sábado, setembro 08, 2018

NILDA BORGES VIDAL


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 26 de maio de 2018.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADA: NILDA BORGES VIDAL
 
Nilda Borges Vidal é nascida a 12 de março de 1938, no município de Barretos, mais propriamente em um sítio, filha de Marcondes Borges da Silva e Laurentina de Azevedo Borges que tiveram 14 filhos, sendo que três faleceram com pouco tempo de vida.
Qual era a atividade do pai da senhora?
Ele herdou da minha avó um cafezal, a mãe dele tinha uma fazenda muito grande.
A senhora trabalhou no cafezal?
Trabalhei! Tinha uns 10 anos de idade já apanhava café. Puxava os grãos da vara (galho), saia os grãos e com uma peneira embaixo onde eles caiam. Quando a peneira está cheia, você separa o joio do trigo. O trigo é o café bom. Tirava folhas, ciscos, e algum grão de café inservível. Ao abanar a peneira já é feita a separação. ( Da. Nilda faz gestos de quem está levantando e abaixando uma peneira, abanando).
De que cor é o café quando é apanhado?
É vermelho. O desenvolvimento do fruto exige cerca de seis meses e, quando maduro, tem uma cor vermelho profundo e é conhecido como "cereja". Após a colheita no campo, possui certa umidade, que irá variar de acordo com o estado de maturação sendo necessário fazer sua secagem para que não ocorram fatores que venham a prejudicar a qualidade do produto. Nós usávamos o processo mais comum de secagem que é feito em terreiro exposto ao sol para retirar a umidade dos grãos. O tempo de secagem poderá variar de 8 até 30 dias de acordo com o tipo de café, terreiro e condições climáticas. Todas as noites, porém, são juntadas e cobertas com lonas para protegê-las do orvalho, pois a umidade neste estágio seria prejudicial. No dia seguinte, esparrama-se o café somente quando o orvalho do terreiro já tiver evaporado. Quando o café está totalmente seco, a película externa torna-se quebradiça e pode ser removida facilmente. Cada arbusto produz anualmente até um quilo e meio de café, depois do quarto ou quinto ano. Os cafeeiros podem produzir até os 100 anos de idade, mas seu período mais produtivo vai do 5º ao 50º ano. A folhagem é de um verde escuro brilhante. As flores são pequenas em formato de estrelas, perfumadas, e crescem em cachos. No meio do cafezal plantávamos melancia, que é rasteira, pé de mamão. Para o uso em casa, os grãos de café que tinham ficado secando ao sol eram colocados em um pilão de madeira e socados. Coava em uma peneira e deixava o café limpo. Eu mesma muitas vezes soquei café no pilão. Depois esse pó era torrado. O artefato era feito de metal e madeira, em formato esférico, movido por uma manivela, que girava lentamente os grãos, em movimentos circulares, para evitar que eles ficassem queimados; além de garantir uma torra uniforme. O recipiente esférico que tinha contato com o fogo, era ligado à manivela em aço, que ao final dela tinha uma proteção madeira, que o fazia girar. A proteção era de madeira para proteção das mãos de quem a movia. Minha mãe já sabia a hora que estava pronto, dava um aroma delicioso. Após torrado era guardado em uma lata. Todo dia quando ia fazer o café moía os grãos em moedor próprio para moer café. Lembra um pouco uma máquina de moer carne. Tenho um tio, Augusto, que mora na região de Olímpia, ainda usa esse processo para consumo próprio. As melancias e os mamões muitas vezes nós consumíamos na própria roça.
E para tomar água?
Levávamos moringas que ficava na sombra, a água fresquinha. Tínhamos uma plantação de arroz, feijão, quanto algodão eu apanhei! Apanhava e punha em um balaio. Eu trabalhava com uma égua chamada Bainha, com ela arava a terra.  O pessoal dizia ao meu pai em tom de admiração: “ A Nilda é o filho homem que você não teve!”. Isso porque eu trabalhava como um adulto, isso aos 15 anos. Sempre ajudei muito o meu pai. Sempre comi de tudo.
A senhora estudou no período em que morou no sítio?
Estudei! Na Fazenda Cachoeira da minha avó e na Fazenda Lagoinha que era do meu tio, os meus pais mudaram várias vezes de residência, sempre em busca de progresso. A minha avó paterna chamava-se Ana, mas todos a chamavam  de Donana. Nunca a chamei de avó e sim de madrinha. O meu avô materno chamava-se Nestálio. Não conheci meu avô paterno e nem a minha avó materna. Eram todos brasileiros. Fiz o primeiro ano primário na Fazenda Cachoeira, as professoras eram terríveis! Tinha uma régua de bambu, eu estava na classe “A” que era a melhor. Um dia baixei a cabeça na carteira, a professora bateu com a vara na carteira, levei um tremendo susto. Ela chamava-se Taís. Você vê como foi tão marcante que não esqueci nem o nome da professora. Nessa escola estudei o segundo ano. No ano seguinte mudamos para a Fazenda Lagoinha, Meu pai fez um armazém na beira da estrada. Tinha campo de bocce. Ao lado da nossa casa era a escola, em seguida a igreja. Nessa escola estudei o terceiro ano. Era um vilarejo. A minha professora precisava de alguém que a ajudasse em casa. Eu tinha uns 10 anos. Sai da escola e fui trabalhar como empregada doméstica. Lá eu trabalhei até o meu pai mudar com a família para outro lugar.  
Foram morar em que local?
Fomos para São José do Rio Preto. Continuei trabalhando como empregada doméstica. Éramos pobres. Meu pai tinha conseguido comprar uma casa. Algum tempo depois mudamos para Barretos.
Foi lá que a senhora conheceu o seu futuro marido?
Eu tinha uma prima, de nome Batista, era comum chamá-la de Tita que morava em São Caetano do Sul, foi em casa e disse-me: “Nilda, eu vou para São Paulo, você quer ir comigo?”. Disse-lhe: “Lógico!” Eu queria fazer a minha independência, ter uma renda melhor, e tinha a curiosidade de conhecer São Paulo. Pedi para o papai, ele disse-me: “-Você não vai! São Paulo é perigoso! Só se você pedir para a mamãe, se ela deixar também deixo.” Mamãe era a mãe dele. A Ana, fazendeira. Minha avó morava do outro lado de Barretos. Eu fui imediatamente até lá a pé. Disse-lhe “Madrinha, a senhora me deixa ir para São Paulo?” Ela respondeu “-Minha filha, lógico que eu deixo! Quem sabe você não encontra um bom casamento por lá?” Eu estava com 18 anos. Abracei-a, ela ficou feliz, anteriormente eu tinha tido um namorado que não era a pessoa certa. Viemos para São Paulo, de trem, fiquei na casa dela, no sábado fomos ao cinema, estávamos minha prima Tita, eu, suas filhas de 11 e 12 anos. O filme era impróprio para a idade delas. No cinema seguinte também o filme era proibido. Fomos ao Cine Lido, isso em São Caetano do Sul. A Tita disse que ia comprar os ingressos, para esperarmos ali mesmo na ante-sala do cinema. Nisso eu vi um moço comprando um ingresso, falei para a minha prima: “-Vou namorar esse moço!”. Eu sempre fui muito brincalhona. Quando ele virou nossos olhares se encontraram! Nessa época, antes de entrar para assistir o filme, havia uma sala onde as pessoas ficavam esperando o horário de inicio do filme. Eu olhava para ele, ele olhava para mim. Na hora de entrar ele fez um movimento de cabeça, significando afirmativamente, eu correspondi com o mesmo movimento. Ele sentou-se ao meu lado e permanecemos juntos por sessenta anos.
