domingo, março 11, 2018

GERALDO GALVÃO BRASIL


Sábado 06 de janeiro de 2018

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

http://blognassif.blogspot.com/


http://www.teleresponde.com.br/




ENTREVISTADO: GERALDO GALVÃO BRASIL

Por muitas décadas Piracicaba, que sempre teve um índice de ensino de nível elevado, encontrou em um dos seus estabelecimentos, tudo, ou quase tudo que o estudante necessitava. Quando não havia em estoque, ou então era uma obra recém lançada a Livraria Brasil trazia rapidamente. No início das aulas ir a Livraria Brasil era como entrar em uma colméia. A farta variedade de material escolar, desde lápis e canetas coloridos, livros escolares, cadernos espirais (Que eram para os alunos cujas famílias tinham poder aquisitivo maior). O que conquistava o cliente, entre outras coisas era o atendimento, dos seus proprietários, das balconistas, muito solícitas, em meio àquele tumulto todo, listas e mais listas de material escolar, papel pardo ou então plástico comum para encapar os cadernos e livros, naquela época todos os cadernos eram encapados com papel pardo ou rosa, não existia o papel adesivo Contact, cada matéria recebia uma etiqueta, com o nome da mesma e do aluno. A simplicidade e atenção com que os proprietários atendiam eram de uma delicadeza impar. Os estudantes da época lembram com nostalgia e certo romantismo daquele tempo. Um detalhe muito interessante: o livro que o irmão ou irmã mais adiantado na escola, utilizava, era reutilizado pelo filho que vinha em seguida, ou doado a alguém que iria utilizar. Não havia essa dinâmica maluca de “mudança” infinita de métodos pedagógicos que descartam livros e mais livros, muitos até embalados em pacotes nunca abertos, distribuídos “graciosamente” pelo poder público, em quantidades fenomenais. Um verdadeiro abacaxi para os diretores de escolas públicas, que recebem quantidades exorbitantes de livros, não podem descartar ou sofrerão as penas da lei, atulham salas de escolas. Sem utilidade alguma o destino certo deles é a reciclagem. Milhões são desperdiçados, beneficiando interesses escusos. Isso não existia!

Geraldo Galvão Brasil nasceu a 24 de setembro de 1945, em Piracicaba, filho de Osvaldo Dias Brasil, piracicabano e Maria Joana Galvão Brasil, natural de Botucatu, professora no Grupo Escolar Barão do Rio Branco em Piracicaba, ele tinha uma joalheria, na Galeria Brasil, a Papelaria Brasil era de um lado e a joalheria era do lado oposto. Tiveram dois filhos: Geraldo Galvão Brasil e Oswaldo Galvão Brasil, professor universitário, da UNESP de Botucatu. Geraldo Galvão Brasil casou-se em primeiras núpcias com Maike Gerken Brasil, tiveram três filhos: Alexandre, Betina e Henrique. Em segundas núpcias casou-se com Roseli da Silva Fernandes.

A família Brasil e a cidade de Piracicaba mantêm uma forte ligação.

Faço parte da família Brasil, por décadas os Irmãos Brasil eram muito conhecidos em Piracicaba, isso até  pouco tempo. O meu tio Francisco(Chiquito) e o meu tio Paulo, em função principalmente da livraria e papelaria.

O seu pai Osvaldo Dias Brasil em função da relojoaria?

O meu pai começou a vida como linotipista, isso antes de casar, teve um problema respiratório, permaneceu uns tempos em Campos de Jordão, quando ele voltou foi trabalhar com o meu tio João Caruso, casado com minha tia Laudelina, na época era proprietário de uma joalheria, a Casa Caruso, situada a Rua Governador Pedro de Toledo , ao lado da Hoppner Chapéus em frente a Casa Bischoff que trabalhava com fotografias e material fotográfico. Quando a pessoa entrava na Relojoaria Caruso, tinha uma banca onde meu pai consertava os relógios. Na esquina da Rua Governador Pedro de Toledo com a Rua Moraes Barros havia a Relojoaria Gatti. O meu pai começou sua vida consertando relógios, geralmente suíços, dava-se corda para que funcionasse. Eram das marcas: Longines, Cyma, Omega,












