de destaque em nossa cidade. A diretoria do biênio 2016/2017 é composta pelo Presidente Marcelo Magro Maroun; Vice-Presidente Tufi Buchidid; Primeiro Secretário Marco Aurélio Barbosa Mattus; Segundo Secretário Antonio Carlos Mellega; Primeiro Tesoureiro Francisco Aparecido Rahal Farhat; Segundo Tesoureiro Antonio Sérgio Calil;  Orador Oficial Elia Yussef Nader; Diretora Social Sylvana Zein; Diretora de Biblioteca Sandra Maria Elias Silva; Diretor de Patrimônio Nassif Elias Buchidid; Diretor Administrativo e Diretor de Sede Jorge Sallum Nassin. Além da diretoria há as comissões e departamentos compostos por associados. A seguir Marcelo Magro Maroun relata mais alguns detalhes.








O senhor nasceu em Piracicaba?

Nasci a 18 de janeiro de 1971, em Piracicaba, Meu pai Georges Naief Maroun era natural do Líbano, faleceu em 2012, minha mãe chama-se Mercedes Magro Maroun. Tiveram os filhos: Mateus, Angélica e Marcelo. Sou casado com Luciana Cristina Maroun, temos dois filhos: Marcelo e João Vitor.

O inicio dos seus estudos foi em qual escola?

O curso primário foi na Escola Estadual Dr. João Conceição, o ginásio foi na Escola Estadual Barão do Rio Branco, o curso colegial estudei no Colégio Anglo. Em seguida cursei Direito na Unimep, ao terminar a graduação procurei especializar-me em Direito Público, Direito Administrativo. Quer seja em licitações, contratos ou até mesmo em Direito Urbanístico, área onde fiz a minha especialização. Hoje ocupo o cargo de Procurador Jurídico do Município de Piracicaba.

Qual era a atividade do seu pai?

Ele sempre atuou no comércio. Ele chegou do Líbano com 18 anos de idade, como todo bom libanês, começou a mascatear. Até que montou um estabelecimento a Rua Benjamin Constant e depois a Avenida São Paulo, atuando no comércio até seus últimos dias de vida.

Atualmente o senhor é o Presidente da Sociedade Beneficente Sírio Libanesa, como é essa experiência?

Em 2013 e 2014 pertenci a diretoria, como diretor financeiro, cargo que continuei a ocupar nas gestões do presidente Elia Yossef Nader e posteriormente continuei na mesma função na gestão do presidente Antonio Sérgio Calil. No biênio 2016 e 2017 fui eleito por aclamação para tornar-me o presidente da entidade, com muita honra. Em novembro deste ano estaremos comemorando 115 anos. Temos estimulado a participação dos descendentes: filhos, netos, bisnetos, eles estão associando-se a Sociedade Beneficente Sírio Libanesa. Embora envolva pessoas residentes em nossa cidade, mantemos contato com outras entidades semelhantes, particularmente as localizadas em São Paulo. Há um contato com a entidade congênere de Campinas.


                                                        BANDEIRA DA SÍRIA






A origem da SBSL deu-se ao acaso?

Quando os imigrantes sírios e libaneses chegavam ao Brasil enfrentavam muitas barreiras, entre elas o idioma, costumes. Havia uma necessidade de confraternizarem-se com aqueles que haviam chegado ao Brasil anteriormente. Com a finalidade de terem um local onde pudessem reunir-se, assim como prestar a ajuda mútua, foi criada a SBSL. Logo a seguir, como demonstração de gratidão à terra que os acolheu de forma tão gentil e generosa, passaram a interagir com todos os demais segmentos. Com outras entidades congêneres, formadas por imigrantes de outras nações. Isso tem sido uma constante durante toda essa trajetória de mais de um século. Temos atualmente como meta, auxiliar nossos irmãos mais necessitados, independente da sua nacionalidade.

Qual é a relação da SBSL com a Igreja Ortodoxa?

Existe a missa Ortodoxa, que é realizada todo último domingo de cada mês, as 18 horas, na Igreja Dom Bosco Assunção, a Rua Boa Morte.  È celebrada no Rito Ortodoxo, algumas partes da celebração é feita em árabe. Geralmente quem celebra é o Padre Pedro Henrique Marsiglia que vem da Igreja São Jorge da cidade de Santos. As vezes é celebrada por um padre que vem da cidade de São Paulo.  Há uma forma de conduzir a celebração de maneira que todos acompanhem e compreendam, acabam também assimilando uma nova forma de cultura. Temos também a Missa Maronita, sempre foi realizada no penúltimo domingo de cada mês, anteriormente era celebrada na Igreja da Catedral, ela passou a ser celebrada na tradicional Igreja São Benedito, as 9:00 horas da manhã, o celebrante é o Monsenhor Jamil Nassif Abib.

Como é a relação diplomática com as representações dos dois países aqui no Brasil?

Ao menos uma vez por ano fazemos uma visita aos respectivos consulados, assim como para a Igreja Ortodoxa e para a Igreja Maronita. Os Maronitas são os Cristãos Católicos Orientais que devem seu nome a São Maron.

Um dos grandes dramas que a humanidade vive hoje é com relação o grave conflito no Oriente Médio e a massa de refugiados. Embora distantes, como é vista essa questão aqui no Brasil?

No Brasil, nos relacionamos muito bem, árabes entre si, e com relação a outros povos também imigrantes ou descendentes. Sou muito amigo, inclusive colega de profissão do Dr. Marcelo Rosenthal, que é  judeu. Tive a honra de cumprimentá-lo, abraçá-lo, em um evento onde se comemorou a independência da Síria e a Semana da Cultura Árabe.  realizada anualmente entre março e abril, na Câmara Municipal de Piracicaba, uma iniciativa do Capitão Gomes. Menciono esse fato para destacar que na própria SBSL temos sírios e libaneses, a questão dos refugiados só podemos tratar abraçando-os. Só para exemplificar, de forma mais explicita, ajudamos mensalmente o estudante S.B. (O seu nome por extenso encontra-se a disposição para que todos que possam ter interesse acessem), refugiado sírio, que estuda na Faculdade de Odontologia de Piracicaba. Ajudamos com o aluguel do pensionato e no início ajudamos inclusive na sua alimentação. Ele nos procurou, era seu desejo cursar odontologia. Ele esteve em São Paulo, foi encaminhado à Unicamp, que tem cláusulas específicas para refugiados em seu estatuto, mobilizamos a SBSL de Piracicaba junto a FOP, o assunto foi levado à esferas superiores da faculdade e foi determinada a sua inclusão após uma série de considerações, avaliações e ritos. A SBSL de Piracicaba tem feito não só o apoio material, mas também o acompanhamento do seu desenvolvimento e adaptação.

