Sábado 06 de janeiro de 2018
Entrevista: Publicada aos sábados
no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
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ENTREVISTADO: GERALDO GALVÃO BRASIL
Por muitas décadas Piracicaba,
que sempre teve um índice de ensino de nível elevado, encontrou em um dos seus
estabelecimentos, tudo, ou quase tudo que o estudante necessitava. Quando não
havia em estoque, ou então era uma obra recém lançada a Livraria Brasil trazia
rapidamente. No início das aulas ir a Livraria Brasil era como entrar em uma
colméia. A farta variedade de material escolar, desde lápis e canetas
coloridos, livros escolares, cadernos espirais (Que eram para os alunos cujas
famílias tinham poder aquisitivo maior). O que conquistava o cliente, entre
outras coisas era o atendimento, dos seus proprietários, das balconistas, muito
solícitas, em meio àquele tumulto todo, listas e mais listas de material
escolar, papel pardo ou então plástico comum para encapar os cadernos e livros,
naquela época todos os cadernos eram encapados com papel pardo ou rosa, não
existia o papel adesivo Contact, cada matéria recebia uma etiqueta, com o nome
da mesma e do aluno. A simplicidade e atenção com que os proprietários atendiam
eram de uma delicadeza impar. Os estudantes da época lembram com nostalgia e
certo romantismo daquele tempo. Um detalhe muito interessante: o livro que o
irmão ou irmã mais adiantado na escola, utilizava, era reutilizado pelo filho
que vinha em seguida, ou doado a alguém que iria utilizar. Não havia essa
dinâmica maluca de “mudança” infinita de métodos pedagógicos que descartam
livros e mais livros, muitos até embalados em pacotes nunca abertos,
distribuídos “graciosamente” pelo poder público, em quantidades fenomenais. Um
verdadeiro abacaxi para os diretores de escolas públicas, que recebem
quantidades exorbitantes de livros, não podem descartar ou sofrerão as penas da
lei, atulham salas de escolas. Sem utilidade alguma o destino certo deles é a
reciclagem. Milhões são desperdiçados, beneficiando interesses escusos. Isso
não existia!
Geraldo Galvão Brasil nasceu a 24
de setembro de 1945, em Piracicaba, filho de Osvaldo Dias Brasil, piracicabano
e Maria Joana Galvão Brasil, natural de Botucatu, professora no Grupo Escolar
Barão do Rio Branco em Piracicaba, ele tinha uma joalheria, na Galeria Brasil,
a Papelaria Brasil era de um lado e a joalheria era do lado oposto. Tiveram
dois filhos: Geraldo Galvão Brasil e Oswaldo Galvão Brasil, professor
universitário, da UNESP de Botucatu. Geraldo Galvão Brasil casou-se em
primeiras núpcias com Maike Gerken Brasil, tiveram três filhos: Alexandre,
Betina e Henrique. Em segundas núpcias casou-se com Roseli da Silva Fernandes.
A família Brasil e a cidade de Piracicaba
mantêm uma forte ligação.
Faço parte da família Brasil, por
décadas os Irmãos Brasil eram muito conhecidos em Piracicaba, isso até pouco tempo. O meu tio Francisco(Chiquito) e
o meu tio Paulo, em função principalmente da livraria e papelaria.
O seu pai Osvaldo
Dias Brasil em função da relojoaria?
O meu pai começou a vida como
linotipista, isso antes de casar, teve um problema respiratório, permaneceu uns
tempos em Campos de Jordão, quando ele voltou foi trabalhar com o meu tio João
Caruso, casado com minha tia Laudelina, na época era proprietário de uma
joalheria, a Casa Caruso, situada a Rua Governador Pedro de Toledo , ao lado da Hoppner Chapéus em frente
a Casa Bischoff que trabalhava
com fotografias e material fotográfico. Quando a pessoa entrava na Relojoaria
Caruso, tinha uma banca onde meu pai consertava os relógios. Na esquina da Rua
Governador Pedro de Toledo com a Rua Moraes Barros havia a Relojoaria Gatti. O
meu pai começou sua vida consertando relógios, geralmente suíços, dava-se corda
para que funcionasse. Eram das marcas: Longines, Cyma, Omega,
os relógios femininos eram pequeninos. Meu pai foi um grande relojoeiro, me ensinou a consertar despertadores, que são mais fáceis de consertar, os Westclox por exemplo. Minha mãe era professora, ela e meu pai juntaram suas economias e adquiriram uma casa. Ele pediu demissão da Casa Caruso e abriu uma banca para consertar relógios, em uma garagem na Praça José Bonifácio, onde está o Banco Safra, em uma parte da área existia um armazém e a garagem. Continuou consertando relógios, sempre teve muitos fregueses. Ele decidiu aumentar, na mesma garagem, mandou fazer uma vitrine, foi para São Paulo, comprou dois ou três relógios, colocou-os na vitrine, não demorou um mês e os relógios foram roubados, isso faz uns 60 anos! Meu pai não desanimou, continuou trabalhando, Com a intenção de crescer, ele alugou na Rua Governador Pedro de Toledo, um salão grande, no fundo era uma casa com três quartos. A casa existe até hoje! Ao lado tina a sapataria Batta.