Qual era o nome dele?
Meu marido chamava-se Divino Vidal. Ele era divino, maravilhoso de corpo e de alma. Inteligente. Não havia uma pessoa que não gostasse dele. Ele era muito bom. Uma benção de Deus. Casamos no dia 18 de maio de 1960 em Barretos. Só que era do tipo “machão”. Nunca mais nos separamos.
Qual era o trabalho dele?
Ele trabalhava em uma retífica de motor a diesel. Era especialista em motores a diesel. Levantava as cinco horas da manhã para ir de trem até o local de trabalho.
A senhora trabalhava?
Não! Ele dizia: “Mulher minha não trabalha”. Com o passar do tempo, de tanto a minha sogra falar com ele, acabou permitindo que eu comprasse uma máquina de costura Singer. Eu tinha aprendido a costurar quando morava em Barretos. Durante o dia eu trabalhava como cozinheira em uma casa e a tarde, lá pelas 3 horas, começava a aula.
A senhora deve cozinhar bem?
Cozinho muito bem, graças a Deus! Não essas comidas modernas, mas a tradicional sei fazer com muita habilidade. O ritmo de vida das mulheres atualmente faz com que elas comprem o alimento pronto. E há uma grande diferença no sabor, na composição dos alimentos feitos em casa e em escala empresarial.
Vocês tiveram filhos?
Tivemos três: Ezilda, Elisabete e Divino Vidal Júnior.
O seu marido continuou na mesma empresa?
Além de trabalhar na retífica o meu marido, foi jogador de futebol, jogava no Cerâmica São Caetano Futebol Clube, era um homem bonito, quando ele teve uma filha o pai dele disse-lhe: “-Você vai sustentar sua família como? No futebol você não ganha nada, você joga porque gosta”. Ele então parou de jogar. Como ele era um bom mecânico diesel, muito dedicado, alguém da Cofap viu o seu trabalho e levou-o para trabalhar na Cofap Companhia Fabricadora de Peças. Passou a ganhar mais, entrar um pouco mais tarde.
Como a costura entrou em sua vida?
Desde criança eu sempre gostei muito de costurar, e a minha mãe com essa filharada toda, costurava para nós. Eu era pequena e dizia: “Mãe, dá a tesoura!” Minha mãe mandava eu ir brincar. Eu disse-lhe: “Quando eu crescer vou trabalhar tanto na máquina que a senhora vai ter que levar água para mim!”. Quando eu estava grávida da minha primeira filha, minha sogra e eu fomos juntas e compramos a máquina de costura. Fiz roupa para uma cunhada, para outra, fazia para mim, camisa para meu marido, Após um ano mudamos, fomos morar no Bairro Marlene, em São Caetano do Sul, moramos ali por 19 anos. Compramos uma casa na Rua Marlene, 713 em São Caetano do Sul. A casa precisava ser reformada, era um terreno de 450 metros quadrados. Reformamos ela todinha. Nessa época meu marido tinha um bom salário. Morei 38 anos nessa casa.
Quando a senhora começou a pedalar a máquina de costura?
Pedalei pouco tempo! Mandei adaptar um motorzinho na máquina! As roupinhas da minha primeira filha eu que fiz. Casaquinho de tricô, as roupinhas eram feitas de um paninho macio,
A sua fama como boa costureira logo se espalhou?
Após ter as minhas duas filhas, passei a ser costureira profissional, tinha uma moça que morava perto, chamava-se Rita, disse-lhe que costurava, ela achou ótimo. Um dia ela veio com um lenço grande, disse-me: “-Nilda, eu vou para a praia, você faz um vestido desse lenço?”. Eu fiz, estilo “Tomara que Caia”. Ela amou. A freguesia foi aumentando, eu ia guardando o dinheiro. Meu marido não sabia que eu costurava. Não tinha geladeira, não tinha televisão. Mas era muito feliz! (Dona Nilda emociona-se ). Arrumei uma menina para brincar com as crianças e eu poder costurar. Eu costurando e ganhando dinheiro. Um dia disse a ele: “- Olha o que eu ganhei!”. Ele disse-me: “- Onde você ganhou isso?” Disse-lhe; “Costurando!”. Expliquei que desejava ajudá-lo. Enfim o convenci e ele concordou. Tinha uma cliente chamada Marli, dona de uma empresa, toda semana eu fazia um vestido para ela. Eu ia até a Tecelagem Vânia, trazia a amostra do tecido, ela escolhia, eu ia lá, ganhava no pano e na confecção.
Como a senhora criava o modelo do vestido?
Eu tinha uns figurinos, mas geralmente as clientes não gostavam de ver. Eu criava, nasci para isso. Até hoje tenho vontade de criar, costurar.
A senhora desenhava o vestido?
Desenhava, mas não como estilista. Fazia um risco do meu jeito. Tirava a medida, fazia o molde, fiz o Curso Vogue em Barretos, com a mesma professora fiz o Curso Prático. Eu fazia o molde da frente e das costas em um molde só. Rendia tempo e papel.
Quanto tempo a senhora demorava em fazer um vestido?
Depende. Do tecido, do modelo. Na segunda–feira eu cortava na terça-feira eu armava os vestidos, cheguei a fazer 10 vestidos por semana. Sozinha. Ai eu arrumei uma moça para churiar, não havia máquina Zig Zag ainda. Fazia barra de vestido a mão, Saia Godê Guarda-Chuva, que agora voltou a moda. O meu vestido de noiva eu mesma fiz. Eu fazia vestido para casamento, vestido para madrinha, de noiva. Só de criança que eu nunca gostei de fazer, só fazia para minhas filhas. Trabalhava com costura fina.
Quais eram os tecidos mais usados na época?
Tafetá, organza, linho, seda, algodão também. Eu ia na Tecelagem Vânia e comprava. Nessa época as moças faziam de tudo para ficar com a cintura fina, tinha umas moças que até  usavam corpete. Eu tinha que seguir a moda. Fazia o vestido Godê Guarda-Chuva ficava exuberante, muito bonito. Algumas moças tomavam vinagre para emagrecer! Costurei por 35 anos, parei por aconselhamento médico, tinha muita dor no pescoço. Tenho desgaste nas vértebras.
Suas filhas gostam de costurar?
Não, nenhuma das duas.
O seu marido aposentou-se com quantos anos?
Aposentou-se com 45 anos. Chegou em casa, pegou meu filho no colo e disse: “-Papai aposentou-se!” Eu disse-lhe: “Parabéns que você conseguiu aposentar-se, mas só que com essa aposentadoria não vai dar não! Temos que trabalhar!” As crianças eram adolescentes.
O que ele fez?
Foi trabalhar na empresa de Evaristo Comolatti, fundador do Grupo Comolatti. Lá ele ganhou uma perua para trabalhar, permaneceu lá até 60 a 65 anos. Ai parou de vez. Nossos filhos casaram, a casa era grande, tinha que dar manutenção. Meu marido era muito católico, dava palestras. Vendemos a casa e compramos um apartamento no Bairro Nova Gerty em São Caetano do Sul. Após oito anos meu marido faleceu. Fiquei mais dois anos no apartamento. Através da Maria Fornari, amiga da minha filha, mudei para Piracicaba, estou amando!

