PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 12 de março de 2011
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
ENTREVISTADO: ÉRICO SAN JUAN
A riqueza cultural de Piracicaba é uma característica que a destaca no cenário nacional, a ponto de ter sido cognominada de “Ateneu Paulista”. Talvez inspirados nas belezas naturais da cidade um grande número de poetas surgiu na cidade, a ponto de se dizer a boca pequena que é a localidade onde há o maior número de poetas por metro quadrado! Há também um grande número de artistas plásticos. O memorável Edson Rontani tornou-se um guru para muitos cartunistas e ilustradores, pode-se dizer que foi um artista com obras além do seu tempo, introdutor de uma nova forma de comunicação Mais tarde, principalmente com o advento do Salão do Humor em nossa cidade, essa forma de expressão ganhou reconhecimento e valorização. Entre muitos admiradores de Edson Rontani, destaca-se o cartunista Érico San Juan, que aos 10 anos de idade fez um gibi completo. Ele criou o enredo, diagramou, ilustrou e encadernou. Aos 12 anos já colaborava com tirinhas de sua autoria, impressas periodicamente pelo Jornal de Piracicaba. Aos 15 anos já era ilustrador infantil do Jornal de Piracicaba. Dotado de refinada sensibilidade artística ele coloca suas impressões em seus traços, hábil caricaturista, em apenas dois minutos traduz para o papel os traços característicos do retratado, habilidade que exerceu como “caricaturista ao vivo” em eventos promovidos pela Caixa Econômica Federal, CCR Autoban, Caterpillar Brasil e McDonald`s. È autor do projeto gráfico do CD Amanhã do Trio Sá, Rodrix e Guarabyra. Editor do jornal Caricaras. Teve obras selecionadas para os salões de humor de Piracicaba e Paraguaçu Paulista. Premiado em Santos com a tira em quadrinhos denominada “Um Pamonha de Piracicaba”. Jurado de seleção de salões internacionais e universitários. Ministrou oficinas de humor gráfico para o SESC, Senac e Oficina Cultural do Estado de São Paulo. Publicou quadrinhos e textos de humor nas revistas Mad e Monet. Autor das tiras Dito, o Bendito. Compositor e interprete da “Canção do Mensalão” lançada no site My Space e no You Tube. Realizou exposição de caricaturas no projeto SESC Verão 2011 com caricaturas em tamanho natural dos notáveis Oscar e Magic Paula, Gustavo (Guga) Kuerten, João do Pulo, Robert Scheidt, Ayrton Senna, Maguila e outros. Tem caricaturas da MPB – Musica Popular Brasileira no livro “Noel é 100”, editado pela Imprensa Oficial do Rio de Janeiro. É um dos 40 caricaturistas brasileiros que tiveram suas obras selecionadas e publicadas em um livro. Foi convidado pelo jornalista João Carlos Rodrigues para realizar caricatura para a o livro sobre Johnny Alf, precursor da bossa nova, impressa pela Imprensa Oficial de São Paulo. Érico San Juan é artista gráfico, piracicabano, nasceu em 3 de janeiro de 1976, é um dos três filhos de Antonio Monteiro de San Juan, funcionário público municipal, e Maria José Gaspar de San Juan funcionária pública federal.
Seus primeiros estudos foram feitos onde?
Estudei no “Honorato Faustino” e no “Colégio Melo Ayres”. Sou radialista certificado pelo SENAC. Fiz cursos voltados à comunicação jornalística.
Em que período da sua vida você se descobriu como artista?
A lembrança que guardo dos meus primeiros “rabiscos” é de quando eu tinha seis anos, estava ainda no pré-primário. Era consumidor de revistas de Walt Disney, como o gibi do Tio Patinhas, Pato Donald, e passava a desenhar na mesa da cozinha da nossa casa, juntamente com o meu irmão Fábio, que também é artista gráfico.
Pode-se dizer que você e seu irmão formam uma “família de cartunistas”?
Pode-se dizer que em nossa cidade, essa atividade exercida como profissão é recente, o Salão de Humor foi um incentivador desde os anos 70. Tivemos o Edson Rontani, cuja persistência nessa atividade foi marcante seu inicio deu-se nos anos 50, a atividade de cartunista até hoje não existe como profissão.
