sábado, março 02, 2019

LUIS ALBERTO AGUIAR GODOY


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 02 de março de 2019.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
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ENTREVISTADO: LUIS ALBERTO AGUIAR GODOY
Luís Alberto Aguiar Godoy nos recebe em seu apartamento, no Lar dos Velhinhos de Piracicaba. É um morador que chegou há pouco tempo. Seu quarto tem uma cama de solteiro, um guarda roupas e uma mesinha ao lado da cama. É confortável, porém sem nenhum adereço, como quadros, imagens, fotografias. Luís Alberto dispensou o que lhe é supérfluo. Psicólogo, professor de línguas, foi funcionário público municipal, sempre teve grande apreço pela pintura. Pintou inúmeras telas. Hoje não guarda nenhuma em seu quarto. Encontro em Luís um homem simpático, de bom humor, que sorri, jamais se lamentou no tempo em que conversamos. Luís é cego, ou diríamos de forma politicamente correta: portador de total deficiência visual. Portador do glaucoma, uma doença ocular que altera o nervo óptico e leva a um dano irreversível das fibras nervosas, doença causada pela pressão ocular ou alteração do fluxo sanguíneo do nervo óptico. Luís calmamente conduz seu ouvinte a uma reflexão profunda sobre as maravilhas do corpo humano, da natureza. Suas palavras saem de forma natural, mas calam profundamente. Sua garra em descobrir a sua nova realidade, com otimismo, torna-se uma grande lição. Ao sabor do bate-papo, diz: “Deixei de ver o mundo exterior para conhecer o meu mundo interior, tem sido muito importante em minha vida.” Luís Alberto Aguiar Godoy casou-se, tem um filho: Douglas Robert.
Em que dia o senhor nasceu?
Nasci no dia 17 de maio de 1951 aqui mesmo em Piracicaba, meus pai moravam na rua Luiz de Queiroz, próximo ao Rio Piracicaba. Meu pai é Antonio Di Santi Godoy e minha mãe Maria José de Aguiar Godoy. Tiveram seis filhos: Celina, Celso, Ademir, Aristides, Luís e José Sérgio.
Qual era a profissão do seu pai?
Meu pai era enfermeiro. Minha mãe era do lar.
O curso primário o senhor estudou em qual escola?
Estudei no Grupo Escolar Moraes Barros, minha primeira professora foi Da. Maria Ângela, Seu José Piedade, Inês e Gleisi Morini. Fui estudar o Curso Técnico Agrícola no Colégio Agrícola Dr. José Coury em Rio das Pedras. Depois fiz o curso Técnico em Eletrônica e Telecomunicações no COTIP Colégio Técnico de Piracicaba. Depois fiz a Faculdade de Psicologia, na Unimep. É um estudo que está no sangue! Depois estudei Inglês, Espanhol, Italiano. Trabalhei por 30 anos na Escola Fisk, em Piracicaba e diversas cidades da região. Abrimos várias escolas, eu acompanhei o andamento, eu estava sempre em atividade. O idioma que predominava era o inglês. Inicialmente a Fisk ficava na rua Rangel Pestana, 940. Depois transferimos para rua Benjamin Constant, entre a rua Treze de Maio e a Rua Voluntários de Piracicaba.
Nesses 30 anos lecionando, o senhor conheceu muita gente!
Conheci! Parei de lecionar assim que comecei a dar sinais de perda visão. Dei aulas no Centro Cívico, na Prefeitura. Trabalhei muito tempo na Prefeitura Municipal de Piracicaba como agente de zoonose. Nessas andanças começaram os sintomas da cegueira. Dei por muitos anos aulas de inglês para a Guarda-Civil, Bombeiros, Polícia Civil, Polícia Militar.
Como se deu o processo de perda de visão?
Foi um processo aos poucos, houve uma evolução da catarata, procurei diversos especialistas, como a Dra. Keila em Campinas, na Unicamp, estive em Ribeirão Preto, em Sorocaba no BOS Banco de Olhos de Sorocaba, Um bom tempo em São Paulo no Instituto Suel Abujamra, tive um bom acompanhamento, infelizmente o glaucoma é muito alto e tornou-se impossível a intervenção cirúrgica.
Não tem nenhuma relação com diabetes?
Graças a Deus eu não tenho esse problema! (Risos)
Cuidar da saúde, realizando exames preventivos com regularidade é uma medida que principalmente os homens, devem tomar?
Com certeza! Eu tive câncer de próstata, felizmente era um tumor benigno, fiz a cirurgia e fiquei curado.
AVISTAR é uma entidade sem fins lucrativos, que visa promover condições favoráveis ao pleno desenvolvimento das pessoas com deficiência visual, o senhor já a conhece?
Devo começar a frequentar em abril próximo. São muito simpáticos, gostei muito deles. Lá sei que vou poder experimentar todos os recursos disponíveis. Eles tem recursos e muito apoio. Fornecem muitos cursos, posso ter a felicidade de ganhar um cão guia. (Luís emociona-se), sempre fui muito ativo, não parava, o pessoal dizia: “Você parece que tem formiga no pé!”.
Há quanto tempo o senhor perdeu a visão?
Perdi a visão há doze anos.
O seu mundo transforma-se totalmente?
Com certeza! O mundo está todo dentro de mim. Não estou isolado, estou sempre em contato com o mundo. Sou quieto. Dentro de mim tenho a percepção, só faltou a visão, tenho muita percepção, no tato, a audição é hipersensível, isso as vezes até me atrapalha. Escuto muita coisa.
Isso significa que o senhor já adaptou-se nesse período?
Não é muito fácil receber um diagnóstico dessa natureza, a cautela faz-se necessária. Quando recebi a notícia tive que repensar a minha vida. Parar. Refletir. Analisar.
O fato de ser psicólogo o ajudou?
Essa condição me levou a fazer uma autoanálise profunda. Cada momento, cada dia, estou me analisando. O por que dos porquês? Por que isso? Porque sim, porque não. Sem uma busca do fato, mas sim da razão que provocou o fato.
Obviamente que o senhor gostaria de desfrutar das belezas que o mundo nos dá, mas também tem a compensação, que é a reflexão profunda do seu conteúdo interno?
Em meu íntimo, sinto pena de algumas pessoas, que embora tenham visão perfeita, são ofuscados pelo poder, pela ambição, enxergam menos do que eu.
Quando jovem o senhor frequentava cinema, clube?
Frequentava de tudo! Era sócio do Clube Cristóvão Colombo, ia nas baladas, nos bailes, nas brincadeiras dançantes, eu morava na rua Riachuelo, próximo ao SESC situado a quatro ou cinco quarteirões de casa. Eu não saia do SESC.
Na rua Ipiranga morava um senhor que tinha uma perna de pau, conheceu?
O Zé Pirata! Morava em frente de casa! Ele era locutor na rodoviária de Piracicaba, anunciava as partidas de ônibus. Eu tinha bastante amizade com ele. Ele ganhou uma perna mecânica, mas não se adaptou. Ficou com a perna de pau mesmo, até falecer. Na rua do Rosário, onde termina a rua D.Pedro II tinha a piscina do Colégio Piracicabano, navia uma escadaria enorme, ia até a piscina, nadei muitas vezes lá. Na rua do Rosário há uma igreja, ali funcionava o Dispensário dos Pobres, eu ia assistir missas nessa igreja. Nessa época eu participava do movimento jovem, nos reuníamos na Igreja dos Frades, eu tinha um grupo de oração no Lar Escola Coração de Maria Nossa Mãe, na rua Boa Morte.
Algumas pessoas passam por situações que modificam a sua vida, acidentes com sequelas, são pessoas que lutam com muita garra. O senhor como se posiciona perante a vida?

