domingo, março 18, 2018

MARCOS DOUGLAS VELOSO BALBINO DA SILVA


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 17 de março de 2018.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADO: MARCOS DOUGLAS VELOSO BALBINO DA SILVA


 
O Juiz Titular da 2ª Vara Cível de Piracicaba, Marcos Douglas Veloso Balbino da Silva, 46, assumiu em 2016 a direção do Fórum de Piracicaba, cargo que estava sob responsabilidade do Juiz Wander Pereira Rossette Junior, desde 2005. Foi indicado por Rossette e outros juízes para assumir o cargo. Nascido a 29 de outubro de 1971 na cidade se São Paulo. Trabalhou no já extinto Tacrim (Tribunal Criminal).  Foi professor da Escola Superior de Advocacia de Jales, da Faculdade de Direito da Unicastelo e do curso preparatório para concursos e exames da ordem. É casado, pai de dois filhos.
 
Quantos juízes atuam no Fórum de Piracicaba?
São 14 cargos, 18 de titulares e 6 de auxiliares. Temos dois cargos de auxiliares que estão no concurso de promoção, no final de abril devem chegar os novos.
O senhor está em Piracicaba há quanto tempo?
Estou há 14 anos. Iniciei minha carreira como Juiz Substituto em Araraquara, fui Juiz Titular em Iepê, cidade próxima a divisa com o Paraná. Depois fui para Palmeira d'Oeste, no noroeste do Estado, e de lá me promovi para Piracicaba.
O senhor cursou direito em São Paulo?
Sou formado pelas Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU) situada em São Paulo.
O senhor iniciou atuando como advogado em escritório particular?
Eu era servidor no Tribunal de Justiça em 1994, em 1999 iniciei na magistratura, na época o período em que eu trabalhei como servidor contava como tempo necessário para prestar o concurso.
Em Piracicaba há acumulo de processos?
No Judiciário Brasileiro enxugam-se gelo, só a minha vara recebe de 140 a 180 processos novos por mês!
A Constituição Brasileira está defasada?
Infelizmente quem está defasado é o povo brasileiro, com suas obrigações, ninguém conversa, traz tudo para o judiciário, ninguém respeita o próximo, esse é o problema.
Antes de procurar o judiciário deveria tentar-se um acordo entre as partes por iniciativa delas mesmas?
Temos um grande problema, as Agências Nacionais que é uma idéia ótima, não funcionam, nós estamos com uma grande carga de processos de telefonia, de bancos, planos de saúde, isso é um complicador. Por outro lado temos uma população que em grande parte só pensa em si, no próprio umbigo, não precisava chegar até o judiciário, muitos processos não há necessidade de chegar até aqui.
Qual área processual o senhor julga?
Só julgo processos cíveis: acidente de trânsito, falência de empresa, dano moral, contratos bancários, consumidores, despejo, briga de sócio, briga de vizinho (não crime), se teve dano, dano moral.
Nesses anos todos, o senhor percebe se houve um acréscimo de ocorrências?
Só aumenta!  Aqui em Piracicaba eu cheguei para ser o décimo Juiz da Comarca, hoje estamos em 24 juízes. E não damos conta! Como aumentou o número de varas, aumentou o número de servidores. Não sei até quando o governo vai conseguir contratar para servir a justiça.
Há muito papel tramitando?
Não há mais papel no Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. Só os processos antigos. Desde 2013 todos são eletrônicos, tudo digital, não temos mais papel. (Enquanto conversamos Dr. Douglas através dos terminais sobre sua mesa, realiza algumas ações, consegue nos dar atenção sem perder um momento da sua atividade mais urgente). O processo é todo digital desde 2013.
O senhor acredita que a tecnologia avançou muito e a parte humanística não evoluiu na mesma velocidade?
O senhor matou a charada! È isso mesmo! O Brasil só se desenvolveu na parte tecnológica, e não muito. Na parte humanística regredimos.
O senhor vê alguma solução para essa situação?
Para o Brasil? Só se começar tudo de novo!
Há os que defendem o controle da natalidade, a seu ver pode ser um caminho para a solução?
Não é só o controle da natalidade que irá resolver. O problema do brasileiro é moral, é ético, Hoje todo mundo tem acesso a internet, recebe um grande volume de informações, daria para entender o que é certo e o que é errado. Como deveria ser feito. E não é feito. Cansamos de ver pessoas que freqüentaram grandes escolas e tem desvio de conduta da mesma forma. O problema é da índole do brasileiro.
Isso não tem nada a ver com a classe social do individuo?
Não. O brasileiro quando tem oportunidade gosta de levar vantagem, ludibriar o próximo.
O senhor tem alguma fé religiosa?
Tenho!
O senhor considera a religião importante na vida da pessoa?
Para os que acreditam, sim.
O senhor acredita que se tivéssemos um pouco mais de fé seríamos diferente?
Não é apenas ir a uma determinada religião que irá mudar o indivíduo. Canso de passar em frente a determinadas igrejas e vejo veículos parados em locais proibidos. Ou em frente a entrada de uma garagem. Tenho amigos que tem que localizar quem está assistindo uma cerimônia religiosa e deixa o carro estacionado em frente a sua garagem. A questão não é divina, é do próprio cidadão.
A impressão que se passa é que o país não cresceu, inchou.
Continuamos iguais a quando os portugueses aqui chegaram cada um por si e Deus para todos! Ninguém está pensando no próximo, em sociedade, em coletividade, pensa nele!
Ao julgar uma causa o trabalho do juiz é desgastante?
O trabalho do juiz é baseado no que? Na Constituição, na Lei e nos fatos que as partes trazem. O Juiz não é Deus, não é onisciente nem onipresente. Às vezes ele julga, mas não faz justiça. Porque ele não estava lá. As testemunhas vêm até aqui, mentem, e mente bem, a pessoa sai injustiçada. Temos que privilegiar a boa fé das pessoas. Mas nem sempre é isso que vemos. As pessoas têm que entender que o juiz usa duas ferramentas básicas: Constituição e a Lei. A Constituição traz os princípios e a Lei acaba detalhando mais esses princípios, e os fatos que as partes trouxerem, o juiz não estava lá. Até porque se ele viu o que aconteceu ele não é juiz, é testemunha.
Há muitas décadas, a farmácia era um dos locais onde intelectuais, autoridades, passavam para “um dedo de prosa”. Com o crescimento desses povoados, isso terminou. Com o advento da Operação Lava Jato houve uma glamorização da profissão?
Não concordo! Ao contrário, só o colega do Paraná recebeu a glória, os demais são tachados: ganham muito, não fazem nada.
Essa história de ganhar muito é relativa, há muitos advogados que ganham muito mais!
Os bons advogados ganham muito mais. Esse muito pode por bastante, muiiiito mesmo!  Quanto ao juiz, a população tem que pensar que se não pagar bem, quem vai querer ser juiz? Você tem que atrair os melhores quadros, tem que competir com a iniciativa privada, os bons tem ótimas propostas por parte da iniciativa privada. Se você pagar mal ao juiz, irá atrair pessoas não tão capacitadas, a corrupção que hoje está a níveis baixíssimos na magistratura, ela está dentro do ser humano. Se você paga mal, começa a vir gente não tão capacitada para ser juiz. Só que pense: o juiz tem o poder da caneta, você pode trazer pessoas despreparadas e mal intencionadas. O rapaz ou a moça que sai da faculdade vai pensar, vou ser juiz, quanto vou ganhar? Cinco mil reais? E ser advogado de uma grande empresa? Cem mil reais? Qual será a escolha que irá fazer? A pessoa que tem mais capacidade tende a ir onde tem melhores condições de trabalho. Uns querem achatar o salário do juiz? Tem uma conseqüência. Hoje poucos passam no concurso para juiz, promotor de justiça. São muitas vagas e poucos que ingressam.
Acumulando a direção do Fórum e a magistratura o senhor tem uma carga grande de trabalho.