Tivemos outra situação em que o refugiado O.A.A. (Reservamos o direito de colocar só as iniciais para preservar a individualidade da pessoa) esteve aqui por um período, percebemos que ele estava profundamente traumatizado com tudo que havia vivenciado, sua saída da Síria, deixando família, pátria, amigos. Fizemos tudo que estava ao nosso alcance, inclusive com o auxílio de profissionais da área da saúde física e mental, além do apoio fraternal, de amizade, carinho. Os traumas de uma guerra são devastadores ao ser humano. Sua iniciativa foi  de solicitar meios pra locomover-se à outro país, onde iria encontrar-se com uma família conhecida. De forma solidária o ajudamos com muito prazer. São exemplos de situações que a SBSL está atuante,
                                                  BANDEIRA DO LÍBANO




Na parte cultural, além dos tracionais eventos típicos, há também as aulas de árabe?

As aulas são ministradas pelo Dr. Elia Youssef Nader, libanês, advogado, e orador oficial da SBSL. As aulas tiveram inicio em agosto de 2016, são ministradas uma vez por semana, todas s quartas-feiras das 19:30 às 21 horas. Os alunos são os associados e o publico em geral. O valor das mensalidades é simbólico, um quilo de alimento não perecível que é doado a entidades assistenciais de Piracicaba. Tivemos a satisfação de recebermos a inscrição de pessoas que não tinham a menor relação com a nossa cultura ou nossos países. Isso mostra o grau de interesse que existe sobre uma região de cultura milenar. Hoje todos os nossos alunos se forem ao Líbano ou à Síria irá comunicar-se de tal forma a entender e ser entendido através do idioma. Nós sempre comemoramos o Dia Internacional da Mulher, o Dia das Mães e o Dia dos Pais. Este ano, por decisão até mesmo, de contenção de despesas, vamos fazer o Dia da Família, a nosso ver o bem mais precioso que todos têm, será no dia 28 de julho. Novembro é um mês muito especial para nós, comemoramos a independência do Líbano assim como o aniversário da Sociedade Beneficente Sírio Libanesa de Piracicaba. Uma data muito importante para nós é também a data da independência da Síria, 17 de abril, celebrada na Semana da Cultura Árabe. Este ano, no mês de abril, abrimos as portas da SBSL para qualquer cidadão que quisesse conhecer um pouco mais da cultura árabe: trajes típicos, fotografias, filmes, músicas, conhecer a nossa tradicional sede, um patrimônio tombado.

Começou no inicio de abril e estendeu-se durante o mês todo,  tivemos as missas maronita e ortodoxa, durante a semana que celebramos a cultura árabe, realizamos um jantar, fomos homenagear nossos irmãos que já partiram. Durante o mês todo de abril tivemos sempre algum evento que resgatasse a cultura, as nossas tradições, nossas origens.
                                                                   DAMASCO


Existe um projeto para ampliar a sede?

Sempre ouvi na SBSL , como diretor, e até mesmo anteriormente principalmente pelo meu pai que foi também presidente da SBSL, acredito que foi no ano de 1985. Queriam adquirir um novo local, eles viam que os sócios estavam ficando mais idosos, com isso s limitados, e na sede temos uma escada em madeira que é uma obra de arte, no entanto, pelo fato de ser uma escada com muitos degraus, dificulta o acesso de associados. Alguns presidentes de gestões anteriores buscaram soluções práticas, foram realizados estudos, até mesmo experimentos que pareciam solucionar a questão da escada. De nada adiantou. Com a devida concordância dos ex-presidentes, ex-diretores, e atuais administradores, concluímos que deveria ser dada uma solução. Foram feitas pesquisas na cidade em busca de um imóvel ideal que tornasse realidade a nossa intenção. Encontramos um terreno com quase 1.500 metros quadrados localizado a Avenida Laranjal Paulista. Já estamos trabalhando no projeto da futura construção.

O objetivo é fazer uma sede campestre ou uma sede social?

É uma sede onde pretendemos realizar algumas reuniões, realizarmos todas as nossas reuniões festivas, todos os nossos eventos, deixarmos um espaço para churrasqueira. Há ainda a perspectiva de locação do salão para eventos. O número de salões disponíveis para locação em Piracicaba é inferior a demanda. A Sociedade é Beneficente, nós pretendemos arrecadar dinheiro para poder praticar com mais intensidade a beneficência. Se alguém precisar de uma cadeira de rodas nós temos o dinheiro para adquirir. Esse tipo de solidariedade nunca deixou de existir na SBSL. Em março de 2016 fizemos doação para a Catedral de Santo Antonio. Em maio doamos leite longa vida, arrecadados no evento do Dia das Mães, foram dados para as Meninas dos Olhos de Deus de Piracicaba, adolescentes que de uma forma ou outra foram maltratados. Doamos no mesmo mês leite longa vida para a APAE Associação de Pais e Amigos de Excepcionais de Piracicaba. Nesse mesmo mês de maio fizemos a doação de 96 caixas de medicamentos conforme listagem solicitada para o Banco de Remédios de Piracicaba. Ainda no mês de maio através de colaboração com o Lions Clube Piracicaba Cruzeiro do Sul ajudamos em um evento denominado Almoço Porco na Fornalha, com a venda de convites. Em agosto de 2016 doamos 222 litros de leite longa vida, arrecadados no Dia dos Pais e doados para a Casa do Bom Menino. Fizemos uma doação para a Igreja Ortodoxa que desenvolve diversos trabalhos em São Paulo. Teve a Páscoa Forense, ajudamos adquirindo convites e ajudando em outras despesas que eles tiveram de custos. Em setembro de 2016 fizemos uma doação para a Fraternidade Cristã que assiste pessoas com deficiência. Em novembro de 2016 fizemos a doação de 444 litros de leite longa vida para a Creche Ada Dedini Ometto, resultantes de um evento que fizemos na solenidade de aniversário da SBSL e Independência do Líbano. Nesse mesmo mês fizemos uma doação para o Chá Beneficente da Associação Ilumina. Fizemos uma aquisição beneficente para o Centro de Reabilitação de Piracicaba, no mês de novembro. Em  dezembro de 2016 A SBSL fez a doação de um auxilio para a aquisição de cestas de Natal feita pela Conferência de Santo Antonio da Sociedade de São Vicente de Paula. Em maio de 2017 foram arrecadadas 180 unidades de leite longa vida , durante a Semana de Cultura Árabe e doadas à Escola de Mães. Em maio de 2017 através de compra de convites, voltamos a ajudar outro evento Porco na Fornalha, promovido pelo Lions Clube Piracicaba Cruzeiro do Sul.


