segunda-feira, dezembro 27, 2010

Bruno Fernandes Chamochumbi (Papai Noel)

JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 25 de dezembro de 2010
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
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ENTREVISTADO: Bruno Fernandes Chamochumbi (Papai Noel)
Segundo Luís da Câmara Cascudo, folclorista brasileiro, Papai Noel chegou ao Brasil na década de 1920, importado junto com o cinema e o rádio. O Natal é comemorado em todo o mundo, é uma festa tão popular, que já atingiu países como o Japão e a China. Pode-se dizer que Natal é uma festa globalizada a data de 25 de dezembro é sem dúvida a maior manifestação vivida pelos habitantes do planeta. As inúmeras facetas dessa data fascinam qualquer pesquisador, uma gigantesca catarse, quando a humanidade torna-se mais fraterna, embalados por uma mídia envolvente muitos despertam o sentimento de solidariedade, o amor ao próximo pregado pelas diversas correntes religiosas. Para um grande número de pessoas o Natal é um momento de reflexão e de grande alegria. Em Piracicaba há cerca de uma década e meia, um garoto foi contagiado pelo espírito natalino, a sua vocação latente para tornar-se um ator foi despertada pela oportunidade de representar o seu primeiro papel, o do bom velhinho que povoa a imaginação de crianças e adultos. Bruno Chamochumbi incorporou e personalizou a figura de Papai Noel, o ator evoluiu, profissionalizou-se. O tradicional trenó deu lugar a um reluzente helicóptero, cruzando os ares e levando ás alturas as fantasias e sonhos de Natal. Bruno Fernandes Chamochumbi é piracicabano, nascido em 30 de setembro de 1982, filho de Juan Alberto Vera Chamochumbi e Maria Isabel Silveira Fernandes Chamochumbi.
Seu pai é natural de qual país?
Ele veio do Peru para estudar na ESALQ, onde se formou como agrônomo. A minha mãe nasceu em Piracicaba, o seu pai é Eduardo Fernandes Filho, que teve grande participação na vida social de Piracicaba, é um dos fundadores do Lions Clube em Piracicaba, participou da fundação do Clube de Campo de Piracicaba, da Acipi, do Clube de Regatas de Piracicaba, foi contador da Escola de Musica de Piracicaba, além de suas ligações com o comércio e indústria local.
Você estudou em quais escolas?
Fiz o primário no Grupo Escolar Moraes Barros e no Grupo Escolar Prudente de Moraes. Junto com a minha família morei dois anos em Santos, freqüentando escola daquela cidade. Fiz o ginásio e o colegial no COC Piracicaba. Sou graduado em publicidade pela UNIMEP.
A sua vocação para ator manifestou-se quando?
Na escola eu já participava do teatro, sempre fui muito extrovertido, tenho uma veia humorística, minha família teve diversas atividades artísticas, meu avô cantava tangos e boleros com o seresteiro Cobrinha, temos pessoas da família que são produtores culturais, gosto muito de musica, de teatro, cinema.
Qual foi o seu primeiro papel de relevo em uma peça de teatro?
Aos 11 anos atuei como o Grilo Falante em Pinóquio, na cidade de Santos, eu gostava muito de desenhar, pintar e nessa apresentação me descobri como ator.
O que é necessário para ser publicitário?
Amor, paixão, paciência, criatividade, uma boa formação cultural, há a necessidade de conhecer cores, formas, histórias, pessoas. Temos que ter menos preconceito, quando digo um preconceito menor é porque vejo a necessidade de desvencilhar todo dia de uma pré determinação, de um pré conceito. O publicitário tem que estar sempre pronto para o novo, conhecer novas pessoas, linguagens, trabalhos, novas cores, formas. O publicitário tem que estar disposto a fazer a diferença.
Há opiniões sobre o fato de o publicitário vender produtos e serviços sem que o consumidor tenha a necessidade dos mesmos?
Não acredito nisso, como publicitários temos um papel social, que começa a ser exercido a partir do momento em que vendo somente aquilo em que acredito. Somos figuras fundamentais para que um projeto possa dar certo. Não posso vender mensagens que desarmonizem o mundo, que traga preocupação ás pessoas ou que façam mal ao próximo. Alguns de fato praticam esse tipo de ação, eu não consigo. Necessito “comprar” a idéia daquilo que vou vender, acredito até que possa ser reflexo do meu trabalho com a Casa de Noel.
Quando surgiu a oportunidade de atuar como Papai Noel?
