domingo, março 26, 2017

ANTÔNIO FERRAZ DE OLIVEIRA (DUZENTÃO)


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 04 de março de 2017

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

http://blognassif.blogspot.com/





ENTREVISTADO: ANTÔNIO FERRAZ DE OLIVEIRA  (DUZENTÃO)

Antonio Ferraz de Oliveira, o Duzentão, nasceu a 23 de maço de 1939, filho de Antonio Felipe de Oliveira e Francisca Ferraz de Godoy que tiveram sete filhos, sendo que um faleceu precocemente: Lázaro, Benedita, Maria, Vicente, Terezinha, Antônio.

Qual era a atividade profissional do pai do senhor?

Ele era agricultor, tinha um sítio no bairro rural Paredão Vermelho onde plantava arroz, feijão, nós tínhamos animais. Pelo fato de ser o mais novo dos irmãos, naquela época eu era menino ainda, quase não fazia nada, tratava dos animais, levava a comida para as pessoas da família que estavam trabalhando no campo. Como meus irmãos e irmãs estavam na idade de freqüentar a escola e lá não havia nenhuma nas imediações, meu pai decidiu vender o sítio e mudar-se para a cidade de Piracicaba. Matriculou meus irmãos e irmãs nas escolas da cidade.

Em Piracicaba a família passou a residir em que local?

A primeira casa em que moramos foi a Rua Voluntários de Piracicaba, no Bairro dos Alemães, próximo ao Bar Pingüim, que atualmente já não existe. Esse bar ficava entre a Rua Santa Cruz e a Rua São João, era bar e tinha um jogo de boche grande. As ruas eram de terra ainda. A casa era alugada, o dinheiro apurado na venda do sítio meu pai depositou na Caixa Econômica Estadual, situada na Rua Santo Antonio esquina com a Praça José Bonifácio, o prédio existe até hoje.

Em Piracicaba o pai do senhor passou a trabalhar em qual atividade?

Ele passou a produzir e vender doces, já tinha experiência de fabricar doces nas festas que eram feitas quando morávamos no sítio fazia doce de abóbora, cidra, paçoquinha. Ele vendia para os funcionários da Boyes, tinha freguesia cedo e a tarde. Os funcionários tinham meia hora para almoçarem e meia hora para jantarem. No início ele levava uma cesta, depois passou a vender também abacaxi, melancia, aí já ia com um carrinho de mão. Nessa época eu ajudava também. Naquela época os funcionários almoçavam ou jantavam a comida que a família mandava, não havia restaurante dentro da empresa, tinha que comer embaixo das árvores.

Havia clientes que consumiam os doces e frutas e pagavam quando recebiam o salário?

Alguns pagavam ao comprar, outros pagavam por mês. Havia uma caderneta onde era marcado o nome da pessoa, o que era consumido e o valor. Em seguida mudamos para a Rua XV de Novembro, um quarteirão acima do Rio Piracicaba. Ficava próxima a Escola Normal do Porto, o prédio existe até hoje, está bem conservado, só que com outra finalidade. Eu entrei nessa escola depois fui estudar no Grupo Escolar Dr. Prudente de Moraes onde tive aulas com o professor Alfredo Novembre. Concluí o ensino no Grupo Escolar Dr. Prudente de Moraes e estudei por um ano no Colégio Industrial. Meu pai precisa que eu o ajudasse, deixei a escola e fui trabalhar com ele. Mais tarde meu pai foi trabalhar como guarda em uma empresa que beneficiava algodão de propriedade de Adib Zaidan Maluf, ficava na Rua Ipiranga. Tinha umas 14 a 15 pessoas que trabalhavam a noite. O meu pai além de vender doces durante o dia a noite trabalhava lá. Ele mesmo fazia os doces, um deles era paçoca com carne seca. Era colocada em um cartucho de papel. Era muito gostoso. Ele tinha uma boa freguesia. Nessa época ele adquiriu uma casa na Rua Dr. Alvim. Essa casa mais tarde foi derrubada, e atualmente o espaço é ocupado por uma torre de transmissão. O jornalista, radialista e comentarista Márcio Terra morava a poucos metros da nossa casa. Ele dedicou-se ao XV de Novembro, foi vereador. Tive um tio, irmão da minha mãe, Dr. Nélio Ferraz de Arruda Campos que foi prefeito de Piracicaba. (Há uma possível divergência da grafia do nome do Dr, Nélio Ferraz de Arruda, como consta em documentos oficiais conhecidos. Nélio é filho de Fernando Ferrraz de Arruda Pinto e Ana Cândido do Amaral Melo. Político, professor, advogado,escritor, empresário, radialista. Nasceu na Fazenda Milhã. Em 1963 foi eleito vice-prefeito da cidade para o período 1964 a 1968, sendo que em julho de 1968 assumiu como prefeito em decorrência do falecimento do prefeito Luciano Guidotti. Atuou com prefeito até fevereiro de1969).