ROSA MARIA FURONI


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 19 de maio de 2018.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

http://www.teleresponde.com.br/ ENTREVISTADA:ROSA MARIA FURONI

 

 

 

 

O Escritório Experimental "Dr. Geraldo Bragion"; Juizado Especial Cível (JEC) com Cartório Anexo e Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania (Cejusc) são três setores de prática real coordenados pelo Núcleo de Prática Jurídica (NPJ), o Escritório Experimental difere por ser direcionado à comunidade carente. O JEC e o Cejusc funcionam por meio de convênio entre a Unimep e o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJSP), vinculados aos tipos de ações encaminhadas. A prática leva à perfeição e na Unimep, o trabalho realizado no Núcleo, permite que os alunos do curso de direito coloquem em prática a teoria das disciplinas e ajudem a comunidade.

Rosa Maria Furoni é professora orientadora do Escritório Experimental. Dinâmica, ágil, com sua liderança natural, recebe e atende, pessoas carentes, onde de forma clara e delicada orienta àqueles que buscam justiça, são pessoas de parcos recursos, e geralmente de estrutura familiar fragilizada. Os alunos, orientados por ela, desenvolvem a tarefa, sob o seu olhar atento e prestativo.

O Escritório Experimental atende só a parte cível? 

O Escritório Experimental atende tanto o cível como o criminal. O cível, onde atendemos em sua maioria dos casos Direito de Família, é de responsabilidade do Professor Rui Pereira Barbosa e minha, na parte penal o  Professor José de Medeiros, é o professor orientador da parte criminal.

Há algum padrão de renda para a pessoa ser atendida?

O Escritório Experimental é como a Defensoria Pública, o usuário pode ter renda máxima de até três salários mínimos. Diferente do Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania (Cejusc) que qualquer pessoa, com qualquer rendimento pode utilizar-se desse setor. É feito um pedido, marcada uma audiência, saindo o acordo é marcado pelo juiz e tem força executiva. Vale como se fosse uma sentença. Um acordo judicial. A assistência judiciária da Unimep existe há mais de 40 anos.

Os custos são por conta da Unimep?

A Unimep arca com todas as despesas: professores, materiais, funcionários, instalações, manutenção. Em contrapartida ela reverte aos alunos as vantagens de colocar em prática o que aprenderam em sala de aula sem contar os benefícios aos usuários. Este estagio faz com que o aluno saiba como é realmente a advocacia, aqui o aluno consegue fazer atendimento, orientar, fazer uma petição inicial, fazer procuração, declarações, acompanhar as audiências, verificar como é o posicionamento na sala do juiz, como é o acompanhamento do processo até a sua sentença. Se houver a necessidade de recurso também apresentar esse recurso, no TJ, no STJ, o aluno sai com uma bagagem de como é advogar.

De certa forma é como a residência médica para o formando em medicina?

A residência obedece a regras, aqui o aluno vai saber como fazer o atendimento, como direcionar, fazer a inicial.Buscar  os fatos jurídicos, as normas que o Direito pede.

O formando verá que o que estudou é muito importante.

E que a realidade é dura e crua! Enquanto o aluno tem a teoria na universidade, na prática ele verá o que é realmente exercer a profissão.

O publico que é atendido em boa parte é composto por pessoas carentes?

Exatamente! Algumas vezes o problema tem origem na composição familiar, ou seja, a raiz do problema são causas diversas de infra-estrutura familiar, econômica, social, cultural.

Ao final do dia você sai satisfeita, cansada, “carregada”?

Você sai cansada, carregada porque muitas vezes você absorve o problema para si.  Não os levar para casa é um ponto importante, você tem que trabalhar consigo para não levar os problemas vivenciados aqui. Há muitos casos que causam uma profunda comoção, penso no que posso fazer para ajudar. Às vezes estamos de mão atadas. Muitas vezes as pessoas trazem uma sobrecarga de sentimentos, necessidades. Isso tudo tem que ser trabalhado pelo profissional, para que tenha estrutura e tentar ajudá-los. Controlar a própria emoção.

Como um médico que se perder o autocontrole diante uma situação inusitada pode colocar em risco o sucesso de uma cirurgia?

O advogado tem que controlar suas emoções, se perder o controle talvez não faça uma defesa como seria necessária. Perder a linha técnica em decorrência da emoção. Deixa de ser advogado e passa a ser parte. Não pode misturar as coisas, de forma alguma.

Como é a relação do Núcleo com as autoridades?

Somos bem vistos, respeitados, é um serviço que a Unimep presta à comunidade, é muito importante, necessário. Muitas vezes as pessoas que buscam o Escritório Experimental não tem onde se apoiarem. É o último recurso dessas pessoas. Aqui eles sabem que irão ser atendidos.

Quantos alunos estão realizando trabalhos no Escritório Experimental?

Existe uma divisão: O Escritório Experimental tem X alunos, o Juizado tem Y alunos, o Cejusc Z alunos e existem os conveniados. Em média 10 alunos por dia. Já preenchem o espaço físico de que dispomos.

Rosa você nasceu em que cidade?

Nasci em Piracicaba, no bairro da Paulista, a Rua José Ferraz de Carvalho, esquina com a Rua Alferes José Caetano.Minha mãe não foi à maternidade. Nasci em uma casa em forma de castelo.

Você nasceu no famoso castelo que havia na Rua Alferes

Nasci! Era de propriedade da família Sabino. A minha avó, Anita Cizilin Pandolfo morava na Sociedade Italiana, havia um busto de Mussolini no jardim da frente da Sociedade. Na época da Segunda Guerra Mundial pegaram esse busto e levaram para enforcar na Praça José Bonifácio. Isso minha mãe me contava.

Como era esse castelinho?

Era uma casa muito grande, tinha porão, parte superior, em forma de castelo. Com todos os detalhes. Eu não tinha nascido ainda quando a minha avó começou a trabalhar, lá mesmo, constituindo uma creche em conjunto com Branca de Azevedo, ficava na parte de baixo da casa. Na entrada da porta principal da casa tinha um jardim, havia um repuxo,   (construção para a condução da água que sai em jato contínuo), uma escadaria, era maravilhoso! Entrando havia uma sala, quatro quartos, sala de jantar, cozinha com fogão a lenha, a casa era muito grande, morávamos nós, minha avó, meu tio José, minha tia Maria Lúcia. Esse castelinho era um universo maravilhoso.
Qual é o nome dos seus pais?

Minha mãe é Maria de Lurdes Pandolfo Furoni, meu pai José Furoni. Tiveram seis filhos: João, Ângela, Rosa, José, Ana e Luiz. Nasci a 7 de novembro de 1959.

Você freqüentava a Igreja dos Frades?

Freqüentava a Igreja dos Frades e o Colégio Assunção onde ia brincar no jardim muito bonito que existia lá. Eu era muito feliz lá! Andei de bonde! Fiz a primeira comunhão na Igreja dos Frades, em períodos sacro-festivos, era comum a menina vestir-se como anjo, inclusive com asas. Eu fui uma delas! Fui anjo! Lembro-me do tapete vermelho que ia da entrada da igreja até o altar, era por onde as noivas passavam. Eu ia assistir aos casamentos! Tinha cinema, teatro no salão de festas da igreja.

O curso primário você estudou em qual escola?