Quais recursos materiais você utilizava em suas primeiras ilustrações?
Ainda criança usava o tradicional lápis de cor, atualmente com os recursos da informática tornou-se muito fácil a reprodução de desenhos em blogs. Eu fazia a reprodução dos desenhos como um legítimo gibi. Um dos meus primeiros gibis caseiros foi com a turma do Lup Lup. A origem é de uma revista Disney. Além dos gibis eu brincava com o meu irmão, era uma brincadeira que envolvia os personagens criados por mim, transportava para o mundo real.
Você colecionou muitos gibis?
Muitos! Infelizmente ao atingir a adolescência acabei descartando-os, como um desligamento da infância, própria da fase adolescente. Nós líamos a Coleção Vagalume, “O Cachorrinho Samba, de autoria da Sra. Leandro Dupret.
Desenhar é uma válvula de escape?
Essa é uma conclusão que só tiramos quando adultos. De uma forma geral o desenhista deixa de realizar atividades próprias da infância e adolescência, como por exemplo, jogar futebol ou outra brincadeira que envolva alguma atividade física para dedicar-se ao desenho. Isso não implica que só desenhe, ele pode praticar esportes, mas faz essas atividades de uma forma menos intensa..
Como seus pais viam a sua vocação para desenhar?
O interessante na criança é que ocupada em desenhar ela permanece quieta., os pais geralmente pesam: “-Que bom, meu filho está desenhando, deixa ele!” Em 1986 a Secretaria da Educação realizou um concurso de desenho, eu fiz um gibi contando a história do XV de Novembro de Piracicaba, baseado nas publicações realizadas pelo Rocha Neto. O meu irmão fez outro trabalho gráfico. Ganhamos o premio: um livro para cada um.
Qual é a diferença entre cartunista e chargista?
O cartunista faz cartun, que é relativo a um fato independente da época. O chargista utiliza o fato do momento, pode ser político, social. A charge dá margem para ser reflexiva. Há situações que ao serem abordadas requerem muito tato por parte do artista.
Os políticos têm espaço garantido em cartuns e charges?
O alvo pode ser o político e a política do dia a dia. Há chargistas que costumam abordar mais os aspectos sociais. Há artistas gráficos que fazem a chamada charge de gabinete, é aquelas que só são entendidas pelo circulo de relações do criticado.
Você foi fã do Edson Rontani?
Você foi fã do Edson Rontani?
Quando era criança, as referencias que eu tinha de desenhista piracicabano era do Edson Rontani, que publicava no caderno de “O Diário”, o “Diarinho”, no rodapé havia o “Você sabia?”
Quando você passou a fazer trabalhos por encomenda?
O embrião foram as revistas em quadrinhos que eu tinha criado, de forma espontânea, eu não pensava em fazer uma carreira, embora me dedicasse. Por gostar do que estava fazendo. Usava caneta esferográfica preta para desenhar, fiz uma tira de peixe, sem me tocar que na cidade havia um rio, acho que está no inconsciente, por um ano enviei material para ser publicado. Em 1989 Cecílio Elias Neto transformou a pagina infantil em um suplemento feito por crianças, uma idéia excelente, nesse ano o Salão de Humor fez uma oficina de histórias em quadrinhos com JAL e Gualberto, o GUAL, nessa oportunidade conheci Eduardo Grosso, atualmente diretor do salão de humor. Meu irmão e eu participamos dessa oficina do JAL e do GUAL, éramos muito jovens na época. Foi o primeiro espaço que encontramos, chegamos a fazer um gibi e um núcleo de quadrinhos, o gibi tinha esse nome. Núcleo de Quadrinhos de Piracicaba. Em 1990 passei a publicar as tiras do peixe no Jornal de Piracicaba. Certo dia eu fui até o balcão de anúncios do JP para publicar um anuncio quando a coordenadora do jornalzinho do suplemento infantil, Viviani Laurelli convidou-me para ser o ilustrador, eu tinha 15 anos! Os suplementos infantis eram á semelhança da Folhinha, caderno da Folha de São Paulo, feito por Mauricio de Souza, havia apenas um ilustrador para a publicação toda. Permaneci como funcionário do Jornal de Piracicaba de 1991 a 1997, continuei como colaborador remunerado até o ano passado.