O senhor tem ligações de amizade e parentesco com figuras proeminentes de Piracicaba.

Tive um primo que foi o homem mais valente da cidade, muito famoso e respeitdo, chamava-se Diogo, chamavam-no de “Diogão”. O seu pai chamava-se Lazinho, era carteiro, entregava correspondências com carrinho de tração animal. Ele morava perto da cadeia velha, situada na Rua São José. O Lazinho tinha três filhas e um filho, o Diogo. A Maria, irmã do Diogo era casada com o meu primo Pedro Adamoli, tiveram um único filho, o Pedrinho, que faleceu ainda muito jovem.

Como era a Rua do Porto?

Era uma rua aonde moravam muitos pescadores. Havia o Elias Rocha que fazia bonecos, eue depois tornaram-se famosos. O Elias foi jogador de futebol, jogou no União Porto. O irmão do Elias, o Nelson Rocha, jogou no XV de Piracicaba, era reserva do Idiarte Massariol, isso no tempo da “Panela de Pressão” como era chamado o Estádio Roberto Gomes Pedrosa, que foi vendido e hoje a área abriga o Supermercado Extra, formado pelo quadrilátero: Rua Governador Pedro de Toledo, Rua Regente Feijó,  Rua Monsenhor Manoel Francisco Rosa e Rua Santo Antonio. Ha pouco empo faleceu um dos mais antigos jogadores do XV de Novembro, o Cardeal, trabalhava na ESALQ. Ele jogou muito nesse estádio como ponta direita.

O senhor acompanha o XV de Novembro desde que ano?

Desde 1949. Eu era sócio com carteirinha. Lembro-me do João Guidotti que foi presidente do XV, Bento Dias Gonzaga (Bentão). Uma das lembranças de quando eu era jovem, foi quando faleceu um homem, meu pai foi para prestar as últimas homenagens ao falecido, pediu-me que o acompanhasse. Fomos. Não sabíamos o motivo da morte. Ao chegarmos à casa do morto soubemos que ele havia se enforcado, estavam esperando as providências legais para remover o corpo. Vi o homem enforcado por suicídio. Era irmão de uma das mais célebres figuras do cururu de Piracicaba.

O senhor ia de bonde ou a pé para a escola?

Ia a pé. Ali por duas vezes eu estava no bonde da Escola Agrícola quando os estudantes derrubaram o bonde. Para não ter aula.  Isso bem na curva da Rua Marechal Deodoro para seguir rumo a ESALQ. Dez a doze estudantes conseguiam tombar o bonde. Meu pai disse que se eu quisesse andar de bonde só deveria ir para a Vila Rezende ou para a Paulista. Naquela época havia uma rixa muito grande entre os jovens da Vila Rezende e os jovens que moravam depois da ponte. O jovem que fosse até a Vila Rezende apanhava. O jovem rezendino que viesse até a “cidade” apanhava. Tinha um jogador do XV de Novembro, o Cardeal, que namorava uma moça da Vila Rezende, tentaram pegá-lo. Ele fez um acordo, jogar por dois anos sem cobrar nada para o Clube Atlético Piracicabano, da Vila Rezende. Para deixarem ele namorar e casar com a moça da Vila Rezende. Aí deixaram.

O senhor cresceu, começou a trabalhar aonde?

Fui trabalhar na Casa Nelly, com calçados. Eu ia levar sapatos até a casa do cliente para ele escolher. Colocava diversos modelos, prendia as caixas com uma cinta e levava. A pessoa escolhia me pagava ou ia até a loja para pagar. O proprietário da loja era um português, sua esposa se chamava Nelly, por isso a loja levava esse nome. Ficava na Rua São José. Havia outra sapataria famosa, a Casa Henrique cujo proprietário chamava-se Valêncio.