O primário eu estudei no Grupo Escolar Barão do Rio Branco, o ginásio estudei no Jorge Coury, onde tive aula de português com Da. Conceição, aulas com Da. Arlete, lembro-me da Da. Margarida, José Salles. Lembro-me da Da. Alcina, do Prof. Argemiro Ramos, sua esposa Profa. Jandira, eu adorava-a. Lembro-me da biblioteca, hasteamos muitas vezes a bandeira nacional cantando o hino nacional. O prédio era ao lado da Igreja dos Frades, existe até hoje. Conclui o colegial no Dom Bosco da Cidade Alta. Comecei a trabalhar, fui vendedora da Ultralar, ( Uma das gigantes da época). Trabalhei nas Casas Buri, (Uma das mais famosas em todo Brasil). Eu resolvi que tinha que trabalhar, meu pai era caminhoneiro. Quando eu era criança subíamos na carroceria do caminhão e meu pai nos levava para passear, era uma delicia! Minha mãe era professora.

Qual foi seu próximo trabalho?

Tarbalhei na Colina Mercantil de Veículos S/A, com seguros. Fui para a Usina Santa Helena, para ser secretária da Diretoria de Produção. O pessoal gostou muito de mim, decidiram levar-me para uma entrevista, na Usina Bom Jesus. Em 1982 comecei a fazer a Faculdade de Direito, tive que interromper os estudos até 1988 quando voltei a estudar, por razões  de saúde, interrompi novamente, e em 1996 voltei para a faculdade. Me formei em 2000.

Você escolheu essa área de Direito por algum motivo especial?

Sempre gostei muito de artes cênicas, de teatro, música, meu sonho era ir para São Paulo fazer artes cênicas. Só que diante das condições na época, isso não era possível. Foi quando me encontrei no Direito. Em minha opinião todo mundo deveria estudar Direito, para conhecer os seus direitos. Tem muitas pessoas que não sabem o que é uma Constituição.  

Você é a favor de já no ensino básico iniciar noções de direito, de forma lúdica?

Há a necessidade de desenvolver a consciência de cidadão. Logicamente de acordo com sua faixa etária.

Infelizmente, muitos desenvolveram a consciência de seus direitos, mas não desenvolveram na mesma proporção a consciência dos seus deveres.

Acho que é exatamente isso, eu questiono se as noções de direito e deveres  deve ser já ministrada no curso primário.
A seu ver a escola particular que colocar o ensino de básico de Direito como matéria complementar (além do currículo oficial) ela pode captar mais alunos?
Eu acredito que sim!
Muitos pais preocupam-se que seus filhos aprendam artes marciais. Isso é muito saudável e louvavel. Porém nem todos lembram-se da frase autor inglês Edward Bulwer-Lytton "A caneta é mais poderosa que a espada" .
Concordo plenamente, muitos conflitos graves podem ter solução racional, conforme estabelece a Lei.
Após você formar-se em Direito foi advogar?
Formei-me, sai da Usina, e fui convidada a trabalhar como gerente administrativa de uma Factoring (Atividade comercial caracterizada pela aquisição de direitos creditórios, por um valor à vista e mediante taxas de juros e de serviços, de contas a receber a prazo).Eles me autorizavam a trabalhar no escritório deles quando eu tivesse necessidade. Havia uma vaga na monografia da Unimep, fui admitida e entrei na Unimep em 2001. Como funcionária. Trabalhei na Coordenação de monografias com o Prof. Rolim e com o Prof. João Miguel que era da prática processual. Meu horário na Unimep era pela manhã e a noite, a tarde eu trabalhava no meu escritório. Em 2007 tive a oportunidade de vir para o Escritório Experimental, que na época funcionava de manhã, a tarde e a noite. Eu ficava no período da noite. Foi extinto o período da noite, passei a ficar no período da tarde no Escritório Experimental. Fiz o mestrado, pediram que eu fosse professora em tempo integral. Fiz o concurso e estou aqui até hoje! Sou Conciliadora Judicial pela Escola de Magistratura. Fui uma das primeiras conciliadoras.
O brasileiro sempre teve o habito de opinar, discutir futebol. Tínhamos milhões de “técnicos” de futebol. Houve uma migração para a área do Direito após a Operação Lava-Jato? Ou seja, hoje temos milhões de “magistrados”?
Acho que a Operação Lava-Jato trouxe a tona, inúmeras situações irregulares que aconteciam em todos os setores, de uma forma mais discreta. Trouxe a conscientização da realidade à todas as classes.
Isso trouxe um pouco de glamour ao operador do direito?
Um pouco! Principalmente a alguns que a mídia expõe mais.
Pessoas mais maduras, a seu ver, devem estudar?
Nunca é tarde para fazer qualquer curso. Nunca é tarde para estudar. As portas sempre estão abertas para o conhecimento. Você tem que se reinventar, e estudar é uma das formas.
Rosa o que é Deus?
Deus é uma força maior. Eu tenho a certeza de que Deus existe. Fui até o Vaticano. Estive no Santuário de Nossa Senhora de Fátima, em Portugal.
Você tem algum hobby?
Adoro viajar! Gosto muito de ler. De uma boa música, minha preferência é por MPB e músicas clássicas
Você tem algum livro escrito?
Tenho um capítulo de livro escrito. Sobre os Refugiados Ambientais. Como fiz o Mestrado em Direito Internacional, os Refugiados Ambientais são aqueles que em decorrência de catástrofes não tem os direitos que são dados aos refugiados de guerra.
Refugiado ambiental pode ser como do caso Samarco?
Exatamente!

 

domingo, setembro 02, 2018

CLÉIA MARIA DA LUZ RIVERO


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 10 de abril de 2018.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADA: CLÉIA MARIA DA LUZ RIVERO


 

A Secretária da Educação do Município de São Pedro, Profa. Dra. Cléia Maria da Luz Rivero elegeu a Educação como seu objetivo profissional. Foi uma escolha muito acertada do prefeito desse município paulista, Hélio Donizete Zanatta, para compor a sua equipe administrativa. A Professora Cléia ao longo dos anos acumulou larga experiência em formular e desenvolver projetos educacionais de ampla escala. Os resultados estão aparecendo a olhos vistos. Quando muitos brasileiros concluem que sem formação educacional o país não se desenvolve, prefeituras sofrem com dificuldades de verbas para a educação, a cidade de São Pedro, sob a dinâmica e competente administração na área educacional, dá o exemplo de como superar dificuldades.   
A senhora é natural de São Pedro?
Nasci a 10 de maio em Quarai, situada no Rio Grande do Sul, na fronteira com o Uruguai, atravessando o Rio Quarai situa-se a cidade de Artigas, Departamento do Uruguai. Meus pais tinham propriedade em Quaraí, depois meus pais mudaram-se para Santana do Livramento também fronteira com outra cidade do Uruguai: Rivera. Sou filha de João da Luz Filho e Hulda Rosa da Luz que tiveram os filhos: Cléia, La-Hire, João Antonio e Rosa Maria.
 
                                                      MUNICIPIO DE SÃO PEDRO
 
 
A senhora realizou seus primeiros estudos em que cidade?
Sempre em Santana do Livramento. Quando mudamos de Quarai eu não tinha idade escolar. Comecei os meus estudos em Santana do Livramento.