Aos 14 anos recebi uma tarefa dada pelo Luiz André Filho, diretor da escola Poli Brasil onde eu era aluno. Eu entrava em sua sala para bater papo, sempre tive muitas idéias, como todos nós temos só que eu externava meus pensamentos. Um determinado dia ele me mostrou uma roupa de Papai Noel e perguntou-me se eu queria usar para entregar folhetos da sua escola, na época chamada de Data Brasil. Adorei aquilo! Imediatamente despertou em mim um sentimento artístico. Passei a observar que as pessoas estavam gostando do meu trabalho, respondiam de forma positiva. Permaneci na Rua Governador Pedro de Toledo quase na esquina com a Rua XV de Novembro, em frente à Alfaiataria Excelsior, divertia-me muito com aquilo tudo, ria bastante. No primeiro dia coloquei uma barba importada da China, bem simples, no segundo dia falei com a Tereza, que trabalhava em nossa casa, com uma almofada da sala criamos uma barriga para o Papai Noel. Arrumei outra barba para colocar sobre o meu cabelo, a cada dia percebi que poderia melhorar o visual do Papai Noel, com pasta d`água tornei minhas sobrancelhas brancas. Tenho a pele muito morena, passei a pintá-la, afinal sou descendente de peruano e o Papai Noel é caracterizado como natural do Pólo Norte. Eu estava tão envolvido naquilo que a cada dia inventava alguma coisa. Fui convidado pelo Bingo Broadway para descer de um helicóptero no estádio do XV de Novembro, o Barão de Serra Negra. Achei aquilo o máximo! Até os doze anos eu acreditava em Papai Noel, minha mãe fazia questão de levar uma cartinha que endereçávamos á ele.
Atualmente algum jovem com 12 anos acredita em Papai Noel?
Não! Na minha época poderiam existir muitas crianças que com essa idade acreditava em Papai Noel. Não deixei de acreditar na existência dele, eu entendi que Papai Noel é uma figura que traz uma serie de situações que não são as comerciais. Papai Noel não traz presente físico, ele traz presentes afetivos. As crianças de hoje não realizam essa descoberta somente aos 12 anos, elas descobrem antes. A mídia de forma velada fica em cima delas afirmando que Papai Noel não existe. Há uma vulgarização da figura de Papai Noel ocupando desde capas de revistas masculinas até os mais diversos produtos que se possa pensar. Com isso sua imagem se banaliza. As crianças percebem mais cedo que o Papai Noel não é apenas aquele que traz os brinquedos que elas estão pedindo, e sim quem dará lugar para o sonho de um mundo melhor. É nisso que o Projeto Casa de Noel acredita, após 14 anos de trabalho.
Qual foi o passo seguinte na trajetória do ator Bruno apresentando o Papai Noel?
Após a descida de helicóptero ocorreu minha participação em evento no Edifício Canadá, no ano em que o prédio foi inteiramente decorado com luzes de natal. Eu me divertia, ria muito, cantava a música que era o tema de uma novela da época, o refrão era: “Cadê zazá, zazá, zazá?” Eu apresentava um Papai Noel diferente, que cantava, interagia com as pessoas, tinha brincadeiras, tinha atitude. Fui convidado a estudar em uma escola particular com bolsa de estudos. Os proprietários do Colégio COC de Piracicaba moravam no Edifício Canadá. No ano seguinte o Waldir, proprietário da loja Farrawi me convidou para ficar em sua loja vestido de Papai Noel, passei a fazer a animação do estabelecimento por duas a três horas, todas as noites. Aquilo me divertia muito. Eu queria decorar a entrada da loja com motivos alusivos ao Papai Noel, falei com a proprietária de uma indústria de móveis, uma amiga da nossa família, Dona Maria Helena Corazza e pedi emprestada uma poltrona vermelha, para que o Papai Noel se apresentasse melhor caracterizado. Ao mesmo tempo em que eu estava adorando, sentia-me incomodado por Papai Noel não ter um lugar totalmente seu, com árvores, tapetes, mais peças com conotação natalina. As crianças iam diariamente tirar fotos, formava uma fila para estar com Papai Noel. Levei o coral do Colégio COC para apresentar-se na loja. Eu queria a Casa de Papai Noel de Piracicaba.
Existe Casa de Papai Noel em outras localidades?
Tem em Gramado, em São Paulo. Hoje represento um Papai Noel que canta musicas de MPB, internacional, musica italiana (Nesse momento Bruno dá uma palhinha cantando um trecho da música Champagne, lembrando os tenores italianos). Apresento um Papai Noel que dança, é participativo. Essa é a grande diferença.
Você ensaia?