                                                                    LÍBANO

Essas entidades são selecionadas com qual critério para receberem doações?

Eles normalmente encaminham um ofício. Nós também costumamos procurar junto ao Fundo Social da Prefeitura as entidades mais necessitadas. Não é uma deliberação do presidente da SBSL. Levo o assunto para uma sessão ordinária, ou convoco uma sessão extraordinária, a pauta é votada, sempre é aprovada, estamos lá pra fazer isso. Salvo algo que extrapole o que podemos fazer. Se não temos como atender integralmente, procuramos ajudar parcialmente, em caso de necessidade.

Como o senhor vê a imigração árabe para o Brasil?

Eu diria que historicamente ela é fundamental. Da mesma forma como os brasileiros contribuíram muito com os libaneses, com os sírios, com os árabes, eu acredito que nós retribuímos isso. Hoje você pode pegar em todos os segmentos: quer seja na política, medicina, engenharia, advocacia, jornalismo, nós temos uma representatividade. Vamos pensar desde o inicio, mascateamos, abrimos comércio, geramos empregos, abrimos empresas, incrementamos o comércio, a parte econômica e financeira do Brasil, assim como outros imigrantes colaboraram os japoneses, italianos, alemães, enfim toda gama de imigrantes que veio para o Brasil. Temos muito orgulho do que o nosso povo já contribuiu, contribui e contribuirá para com o Brasil. Sempre não se esquecendo da acolhida que recebemos dos brasileiros. Pessoalmente atribuo tudo à minha família aos meus filhos e a minha esposa. Sempre afirmo que ao lado de um grande homem sempre há uma grande mulher.

domingo, julho 09, 2017

ELIANA ROSSO COSTA


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 08 de julho de 2017.

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

http://blognassif.blogspot.com/


http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADA: ELIANA ROSSO COSTA


 

Eliana Rosso Costa nasceu em São Paulo a 12 de outubro de 1928, seu pai fez questão em registrá-la no registro civil no dia 1º de novembro, dia de Todos os Santos. (São Paulo naquela época era considerada uma cidade pequena) . São Paulo passou de centro regional a metrópole nacional, se industrializando e chegando a seu primeiro milhão de habitantes  em 1928. Em 1929 São Paulo ganha seu primeiro arranha-céu, o edifício Martinelli.












 A partir da década de 1920 com a retificação do curso de rio Pinheiros e reversão de suas águas para alimentar a Usina Hidrelétrica Henry Borden, terminaram os alagamentos nas proximidades daquele rio, permitindo que surgisse na zona oeste de São Paulo, loteamentos de alto padrão conhecidos hoje como a "Região dos Jardins”.  Eliana Rosso Costa tem uma sólida formação escolar e acadêmica. Estudou inicialmente no Liceu Rio Branco Uma entidade escolar do mais alto nível do país. O Colégio Rio Branco é uma escola brasileira particular da cidade de São Paulo e tem como finalidade maior formar as crianças desde a educação infantil até o ensino médio. Com mais de 70 anos de história, é considerado um dos mais tradicionais colégios da cidade de São Paulo. O colégio faz parte do Programa de Escolas Associadas da UNESCO, que o qualifica para partilhar práticas educacionais com instituições de todas as partes do mundo, por meio de projetos inovadores nas áreas de Ciência e Cultura.Instalado em duas unidades, uma no bairro de Higienópolis, em São Paulo, com mais de 15.000m² de área construída, e outra na Granja Viana, município de Cotia, com área total de 80.000m² e 23.000m² de área construída. O colégio foi fundado por Savério Cristóforo, professor de um curso preparatório ao exame de admissão. Com o tempo, o curso se expandiu e precisou aumentar o espaço físico, mudando para outro local, e passou a chamar-se Instituto Rio Branco. Em 1926 foi trocado o nome para Liceu Nacional Rio Branco, passando por nova ampliação de suas instalações. Falecendo o professor Savério, em 1945, o Liceu foi comprado por dr. Antônio Sampaio Dória, mas acabou encerrando suas atividades logo no primeiro semestre.José Ermírio de Moraes, que foi senador da República por Pernambuco em 1963, vendo que a escola tinha um valor institucional, adquiriu o Liceu em 1945, e deu-lhe o nome de Colégio Rio Branco. Em 1946, o colégio foi doado à Fundação de Rotarianos de São Paulo. Nessa época localizava-se na Rua Doutor Vila Nova, onde atualmente é o Tribunal de Justiça da Polícia Militar; posteriormente, nos anos 60, transferiu-se para o atual prédio da unidade Higienópolis, o Edifício Rotary (Rotary International).O Teatro Rio Branco revelou atores como Antonio Fagundes, Dan Stulbach e Odilon Wagner.Outras pessoas notórias que também estudaram na instituição incluem o locutor e narrador esportivo Galvão Bueno, o piloto de Fórmula 1 Ayrton Senna, o humorista e apresentador Carlos Alberto de Nóbrega, o zoólogo e compositor Paulo Vanzolini e o cantor e compositor Jair de Oliveira.


                                                      SÃO PAULO DE ANTIGAMENTE

Qual era a atividade de seus pais?

O meu pai Chiafredo Rossi veio da Itália, ele casou-se com a minha mãe, Aurora Baratti Rosso, filha de italianos. Tiveram três filhos: Rovana Rosso, Hélio Rosso e Eliana Rosso. O meu pai nasceu entre 1988 a 1989, ainda moço, em 1910 ele veio para o Brasil, por conta própria, não veio com alguma das levas de imigrantes, em 1914 teve que voltar para a Itália convocado pelo governo para servir as forças italianas durante a Primeira Grande Guerra Mundial. Em 1918 ou 1919 ele voltou para o Brasil ele e mamãe casaram-se, já haviam se conhecido anteriormente no Brasil. Mamãe, como de hábito naquela época cuidava da casa e dos filhos. Papai tinha escritório de importação e exportação, chamava-se DECAL – Despachos de Cabotagem Ltda.

A senhora nasceu quando a sua família morava em que bairro?

