domingo, março 18, 2018

C ARLOS IVAN SICCA


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 17 de fevereiro de 2018

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

http://blognassif.blogspot.com/




ENTREVISTADO: C ARLOS IVAN SICCA

No século XIX, à beira do riacho Tijuco Preto, os tropeiros que demandavam ao interior de São Paulo, faziam pousada na casa de uma família de lavradores ali instalada, cujo chefe chamava-se Pedro, passando o local a se chamar Pouso do Rio das Pedras, em razão das filhas do Pedro. Entre 1870 e 1871, a Estrada de Ferro Ituana estendeu seus trilhos até Piracicaba, cortando a região de Rio das Pedras, sendo então construída a estação local que, também, tomou o nome de Rio das Pedras. Antônio Garcia Prates, um dos empreiteiros da estrada, Antônio Teles e outros, atraídos pela fertilidade do solo, adquiriram terras e construíram a capela do Senhor Bom Jesus. Estava iniciado, pois, o povoado que deu origem à Freguesia do Senhor Bom Jesus de Rio das Pedras. À medida que o Município foi se desenvolvendo, baseado na cafeicultura e auxiliado pelo braço de imigrantes em sua maioria italianos, foram-se criando diversos melhoramentos: iluminação elétrica, em 1913; posto telefônico, entre 1913 e 1916; e abastecimento de água canalizada, em 1916. A sua fundação oficial é 10 de julho de 1894. O gentílico é riopedrense. Conforme o Censo do IBGE de 2010 tem a população de 29.508 habitantes. É servida por uma malha rodoviária de excelente qualidade, sua distância até São  Paulo é de 172 quilômetros. Com o advento da plantação de cana-de-açúcar, transformando radicalmente as atividades agrícolas do Município, e a conseqüente industrialização do produto, além dos pequenos estabelecimentos industriais, produtores de aguardente e açúcar batido, já existente em 1952, ali se estabeleceram usinas maiores, produtoras de álcool e açúcar. Atualmente o município é conhecido por sediar várias empresas, como a metalúrgica Painco S/A, uma unidade da Arcor do Brasil, e empresas do polo industrial da Hyundai Motor Brasil.

Carlos Ivan Sicca, descendente de italianos, nasceu a 22 de fevereiro de 1952, na cidade de Pereiras, situada a 60 quilômetros de Rio das Pedras. São seus pais Antonio Carlos Sicca e Ivone da Silva Sicca, ambos nascidos em Pereiras, onde se casaram ele com 19 anos e ela com 17. Tiveram os filhos: Carlos, Maria Emília, Ivone Adalmira e Sandro José.  Seu pai trabalhou a vida toda com caminhão, quando ele conseguiu dar os diplomas aos filhos, passou a trabalhar com taxi, na cidade de São Paulo.

Ainda se lembra dos caminhões que seu pai teve?

Lembro-me que meu pai teve diversas marcas de caminhão, inclusive um Chevrolet 1952, ele fazia viagens para lugares distantes, como Recife, Salvador, passou muito tempo trabalhando no percurso Santos a São Paulo. Fiz muitas viagens com ele. Algumas estradas eram de terra outras já eram asfaltadas. A viagem para Santos era lenta, pelas condições da estrada.

Em algum momento o senhor teve a vontade de seguir essa profissão?

A primeira vontade é seguir o que os pais fazem! Mas o meu pai nesse sentido insistiu muito para que estudássemos. Ele já vizualizava que sem o conhecimento, sem um diploma, a possibilidade de desenvolvimento tanto pessoal como social eram nulas. O curso primário fiz no Grupo Escolar Prof. Rozendo Duarte Lobo, o ginásio fiz na escola Vereador Egildo Paschoalucci, em Pereiras. O Curso Normal eu fiz na Escola Professor Anízio Ferraz Godinho em Conchas, é o curso de professor primário.

Até que idade o senhor residiu em Pereiras?

Naquele período, próximo a 1970 tinhámos a possibilidade de estudar até o ensino médio.A partir dai tinhamos que sair para trabalhar e continuar os estudos. A família mudou-se para São Paulo. Fomos morar no bairro Bom Retiro, na Rua Jaraguá, onde havia uma concentração da colonia judaica. Fui fazer um curso de Matemática na Faculdades Integradas Teresa Martin, em Santo Amaro. Naquele período já estava um processo de expansão da educação, as escolas da primeira a quarta série já começavam a ser transformadas também. Por conta disso tive a oportunidade de já começar a trabalhar como professor. Primeiro como professor da primeira a quarta série, alfabetizador, depois como professor de matemática.

Em São Paulo, a universidade era a noite ou pela manhã?

Eu dava aula a tarde e a noite e estudava na parte da manhã. Em São Paulo minha movimentação para dar aulas foi grande, todos os anos mudavam de escolas. Trabalhava em São Paulo, Taboão da Serra. Tudo de onibus. Até que consegui a primeira moto, facilitou bastante. Uma Yamaha 125 cc.

Qual era a reação do seu pai com relação a moto e o transito de São Paulo?