Ainda bem que tenho uma estrutura de funcionários muito boa, tanto no meu cartório como na administração. Mas dá trabalho! São reuniões, com juízes, advogados, a imprensa procura muito mais o juiz diretor, você lida com diversos interesses, o Fórum é a casa do juiz, é a casa do promotor de justiça, é a casa do advogado. Temos 600 servidores distribuídos em três prédios. Temos o prédio principal, ao lado temos o Cartório do Juizado Especial Cívil Criminal e na Rua Moraes Barros Cartório da Vara da Fazenda Pública, temos que administrar o interesse de todo mundo, da população que vem dos policiais civis e militares, dos guardas municipais. Não é simples. Temos 6 Varas Cíveis, 4 Varas Criminais, 3 Varas de Família,  1 Vara da Infância, 1 Vara Júri e Execução Penal, 1Vara Cívil e Criminal e 2 Varas da Fazenda Pública sendo que a Segunda Vara da Fazenda Pública estamos aguardando agenda do Presidente do Tribunal para instalação.
Há um projeto para um prédio novo?
Temos o terreno doado pela prefeitura estamos em conversações com o Estado para ver se vai construir ou não, de que forma vai ser com dinheiro público ou dinheiro privado mediante concessão ou permissão.
Ser juiz é uma sensação boa por estar prestando serviço e de muita responsabilidade. Qual é o sentimento de um juiz?
É a primeira vez que me perguntam isso! Falo por mim. Sou feliz com o que eu faço. Sei que mandei prender muita gente, tirei muita gente de casa, tirei filho de muita gente, mas me sinto realizado porque é a nossa tentativa de fazer justiça. É gratificante resolver um problema, principalmente quando você vê que fez justiça.
O senhor é visto com muito respeito.
A população tem um respeito pela figura do juiz por ser a última defesa do cidadão. Quando o cidadão não consegue resolver o seu problema, é perseguido por ente privado ou público, é aqui que ele vai ter a sua salvaguarda.
Como Diretor do Fórum o senhor tem algum horário diferenciado?
O povo não entende. Muitos dizem “-O Juiz só vai a tarde!”. O que acontece? O nosso trabalho é muito intelectual. Pensar. Raciocinar. No pequeno espaço de tempo que você está aqui por quantas vezes tocou o telefone? No mínimo quatro vezes. Quantos que entram e saem da minha sala? Muita gente. Dependendo do caso, você não consegue dentro do Fórum dar uma solução. O advogado vem para despachar, você é obrigado a atendê-lo. O que acontece? Muitos colegas acabam trabalhando em casa. Lá é um ambiente tranqüilo, se tranca no escritório dele, com os livros, e está decidindo, um casinho de despejo, em que o cidadão não pagou, é simples. No meu caso eu tenho a recuperação judicial da  Dedini. Tem 22.000 páginas digitais! Fora os anexos que deve dar umas 10.000 páginas! Esse é um dos 4.000 e poucos processos em que estou trabalhando.
O senhor tem que ler 22.000 páginas do processo?
Já li! Conclusão, o juiz tem uma carga mínima de comparecimento no Fórum que é das 13:00 às 18:00 horas. (Pela quinta vez toca o telefone). Com o processo digital, hoje mesmo trabalhei em casa. Além disso, atuo no Colégio Recursal, ou seja, todos os processos de pequenas causas, os recursos não vão para São Paulo, ficam aqui em Piracicaba. (Nesse momento uma pessoa autorizada entra na sala e dá um pequeno aviso ao juiz). Além disso, sou Corregedor do Segundo Tabelionato de Notas. Qualquer problema que a população tiver lá, reclama comigo.
E a senhora sua esposa consegue entender esse trabalho intenso?
Senão não teria casado comigo!
O senhor tem algum livro escrito?
Como eu disse, não tenho tido tempo. Admiro quem tem tempo de escrever um livro. Se eu fosse escrever um livro seria uma obra jurídica, abordando a parte técnica.
O senhor ainda estuda bastante?
O certo seria abrir um livro e ficar a tarde inteira lendo, mas não dá tanto tempo, com isso acabo estudando para o caso. Quando é um caso complicado vou estudar a doutrina daquela matéria.
Ou seja passa a vida inteira estudando?
Para quem gosta de ler, o caminho certo é ser juiz.
Com relação a recursos financeiros o judiciário também sente dificuldades?
Dependemos de o Executivo passar o dinheiro para o Judiciário. Todo ano o orçamento do Tribunal de Justiça sofre cortes.  Nunca vem o dinheiro que o Tribunal de Justiça entende necessário para administrar toda a máquina. Teria que ser 6% do orçamento, mas não vem, Chega em torno de 4,7%. (nesse momento Dr. Douglas já despachou eletronicamente, seu dinamismo impressiona).
Essa adaptação à informática já foi absorvida pelo Judiciário?
Os juízes já estão adaptados.
Há uma aproximação maior do Judiciário com a população?
Hoje há muito mais acesso ao judiciário do que antigamente. Não é se aproximando da população que o judiciário vai piorar ou melhorar, o juiz julga com base na Constituição e na Lei. Se for para aproximar para saber o que a população quer, ai vamos para a praça pública julgar as pessoas, como era na Roma antiga. (Dr. Douglas lembra os sinais feitos pelos romanos: polegar para cima era sinal de absolvição, polegar para baixo era sinal de condenação). Muitas vezes o que a população quer não é o justo, o certo.
A mídia ajuda ou atrapalha?
Ajuda e atrapalha.
O senhor acredita que as perspectivas futuras do Brasil é ter seus sonhos realizados?
Não. Ele só está regredindo, na minha visão é só piorar. Não precisa ser juiz para ver isso, é só olhar o que está acontecendo no país: na política, sociedade, instituições, mesmo a vida privada, está um caos! Não dá para falar que as coisas estão bem.
As vezes é necessário ir ao caos para voltar a ser melhor.
Mas quando o Brasil foi bom? Tenho 46 anos e não me lembro de pensar: “Nossa! Esse País está uma maravilha!”. O Brasil é um país do futuro! Só que o futuro já passou e estamos na mesma situação.
O senhor pratica algum esporte?
Jogo futebol e tênis.
Bom jogador de futebol?
Eu era! Jogava no meio, no ataque, na defesa. Depois de velho você vai recuando.
O senhor faz algum tipo de alimentação especial?
Como de tudo, moderadamente.
Piracicaba representa para o senhor uma cidade boa para morar?
Piracicaba é excelente! Muito boa para morar, aqui conheci a minha esposa, pretendo não sair daqui.
Normalmente o senhor despacha quantos processos por dia?
Depende muito do processo, do dia, Dedini quando tenho que despachar é o dia inteiro. Existem processos que são simples, com dificuldade média, difíceis. Existe um acompanhamento da produtividade do juiz, são bem rigorosos, eu não fico contando quantos processos despacho. Se ficar contando fico louco! No tempo em que eu iria demorar para contar já despachei outro processo. O volume é grande.
O senhor tem algum auxiliar nesses processos?
Aquilo que é básico, o cartório faz. Dar vista, a parte juntou um documento a outra tem que dar vistas, o próprio cartório faz. É o que chamamos de despacho de mero expediente ordinatório. As decisões mais complexas sobem para o gabinete tenho duas assistentes, são bacharéis em direito, que me ajudam em pesquisas de doutrina, jurisprudência, essas atividades.
Existe uma escala na carreira de juiz?
Você entra como juiz substituto, depois a primeira promoção é para juiz de entrância inicial, a próxima promoção é para juiz de entrância intermediária, depois entrância final, que é a que estou, e depois é desembargador. Para ser desembargador tem que ter tempo de carreira.
A aposentadoria compulsória de juiz é com que idade?
Com 75 anos.
Ele pode ingressar até com quantos anos?
Não tem idade limite. Era 45 anos, mas isso já caiu faz tempo.
É uma carreira que aos jovens bem intencionados é indicada?
Quem sentir-se vocacionado deve seguir. Eu não me arrependo nem um minuto. Eu me decidi quando estava no terceiro colegial. Queria ser juiz. Tanto que fui fazer direito já sabendo o que queria ser.
A forma de lazer é a mesma das outras pessoas?
Juiz é uma pessoa comum. Faço tudo que o cidadão comum faz. Geralmente tem juiz que é mais caseiro outros gostam de sair. Alguns são mais retraídos outros não. Isso é da personalidade da pessoa, não do cargo.
 