Nunca pensei, aconteceu isso, acabou a minha vida. Pelo contrário, dentro de mim fica agitado, movimentado. Tive muita atividade, tenho muita coisa dentro da minha cabeça. A perda da minha visão não significa que a vida morreu para mim. Pelo contrário, eu adquiri muita coisa, e pretendo fazer muita coisa. Eu fui pintor de quadros, participava de Salão de Belas Artes, tenho um no Museu Prudente de Moraes. Minha pintura é acadêmica. Pintava a óleo, aquarela, nanquim, bico de pena. Meu forte era pintura a óleo. Frequentei escola de pintura, mas o meu mestre foi Alberto Thomazi, aprendi muita coisa com ele. Ele morava vizinho de casa, eu não saia da casa dele. Aprendi a fazer escultura barroca, santos barrocos, tudo esculpido em madeira. Tive obras premiadas em Piracicaba. Participei de várias exposições em cidades vizinhas. A pintura me expandiu bastante. Eu gostava muito de pintura.

Quais sentimentos a pintura e a escultura trazem ao senhor?
Transmitia muita calma, por exemplo, ia para Tietê, escolhia um lugar, sentava um cavalete, procurava ver a natureza, tentar transmitir para a tela o que via e sentia.
O senhor dirigia automóvel, motocicleta?
Cheguei a fazer o curso de moto na Honda Moto Way, meu primeiro automóvel foi um Fusca vermelho.
O senhor acompanha os noticiários?
Gosto muito das reportagens!
Qual é a sua opinião sobre o mundo atual?
O mundo está indomável! A humanidade está muito materialista, demais. A ambição é demais. Ela cresce na cabeça da pessoa, a pessoa se transforma completamente, perde todo sentimento, o querer ter o poder na mão!
Com a sua experiência, seria útil se cada pessoa parasse diariamente, por dez minutos, fechasse os olhos, e olhasse em seu próprio interior?
É o que eu faço! Não digo 24 horas, mas um bom tempo em que fico aqui. Sento-me e fico meditando. Se as pessoas fechassem os olhos todos os dias, por 10 minutos e fizessem uma auto crítica, este mundo seria muito diferente. Nesses 10 minutos interiorizar-se e aos poucos ir soltando-se, liberando coisas que está em seu interior. Nem você mesmo sabe o que está dentro de você! São muito poucos os que conhecem a si próprio! Chega depois aquele ponto em que a pessoa diz a si mesma: “Ah! Se eu fizesse isso! Ah! Se eu fizesse aquilo! Ah! Se eu deixasse isso! Ah! Se eu deixasse aquilo!”. Se assim que você levantar ou deitar, por 10 minutos fechar o olho e não pensar em nada, irá se libertar de tudo e de todos! Irá sentir uma paz de espírito tão grande!
O senhor acredita em Deus?
Com certeza! Se não fosse Ele eu não estaria aqui! E Ele não estaria fazendo tantas maravilhas comigo ainda! Sempre há uma esperança.
O senhor reza?
Antes de você chegar eu estava meditando, que é uma forma de oração, a oração convencional cristã eu faço ao me levantar e ao deitar. Quando termino de orar, minha cabeça fica agitando, memorizando, agradecendo, procurando que Ele me esclareça as coisas que estão ao meu redor, dar entendimento para discernir o “sim” do “não”, o certo do errado, é difícil, mas a gente tenta! O mundo é tão maravilhoso, tão gratificante! Mesmo para um cego há tantas coisas maravilhosas nesse mundo! Quem enxerga bem não enxerga tanta coisa como um cego enxerga!
O senhor costuma sonhar?
Quem não sonha? Também quando durmo sonho bastante! Vejo as imagem bem nítidas! Vejo imagens muito coloridas!
Quem escolhe suas roupas para usar durante o dia?
Sou muito independente, a cuidadora só me conduz quando necessário. Mas os cuidados de higiene, minha barba, eu mesmo faço.
Àquelas pessoas que acham que só elas tem problemas, qual é o seu conselho?
Independentemente da posição social que a pessoa ocupa, acredito que ela deve ter momentos de autocritica, autocontrole, autoanálise. Parar, pensar, analisar por que dos porquês. Tentar, tentar, é difícil, aos poucos ir se enquadrando dentro dos seus limites.
Pessoas que ocupam altos cargos, tem poder aquisitivo muito alto, em muitos casos vivem uma vida de aparências?
A maior parte sim. É interessante que essas pessoas façam uma reflexão enquanto ainda podem mudar. A doença não escolhe momento ou lugar. Independentemente do tipo da doença.
Do que o senhor gosta de Piracicaba?
Sempre gostei de Piracicaba. Nasci e me criei aqui. Saia na Escola de Samba Zoom-Zoom. Eu, meus irmãos, em casa era a concentração do nosso grupo. Sou da época das escuderias: Zoom-Zoom, Equypelanca, Equype-Chato, Equiperalta. Havia uma competição acirrada entre as escuderias. A Rádio Difusora fazia as célebres gincanas. Embaixo do Clube Coronel Barbosa tinha a lanchonete da moda:  Karamba`s. Depois veio o Daytona, na esquina da rua São José com a Praça da Catedral, onde há um banco hoje. Tinha a réplica de um carro de corrida, em tamanho natural, ficava em um nicho inclinado. Andei muito de bonde, até para ir para a escola. Geralmente ia no estribo do bonde, descia com o bonde andando.
Com quantos anos você começou a trabalhar?
Com treze anos comecei a trabalhar no Restaurante Mirante, era cumim (auxiliar de garçom), ia levar cafezinho, refrigerante, limpava a mesa, arrumava a mesa. Eram três proprietários: Argeu Pires Neto, Olindo Rondino, morava em Campinas, o irmão dele, Júlio Rondino, que morava em São Paulo, foram donos do Restaurante Mirante. Saí de lá depois que fiz o Tiro de Guerra. Nesse período o restaurante foi vendido para Antonio Benitez, Oswaldo Fernandes, que era goleiro do XV de Piracicaba, Henrique Cardoso, proprietário da Bobinas Mopar. Conheci os filhos do Benitez: Ariovaldo Benitez, o Vado, Antonio Carlos,  Augustinho Benitez,  o Gustinho.
Você lembra-se de alguma pessoa famosa que foi atendida por você?
Quem estava sempre lá era o ex-ministro da agricultura, Dr. Hugo de Almeida Leme, inclusive, lá ele teve o seu primeiro infarto. O Restaurante Mirante era um cartão de visitas da cidade, situado à beira do Rio Piracicaba recebeu inúmeras personalidades. O peixe pintado, feito na brasa, foi uma das marcas registradas de Piracicaba. O que eu ganhava de caixinha! Vinha com os bolsos cheios, minha mãe esquentava o ferro de passar roupa e passava nas notas. Minha mãe abriu uma poupança para mim no Banco Moreira Salles, que mais tarde passou a ser o Unibanco. Foi lá no Mirante que nasceu a minha vontade em cursar línguas, atendia muitos visitantes de outros países. Conheci uma senhora americana, Eva Wilson. Ela me orientava. Fiz um quadro do Pavilhão Central da Esalq refletindo naquele lago. Dei à ela.

SHEILA CONCEIÇÃO TRICÂNICO


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado, 23 de fevereiro de 2019.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/ 