os relógios femininos eram pequeninos. Meu pai foi um grande relojoeiro, me ensinou a consertar despertadores, que são mais fáceis de consertar, os Westclox por exemplo. Minha mãe era professora, ela e meu pai juntaram suas economias e adquiriram uma casa. Ele pediu demissão da Casa Caruso e abriu uma banca para consertar relógios, em uma garagem na Praça José Bonifácio, onde está o Banco Safra, em uma parte da área existia um armazém e a garagem. Continuou consertando relógios, sempre teve muitos fregueses. Ele decidiu aumentar, na mesma garagem, mandou fazer uma vitrine, foi para São Paulo, comprou dois ou três relógios, colocou-os na vitrine, não demorou um mês e os relógios foram roubados, isso faz uns 60 anos! Meu pai não desanimou, continuou trabalhando, Com a intenção de crescer, ele alugou na Rua Governador Pedro de Toledo, um salão grande, no fundo era uma casa com três quartos. A casa existe até hoje! Ao lado tina a sapataria Batta.  

Já existia a Livraria Brasil?

Os meus tios tinham a Livraria Brasil na Rua Moraes Barros. Era grande, no fundo tinha um puxadinho onde os dois ficavam era o escritório deles, ali permaneciam trabalhando. Ao  lado da loja, o Banco do Estado de São Paulo, BANESPA, começou a fazer o seu prédio de Piracicaba. Estavam fazendo as fundações, tinham escavado uma área enorme, isso em um período de chuvas intensas, até que a loja inteira dos meus tios caiu! Os dois estavam nos fundos, não sofreram nada, só que da loja não sobrou nada. Provisoriamente eles abriram a livraria na loja onde meu pai ia montar a relojoaria, meu pai foi para uma loja muito pequena, nós morávamos atrás, ficava embaixo da Rádio PRD-6.






Ele fez uma loja na frente com relógios e jóias. Ao lado, ninguém via, ele consertava relógios. O terreno onde existia a livraria que caiu, pertencia aos meus tios. Decidiram fazer um prédio, e fizeram a Galeria Brasil, com várias lojas e o Edifício Georgetta Dias Brasil com 18 apartamentos, o engenheiro foi Luiz Lee Holland. Foi o primeiro edifício da cidade. Meu pai ajudou muito meus tios a construir.




E com elevadores!

Meu pai tinha uma característica, ele fazia qualquer coisa, montaram dois elevadores Atlas, os primeiros elevadores da cidade, começava a funcionar e dava problemas. Ele abria em casa o mapa técnico do elevador, estudava, estudava, ele era muito quieto. Ficava por horas estudando o mapa. Ia olhava as máquinas, voltava, até afirmar: “É este aqui o problema!”. Ele consertava o elevador. Conto isso com orgulho! Quando o prédio ficou pronto veio a livraria de um lado e a relojoaria que estava embaixo da PRD-6 foi para lá. Isso tudo levou alguns anos. No final da Galeria Brasil acabava e tinha a casa do caseiro.  O Edifício Lúcia Cristina foi construído pelo Aristides Gianetti, que foi proprietário do Hotel Central. O Edifício Guidotti foi construído por ele mesmo, depois se uniram formando três galerias: Galerias: Brasil; Gianetti e Lúcia Cristina.



Você jogou bola no campinho de futebol que havia ao lado do Hotel Central?

Joguei! Joguei inclusive com o Fernandinho Gianetti. Era um craque, magrinho, mas no campo com a bola no pé era um monstro.

Você estudou aonde?

O curso primário eu fiz no Grupo Moraes Barros, para ingressar no ginásio tinha que fazer um cursinho, a professora era Da. Amália, fui estudar no Sud Mennucci, no meio do  terceiro ano do curso científico, eu tinha feito um concurso para ingressar no Banco do Brasil, veio a noticia de que tinha sido aprovado e deveria tomar posse. Comecei a trabalhar na agência centro, Avenida São João, 32, em São Paulo. O grupo que tínhamos entrado juntos foi removido para Vila Maria, na Avenida Guilherme Cotching, era tudo terra. Fomos inaugurar a primeira agência do banco na Vila Maria. Montamos a agência do zero. Naquela época nem computador tinha.

