PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E
MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 04 de março de 2017
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 04 de março de 2017
Entrevista: Publicada aos sábados
no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
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http://blognassif.blogspot.com/
ENTREVISTADO: ANTÔNIO FERRAZ DE OLIVEIRA (DUZENTÃO)
Antonio Ferraz de Oliveira, o Duzentão, nasceu a 23 de
maço de 1939, filho de Antonio Felipe de Oliveira e Francisca Ferraz de Godoy
que tiveram sete filhos, sendo que um faleceu precocemente: Lázaro, Benedita,
Maria, Vicente, Terezinha, Antônio.
Qual era a atividade profissional do pai do senhor?
Ele era agricultor, tinha um sítio no bairro rural
Paredão Vermelho onde plantava arroz, feijão, nós tínhamos animais. Pelo fato
de ser o mais novo dos irmãos, naquela época eu era menino ainda, quase não
fazia nada, tratava dos animais, levava a comida para as pessoas da família que
estavam trabalhando no campo. Como meus irmãos e irmãs estavam na idade de
freqüentar a escola e lá não havia nenhuma nas imediações, meu pai decidiu
vender o sítio e mudar-se para a cidade de Piracicaba. Matriculou meus irmãos e
irmãs nas escolas da cidade.
Em Piracicaba a família passou a residir em que local?
A primeira casa em que moramos foi a Rua Voluntários de
Piracicaba, no Bairro dos Alemães, próximo ao Bar Pingüim, que atualmente já
não existe. Esse bar ficava entre a Rua Santa Cruz e a Rua São João, era bar e
tinha um jogo de boche grande. As ruas eram de terra ainda. A casa era alugada,
o dinheiro apurado na venda do sítio meu pai depositou na Caixa Econômica
Estadual, situada na Rua Santo Antonio esquina com a Praça José Bonifácio, o
prédio existe até hoje.
Em Piracicaba o pai do senhor passou a trabalhar em qual
atividade?
Ele passou a produzir e vender doces, já tinha
experiência de fabricar doces nas festas que eram feitas quando morávamos no
sítio fazia doce de abóbora, cidra, paçoquinha. Ele vendia para os funcionários
da Boyes, tinha freguesia cedo e a tarde. Os funcionários tinham meia hora para
almoçarem e meia hora para jantarem. No início ele levava uma cesta, depois
passou a vender também abacaxi, melancia, aí já ia com um carrinho de mão. Nessa
época eu ajudava também. Naquela época os funcionários almoçavam ou jantavam a
comida que a família mandava, não havia restaurante dentro da empresa, tinha
que comer embaixo das árvores.
Havia clientes que consumiam os doces e frutas e pagavam
quando recebiam o salário?
Alguns pagavam ao comprar, outros pagavam por mês. Havia
uma caderneta onde era marcado o nome da pessoa, o que era consumido e o valor.
Em seguida mudamos para a Rua XV de Novembro, um quarteirão acima do Rio
Piracicaba. Ficava próxima a Escola Normal do Porto, o prédio existe até hoje,
está bem conservado, só que com outra finalidade. Eu entrei nessa escola depois
fui estudar no Grupo Escolar Dr. Prudente de Moraes onde tive aulas com o
professor Alfredo Novembre. Concluí o ensino no Grupo Escolar Dr. Prudente de
Moraes e estudei por um ano no Colégio Industrial. Meu pai precisa que eu o
ajudasse, deixei a escola e fui trabalhar com ele. Mais tarde meu pai foi
trabalhar como guarda em uma empresa que beneficiava algodão de propriedade de Adib Zaidan Maluf, ficava na Rua Ipiranga. Tinha umas 14 a 15 pessoas que trabalhavam
a noite. O meu pai além de vender doces durante o dia a noite trabalhava lá.
Ele mesmo fazia os doces, um deles era paçoca com carne seca. Era colocada em
um cartucho de papel. Era muito gostoso. Ele tinha uma boa freguesia. Nessa
época ele adquiriu uma casa na Rua Dr. Alvim. Essa casa mais tarde foi
derrubada, e atualmente o espaço é ocupado por uma torre de transmissão. O
jornalista, radialista e comentarista Márcio Terra morava a poucos metros da
nossa casa. Ele dedicou-se ao XV de Novembro, foi vereador. Tive um tio, irmão
da minha mãe, Dr. Nélio Ferraz de Arruda Campos que foi prefeito de Piracicaba.