A moto é um excelente meio de transporte, mas exige uma responsabilidade maior, depois tive uma Turuna, uma Honda. Sempre gostei de motocicleta. O trânsito em São Paulo mudou muito nos últimos 50 anos. Morei em São Paulo uma década, de dezembro de 1969 a dezembro de 1979. São Paulo é onde acontece tudo. Os filmes, as peças de teatro, vinham para o interior após um ano! Hoje os lançamentos são simultâneos. Sempre gostei de esporte, futebol de salão, de campo, jogava na lateral.

Como o senhor conheceu sua esposa?

Conheci a minha esposa Dalila Miguel Sicca quando fazia o Curso Normal em Conchas, começamos a namorar. Nesse período cada um foi buscar sua formação em um lado, ela é psicóloga, foi estudar na Fundação Educacional de Bauru, hoje UNESP-Bauru, continuamos namorando por cartas, telegramas.

Vocês ainda guardam essas correspondências?

Ainda temos! Minha neta estava na quarta série do ensino fundamental, e foi abordado o tema comunicação, minha espôsa apresentou-lhe um de nossos telegramas e uma carta! Ela levou para a escola, uma curiosidade diante dos meios de comunicações atuais. Quando a minha esposa estava concluindo o curso voltou para São Paulo, concluiu na PUC, passou a trabalhar, nesse período nos casamos, foi em 19 de julho de 1975, em Conchas. Temos dois filhos: Cristina e César. Decidimos voltar para Conchas, fiz a remoção e passei a dar aulas na região. Fui aprovado no concurso para Diretor de Escola e vim para Rio das Pedras, para o Colégio Técnico Agrícola, hoje ETEC, tinhamos 200 alunos internos, o curso era só masculino, para técnicos em agropecuária.

Minha esposa montou uma confecção, nesse msmo período, isso já faz 30 anos. Eu não conhecia Rio das Pedras, quando chegamos nos apaixonamos pela cidade. Fizemos novas amizades, descobrindo o prazer de ser um riopedrense, uma das características nossa é o envolvimento com o serviço social, quando criou-se a Escola do Bairro Cambará, eu vim para a Escola Estadual Professora Maria José de Aguiar Zeppelini, onde fui diretor. Sempre interagindo com a sociedade, levando aquilo que aprendemos: a educação é uma das grandes armas de transformação social. Não é o único instrumento, mas é um dos maiores instrumentos.

Vivemos um momento em que a educação básica, pública, é vista como despesa e não como investimento, há um descaso com a formaçãodo aluno e uma falta de valorização do professor. Temos muitos exemplos de países que saíram de um estado miseravel e se tornaram em potencias graças ao investimento na  educação.  

Temos uma sociedade excludente, ela dificulta muito o acesso a uma escola de boa qualidade, principalmente para a classe menos favorecida. É uma característica da nossa sociedade. O que houve com o passar do tempo é que essa responsabilidade do ensino fundamental foi delegada aos municipios. As verbas nunca foram suficientes, mesmo sob a respeonsabilidade do governo estadual, federal, nunca foram aplicadas como deveriam ser. Com mais eficiência dentro da escola pública. A partir de 1970 abrimos espaço para que todos pudessem frequentar a escola. Hoje no ensino fundamental podemos dizer que quase 100% das nossas crianças estão dentro da escola. Só que temos a questão do acesso, da permanência e do sucesso. O acesso de certa forma está garantido, a permanência já é um fato sério a ser trabalhado porque o acompanhamento, as dificuldades sociais que as famílias enfrentam, a estrutura familiar diferenciada, e o sucesso, que ai entra a questão da qualidade do ensino, a necessidade de maior verba, a valorização dos profissionais do magistério, em especial do professor, para conseguirmos um resultado positivo.


Há casos onde material didático, livros principalmente, são enviados pelo Estado em uma quantidade extremamente acima da necessidade. A escola não tem o que fazer com esse material. Acaba ocupando espaço, estocado inutilmente.

São situações pontuais, começa a ser modificada. O Governo faz a distribuição do material didático que as vezes não é totalmente aproveitado. Hoje as escolas que estão dentro do municipio, tem a oportunidade de buscar de forma diferenciada, o que está faltando são verbas. É uma situação que tem que ser analisada caso a caso, municipio para municipio. Ai que vemos um aspecto positivo da descentralização. Onde todos os envolvidos na educação poderiam escolher qual a melhor forma de trabalhar com os educandos. O municipio irá decidir de forma mais apropriada que tipo de educação irá dar aos alunos. Que tipo de material, leitura, que irá proporcionar.

Geralmente as nomeações do alto escalãona área da educação são absolutamente políticas?

O sonho é que a politica educacional não mude a cada governo. Acredito que estaremos modificando todo esse caos que está instalado para que passamos a viver momentos melhores dentro de pouco tempo. Acredito no ser humano, que ele se modifica, aprenda com seus erros. Os corruptos não pegaram apenas o dinheiro, passaram a ser assassinos, alguém na ponta está morrendo por falta de remédios, atendimento médico. Por outro lado, sabemos que isso tende a acabar, está havendo a divulgação do que acontece.