ENTREVISTADA: SHEILA CONCEIÇÃO TRICÂNICO

Sheila Conceição Tricânico nasceu a 23 de outubro de 1947, no Bairro Alto, Piracicaba. Filha de José Antonio Tricânico e Argemira Belluco Tricânico que tiveram os filhos: Madalena, João, Sheila e Marina.
Você estudou inicialmente em qual escola?
O curso primário estudei no Grupo Escolar Dr. Prudente de Moraes. Morava a duas quadras e meia da escola! Em seguida fui estudar no Instituto de Educação "Sud Mennucci", onde fiz o ginásio e o colegial.
Qual era a profissão do seu pai?
Meu pai trabalhou a vida inteira na Prefeitura Municipal de Piracicaba como agrimensor, habilitado para medir, dividir ou demarcar terras ou propriedades. Meu irmão João era também topografo na Prefeitura.
Os seus avós vieram da Itália?
Os 4 avós vieram da Itália! Da Calábria! A minha avó materna não veio da Calábria. Meus avós paternos eram João Tricânico e Maria Madalena Tricânico. Avós maternos eram Lucia Tavernari e Ernesto Belluco.
Você reside na Vila Rezende há quantos anos?
A casa em que estamos foi construída há 50 anos. A obra foi feita por um grupo de funcionários que se cotizaram, alguns trabalhavam na Prefeitura, Companhia Paulista de Força e Luz, Banco do Brasil, além de mais alguns funcionários de outas empresas. Construíram uma série de casas dando origem ao bairro Cidade Azul. A empresa que construiu era de Rio Claro, quem deu o nome foi Diocleciano Villar só que agora pertence ao Jardim Monumento, embora na documentação conste como Cidade Azul. Quando me casei sai desta casa, só voltei muitos anos depois. O Hospital dos Fornecedores de Cana HFC já existia, só que era ainda pequeno. Aqui nada era asfaltado.
Após concluir seus estudos no Instituto Sud Mennucci você foi trabalhar?
Com 21 anos fui trabalhar como propagandista de laboratório farmacêutico! Fui a primeira propagandista de laboratório da região! Era o Laboratório Pinheiro Guimarães, hoje não existe mais. Era um laboratório que também fabricava o soro antiofídico. Eu visitava todas as cidades: Piracicaba, Limeira, Rio Claro, Americana, fui para Pirassununga, entre os 120 propagandistas do laboratório no Brasil, eu era a melhor. Era quem ganhava mais prêmios. Eu não vendia, só visitava os médicos, tinha um vendedor que atendia as farmácias nos locais onde eu trabalhava, era dos vendedores o que mais ganhava prêmios. Todas as vezes que tinha reuniões em Campinas ou São Paulo, eu era a loirinha de Campinas que sobressaia. Eles queriam saber porque o meu vendedor vendia! Eu era super encabulada! Eu entrava nos consultórios médicos, visitava todos os consultórios de Piracicaba, isso por volta de 1971. Eu entrava no consultório, a minha roupa era muito bonita, chamava muito a atenção.
O que tinha de tão especial a sua roupa?
Eu me vestia como uma aeromoça!
Você comprou aqui em Piracicaba mesmo?
Foi feito por um alfaiate. Era um terninho azul Royal, blusa branca de golinha, gravata vermelha de crochê, meia de nylon, sapato social e uma bolsa muito bonita. Era tudo feito com materiais da melhor qualidade, o laboratório pagava tudo.  Tanto que o primeiro dia em que eu estava na Praça José Bonifácio o fotógrafo Cícero Corrêa dos Santos, quis registrar a “aeromoça” que estava causando furor no centro da cidade. Algo incomum a cidade ter uma aeromoça!
Você locomovia-se como?
A única coisa que eu não quis foi carro. Usava taxi, em Rio Claro andava de charrete. Quando eu chegava no consultório os colegas representantes falavam: “Atenção! Atenção! Vai partir o voo 734 pela Varig! Embarque portão 5!” Entravamos na sala do médico todos os representantes dos laboratórios que estavam presentes, a rigor, como mulher eu deveria ser atendida primeiro, eu não falava nada, porque no meio de 10 a 15 homens, o que eu iria falar? Eu tinha 21 a 22 anos! Só que os remédios que eu representava eram bons.
Qual era o remédio que fazia mais sucesso?
Era a Leiba ! Melhora o funcionamento intestinal, dificultando o desenvolvimento de flora bacteriana patogênica. Eptosse. Taquicurim que era um anestésico para intervenções cirúrgicas rápidas. Eu descrevia as propriedades dos produtos, mas o médico percebia que eu estava encabulada dizia: “Filha! Pode deixar, eu sei tudo!”. E receitava tudo mesmo! Quando eles lançaram Eptosse, esgotou na praça. Os médicos ficaram loucos da vida. Liguei para o laboratório e disse: “-Como vocês mandam fazer uma propaganda depois não tem o produto para entregar?”. A resposta foi: “- Nós queríamos testar a capacidade das propagandistas!”. Tinha propagandista na Argentina e eu era melhor do que o propagandista da Argentina também!

Aconteciam fatos curiosos?        

Aconteciam! Um dia eu estava em Rio Claro, bati em alguma coisa, a minha bolsa abriu. Caiu toda a minha Leiba no chão, quebrou tudo. Eu fiquei desesperada, o médico não sabia o que fazer, nem a secretária, a enfermeira. Fiquei arrasada, vim embora, pensei nem vou mais trabalhar, agora vão me mandar embora. Disse ao médico: “-Agora vão me mandar embora doutor! Como vou fazer após um vexame desses?”. Eu era nova, o Nelson, marido da minha irmã Madalena, era propagandista também, e ele que tinha dito que o laboratório estava precisando de propagandista do sexo feminino. O vexame seria maior ainda. Eu adorei ser propagandista. Após essa situação o laboratório vendeu muito Leiba. Outra vez estava em um restaurante, em Rio Claro também, pedi um filé mignon, não era comum eu comer carne. Veio o prato, quando coloquei um pedaço na boca percebi que a carne estava estragada, com vergonha de voltar o pedaço ao prato, engoli. Pensei: Não vou comer mais, chamei a menina e disse-lhe: “Olha bem, essa carne não está boa!” Nunca desmaiei na minha vida, cheguei no consultório médico, desmaiei! Fecharam o restaurante! O médico ficou louco da vida! Foi um episódio que repercutiu na cidade! A propagandista do Laboratório Pinheiro...e seguia a história sendo contada! Tenho um paladar aguçado, consigo detectar detalhes do alimento. Assim como tenho um olfato muito apurado. Sinto o aroma de longe.
Como você conheceu Diocleciano Goursand Hermida Villar, mais conhecido como Villar?
Eu era propagandista, fui ao Banco do Brasil pagar uma conta para o meu irmão, nos conhecemos e estabelecemos uma amizade. Como propagandista não era permitido namora, não podia tomar taxi com outro propagandista, se eu começasse a namorar teria que sair do laboratório. Quando decidimos casar tive que sair do laboratório, não permitiam mulher casada.
Quanto tempo foi a sua permanência no laboratório?
Foram três anos.
Como era o Villar?
Em 1965, o Sindicato dos Bancários de Piracicaba e Região foi assumido por Diocleciano Villar, funcionário do Banco do Brasil, que comandou a entidade até 1967. O Villar foi considerado pelos próprios companheiros de sindicato, como honesto ao extremo. Faziam até brincadeiras a respeito da sua postura e conduta de pessoa honestíssima. Jamais usou veículo que não fosse o dele, pagava as suas refeições do próprio bolso. Quando viajávamos para o Sindicato dos Bancários de Piracicaba íamos com o nosso carro. Ele foi candidato a vereador pelo MDB, junto com João Hermann Neto. Ai que começamos a trabalhar na campanha do João Hermann Netto. Quando fui trabalhar com o Dr. Mário Monteiro Terra em “O Diário”, era para vender uma página do jornal, eu vendi quatro! Isso foi por volta de 1980. Casei em 1974. Mudamos 13 vezes: para São Paulo, Caraguatatuba, por ele ser presidente foi tomar conta da Colônia de Férias de Caraguatatuba, existia um problema sério lá. O Sindicato dos Bancários de Piracicaba era ligado a Federação dos Bancários de São Paulo. Foi quando ele conheceu o Lula.
Você conheceu o Lula?
Ele esteve em minha casa.
O que você achou dele?
Ele é um homem superinteligente, dialogava com todos os políticos, industriais, era articulado. Quando o Villar trouxe ele para Piracicaba, em 1979, o prefeito era o João Hermann Neto, por sinal o Villar estava estremecido em sua relação com João Hermann Neto, mas ele foi à reunião que aconteceu no então Cine Broadway. Quando o Villar convidou o Lula para vir à Piracicaba ele disse que não poderia vir porque a Marisa estava com um nenê com quarenta dias. O Villar disse: “Pode ir que lá tem uma excelente babá para cuidar do seu filho!”. Eu morava na Rua Benjamin Constant, em frente ao Tite e Atílio, isso quando casei, depois que fomos morar na Rua do Rosário, em uma casinha em frente a antiga sede do Sindicato dos Bancários. Ali que o Lula veio, e ali que foi feito o comitê do Lula, essa casa não existe mais. Quando o Lula chegou em casa, o recebi, já peguei o nenê, era o Lulinha, primeiro filho dele. Fizeram a reunião, na volta o Lula disse: “Eu queria ir para Águas de São Pedro, almoçar lá. Eles nunca tinham saído de São Bernardo do Campo. Almoçamos no Restaurante do Lago, para voltar, o nenê estava precisando ser trocado, paramos na chácara do Sérgio Caldaro, da Metalúrgica Santin,  o Lula chegou na chácara situada da barranca do rio uns 100 metros. Quando ele viu o emblema do Corinthians na cabeceira da cama, só tinha alusões ao Corinthians, ele disse: “Villar, tenho que ficar aqui! Não vou embora hoje, vamos dormir aqui!”. O Villar falou com o Sérgio, que mandou tudo, roupa de cama, até o cozinheiro, o Pedrassa! Fui dar banho no Lulinha, peguei a bacia que o cozinheiro temperava a carne, eu não sabia que aquela bacia era para ser usada com alimentos, para mim era uma bacia de uso normal. O Pedrassa teve que comprar outra bacia. Fiz bolinho de chuva, ficaram lá, adoraram o final de semana. Voltaram depois outra vez.
Como era a Marisa, esposa do Lula?
Era de uma simplicidade! Pé no chão. Humilde. O Sergio Caldaro era muito humilde, a Hilda esposa dele nos recebeu muito bem.
O Lula ainda estava no início da fama?
Depois que aconteceu um problema em São Paulo e ele deu uma entrevista na revista Veja, foi aí que ele começou a ter projeção maior. Surgiu o PT, em Piracicaba, eu e o Diocleciano estávamos na reunião em que foi fundado o PT. Se não me engano,  a sede do PT foi no Sindicato dos Bancários. Nessa reunião de fundação estava o José Machado, o reitor Elias Boaventura, e outros que não me recordo o nome no momento. Teve um congresso, se não me engano em Bauru, chegou um menino que tinha acabado de deixar a guarda-mirim, o Villar viu o potencial dele, é o Paiva!
O PT que vocês fundaram é o mesmo PT de hoje?
Não é o mesmo. Tanto que aqueles que fundaram o PT junto com o Villar saíram: Plínio de Arruda Sampaio, Hélio Bicudo. Ambos estiveram em minha casa. A ala da igreja. Eu acreditei no PT por essa ala. Dom Evaristo Arns, Arcebispo de São Paulo, estava envolvido com o PT.
A sua descrição mostra uma outra face do Lula, a seu ver ele foi envolvendo-se com pessoas não aconselháveis?
Infelizmente, imagino, que o Lula se encantou com o poder. E acreditou em pessoas em quem ele nunca poderia acreditar. Todos do PT eu recebia em casa, o Luiz Gushiken foi um deles. Eu adoro política, sai como candidata a vereadora. Infelizmente o PT de Piracicaba não me apoiou como eu esperava. A Esther Rocha me convidou para ser candidata e eu aceitei. Foi um tempo muito interessante. Saiamos: eu, o Villar, o José Borghesi, Ricardo Bortolai, Alceu Marozzi Righetto, éramos uns seis casais, que éramos do MDB.
Como surgiu a idéia de criar o PT em Piracicaba?