(Há uma possível divergência da grafia do nome do Dr, Nélio Ferraz de Arruda,
como consta em documentos oficiais conhecidos. Nélio é filho de Fernando
Ferrraz de Arruda Pinto e Ana Cândido do Amaral Melo. Político, professor,
advogado,escritor, empresário, radialista. Nasceu na Fazenda Milhã. Em 1963 foi
eleito vice-prefeito da cidade para o período 1964 a 1968, sendo que em julho
de 1968 assumiu como prefeito em decorrência do falecimento do prefeito Luciano
Guidotti. Atuou com prefeito até fevereiro de1969).
O senhor tem ligações de amizade e parentesco com figuras proeminentes de
Piracicaba.
Tive um
primo que foi o homem mais valente da cidade, muito famoso e respeitdo,
chamava-se Diogo, chamavam-no de “Diogão”. O seu pai chamava-se Lazinho, era
carteiro, entregava correspondências com carrinho de tração animal. Ele morava
perto da cadeia velha, situada na Rua São José. O Lazinho tinha três filhas e
um filho, o Diogo. A Maria, irmã do Diogo era casada com o meu primo Pedro
Adamoli, tiveram um único filho, o Pedrinho, que faleceu ainda muito jovem.
Como era a Rua do Porto?
Era uma
rua aonde moravam muitos pescadores. Havia o Elias Rocha que fazia bonecos, eue
depois tornaram-se famosos. O Elias foi jogador de futebol, jogou no União
Porto. O irmão do Elias, o Nelson Rocha, jogou no XV de Piracicaba, era reserva
do Idiarte Massariol, isso no tempo da “Panela de Pressão” como era chamado o
Estádio Roberto Gomes Pedrosa, que foi vendido e hoje a área abriga o
Supermercado Extra, formado pelo quadrilátero: Rua Governador Pedro de Toledo,
Rua Regente Feijó, Rua Monsenhor Manoel
Francisco Rosa e Rua Santo Antonio. Ha pouco empo faleceu um dos mais antigos
jogadores do XV de Novembro, o Cardeal, trabalhava na ESALQ. Ele jogou muito
nesse estádio como ponta direita.
O senhor acompanha o XV de Novembro desde que ano?
Desde 1949. Eu era sócio com
carteirinha. Lembro-me do João Guidotti que foi presidente do XV, Bento Dias
Gonzaga (Bentão). Uma das lembranças de quando eu era jovem, foi quando faleceu
um homem, meu pai foi para prestar as últimas homenagens ao falecido, pediu-me
que o acompanhasse. Fomos. Não sabíamos o motivo da morte. Ao chegarmos à casa
do morto soubemos que ele havia se enforcado, estavam esperando as providências
legais para remover o corpo. Vi o homem enforcado por suicídio. Era irmão de
uma das mais célebres figuras do cururu de Piracicaba.
O senhor ia de bonde ou a pé para
a escola?
Ia a pé. Ali por duas vezes eu
estava no bonde da Escola Agrícola quando os estudantes derrubaram o bonde.
Para não ter aula. Isso bem na curva da
Rua Marechal Deodoro para seguir rumo a ESALQ. Dez a doze estudantes conseguiam
tombar o bonde. Meu pai disse que se eu quisesse andar de bonde só deveria ir
para a Vila Rezende ou para a Paulista. Naquela época havia uma rixa muito
grande entre os jovens da Vila Rezende e os jovens que moravam depois da ponte.
O jovem que fosse até a Vila Rezende apanhava. O jovem rezendino que viesse até
a “cidade” apanhava. Tinha um jogador do XV de Novembro, o Cardeal, que
namorava uma moça da Vila Rezende, tentaram pegá-lo. Ele fez um acordo, jogar
por dois anos sem cobrar nada para o Clube Atlético Piracicabano, da Vila
Rezende. Para deixarem ele namorar e casar com a moça da Vila Rezende. Aí
deixaram.
O senhor cresceu, começou a
trabalhar aonde?
Fui trabalhar na Casa Nelly, com
calçados. Eu ia levar sapatos até a casa do cliente para ele escolher. Colocava
diversos modelos, prendia as caixas com uma cinta e levava. A pessoa escolhia
me pagava ou ia até a loja para pagar. O proprietário da loja era um português,
sua esposa se chamava Nelly, por isso a loja levava esse nome. Ficava na Rua
São José. Havia outra sapataria famosa, a Casa Henrique cujo proprietário
chamava-se Valêncio.
Naquele tempo usavam-se sapatos
masculinos com duas cores?