Naquele tempo usavam-se sapatos masculinos com duas cores?

Existia sim! Eram mais utilizados no carnaval. Era preto na frente e a parte de trás era branca. Sambistas usavam muito o sapato de duas cores. Usavam-se sapatos de cromo alemão.

O senhor participou de alguma escola de samba?

Por quatro anos fui campeão pela Escola de Samba Vila Bacchi, situada na famosa Curva do “S”, na Avenida Armando Salles de Oliveira. O presidente da escola era João Chiarini.

Que instrumento o senhor tocava?

Surdo! A Escola foi ganhando fama e crescendo, todo mundo queria sair na Escola de Samba Vila Bacchi.  Eu saí da escola porque meu pai não gostava que eu ficasse no meio de tantas pessoas com hábitos e costumes diferentes, na época era muito jovem ainda. Havia outras escolas muito famosas como a Treze de Maio, a Flôr de Maio. Estas duas últimas escolas eram rivais acirradas, não podiam se encontrar que dava briga. Teve um período em que o Professor Benedito de Andrade foi presidente do Clube Treze de Maio. Na Rua do Porto havia um cordão muito famoso, chamava-se: “Não Empurre Que é Pior”. Outro cordão muito famoso era o “Leão da Paulicéia”. Na Paulicéia por muitos anos funcionou um salão de baile, o proprietário foi jogador do XV de Novembro, do Palmeirinhas era o Bidito. Os bailes do Salão do Bidito eram famosos, ficava no fim da Avenida São Paulo perto do Postão, nome popular do Posto Menegatti de combustível. Antes do Bidito falecer, meu pai foi internado no Hospital Santa Monica, que havia na Avenida Carlos Botelho, meu pai tomou soro e saiu, mas ao seu lado tinha dois conhecidos: Moacir de Moraes que foi jogador, treinador do XV de Novembro, da Ponte Preta, do Guarani, jogou com Athié Jorge Coury que era presidente do Santos e era piracicabano,  o outro paciente era Bidito. Ele faleceu lá.

O senhor conheceu o De Sordi?

Conheci! Ele era proprietário de uma vila de casas. O jogador Pepino também conheci, faleceu em Águas de São Pedro.

E Mazzola?

Conheci! José João Altafini, o Mazzola. Jogou no Clube Atlético Piracicabano. O Julião, cujo nome é Antonio Elias Julião, o Baltazar cujo nome era Oswaldo Silva e, quando ele começou a jogar futebol, não era conhecido como Baltazar, que por sinal era o nome do irmão dele.

O senhor fez o Tiro de Guerra?

Fiz, o Tiro de Guerra, naquele tempo era no Largo da Estação da Estrade de Ferro Sorocabana, entre hoje se encontram os terminais de onibs urbano e intermunicioal. No tempo do Subtenente Yamashiro. Um dos meus colegas de farda na época foi Waldemar Blatkauskas, ele era de São Carlos, vinha vindo de lá para Piracicaba quando sofreu um acidente fatal. Os exercícios práticos de tiro eram feitos nas imediações do Bongue, na Rua do Porto. Ali era o estande de tiro. Tive um amigo que foi desligado do serviço militar, ele errou o tiro e matou um cavalo.

Na época a Rua do Porto era bem diferente?

Uns diziam que ela começa perto da Boyes e terminava próximo ao campo do clube União Porto. Outros afirmavam o contrário. Era uma região com diversas olarias. Era uma região tipicamente habitada por pescadores: Elias, Totti, Bigu, Tangará, tinha muita gente conhecida.

O senhor chegou a nadar no Rio Piracicaba?

Só perto do trampolim, em frente ao Clube Regatas. No meio do rio meu pai não deixava. Não tinha as muretas que existem hoje, quando enchia o Rio Piracicaba entrava água nas casas próximas. Naquele tempo eu morava na Rua XV de Novembro, próxima a Rua do Sabão (Atual Rua Antonio Corrêa Barbosa), próximo a Escola Normal do Porto. Naquele tempo o Club de Regatas de Piracicaba era muito forte. Participei de muitos bailes de carnavais do Regatas. Frequentei o Teatro Santo Estevão, assisti a muito cururu apresentado lá, tempo do Zico Moreira, Pedro Chiquito, Sebastião Roque, Nhô Serrra, Parafuso, Luizinho Rosa. Teve uma época em que o cururu pegou fogo em Piracicaba. Eu ia assistir ao vivo no auditório da Rádio Difusora de Piracicaba a PRD-6, o locutor era Benedito Hilário. Era todo domingo, começava as 10 horas da manhã, era  uma hora e meia de cururu.