domingo, março 11, 2018

GERALDO GALVÃO BRASIL


Sábado 06 de janeiro de 2018

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
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ENTREVISTADO: GERALDO GALVÃO BRASIL

Por muitas décadas Piracicaba, que sempre teve um índice de ensino de nível elevado, encontrou em um dos seus estabelecimentos, tudo, ou quase tudo que o estudante necessitava. Quando não havia em estoque, ou então era uma obra recém lançada a Livraria Brasil trazia rapidamente. No início das aulas ir a Livraria Brasil era como entrar em uma colméia. A farta variedade de material escolar, desde lápis e canetas coloridos, livros escolares, cadernos espirais (Que eram para os alunos cujas famílias tinham poder aquisitivo maior). O que conquistava o cliente, entre outras coisas era o atendimento, dos seus proprietários, das balconistas, muito solícitas, em meio àquele tumulto todo, listas e mais listas de material escolar, papel pardo ou então plástico comum para encapar os cadernos e livros, naquela época todos os cadernos eram encapados com papel pardo ou rosa, não existia o papel adesivo Contact, cada matéria recebia uma etiqueta, com o nome da mesma e do aluno. A simplicidade e atenção com que os proprietários atendiam eram de uma delicadeza impar. Os estudantes da época lembram com nostalgia e certo romantismo daquele tempo. Um detalhe muito interessante: o livro que o irmão ou irmã mais adiantado na escola, utilizava, era reutilizado pelo filho que vinha em seguida, ou doado a alguém que iria utilizar. Não havia essa dinâmica maluca de “mudança” infinita de métodos pedagógicos que descartam livros e mais livros, muitos até embalados em pacotes nunca abertos, distribuídos “graciosamente” pelo poder público, em quantidades fenomenais. Um verdadeiro abacaxi para os diretores de escolas públicas, que recebem quantidades exorbitantes de livros, não podem descartar ou sofrerão as penas da lei, atulham salas de escolas. Sem utilidade alguma o destino certo deles é a reciclagem. Milhões são desperdiçados, beneficiando interesses escusos. Isso não existia!

Geraldo Galvão Brasil nasceu a 24 de setembro de 1945, em Piracicaba, filho de Osvaldo Dias Brasil, piracicabano e Maria Joana Galvão Brasil, natural de Botucatu, professora no Grupo Escolar Barão do Rio Branco em Piracicaba, ele tinha uma joalheria, na Galeria Brasil, a Papelaria Brasil era de um lado e a joalheria era do lado oposto. Tiveram dois filhos: Geraldo Galvão Brasil e Oswaldo Galvão Brasil, professor universitário, da UNESP de Botucatu. Geraldo Galvão Brasil casou-se em primeiras núpcias com Maike Gerken Brasil, tiveram três filhos: Alexandre, Betina e Henrique. Em segundas núpcias casou-se com Roseli da Silva Fernandes.

A família Brasil e a cidade de Piracicaba mantêm uma forte ligação.

Faço parte da família Brasil, por décadas os Irmãos Brasil eram muito conhecidos em Piracicaba, isso até  pouco tempo. O meu tio Francisco(Chiquito) e o meu tio Paulo, em função principalmente da livraria e papelaria.

O seu pai Osvaldo Dias Brasil em função da relojoaria?

O meu pai começou a vida como linotipista, isso antes de casar, teve um problema respiratório, permaneceu uns tempos em Campos de Jordão, quando ele voltou foi trabalhar com o meu tio João Caruso, casado com minha tia Laudelina, na época era proprietário de uma joalheria, a Casa Caruso, situada a Rua Governador Pedro de Toledo , ao lado da Hoppner Chapéus em frente a Casa Bischoff que trabalhava com fotografias e material fotográfico. Quando a pessoa entrava na Relojoaria Caruso, tinha uma banca onde meu pai consertava os relógios. Na esquina da Rua Governador Pedro de Toledo com a Rua Moraes Barros havia a Relojoaria Gatti. O meu pai começou sua vida consertando relógios, geralmente suíços, dava-se corda para que funcionasse. Eram das marcas: Longines, Cyma, Omega,












os relógios femininos eram pequeninos. Meu pai foi um grande relojoeiro, me ensinou a consertar despertadores, que são mais fáceis de consertar, os Westclox por exemplo. Minha mãe era professora, ela e meu pai juntaram suas economias e adquiriram uma casa. Ele pediu demissão da Casa Caruso e abriu uma banca para consertar relógios, em uma garagem na Praça José Bonifácio, onde está o Banco Safra, em uma parte da área existia um armazém e a garagem. Continuou consertando relógios, sempre teve muitos fregueses. Ele decidiu aumentar, na mesma garagem, mandou fazer uma vitrine, foi para São Paulo, comprou dois ou três relógios, colocou-os na vitrine, não demorou um mês e os relógios foram roubados, isso faz uns 60 anos! Meu pai não desanimou, continuou trabalhando, Com a intenção de crescer, ele alugou na Rua Governador Pedro de Toledo, um salão grande, no fundo era uma casa com três quartos. A casa existe até hoje! Ao lado tina a sapataria Batta.  

Já existia a Livraria Brasil?

Os meus tios tinham a Livraria Brasil na Rua Moraes Barros. Era grande, no fundo tinha um puxadinho onde os dois ficavam era o escritório deles, ali permaneciam trabalhando. Ao  lado da loja, o Banco do Estado de São Paulo, BANESPA, começou a fazer o seu prédio de Piracicaba. Estavam fazendo as fundações, tinham escavado uma área enorme, isso em um período de chuvas intensas, até que a loja inteira dos meus tios caiu! Os dois estavam nos fundos, não sofreram nada, só que da loja não sobrou nada. Provisoriamente eles abriram a livraria na loja onde meu pai ia montar a relojoaria, meu pai foi para uma loja muito pequena, nós morávamos atrás, ficava embaixo da Rádio PRD-6.






Ele fez uma loja na frente com relógios e jóias. Ao lado, ninguém via, ele consertava relógios. O terreno onde existia a livraria que caiu, pertencia aos meus tios. Decidiram fazer um prédio, e fizeram a Galeria Brasil, com várias lojas e o Edifício Georgetta Dias Brasil com 18 apartamentos, o engenheiro foi Luiz Lee Holland. Foi o primeiro edifício da cidade. Meu pai ajudou muito meus tios a construir.




E com elevadores!

Meu pai tinha uma característica, ele fazia qualquer coisa, montaram dois elevadores Atlas, os primeiros elevadores da cidade, começava a funcionar e dava problemas. Ele abria em casa o mapa técnico do elevador, estudava, estudava, ele era muito quieto. Ficava por horas estudando o mapa. Ia olhava as máquinas, voltava, até afirmar: “É este aqui o problema!”. Ele consertava o elevador. Conto isso com orgulho! Quando o prédio ficou pronto veio a livraria de um lado e a relojoaria que estava embaixo da PRD-6 foi para lá. Isso tudo levou alguns anos. No final da Galeria Brasil acabava e tinha a casa do caseiro.  O Edifício Lúcia Cristina foi construído pelo Aristides Gianetti, que foi proprietário do Hotel Central. O Edifício Guidotti foi construído por ele mesmo, depois se uniram formando três galerias: Galerias: Brasil; Gianetti e Lúcia Cristina.



Você jogou bola no campinho de futebol que havia ao lado do Hotel Central?

Joguei! Joguei inclusive com o Fernandinho Gianetti. Era um craque, magrinho, mas no campo com a bola no pé era um monstro.