SANTANA DO LIVRAVENTO RS PRAÇA GENERAL OSÓRIO FRONTEIRA COM RIVERA NO URUGUAI
A senhora lembra-se do nome da sua primeira professora?
Lembro-me sim! Madre Joana! Eu estudava no colégio das Irmãs Teresianas. Era uma escola muito grande das Teresianas, uma irmandade católica que só tinha em três lugares no Brasil: Em Santana do Livramento  por terem vindo do Uruguai; uma escola em Porto Alegre e outra no Rio de Janeiro. Lá estudei desde o jardim da infância até me formar na Escola Normal, concomitantemente com a Escola Normal fiz também o Curso Científico. Fiz os dois curso hoje considerados de ensino médio. Estudava o dia inteiro. Desde pequena eu queria ser professora!
A senhora casou-se?
Casei-me em Livramento com um moço de Quarai: Carlos Roberto Rivero. Por acaso nos encontramos na juventude, em uma festa, namoramos por quatro anos. Tivemos três filhos: Martha Helena, João Miguel e Paulo Roberto. Fruto dos dois filhos, cinco netos.
Qual é a profissão do seu marido?
Ele sempre trabalhou com comércio. Quando viemos do Rio Grande do Sul para Piracicaba foi em função do seu trabalho: couro e artefatos de couro. No Rio Grande do Sul ele trabalhava com curtume e couros, junto com meu pai, inclusive exportavam tapetes, depois meu pai aposentou-se, fechou a empresa, o Roberto passou a trabalhar com uma empresa que se chama Fasolo S/A, ele foi escolhido para vir para São Paulo, para trazer a grife de artefatos de couro, cintos e carteiras. A marca Fasolo não tinha  em São Paulo, foi ele quem introduziu essa grife no Estado de São Paulo. Achamos por bem instalarmo-nos em Piracicaba, eu já tinha bastante conhecimento com o pessoal da UNIMEP, desde quando residíamos no Rio Grande do Sul. Era também uma forma para que eu continuasse meus estudos. Nunca parei de estudar. Eu vim de lá com 15 anos de carreira como professora do Estado, já tinha sido diretora e supervisora de ensino. Isso foi em 1982. Chegando aqui, já nos instalamos, ele começou a prospecção de clientes no Estado de São Paulo, eu mandei meu currículo para a UNIMEP, eu já tinha sido professora universitária no Rio Grande do Sul, dali a 15 dias o Reitor Professor Elias Boaventura mandou me chamar. Disse-me “- Professora eu vi o seu currículo, quero convidá-la para assumir a coordenação pedagógica do Colégio Piracicabano, estou sem coordenadora”. Ele estava 6 meses sem coordenadora. Disse-me: “O Colégio comporta muitos alunos, no momento temos só um decréscimo de alunos. Estamos com menos de seiscentos, vou confiar à senhora para fazer uma campanha para esse alunato crescer”. Disse-lhe: “Reitor, venho do Rio Grande do Sul, não vou negar a minha experiência de 15 anos, tanto de sala de aula como de coordenação, direção, supervisão. Mas preciso me ambientar, venho de um Estado diferente de São Paulo. Creio que há muitas questões, tenho que primeiro me atualizar.”. Ele disse-me: “-Não! Sei que vai dar certo! A senhora pode começar já!” Isso foi no comecinho do mês de fevereiro, comecei levando o professorado para o planejamento deparei-me com algumas coisas que aqui nem havia sido lançadas, na escola fundamental e de ensino médio. Tinha muitos cursos profissionalizantes no colégio. A primeira recomendação que o Reitor me deu foi: “-Faça um regimento comum da escola. Novo. A diretoria de ensino está pedindo e nós precisamos renovar”. A minha primeira dedicação foi arrumar a documentação da escola, depois me dediquei ao pedagógico e trabalhei por dois anos e meio como coordenadora lá. Quando saí tínhamos 1080 alunos!
A senhora saiu e foi para onde?
Fui para a UNIMEP! Para o Departamento de Ciências Humanas. Eu já estava fazendo o meu mestrado em Educação nessa época. Estava quase para defender a minha dissertação, quando fui chamada pelo diretor, perguntando-me se eu não queria assumir algumas aulas na sua área, na área de política educacional, de didática geral específica para os alunos. Das licenciaturas ou da pedagogia. Com isso sai do Colégio e fui para a UNIMEP, onde fiquei por 25 anos, como professora, lutando pela educação, sempre com a formação de professores. Trabalhei nas licenciaturas, no Curso de Pedagogia, na Pós-Graduação em Educação, isso depois que completei meu doutorado. Sou da primeira turma de doutorado da UNIMEP. Isso foi em 1996. A educação é a minha paixão, eu acredito ainda na educação. Acho que esse País no dia em que acreditar na Educação e colaborar para que os municípios possam fazer uma educação de qualidade, é através da Educação que o País irá se salvar. Não acredito em mais nada. Só na Educação!  
O título de cidadã piracicabana e são-pedrense já lhe foi concedido?
Ainda não! Nenhum dos dois! Recebi uma moção da Câmara de São Pedro.
Quantos livros foram escritos pela senhora?
Publicados tenho três livros, técnicos, na área da educação: “Interfaces da Gestão Escolar”; “Formação Profissional dos Educadores”; “Formação do Professor na Sociedade do Conhecimento”
A senhora assumiu como Secretária Municipal da Educação de São Pedro quando?
Foi em março de 2014, eu tinha mudado de Piracicaba para São Pedro fazia um ano e alguns meses, era o sonho do meu marido vir para São Pedro assim que se aposentasse. A minha tranqüilidade durou um ano. Recebi um telefonema de que o prefeito queria falar comigo. Disse-lhe: “-Se o senhor está procurando uma pessoa política, não encontrou!” Não sou política. Na administração anterior eu já tinha feito um trabalho de capacitação de professores através de uma empresa que criei para atender aos municípios que começaram a me chamar. Disse-lhe “-O meu voto foi em Piracicaba!” Mas tecnicamente se o senhor precisar do meu trabalho, eu estou em São Pedro. Ele disse-me: “Na Educação eu quero uma pessoa técnica! Se alguém quiser fazer política, faço eu!” Ele foi muito honesto e franco. Pedi-lhe uns dias para pensar, conversar com meu marido e dar-lhe a resposta. Eu já sabia o que significava ser uma Secretária da Educação. Os diretores que tenho até hoje, quase todos foram capacitados por mim.
Quantas escolas estão sob a responsabilidade do município?
São 20 escolas. Temos 5.520 alunos. Isso na rede municipal. Depois existem as escolas estadual e particulares. Quando assumi acho que não chegava a 3.600 alunos.
Como a senhora consegue manter uma rede municipal com esse número de alunos em uma cidade de 40.000 habitantes?
Recorremos ao Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), vamos para Brasília, lutamos pela verba, sou da União dos Dirigentes Municipais de Educação do Estado de São Paulo (UNDIME-SP), represento um dos pólos da UNDIME, o pólo 33. É composto por 11 municípios.
Como está a nossa Educação?
Eu acredito que aqui em São Pedro a nossa educação está caminhando. Cada dia melhor. O corpo educacional une-se mais em torno de uma proposta. Não tínhamos uma proposta fechada, a minha equipe, são 18 pessoas, mais os diretores e coordenadores, atendemos desde a creche a partir de 4 meses até o 9º ano.
A creche é período integral?
Quase todas em período integral. Ensino fundamental do primeiro ao nono ano (antigo ginásio). As Escolas Estaduais cuidam do ensino médio (antigo científico). Não tem ginásio do Estado, só do Município de São Pedro. O currículo é elaborado por nós, pela equipe. Seguem as normas federais, adequado a nossa realidade. Nossa proposta, principalmente na educação infantil e parte da educação fundamental, é uma proposta muito lúdica, eles compreendem tudo de forma lúdica, essas crianças tem muita energia, não são mais crianças criadas em uma família sedentária, como era antigamente. Agora elas não têm mais família completa em casa, são famílias com outra formação, quando tem o pai e a mãe juntos os dois trabalham, as crianças precisam se socializar na escola.
Eles ficam em período integral na escola?
Tenho programa de educação integral. Não tenho em toda a rede. Tenho período integral que começou com subvenção federal, depois as escolas nossas que tiveram o Ideb alto (Ideb é o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) eles não estão mais subvencionando o integral, só permaneceram com subvenção as que ficaram com Ideb baixo, que tem maior número de bolsas famílias, vulnerabilidade social. A nota da escola não atingiu o nível suficiente comparado com as outras, isso não deu margem para que ela também fosse dispensada do programa de tempo integral, que o governo subsidia. Essa minha escola que tem 400 alunos ainda é subsidiada para o tempo integral pelo Governo Federal. As outras todas minhas eu tenho tempo integral, mas com subvenção própria. O município custeia.
Como o município consegue obter renda para isso?
É uma renda muito bem gestada! Muito bem administrada! São Pedro foi considerado no Estado de São Paulo o Primeiro Município Gestor. Que tem a melhor gestão! No Brasil ele está em terceiro lugar!
O foco do Município de São Pedro é a Educação?
O foco do Município de São Pedro é Educação e Saúde! A Saúde alavancou uma qualidade! Tanto que cirurgia de média complexidade já está em parceria com Piracicaba. Quando eles não têm vaga lá, mandam para operar aqui!
Há uma história curiosa sobre a criação de uma mascote pelos alunos?
Surgiu em 2017, ano passado, o Governo Municipal junto com a Saaesp (Serviço Autônomo de Água e Esgoto de São Pedro) implantaram um projeto na Educação Ambiental, com o foco na reconquista do Selo Verde e Azul. (O programa analisa o desempenho em dez diretivas, onde são avaliadas ações nas áreas: esgoto tratado, lixo, recuperação da mata ciliar, arborização urbana, educação ambiental, habitação sustentável, uso da água, poluição do ar, estrutura ambiental e conselho de meio ambiente). São Pedro é uma cidade turística. Com isso, nossas escolas foram chamadas pela Secretaria da Educação para fazermos com as crianças muitos projetos da área de  Educação Ambiental,e a nossa resposta foi quando veio o Vice-Prefeito Tiago Silva que ao mesmo tempo é diretor da Saaesp. Uma empresa externa veio implantar o projeto, fomos chamados para que os nossos diretores incentivassem os alunos a terem projetos a fim de que todo esse arsenal fosse também considerado nesse projeto maior do município. Demos o nosso depoimento que no nível escolar nós já fazíamos isso. Nós já tínhamos tudo pronto: projetos da água, do plantio, horta. Só não tínhamos bem estruturada a questão seletiva do lixo. Tivemos o aval, isso incentivou mais essa parte. Até que chegou o momento em que eles quiseram fazer uma caminhada, da Praça Central até a Praça Santa Cruz. Para conscientização, era o dia da conscientização. Muitas das nossas crianças foram, na caminhada, mas antes da caminhada, teve um concurso, eles queriam uma mascote. Nossas crianças fizeram uns desenhos, as coordenadoras classificaram os desenhos, montamos um júri com os desenhos considerados mais destacados, o júri tirou três desenhos mais expressivos. Dos três o que tirou o primeiro lugar foi a formiga! A Dona Catarina! Nosso corpo docente é bastante comprometido com o ensino de excelência. Temos sempre o que fazer para melhorar, nunca digo que a coisa está completamente boa! Mas estamos no caminho!