Nessa época você também estudava?

Fiz o curso de Economia no Mackenzie e morava na Rua Maria Antonia. Eu vivi a época em que a Rua Maria Antonia era efervescente. Tempo do Zé Dirceu e a turma dele.

Você chegou a ver os famosos embates da Rua Maria Antonia?

Muitos! Foi muito feio. Carros que explodiam, tiros, gritos. A Faculdade de Filosofia da USP era na Rua Maria Antonia e o Mackenzie era do lado. Esse negócio de esquerda e direita é uma confusão, sempre achei um negócio estranho, a Filosofia brigava com o Mackenzie, diziam que o Mackenzie era dos ricos e os filósofos eram os pobres. Tinha uma luta de classes entre pobres e ricos.

Isso foi na época do Chico Buarque?

Acredito que ele estudou na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo – FAU, na Cidade Universitária, tinha um barzinho na Rua Doutor Vila Nova, que o mundo freqüentava, inclusive o Chico. No João Sebastião Bar já haviam passado muitos nomes famosos da música popular brasileira. Foi durante muito tempo o "point" da MPB. Existia a boate La Licorne, que rebebia personalidades como o diplomata americano Henry Kissinger, Nat King Cole, Júlio Iglesias. Funcionou de 1965 a 1991. Não sei quem fez, mas mudou a Rua Major Sertório e imediações. Era um lugar muito bonito. Era muito caro, aos 20 anos de idade, o passatempo era ficar na porta olhando o movimento. Lembro-me daqueles cinemas todos: Marrocos, Metro, República. No Largo do Arouche tinha a Esquina da Caipirinha,  aos fins de semana enchia, todo mundo tomando caipirinha. Comi muito no restaurante O Gato Que Ri. No Ponto Chic do Largo Paissandu, onde o Bauru foi inventado. .Nessa época tinha Bossa Nova, Tropicália, O Fino da Bossa no Teatro Record, na Avenida da Consolação eu muito ver Elis Regina, aqueles artistas famosos, até que pegou fogo. A Moustache na Rua Sergipe, uma das boates freqüentadas pela nata paulistana nos anos 60 e 70. Os que andavam por ali encaravam a ferveção das madrugadas. "A noite tinha perfume" segundo um dos seus freqüentadores.

Você é formado pelo Mackenzie?

Sou economista, sou Bacharel em Ciências Econômicas. Por volta de 1969 a 1970, eu cheguei em casa e tinha uma revista da Unilever, em inglês oferecendo uma oportunidade para participar de uma seleção de Management Trainee (Treinamento para Gerência), se passasse ficava três anos treinando, depois assumiria uma gerência, o anúncio ainda acenava com a possibilidade de fazer uma carreira internacional. Eu nunca tinha feito uma entrevista, não sabia como era uma multinacional, eu era um caipirão de Piracicaba! Dinâmica de grupo? O que é isso? Fiz por fazer, gostei me senti bem. Era na unidade da Gessy Lever no bairro Anastácio. Fui aprovado, eu tinha a intenção de trabalhar no Banco do Brasil, naquela época não havia Banco Central, o Banco do Brasil fazia esse papel, dos projetos econômicos. Voltei à Piracicaba, me aconselhei com os meus pais. Lembro-me que meu pai disse-me: “Cata (era como me chamavam em casa) faça o que você achar melhor!” Fui trabalhar na Unilever. Comecei uma vida nova, de marketing, planejamento que eu gosto muito. Dali a um ano, que eu já trabalhava na empresa, me convidaram para participar de um projeto: desenvolver o sabonete Lux de Luxo. A Gessy Lever foi uma grande escola, nos 15 a 16 anos que trabalhei lá fiz um grande número de cursos. Foi uma segunda universidade. Fiz muitos cursos na Inglaterra, fiz um curso muito importante de finanças, foi um curso longo. Outro curso também que foi muito marcante foi um de gerência. Dentro da empresa, esse curso era um ponto de demarcação, não era todo mundo que fazia. Nem todos são gerentes, eram poucas vagas. A Unilever me expatriou por dois anos, morei em Madrid.