A nossa família morava na primeira travessa da Avenida da Consolação, para quem se dirige no sentido bairro–centro, ao lado direito. Era uma casa enorme com um quintal imenso. Ao fundo tínhamos a Avenida Nove de Julho, já estava traçada a avenida mas era em chão de terra batida! Tinha um barranco que dava para a futura Avenida Nove de Julho. Nós íamos para o escritório do papai lá pelas cinco e meia da tarde, mamãe de chapéu, eu de chapeuzinho também, íamos buscá-lo na DECAL. Ficava na primeira travessa da Rua Direita, no centro de São Paulo. Íamos a pé, até a Rua da Consolação, pegávamos o Viaduto do Chá e entrávamos na Rua Direita.








A senhora conheceu a antiga Igreja da Sé?

Não. Nós freqüentávamos a Igreja da Consolação. Eu estudei no Liceu Nacional Rio Branco que era perto do Mackenzie. É interessante observar que o Liceu Rio Branco tinha uma área em uma quadra e outra na quadra em frente, para os alunos passarem sem correrem riscos havia uma galeria subterrânea que atravessava a Avenida Higienópolis. Entrávamos pela entrada principal, nesse prédio tínhamos aulas, outras aulas eram dadas no prédio do outro lado da rua, para chegarmos até lá atravessávamos o subterrâneo. O Jardim da Infância eu estudei no Sagrado Coração de Jesus, situava-se na esquina da Avenida Consolação. A minha irmã fez todo o curso dela nessa escola.

A senhora conheceu o Mappin?

O Mappin era na Praça Ramos de Azevedo, em frente ao Teatro Municipal. Tinha o famoso Salão de Chá, freqüentado pela elite de São Paulo. Eu era muita nova, não me lembro em detalhes. Era enorme, muito grande, seus proprietários eram estrangeiros. Lembro-me da Casa Fretin, existe até hoje. Ao lado do Mappin, na Rua Xavier de Toledo esquina com o Viaduto do Chá havia a Light, que fornecia energia elétrica para São Paulo.




MAPPIN





MAPPIN






MAPPIN




A Praça da República era bonita?

Muito bonita e bem cuidada. Havia diversos cinemas nas imediações, entre eles o Odeon, com duas salas: Sala Vermelha e Sala Azul.




Seus estudos no Liceu Rio Brancos deram-se após o término do jardim da infância?

Na época nós mudamos e o Liceu Rio Branco ficava mais próximo de casa. Conclui o primário e o ginásio no Rio Branco. O Clássico eu fiz em um colégio italiano, o Dante Alighieri. Na Alameda Jaú.  Naquela época os professores eram todos europeus.

O idioma falado era o italiano?

Não podia! Falavam português, mas ensinavam o italiano. Os professores não eram apenas italianos, mas também franceses, ingleses, alemães.

Quais idiomas eram lecionados?

Além do português, aprendemos grego, latim, italiano, francês, inglês, espanhol. A Avenida Paulista era muito bonita, praticamente havia só as mansões. Não havia prédio.











Qual era a mansão mais bonita?

Cada uma tinha uma característica própria, eram muito lindas, a muito famosa era a “Casa das Rosas” que é preservada até hoje. Acredito que a mais bonita e com certeza a maior era a do Conde Francisco Matarazzo. Era todo de mármore.


                                                       FRANCISCO MATARAZZO


                                               MANSÃO MATARAZZO DEMOLIDA...


                                           MAUSOLEO DA FAMÍLIA MATARAZZO                                     

Como era a área onde hoje se situam os bairros denominados de Jardins?

Era um local muito bonito! O meio de transporte que mais usávamos era o bonde, havia o bonde aberto nas laterais e o bonde fechado, também conhecido como “Camarão” pela sua cor vermelha.

O pai da senhora trabalhava em São Paulo?

O escritório dele situava-se em São Paulo, mais tarde colocou um segundo escritório em Santos.

A senhora formou-se em que área?

Formei-me pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, da USP. Após concluir a faculdade fui lecionar em escolas privadas e depois prestei concursos para me efetivar no Estado.
A postura dos alunos em sala de aula era muito diferente?

Muito diferente! O aluno poderia até sofrer a sanção máxima que era a expulsão da escola. No ginásio eu aprendi francês e inglês. No clássico aprendi latim e grego.

O grego é uma língua mais complexa para aprendermos?

O alfabeto grego é diferente do nosso. Inicialmente tínhamos que estudar o alfabeto grego.

Latim já é mais familiar?

Sim! É o nosso alfabeto. Ou seja, o nosso alfabeto é que vem do latim.

O que muda é a pronuncia do latim?

É difícil saber exatamente qual era a pronuncia! A escrita nós conhecemos, ela esta presente, mas como saberemos a pronuncia? Havia mais de uma pronuncia do latim. Isso tudo é suposição. Não existia nada a respeito da pronuncia.

Pelo que vemos, duas pessoas podem pronunciar a mesma palavra em latim, de formas diferentes e ambos dirão que estão corretos?

Correto!

E na verdade ambos poderão estar pronunciando de forma incorreta a palavra em latim?

 Não havia meios de preservar a palavra em sua forma oral de modo original. Não existia gravação da palavra!  O que temos são suposições de pronuncias, apenas isso. A letra “c” simbolizada pela letra “k”. Como exemplo temos Kikero, ou seja, Cícero! Isso é apenas uma suposição, não há nada gravado!

O fato de a senhora ter estudado profundamente o latim, tornou-a professora de latim?

Eu lecionava só latim, depois quando eliminaram o latim do programa de estudo, passei a lecionar português.

A senhora vivenciou uma época em que o professor era considerado uma autoridade, tal qual um promotor público, um juiz.?

Os nossos salários eram equiparados aos da magistratura! Na minha época quem ia ser professor eram pessoas da classe média e alta. Éramos obrigados a preparar as aulas. Corrigia os exercícios. Ensinava.

Como eram os seus alunos de latim?

Eles aprendiam! Eram classes de 50 alunos, porém não abriam a boca, prestavam muita atenção a aula. Quando o professor entrava na classe estavam todos em silêncio, em pé, o professor mandava sentarem-se, eles sentavam.  O professor era muito respeitado, mesmo os pais quando iam conversar conosco, sentíamos o respeito deles por nós. Agora, infelizmente o professor está lá embaixo. Naquela época as classes já eram mistas, meninas e meninos.

A seu ver, deveríamos voltar a estudar latim?