Você estudou aonde?

O curso primário eu fiz no Grupo Moraes Barros, para ingressar no ginásio tinha que fazer um cursinho, a professora era Da. Amália, fui estudar no Sud Mennucci, no meio do  terceiro ano do curso científico, eu tinha feito um concurso para ingressar no Banco do Brasil, veio a noticia de que tinha sido aprovado e deveria tomar posse. Comecei a trabalhar na agência centro, Avenida São João, 32, em São Paulo. O grupo que tínhamos entrado juntos foi removido para Vila Maria, na Avenida Guilherme Cotching, era tudo terra. Fomos inaugurar a primeira agência do banco na Vila Maria. Montamos a agência do zero. Naquela época nem computador tinha.

Nessa época você também estudava?

Fiz o curso de Economia no Mackenzie e morava na Rua Maria Antonia. Eu vivi a época em que a Rua Maria Antonia era efervescente. Tempo do Zé Dirceu e a turma dele.

Você chegou a ver os famosos embates da Rua Maria Antonia?

Muitos! Foi muito feio. Carros que explodiam, tiros, gritos. A Faculdade de Filosofia da USP era na Rua Maria Antonia e o Mackenzie era do lado. Esse negócio de esquerda e direita é uma confusão, sempre achei um negócio estranho, a Filosofia brigava com o Mackenzie, diziam que o Mackenzie era dos ricos e os filósofos eram os pobres. Tinha uma luta de classes entre pobres e ricos.

Isso foi na época do Chico Buarque?

Acredito que ele estudou na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo – FAU, na Cidade Universitária, tinha um barzinho na Rua Doutor Vila Nova, que o mundo freqüentava, inclusive o Chico. No João Sebastião Bar já haviam passado muitos nomes famosos da música popular brasileira. Foi durante muito tempo o "point" da MPB. Existia a boate La Licorne, que rebebia personalidades como o diplomata americano Henry Kissinger, Nat King Cole, Júlio Iglesias. Funcionou de 1965 a 1991. Não sei quem fez, mas mudou a Rua Major Sertório e imediações. Era um lugar muito bonito. Era muito caro, aos 20 anos de idade, o passatempo era ficar na porta olhando o movimento. Lembro-me daqueles cinemas todos: Marrocos, Metro, República. No Largo do Arouche tinha a Esquina da Caipirinha,  aos fins de semana enchia, todo mundo tomando caipirinha. Comi muito no restaurante O Gato Que Ri. No Ponto Chic do Largo Paissandu, onde o Bauru foi inventado. .Nessa época tinha Bossa Nova, Tropicália, O Fino da Bossa no Teatro Record, na Avenida da Consolação eu muito ver Elis Regina, aqueles artistas famosos, até que pegou fogo. A Moustache na Rua Sergipe, uma das boates freqüentadas pela nata paulistana nos anos 60 e 70. Os que andavam por ali encaravam a ferveção das madrugadas. "A noite tinha perfume" segundo um dos seus freqüentadores.

Você é formado pelo Mackenzie?

Sou economista, sou Bacharel em Ciências Econômicas. Por volta de 1969 a 1970, eu cheguei em casa e tinha uma revista da Unilever, em inglês oferecendo uma oportunidade para participar de uma seleção de Management Trainee (Treinamento para Gerência), se passasse ficava três anos treinando, depois assumiria uma gerência, o anúncio ainda acenava com a possibilidade de fazer uma carreira internacional. Eu nunca tinha feito uma entrevista, não sabia como era uma multinacional, eu era um caipirão de Piracicaba! Dinâmica de grupo? O que é isso? Fiz por fazer, gostei me senti bem. Era na unidade da Gessy Lever no bairro Anastácio. Fui aprovado, eu tinha a intenção de trabalhar no Banco do Brasil, naquela época não havia Banco Central, o Banco do Brasil fazia esse papel, dos projetos econômicos. Voltei à Piracicaba, me aconselhei com os meus pais. Lembro-me que meu pai disse-me: “Cata (era como me chamavam em casa) faça o que você achar melhor!” Fui trabalhar na Unilever. Comecei uma vida nova, de marketing, planejamento que eu gosto muito. Dali a um ano, que eu já trabalhava na empresa, me convidaram para participar de um projeto: desenvolver o sabonete Lux de Luxo. A Gessy Lever foi uma grande escola, nos 15 a 16 anos que trabalhei lá fiz um grande número de cursos. Foi uma segunda universidade. Fiz muitos cursos na Inglaterra, fiz um curso muito importante de finanças, foi um curso longo. Outro curso também que foi muito marcante foi um de gerência. Dentro da empresa, esse curso era um ponto de demarcação, não era todo mundo que fazia. Nem todos são gerentes, eram poucas vagas. A Unilever me expatriou por dois anos, morei em Madrid.

Após a Gessy Lever qual foi a próxima empresa em que trabalhou?

Fui para a Firmenich SA, uma empresa suíça no negócio de perfumes e sabores. It is the largest privately owned company in the field and ranks number two worldwide. É a maior empresa nesse campo e ocupa o primeiro lugar em todo o mundo. [1] Firmenich has created perfumes for over 100 years and produced a number of well-known flavors.A Firmenich criou perfumes há mais de 100 anos e produziu vários sabores bem conhecidos. A primeira coisa que fiz foi ir para Genebra conhecer a empresa, no promeiro dia você é recebido pelo dono da empresa Sr. Firmenich. Achei isso muito impactante. Almoçamos, conversamos, na hora de vir embora ele me deu de presente um relógio. Conheci bastante sobre o assunto, estudei, fiz cursos. Permaneci uns dez anos na Europa, voltei ao Brasil e fui ser Gerente Geral da Divisão de Perfumes no Brasil. A Firmenich era tida como uma perfumaria de elite, só fazia perfumes muito famosos: Anaïs Anaïs, Opium, era um mercado muito restrito no Brasil. Consegui um sucesso muito interessante, falo isso com muito orgulho. Quando eu estava para sair da Unilever, a pessoa que iria me substituir teve um problema, tive que adiar um mês a minha saída, trabalhei um mês como se não tivesse saído o presidente da Unilever, um holandês, bateu na porta da minha sala, perguntado se podia entrar. Imagine! O presidente da empresa! Conversou comigo coisas normais da vida, desejou-me toda a sorte, me agradeceu por tudo que fiz que eu tivesse feito muitas coisas, não digo isso para contar vantagem, mas para narrar a história de uma pessoa. Eu assisti o inicio da implantação da informática na Unilever. Toda a estrutura de equipamentos de grande porte. Teve um coordenador que trouxe um Apple, com uma planilha do Excel, Começamos a mexer com Excel, que loucura! De repente todo mundo passou a ter PC, nessa época tinha uns relatórios da A.C. Nielsen vinham relatórios com 15 centímetros, 20 centímetros de altura, para analisar aquilo demorava muito tempo. Hoje todo mundo tem online no seu computador. A informática mudou o mundo, acho isso fantástico, me esforço para pelo menos conceitualmente entender o que está acontecendo e o que irá acontecer nessa área.

Na Firminich tinha que viajar muito para outros países?

Um projeto de perfume é internacional, não é uma companhia que faz, pede perfume para Firminich de diversos países, Isso tudo através de telex, fax e telefone! Discutir perfume por telefone em inglês é uma tarefa e tanto! Na época eu ia muito à Genebra. Foi uma época muito romântica. A indústria da perfumaria é bonita, refinada, glamorosa, não no sentido negativo. É uma arte. Conversar com um perfumista é muito interessante, aprendi muito.

Após alguns anos você mudou de empresa?

De lá eu saí e fui para a Credicard, por incrível que pareça eles não tinham marketing, só tinha o cartão Credicard e Diners, convidaram-me, eles queriam uma pessoa que conhecesse marketing para montar uma equipe de marketing, teve um desenvolvimento maior do que eu previ! O cartão de crédito é uma operação 100% informatizada e extremamente complexa! Você coloca o seu cartão aqui em Piracicaba debita em sua conta em Londres! Automaticamente! On-Line! Formei uma equipe fantástica, fizemos grandes trabalhos, fizemos pesquisas para fazer uma comunicação mais adequada, foi uma experiência boa, fiz grandes amigos.