Após a Gessy Lever qual foi a próxima empresa em que trabalhou?

Fui para a Firmenich SA, uma empresa suíça no negócio de perfumes e sabores. It is the largest privately owned company in the field and ranks number two worldwide. É a maior empresa nesse campo e ocupa o primeiro lugar em todo o mundo. [1] Firmenich has created perfumes for over 100 years and produced a number of well-known flavors.A Firmenich criou perfumes há mais de 100 anos e produziu vários sabores bem conhecidos. A primeira coisa que fiz foi ir para Genebra conhecer a empresa, no promeiro dia você é recebido pelo dono da empresa Sr. Firmenich. Achei isso muito impactante. Almoçamos, conversamos, na hora de vir embora ele me deu de presente um relógio. Conheci bastante sobre o assunto, estudei, fiz cursos. Permaneci uns dez anos na Europa, voltei ao Brasil e fui ser Gerente Geral da Divisão de Perfumes no Brasil. A Firmenich era tida como uma perfumaria de elite, só fazia perfumes muito famosos: Anaïs Anaïs, Opium, era um mercado muito restrito no Brasil. Consegui um sucesso muito interessante, falo isso com muito orgulho. Quando eu estava para sair da Unilever, a pessoa que iria me substituir teve um problema, tive que adiar um mês a minha saída, trabalhei um mês como se não tivesse saído o presidente da Unilever, um holandês, bateu na porta da minha sala, perguntado se podia entrar. Imagine! O presidente da empresa! Conversou comigo coisas normais da vida, desejou-me toda a sorte, me agradeceu por tudo que fiz que eu tivesse feito muitas coisas, não digo isso para contar vantagem, mas para narrar a história de uma pessoa. Eu assisti o inicio da implantação da informática na Unilever. Toda a estrutura de equipamentos de grande porte. Teve um coordenador que trouxe um Apple, com uma planilha do Excel, Começamos a mexer com Excel, que loucura! De repente todo mundo passou a ter PC, nessa época tinha uns relatórios da A.C. Nielsen vinham relatórios com 15 centímetros, 20 centímetros de altura, para analisar aquilo demorava muito tempo. Hoje todo mundo tem online no seu computador. A informática mudou o mundo, acho isso fantástico, me esforço para pelo menos conceitualmente entender o que está acontecendo e o que irá acontecer nessa área.

Na Firminich tinha que viajar muito para outros países?

Um projeto de perfume é internacional, não é uma companhia que faz, pede perfume para Firminich de diversos países, Isso tudo através de telex, fax e telefone! Discutir perfume por telefone em inglês é uma tarefa e tanto! Na época eu ia muito à Genebra. Foi uma época muito romântica. A indústria da perfumaria é bonita, refinada, glamorosa, não no sentido negativo. É uma arte. Conversar com um perfumista é muito interessante, aprendi muito.

Após alguns anos você mudou de empresa?

De lá eu saí e fui para a Credicard, por incrível que pareça eles não tinham marketing, só tinha o cartão Credicard e Diners, convidaram-me, eles queriam uma pessoa que conhecesse marketing para montar uma equipe de marketing, teve um desenvolvimento maior do que eu previ! O cartão de crédito é uma operação 100% informatizada e extremamente complexa! Você coloca o seu cartão aqui em Piracicaba debita em sua conta em Londres! Automaticamente! On-Line! Formei uma equipe fantástica, fizemos grandes trabalhos, fizemos pesquisas para fazer uma comunicação mais adequada, foi uma experiência boa, fiz grandes amigos.

Com a sua experiência de vida, tendo conhecido inúmeras cidades, praticamente boa parte do planeta, como é a sua relação com Piracicaba?

Eu nunca quis sair de Piracicaba, fui levado pela vida, pelas circunstâncias e sempre quis voltar. Minha mãe viveu por oito anos no Lar dos Velhinhos de Piracicaba, até falecer, feliz da vida! Acho que o piracicabano deve orgulhar-se muito do Lar dos Velhinhos de Piracicaba, não conheço outro lugar parecido com este.

 

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