sábado, fevereiro 27, 2010

VALDIZA MARIA CAPRANICO

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 05 de dezembro de 2009
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.tribunatp.com.br/
http://www.teleresponde.com.br/


                                          Presidente do IHGP Dr. Pedro Caldari e Profa. Valdiza Maria Capranico
ENTREVISTADA: VALDIZA MARIA CAPRANICO
O ser humano comunica-se com seus semelhantes através dos órgãos dos sentidos, o que o leva a transmitir e a receber mensagens dos mais variados tipos: visuais (imagens, pinturas, filmes, sinais, mímicas), auditivas (músicas, ruídos, fala), táteis (sensações). Os símbolos de uma cidade conferem-lhe identidade própria, devem ser próprios da cidade, ter uma história. As professoras Marly Therezinha Germano Perecin e Valdiza Maria Capranico em uma feliz parceria desenvolveram um projeto para resgatar os símbolos que conferem a identidade própria á Piracicaba. Na busca de parceiros para essa empreitada o Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba encampou a iniciativa, recebendo o apoio imediato de instituições com relevantes serviços prestados á Piracicaba, como a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz através do seu diretor Prof. Dr. Roque Dechen, a Secretaria Municipal de Defesa do Meio Ambiente pelo intermédio do secretário Francisco Rogério Vidal e Silva, Acipi Associação Comercial e Industrial de Piracicaba presidida por Jorge Aversa Júnior, órgãos da imprensa, como A Tribuna Piracicabana com o apoio do seu diretor Evaldo Vicente. Pela importância do projeto e pela sua amplitude ocorre a participação de todas as forças vivas de Piracicaba que se consideram capazes em contribuir, por menor que seja a sua colaboração. A profa. Valdiza Maria Capranico concedeu a entrevista, com a apresentação do Presidente do IHGP Dr. Pedro Caldari.
Como o IHGP vê esse projeto presidente Pedro Caldari?

A participação do IHGP nesse projeto vem ao encontro de suas próprias raízes. A natureza faz parte da própria história do homem. A fundação de Piracicaba está relacionada com uma árvore, o tamboril, buscou-se este sítio em função da árvore para a produção de barcos, na época os barcos eram os veículos de transportes e os rios eram as estradas percorridas. Curiosamente o Rio Piracicaba tem o seu curso do litoral para o interior. Uma questão que gera divergências entre os estudiosos e especialistas diz que o maior volume de água é do Rio Piracicaba, sendo o Rio Tietê seu afluente e não o Rio Piracicaba afluente do Rio Tietê!

Quando garoto, o senhor subiu em um pé de tamboril?

Não me lembro! Quando éramos crianças, sabíamos identificar muito bem as árvores frutíferas! Recordo que subíamos e descíamos em abacateiros, mangueiras, nas laranjeiras apesar dos espinhos, mamoeiros, enfim toda espécie que produzisse frutos saborosos.

Qual é a importância desse projeto para o IHGP?

Para o IHGP essa proposta colocada em pauta pelas Profas. Valdiza e Marly, abriu um leque de novas atividades, voltadas para o meio-ambiente, uma integração. Estamos abordando aspectos da flora e automaticamente da entramos na fauna da região. A ave símbolo de Piracicaba é o curió, isso foi oficializado através de lei municipal. Particularmente como vilarezendino e amante de pássaros desde a minha infância, considero o papa-capim como espécime mais representativo em nossa região, mesmo considerando que o curió seja uma magnífica ave, mais valorizada pelos aficionados por pássaros. Iremos a busca da segunda, terceira árvore representativa da nossa região, do peixe, dos animais mamíferos representativos para Piracicaba.

A onça-pintada, o tatu, são espécimes em extinção na região de Piracicaba?

É em decorrência da degradação do meio ambiente. O tamboril pelo fato de ter sido praticamente extinto em determinado período, deixou de produzir o seu fruto que serve de alimentação ao veado. Por sua vez a onça que se alimentava do veado também entrou em processo de extinção. Esperamos que com o replantio do tamboril, voltemos a ter as onças pintadas.

Valdiza Maria Capranico, onde realizou seus estudos?

Fiz os meus primeiros estudos em Piracicaba, cursei a faculdade de história natural em Santos. Sempre gostei da natureza, problemas ambientais. Logo que passei a lecionar tive meu interesse despertado pela ecologia, isso há uns 30 anos. Como bióloga, mergulhei de cabeça no assunto. Em toda a minha carreira profissional realizei inúmeros cursos relativos á área do meio ambiente.

Qual grande nome do paisagismo foi seu conhecido?

Tive a felicidade de conhecer Burle Marx! Era uma pessoa muito simples, amante da natureza. Certa vez ele esteve em Piracicaba, nós o levamos para conhecer o Engenho Central, onde ele ficou encantado ele viu o por do sol no Rio de Piracicaba, ficou maravilhado! Ele via beleza em tudo! Junto a Estação da Paulista havia uma linha de jacarandá mimoso e no chão da estação havia enxofre, caído da descarga dos vagões. Vendo o azul das flores que haviam caído na calçada e o amarelo do enxofre no pátio da estação Burle Marx disse: “-Isso é uma tela! É uma pintura!”. Ele também pintava e fazia tapeçaria. Fico pensando se uma cabeça tão importante viu flores no chão e achou que compunham uma tela, lamentavelmente vemos hoje pessoas achando que folhas e flores caídas sobre as calçadas é apenas sujeira. Essas lições de vida enriquecem muito e proporcionam o nosso crescimento.

Em quais cidades da região você foi professora?

Dei aulas inicialmente em Santa Barbara d`Oeste por um período de 3 anos, no Instituto de Educação Emílio Romi e na Escola de Primeiro e Segundo Grau Professor Ulisses Valente. Em seguida lecionei em Leme no Instituo de Educação Newton Prado durante 12 anos. Voltei a Piracicaba onde lecionei na Escola Industrial Fernando Febeliano da Costa.

Como professora, qual é a sua opinião sobre a liberdade sem limites dada á alguns alunos?

Considero muito importante para o adolescente aprender a aceitar determinadas situações. Infelizmente hoje já saem de suas casas desconhecendo a palavra “não”. Isso provém do fato dos pais trabalharem fora de casa, em conseqüência de permanecer pouco tempo juntos faz com que não queiram falar “não” para seus filhos. Tudo que os filhos querem eles fazem ou dão. Quando vai para a escola o aluno leva consigo a mesma mentalidade de que ele pode fazer de tudo, e que pode ter tudo que quer. E não é bem assim. A vida tem muitos “nãos”! Lembro-me de um episódio que ocorreu aqui em Piracicaba, na Escola Industrial, hoje quando encontro com esse meu ex-aluno, agora trabalhando em Brasília como funcionário graduado da área de segurança, ele me diz: “-Valdiza! Aquela nota zero que você deu para mim quando eu estava colando, como me marcou e me fez crescer!”.

Já está na hora de instituir o ensino público em tempo integral?

Acho que já passou da hora!

Após aposentar-se na função de professora qual atividade passou a exercer?

Fui convidada para trabalhar na Secretaria Municipal do Meio Ambiente, Sedema. Ao concluir o mandato do então prefeito José Machado, fui convidada para ir até a cidade de Leme, onde fundei a Universidade Livre do Meio Ambiente Souza Queiroz, o patrocinador era o Dr. Ruy de Souza Queiroz, presidente da Usina Cresciumal. Graças a esse trabalho acabei indo parar ao sul da Argentina onde para fundar a Universidade Livre do Meio Ambiente da Patagônia, eu e mais quatro brasileiros fomos para lá a convite do presidente argentino Carlos Menem, fomos recebidos pela ministra do Meio Ambiente da Argentina.

Essa preocupação com o meio ambiente é uma alavanca para um futuro melhor?

Com certeza! Já faz 10 anos que fomos á Argentina. Nunca se falou tanto em meio ambiente como atualmente. Há a preocupação de proteção ás águas, ao plantio de mata. Hoje sofremos as conseqüências de uma natureza que foi violentada pelo ser humano.

Pensando em termos de meio ambiente, não é interessante privilegiar o transporte coletivo?

É muito importante fomentar o transporte coletivo. Só que eu conheço em Piracicaba, assim como em outras cidades, pessoas que se recusam a entrar em um transporte coletivo, por absoluto preconceito!

Não é pela qualidade dos coletivos?

Em Piracicaba me utilizo do transporte publico com destino a muitos bairros, mesmo sabendo dirigir e sendo proprietária de automóvel. A não ser para as pessoas que tenham um horário muito rígido, não há nenhum problema na utilização de transportes coletivos. Hoje o nosso transporte público é bom. Na Europa é muito utilizado o transporte público, sendo o carro utilizado aos finais de semana.

Há uma relação da sua família com a enorme e lendária sapucaia plantada na Avenida Independência esquina com a Rua XV de Novembro?

Há sim. Foi o meu avô quem plantou! Ele se chama Antonio Capranico, casado com Maria Stella Pertinelli Capranico, ambos nascidos em Áquila, uma pequena localidade próxima a Roma. Eles casaram-se em Roma, tenho a cópia da certidão de casamento deles. Na época todo mundo falava do Brasil, eles vieram em lua de mel, se apaixonaram pela terra e aqui ficaram.

Como seu avô chegou a Piracicaba?

Veio através de conhecidos, ao decidir pela permanência no Brasil, adquiriu uma fazenda em Santa Maria da Serra, onde passou a criar gado e cavalos de raça.