Foi o Lula com o Villar. Depois vieram outros adeptos. Dom Eduardo Koaik - 3º Bispo Diocesano hospedava o Eduardo Suplicy. A Igreja promoveu diversos encontros denominados Fé e Política. Com o passar do tempo, houve um crescimento desordenado do PT, e as coisas desandaram, a ponto do Villar deixar o partido antes de falecer. Nós ficamos casados por 30 anos. De 1974 a 2004.]

Quem é esse rapaz que entrou na sala?

Esse é o Paulinho! O Villar adorava ele. Por algum tempo ele morou com a Paula, a Branca, do basquete, juntamente com a mãe delas Dona Hilda. Esse menino estava preso no fórum, a minha irmã Madalena trabalhava no fórum, ela ficou com dó dele, já fazia dois dias que ele estava lá. A assistente social não conseguia nada com ele, a Madalena conseguiu. Ele tinha 12 anos. Eu fui busca-lo, quando cheguei em casa o Pecente e o Gelsio Diniz estavam lá. O Paulinho hoje está com 50 anos. Ele era da rua, morava no Ginásio de Esportes. Ele é surdo e mudo. Eu e o Villar ficamos tutores dele, ele iria para a Febem.
Vocês fizeram campanha política em Piracicaba?
Fizemos para o Lula, para o Villar, sempre com o nosso dinheiro. Pegávamos umas 50 radiografias, pintava Lula, colocava em um pauzinho de vassoura e ia para a praça. Nunca recebemos um tostão.
Quando você decidiu deixar o PT?
Há uns oito anos. Li uma entrevista com o Plínio de Arruda Sampaio na Veja, e tudo aquilo o Villar já tinha me dito. A mudança de tudo foi muito grande, a Marisa me contava da simplicidade da sua vida, quando era pequena, a mãe dela a levava para a roça, e como de costume, fazia-se um buraco, de tal forma que a criança ficava com parte do corpo dentro, e isso a protegia e dava para a mãe trabalhar sem tanta preocupação. Uma das coisas que me lembro, quando o Lula esteve na chácara do Sergio Caldaro, eles conversaram, o Sérgio desse: “Villar, esse homem ainda vai ser presidente do Brasil!”. A maioria dos industriais de Piracicaba apoiaram o Lula. Muitos políticos de expressão nacional dialogavam com o Lula e saiam encantados.
Qual é a impressão que João Herm,ann Neto deixou para você?
O Villar dizia que ele era a Medusa (Da mitologia grega, Medusa era uma deusa, quem quer que olhasse diretamente para ela era transformado em pedra.) Ou seja a pessoa não podia olhar diretamente para o João, ou se apaixonava por ele. Eu era relações públicas do Museu Prudente de Moraes, quando o Suplicy convidou a Gloria Silveira Mello para ir receber uma homenagem, fomos, ela e eu, ao chegarmos no congresso, o João Hermann em altos brados, festivo, disse: “Gente! Olha quem está aqui! Foi ela quem recebeu o Lula na primeira vez que ele esteve em Piracicaba!”. Ele fez uma festa para mim. João Hermann era muito inteligente. O Villar nos seus últimos anos de vida estava muito triste com os rumos que o PT estava tomando. Eu admirei muito o Lula, as vezes em que estive com ele, ele se mostrou um homem integro, honesto. O que aconteceu com ele me entristeceu muito.




sábado, fevereiro 16, 2019

LUIS MANUEL MARCELINO e MICAELA HIGINO PEREIRA MARCELINO


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 16 de fevereiro de 2019.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
LUIS MANUEL MARCELINO e MICAELA HIGINO PEREIRA MARCELINO 

ENTREVISTADOS: LUIS MANUEL MARCELINO e MICAELA HIGINO PEREIRA MARCELINO

Luis Manuel Marcelino, registrado na Sociedade Portuguesa de Autores, conhecido como Luís Marcelino, o poeta de Carreiro de Areia, escritor luso-canadense, fará o pré-lançamento de três livros, dois de poesias e um de relatos e ficção, será no dia 21 de fevereiro de 2019, no Instituto Beatriz Algodoal, situado a Rua São José, 446, centro de Piracicaba. No dia 23 de fevereiro, sábado às 10 horas fará uma pequena palestra e o lançamento das três obras no Recanto dos Livros, nas dependências do Lar dos Velhinhos. Uma rara oportunidade para ter as obras, conhecer o autor e sair com um livro autografado pelo mesmo. Autodidata, sensível, conseguiu transpor para o papel seus sentimentos de visão do mundo que o cerca.
Luís Manuel Marcelino nasceu a 13 de setembro de 1953, em uma pequena aldeia denominada Carreiro de Areia, pertencente a cidade de Torres Novas, em Portugal.