O português, francês, rumeno, espanhol, italiano são todas línguas latinas. França, Espanha, Portugal, Rumenia, Itália, faziam parte do Império Romano, todas essas línguas são latinas, elas se diferenciaram porque anteriormente nesses países já havia outra língua. Quando aprenderam o latim, modificaram o som, modificaram as palavras, assim através de muitos séculos, surgiu o espanhol, o português, o francês, o italiano, o rumeno e uma série de outros dialetos.

O Brasil não tem dialetos, há uma razão para isso?

Os antepassados eram indígenas, e os portugueses nunca incorporaram a língua indígena, o contato lingüístico foi mínimo, não houve influência.

Houve um período em que o colégio do Estado era muito bem conceituado e o colégio particular era tido como ensino de qualidade inferior?

Teve sim! Foi um período em que o colégio do Estado tinha melhor reputação do que o colégio particular. Era uma honra ser aluno do Estado. O colégio do Estado expulsava o aluno, desde que o mesmo apresentasse razões para tal. Havia incentivo ao civismo, cantava-se o Hino Nacional com regularidade. Valia a pena ser professor. A escola é muito importante, é o inicio da vida profissional da pessoa.

A senhora acredita que um dia o ensino possa ter uma qualidade melhor?

Não! Pode piorar, mas melhorar não! O ensino está de acordo com o estilo de vida atual. A criança hoje manda dentro de casa, quando éramos crianças obedecíamos.

A senhora casou-se?

Quando eu era criança dizia à minha mãe que eu queria ter catorze filhos! Nem imagino onde arrumei esse número, mas era o que eu queria! Depois de adulta tomei consciência de que dois filhos eram suficientes. Casei-me com Manoel Costa. Não tivemos filhos.  Quando éramos professoras do Estado, prestávamos concurso para escolher a escola onde iríamos lecionarmos, uma vez escolhi Santos, onde permaneci por cinco anos, na época não era casada.

A senhora dirige até hoje?

Dirijo! Tenho 88 anos, enxergo muito bem, nem óculos eu uso. Tenho uma “vantagem” que nasci com ela: com um olho enxergo muito bem de perto, sou capaz de ler letrinhas de um milímetro. (Nesse momento Da. Eliana pede algo escrito em letra minúscula para demonstrar sua capacidade de leitura, o que é nitidamente comprovada). Com o outro olho eu vejo longe. Sou capaz de contar os andares de um prédio a longa distância. Esse defeito só foi detectado quando entrei na faculdade. Eles faziam um exame rigorosíssimo.

Os professores da USP eram muito exigentes?

Eram! Tínhamos que estudar e estudar muito!

Qual seu tipo de música preferida?

Música clássica apenas! A música me traz uma sensação muito agradável! Desde muito pequena já tocava piano. Meu irmão e minha irmã começaram com violino, quando comecei aprender a tocar piano minha irmã também passou a aprender a tocar piano. Papai era muito rigoroso com relação a música, só deixava ouvirmos música clássica. Ele nos levava ao Teatro Municipal de São Paulo. Era incrível! Teatro, concertos.
                                           TEATRO MUNICIPAL DE SÃO PAULO










                                  
                                        
             Salão dos Arcos no subsolo do Teatro Municipal





Como a senhora conheceu Piracicaba?

Por muito tempo eu quis sair de São Paulo, por causa da poluição. Visitei diversas cidades do interior. Fiquei sabendo de uma conferência que ia ser feita na USP. Inscrevi-me, quando cheguei, vi quem iria proferir a palestra, uma professora que tinha sido minha professora na USP: a Maria José! Antes de ela proferir a palestra fui conversar com ela, contei-lhe da minha vontade de deixar São Paulo, foi então que ela disse-me que estava morando em Piracicaba, eu iria adorar vir para cá. Quando cheguei a Piracicaba foi paixão a primeira vista, decidi que era aqui que iria morar o resto da minha vida.
                                                  Instituto Rio Branco






Uma grande história começa com uma formação moral e intelectual sólida, muito trabalho, disciplina e perseverança. Foi assim com Savério Cristófaro, professor dedicado, que ganhou fama e levou muitos candidatos a procurá-lo para aulas particulares, até fundar uma escola preparatória aos exames de admissão no centro de São Paulo. O número de alunos cresceu muito rapidamente. Tanto que o professor Savério precisou transferir sua escola para um local maior, que levou o nome de Instituto Rio Branco, em 1925, e, mais tarde, em 1926, Liceu Nacional Rio Branco. Começava aí a linda história de um dos melhores e mais tradicionais colégios de São Paulo. Em 22 de novembro de 1946, nasceu a Fundação de Rotarianos de São Paulo, a partir da união de 20 rotarianos do Rotary Club de São Paulo. Protagonistas de seu tempo, conscientes de seu potencial de intervenção pela melhoria da sociedade, os fundadores definiram, como princípio de atuação, o investimento em educação, comprometendo-se com a formação das futuras gerações do país.  A esta época, problemas administrativos e financeiros levaram ao fechamento do Liceu Rio Branco. José Ermírio de Moraes, um dos fundadores da FRSP, adquiriu a escola, que passou a chamar-se Colégio Rio Branco. A instituição foi, então, doada para a Fundação de Rotarianos de São Paulo.



                                                     O cine-teatro Odeon


O cine-teatro Odeon foi construído a rua da Consolação, 40-42, em parte se adaptando para isso uma antiga agência de automóveis, o Coliseu-Palácio e, de outro lado, construindo-se um prédio de quatro pavimentos. Entre os dois imóveis, abria-se a entrada do Odeon. O Escritório Técnico Júlio de Abreu Júnior, instalado na rua Barão de Itapetininga, 65, ficou encarregado da obra. O prédio do número 40 seria de quatro pavimentos (térreo mais três andares) sob sete colunas de cimento armado de 0,30x0,30 cm. O de número 42 seria aumentado em um pavimento, adaptando-se o Coliseu-Palácio para dois cines-teatro, que mais tarde levaram o nome de Odeon Sala Vermelha e Odeon Sala Azul (Lícia de Oliveira engana-se ao apontar que este seria o primeiro cinema com duas salas de projeção, já que o Central, de 1916, também tinha duas salas). A frente do cinema ocuparia 16 metros, contando com três portas de entrada, com 30 metros de fundo, sendo ladrilhada e coberta por uma estrutura de ferro sustentada por oito colunas de cimento armado, criando um vão livre para cada um dos palcos. Cada


um deles teria platéia, camarotes e três escadas de acesso aos camarotes. Janelas em arcos se abriam neste piso para a rua. Nos dois últimos pavimentos seriam construídos apartamentos. Mandado para análise de Benjamin Egas em 15 de março, ele informou que era proibida a construção de cinemas com pavimentos superiores (art. 167 do ato