O senhor já tinha participado de algum cargo político? 

Não! Em 2016 fui eleito vereador, tive o maior número de votos, 977 votos, isso aumenta a minha responsabilidade em devolver a confiança que foi depositada.

O que o levou a candidatar-se para o cargo de vereador, e hoje ocupa a Presidencia da Câmara como vereador mais votado?

Ao cidadão não basta somente apontar os erros, cabe-lhe também participar da solução. Estamos insatisfeitos com o rumo da política nacional, vamos tentar fazer alguma coisa também. Sempre acreditei na participação popular. Reconheço que a distância entre o agente político e o cidadão é muito grande. A minha proposta é aproximar a classe política da população.

Quantos vereadores tem a Câmara Municipal de Rio das Pedras?

Somos nove vereadores.

De quantos partidos políticos?

São seis ou sete partidos. Como Presidente da Câmara temos a proposta de que somos todos diferentes, como ser humano, ideolgias diferentes como partidos políticos, mas podemos usar aquilo que possa ser comum. Em principio o vereador só tem que pensar que quer transformar a sociedade para melhor. Tem que criar uma estrutura para que você viva melhor na sua cidade. Tem que trabalhar com essas diferenças para unir esse desejo de praticar o bem com harmonia.

Como é a relação da Câmara Municipal com o prefeito Antonio Carlos Defavari?

O prefeito Carlos tem uma postura de dialogo, sabemos das dificuldades existentes , mas ele nos ouve. Talvez outros fatores aconteçam para que as coisas não ocorram como deveriam. Sabemos exatamente quais são os problemas, em um momento com poucos recursos financeiros. Temos problemas com a saúde, que infelizmente não ocorre só com Rio das Pedras, temos que tentar melhorar dentro do nosso municipio.

A União e o Estado fornecem verbas?

Tem subsídios, só que são insuficientes para funcionar o sistema de saúde. Um sistema de educação que atenda as necessidades. Os nossos profissionais de educação em Rio das Pedras são muito capazes. Tem condições de elaborar seu material de ensino, nesse momento até para conter as despesas estamos precisando que eles invistam em suas criatividades, coloquem suas experiências para colocarmos na manutenção das escolas.

Ser professor é uma carreira diferenciada?

As pessoas que são professores são pessoas especiais. Fomenta, é o fazedor de sonhos. Tem que estimular a capacidade das nossas crianças e jovens, para que eles consigam ser alguém. Um ser humano digno.

A sessão da Câmara Municipal é em que dia da semana?

É realizada toda segunda feira, as 19:00 horas, o plenário é aberto, qualquer pessoa pode assistir. Tenho levado muito a sério a questão da divulgação, houve época anterior a nossa, onde criticava-se por algumas decisões serem tomadas de forma conhecida por poucos. Mesmo quando há necessidade de fazer uma sessão extraordinária, usamos o nosso site, os meios de comunicações disponíveis.

Como está a segurança?

Problemas com segurança, saúde são decorrentes de problemas sociais sérios. A partir do momento em que você começa a melhorar o relacionamento da sociedade com os serviços aos quais ela tem direito, tudo começa a ser melhorado. O ambiente físico sendo mais adequado. Melhor iluminação, transporte público mais adequado. Isso tudo implica em um contexto interligado.

O Estatuto da Câmara é permanente ou sofre alterações?

Este ano vamos mudar a nossa Lei Orgânica. Precisa ser revista, muita coisa foi modificada, está com 30 anos de existência.

O cidadão tem acesso fácil ao Presidente da Câmara?

Estou aqui todos os dias. A Câmara é a casa do povo, estamos a serviço do povo. É nossa obrigação ouvir a população. Esse é um principio que tenho, de transparência. Se com o meu dinheiro tenho uma preocupação, com o dinheiro do publico a minha preocupação deve ser um milhão de vezes maior. Para ser bem aplicado, bem gasto e bem visto pela população.

O cidadão participa ativamente das decisões?

A nossa estrutura social não estava permitindo essa participação. Estamos trabalhando para que ele não esqueça em quem ele votou. Acompanhe o trabalho que está sendo feito. Não podemos na política dar margem para aventureiros. As pessoas que vem para a política tem que ser pessoas sérias, honestas e com compromisso com o bem estar da população.

A seu ver como deverá ser o futuro de Rio das Pedras?

Um futuro promissor! É uma população generosa, que tem amor a cidade, estamos nos desdobrando para fazer o melhor possível. A educação transforma cérebros. Conseguimos através do meu partido, o Partido Verde, com apoio do deputado Chico Sardelli, a UNIVESP Universidade Virtual do Estado de São Paulo, vai começar agora em 2018: Engenharia de Computação; Engenharia de Produção e Pedagogia. São cursos inteiramente grátis, com professores das nossas melhores universidades. Com obrigatoriedade de presença uma vez a cada 15 dias.

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