                                                    Dona Catarina
                    A formiguinha símbolo criada por uma criança!
 
Turisticamente São Pedro oferece muitas opções, mas dá-se a impressão de que não é muito explorado.
Ele não era, estava muito tímido. Neste governo é que alavancou muito mais. Esportes radicais, saltos de ultraleves. A serra. Vem gente de todos os lugares. Final de semana fica lotado. 
Como a senhora se sente em São Pedro?
Eu me sinto muito bem, se tivesse que escolher de novo não escolheria outra cidade, eu viria para cá. Aqui é a nossa cidade. Gosto muito daqui.

ÉSIO ANTONIO PEZZATO


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 28 de abril de 2018.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

ENTREVISTADO: ÉSIO ANTONIO PEZZATO

 
 

Ésio Antonio Pezzato nasceu a Rua Visconde do Rio Branco, 1281, Piracicaba, a 3 de dezembro de 1952, é filho de Lásaro Pezzato e Maria Virginia Rizzi Pezzato.
Você pratica atividade física regularmente?
Tenho uma boa disposição física: vou a Pirapora do Bom Jesus (Pirapora) a pé, já fui 51 vezes, desde 1968, são 120 quilômetros. Quando era mais novo levei uma cruz de 100 quilos, sem rodinha atrás. Arrastando pelo chão, eram 10 metros de vigota de peroba 12 por 6.  Naquele tempo não tinha pinus. Demorei 8 dias para chegar em Pirapora. Foi do dia 10 de janeiro a 17 de janeiro de 1980. Ando todos os dias 15 quilômetros, às vezes 30 quilômetros no dia. Vou de Piracicaba até Rio das Pedras e volto, saio às 5 horas da manhã às 10 horas estou de volta. Já fui mais de 200 vezes.
Você levava mochila?
A mochila ia dependurada na cruz. Comida havia nas paradas, tinha que levar muita água.
E Santiago de Compostela?
Para Santiago de Compostela, cidade e município no noroeste de Espanha, fui duas vezes, estou me preparando para ir a terceira. São 814 quilômetros, fiz em 30 dias, agora vou fazer em 32.
Qual é a sensação que você sente nessa caminhada?
Seu mundo está lá! Você encontra o mundo no Caminho de Santiago de Compostela. Pessoas de todas as idades, diferentes classes e poder aquisitivo, ali somos todos iguais. Cada cidade pelo caminho tem albergues. No total, entre pequenas vilas, lugarejos e cidades existem 180 lugares de parada no caminho. Em pelo menos 170 tem lugar para se hospedar. Alguns são pagos outros são gratuitos. Tem banho, alimento às vezes eles fazem, tem cozinha, vou até a tenda compro os ingredientes e faço a minha comida. Encontrei um casal que mora no Oriente Médio já há 18 anos, começamos a conversar e logo descobrimos que somos brasileiros, em seguida que a filha deles mora em Piracicaba! Estava em lugar chamado Sebrero, passa um moço por mim, com um castelhano diferente, pergunta-me se posso olhar sua bicicleta. Logo percebi que era brasileiro, perguntei-lhe onde morava no Brasil, ele achou que eu não conhecesse a cidade, disse que era de Piracicaba. Perguntei o nome do seu pai. É filho do Dr. Zago!
   Plano geral do Caminho de Santiagp de Compostela
E bolha no pé?
Eu não gosto! Não dá porque eu não gosto! (risos). Mas levo todo aparato: Rifocina, agulha com linha, Uso tênis e chinelo havaiana, com meia. O cajado ajuda a seguir em descida e impulsiona na subida.
 