Existia sim! Eram mais utilizados
no carnaval. Era preto na frente e a parte de trás era branca. Sambistas usavam
muito o sapato de duas cores. Usavam-se sapatos de cromo alemão.
O senhor participou de alguma
escola de samba?
Por quatro anos fui campeão pela
Escola de Samba Vila Bacchi, situada na famosa Curva do “S”, na Avenida Armando
Salles de Oliveira. O presidente da escola era João Chiarini.
Que instrumento o senhor tocava?
Surdo! A Escola foi ganhando fama
e crescendo, todo mundo queria sair na Escola de Samba Vila Bacchi. Eu saí da escola porque meu pai não gostava
que eu ficasse no meio de tantas pessoas com hábitos e costumes diferentes, na
época era muito jovem ainda. Havia outras escolas muito famosas como a Treze de
Maio, a Flôr de Maio. Estas duas últimas escolas eram rivais acirradas, não
podiam se encontrar que dava briga. Teve um período em que o Professor Benedito
de Andrade foi presidente do Clube Treze de Maio. Na Rua do Porto havia um
cordão muito famoso, chamava-se: “Não Empurre Que é Pior”. Outro cordão muito
famoso era o “Leão da Paulicéia”. Na Paulicéia por muitos anos funcionou um
salão de baile, o proprietário foi jogador do XV de Novembro, do Palmeirinhas
era o Bidito. Os bailes do Salão do Bidito eram famosos, ficava no fim da Avenida
São Paulo perto do Postão, nome popular do Posto Menegatti de combustível.
Antes do Bidito falecer, meu pai foi internado no Hospital Santa Monica, que
havia na Avenida Carlos Botelho, meu pai tomou soro e saiu, mas ao seu lado
tinha dois conhecidos: Moacir de Moraes que foi jogador, treinador do XV de
Novembro, da Ponte Preta, do Guarani, jogou com Athié Jorge Coury que era
presidente do Santos e era piracicabano, o outro paciente era Bidito. Ele faleceu lá.
O senhor conheceu o De Sordi?
Conheci! Ele era proprietário de
uma vila de casas. O jogador Pepino também conheci, faleceu em Águas de São
Pedro.
E Mazzola?
Conheci! José João Altafini, o
Mazzola. Jogou no Clube Atlético Piracicabano. O Julião, cujo nome é Antonio
Elias Julião, o Baltazar cujo nome era Oswaldo Silva e, quando ele
começou a jogar futebol, não era conhecido como Baltazar, que por sinal era o
nome do irmão dele.
O senhor fez o Tiro de Guerra?
Fiz, o Tiro
de Guerra, naquele tempo era no Largo da Estação da Estrade de Ferro
Sorocabana, entre hoje se encontram os terminais de onibs urbano e
intermunicioal. No tempo do Subtenente Yamashiro. Um dos meus colegas de farda
na época foi Waldemar Blatkauskas, ele era de São Carlos, vinha vindo de lá para
Piracicaba quando sofreu um acidente fatal. Os exercícios práticos de tiro eram
feitos nas imediações do Bongue, na Rua do Porto. Ali era o estande de tiro.
Tive um amigo que foi desligado do serviço militar, ele errou o tiro e matou um
cavalo.
Na época a Rua do Porto era bem diferente?
Uns diziam que ela começa perto da Boyes e terminava
próximo ao campo do clube União Porto. Outros afirmavam o contrário. Era uma
região com diversas olarias. Era uma região tipicamente habitada por
pescadores: Elias, Totti, Bigu, Tangará, tinha muita gente conhecida.
O senhor chegou a nadar no Rio Piracicaba?
Só perto do trampolim, em frente
ao Clube Regatas. No meio do rio meu pai não deixava. Não tinha as muretas que
existem hoje, quando enchia o Rio Piracicaba entrava água nas casas próximas. Naquele
tempo eu morava na Rua XV de Novembro, próxima a Rua do Sabão (Atual Rua
Antonio Corrêa Barbosa), próximo a Escola Normal do Porto. Naquele tempo o Club
de Regatas de Piracicaba era muito forte. Participei de muitos bailes de
carnavais do Regatas. Frequentei o Teatro Santo Estevão, assisti a muito cururu
apresentado lá, tempo do Zico Moreira, Pedro Chiquito, Sebastião Roque, Nhô
Serrra, Parafuso, Luizinho Rosa. Teve uma época em que o cururu pegou fogo em
Piracicaba. Eu ia assistir ao vivo no auditório da Rádio Difusora de Piracicaba
a PRD-6, o locutor era Benedito Hilário. Era todo domingo, começava as 10 horas
da manhã, era uma hora e meia de cururu.