 É filho de Manuel Marcelino Pedro, pintor de construção civil e Maria da Guia, doméstica, que tiveram três filhos: Antônio, Regina e Luís.
Quantos habitantes tinha a aldeia quando o senhor nasceu?
Minha aldeia tinha 200 habitantes. A vocação da aldeia antigamente era agrícola, atualmente os habitantes trabalham em diversas atividades, fora da aldeia, em busca de um trabalho melhor. A aldeia mantém sua originalidade, as casas são feitas com pedra, umas assentadas com terra ainda, outras já com tijolos e cimento.   
A casa em que o senhor morou ainda existe?
Há três semanas atrás dormi no quarto em que nasci! A casa ainda é da nossa família.
Qual foi a sensação de passar a noite no quarto em que o senhor nasceu em Portugal?
É uma sensação boa, de estar em minha aldeia, e dormir no quarto em que nasci!
Como é a temperatura local?
No inverno, faz muito frio, dentro das casas é mais frio do que na rua, são casas antigas, não tem os recursos atuais, Temos que usar roupas e cobertores que nos protejam.
Pelo fato de ser uma construção muito antiga, o banheiro é externo?
O banheiro é interno. Tem todo o conforto normal a uma casa. Só não tem o aquecimento. Tudo no estilo rústico, que é o normal da aldeia. Frequentei a Escola Primária de Poços, um lugarzinho na aldeia. Essa escola atualmente está fechada, não há crianças em idade escolar na aldeia. Antes fazíamos os quatro primeiros anos nessa escola e depois seguia-se para a cidade para continuar os estudos.  Aos 11 anos de idade comecei a trabalhar em uma oficina mecânica e mais tarde dediquei-me à pintura de automóveis. Quando iniciei tínhamos carros ingleses Morris, alemães como Opel, Renault de origem francesa, isso foi por volta de 1965.
                                                        AUTOMÓVEL MORRIS 1952

                                                                 OPEL 1959
                                        
Comecei limpando os carros, as peças dos carros, varrer a oficina, pegava as ferramentas que os mecânico pedia, após algum tempo segui da mecânica para a pintura de automóveis.
Qual é o segredo para fazer uma boa pintura em um automóvel?
Tem que ter boas mãos para pintar, bons olhos para ver o que está sendo feito e bons materiais. Apesar de que quando comecei a ajudar os pintores não havia bons compressores. Era com um cilindro de oxigênio, com essa pressão do oxigênio é que se pintava, não se usava compressor. Onde fui trabalhar já havia energia elétrica.
Os clientes ficavam contentes com o seu trabalho?
Sim, não posso me queixar. Quando ainda era um garoto, os mestres é que faziam o trabalho. Eu só ajudava. Mais tarde comecei a fazer os meus próprios trabalhos.
              LUIS MANUEL MARCELINO e MICAELA HIGINO PEREIRA MARCELINO
Na época a política em Portugal era pesada?
Era ditadura. Antônio de Oliveira Salazar foi um advogado, professor universitário e presidente do Conselho de Ministro de Portugal de 1933 até 1968. Salazar foi responsável pela consolidação do Estado Novo e pela implantação ideológica do salazarismo. As regras eram difíceis, não podia ter ajuntamento nas ruas, Nunca vivi muito isso por que sempre passei ao lado da política. Anterior a esse período eu servi a tropa, ou seja serviço militar, foram 22 meses em Portugal, antes servíamos quatro anos, metade do tempo em Portugal e a outra metade na Províncias Ultramarinas, tínhamos cinco países na África: Guiné-Bissau, Angola, São Tomé e Príncipe, Cabo Verde e Moçambique.
Vocês tinham televisão, rádio na aldeia?
Até os meus 12 anos não tínhamos eletricidade na aldeia. Comecei a trabalhar na pintura de automóveis com 18 anos, parei de trabalhar com a pintura em 2012. Permaneci em Portugal até 1990 quando emigrei para o Canadá.
O que o levou a sair de Portugal?
Eu já tinha parentes no Canadá, minha irmã já morava lá, a vida em Portugal não estava muito fácil, Portugal estava passando por uma reconstrução, uma mudança.
Dona Micaela, a senhora tinha alguma atividade em Portugal?
Sim, era costureira, aprendi tudo sozinha. Corto o tecido, costuro, o desenho geralmente era da revista Burda, desenhava o modelo para o papel, do papel para o tecido, cortava, costurava e ficava bonito! Minha máquina era uma Singer elétrica. Trabalhava só com moda feminina, pode-se dizer que era alta costura: vestidos de noivas, casacos compridos, curtos, saias, blusas, o tecido a própria cliente escolhia, comprava e trazia. 
As clientes gostavam?
Adoravam! Eu costurava das nove horas da manhã até as sete horas da noite.
Qual era a alimentação do dia a dia?
Acho que em Portugal nós variamos muito de comida, tínhamos feijoada, massa. A feijoada é feita com feijão encarnado(vermelho), com chouriço, cenoura, couve, carne de porco. Temos o bacalhau, há também um consumo muito grande de caldos (sopas). Em Portugal come-se muita sopa. No verão, como faz muito calor, comemos comidas mais leves. No verão já tivemos a temperatura de 40 graus centigrados. Nesse ano em que a temperatura chegou a 40 graus, muitos idosos faleceram. A temperatura mínima onde morei eram 10 graus positivos.
Quem era o santo padroeiro do local onde a senhora morava?
Nossa Senhora de Fátima, Santo Antônio, isso em todo Portugal. Mais ao norte do país o padroeiro é São João e São Pedro. São três santos padroeiros. Na aldeia do Manuel o santo padroeiro é Santiago. Havia muitas procissões.
Em Portugal o catolicismo é muito forte?
Dona Micaela responde: A minha maneira de ver, já foi mais forte. Portugal recebeu muitos imigrantes, com crenças diferentes. Ainda prevalece o catolicismo.
Como vocês se conheceram?
Dona Micaela diz: “É interessante essa história. Há seis anos eu fui para o Canadá, mais especificamente para Toronto, onde tenho a minha mãe que mora no Canadá há 42 anos. Manuel e eu nos conhecemos no Canadá, há quatro anos, vai fazer dois anos que estamos casados.
A senhora é de que região de Portugal?
Eu não sou de Portugal! Nasci em Angola, na África. Com 5 anos fui para Moçambique, onde morei até os 19 anos.  Meu pai é Joaquim Higino Pereira, era enfermeiro, e a minha mãe Augusta Elias da Piedade. Tenho dez irmãos.
Quem foi primeiro para o Canadá?
Foram a minha mãe e o meu padrasto. Estávamos em Moçambique quando se deu em Portugal a Revolução de 25 de Abril de 1974, também conhecida como Revolução dos Cravos, quase todos os portugueses saíram de Angola e Moçambique. Muitos foram para a Austrália, África do Sul, Portugal outras pessoas foram para o Canadá. Decidi ir para Toronto, no Canadá por que já havia família por parte do meu padrasto. Isso foi em 1977. Infelizmente eu saí da África, minha terra, com 19 anos, já se passaram 43 anos. Tenho imagens, boas recordações. E digo: África é África!
Havia algum tipo de diferenciação entre o negro e o branco em Angola e Moçambique?
Quando eu vivia lá, não via muita diferença, talvez pela minha idade. Mas de fato não se juntavam. Nas casas, habitações onde estávamos não havia negros que vivessem lá. Havia uma zona deles. Nas lojas os funcionários eram mais os negros do que os brancos, assim como nos cafés, restaurantes. Íamos à mesma escola, negros e brancos. Morei em uma escola interna onde havia uma negra interna. Por isso eu não via discriminação.
Você realizou todos os seus estudos nesse colégio interno?
Fiz o curso primário em uma aldeazinha em Moçambique, chamada Buzi, depois então, fui para o colégio estudar do quinto ano até o oitavo ano, o Colégio chamava-se Nossa Senhora da Conceição. Era um colégio de freiras.
Era uma disciplina muito rigorosa?
Havia regras, leis, tudo com horário determinado para cumprir. Era muito rígido. As seis da manhã as freiras chegavam ao dormitório, batiam palmas, para acordar-nos, levantávamos, ajoelhávamos logo para rezar. Depois tínhamos meia hora, ou uma hora, para aprontarmo-nos, após o banho, íamos para o refeitório. Tomar um pequeno almoço, depois íamos ás aulas, tudo isso com horário. Missas só tínhamos aos domingos.
Qual foi a sua impressão ao chegar no Canadá?
Eu já tinha ido passar as férias no Canadá há 31 anos. Adorei o Canadá. Amo o Canadá!
A senhora exerceu alguma atividade no Canadá?
Ainda trabalho! Em limpeza de casa. Há muita procura por quem faz esse trabalho. Hoje já não é tão bem remunerado por ter muita concorrência. Há muitos brasileiros que fazem limpeza de casa. Mas vale a pena ir.
Qual é o comportamento do canadense?
Eles têm um comportamento típico britânico. A parte do Canadá em que estamos fala-se inglês. Moramos em um apartamento, eu, Micaela gosto do trânsito de lá. É melhor do que em Lisboa. Eu adoro Lisboa também. No Canadá as vias são todas regulares, paralelas e perpendiculares, bem sinalizadas.
O volante de direção do automóvel fica do lado esquerdo ou direito, como o modelo inglês?
É igual ao do Brasil
O transporte público em Toronto é bom?
É ótimo!
Em Toronto que existe um shopping abaixo da calçada?
É o maior shopping do mundo! O PATH é um complexo de túneis subterrâneos no Centro de Toronto. É como se fosse um shopping gigante debaixo da terra. São cerca de 30 quilômetros de extensão e mais de 371 mil metros quadrados que fazem do PATH o maior complexo comercial subterrâneo do mundo! O local conta com mais de 1200 lojas dos mais variados segmentos, como academias, mercados, lojas de fotocópias, restaurantes, clínicas médicas. É possível encontrar de tudo por lá! Por isso, durante o inverno, muitas pessoas preferem aproveitar tudo que o local tem para oferecer em vez de encarar o frio e a neve do lado de fora. O metrô fica muito próximo do meu apartamento e ele nos leva até o shopping.
O custo de vida, como é no Canadá?
Micaela diz: “Um bocadinho caro!”. Muitos produtos são importados, o que é produzido lá fica longe da cidade, o transporte encarece o produto.
Luís Marcelino o senhor escolheu Piracicaba para lançar três dos seus livros no Brasil. No dia 21 de fevereiro de 2019 o senhor fará o pré-lançamento de três livros, no Instituto Beatriz Algodoal, e no dia 23, sábado, às 10 horas da manhã, fará uma breve apresentação e o lançamento dos livros no Recanto dos Livros, no Lar dos Velhinhos de Piracicaba. Quais são os nomes dos livros?
São: “Mensagens e Pensamentos” que é a minha primeira obra, um conjunto de trabalhos escritos ao longo de alguns anos. São mensagens que eu gostava, que o mundo lê. Pensamentos que fui escrevendo de acordo com a minha paz de espírito, fiz em 2016. Em 2917 fiz “Nota de Música”, uma história começada a ser escrita nos anos 70, interrompi a obra, mantive o projeto, dediquei-me a outras obras e finalmente em 2013 a conclui e lancei em abril de 2017. Em novembro lancei “Pedaços de Silêncio”, um livro de poesias. Pedaços da vida retratados em silêncios de poesia; sonhos sem guarida transportados entre a realidade e a fantasia.
O que o motivou a escrever esses livros?
O primeiro livro “Mensagens e Pensamentos” tem poemas com mais de 20 a 30 anos, fui escrevendo e pondo na gaveta. Em 2016 houve a oportunidade de publicá-lo. Tenho outras obras onde sou coautor.
Luís, esses poemas foram inspirados em seu dia a dia, em suas observações, colocava no papel seus sentimentos?
Me inspiro muito no meu dia a dia, certas coisas que vejo, que eu sinto, muito sobre a natureza, certas coisas que escuto, o mundo precisava mudar um pouco, escrevo algumas coisas românticas, transporto para o papel meus sentimentos. Escrevo para que as pessoas que irão ler sintam-se bem também.
Os seus poemas são para elevar a pessoa?
Eu penso que sim e espero que sim. Essa é a minha ideia. Faço questão de que todos os meus livros sejam lançados primeiramente em minha aldeia. Assim foi com todos que já lancei e espero fazer o mesmo com os próximos.
É a primeira vez que vocês vem ao Brasil?
Sim é a primeira vez! Micaela diz: “Amei todos os dias em que estou aqui. Está me fazendo lembrar muito a minha África.”
Os negros brasileiros e os negros africanos, a seu ver tem alguma semelhança?
Não. Eu até acho diferença entre o negro angolano e o negro moçambicano. São diferentes em comportamento, fisionomia.
O que o Luís está achando do Brasil?
Respondendo em poucas palavras, espero que não seja a última vez. Estou gostando! As praias brasileiras são banhadas pelo Oceano Atlântico, assim como Portugal, só que no Brasil as praias são piscinas, em Portugal o mar é mais revolto. As águas das praias de Portugal são frias.
Eliana Menegatti, anfitriã, menciona a preocupação de Micaela antes de vir ao Brasil. A imagem do Brasil no exterior é de um país violento, com todo tipo de crime ocorrendo a qualquer momento.
Eliana revela que Micaela disse-lhe: “Eliana, eu tenho tantos colares, pulseiras, são bijuterias, que combinariam com a minha roupa, deixei tudo no Canadá! De tanto que me falaram do Brasil!” A imagem do Brasil no Canadá é assustadora. Somos terríveis, roubamos, matamos, assaltamos, o tempo todo! Disse-lhe que quando ela voltar poderá repintar diferente o Brasil! A Experiência que eles estão tendo, inclusive ao Luís que escreve para o jornal Sol Português faço um apelo, que escreva um texto sobre o Brasil.
 
Quantos portugueses moram em Toronto?
Possivelmente meio milhão sejam portugueses! (População estimada em Toronto é de 2.731.571 de habitantes em 2016).

sexta-feira, fevereiro 08, 2019

JOSEMERI APARECIDA JAMIELNIAK


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 09 de fevereiro de 2019.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/

http://www.teleresponde.com.br/ 






ENTREVISTADA: JOSEMERI APARECIDA JAMIELNIAK

 

 

A professora Josemeri Aparecida Jamielniak possui bacharelado em MateUniversidade Estadualmática pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), mestrado em Biometria pela  Paulista (UNESP),
                                                       UNESP BOTUCATU





na Université de Metz, Chargé de Recherches INRIA atuando na área de Modelagem Matemática e Simulação Computacional de Biossistemas e, atualmente é doutoranda em Matemática Aplicada pela UNICAMP.
                                           UNICAMP - VÍDEO INSTITUCIONAL





Tem experiência em Matemática Aplicada com ênfase em Biomatemática, Modelagem Computacional aplicada à sistemas ecológicos e biológicos e possui também experiência em estatística computacional.






Josemeri Aparecida Jamielniak nasceu a 9 de outubro de 1989, na cidade de Curitiba, no bairro Boqueirão, é um bairro com muitas casas típicas alemãs. 

Estudou sempre em escola pública. O ensino fundamental foi na Escola Municipal Nossa Senhora do Carmo, o quinto ano estudou no Colégio Estadual Professor Victor do Amaral, o sexto, sétimo e oitavo anos foi na Escola Estadual Polivalente de Curitiba e o ensino médio foi no Colégio Dr. Xavier da Silva, bem atrás do Shopping Estação.





 É filha de Rosemeri da Silva Jamielniak e José Walter Jamielniak que tiveram os filhos Josemari e Walter José.

                          HISTÓRIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

                                                             UFPR 105 ANOS


 Você lembra-se do nome da sua primeira professora?

Foi a professora Nilcéia! Tenho contato com ela até hoje.

Até que idade você morou em Curitiba?
 Permaneci lá até os meus 22 anos.
Você nesse período nunca trabalhou?
Quando estudava no ensino médio, trabalhei em uma padaria, trabalhava na parte da tarde e à noite, atendendo no balcão. Era muito divertido, eu ia de bicicleta para o trabalho, minha mãe me encontrava no meio do caminho.