O senhor quando menino freqüentava a Rua do Porto, além de nadar fazia mais alguma coisa?

Ganhei muito dinheiro lá, nessa época, o Rio Piracicaba era cheio naquele tempo, pescava fácil, mandi, curimbatá. Vinha muito pescador de São Paulo, só que eles não tinham minhoca, eu sabia aonde tinha minhoca, lá perto do campo do União Porto. Ali tinha minhoca que dava medo! Comprei umas 20 a 30 latinhas de maça de tomate Elefante, enchia de minhoca, colocava um pouco de terra em cima. Alguém falou: “-Vim pescar, mas não tem minhoca!”. Eu disse: “- Eu tenho minhoca! Vendo. Quero duzentão!” Todo mundo comprava. No outro sábado era a mesma coisa. Um dia cheguei mais tarde, começaram a perguntar: “-Cadê o Duzentão?”. O apelido pegou até hoje. Meu pai às vezes dizia: “-Aonde você arrumou tanto dinheiro assim?” Eu dizia-lhe: “Eu vendi minhoca!”. Com esse dinheiro ia ao cinema, comprava doces. Época dos cines Broadway, São José, assisti muitos filmes nesses cinemas.

A Rua do Porto era uma família?

Para mim ali foi muito bom. O Antonio (Toninho) Benites era eu primo. Foi proprietário do Restaurante Mirante, que continua até hoje com a sua família.

Quando acabou o período em que o senhor serviu no Tiro de Guerra qual foi sua próxima atividade?

Entrei na Fábrica Boyes onde permaneci trabalhando por quatro anos. Comecei trabalhando na seção de sacaria. Louis Clement era o chefe geral. O Nico Fidelix era chefe de um departamento. Os fios vinham da empresa de fiação, ali tinha a tecelagem, a parte de costura de sacos de algodão brancos, para colocar açúcar, outra seção que carimbava, outra que fazia a contagem. Eu tinha um vizinho que era soldador no Dedini, foi ele que me apresentou para a empresa Dedini. Fui aceito, comecei a trabalhar como ajudante.

Lá o senhor conheceu o Comendador Mário Dedini?

Conheci, assim como Dovilio Ometto, Arnaldo Ricciardi. Eu trabalhava só na oficina, os montadores é que viajavam para montar as peças em usinas de açucar em todo o país e até mesmo no exterior. A aciariaria eu conheci, mas não cheguei a trabalhar. Era mais conhecida como laminação. É um lugar de grande risco e condiçoes de trabalho bem agressiavas em função da alta temperatura.

O senhor frequentava o Restaurante Papini?

Era muito bom, a turma frequentava muito. Quem aposentava com 25 anos de serviços na Dedini recebia 10 salários e um relógio de ouro. O Scarpari era quem fornecia os relógios.

Em que ano o senhor aposentou-se?

Foi em 1983. Depois de aposentado fiz alguma coisa ou outra mas muito esporádicamente.

O senhor é músico de um conjunto?

Ultimamente eu estou cantando, o cantador oficial do grupo está sem voz. Na verdade eu toco surdo e pandeiro. Quem está tocando pandeiro é a Quimie, uma pandeirista de origem japonesa. Chama-se conjunto “Recordar”, composto por Élcio, Moacir, Francisco, Quimie, Diogo e Antonio. O correto mesmo é uma pessoa tocando surdo, um pandeirista, um sanfoneiro, um vilão e um cantor, no caso eu.

O que a música significa para o senhor?

Faz uns dez anos que eu toco nesse baile, eu comecei a gostar de música depois que fiquei viuvo. Fiquei 32 anos casado com Maria Basso. Após sete anos contrai segunda nupcia com Marlene Licciardello de Oliveira

Quanto tempo dura o show?

Normalmente tocamos por duas horas no Lar dos Velhinhos de Piracicaba, das 14:00 horas às 16:00 horas, toda quinta feira. A entrada é franca, tem espaço para dançar.

O senhor acompanha qualquer ritmo?

Tenho que encarar! Samba, bolero, arrasta-pé, valsa, choro e algum ritmo que aparecer. Eu tocava surdo, os demais instrumentos como violão, pandeiro, sanfona aprendi a tocar aqui no Lar dos Velhinhos.