E quanto ao plantio da sapucaia, como foi?

Eu fiquei sabendo a respeito muitos anos depois através do irmão mais velho do meu pai, que na época do plantio da muda da sapucaia tinha 12 anos de idade. Ao saber que havia acabado a Segunda Guerra Mundial disse ao meu tio; “-Vamos plantar umas árvores em homenagem ao fim da guerra!” Ele já morava em Piracicaba, no Bairro Alto, onde tinha um açougue onde comercializava a carne que provinha do gado de sua fazenda. Essa sapucaia é a única arvore que restou do bosque localizado onde hoje é o Estádio Barão de Serra Negra Conforme disse esse meu tio, que se chamava Dionísio Capranico, meu avô plantou mais árvores em outros locais.

Qual é a sua relação com o Museu da Água em Piracicaba?

Fui a coordenadora do projeto ambiental do Museu da Água. Na segunda gestão do prefeito José Machado, fui convidada pelo Semae para administrar o espaço que já estava pronto, porém ainda sem atividade, destinei esse projeto que foi premiado na Europa, no Canadá. Apresentei esse trabalho em Genova, para representantes de uns duzentos países. O projeto de ocupação do Museu da água é de minha autoria, assim como o projeto paisagístico. A restauração tinha sido feita na administração anterior, do então prefeito Dr. Humberto de Campos.

Havia a visitação do Museu da Água por pessoas de outros países?

Cheguei a receber em um mês 10 a 12 mil pessoas entre estudantes, empresas e visitantes de outros países. O programa de televisão Globo Ecologia tinha feito uma divulgação maciça do local. Casais de noivos pediam para fotografar tendo o museu como cenário. Duplas de cantores fizeram gravações lá.

Os moradores de Piracicaba visitavam o Museu da Água?

Aos domingos o povo de Piracicaba freqüentava o local, apesar de muitos ainda não terem descoberto o Museu da Água. Nesses 4 anos que trabalhei no Museu da Água conseguimos 8 premiações de nível municipal até internacional por que os trabalhos eram inéditos, interessantes. Ganhamos do Canadá a perua que circula hoje, é um laboratório volante que o Semae utiliza para educação ambiental.

Existe uma árvore muito especial dentro do Museu da Água?

É o tamboril! Justamente uma árvore que trouxe os povoadores para Piracicaba. É uma árvore curiosa, o fruto dele tem o formato de uma orelha, por isso é chamada também de orelha de negro.

Existem pessoas que acham que o trabalho feito na preservação de uma espécie de árvore poderia ser canalizado para atender os menos favorecidos?

Uma coisa está ligada a outra! Os dois movimentos são uma só intenção, melhorar a qualidade de vida da pessoa. Se a natureza não estiver bem o que poderá ser oferecer aos carentes. Se o rio estiver poluído ele não poderá pescar, se o solo estiver árido não poderá ser um agricultor. Escola, saúde, são obrigações que o governo tem, mas não leva a sério, teria que ser pensado melhor.

Por que não é levado a sério?

Politicamente não é interessante. Nenhum político se reelege porque planta árvores, ou leva escola para as crianças. Ajudar orfanatos, cuidar dos idosos abandonados, não dá votos, isso fica por pessoas da sociedade, as mais sensíveis á essa situação. Em um dos encontros dos quais participei, um pessoal da UNESCO tinha feito um estudo sobre a violência mais expressiva na época, que era na Baixada Fluminense, descobriram que o que faltava naquelas crianças era brincar com bola de futebol, em campos que já não existiam mais, não havia mais arvores para brincarem. Não havia mais quintais. Por não ter onde brincar, elas ficavam nas ruas aprendendo o que não deveriam aprender e partiam para a violência. Lembrando que tudo começa na família, se não tiver uma boa formação familiar, ele não irá ter muitas opções no futuro. O trabalho da criança, dentro da família, se bem dosado, é melhor que a criança que permanece o tempo todo em frente a televisão ou da internet.

O que é o Projeto Tamburil?

Faz parte de uma série de livros de uma série chamada “Piracicaba Conhece e Preserva”. O prefácio do livro “Meu Amigo Tamboril” será feito pelo Diretor da ESALQ que dá o aval para essa obra, um momento muito honroso para nós membros do IHGP. Nosso objetivo é distribuir para as crianças como também nas empresas para as pessoas que vieram de outras localidades e não conhecem a história de Piracicaba. Hoje, sábado, ás 9 horas da manhã estaremos realizando o plantio na confluência das Avenidas Armando Cesare Dedini com a Avenida Cruzeiro do Sul. Será plantada uma árvore para cada criança nascida em Piracicaba dentro de um período, conforme relação do cartório de registro.





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