                                               COMO FAZER O PÃO CHINEQUE

Os pães de Curitiba são diferentes dos de  Piracicaba?
Há o pão francês, mas consome-se muito o pão d`agua, o chineque que é um pão doce de origem alemã, a cuca ou kuka, tem cara de bolo, vai ao forno em assadeira de bolo e até seu nome vem da palavra alemã para bolo, Kuchen. Tecnicamente, porém, cuca não é bolo, e sim um tipo de pão. Um pão doce macio e úmido, caracterizado pela cobertura do tipo de uma farofa, feita com manteiga, farinha e açúcar. É muito popular e consumida em Curitiba.
Como você sentia-se trabalhando com o público e sendo ainda muito jovem?
Sempre achei muito boa essa experiência de poder atender aos clientes, poder conversar, para mim é muito divertido.
O seu poder de ser comunicativa já se revelou nesse trabalho?
Imagino que sim! Há uma afirmação de que o curitibano é muito fechado, na realidade ele é reservado, após você fazer amizade com um curitibano irá ter amizade para sempre.
Você permaneceu a sua adolescência e parte da juventude em Curitiba quais eram as formas de diversões da época?
Os cinemas tradicionais já tinham migrado para os shoppings, lembro-me de que a primeira vez em que fui ao cinema com os meus pais, foi em um cinema no centro, que era no estilo clássico: um local que era apenas cinema. Fomos assistir Scooby-Doo, um desenho animado americano.
  


                                                 CINEMAS DE RUA DE CURITIBA



                                                 CINEMAS DE RUA DE CURITIBA

Por que você decidiu vir para Piracicaba?

Eu vim para cá, junto com o meu marido, Adriano Gomes Garcia, que começou a fazer doutorado na Esalq. Ele fez Biologia na Ufscar - Universidade Federal de SÃO Carlos. Fizemos o mestrado no mesmo período, foi quando nos conhecemos. Casamos e mudamos para Piracicaba.



Você tem ascendência alemã?

Tenho, a minha avó paterna é alemã: Augustin. (Rui Augustin desvendou e registrou a origem histórica e cultural da família Augustin que resultou em uma obra muito interessante). Ela me contava que a própria família a proibia de falar alemão. Ela passou para nós, apenas uma música infantil em alemão (Josemeri põe-se a cantar, relembrando alguns trechos), meus pais cantavam para mim, minha tia sabe até hoje. Minha avó manteve a comida alemã, o pirogue (ou 'pierog') é um pastel salgado cozido, ou frito, meu pai prefere frito. Fácil de fazer e que faz muito sucesso na época do Natal.


Você guarda boas lembranças de Curitiba?

Curitiba foi onde vivi por 22 anos, frequentei a igreja católica, fui catequista, ainda frequento as festas relativas a datas comemorativas, padroeiros, juninas.

Apesar de ser destaque por suas inovações, em alguns aspectos Curitiba ainda conserva suas tradições?

Conserva bastante! Essa igreja que eu frequentava, todos os anos eram feitas procissões de páscoa, de Natal, e com o passar dos anos, aumenta o número de pessoas que frequentam esses eventos, eu imaginava que a tendência fosse de diminuir, mas não, cada vez tem mais participantes.



Você conheceu seu marido em qual cidade?

Em Botucatu, no curso de mestrado.

Até algumas décadas, o olhar feminino não era muito voltado à matemática.

Hoje é muito comum alunas interessarem-se por matemática. Tenho mais alunas do que alunos no curso de Matemática da Unimep.

O que a atrai em matemática?

Tudo! Considero o mundo da matemática maravilhoso! Ela está presente em tudo! Sem a matemática não teríamos o grau de evolução que temos. O mundo da matemática é fascinante!

Alguém disse que a matemática é uma expressão da natureza.

Segundo consta quem afirmou foi Galileu Galilei físico, matemático, astrônomo e filósofo italiano. Galileu Galilei foi personalidade fundamental na revolução científica. Disse a frase: "A Matemática é o alfabeto que Deus usou para escrever o Universo."
                                                      GALILEU GALILEI


É uma realidade! Faço doutorado em Matemática Aplicada, a matemática, pela matemática pura, acho fascinante, maravilhosa a regra dos números, mas eu gosto da Matemática Aplicada em nosso dia a dia, hoje trabalho com transmissão de doenças. Em meu trabalho de doutorado estudo a dinâmica de um fungo que tem sido o autor principal do declínio proporcional de sapos. Esse fungo levou à extinção de aproximadamente 40% da população de sapos. Acredita-se que essa redução é consequência do surto dessa doença que chama-se  quitridiomicose. O fungo que atinge os anfíbios é o Batrachochytrium dendrobatidis (BD) ameaça a população mundial de anfíbios. Está relacionado com o impacto humano, o aumento da temperatura, diminuição de habitat. Esse fungo ataca a pele do sapo e o leva à morte em 20 dias. Ele já dizimou espécies e é o principal causador da morte de sapos nos últimos 20 anos. Joaninha é o nome popular dos insetos coleópteros da família Coccinellidae. Geralmente têm o corpo redondo e colorido, com muitas espécies predadoras de pragas agrícolas e com grande importância na agricultura, pois atuam como controle biológico, está sendo reproduzida em alta escala em laboratórios, ela está ameaçada de extinção. A próxima espécie em extinção são as abelhas.
Estamos nos envenenando?
Sim, com certeza! Isso é uma das coisas em que a minha área de trabalho atua! Como estudamos dinâmica, estudamos a dinâmica entre hospedeiros e parasitoides. Como no caso da Joaninha. Já é a área do meu marido, como ele é entomólogo (Entomologia é a especialidade da biologia que estuda os insetos sob todos os seus aspectos e relações com o homem, as plantas, os animais e o meio-ambiente) ele estuda como as espécies interagem, qual tem que ser o espalhamento quando você quer controlar uma população invasora, qual é o parasitoide ou predador dela que você tem que liberar, qual a quantidade para manter um controle populacional ótimo, sem usar inseticida, usando controle biológico. Usamos equações matemáticas para esse tipo de estudo.
Há uma relação direta entre a matemática, biologia e o próprio homem?
Totalmente! Eu estudo especificamente Biomatemática (matemática aplicada à biologia, à medicina ou às ciências humanas (por ex.: em estatísticas demográficas, modelos funcionais de fibras nervosas etc.). Essa junção das duas ciências é nova. É uma junção fantástica! Você consegue descrever qualquer fenômeno biológico usando equações matemáticas.
Em que ano vocês vieram para Piracicaba?
Foi em 2014. Em fevereiro de 2019 serão cinco anos. Ainda conservo um pouco do sotaque original, embora ache bonito o sotaque piracicabano. Temos muitas palavras muito específicas de Curitiba: "Penal: estojo escolar para guardar lápis e canetas."; “vina (salsicha)”; "Piá: usado para se referir a um garoto, adolescente ou entre amigos do sexo masculino"; “Mimosa. Não é mexerica, nem tangerina. É mimosa”.
Qual é sensação em ainda muito jovem, dar aulas em Universidade para alunos da sua idade ou com mais idade?
Eu já lecionei no ensino fundamental, 7° ano. É pior do que lecionar no ensino superior. Pelo fato de eu ser nova o pessoal do 7º ano não tem respeito. Acredito que no ensino superior as pessoas tem mais consciência da importância do estudo. De fato eles ficam admirados em ter uma pessoa mais nova do que eles lecionando. Já tive aluno de quase 60 anos. Para mim é muito bom, desafiador, matemática em si oferece desafios, o fato da pessoa estar muito tempo fora da escola, tem-se que resgatar conhecimentos de bons anos passados.
Matemática é difícil?
Tenho que concordar que sim. Você tem que ter um nível de abstração muito alto, e as pessoas as vezes não tem. Tem que pensar em uma coisa que não tem uma aplicação imediata, mas que faz sentido para uma outra área de estudo. Os alunos querem saber: “Aonde vou usar isso?”. Ou “Para que tenho que aprender isso?”. As vezes tem um porque imediato, as vezes não. A matemática é bonita por ter um padrão.