Com a sua experiência de vida, tendo conhecido inúmeras cidades, praticamente boa parte do planeta, como é a sua relação com Piracicaba?

Eu nunca quis sair de Piracicaba, fui levado pela vida, pelas circunstâncias e sempre quis voltar. Minha mãe viveu por oito anos no Lar dos Velhinhos de Piracicaba, até falecer, feliz da vida! Acho que o piracicabano deve orgulhar-se muito do Lar dos Velhinhos de Piracicaba, não conheço outro lugar parecido com este.

 

sexta-feira, dezembro 29, 2017

LIGIANA CLEMENTE DO CARMO DAMIANO


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 30 de dezembro de 2017

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

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ENTREVISTADA: Ligiana Clemente do Carmo Damiano

 



Bibliotecária de referência na Divisão de Biblioteca da ESALQ/USP desde 1998. Possui graduação em Biblioteconomia pela Escola de Ciência da Informação da UFMG (1998). Especialização em Gestão e Tecnologias da Qualidade pela Escola Politécnica da USP (2006). Atua nas atividades de atendimento e capacitação de usuários para o uso dos serviços de descoberta relacionados à informação científica, com ênfase em pesquisa avançada na web, estrutura de trabalhos acadêmicos e gerenciadores de referências. Tem experiência em temas relacionados à gestão de bibliotecas universitárias, como mapeamento dos processos de rotina e coordenação das bibliotecas setoriais do campus, atuando também no desenvolvimento dos canais de comunicação e disseminação de serviços e produtos da DIBD: website, redes sociais e eventos. Na área de Ciência da Informação desenvolve atividades de Information Literacy, compartilhando este conhecimento com os pesquisadores em treinamentos personalizados e seminários de capacitação, atuando nas disciplinas obrigatórias dos cursos de Ciências dos Alimentos (LAN 0132 - Informação Científica, desde 2010) e Engenharia Agronômica (LES 0216 - Conhecimento e Pesquisa, desde 2016) da ESALQ/USP.

Ligiana Clemente do Carmo Damiano nasceu a 12 de outubro de 1975, na cidade de  Santa Fé do Sul, filha de Silas do Carmo e Suely de Brito Clemente Soares, ambos já aposentados, ele do Banespa e ela como bibliotecária da UNESP. Ligiana tem dois irmãos Levi Heitor e Leandro. É casada com Adamis Souza Damiano Junior. Quem nasce na cidade de Santa Fé do Sul é chamado de Santa-Fé-Sulense.

O seu casamento com Adamis foi em qual igreja?

Na verdade não foi em uma igreja, foi em um barco chamado Odisséia! Foi um casamento ao ar livre, celebrado por um primo meu, que é pastor e juiz de paz.

Foi o casamento dos seus sonhos?

Foi! O barco é de Buritama,  São Paulo, fica ancorado no Rio Tietê, o barco viajou pelo Rio Tietê, até o Rio Paraná, onde fica Santa Fé do Sul situada no noroeste do Estado de São Paulo, a 625 km da capital. Hidrograficamente privilegiada e com clima tropical, Santa Fé é ponto de encontro dos amantes da pesca esportiva e dos esportes náuticos. É onde a minha família tem um “rancho”. O barco ancorou em frente ao rancho, usamos toda a estrutura do barco para fazer a cerimônia que foi feita no barco.

Como foi a decoração desse barco?

Foi feita por um tio, Saulo Clemente, muito talentoso, ele tem uma floricultura e ateliê de decorações na cidade, é a Moby Dick. Foi ele quem fez toda uma decoração própria, rústica, muito bonita.

Você estava vestida de noiva?

De noiva, com chapéu! O Adamis estava com um terno claro, os marinheiros todos a caráter,  uniformizados. Foi um casamento simples, mas ao mesmo tempo chique.

Foi a noite ou de manhã?

Foi pela manhã, as 10:30 começou o embarque para os convidados virem até o barco, foi servida uma entrada, típica ao local, os convidados conheceram o barco, do meio dia a uma hora da tarde foi feita a cerimônia, depois foi servido o almoço, enquanto o barco ficou navegando o tempo todo pelo Rio Paraná! O desembarque foi por volta das cinco e meia da tarde. A lua de mel foi na Costa do Sauípe, Bahia.  Quando manifestei o desejo de casar em um barco, um primo que é fotógrafo profissional, conhecia esse barco, que estava em excelente estado, só que eu teria que pagar o diesel para o deslocamento do mesmo até Santa Fé do Sul. Era um valor bem representativo só de diesel. Foi quando meu primo disse-me: “Prima, sonho não tem preço!”. O meu pai, que me criou, Pedro Soares, e a minha mãe fizeram esse investimento. Na cerimônia do casamento o meu pai biológico, Silas do Carmo me levou até o barco, subiu comigo e foi até a metade do caminho onde me entregou ao pai que me criou, Pedro  Luis Soarez, que em seguida me acompanhou até onde estava o Adamis. Foi muito emocionante!

Você iniciou seus estudos em qual cidade?

Sai de Santa Fá do Sul quando tinha uns quatro anos, mudamos para Rio Claro, onde tem a Unesp, minha mãe tinha feito o concurso e foi transferida para a Unesp de Rio Claro, estudei na hoje denominada Escola Estadual Carolina Serafim, na época era Escola Estadual Indaiá. Lá estudei do pré-primário até a sétima série. A oitava série eu estudei no Colégio Puríssimo Coração de Maria,O segundo grau estudei no Anglo em Rio Claro, prestei vestibular e passei na faculdade.

Você ingressou em qual escola?

Estudei na Universidade Federal de Minas Gerais, em Belo Horizonte. Morei por cinco anos em Belo Horizonte, residia em uma casa de família, no bairro Pampulha. A casa era muito grande, cada moça tinha seu quarto, como o casal que era proprietário da casa, não queria desfazerem-se dela alugavam para moças cujas famílias estavam fora de Belo Horizonte. Estudei Biblioteconomia.

O que a levou a optar por esse curso?

A minha mãe é bibliotecária, desde criança eu observava o trabalho dela, sempre gostei, admirei. Ela me incentivou bastante. Em janeiro de 1998 eu me formei. Na época eu escolhi Belo Horizonte para estudar porque era o melhor curso do Guia do Estudante. Prestei vestibular na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), fui aprovada. Preferi escolher a que era considerada a melhor do Brasil na área em que eu queria estudar.

A sua vinda para Rio Claro para visitar a família era de tempos em tempos?

Vinha sempre no período de férias, feriados prolongados, eram nove horas de viagem de ônibus.

Após formar-se a sua intenção era permanecer em Belo Horizonte?

Eu tinha três propostas de emprego, lá eu trabalhava na biblioteca da USIMINAS, no Centro de Documentação, foi o meu primeiro emprego. Nessa época eu estava namorando, empregada, uma opção era permanecer lá. Outra era a McKinsey & Company, a Ex-Libris, ambas empresas de consultoria situadas em de São Paulo. Outra opção seria assumir as bibliotecas do SESI do Estado do Paraná, deveria morar em Curitiba. Ou o concurso que eu tinha feito na ESALQ, despretensiosamente. Acabei passando em terceiro lugar, o concurso tinha duas vagas. Continuei trabalhando em Belo Horizonte, em setembro fui chamada para assumir a vaga na ESALQ, tinha surgido uma vaga na Biblioteca Setorial de Economia. Foi o período em que eu tive que optar por uma das vagas. Foi uma decisão onde tive que optar por uma série de fatores em detrimento de outros. Tive que fazer essa escolha em uma semana. Entrei na ESALQ em 1º de setembro de 1998. Meu marido é de Rio Claro, nos casamos em 2006.