O senhor quando menino
freqüentava a Rua do Porto, além de nadar fazia mais alguma coisa?
Ganhei muito dinheiro lá, nessa
época, o Rio Piracicaba era cheio naquele tempo, pescava fácil, mandi,
curimbatá. Vinha muito pescador de São Paulo, só que eles não tinham minhoca,
eu sabia aonde tinha minhoca, lá perto do campo do União Porto. Ali tinha
minhoca que dava medo! Comprei umas 20 a 30 latinhas de maça de tomate
Elefante, enchia de minhoca, colocava um pouco de terra em cima. Alguém falou:
“-Vim pescar, mas não tem minhoca!”. Eu disse: “- Eu tenho minhoca! Vendo.
Quero duzentão!” Todo mundo comprava. No outro sábado era a mesma coisa. Um dia
cheguei mais tarde, começaram a perguntar: “-Cadê o Duzentão?”. O apelido pegou
até hoje. Meu pai às vezes dizia: “-Aonde você arrumou tanto dinheiro assim?”
Eu dizia-lhe: “Eu vendi minhoca!”. Com esse dinheiro ia ao cinema, comprava
doces. Época dos cines Broadway, São José, assisti muitos filmes nesses
cinemas.
A Rua do Porto era uma família?
Para mim ali foi muito bom. O
Antonio (Toninho) Benites era eu primo. Foi proprietário do Restaurante
Mirante, que continua até hoje com a sua família.
Quando acabou o período em que o
senhor serviu no Tiro de Guerra qual foi sua próxima atividade?
Entrei na Fábrica Boyes onde
permaneci trabalhando por quatro anos. Comecei trabalhando na seção de sacaria.
Louis Clement era o chefe geral. O Nico Fidelix era chefe de um departamento.
Os fios vinham da empresa de fiação, ali tinha a tecelagem, a parte de costura
de sacos de algodão brancos, para colocar açúcar, outra seção que carimbava,
outra que fazia a contagem. Eu tinha um vizinho que era soldador no Dedini, foi
ele que me apresentou para a empresa Dedini. Fui aceito, comecei a trabalhar
como ajudante.
Lá o senhor conheceu o Comendador
Mário Dedini?
Conheci, assim como Dovilio
Ometto, Arnaldo
Ricciardi. Eu trabalhava só
na oficina, os montadores é que viajavam para montar as peças em usinas de
açucar em todo o país e até mesmo no exterior. A aciariaria eu conheci, mas não
cheguei a trabalhar. Era mais conhecida como laminação. É um lugar de grande
risco e condiçoes de trabalho bem agressiavas em função da alta temperatura.
O senhor frequentava o Restaurante Papini?
Era muito bom, a turma frequentava muito. Quem aposentava com 25 anos de
serviços na Dedini recebia 10 salários e um relógio de ouro. O Scarpari era
quem fornecia os relógios.
Em que ano o senhor aposentou-se?
Foi em 1983. Depois de aposentado fiz alguma coisa ou outra mas muito
esporádicamente.
O senhor é músico de um conjunto?
Ultimamente eu estou cantando, o cantador oficial do grupo está sem voz. Na
verdade eu toco surdo e pandeiro. Quem está tocando pandeiro é a Quimie, uma pandeirista de origem japonesa. Chama-se
conjunto “Recordar”, composto por Élcio, Moacir, Francisco, Quimie, Diogo e
Antonio. O correto mesmo é uma pessoa tocando surdo, um pandeirista, um
sanfoneiro, um vilão e um cantor, no caso eu.
O que a música significa para o senhor?
Faz uns dez anos que eu toco nesse baile, eu comecei a gostar de música
depois que fiquei viuvo. Fiquei 32 anos casado com Maria Basso. Após sete anos
contrai segunda nupcia com Marlene
Licciardello de Oliveira
Quanto tempo dura o
show?
Normalmente
tocamos por duas horas no Lar dos Velhinhos de Piracicaba, das 14:00 horas às
16:00 horas, toda quinta feira. A entrada é franca, tem espaço para dançar.
O senhor acompanha
qualquer ritmo?
Tenho que
encarar! Samba, bolero, arrasta-pé, valsa, choro e algum ritmo que aparecer. Eu
tocava surdo, os demais instrumentos como violão, pandeiro, sanfona aprendi a
tocar aqui no Lar dos Velhinhos.
