CAMPEÃO BRASILEIRO DE FISIOCULTURISMO POSA EM FOTO COM A CAIXA DE ENGRAXATE QUE USAVA PARA FATURAR UNS TROCADOS QUANDO MENINO.
PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
Rádio Educadora de Piracicaba AM 1060 Khertz
Sábado das 10horas ás 11 horas da Manhã
Transmissão ao vivo pela internet : http://www.educadora1060.com.br/
A Tribuna Piracicabana
http://www.tribunatp.com.br/
Entrevista 1: Publicada: Ás Terças-Feiras na Tribuna Piracicabana
Entrevista 2: Publicada no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://www.tribunatp.com.br/
http://www.teleresponde.com.br/index.htm
Entrevistado: NELSON GOMES ANHÃO (NELSINHO)
DATA: (24/JULHO/2008)
Sir Charles “Charlie” Spencer Chaplin foi o mais famoso ator dos primeiros momentos do cinema hollywoodiano, e posteriormente um notável diretor. Nasceu no dia 16 de abril de 1889. No Brasil é também conhecido como Carlitos (equivalente a Charlie), nome de um dos seus personagens mais conhecidos. Chaplin foi uma das personalidades mais criativas da era do cinema mudo; ele atuou, dirigiu, escreveu, produziu e eventualmente financiou seus próprios filmes. O conceito de arte é extremamente subjetivo e varia de acordo com a cultura a ser analisada, período histórico ou até mesmo indivíduo em questão. Não se trata de um conceito simples. Ao levar para o universo artístico, materiais que fazem parte do cotidiano, o artista deseja romper as barreiras entre a arte e o dia-a-dia. Em Piracicaba existe um auto-elétrico, que trabalha com instalações em geral, baterias automotivas, alternadores, motores de arranque, geradores. Os “pacientes” de Nelson são elementos fundamentais para o funcionamento de um veículo. Seria mais um dos inúmeros estabelecimentos do gênero, se o proprietário Nelson Gomes Anhão, o Nelsinho, não personalizasse o local. Além de reconhecido conhecimento técnico, Nelson se destaca por características próprias. Em seu ambiente de trabalho, montou uma verdadeira galeria em homenagem ao seu ídolo, Charles Chaplin, o Carlitos. Posters de cenas de filme, miniaturas, pinturas na própria parede, o ambiente da oficina lembra muito um estúdio. Nelson aos poucos montou uma galeria de arte. Dois enormes balcões de atendimento têm os seus tampos revestidos por inúmeras moedas, coladas. Nacionais e de outros países, de valor sentimental, levam o cliente á uma viagem por outras épocas e lugares. De origem humilde, guarda com orgulho, em perfeito estado de conservação o que já foi seu instrumento de trabalho quando era criança: uma típica caixa de engraxate! Por absoluto prazer pessoal, ele trabalha, passeia, usando sua cor preferida: branca. Camisa, cinto, calça, meias, sapatos. Nelsinho poderia ser tranquilamente ser confundido com alguém ligado á área da saúde, pela indumentária toda branca. Brasileiro, com cidadania espanhola, parece que ele herdou a genialidade criativa de inúmeros artistas espanhóis. Embora em momento algum deixe transparecer qualquer sinal de semelhança, é quase palpável a presença de Carlitos no ambiente de trabalho de Nelson.
O senhor nasceu em Piracicaba?