1235), estando em desacordo com a legislação o piso da platéia e as portas de acesso à platéia obstaculizadas por cadeiras. O engenheiro Júlio Pacheco, do escritório técnico, foi convocado para dar explicações suplementares. Ele anotou no processo que os dois cine-teatros tinham “[...] entradas amplas e independentes por meio de largos planos inclinados, sem nenhum degrau, e saídas para as ruas Consolação e Epitácio Pessoa. E bom notar que esta grande segurança dadas pelas amplas e fáceis saídas é ainda aumentada por ser toda a construção de concreto armado e se acharem as cabines dos operadores cinematográficos [projecionistas] externas às salas de espetáculos”. Sobre o art. 167 nenhuma palavra. Dito isto, ele entrou com um pedido de reconsideração do despacho. Em 23 de março, provavelmente Arthur Saboya e o diretor da Diretoria de Obras foram em vistoria ao prédio. Ambos declararam “bem impressionados” com o projeto de adaptação, “[...] verificando que os diversos planos terão acesso inteiramente independentes. Quanto à superposição de pavimentos [os destinados a apartamentos], tratando-se de destinos equivalentes – Cinema e Teatro – não é o caso previsto na lei”. A Administração já era bem flexível quanto à construção de apartamentos ou escritórios sobre cinemas doze anos depois da lei. O alvará de construção foi concedido em 11/4/1928 (nº. 875, série 1), pagando-se custas em 19 de abril (nº. 718, série 8), no valor de Rs 1:405$100 (um conto e quatrocentos e cinco mil e cem réis). Inventário dos espaços de sociabilidade cinematográfica da cidade de São Paulo (1895-1929)


José Inácio de Melo Souza Parceria AHMWL /DPH/ SMC/ PMSP e Cinemateca Brasileira Programa de Pós-Doutorado – Bolsista do CNPq-Brasil http://www.arquivohistorico.sp.gov.br http://www.cinemateca.org.br 1 / 3 O Odeon foi arrendado para a Sociedade Anônima Empresa Serrador, sendo Inaugurado em 11/10/1928 com os filmes Lírio de Granada, com Lily Damita (Programa Serrador), na Sala Vermelha, e Quarteto de amor, com Florence Vidor, na Sala Azul (Programa Paramount). Nesse mesmo dia a empresa exibidora pediu a licença para funcionamento, cuja informação foi dada pelo engenheiro Antonio Fereira. Ele se limitou a dar a capacidade das salas: o Salão Vermelho tinha 30 frisas, 32 camarotes, 400 balcões e 1.680 poltronas; a Sala Azul era menor, com 18 camarotes, 240 balcões e 1600 poltronas. O alvará foi emitido no mesmo dia. Os ingressos para a estréia custavam dois mil réis e meia-entrada a Rs 1$500, somente na platéia porque frisas e camarotes estavam todos vendidos Segundo o site Almanack Paulistano, ele foi construído onde está hoje o estacionamento do edifício Zarvos, contando com 15 mil m2, cinco salões (dois cinemas, um bar, uma confeitaria-sorveteria com 300 mesas, dancing e uma sala


de exposições), intitulando-se o “maior centro de diversões da América Latina”, com capacidade para 15 mil pessoas. A Sala Vermelha seria mais requintada que a Azul, exigindo roupa de gala. Teria orquestra com 30 “professores”, uma Eletrola Ortofônica Auditorium para música de discos fabricada pela Victor Talking Machines, e apresentaria somente filmes em lançamento. Havia sessões especiais para as senhoritas nas quintas-feiras. As duas salas de projeções davam lugar a grandes bailes de carnaval, durante os festejos de Momo. O maestro da inauguração foi Antonio Giammarusti, apresentando-se no palco a cantora Ermelinda Cichero. Uma jazz-band animou o hall de entrada. Os escritórios da Empresa Serrador em São Paulo também foram transferidos para o prédio da rua da Consolação, 42, conforme pedido do gerente Júlio Llorente em


11/12/1928 (antes estavam na rua do Triunfo, 34). A capacidade de público da Sala Vermelha em 1939 era de 2.510 espectadores (1.740 na platéia, 315 nas frisas e 455 nos balcões); na Sala Azul cabia 2.020 espectadores (1.675 na platéia, 90 nas frisas e 255 nos balcões). MEMÓRIA Comentário do cronista Guilherme de Almeida: “Naturalmente para um cronista cinematográfico, gostosamente forçado a ‘torcer’ dia a dia pelo cinema, a inauguração de qualquer nova casa de exibições só pode ser motivo de júbilo. Ora, com a inauguração hoje, do ‘Odeon’, esse júbilo é particularmente grande, enorme, na mesma proporção da nova grande, enorme propriedade da Empresa Serrador. O ‘Odeon’ significa para o cinema e para São Paulo, um triunfo. Teatros, ‘bar’, confeitaria, ‘dancing’, galerias para exposições... tudo aí se reúne, tudo aí se confunde num microcosmo delicioso onde a vida correrá fácil e bonita entre as coisas gostosas e que são as únicas que justificam o inevitável sacrifício de viver... Ao cinema, o ‘Odeon’ dedica duas salas majestosas: a ‘Vermelha’ e a “Azul’. Aquela mais ‘rafinée’, mais feita para o ‘grand monde’... que por sinal, é bem Inventário dos espaços de sociabilidade cinematográfica da cidade de São Paulo (1895-1929) José Inácio de Melo Souza Parceria AHMWL /DPH/ SMC/ PMSP e Cinemateca Brasileira