O senhor jogava boche?
(Bocha, boche ou boccie como é chamado)
Jogava! Parei
por causa da coluna. Jogava a ponto, atirava de bota. Só que a coluna estava
doendo, fui ao médico, mesmo após tomar o remédio receitado a dor não parou. Eu
jogava boche de duas a três vezes por semana, ele disse-me para deixar de jogar
por um tempo. Acabou a dor da coluna!
Por acaso o senhor
conheceu um jogador de boche que marcou época por ser um exímio jogador?
Conheci! Era
um árabe, conhecido por Michubishi ou Michi Bishi, ele atirava de bota a bola.
Cheguei a ver ele e um tal de Pinheirinho jogarem. Esse de nome Pinheirinho
morava na Rua Santa Cruz.
O senhor conheceu o
famoso João Buriol?
Quando o
conheci ele tinha bar a Rua Moraes Barros, o Bar Buriol. O Pedro Schimidt era
dono do Bar Pinguim, único bar que tinha chapa para fazer lanche quente.
Situava-se a Rua Santa Cruz esquina com a Rua Voluntários de Piracicaba. Funcionava durante o dia e a noite, ele tinha
jogo de boche. As bolas eram de madeira, depois que apareceram as bolas de
massa. Ali o boche era forte. Ganhei muito dinheiro ali, como era adolescente
não podia jogar, ficava olhando os pontos de quem era (marca o ponto quem
aproximar mais a bola do balim, que é uma pequena bola). Isso para a pessoa não
ter que atravessar a cancha toda só para medir a distância entre a bola e o
balim. Às vezes ia buscar cerveja para eles. Às três horas ia buscar o
resultado do jogo de bicho. Muitas vezes trazia o prêmio, em dinheiro, quando
alguém ganhava. No centro da cidade havia um coreto onde era feito o jogo de
bicho, alguém falou que ia dar o bicho cujo nome começava com a letra “A” todo
mundo jogou no Avestruz e na Águia. Jogaram o dinheiro que podiam. Na hora de
dar o resultado, tinha um grande numero de pessoas com o papelzinho na mão para
receber, a pessoa anunciou o primeiro prêmio: Alefante. Isso é o que contavam!
O senhor conheceu o Bar
Alvorada, de Oscar Nishimura, na Praça José Bonifácio?
Conheci! Ele
era um japonês, de pequena estatura, faixa preta em jiu-jitsu. Havia um
estudante da Escola Agrícola, era o sujeito mais forte conhecido na época, o
seu apelido era Sansão. Ele foi ao Restaurante Alvorada, comeu e bebeu a
vontade, ao sair disse: “-Sou Sansão, não vou pagar nada!”. O Oscar
delicadamente disse-lhe: “-Aqui ninguém nunca fez isso!” O Oscar aplicou um
corretivo no Sansão que nunca mais ele apareceu no restaurante.
Como o senhor conheceu
João Chiarini?
Ele morava na
Rua Alferes José Caetano e eu morava na Rua Monsenhor Rosa. A sua casa ficava
um quarteirão abaixo da minha casa. Ele ia apresentar palestras e demonstrações
de folclore em Piracicaba e região e passou a me convidar para tocar. Comecei a
sair junto com ele. Freqüentei muito o Bar Quatizinho, ali era só samba.
E o famoso Bar Cruzeiro?
Antigamente
era do João Buriol, freqüenta lá também. Conheci um dos primeiros sanfoneiros
de Piracicaba, chamava-se Mario Moreno, tocava em todo lugar, salões com piso
de terra, todos os bailes chamavam o Mario Moreno para tocar. Perto de casa
tinha um homem que era benzedor, muito respeitado, chamava-se Lazinho Tabaré.
Ele tinha três filhos: um era pandeirista, outro era sanfoneiro e outro batia
surdo. O baile era ele que fazia. O Lazinho era benzedor de fazer e desmanchar
casamentos. Na época vinha até Cadilac de São Paulo na casa dele. Ele morava na
Rua Voluntários de Piracicaba, antes de chegar a Rua São João. Quando o Lazinho
Tabaré ia assistir jogo de boche, aonde ele ficava olhando ninguém fazia ponto.
Quando um dos filhos dele, o Zeza, estava jogando ninguém fazia ponto,
perguntavam: “- Como essa bola foi para lá?” Alguém respondia: “-O Lazinho
Tabaré está assistindo!”
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