Nasci em 05 de fevereiro de 1949, fui registrado em Santa Maria da Serra. Meus pais moravam em uma fazenda denominada Torrinha, quando eu tinha cerca de dois anos de idade eles mudaram para a região rural em Piracicaba, denominada Pau Queimado. Meu pai Ricardo Gomes Domingues e minha mãe Josefa Anhão Gomes, nasceu em 10 de dezembro de 1914, ela era de Granada, Espanha e meu pai do Norte da Espanha, nascido em 3 de abril de 1904. Tiveram 8 filhos que se desenvolveram e atingiram a idade adulta. São quatro homens e quatro mulheres. O mais velho é o Ricardo Gomes Filho, casado com a Sra. Antonieta Valverde, da famosa Butique Antonieta. Posso dizer que o meu irmão Ricardo é o meu segundo pai. Temos quase dezoito anos de diferença de idade, ele trabalhou muito para ajudar a me criar. Ele entrou na Fábrica Boyes ainda mocinho e aposentou-se lá. Meus pais ficaram por pouco tempo no Pau Queimado, eles compraram uma casinha na Rua da Colônia, 132. Lá eu morei dos meus 2 anos de idade até os meus 13 anos de idade. Depois eles construíram uma casa mais nova na Rua Porto Feliz, 30. Onde permaneci até casar-me. Meu pai e minha mãe, que também era chamada de Dona Pepa, eles comercializava roupas na região rural próxima á Piracicaba. Eles iam para São Paulo, adquiriam as roupas na Rua 25 de Março, no Bom Retiro e traziam para Piracicaba. Viajavam de trem.
Qual é a profissão do senhor?
No dia 24 de julho de 1963, com treze anos de idade, entrei na empresa Garcia e Veiga, de Geraldo Garcia e Antonio Veiga, eles representavam a Bosch em Piracicaba. Mais tarde a razão social passou a ser Piracicaba Eletro-Diesel Ltda. Fui registrado aos 14 anos, guardo até hoje a carteira profissional de menor. Era registrado com meio salário! Os encargos legais eram proporcionais ao valor pago ao menor. Comecei como ajudante. O que tinha de pior davam para a gente fazer! Lavar peças, varrer a oficina. Todo mecânico começa sua profissão lavando peças! Escolhi a profissão de eletricista de veículos e tenho muito prazer e orgulho em exercê-la.
O senhor participou de competições esportivas?
Piracicaba tinha um departamento chamado Comissão Municipal de Esportes. Eu era atleta da academia Hércules, situado na Rua Floriano Peixoto esquina com a Rua do Rosário. O proprietário era o Antonio Waldomiro Rainha, que hoje tem a musculação Rainha na Avenida Dr. Paulo de Moraes. A CME nos dava passagem de trem para participar das competições.
O senhor estudou no em qual escola?
Estudei no Grupo Escolar Dr. João Conceição situado á Rua Alferes José Caetano, ao lado da Igreja dos Frades. As instalações do prédio permanecem vivas em minha memória. Existia uma escadaria de madeira. As meninas subiam primeiro, só depois de ter subido a ultima menina é que os meninos passavam a subir a escada. Lembro-me da professora Dona Encarnación, uma professora de origem espanhola, baixa estatura física, mas muito enérgica. Lembro-me do Professor Moacir Nazareno Monteiro, um mestre de elevada capacidade. Nas festas cívicas subíamos em um palco situado no galpão da escola. Era ali que recitávamos, cantávamos hinos oficiais. E na frente da escola existiam os mastros onde hasteávamos as bandeiras. No pátio havia a cantina, e além da área coberta tinha também uma grande área livre, com algumas árvores no fundo. Naquela época a Chácara Nazareth não havia sido loteada ainda. Onde hoje existem casas belíssimas era terreno da chácara! A Avenida Dr. Paulo de Moraes tinha seu final na Rua do Rosário. Onde hoje passa a Avenida Dr. Paulo ficava a oficina do Bidito! Uns galpões da chácara ficavam onde hoje existe um posto de escapamento.
Na Rua Alferes ao lado do então Grupo Escolar Dr. João Conceição, mais tarde Colégio Estadual Dr. Jorge Coury havia aos fins de semana festinhas, quermesses. O senhor freqüentou esses eventos?
Muito! Era o lugar onde podíamos paquerar, namorar. Era onde se tinha para ir.
As procissões de Semana Santa o senhor chegou a acompanhar?
Fui muito, levado pelo saudoso pai. Ainda garoto ia com meu pai ás vigílias, eu gostava, é um momento em que o católico fica quieto, refletindo. As cinco horas da manhã acordava e ia com ele, depois que saia da igreja passava na Padaria Jacareí e ia comer pão fresco, tomávamos café juntos. Lembro-me da Padaria São João do Sr. João Rossi. Ficava ali na primeira quadra da Rua Alferes José Caetano.
O senhor lembra-se do Morro do Enxofre?