Esse período de adaptação foi difícil?

Os dois primeiros anos foi bem difícil. Sair de uma metrópole como Belo Horizonte, tinha uma vida independente e voltar a morar na casa dos meus pais, em Rio Claro, que é uma cidade bem pacata, essa readequação, ao mesmo tempo em que você quer avançar, foi bem contraditória, mas teve o lado positivo, em setembro de 2018 vou fazer 20 anos de ESALQ.

Quando você ingressou, em qual biblioteca você iniciou?

Fui trabalhar na Biblioteca Setorial de Economia, Administração e Sociologia. Fui para coordenar, gerenciar a biblioteca. Quando cheguei era uma área mais recatada, ficava em uma sala, a minha proposta era revitalizar a biblioteca, era pouco informatizada, estava no inicio da informática. Teve um período em que pensei em abrir mão de permanecer, já que tinha outras ofertas de emprego, ali estava difícil implantar as mudanças que eram necessárias. O Professor Paulo Cidade de Araujo Filho, era o chefe do departamento, me fez ver que eu deveria permanecer. Disse-me que a intenção era de revitalizar a biblioteca, eu havia sido contratada para isso. Ele abriu a gaveta, tirou um molho de chaves, me deu e disse: “-O prédio novo foi inaugurado, aqui do lado, você não vai embora, eu preciso que você faça essa mudança!”. Com essa motivação, passei a realizar meu trabalho com afinco, passei seis anos padronizando a biblioteca. O meu foco maior era padronizar a biblioteca setorial com a biblioteca central. O resultado foi tão bom que a minha chefe, Márcia Saad, me deu a incumbência de padronizar as outras bibliotecas do campus, como coordenadora das três bibliotecas setoriais, englobando a biblioteca de genética e a de ciências dos alimentos. Trabalhamos mais uns seis ou sete anos nessa padronização das três bibliotecas.

Estamos nos referindo a aproximadamente quantos mil volumes?

A biblioteca de Economia em torno de 20.000 volumes, a de Alimentos uns 15.000 e a de Genética uns 9.000 volumes. As bibliotecas de Alimentos e Genética posteriormente foram centralizadas, com toda a padronização que fizemos melhorias dos ambientes, trocas das estantes, ambientação, pintura das paredes, climatização com ar condicionado, com o apoio da chefia da biblioteca, com toda essa revitalização o número de usuários aumentou consideravelmente. Colocamos terminais de pesquisas mais modernos, mesas e salas para grupos ou individuais mais adequadas, foi feita toda uma revitalização e padronização. Quando finalizamos esse trabalho, mais uns seis ou sete anos, percebemos que a demanda começou a migrar para o suporte digital. A USP assina uma grande quantidade de livros e revistas digitais e esse acréscimo foi tornando-se cada vez maior. Em termos de acervo local e acesso físico já não tinha mais em que investir e sim de ensinar as pessoas a usarem toda essa coleção. Foi quando finalizei a coordenação das bibliotecas. Assumi a parte de comunicação e também de auxiliar a equipe, migrei da plataforma de trabalho de uma rotina de uma biblioteca impressa das  funções técnicas de coordenar e executar,  fui para a biblioteca central assumir o novo posto que é somar, hoje somos uma equipe de três pessoas que dão os treinamentos para utilizar todos esses recursos.

O acesso digital, através da re rede Wi-Fi local permite o acesso do próprio celular ou computador pessoal?

O aluno estando habilitado ele consegue obter todos os PDF de qualquer suporte. Nós vamos às salas de aulas, damos treinamentos, ensinado, capacitando, em parceria com o docente da ESALQ.

A tendência é a migração para o livro eletrônico?

Sim...e não! Em 1998, a internet estava no auge, trouxe  sensação do novo, da mudança, várias profissões foram realocadas ou extintas. Tínhamos a principio a impressão: “– O livro irá acabar!”. Atualmente, após 15 a 20 anos, percebemos que foi muito pelo contrário, a internet valorizou o livro. Hoje quando tenho uma cópia, tenho uma cópia daquele livro! Aquela cópia torna-se mais valiosa do que se ele estivesse em um PDF disponível. Diminuíram as tiragens de exemplares, só que aumentou o acesso. A internet de certa forma valorizou os conteúdos. Hoje  biblioteca é muito mais um ambiente de convivência, de usar, desfrutar. Sempre digo que a biblioteca tem que chamar a atenção de cinco sentidos da pessoa: o olfato; a visão; a audição e o paladar. Só em acervo digital a USP tem 260.000 ebook, o acervo da biblioteca da ESALQ é de 115.000 itens. Hoje o pessoal não precisa ir até a biblioteca para acessar o documento digital.

Quando você menciona olfato refere-se propriamente a que?

A nossa biblioteca é centenária, e de 1901 e você não sente o cheiro de livro velho! Há todo um trabalho de higienização, de manutenção, de restauro, conservação dos ambientes, ventilação, luminosidade, isso faz com que esses ambientes sejam agradáveis.

E o paladar?

Acho importante, com os devidos cuidados, porque não ter um ambiente com aroma de café, pão de queijo? Basta olhar o conceito das novas livrarias. O ambiente todo colorido, moderno, dinâmico. Atrai a pessoa. No nosso espaço acontecem muitos eventos, como lançamentos de livros, palestras, o nosso acervo impresso do setor agrário é o maior da América Latina.  Diariamente temos muitas consultas feitas por pessoas dos mais diversos países. A nossa equipe atua mais como fornecedora de informações. Fazemos parte de um sistema de bibliotecas cooperadas do mundo todo. Como somos a base em agrária, mais enviamos informações do que pedimos. Caso você queira um livro de literatura, como usuário da USP, nós solicitamos da Escola de Comunicação e Artes, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo nós trazemos, você vem, retira o material aqui, depois da devolução mandamos de volta à origem. Hoje a USP tem 48 bibliotecas, com empréstimos unificados, é tudo padronizado. Cada uma dessas bibliotecas é especializada em uma área. Na USP hoje são cerca de sete milhões de itens impressos nas estantes! Temos muitos documentos de acesso aberto, o usuário não precisa necessariamente estar registrado pela USP. Outros são de acesso restrito em função de custo. A relação do corpo docente e discente com a biblioteca tem melhorado ano a ano. O acesso é incentivado através de diversas ações praticas.

Você tem idéia de quantas pessoas acessam a biblioteca virtualmente?

Não, mesmo porque são 218 portais de repositório de documentos, cada portal é de uma editora, do mundo todo. Fazemos parte do consórcio internacional, somos associados a FAO, temos acesso a Biblioteca do Congresso Americano, EMBRAPA e muitos outros espalhados pelo mundo. Todo esse universo de informação demandou uma nova política implicou em mudanças: Vamos focar no acervo ou no acesso? Focamos no acesso, para não termos um acervo restrito.

Essa formulação de integração das bibliotecas da ESALQ é sua?

Foi uma proposta minha. Tínhamos muitas pessoas ocupando o espaço e poucas utilizando o acervo. Aumentou muito o uso do acervo digital. Somos produtores da Série Produtor Rural, divulgada no programa Globo Rural aos domingos pela manhã. Somos editores em parceria com professores e alunos que escrevem assuntos técnicos, em tese, de alta relevância e complexidade, eles transformam numa linguagem bem simples. Para que o pequeno produtor tenha acesso às informações geradas pela universidade.  A biblioteca faz toda editoração e impressão na gráfica da ESALQ por conta da biblioteca, o professor, o aluno, entra com o conteúdo, gera-se uma cartilha ilustrada, de poucas páginas, o pequeno produtor pode fazer dowload gratuito assim como também, pode receber pelo correio.

Você tem algum hobby?

Tenho, embora esteja um pouco parado pretendo ressuscitá-lo, estudei por cinco anos o Conservatório de Piano. Toquei muito na igreja evangélica.

Você pratica algum esporte?

Atualmente estou praticando corrida.