Qual personagem criado por você que se mostrou popular nessa época?
Foi o Leco, que era um peixe.
Como seus colegas o viam nessa época?
Achavam-me o maio chato! Eu era muito tímido, travado. Embora a arte gráfica seja uma forma de expressão ela não trazia popularidade junto aos meus colegas de escola, é um fenômeno que ocorre com boa parte dos desenhistas, são pessoas introvertidas que canalizam para o trabalho. Os professores adoravam, incentivavam.
A sua formação em rádio se deu com a finalidade de se soltar?
Deu para destravar um pouco!
Todo cartunista é irônico?
Depende do cartunista, uns são mais outros menos.
O que é fanzine?
Edson Rontani é o autor do primeiro fanzine brasileiro, isso nos anos 60. É uma revista amadora de fã. Se você gosta do Batman, caso faça uma revista amadora sobre ele, dá suas impressões sobre o herói, troca impressões com outros fãs, é uma publicação feita por amadores sobre o objeto da paixão.
Uma das suas atividades atualmente é caricatura ao vivo, pode falar um pouco mais sobre ela?
Geralmente é feita em eventos, permaneço em uma mesa, em local apropriado e atendo a todas as pessoas que me procuram. Os participantes do evento são comunicados da presença de um desenhista á disposição, a pessoa senta-se a minha frente e eu desenvolvo a sua caricatura.
Grandes artistas do passado ao retratar alguém da nobreza eram induzidos a aperfeiçoar o perfil da pessoa retratada, sob o risco de sofrer pesadas penas se o resultado não agradasse plenamente, o cartunista sofre pressão nesse sentido?
A caricatura não obriga que o chamado alvo seja respeitado, o principio do processo é o exagero. Eu chamo a caricatura de “retrato bem humorado”. A ênfase dada ao exagero depende de cada artista, do seu temperamento. Os leigos acham que as caricaturas só podem ser feitas de pessoas com características muito evidentes, como orelha, nariz avantajados. Só que ao realizar uma sessão de caricaturas em um evento todas as pessoas que se apresentam têm que ser desenhadas, ocorre a necessidade de ter que achar as características que possam resultar em uma boa caricatura. Se a pessoa tem olhos expressivos, na caricatura sairá com os olhos arregalados. É muito importante sentir a razão pela qual a pessoa se dispôs a ser retratada.
Em quanto tempo você faz uma caricatura?
Faço rápido, em dois minutos, essa é uma das minhas características que os colegas ressaltam.
Em um evento, qual foi o maior números de pessoas que você retratou?
Em um evento sob o patrocínio da Autoban, versando sobre a segurança, em dois meses elaborei 1.200 caricaturas, o tempo em que permaneço no espaço da exposição gira em torno de quatro horas, por ser uma freqüência muito variável houve um dia em que devo ter realizado umas 100 caricaturas.
É possível realizar uma caricatura usando apenas a fotografia da pessoa?
Sim é possível, trata-se de um serviço mais elaborado.
Atualmente você tem realizado trabalhos para diversas cidades e até outros estados?
Fiz para um livro de cartuns referentes a telefone celular, feito por uma editora de São Caetano, é realizado por um jornalista que faz livros cooperativos, nele estão cartunistas de diversas regiões do Brasil. Em outro livro coloco Dito, o Bendito, um personagem que criei e por 10 anos esteve presente nas páginas de jornal de Piracicaba. Dito, O Bendito é um Zé Carioca sem o bico de papagaio, eu gostava do estereotipo do malandro carioca, criei o Dito baseado nisso, com o tempo ele virou um aposentado romântico. Ele é um velhinho saliente com um filho conservador. Por um ano fiz texto para a revista MAD.
Qual é a relação do humor com as instituições?
As instituições querem ser levadas a sério, a abordagem feita pelo humor se for mais ou menos ácida depende de quem faz esse humor.
A sua criatividade tem alguma origem definida?
Acredito que é importante não só a visão profissional, mas também a visão do mundo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário