sábado, outubro 30, 2010

NÁDIA BENTO DE LIMA – Estrela do Basquete irá casar-se.

JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 29 de outubro de 2010
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
                                                                                           Foto by J.U.Nassif
ENTREVISTADA: NÁDIA BENTO DE LIMA – Estrela do Basquete irá casar-se.
Nádia Bento de Lima nasceu em 30 de julho de 1965, é filha de Maria José Florêncio de Lima e Nadir Bento de Lima, são seus irmãos: Edmilson Bento de Lima e Lucéia Bento de Lima ambos militares. Nascida em Osasco, quando tinha dois anos de vida sua família mudou-se para Piracicaba. O Presidente da República Fernando Collor de Mello usou muitas ferramentas de marketing para divulgar a sua imagem de líder dinâmico, semanalmente praticava corridas estampando em suas camisetas frases de efeito como, por exemplo: “O tempo é o senhor da razão” Para valorizar essas aventuras esportivas convidava atletas e artistas que estavam em evidência na mídia nacional para juntarem-se a ele nessas maratonas. Nadia foi uma das poucas pessoas que conseguiu acompanhar todo o percurso do presidente-atleta em seu Cooper. Ela possui três passaportes quase completos com as viagens que fez por muitos países. Ainda menina dormia abraçada com a bola de basquete. Hortência disse ao entrevistador Jô Soares que a Nádia foi a única atleta que conseguiu marcá-la em campo com muito sucesso. É sobrinha do cantador de cururu Moacir Siqueira, ele é irmão do seu pai. Nádia atua no em um grupo educacional, onde transmite toda a disciplina e experiência adquirida por uma atleta que construiu parte da história do basquete feminino brasileiro. Com o casamento marcado para o próximo dia 5 de novembro com Celso Douglas Sozza estará recepcionando mais de 1.000 convidados no Salão de Festas do Lar dos Velhinhos de Piracicaba. Um evento marcante! Nádia é gerente comercial do Grupo Polibrasil, em Piracicaba.

Nádia, sua mãe busca pelas duas irmãs que nunca mais viu desde quando se separaram ainda pequenas?

Minha mãe nasceu em Santa Cruz do Rio Pardo, aos 13 anos ficou órfã de pai e mãe. Ela e duas irmãs foram conduzidas pelo juizado, cada uma foi destinada a guarda de uma família diferente. Hoje minha mãe está com 71 anos, e nunca mais viu suas irmãs.

Quando você passou a interessar-se pela prática de esportes?

Iniciei a minha carreira no esporte aos 11 anos de idade, na época estudava na Escola Estadual Prof° Elias de Mello Ayres em Piracicaba, onde Maria Helena Cardoso era professora de educação física, ela que por muitos anos foi técnica da Seleção Brasileira de Basquete Feminino. Logo que assumiu a nossa classe para lecionar, explicou que nas aulas de ginástica era necessário formar diversas equipes de basquete, vôlei, handebol. Pediu que cada uma das alunas entrasse na fila correspondente ao esporte que gostaria de praticar. Vi as minhas amigas entrarem na fila que ia jogar vôlei, também entrei. No basquete havia poucas pessoas e no handebol não havia ninguém. A Maria Helena, conduzindo pela mão cada aluna ia redistribuindo de tal forma que formassem equipes para cada atividade. Ela me conduziu para a fila do basquete. A partir daquele momento me identifiquei de uma maneira muito especial com o basquete. Assim começou a minha história.

Qual é a sua altura?

Tenho apenas 1,70 metros de altura. Eu era uma das menores na época. A Branca também tem a minha altura As demais eram mais altas, as laterais tinham de 3 a 4 centímetros a mais, outras eram muito mais altas. Hoje que convivo mais fora do meio esportivo percebo que sou alta em relação a altura de muitas mulheres.

Após começar a jogar basquete no Mello Ayres como foi a sua evolução no esporte?

Comecei a me identificar com o esporte, é da minha natureza ao me dedicar em alguma atividade, não consigo realizar apenas 100%, necessito atingir valores acima do desempenho considerado comum, têm que ser de 120%, 130%, valores acima dos considerados normais. Acredito que é exatamente isso, superar os limites, é que torna o diferencial entre o desempenho de um indivíduo para outro. Há elementos que rendem 80% do seu potencial, ou até mesmo chegam aos 100%, mas que não basta para se enquadrar em, por exemplo, atletas que tenham atingido um patamar de excelência. Participei de uma época fantástica do basquete, muitos recordam esse tempo, há uma boa procura pelos jogos que foram gravados naquela época, até mesmo pessoas de outros países me procuram para saber se tenho material daquele período guardado comigo.

Como era o seu treinamento quando você estava no Mello Ayres?

Eu estudava á tarde, na época morava na Rua José Ferraz de Camargo, ia de manhã treinar na quadra da escola, o inicio das aulas era às 13 horas, às 12h30min saia do treino corria até aminha casa, tomava um banho rápido e voltava á escola para assistir as aulas. No intervalo das aulas jogava basquete, após as aulas ia até a quadra brincar com a bola de basquete, ia embora e levava a bola comigo.

O que você via no basquete?

Eu não tinha noção de que um dia poderia jogar na Seleção Brasileira, tinha um amor ao basquete, a ponto de dormir abraçada com a bola. Lembro-me que a Maria Helena no primeiro dia disse: “- Hoje vocês vão jogar basquete!”, sem nós sabermos absolutamente nada das regras do jogo, formou as equipes, colocou duas alunas no meio da quadra para pularem na bola, eu fui uma dessas meninas, quando jogou a bola para cima, ela disse que cada jogadora de posse da bola deveria batê-la para alguém. Eu peguei a bola assim que ela foi jogada para cima, não passei para ninguém, eu era muito rápida, saí “voando”, batendo a bola no solo, correndo, até as meninas chegarem perto, quando então corria no sentido contrário de posse da bola. Um dia a Maria Helena disse-me que foi naquela hora que ela descobriu a minha vocação para o basquete. Um determinado dia ela chamou a minha mãe na escola e disse-lhe que eu era uma menina com um potencial fora do comum, que ela deveria me incentivar.

Seus colegas como a viam?

Como uma pessoa apaixonada pelo basquete! Meio fanática! Nos campeonatos internos me destaquei muito, sempre o meu time era campeão.

E suas notas escolares?
Com 11 anos eu estava na sexta série, da primeira a quarta série fui uma aluna impecável, a melhor aluna da classe. Quando a professora iniciava uma ponta da classe tomando a leitura da cartilha “Caminho Suave” eu ia à outra ponta da classe tomando leitura de outros alunos, anotando quantas palavras os alunos erravam e a professora dava a nota. Da quinta série até a oitava, não deixei de ser boa aluna, mas o meu maior esforço era direcionado ao esporte.
A sua determinação em fazer as obrigações acima dos 100% já se manifestava?
Acho que já era um dom, algo especial que acredito ter dentro de mim, que se manifestava. Além da educação que tive na minha casa, aprendi com a Maria Helena Cardoso que para se tornar um atleta, ser um craque, uma pessoa diferenciada, a primeira coisa que devemos ser é gente, ter uma formação como pessoa. Ela dizia que as notas escolares tinham que estar satisfatórias, para jogar no time dela tinha que ter boas notas. Muitas vezes ela verificava os nossos boletins.

Quando você foi treinar no XV de Novembro?

Era no meu último ano de mirim, eu estudava ainda no Mello Ayres quando recebi um convite para treinar no XV de Piracicaba, era muito nova perto das moças que treinavam no time. Na época o XV não tinha ainda uma equipe de expressão, embora tivesse boas atletas. Certo dia nós fomos jogar contra o time da Hortência, guardo comigo a foto publicada em um jornal com a legenda: “Nádia não se intimidou entre as estrelas”, foi a minha primeira aparição, quando começaram a notar que eu existia.