os relógios femininos eram pequeninos. Meu pai foi um grande relojoeiro, me ensinou a consertar despertadores, que são mais fáceis de consertar, os Westclox por exemplo. Minha mãe era professora, ela e meu pai juntaram suas economias e adquiriram uma casa. Ele pediu demissão da Casa Caruso e abriu uma banca para consertar relógios, em uma garagem na Praça José Bonifácio, onde está o Banco Safra, em uma parte da área existia um armazém e a garagem. Continuou consertando relógios, sempre teve muitos fregueses. Ele decidiu aumentar, na mesma garagem, mandou fazer uma vitrine, foi para São Paulo, comprou dois ou três relógios, colocou-os na vitrine, não demorou um mês e os relógios foram roubados, isso faz uns 60 anos! Meu pai não desanimou, continuou trabalhando, Com a intenção de crescer, ele alugou na Rua Governador Pedro de Toledo, um salão grande, no fundo era uma casa com três quartos. A casa existe até hoje! Ao lado tina a sapataria Batta.
Já existia a Livraria Brasil?
Os meus tios tinham a Livraria Brasil na Rua Moraes
Barros. Era grande, no fundo tinha um puxadinho onde os dois ficavam era o
escritório deles, ali permaneciam trabalhando. Ao lado da loja, o Banco do Estado de São Paulo,
BANESPA, começou a fazer o seu prédio de Piracicaba. Estavam fazendo as
fundações, tinham escavado uma área enorme, isso em um período de chuvas
intensas, até que a loja inteira dos meus tios caiu! Os dois estavam nos
fundos, não sofreram nada, só que da loja não sobrou nada. Provisoriamente
eles abriram a livraria na loja onde meu pai ia montar a relojoaria, meu pai
foi para uma loja muito pequena, nós morávamos atrás, ficava embaixo da Rádio
PRD-6.
Ele fez uma loja na frente com relógios e jóias. Ao lado, ninguém via, ele consertava relógios. O terreno onde existia a livraria que caiu, pertencia aos meus tios. Decidiram fazer um prédio, e fizeram a Galeria Brasil, com várias lojas e o Edifício Georgetta Dias Brasil com 18 apartamentos, o engenheiro foi Luiz Lee Holland. Foi o primeiro edifício da cidade. Meu pai ajudou muito meus tios a construir.
Ele fez uma loja na frente com relógios e jóias. Ao lado, ninguém via, ele consertava relógios. O terreno onde existia a livraria que caiu, pertencia aos meus tios. Decidiram fazer um prédio, e fizeram a Galeria Brasil, com várias lojas e o Edifício Georgetta Dias Brasil com 18 apartamentos, o engenheiro foi Luiz Lee Holland. Foi o primeiro edifício da cidade. Meu pai ajudou muito meus tios a construir.
E com elevadores!
Meu pai
tinha uma característica, ele fazia qualquer coisa, montaram dois elevadores
Atlas, os primeiros elevadores da cidade, começava a funcionar e dava
problemas. Ele abria em casa o mapa técnico do elevador, estudava, estudava,
ele era muito quieto. Ficava por horas estudando o mapa. Ia olhava as máquinas,
voltava, até afirmar: “É este aqui o problema!”. Ele consertava o elevador.
Conto isso com orgulho! Quando o prédio ficou pronto veio a livraria de um lado
e a relojoaria que estava embaixo da PRD-6 foi para lá. Isso tudo levou alguns
anos. No final da Galeria Brasil acabava e tinha a casa do caseiro. O Edifício Lúcia Cristina foi construído pelo
Aristides Gianetti, que foi proprietário do Hotel Central. O Edifício Guidotti
foi construído por ele mesmo, depois se uniram formando três galerias: Galerias: Brasil; Gianetti e Lúcia
Cristina.
Você jogou bola no campinho de futebol
que havia ao lado do Hotel Central?
Joguei!
Joguei inclusive com o Fernandinho Gianetti. Era um craque, magrinho, mas no
campo com a bola no pé era um monstro.