Ensaio com a maestrina Malu Canto e com o maestro Hermes Petrini. No ano 2000 eu já tinha 18 anos, estava no terceiro colegial, sonhava com a Casa de Papai Noel, para que cantasse, passeasse pela casa. Escrevi o projeto com a ajuda de uma tia residente no Rio de Janeiro, a Rê Fernandes, especialista em redação de projeto, especialista em cor. Após redigir o projeto me animei em desenvolvê-lo, comecei a fazer reuniões com os meus colegas de classe para convidá-los a trabalhar comigo. No meio do caminho fui apresentando o projeto a diversas pessoas. Um amigo viu o projeto, gostou, ele era proprietário de uma casa na Rua Governador, 619, que estava necessitando de uma reforma, a proposta do projeto era de que cada cantinho da casa tivesse a participação de um decorador, de um arquiteto. Alguém montando a casa como se fosse o lugar onde Papai Noel escolheu para morar, com a sala, sala de brinquedos, o quarto dele, o banheiro, a banheira, a jabuticabeira. Enfim uma casa completa, um lugar mágico que eu tinha imaginado. Começamos a trabalhar em 8 de setembro, no dia 2 de dezembro a Casa de Noel estava inaugurada, totalmente reformada por 54 profissionais de arquitetura, decoração e artes plásticas.
Como você conseguiu disponibilizar esse pessoal todo?
Não sei até hoje! Juntos eu e a Cristiane que estávamos mais disponíveis, além do Mauricio e o Juliano que colaboravam muito. Ficávamos o tempo todo ligando, fazendo os contatos, convidando, conseguimos trocar o piso da casa, reformar o jardim, instalar uma cozinha planejada, fizemos um milagre na casa. Comecei a me exercitar, a me vestir como Papai Noel, passeava pela casa, Papai Noel poderia estar com os mais diversos trajes, até mesmo um roupão.
Pode-se dizer que era um “Big Brother” ao vivo com Papai Noel?
Isso! Tanto que naquele ano já havia uma chamada para o Big Brother apresentado pela TV Globo, o mundo inteiro estava alerta com o Big Brother, só depois é que fomos descobrir a proposta do espetáculo apresentado pela televisão, parecida com a nossa, apresentar o Papai Noel de tal forma que em qualquer canto da casa saísse uma foto bonita.
Para você foi um empreendimento com bons resultados financeiros?
Não apenas deixamos de ganhar, como também investimos muito dinheiro. Como divulgação o evento foi um sucesso, com cobertura da TV Globo, mídia dos mais diversos locais, o Senac como parceiro contratou uma agencia de propaganda com assessoria de imprensa, houve uma grande aceitação por parte do público. Em 2001 decidimos mudar de endereço, fomos para a Società Italiana di Mutuo Soccorso. A idéia é de que os arquitetos executassem um trabalho dentro de um espaço de utilidade pública. Ao sair de lá, confesso que achei que não ser possível fazer nada, não iria dar tempo, era o mês de julho, a arquiteta Cristina Anselmo estava comigo, disse-lhe: “-Cristina, não vai dar não, é muita coisa!”. A diretoria da Societá estava reformando muitas coisas, portas e janelas, tinha refeito toda a hidráulica, uma parte da elétrica, tinha sido feita uma laje no palco, o piso anterior era de madeira, comprometido pelo cupim. Passei a noite toda sem dormir, no dia seguinte liguei para a arquiteta e disse-lhe: “- Cristina! Decidi! Vamos fazer!” Começamos a trabalhar, o marketing era intuitivo, simultaneamente tinha profissionais trabalhando em conjunto, quando vi estava coordenando um mega projeto, juntamente com o presidente da Societá Italiana que era o Marcos Guidotti. Passei muitas noites sem dormir, fiquei muito tempo dormindo na casa de uns amigos que moram ainda no Edifício São Francisco, ao lado da Societá. Fui movido pela pressão de executar um projeto de muito sucesso. Até a tinta com que foi pintada a fachada da Societá Italiana foi feita de maneira especial. Conseguimos cozinha, jardim, piso, fachada, iluminação, a Societá Italiana estava revitalizada. Nesse ano tivemos 12.000 pessoas visitando a Casa de Noel. Corais apresentando-se todas as noites. O evento começou a deslanchar, a imprensa regional passou a nos procurar. Em 2003 tivemos o patrocínio de duas empresas nacionais, a Claro e a Del Valle. O projeto passou a ser conhecido no Brasil todo. A Telefônica nos convidou para fazer um cartão telefônico.
A partir de 2003 houve um redirecionamento das atividades da Casa de Noel?