                                                                   Light
Em 7 de abril de 1899, em Toronto, no Canadá, foi fundada The São Paulo Trainway, Light and Power Company, que em 17 de julho do mesmo ano, foi autorizada, por decreto do presidente Campos Salles, a atuar no Brasil. Sua atuação em São Paulo começou no mesmo ano, através da construção da Usina Hidrelétrica Edgard de Sousa em Santana de Parnaíba, concluída em 1901.
Posteriormente, a Light São Paulo passaria a operar os serviços de geração e distribuição de energia elétrica e os serviços de bondes elétricos do município de São Paulo, uma revolução para a época, quando havia apenas bondes puxados a burro.
No dia
9 de junho de 1904, os mesmos sócios canadenses criam a The Rio de Janeiro Tramway, Light and Power. A partir de 1912, as duas empresas passaram a ser controladas pela holding Brazilian Traction Light and Power Co. Ltd.
Entre 1900 e 1930, a Light São Paulo realizou inúmeras obras de expansão dos serviços de energia elétrica na capital de São Paulo e municípios vizinhos, construindo em 1908 a
represa de Guarapiranga e usinas hidrelétricas, como Edgard de Souza e Rasgão, localizadas no Rio Tietê, em Santana do Parnaíba, a 40 quilômetros da capital. Eram obras necessárias para acompanhar o crescimento econômico e populacional da cidade e arredores e consecutivo aumento do consumo de energia elétrica.
Mais tarde, na década de 1940, a Light São Paulo também foi responsável pela retificação do rio Tietê, Rio Pinheiros e pela construção da represa Billings e da usina hidrelétrica Henry Borden.
Em meados da década de 1940, a Light São Paulo encerra os serviços de transporte público por meio de bondes elétricos, repassando-os à prefeitura de São Paulo, através da
CMTC, que extinguiria o serviço de bondes no fim dos anos 1960.
Em 1956, a holding Brazilian Traction Light and Power Co. Ltd. começa a atuar em inúmeros ramos, dentre os quais o imobiliário, hoteleiro, serviços de engenharia, agropecuária, entre outros, e muda de nome, passando-se a chamar Brascan - Brasil Canadá Ltda. A empresa São Paulo Tramway, Light and Power Company se funde com a Rio de Janeiro Tramway, Light and Power Company, numa única razão social, agora chamada de Light – Serviços de Eletricidade S/A, vinculada à
Brascan Ltda.

Fim das atividades

No final da década de 1970, durante o governo militar, o contrato de concessão da Light – Serviços de Eletricidade S/A com o governo federal, assinado no início do século e com validade de setenta anos, seria encerrado, com a entrega dos ativos investidos pela empresa ao governo brasileiro. Porém, em circunstâncias obscuras, o então ministro das Minas e Energia, Shigeaki Ueki, por meio da Eletrobrás, adquiriu o controle acionário da Light em 1979.
Na sequência, em
1981 o governo do estado de São Paulo adquiriu a Light paulista e criou a sua própria empresa de energia, com o nome de Eletropaulo, que na década de 1990 foi vendida em várias empresas de porte menor, sendo algumas privatizadas pelo governador Mário Covas.
O grupo
Brascan - Brasil Canadá Ltda., depois da venda da Light, continua operando no Brasil nos negócios remanescentes, nos ramos imobiliário, hoteleiro, serviços de engenharia, agropecuária, bancos, seguros e de shopping centers. É proprietário dos shoppings Rio Sul, Madureira Shopping, Bay Market, Paço do Ouvidor, Botafogo Praia Shopping e Centro Empresarial Mourisco – no Rio de Janeiro; Brascan Open Mall, Raposo Shopping, Pátio Higienópolis, Shopping Paulista, West Plaza – em São Paulo; Shopping Crystal – no Paraná; Shopping Cidade – em Belo Horizonte. Juntos, eles recebem 90 milhões de pessoas/ano, movimentando anualmente cerca de US$ 100 milhões em locação de lojas.



A marca e empresa Light, apesar de há muito tempo extinta pela sucessora Eletropaulo, deixou alguns legados pela cidade de São Paulo.


As estações de transmissão de energia elétrica mais antigas, como em Santana, Cambuci e Bela Vista, conservam traços do estilo arquitetônico da época e influências de arquitetos canadenses. O antigo edifício-sede da Light São Paulo, batizado de Alexandre Mackenzie, em homenagem a um dos sócios da empresa, localizado na Praça Ramos de Azevedo, ao lado do Teatro Municipal e do Viaduto do Chá, é considerado de relevante valor histórico e foi tombado pelo Condephaat. Construído na década de 1930, foi internamente adaptado para ser utilizado como um shopping center (o Shopping Light) na década de 1990, porém externamente conserva as características originais. Outro legado se observa nos postes ornamentais do centro histórico de São Paulo cujas peças foram importadas na primeira metade do século XX para a implantação do luz elétrica na cidade.
Ainda hoje, pais e avós, que viveram na época da Light, reclamam das elevadas contas de energia elétrica atuais e das luzes acesas sem necessidade aos filhos e netos dizendo "vocês acham que eu sou sócio da Light?", numa prova de que o nome da empresa extinta ainda é forte no inconsciente coletivo paulistano.
A Fundação Energia e Saneamento, criada em
1998 para preservar e divulgar o patrimônio histórico-cultural do setor energético, herdou boa parte de documentos e objetos antigos da Light e de outras antigas empresas de energia e saneamento já extintas.
A Light também era jocosamente chamada de "São Paulo Light and Too Much Power", ou seja, "São Paulo Luz e Poder Demais".

Os primeiros passos da Light começam em 7 de abril de 1899, em Toronto, no Canadá, onde foi fundada a São Paulo Tramway, Light and Power Company, que em 17 de julho do mesmo ano, foi autorizada, por decreto do presidente Campos Sales, a atuar no Brasil. Sua atuação em São Paulo começou no mesmo ano, através da construção da Usina Hidrelétrica Parnaíba, concluída em 1901, posteriormente passando a operar os serviços de geração e distribuição de energia elétrica e bondes elétricos do município de São Paulo.
A partir do sucesso da operação paulista, no dia 9 de junho de 1904, os mesmos sócios canadenses criaram no Canadá a The Rio de Janeiro Tramway, Light and Power, o primeiro nome da Light no Rio de Janeiro, que recebeu autorização governamental para funcionar no Rio de Janeiro em 30 de maio de 1905. Nesse mesmo ano a The Rio de Janeiro Tramway, Light and Power adquiriu o controle acionário da concessionária de iluminação a gás, a empresa belga Société Anonyme du Gás de Rio de Janeiro, serviço que foi controlado pela Light até 1969, quando foi transferido para o governo estadual.
Em 1905, o Brasil ainda não era um país industrializado e a Light dava início à construção da então maior e mais moderna usina hidrelétrica do país, a Usina de Fontes, situada no município de Piraí, no estado do Rio de Janeiro. Nas décadas seguintes, conforme o Rio de Janeiro crescia, entraram em operação outras usinas: Ilha dos Pombos (1924), de Fontes Nova (1940), Santa Cecília (1952), Vigário (1952), Nilo Peçanha (1953) e Pereira Passos (1962).
Em 1907, a Light adquiriu e unificou diversas companhias de bondes e carris urbanos que funcionavam na cidade, controlando o serviço até 1963, alargando a zona urbana do Rio de Janeiro, contribuindo para o surgimento de vários bairros como Leme, Copacabana, Ipanema e Leblon. Além dos bondes, em 1918 investiu no ônibus elétrico que percorria a avenida Rio Branco e circulou até 1927. Um ano antes, criou a Viação Excelsior, os modernos ônibus com cigarra e cobrador. Em 1928, surge o Imperial, ônibus de dois andares, logo apelidado de chope duplo pelo carioca, que utilizou a condução até 1948.
A Light adquiriu ainda, de um consórcio alemão, a concessão do serviço telefônico, passando a controlar as comunicações nas duas principais cidades do país, Rio de Janeiro e São Paulo, quando em 1966 passa o serviço para o governo federal.
A partir de 1912, a The Rio de Janeiro Tramway, Light and Power passa a ser controlada pela holding também canadense Brazilian Traction Light and Power Co. Ltd. - Batraco, que também se transforma em controladora da Light de São Paulo.
Ao longo de quase cinquenta anos a vida e a aparência da cidade do Rio de Janeiro foi modificada pela empresa, que substituiu o bonde puxado a burro pelo elétrico, o lampião a gás pela luz elétrica, o fogão a lenha pelo gás canalizado, o mensageiro pelo telefone.