Você estudou aonde?
O curso
primário eu fiz no Grupo Moraes Barros, para ingressar no ginásio tinha que
fazer um cursinho, a professora era Da. Amália, fui estudar no Sud Mennucci, no
meio do terceiro ano do curso
científico, eu tinha feito um concurso para ingressar no Banco do Brasil, veio
a noticia de que tinha sido aprovado e deveria tomar posse. Comecei a trabalhar
na agência centro, Avenida São João, 32, em São Paulo. O grupo que tínhamos
entrado juntos foi removido para Vila Maria, na Avenida Guilherme Cotching, era tudo terra. Fomos inaugurar a primeira agência
do banco na Vila Maria. Montamos a agência do zero. Naquela época nem
computador tinha.
Nessa época você também
estudava?
Fiz o curso
de Economia no Mackenzie e morava na Rua Maria Antonia. Eu vivi a época em que
a Rua Maria Antonia era efervescente. Tempo do Zé Dirceu e a turma dele.
Você chegou a ver os
famosos embates da Rua Maria Antonia?
Muitos! Foi muito feio. Carros que explodiam, tiros,
gritos. A Faculdade de Filosofia da USP era na Rua Maria Antonia e o Mackenzie
era do lado. Esse negócio de esquerda e direita é uma confusão, sempre achei um
negócio estranho, a Filosofia brigava com o Mackenzie, diziam que o Mackenzie
era dos ricos e os filósofos eram os pobres. Tinha uma luta de classes entre
pobres e ricos.
Isso foi na época do Chico Buarque?
Acredito que ele estudou na Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo – FAU, na Cidade Universitária, tinha um barzinho na Rua Doutor Vila Nova, que
o mundo freqüentava, inclusive o Chico. No João Sebastião Bar já
haviam passado muitos nomes famosos da música popular brasileira. Foi durante
muito tempo o "point" da MPB. Existia a boate La Licorne, que rebebia
personalidades como o diplomata americano Henry Kissinger, Nat King Cole, Júlio
Iglesias. Funcionou de 1965 a 1991. Não sei quem fez, mas mudou a Rua Major
Sertório e imediações. Era um lugar muito bonito. Era muito caro, aos 20 anos
de idade, o passatempo era ficar na porta olhando o movimento. Lembro-me
daqueles cinemas todos: Marrocos, Metro, República. No Largo do Arouche tinha a
Esquina da Caipirinha, aos fins de semana enchia, todo mundo tomando
caipirinha. Comi muito no restaurante O Gato Que Ri.
No Ponto Chic do Largo
Paissandu, onde o Bauru foi inventado. .Nessa época tinha Bossa Nova,
Tropicália, O Fino da Bossa no Teatro Record, na Avenida da Consolação eu muito
ver Elis Regina, aqueles artistas famosos, até que pegou fogo. A
Moustache na Rua Sergipe, uma das boates freqüentadas pela nata paulistana nos
anos 60 e 70. Os que andavam por ali encaravam a ferveção das madrugadas.
"A noite tinha perfume" segundo um dos seus freqüentadores.
Você é formado pelo Mackenzie?
Sou economista, sou Bacharel em Ciências
Econômicas. Por volta de 1969 a 1970, eu cheguei em casa e tinha uma revista da
Unilever, em inglês oferecendo uma oportunidade para participar de uma seleção
de Management
Trainee (Treinamento para Gerência), se passasse ficava três anos treinando,
depois assumiria uma gerência, o anúncio ainda acenava com a possibilidade de
fazer uma carreira internacional. Eu nunca tinha feito uma entrevista, não
sabia como era uma multinacional, eu era um caipirão de Piracicaba! Dinâmica de
grupo? O que é isso? Fiz por fazer, gostei me senti bem. Era na unidade da
Gessy Lever no bairro Anastácio. Fui aprovado, eu tinha a intenção de trabalhar
no Banco do Brasil, naquela época não havia Banco Central, o Banco do Brasil
fazia esse papel, dos projetos econômicos. Voltei à Piracicaba, me aconselhei
com os meus pais. Lembro-me que meu pai disse-me: “Cata (era como me chamavam
em casa) faça o que você achar melhor!” Fui trabalhar na Unilever. Comecei uma
vida nova, de marketing, planejamento que eu gosto muito. Dali a um ano, que eu
já trabalhava na empresa, me convidaram para participar de um projeto:
desenvolver o sabonete Lux de Luxo. A Gessy Lever foi uma grande escola, nos 15
a 16 anos que trabalhei lá fiz um grande número de cursos. Foi uma segunda
universidade. Fiz muitos cursos na Inglaterra, fiz um curso muito importante de
finanças, foi um curso longo. Outro curso também que foi muito marcante foi um
de gerência. Dentro da empresa, esse curso era um ponto de demarcação, não era
todo mundo que fazia. Nem todos são gerentes, eram poucas vagas. A Unilever me
expatriou por dois anos, morei em Madrid.