O senhor jogava boche? (Bocha, boche ou boccie como é chamado)

Jogava! Parei por causa da coluna. Jogava a ponto, atirava de bota. Só que a coluna estava doendo, fui ao médico, mesmo após tomar o remédio receitado a dor não parou. Eu jogava boche de duas a três vezes por semana, ele disse-me para deixar de jogar por um tempo. Acabou a dor da coluna!

Por acaso o senhor conheceu um jogador de boche que marcou época por ser um exímio jogador?

Conheci! Era um árabe, conhecido por Michubishi ou Michi Bishi, ele atirava de bota a bola. Cheguei a ver ele e um tal de Pinheirinho jogarem. Esse de nome Pinheirinho morava na Rua Santa Cruz.

O senhor conheceu o famoso João Buriol?

Quando o conheci ele tinha bar a Rua Moraes Barros, o Bar Buriol. O Pedro Schimidt era dono do Bar Pinguim, único bar que tinha chapa para fazer lanche quente. Situava-se a Rua Santa Cruz esquina com a Rua Voluntários de Piracicaba.  Funcionava durante o dia e a noite, ele tinha jogo de boche. As bolas eram de madeira, depois que apareceram as bolas de massa. Ali o boche era forte. Ganhei muito dinheiro ali, como era adolescente não podia jogar, ficava olhando os pontos de quem era (marca o ponto quem aproximar mais a bola do balim, que é uma pequena bola). Isso para a pessoa não ter que atravessar a cancha toda só para medir a distância entre a bola e o balim. Às vezes ia buscar cerveja para eles. Às três horas ia buscar o resultado do jogo de bicho. Muitas vezes trazia o prêmio, em dinheiro, quando alguém ganhava. No centro da cidade havia um coreto onde era feito o jogo de bicho, alguém falou que ia dar o bicho cujo nome começava com a letra “A” todo mundo jogou no Avestruz e na Águia. Jogaram o dinheiro que podiam. Na hora de dar o resultado, tinha um grande numero de pessoas com o papelzinho na mão para receber, a pessoa anunciou o primeiro prêmio: Alefante. Isso é o que contavam!

O senhor conheceu o Bar Alvorada, de Oscar Nishimura, na Praça José Bonifácio?

Conheci! Ele era um japonês, de pequena estatura, faixa preta em jiu-jitsu. Havia um estudante da Escola Agrícola, era o sujeito mais forte conhecido na época, o seu apelido era Sansão. Ele foi ao Restaurante Alvorada, comeu e bebeu a vontade, ao sair disse: “-Sou Sansão, não vou pagar nada!”. O Oscar delicadamente disse-lhe: “-Aqui ninguém nunca fez isso!” O Oscar aplicou um corretivo no Sansão que nunca mais ele apareceu no restaurante.

Como o senhor conheceu João Chiarini?

Ele morava na Rua Alferes José Caetano e eu morava na Rua Monsenhor Rosa. A sua casa ficava um quarteirão abaixo da minha casa. Ele ia apresentar palestras e demonstrações de folclore em Piracicaba e região e passou a me convidar para tocar. Comecei a sair junto com ele. Freqüentei muito o Bar Quatizinho, ali era só samba.

E o famoso Bar Cruzeiro?

Antigamente era do João Buriol, freqüenta lá também. Conheci um dos primeiros sanfoneiros de Piracicaba, chamava-se Mario Moreno, tocava em todo lugar, salões com piso de terra, todos os bailes chamavam o Mario Moreno para tocar. Perto de casa tinha um homem que era benzedor, muito respeitado, chamava-se Lazinho Tabaré. Ele tinha três filhos: um era pandeirista, outro era sanfoneiro e outro batia surdo. O baile era ele que fazia. O Lazinho era benzedor de fazer e desmanchar casamentos. Na época vinha até Cadilac de São Paulo na casa dele. Ele morava na Rua Voluntários de Piracicaba, antes de chegar a Rua São João. Quando o Lazinho Tabaré ia assistir jogo de boche, aonde ele ficava olhando ninguém fazia ponto. Quando um dos filhos dele, o Zeza, estava jogando ninguém fazia ponto, perguntavam: “- Como essa bola foi para lá?” Alguém respondia: “-O Lazinho Tabaré está assistindo!”

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