Alteração de denominação

Em 1956, a holding Brazilian Traction Light and Power Co. Ltd. começa a atuar em inúmeros ramos, dentre os quais o imobiliário, hoteleiro, serviços de engenharia, agropecuária, entre outros e mudou de nome, passando-se a chamar Brascan - Brasil Canadá Ltda. A empresa São Paulo Tramway, Light and Power Company se funde com a Rio de Janeiro Tramway, Light and Power Company, numa única razão social, agora chamada de Light – Serviços de Eletricidade S/A, vinculada à Brascan Ltda. A partir daí, o nome Light, já popularizado e consagrado pela população dos dois estados, seria a razão social da empresa.

Estatização

No final da década de 1970, o contrato de concessão da Light – Serviços de Eletricidade S/A com o governo federal, assinado no início do século e com validade de setenta anos seria encerrado, com a entrega dos ativos investidos pela empresa ao governo brasileiro. Porém em circunstâncias obscuras, principalmente no momento político vigente (regime militar), o então ministro das minas e energia Shigeaki Ueki, através da Eletrobrás, adquiriu o controle acionário da Light – Serviços de Eletricidade S/A e estatizou-a.
A justificativa oficial para a compra era a de que esta se fazia necessária, pois só tendo o governo como mediador a empresa conseguiria os empréstimos externos necessários aos investimentos na expansão de seus sistemas. Sem isso, o próprio desenvolvimento industrial das cidades do eixo Rio – São Paulo estaria em risco. A compra da Light marcou a conclusão do processo de nacionalização do setor de energia elétrica, iniciado em 1961 com a aprovação da lei que criou a Eletrobrás, consagrando a adoção da solução estatizante para o setor.
Na sequência, em 1981 o governo do estado de São Paulo adquiriu a parte paulista da Light e criou a sua própria empresa de energia, com o nome de Eletropaulo.
A parte fluminense da Light, por outro lado, virou uma empresa estatal federal voltada à holding estatal federal Eletrobrás, com a mesma denominação de antigamente, Light Rio ou Light, sendo uma das principais empresas estatais do estado, mantendo a responsabilidade pelo fornecimento de energia elétrica nas principais cidades da Região Metropolitana do Rio de Janeiro e do Vale do Paraíba Fluminense.

Privatização

A Light foi privatizada pelo programa federal de desestatização através de leilão na Bolsa de Valores do Rio de Janeiro, em 21 de maio de 1996, onde os compradores da empresa foram as empresas/consórcios:
Estas empresas passaram a controlar cerca de oitenta por cento do capital da Light Rio, sendo os outros 20,6 por cento pertencentes acionistas minoritários.
Em fevereiro de 2002, foi concluído o processo de reestruturação societária, consolidando a EDF como principal acionista/acionista controladora da Light.
Para cumprimento da legislação vigente sobre o setor elétrico, em que as atividades de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica precisam ser alocadas em empresas diferentes, foi efetuado o processo de desverticalização da Light em 2005, originando as seguintes empresas:
  • Light Energia S.A., responsável pela geração/transmissão;
  • Light Serviços de Eletricidade S.A., responsável pela distribuição,
  • Light Esco Ltda, comercializadora;
  • holding Light S.A., controladora das três operacionais.
Estas empresas formam, atualmente, o Grupo Light.
Em 28 de março de 2006, foi celebrado o Contrato de Compra e Venda de Ações entre a EDF International S.A (EDFI) e a Rio Minas Energia Participações S.A. (RME), sendo assim a empresa RME a única controladora das empresas do grupo, com 52.46% da Light.
Em Dezembro de 2009, a Companhia Energética de Minas Gerais comprou as ações da Andrade Gutierrez Concessões S.A. (AG Concessões), Pactual Energia Participações S.A. (Pactual Energia) e Luce Brasil Fundo de Investimentos em Participações (Luce)e tonou-se assim a única acionista da RME, com 52,46 por cento da Light S.A.
Atualmente, é administrada pela Companhia Energética de Minas Gerais.

Produção de energia

A Light Rio, através da Light Energia S.A, tem uma estrutura que inclui cinco usinas hidrelétricas, com capacidade instalada de 852 MW. São elas: Fontes Nova, Nilo Peçanha e Pereira Passos, localizadas no complexo hidrelétrico de Lajes (em Piraí, no Sul Fluminense), Ilha dos Pombos, no município de Carmo (divisa com Minas), e Santa Branca, no município paulista de mesmo nome.
A empresa possui também duas usinas elevatórias, Santa Cecília, em Barra do Piraí, e Vigário, em Piraí, responsáveis pelo bombeamento das águas do rio Paraíba do Sul e do rio Piraí, que geram energia. As águas do rio Piraí, além de aproveitadas para gerar energia, são utilizadas para abastecimento de água para o Grande Rio através do sistema Guandu, operado pela CEDAE.
Entretanto, a Light não produz toda a energia elétrica que distribui a seus clientes, necessitando comprar energia adicional de outras usinas/empresas geradoras, tais como o complexo nuclear de Angra dos Reis, Furnas Centrais Elétricas e Itaipu.
Em julho de 2011 seis bueiros da empresa explodiram simultaneamente.[7] Segundo empresa, o acidente pode ter sido por uma falha no sistema de transmissão



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