Após a Gessy Lever qual foi a próxima
empresa em que trabalhou?
Fui para a Firmenich SA, uma empresa suíça no
negócio de perfumes e sabores. It is the largest privately owned company in the
field and ranks number two worldwide. É a maior empresa nesse campo e ocupa o primeiro
lugar em todo o mundo. Firmenich has created perfumes for over 100 years and
produced a number of well-known flavors.A Firmenich criou
perfumes há mais de 100 anos e produziu vários sabores bem conhecidos. A
primeira coisa que fiz foi ir para Genebra conhecer a empresa, no promeiro dia
você é recebido pelo dono da empresa Sr. Firmenich. Achei isso muito
impactante. Almoçamos, conversamos, na hora de vir embora ele me deu de
presente um relógio. Conheci bastante sobre o assunto, estudei, fiz cursos.
Permaneci uns dez anos na Europa, voltei ao Brasil e fui ser Gerente Geral da
Divisão de Perfumes no Brasil. A Firmenich era tida como uma perfumaria de
elite, só fazia perfumes muito famosos: Anaïs Anaïs, Opium, era um mercado muito
restrito no Brasil. Consegui um sucesso muito interessante, falo isso com muito
orgulho. Quando eu estava para sair da Unilever, a pessoa que iria me
substituir teve um problema, tive que adiar um mês a minha saída, trabalhei um
mês como se não tivesse saído o presidente da Unilever, um holandês, bateu na
porta da minha sala, perguntado se podia entrar. Imagine! O presidente da
empresa! Conversou comigo coisas normais da vida, desejou-me toda a sorte, me
agradeceu por tudo que fiz que eu tivesse feito muitas coisas, não digo isso
para contar vantagem, mas para narrar a história de uma pessoa. Eu assisti o
inicio da implantação da informática na Unilever. Toda a estrutura de
equipamentos de grande porte. Teve um coordenador que trouxe um Apple, com uma
planilha do Excel, Começamos a mexer com Excel, que loucura! De repente todo
mundo passou a ter PC, nessa época tinha uns relatórios da A.C. Nielsen vinham relatórios com 15
centímetros, 20 centímetros de altura, para analisar aquilo demorava muito
tempo. Hoje todo mundo tem online no seu computador. A informática mudou o
mundo, acho isso fantástico, me esforço para pelo menos conceitualmente
entender o que está acontecendo e o que irá acontecer nessa área.
Na
Firminich tinha que viajar muito para outros países?
Um projeto de
perfume é internacional, não é uma companhia que faz, pede perfume para
Firminich de diversos países, Isso tudo através de telex, fax e telefone!
Discutir perfume por telefone em inglês é uma tarefa e tanto! Na época eu ia
muito à Genebra. Foi uma época muito romântica. A indústria da perfumaria é
bonita, refinada, glamorosa, não no sentido negativo. É uma arte. Conversar com
um perfumista é muito interessante, aprendi muito.
Após
alguns anos você mudou de empresa?
De lá eu saí e
fui para a Credicard, por incrível que pareça eles não tinham marketing, só
tinha o cartão Credicard e Diners, convidaram-me,
eles queriam uma pessoa que conhecesse marketing para montar uma equipe de
marketing, teve um desenvolvimento maior do que eu previ! O cartão de crédito é
uma operação 100% informatizada e extremamente complexa! Você coloca o seu
cartão aqui em Piracicaba debita em sua conta em Londres! Automaticamente!
On-Line! Formei uma equipe fantástica, fizemos grandes trabalhos, fizemos
pesquisas para fazer uma comunicação mais adequada, foi uma experiência boa,
fiz grandes amigos.
Com a
sua experiência de vida, tendo conhecido inúmeras cidades, praticamente boa
parte do planeta, como é a sua relação com Piracicaba?
Eu nunca quis
sair de Piracicaba, fui levado pela vida, pelas circunstâncias e sempre quis
voltar. Minha mãe viveu por oito anos no Lar dos Velhinhos de Piracicaba, até
falecer, feliz da vida! Acho que o piracicabano deve orgulhar-se muito do Lar
dos Velhinhos de Piracicaba, não conheço outro lugar parecido com este.
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