JAIR ANDREATTO


Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 23 de dezembro de 2017

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ENTREVISTADO: JAIR ANDREATTO



 

Jair Andreatto nasceu a 23 de junho de 1947, na cidade de Campinas. Filho de Albino Andreatto e Maria da Costa Andreatto que tiveram nove filhos: Doracy; Nadir; Neide; Jair; José Carlos; Virginia; Angélica; Geni e Beto; seu pai era funcionário do DER – Departamento de Estradas de Rodagem, trabalhava com máquinas motoniveladoras.

Com que idade o senhor veio morar em Piracicaba?

Eu era nenezinho! Nem me lembro! Viemos morar em uma casa situada a Rua Cristiano Cleopath entre a Rua Santa Cruz e a Rua Bom Jesus. Depois mudamos para o então distrito de Saltinho. Fomos morar em uma residência que pertencia ao Estado. Havia um pátio onde eram recolhidos os veículos acidentados. A motoniveladora de marca Allis Chalmers com a qual o meu pai trabalhava ficava ali dentro. Não havia luz elétrica, a água era de poço.

O senhor chegou ainda criança a andar com seu pai nessa motoniveladora?

Eu ia com ele, na época eu tinha uns seis a sete anos,  a região na qual ele tinha que dar a conservação de estrada abrangia: Rio das Pedras, Piracicaba, Tietê.

As estradas eram asfaltadas?

Não! A Rodovia Cornélio Pires era terra. Os caminhões ao passarem com seu peso iam pressionando a terra para os lados da estrada, com a lamina da maquina, meu pai puxava essa terra para o centro de novo. Ia por uma lateral da estrada, voltava pela lateral oposta e depois passava a máquina esparramando a terra que ficava no centro da estrada.

O senhor estudou aonde?

O primeiro e o segundo ano de Grupo Escolar eu estudei em Saltinho. A primeira professora era Dona Ada. O DER construiu o prédio que existe até hoje na Avenida Pádua Dias, saída para São Paulo, viemos morar na última casa da Rua Voluntários da Pátria,  em frente onde hoje está o quartel dos bombeiros. A casa era alugada, meu pai trabalhava no DER. Passei a estudar no Grupo Escolar Dr. Alfredo Cardoso. Depois fiz um curso de ajustagem no SENAI, já estava no mesmo prédio que ocupa até hoje. 

Foi aí que o senhor descobriu a sua paixão por mecânica?

Acredito que sim. Eu sai do SENAI um pouco antes de 1969. Logo em seguida casei-me, no dia 6 de setembro de 1969, com Antonia Cangiani Andreatto na Igreja São Judas, o celebrante foi o Padre Henrique. Tivemos três filhos: Cláudio, Roberto e Andrea.

Nesse período o senhor trabalhou em algum lugar?

Trabalhei, na Floricultura Cobal, na parte da manhã freqüentava o SENAI e depois trabalhava na Cobal. A Floricultura Cobal ficava na Avenida Independência, em frente ao Jardim da Cerveja. No sentido do Ribeirão Piracicamirim era o Sítio dos Facco. Trabalhei uns 20 anos com plantas. Eu morava pertinho, ia a pé mesmo. A Avenida Independência era terra.

O senhor é um grande conhecedor de flores!

Fazíamos a ornamentação de igrejas para casamentos, eu era bom nisso: arranjos, cestas com flores, coroas fúnebres.

A coroa fúnebre tem que ser feita de forma muito rápida?

Tem sim. Lembro-me de quando faleceu Luciano Guidotti era muito grande o número de pessoas que queria fazer uma homenagem para ele. Trabalhamos por dois dias seguidos, sem pararmos, íamos buscar flores em Jaguariúna, naquela época praticamente a Cobal era a fornecedora de flores da cidade. A chácara onde ela situava-se foi feita por um agrônomo chamado Nelson Cobal. Depois Antonio de Pádua Libório adquiriu a Cobal, ele tinha a funerária Serviço Piracicabano de Luto, situada a Rua Benjamin Constant, esquina com a Avenida Independência, era uma loja aberta, os caixões ficam em pé, expostos. O Nelson Cobal tinha uma perua Dodge 1951.

Trabalhar com produtos voltados ao serviço funerário pode sem que a pessoa perceba, trazer um desgaste emocional?   

Não! Acostuma-se com o trabalho. Tem s pessoas que temos que consolar, os que não aceitam a morte.

E casamentos? O senhor ia enfeitar as igrejas? A Igreja dos Frades era a preferida pelas noivas?

A Igreja dos Frades era a mais procurada pelas noivas. Tinha um tapete vermelho que atravessava a igreja toda. Fazíamos uns arranjos que eram colocados nas pontas dos bancos, um cordão isolava o corredor onde passava a noiva. Alguns clientes queriam aproveitar parte da decoração para levar até o salão aonde seria realizada a festa. Fazíamos pirâmides com um floral no topo. A perua ficava estacionada em um local estratégico, enquanto os noivos estavam recebendo os cumprimentos na porta da igreja, saiamos pela porta lateral da Igreja dos Frades, na Rua Alferes José Caetano, colocávamos a peças dentro da perua e tínhamos que levar antes que os noivos chegassem no salão de festas que eles tinham escolhido. Aconteciam situações inusitadas, como em determinado dia um conhecido fotógrafo, buscando o melhor ângulo para fotografar os noivos, foi afastando sem olhar para trás, a noiva saindo, ele aflito em conseguir fotos expressivas, afastava-se, ia de um lado para outro, não percebeu que o tapete tinha formado uma ruga. O fotógrafo caiu de costas! A sua máquina fotográfica, juntamente com uma bolsa de couro que carregava a tiracolo, onde eram colocadas as baterias, filmes, e outras coisas, com o tombo inesperado foi uma chuva de objetos, a máquina caiu longe, a igreja toda despencou em uma gargalhada só.

Solidários, muitos convidados ajudaram-no, a essa altura roxo de vergonha.   

O tão famoso buquê de noiva também era fornecido?

Fazíamos, tem uma flor chamada angélica, perfumada, colocávamos um arame fino e com uns raminhos, o tradicional buquê de flores naturais ainda é a grande preferência das noivas. Os modelos mais comuns são: buquê redondo, cascata e braçada. Após celebrado o casamento a noiva jogava o buquê, quem pegasse era a próxima a se casar. Era uma festa! A moça que estava pensando em casar-se logo realizava uma disputa acirrada. Nesse ramo de floricultura, o início da semana era até folgado. Só que no final de semana, havia muitas festas, lembro-me de uma vez em que ornamentamos o Teatro São José, a volta inteira, é enorme, fizemos uns florões na volta inteira do Teatro. Quando envolvia um serviço muito grande alugávamos um caminhão. As pirâmides de flores que fazíamos eram altas. A camélia era uma das flores preferidas, tanto a rosa como a branca.

E finados como era?

Ficávamos na loja. Montamos uma loja na Rua Moraes Barros quase esquina com a Avenida Independência. Em frente ao estádio Barão de Serra Negra. Era um sobrado, trabalhávamos ali. No dia de finados a flor preferida geralmente era a palma (gladíolo). Era a flor mais procurada, tinha uma durabilidade maior quando imersa em um vaso com água. A flor natural é imbatível, por mais perfeitas que as artificiais sejam.   


Após 20 anos trabalhando com plantas, como surgiu essa sua atração por mecânica?