Qual foi a sua reação inicial diante daquelas estrelas do basquete?

Eu não sabia quem elas eram, já achava a equipe do XV muito boa. Logo após o inicio do jogo a Maria Helena me chamou e disse: “Nadia! Você está vendo aquela moça? É a Hortência! Você vai marcá-la, via marcar entre ela e a camisa dela! Se ela for ao vestiário você vai atrás dela!” Nesse dia a Hortência ficou muito nervosa, porque nunca ninguém tinha a marcado daquele jeito, ela dizia: “-De onde surgiu esse carrapato que está em cima de mim?” Naquele jogo ela fez só três pontos, ela que estava acostumada a marcar em média cinqüenta pontos. A minha maior dificuldade é que até então eu não tinha marcado uma jogadora tão boa como ela, com um preparo físico perfeito, muito inteligente! O basquete é um esporte onde o contato físico é muito forte. A partir desse momento passei a ser conhecida como a única jogadora que conseguia marcar a Hortência. Recentemente ela deu uma entrevista no Jô Soares, perguntaram á ela qual foi a jogadora que conseguiu pará-la. Sua resposta foi: “Por incrível que pareça é uma jogadora brasileira e é a Nádia!”. Passou um tempo e a Paula veio jogar conosco, passou o seu ultimo ano de juvenil aqui em Piracicaba, tanto ela como a Hortência já eram da seleção.

Qual é a sua impressão sobre a Paula?

Ela é um gênio! Não há como descrever a atuação da Paula dentro de uma quadra. Dá-se a impressão de que a sua cabeça é cheia de olhos, não precisava olhar para a pessoa que ia receber o seu passe de bola, olhava para um lado e passava a bola para outro, a sua visão periférica é muito grande, é inteligentíssima, o apelido que lhe foi dado de Magic é de acordo com a sua genialidade.

Sem querer fazer uma comparação e sim uma análise de Hortência e Paula dentro da quadra, como você descreve?

A Paula era praticamente o cérebro da equipe, de uma precisão fora do comum, não tinha a necessidade de treinar muito. Há o atleta que já nasceu com o dom de jogar e irá treinar o necessário para ele, e há outro tipo de atleta, o que supera as deficiências através de treino. Para definir a Paula só mesmo a palavra gênio, com a bola na mão é de uma genialidade de tirar o chapéu. A Hortência era muito efetiva, dizíamos que de cada 10 bolas arremessadas ela acertava 11. Nas finalizações que fazia dificilmente cometia algum erro, quando errava um arremesso ou um lance livre era motivo para espanto. A Hortência treinava muitas finalizações fora do horário do treino de seis a sete horas diárias. Joguei basquete por 21 anos, sendo que na Seleção Brasileira joguei uns 17 anos, parei um pouco antes da Olimpíada de Atlanta.
 Quando você iniciou sua carreira jogando no XV havia alguma compensação financeira?Tínhamos uma ajuda de custo. No comecinho não, a minha mãe comprava meu tênis Topper na Casa Raya, para ser pago em prestações mensais, ás vezes o tênis acabava antes de terminar de pagar as prestações.
Que número você calça?
Sapato eu uso 37, tênis 38. A Hortência também calçava o número 37. Eu pesava 61 quilos.

Como despontou o basquete feminino em Piracicaba?