E quando termina a caminhada, o que você sente?
Ao mesmo tempo em que é uma vitória, é horrível! Você acorda pela manhã e não tem que andar! Você fica 30 dias ou mais andando, você esquece-se de veículos, que tem que olhar para atravessar a rua. Aqui a vida continuou. Ela parou para mim lá. Você não irá encontrar Santiago lá. O Santiago que você encontrará é aquele que esta dentro de você. É um caminho que tem 1200 anos.
Seu pai trabalhava em qual atividade?
 Meu pai faleceu no dia 26 de outubro de 1987 aos 73 anos, ele trabalhou na Companhia Telefônica Brasileira CTB, ficava inicialmente na Rua XV de Novembro, ocupava até a Rua Rangel Pestana, ao lado ficava o Curso Preparatório da Dona Amália. Depois a Companhia Telefônica mudou para CIPATEL, a Rua Voluntários de Piracicaba, 666. Do lado oposto, onde depois foi construído o novo prédio da CIPATEL Companhia Telefônica de Piracicaba.Minha mãe é um furacão! Trabalhou como empregada doméstica na casa da Dona Branca Motta de Toledo Sachs e depois trabalhou na Fábrica de Tecidos Boyes até quando ela se casou e teve a minha irmã mais velha. Somos quatro filhos: Regina, Dalva, Ésio e Maria Helena.



 
Você estudou em quais escolas?
O primário eu fiz no Sud Mennucci e terminei no Grupo Escolar Alfredo Cardoso em 1963. Minha primeira professora foi Therezinha Ferraz do Canto Kraide, a do segundo ano foi Maria Boloni Sávio, do terceiro ano foi Maria Aparecida Machado e a professora do quarto ano foi Dalva de Oliveira. No preparatório foi Dona Maria Tarsia, Entrei para o ginásio, onde tive muitos professores, lembro-me do nome de todos.
Conheceu o Professor Benedito de Andrade?
Conheci, ele não foi meu professor, Fizemos parte do júri de um concurso de poesias. Ele me fez um elogio que está na contracapa do meu primeiro livro.
Quantos livros você já publicou?
Tenho quinze livros publicados. Umas 40 antologias. Tenho mais de 300 prêmios literários em muitos Estados do Brasil e fora do Brasil também, em Portugal, Almancil e Seixal. Já fiz a loucura de subir em um banco em uma rua de Lisboa e declamar Guerra Junqueiro (Abílio Manuel Guerra Junqueiro).
                             Guerra Junqueiro (Abílio Manuel Guerra Junqueiro).
E faturou uns trocados?
Viram o meu chapéu, colocaram umas moedas dentro! Declamei “Fiel” e “Melro”. ( Ésio declamou entre outras, essas duas poesias, no Recanto dos Livros, espaço cultural do Lar dos Velhinhos, com entrada franca,evento que realiza-se uma vez ao mês, sempre trazendo convidados de alto nível cultural. Participam moradores e todos aqueles que buscam momentos de cultura e diversão. Nessas declamações a platéia composta por homens e mulheres foram as lágrimas).
Qual é a sua profissão?
Sou professor de literatura, não dou mais aula. Trabalho como funcionário público faz 21 anos. Tenho mais de 40 anos de contribuição com a previdência, já tenho tempo de trabalho para aposentar-me. Trabalho por hobby, ficar em casa o dia inteiro não tem o que fazer.
E fazer poesia?
Poesia não dá dinheiro!
É um fenômeno brasileiro?
É mundial! A época não é mais de poesia. Agora quem faz sucesso são cantoras que mostram o corpo, homens que viram mulheres, mulheres que viram homens. Grandes compositores como Chico Buarque, Caetano Veloso não tem suas músicas tocadas nas rádios. É tocado o que estamos ouvindo, a televisão tem uma influência enorme nesse fenômeno. Um livro custa muito caro, vamos imaginar que um livro custe 40,00 reais, uma televisão custa 2.000,00 reais, você assiste com a sua família 7 a 8 horas por dia, durante 10, 15 anos. Essa televisão sai por centavos. Duas pessoas lendo um livro de 40,00 reais passam a custar 20,00 reais para cada leitor. Não falta o poeta! Não falta o livro! Falta o leitor! Como eu posso em uma cidade com 400.000 habitantes como Piracicaba, fazer a edição de um livro “Os Caipiras”, um livro interessante onde conto toda a história de Piracicaba, uma edição de 1.000 livros deveria acabar, não é? Meus livros mais vendidos foram “O Evangelho” e “Os Caipiras”. Mas temos que considerar que é pouco! Em uma noite de autógrafos vendo de 100 a 150 livros, e eu sou conhecido! Única pessoa em Piracicaba que tem o epíteto de poeta.
Você é o sucessor de Lino Vitti, o “Príncipe dos Poetas Piracicabanos”?
Se não sou o sucessor estou no caminho que ele trilhou, ele me ensinou, foi meu mestre. Lino Vitti foi eleito Príncipe dos Poetas Piracicabanos pela Academia Piracicabana de Letras. Desde o falecimento do Lino, há dois anos, não foi realizada uma eleição para Príncipe ou Princesa dos Poetas. Alguns acham que essa eleição não deve ocorrer, outros apóiam a eleição. A meu ver, deve ser realizada uma nova eleição, onde seja analisado o passado da pessoa. Se alguém tiver o passado maior e melhor do que o meu eu vou ficar quieto.
Você tem uma memória espantosa, muito acima do que vemos normalmente. Você tentou investigar cientificamente a origem dela?
Eu acho que sou normal!
Que você é normal todos nós sabemos! Pelo menos eu não conheço alguém que declame horas a fio!
Eu também não conheço! Sei minhas 400 poesias de cor! Hoje apresentei “O Evangelho”, só que apresentei apenas 250 versos! (Sem ler, apenas declamando). No total “O Evangelho” são 1.500 versos! Assim como “Navio Negreiro”, declamei uma parte, existe outra parte! Vozes, D'África”, “Livre América” sei inteiras. Sei dezenas de sonetos, meu, de Vinicius de Moraes, Olavo Bilac, Augusto dos Anjos, Machado de Assis, sei um pouco de bastante coisa.
Você chegou a freqüentar algum ambiente fora de Piracicaba?
Já fui! Uma vez dei uma palestra em Santos, era para durar 50 minutos, fiquei quatro horas falando, ninguém me deixava parar. Presente estava um Desembargador Dr. Eldar, a palestra começou as 8 as 11:30 ele levantou a mão, pensei que ele fosse fazer alguma pergunta, ele disse-me: “-Meu filho! Nunca vi inteligência igual! Cada pergunta que foi feita aqui você sabe aonde  a pessoa nasceu, o dia em que ela nasceu, o ano em que ela morreu, o meio em que ela viveu. Você dá exemplos, você não fala, dá todo um jantar completo da pergunta que foi feita. Não conheço isso!¨ Respondi-lhe: “-É que eu gosto!”, ele disse-me: “-Eu também gosto! Mas eu não sei!”
O que você acha que está faltando? Divulgação?
Falta divulgação! Foi anunciado a muitos veículos de comunicação de que estaria no “Recanto dos Livros” no Lar dos Velhinhos, no entanto nem toda a mídia veiculou o evento. Considero-me ainda assim privilegiado, tenho muitos amigos nas mais diversas mídias, que divulgam. Mas e quem não tem essa facilidade? Talvez tenha poetas melhores do que eu e ninguém sabe.
Não é contraditório um país como o nosso, carente de cultura, ter disposições como a sua para levar cultura e não encontrar apoio?
Eu vim até o “Recanto dos Livros”, graciosamente, mas alguém ofereceu café, salgadinhos (Os voluntários ofereceram um modesto cafezinho). A mídia, quer o retorno financeiro, vira um ciclo. Não tem almoço de graça!
Se alguém quiser adquirir algum dos seus 15 livros ou das 50 antologias como deve fazer?
Não tenho mais! Vi aqui no “Recanto dos Livros” algumas obras minhas. Não tenho mais livros para vender, sou uma pessoa agraciada, vendo todos os meus livros. Tenho um blog na internet http://esiopoeta.blogspot.com.br/ lá tem todos os meus livros, tem livros inéditos, literatura de cordel, tem livro de poesia de forma fixa, são poesias que existem no mundo poético, mas como o soneto é uma forma fixa, 4,4, 3 e 3, a balada francesa é um poema de forma fixa, se a linha métrica dela for de 8 versos, 8 sílabas métricas, então deve ter 8 estrofes, 8 por 8. E tem que ter 3 estrofes de 8 e 1 de 4 que é o envio, a oferenda, a oferta. Se ela tiver versos de 10 sílabas, ela tem que ter estrofes de 10 sílabas. Existe todo um esquema rimário, Para a de 10 sílabas, por exemplo, é a,b,b,a,a, c,c,d,d,c. Se é de 8 nunca pode ser em oitava rima, oitava rima é aquele clássico de Camões: a.b.a,b,a,b,c,c  mas tem que ser a,b,a,b,b,a,b,a,a,b,a,b,c,d, cd, Sendo que o último verso tem que ser sempre igual nas quatro estrofes. Existe o Canto Real que são cinco estrofes, de 11 versos, e o envio final que pode ser de 5 ou de 6 versos, existe o triolé que tem 8 versos. Existe o Pantun que é um poema criado na Malásia e Victor Hugo trouxe para a literatura francesa. Para o Brasil quem trouxe o Pantun foram Alberto de Oliveira, Olavo Bilac, Gustavo Teixeira.
Qual é a sua opinião sobre Gustavo Teixeira?
A poesia dele é interessantíssima! Usa um vocabulário dificílimo. Tem os cacoetes, quando fala violeta vem borboleta. Isso na obra completa dele inteira. Acho que Ementário, publicado em 1908  é um livro bastante interessante, tem algumas poesias maravilhosas: Cleópatra; Na Várzea; Tempestade; Leda e Tântalo. Eu sabia de cor esses poemas. A obra dele só veio a ser publicada pela segunda vez em 1925, com Poemas Líricos. Mas são anacronicas, ele usou a mesma coisa de 1908, ele não cresceu. Em 1908 estava no fim o parnasianismo, em 1925 estava um parnasianismo ultrapassado. Em 1937 ele fez O Último Evangelho, uma coleção de 107 sonetos alexandrinos, uma técnica também ultrapassada, mas tem alguns sonetos maravilhosos! Alguns nem tanto. Nenhum poeta consegue ser bom em tudo. A arte de um poeta se resume a 10, 15 poesias. A não ser que seja um grande gênio. Machado de Assis foi um grande romancista e um poeta frustrado! Ele durante sua vida inteira queria ser poeta. A obra poetica dele é grande,  ressalto  “A Mosca Azul” ; “Circulo Vicioso”; “A Carolina”e “Soneto de Natal”. Olavo Bilac tem umas 10 poesias que são mais do que inspiração, é uma coisa etérea. Eu devo ter umas 4 ou 5 que são interessantes. Me coloco dentro da minha limitação. Sou um poeta que gosta de poesia. Procuro fazer aquilo que melhor eu consigo fazer. Se não faço melhor a culpa é minha, eu não sou gênio.
E Francisco de Castro Lagreca ?
Foi um poeta fantástico! Ele morava a Rua Bom Jesus esquina com a Rua XV de Novembro. Era a esquina mais famosa da cidade: de um lado Lagrega, de outro lado Dona Branca, do lado de baixo Arquimedes Dutra e Dona Zoraide e o Colégio Sud Mennucci. Eu tenho um pouco de Lagreca no tipo caipira que ele fez. Ele tem um poema que fez quando Pádua Dutra faleceu em 1939 que é um “monstro” de poema! Fez outro poema para a Revolução Constitucionalista de 1932, tem algumas páginas maravilhosas. Um grande poeta de Piracicaba é o Professor Newton de Almeida Mello autor do Hino de Piracicaba. Ele tem um livro chamado “Carrilhões”. É um livro maravilhoso. O chamado “véu da noiva” não são as águas que caem do Mirante, próximo ao Engenho Central. O “véu da noiva” é a névoa das noites piracicabanas, que sobrem do salto quando o rio está cheio. A expressão foi usada pelo poeta Brasílio Machado, quando, num de seus poemas, chamou Piracicaba de “Noiva da Colina”. Tendo a névoa matinal do rio se prolongando à maneira de um véu, escreveu em Madressilvas, seu primeiro livro, o poema Piracicaba, em versos alexandrinos, o qual assim se inicia:
“Sacode os ombros nus, ó noiva da colina”.