Você começou a lecionar quando?
Comecei em 2014 em uma faculdade em Tatuí. Ensinava Cálculo Integral e Diferencial I,II e III para as faculdades de engenharia. Lecionava Estatística também.
O que você acha do Ensino à Distância?
Eu fico um pouco preocupada com o Ensino à Distância. Isso porque exige do aluno uma dedicação muito grande que a maioria dos alunos não tem essa disciplina, essa rigorosidade. Vejo na Universidade, quando passo um exercício, muitos dos meus alunos, a primeira coisa que fazem é ir buscar a resposta na internet. Você não está saindo da sua zona de conforto para ir conhecer uma coisa nova, irá apenas copiar alguma coisa que alguém já fez. Quais serão as profissões que teremos daqui a 10 anos? A Tecnologia está tomando conta do nosso dia a dia. Muitas cidades não têm mais cobrador de ônibus. No supermercado já tem caixas onde você paga sem a necessidade de ter uma pessoa cobrando. Empregos básicos, que exigem uma formação básica estão acabando. Me preocupo porque estou formando professores que irão ser professores desses profissionais daqui há 10 anos. O que tenho que ensinar para os meus alunos que serão professores desses profissionais do futuro? Acredito que a tecnologia nunca irá tirar a nossa capacidade de raciocínio. É o que a minha geração não faz! Minha geração não pensa mais. Busca as coisas prontas.
O brasileiro têm consciência do orçamento doméstico básico?
Não têm! Nós precisamos muito aplicar a área de ciências exatas, desde ao mais singelo orçamento doméstico até cálculos avançados. Hoje lecionando na Unimep, sou considerada uma das professoras mais “difíceis” pelo aluno. Não sou considerada chata, mas dizem que as minhas provas são muito difíceis. Eu passo exercícios contextualizados, dando uma situação e um problema, quero que eles pensem como resolver aquela situação! É isso que nós precisamos! Para os meus alunos da engenharia também, sempre digo a eles: “-Seu chefe nunca irá falar: Calcule isso!”. Isso o computador faz. O seu chefe vai dar-lhe um problema e você terá que resolver esse problema. Digo-lhes: “Aí você irá usar a matemática a seu favor para resolver esse problema”. Quero que você saiba passar um problema real para a linguagem matemática, tirar o resultado, mesmo que seja no computador, e saber resolver o seu problema da melhor maneira possível.

                                                      CAMPUS UNIMEP

                                                  40 ANOS COMO UNIVERSIDADE

A Esalq tem bastante coisa que a atrai nessa área?
A Estatística só. Gosto muito de Estatística principalmente  inferência bayesiana (IB) que consiste na avaliação de hipóteses pela máxima verossimilhança, da inferência estatística para a inteligência computacional (IC), onde é sinônimo de aprendizado bayesiano (ou aprendizado de máquina bayesiano), e encontra aplicações na biomedicina, computação em nuvem, pesquisa de algoritmos, criatividade computacional. Além da utilidade singular para implementações e lida com problemas reais (através da modelagem e da consideração dos dados).


                            

     Introdução ao Algoritmo Naive Bayes


Você já teve aluno que sofreu pressão familiar para não estudar matemática?
Tem. Uma aluna minha começou a fazer engenharia em Araras, no terceiro descobriu que não gostava de engenharia, queria mesmo fazer matemática, isso criou uma grande polemica na família, queriam que ela fosse engenheira, todo mundo acha que a área da matemática não dá dinheiro, não tem futuro.
Tem futuro e dá dinheiro?
É um campo que ainda está em crescimento, nos últimos cinco anos tem matemático sendo contratado para altos cargos em empresas, as portas estão se abrindo muito para quem é matemático, físico e estatístico. O cérebro de quem faz exatas pensa de forma diferente de quem estuda ciências humanas. Há uma maneira diferente de estruturar as coisas. Acho que é essa busca que está acontecendo.
Quem é mais sensível ao ser humano o matemático ou quem estuda ciências humanas?
Eu não sei! Talvez quem faz ciência humanas! Acho que os matemáticos são um pouco frios! (risos). Os matemáticos têm o habito de trabalharem de forma solitária, um dos últimos ganhadores de um prêmio, morava com a mãe, e desenvolveu toda a sua teoria fechado em um quarto. Não há muita interação entre os matemáticos.
Você joga xadrez?
Ultimamente não porque não tenho mais tempo, mas gosto bastante. Meu marido também joga, perco para ele! Em programação de computador eu levo vantagem! Uso Assembler programa que transforma o código escrito na linguagem Assembly em linguagem de máquina, substituindo as instruções, variáveis pelos códigos binários.
Você tem algum hobby?
Gosto muito de ler! Antigamente eu lia uns 15 livros por ano, antes do doutorado. Nesses últimos quatro anos só leio um por ano!
Pratica algum esporte?
Faço musculação, para manter a saúde, não que eu goste! Por um período fiz Muay Thai.
Você tem algum animal de estimação?
Tenho! Três cachorros: Grega, Zorro e Cinderele e uma gatinha: Orange. A Cinderele é manca, lembrei-me da princesa que perdeu o sapatinho. A Grega já era do meu esposo, ele achou-a filhotinha na rodoviária. O Zorro eu o encontrei próximo a minha casa, a Cinderele encontrei na Unimep de Santa Barbara d`Oeste, era filhotinha, com a patinha manca. Fiquei com pena e peguei. A Orange era uma filhotinha que estava perdida na rua da minha casa. Peguei também. Agora pretendo ficar só com esses!
Seus pais vêm para Piracicaba visita-los?
Vêm. Devem vir agora no carnaval. Minha mãe ama Piracicaba, ela adora o calor.
Quais são seus planos para o futuro?
Tenho muitos projetos, plano para morar fora do país, só que fico muito apegada ao trabalho que desenvolvo, gosto muito da minha profissão, me preocupo com os meus alunos que serão professores no futuro. Acho a minha carreira aqui muito bonita. Abrir mão disso tudo e ir para outro país, conheço pessoas que não gostaram do país para onde foram, mesmo sendo considerado país de grandes recursos.
A seu ver a idade influi na capacidade cerebral?
Eu acho que não é a idade que influencia, são os estímulos. Quanto menos você estimula, mais velho o seu cérebro vai ficando. Muito mais influente do que o tempo são os estímulos. Quando você para de aprender coisas novas, para aprender uma outra coisa fica mais difícil. Temos que estar continuamente aprendendo.


9 Provas de que Você pode Aumentar a Capacidade do Seu Cérebro

A Biomedicina usa matemática?
Meu trabalho de mestrado foi na área médica. Trabalhei com infeções hospitalares. Fiz parceria com um médico que era chefe de um hospital de Botucatu. Um dos grandes problemas na área médica são as infecções hospitalares. Ele estava em um hospital de pessoas que sofreram queimaduras graves. Eu não tinha contato com o paciente, o médico fornecia os dados e eu fazia os modelos. A presença junto ao paciente deve ser de pessoas estritamente essenciais. Na área médica a matemática pode contribuir muito. Podemos criar cenários na matemática que não são possíveis em experimentos laboratoriais por exigirem uma infraestrutura que o modelo matemático não precisa. Você passa para uma equação, usa o computador e simula situações. Por exemplo: “-Se a temperatura aumentar 30 graus, o que irá acontecer com determinado fenômeno?”. Só que para desenvolver esse modelo matemático é preciso ter muito conhecimento do processo, como eu precisava do médico para me falar como aconteciam as coisas.
O talento, a determinação e a disciplina da jovem Professora e Doutoranda Josemere muda o ponto de vista dos mais experientes com relação as futuras gerações.
{\displaystyle h_{a}=argmax_{h}\left[p(h|e)={\frac {p(e|h)p(h)}{p(e)}}\propto p(e|h)p(h)\;\;{\text{ pois }}\;\;p(e)|h=p(e)\right]}


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