A Paula e a Branca vieram jogar em Piracicaba, junto com a Maria Helena foi dado o inicio a um trabalho vitorioso. Nessa época ao andar pelo Shopping eu era bem procurada para dar autógrafos. Foi montada uma equipe em Piracicaba cujos resultados começaram a aparecer. Vieram juntar-se a essa equipe Vânia Hernandez, Vânia Teixeira, dizia-se que esse time jogava por música. A Paula e eu jogávamos na posição 1 e 2, revezamos nessas duas posições. A posição 1 é armadora e aposição 2 é a lateral mais baixa. Nesse time eu era conhecida como “Baixinha”, só que era muito rápida, não havia ninguém tão rápida como eu, o meu preparo físico era excelente, diziam que eu era “O Cafu do Basquete”. (Cafu é dono de uma marca que nenhum jogador de Seleção Brasileira conseguiu atingir: chegar a três finais de Mundial. Foi também quem mais entrou em campo com a camisa da Seleção Brasileira: 142 vezes). Nós íamos ao Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia para fazer os exames realizados pela Seleção Brasileira de Basquete Feminino, algumas vezes quando eu ia fazer o exame de esteira, havia uma bancada de estudantes de medicina que ia assistir. Lembro-me que o médico dizia: “Essa é a única atleta que vence a esteira!”. Quando eu comecei, ia para o treino de bicicleta, varava Piracicaba de ponta a ponta pedalando. No período de férias enganchava uma bola no guidão da bicicleta, ia até a Escola de Agronomia, onde há o ginásio de esportes, passava a bicicleta por cima da tela, pulava e ia jogar bola na quadra. Sozinha. Uma vez o guidão da bicicleta ficou enroscado pelo lado interno da cerca de tela, a pessoa responsável pelas instalações, uma espécie de caseiro, naquele dia brigou muito comigo. Nas férias enquanto meus colegas da escola viajavam e eu permanecia treinando. Gostava muito de treinar. No Clube Regatas muitas vezes jogava com meu irmão e seus amigos, inclusive debaixo de chuva.

A equipe formada em Piracicaba nessa época era a UNIMEP?

Tivemos muitos patrocinadores, a Pirapel, a Tobler, BCN-Unimep. Lembro-me de que jogávamos Chocolates Toblerone para os torcedores. Tínhamos muitos convites para jogarmos em outras equipes, cheguei a ter em um ano sete convites para transferir-me. Eu tinha 23 anos quando recebi um convite para ir jogar em outra equipe, foi em um período em que a Paula estava em Jundiaí, a Hortência em Sorocaba, as duas Vanias em Salto, a Maria Helena me procurou e disse-me que se eu saísse possivelmente o BCN deixaria de ser o patrocinador, e essas jogadoras de categoria de base ficariam sem patrocínio. Disse-me ainda: “-É uma boa hora para você mostrar o seu valor!”. Fomos consideradas aquele ano como a quarta força do basquete feminino. Com o importante trabalho em equipe, que é necessário a todas as atividades do ser humano, fomos disputar a final do campeonato brasileiro, chegaando a final contra a equipe de Sorocaba, onde jogava a Hortência, Branca, jogadoras americanas. Faltando 4 minutos para terminar a partida estávamos perdendo por 11 pontos. A Maria Helena pediu um tempo, e disse-nos que se tivéssemos jogando tudo o que sabíamos, ela estaria contente com o vice-campeonato, completou dizendo: “-Vocês estão jogando 50% do que são capazes, e só estão perdendo por 11 pontos, a partir de agora vamos jogar aquilo que treinamos, vamos fazer o melhor!”. Voltamos á quadra, a bola veio na minha mão, arremessei, acertei, marcando 3 pontos, a diferença caiu para 8 pontos, a equipe animou, viramos o jogo e vencemos. Fomos campões brasileiros! Esse jogo marcou a minha vida, nunca mais me esqueci.

Já sonhou com bola de basquete?

Muitas vezes! Já sonhei com campeonato, olimpíada. O ser humano por mais que seja excepcional está aquém de conhecer o seu próprio limite.

Você é religiosa?

Faz 15 anos que sou da Congregação Cristã no Brasil.

Um comentário:

Unknown disse...

Nádia era sensacional e fez parte do grande time de basquete da minha cidade Campinas/Ponte Preta.

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