Você iniciou seu trabalho em qual órgão da imprensa?
Comecei como revisor no Jornal de Piracicaba a 14 de janeiro de 1972, fiquei até 1974, quando fui trabalhar para a Xerox do Brasil. Fui para o setor de cobranças, ganhando três vezes mais do que ganhava antes. Na época eu tinha um Fusca 1972, amarelo, placa RM6174.
Você é casado?
Sou casado com Ana Maria Morales Fogaça, filha de Leonidas Fogaça, herói da Revolução de 1932. Ana e eu temos os filhos: Thaís, Thales e Ésio.
 
Você tem retratos pintados por artistas famosos?
Fui muito amigo de Arquimedes Dutra que pintou o meu retrato; do Renato Wagner que pintou o meu retrato; do Pacheco Ferraz que pintou o meu retrato. Eu gosto da arte.
Você freqüenta escolas?
Recebo muitos convites para dar palestras em escolas, faculdades, universidades, clubes. As pessoas, parece que estão descobrindo o meu trabalho. Quando as pessoas me vêem declamar ficam hipnotizadas. (Enquanto Ésio declamou muitos ficaram imóveis, espantados, suas poesias como ópera tocaram fundo os sentimentos dos presentes, lágrimas furtivas, boca entre abertas, silêncio total).
Qual é um epitáfio próprio para um poeta?
Quero que ponha que sou poeta. “Aqui jaz o Poeta Ésio Antonio Pezzato”. Mas vai demorar! Só vou falecer no dia 20 de fevereiro de 2041, aos 89 anos.
Você tem alguma clarividência?
Tenho! Funciona!
Você usa pseudônimos para escrever?
Uso muitos! Inclusive de autora: Samantha Rios. Outros são: Manoel Cançado, Clara Cançado, Martinho Nogueira, Martinho Chaves,
Você já fez alguma poesia causticante que tenha provocado a ira de alguém?
Já! Eu era diretor social de um clube da cidade e publiquei uma poesia, erótica, mas não pornográfica. Uma senhora zelosa dos bons costumes, horrorizada ligou para o clube, dizendo que eu não poderia mais ocupar o cargo de diretor de um clube tão tradicional. (Ésio declama o poema, com maestria transmite o sentimento natural entre um homem e uma mulher, sem cair na vulgaridade).

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