Era a denominação dada a um trecho com aclive muito forte da Avenida Madre Maria Teodora. Qual foi o garoto que foi criado próximo á essa subida que não subia de lado do caminhão, puxava duas, três canas, o feixe afrouxava, aí era puxado inteiro. Isso era feito sem que meu pai soubesse! Ela, assim como a Rua do Rosário não tinham asfalto, além de serem mão dupla. O trânsito era nos dois sentidos: bairro-centro e centro-bairro! Os caminhões daquele tempo eram Fordinho 1946, Chevrolet, Fargo, GMC, carregados de cana, subiam muito devagar.
Quem era o Bidito?
Bidito era um mecânico, negro, ele mudou-se para próximo do local onde hoje existe uma empresa de oxicorte. Há uma travessa, logo depois, no meio do quarteirão, era a oficina do Bidito. Entre onde depois foi construída a Base da Polícia Militar e essa travessa. Ele tinha ali um barracão que era a sua oficina de conserto de veículos. Aos finais de semana ele encostava todos os carros que estavam para serem consertados, e abria um espaço aonde era feito um bailão, forró. Era o famoso Salão do Bidito!
O senhor trabalhou na Praça Takaki?
Tive o grande privilégio de ser engraxate na Praça Takaki! Olha a minha caixa de engraxate dependurada ali na parede! (Nelson aponta para uma caixa em perfeito estado de conservação, uma relíquia!). A graxa tinha que ser Nugget. Se não fosse uma bota, para engraxar um par de sapatos era trabalho de uns cinco minutos. Meus melhores clientes eram os senhores, os motoristas de praça. Eu tinha uma clientela nas residências. Engraxava na frente da própria casa do cliente. Tinha que tomar muito cuidado, naquele tempo a qualidade do couro ou a pintura do sapato, eram inferiores, era muito fácil manchar o sapato do cliente. Quando surgia alguma dúvida, usávamos a graxa incolor, ela limpava o sapato, dava brilho. Existia um código para o freguês trocar o pé que já havia sido engraxado, pelo outro a ser engraxado: eram três batinhas na lateral da caixa! Significava que ele tinha que trocar o pé.
Os táxis utilizados na época eram de que marcas?
Naquele tempo eram utilizados Gordinis, DKW, Simca, havia muito Simca.
Tecnicamente o Simca era um bom carro?
Posso dizer com relação á minha área, a parte elétrica: era muito problemática! Tinha uma instalação extremamente complicada para a época, é um projeto francês, era muito arrojado. Talvez na França ele estivesse acompanhando uma tecnologia praticada para a realidade de lá. No Brasil esse projeto foi copiado, o nosso conhecimento teórico, técnico, não estava á altura, mesmo dos profissionais mais experientes.
Qual foi seu primeiro carro?
Eu comprei logo depois que me casei em 20 de maio de 1972 com Maria Aparecida Páfaro Anhão. Foi um Dauphine! Naquele tempo o Dauphine tinha três marchas para á frente e a ré era em cima ( á frente), se não tomasse muito cuidado esquecia! A ré ficava bem no lugar onde fica a primeira marcha dos carros atuais. Temos duas filhas. Nosso casamento foi na Igreja dos Frades, realizado pelo Frei Afonso.
O Cine Paulistinha o senhor chegou a freqüentar?
Freqüentei e muito! Trocava gibi. Batman, Tarzan. Freqüentei o Cine São José, Colonial, Broadway, Palácio que depois passou a chamar-se Rivoli. Cine Politeama.
Qual o simbolismo de existirem dois grandes balcões revestidos com moedas?
Não existe um significado. Apenas fiz por curiosidade.
O fato de o senhor gostar de usar roupas brancas desperta a curiosidade das pessoas?
Já me perguntaram se pertenço á alguma seita religiosa!
Quem é Charles Chaplin e quem é Carlitos para o senhor?
Charles Chaplin pelo que sei e li a seu respeito ele deixa a mensagem de que o homem nunca deve fugir da luta. A luta deve ser permanente. Isso me atrai até hoje! O Carlitos sempre deixou uma mensagem de paz, amor, dignidade.
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