Comprei uma Lambretta ano 1957, verde e branca. Quando precisava fazer algum reparo eu mesmo dava a manutenção. Meus amigos, proprietários de lambretas começaram a trazer para que eu desse a manutenção. Eu trabalhava em casa. Continuava na floricultura, mas fazia os reparos nas lambretas no tempo que tinha disponível. Eu comprava as peças do Seu Atos Cadioli que era a Revenda Oficial Lambretta de Piracicaba, situada a Rua XV de Novembro quase esquina com a Rua José Pinto de Almeida. Passei a ter bastante serviço em casa, a floricultura estava diminuindo o seu movimento, Por volta de 1975 a 1976 o Seu Atos Cadioli, que era italiano, teve um problema de saúde. Ele trabalhava com tratores da marca Landini, motor com um pistão só, funcionava com óleo queimado, óleo de cozinha, o que fosse colocado virava combustível! Se o motor esfriasse tinha que colocar um maçarico para aquecer o local apropriado e fazer funcionar o motor. Eu ajudei o Seu Atos a reformar um Landini que veio do Paraná, por motivo de saúde Seu Atos não podia fazer pessoalmente o trabalho, eu fui fazendo e ele me orientando. Fiz esse Landini, saiu com a partida acionada na mão. Não precisava nem esquentar o cabeçote do motor. Ele tem uma vela aquecedora dentro, o primeiro ponto da chave faz com que a vela fique avermelhada, quando dava a partida as vezes ele pegava até para trás, tinha que cortar o óleo dele, quando ele estava quase parando, tinha que soltar o óleo, ai ele pegava para frente. Tinha dois “volantes” enormes, era o pêndulo dele. Se deixasse o Landini funcionava o dia todo. Por recomendação médica, o Seu Atos decidiu vender a loja, a Ortema. Ele me ofereceu. Na época eu tinha Fusquinha 1966! Vendi o Fusquinha, dei como entrada, só que eu não pude ficar onde era a loja, o aluguel seria caro. No fundo do prédio ele tinha 18 boxes que ele alugava para os vizinhos guardarem veículos. Fechamos um, que ficou sendo a minha oficina, outro barracãozinho do lado, foi onde colocamos todas s peças da loja, permaneci ali de 1976 a 1982. Guardo até hoje o emblema de Revenda Autorizada Lambretta. Veio de lá. Consegui comprar um barracão na Rua D.Pedro I, entre a Rua São João e Santa Cruz. Atualmente ocupado pelo Bertoncelli que trabalha com uma distribuidora de doces. Ali permaneci por mais de 20 anos, Só Lambretta, Vespa e motos. Lá eu tinha peças de motos também, ai começou a aparecer Honda, Yamaha, Suzuki. Tive uma Moto Jawa 250 cilindradas, preta.


Em sua juventude havia um grupo de rapazes que tinha Lambretta?

Entre Lambretta e Vespa éramos uns 20. Parávamos em frente a catedral, a Rua Moraes Barros e a Rua São José não eram interrompidas na praça, elas continuavam normalmente. As motinhas ficavam todas ali. Íamos aos cinemas Politeama, Broadway, São José. Na época existia o Bar Americano, ali na Praça, alguns iam até lá. Não se usava capacete naquele tempo. Era necessário ter carta de motociclista. No auge da Lambretta, da Vespa, não havia outro tipo de moto só algumas Harley Davidson, Indian, Mas era uma minoria.  Quando surgiu a Lambretta todos os funcionários da Mausa, tinham Lambetta ou Vespa. Estacionavam todos em frente a Mausa, na Rua Santa Cruz, enfileirados lado a lado, passavam uma corda para evitar que alguém mexesse. Por volta de 1971 começou a aparecerem as máquinas japonesas. Todo mundo foi vendendo as Lambrettas.


Qual é a diferença da Vespa para a Lambretta?

A marca é uma delas. A Vespa fabricada pela Piaggio e a Lambretta produzida pela Innocenti ambas empresas italianas. Até 1963 a Vespa tinha 150 cilindradas. As primeiras Lambrettas tinham 150 cilindradas, após 1964 surgiu a de 175 cilindradas. Pesa pouco mais de 100 quilos, comporta duas pessoas. No pneu traseiro colocamos 30 libras de ar, no pneu dianteiro são de 18 a 20 libras. A Lambretta e a Vespa antiga tem partida no acionamento do pedal de partida, a Vespa de 1987 em diante já saiu com partida elétrica. Ambas tem pneu de estepe. 


A transmissão do motor para a roda é feita por corrente?

Na Lambretta até 1960 a transmissão é por cardam. De 1961 em diante já saiu com corrente de malha dupla. Não é simples como de moto e trabalha no meio do óleo. Ela trabalha em uma caixa de óleo, pega o óleo e joga para cima. Circula o óleo dentro do câmbio.





A Lambretta é mais confortável?

Uma das vantagens é ter pneu estepe. A posição em que o condutor fica é mais confortável.

Quantas marchas de velocidade possui a Lambretta?

O modelo LD que foi fabricada até 1960 são três marchas. A LE já são quatro marchas. Não existe marcha-a-ré.


E a velocidade máxima?

A 100 quilômetros por hora já está exigindo um pouco dela. Os freios são com pastilhas, na frente e atrás.

Como o senhor vê a substituição da Lambretta pela motocicleta?

A Lambretta parou no tempo! Na Itália o forte é a Vespa com motor de quatro tempos, antes eram dois tempos, a Vespa e a Lambretta, esse tipo de motor obriga a colocar certa proporção de óleo ao abastecer com gasolina. Torna-se uma mistura de óleo e gasolina. As Vespas italianas são com câmbio automático. As Vespas e Lambrettas são carismáticas!


O senhor está com um veiculo bem antigo sendo montado?

É um automóvel Ford 1929 Model A Roadster também conhecido como “Carro da Sogra”. Isso porque é um automóvel para dois passageiros, sendo que o porta malas pode transformar-se em um terceiro banco, o detalhe é que é conversível, a capota só cobre os dois passageiros da frente. Quem vai atrás está sujeito ao sol, chuva, neve. Diz a lenda que o casal de namorados ia na frente e a sogra sentava-se atrás. Esse veículo estou restaurando.


Qual é o consumo de um carro desses?

Para os padrões de hoje consome bastante. O motor tem 2.300 cilindradas. Com toda a potência do motor ele só alcança 2.200 rotações por minuto, é um motor de biela longa.

Piracicaba já teve corrida de Lambrettas?

Foi na época em faziam corridas de automóveis em ruas de Piracicaba, as vias eram isoladas, e os a automóveis da época DKW, Gordini, Simca, disputavam em plena via pública.  Participavam nomes como: Maks Weiser  Walter Hahn  Junior e muitos outros.

A Polícia usava Lambretta?

Usou bastante! Era para fiscalização de trânsito. Alguns investigadores utilizavam para entregar intimações judiciais, em 1968 a Prefeitura Municipal de Piracicaba adquiriu 10 Lambrettas para a Guarda Civil, que mais tarde foram incorporadas à Polícia Militar. Com essas Lambrettas eles faziam rondas, tinha até um amigo, o Cabo Ademar, que tinha uma Lambretta dessas. Com passar do tempo e a utilização, essas Lambrettas foram sucateadas. A Prefeitura recolheu essas 10 Lambrettas. No início as cores eram Azul e Branca, depois pintaram-nas de cinza, com dois revólveres cruzados nas laterais. Essas Lambrettas, sucateadas, foram doadas para a Associação dos Funcionários Públicos Municipais, o objetivo era vender para arrecadar fundos, eles estavam fazendo o Clube da Associação na Avenida Luciano Guidotti.






Além das Lambrettas e Vespas, o senhor teve participação em diversos times de futebol?

Sempre joguei como quarto zagueiro joguei na Associação Ferroviária de Esportes de Piracicaba, no União Porto, no Esporte Clube Cobal. A Ferroviária não tinha sede, reuníamo-nos na Rua Bela Vista, pegávamos um caminhão e íamos para a disputa com o time adversário. Para o União Porto eu ia de Lambretta, deixava-a no barracão do Largo dos Pescadores, trocava de roupa e ia para a partida de futebol. Era um uniforme vermelho com as listras brancas. A cor do uniforme da Ferroviária era bordô. A Ferroviária ficou campeã da Segunda Divisão da Liga Piracicabana de Futebol, isso foi em 7 de fevereiro de1981. O União Porto também chegou para a final. Jogávamos no Estádio Barão de Serra Negra. Outro time em que joguei foi no Ponte Preta de Piracicaba, também no Barão.







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