Percebemos que o foco passou a ser muito mais nas musicas que Papai Noel apresentava, nos shows, a partir de 2003 passamos a contratar profissionais que cuidassem mais da musica, do teatro, da parte cênica do nosso projeto. Começou a ser um sucesso, passamos a fazer shows em que Papai Noel cantava, seguindo um roteiro. A arquitetura e decoração deram a prioridade para dar espaço a uma parte cênica. Foi um sucesso, conseguimos muitas coisas boas, passamos a investir nos shows. Até 2005 os shows aconteciam exclusivamente na Societá. A partir de 2006 os shows passaram a sair da Societá, o SESC nos contratou, em 2007 começou o projeto “Canta Noel”, que é a chegada do Papai Noel de helicóptero na Rua do Porto. Surgiram outras manifestações, hoje a Casa de Noel não é mais um local, é um grupo de artistas que desenvolvem shows itinerantes de natal. A Casa de Noel é o coração de quem assiste. Desde o ano passado Papai Noel faz shows sobre as águas do Rio Piracicaba, em um barco iluminado. Estamos indo aos bairros, como Santa Terezinha, Vila Rezende. Abrimos o projeto.
Como é a relação do Bruno com o Papai Noel?
O Bruno hoje está com maior visibilidade, anteriormente havia a preocupação em não aparecer quem representava o papel do Papai Noel. Valorizei e continuo valorizando a imagem do Papai Noel como embaixador do nascimento de Jesus. Fortalecemos a idéia de que o projeto é organizado por um grupo de profissionais. A Mamãe Noel é uma atriz contratada.
O seu presente de natal é interpretar o Papai Noel?
Acho que o meu presente de natal até o fim da minha vida é o Papai Noel.
Como você vê a comemoração do nascimento de Jesus e a importância dada ao Papai Noel em uma mesma data?
Há quem diga que Papai Noel toma o lugar de importância que pertence a Jesus. A primeira coisa que o nosso projeto define é de que o valor do Natal fuja do aspecto comercial. A imagem da Casa de Noel é uma imagem não comercial. Ele não vem para trazer balas e pirulitos, sua função é trazer mensagens de paz, amor, alegria, renovação, vem para trazer a boa nova: “-Nasce Jesus Cristo!”, que é o símbolo máximo do natal. A Casa de Noel reconhece isso e acredita que essa divulgação seja importante, aumentar o número de pessoas que se lembrem de que o natal é o nascimento de Jesus. A origem do Papai Noel é de natureza cristã, originou do bispo São Nicolau. A imagem do Papai Noel é lúdica, é uma imagem que “cola” facilmente.
Você realizou um trabalho de pesquisa sobre a figura de Papai Noel?
Em 2000 quando abri a Casa de Noel estudei muito para estar habilitado a responder as perguntas que poderiam ocorrer principalmente às questões mais complexas que poderiam partir, sobretudo das crianças.



ENTREVISTADO: LUIZ NASCIMENTO

JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 17 de dezembro de 2010
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADO: LUIZ NASCIMENTO
Sem qualquer parentesco com algum japonês ou descendente, Luiz Nascimento dedicou-se por cinco anos ao aprendizado da língua japonesa, até receber o certificado emitido no Japão, atestando a sua fluência no idioma da terra do sol nascente. Atualmente Luiz Nascimento dedica-se ao estudo do árabe. Autodidata, esse piracicabano é movido por desafios, entre seus feitos está o livro “Memórias Do Bairro Alto”, uma obra onde o autor relata muito do que viu e viveu no tradicional bairro piracicabano. O livro foi lançado em 2009 com grande sucesso. De fala mansa, jeito simples, funcionário público federal aposentado, prefere deixar seu automóvel na garagem e caminhar pela cidade, por alguns pontos onde passa a sua lembrança traz parte de sua história. Dos tempos em que ainda muito jovem trabalhou no Cine São José e no Cine Broadway. Lembranças do Clube Cristóvão Colombo que em seu inicio funcionou em acanhadas instalações no andar superior de um prédio existente até hoje, na esquina da Rua Governador Pedro de Toledo com Rua São José. Filho de Francisco Nascimento e Lucila Nascimento nasceu em 29 de março de 1932 Com o falecimento do seu pai, quando ele era ainda menino, deixou de ter uma vida de muito conforto e teve que trabalhar para colaborar nas despesas domésticas.
Qual era a profissão do seu pai?
Era viajante da Companhia de Cigarros Souza Cruz, ele nasceu no Estado do Rio de Janeiro, viajava por muitos estados brasileiros, sendo que em alguns mais afastados ele se fazia acompanhar de um segurança, seu trabalho era apenas realizar a venda, a entrega era feita por caminhão. Naquele tempo seu traje habitual era terno de linho branco, tínhamos um padrão de vida bastante elevado, meu pai e minha mãe saiam de Piracicaba e iam passear em São Paulo, entre outras diversões iam patinar no Parque da Aclimação. Estudei alguns anos na Escola Normal, hoje Sud Mennucci, fui transferido para o Grupo Alfredo Cardoso que na época localizava-se na esquina formada pela Rua Alfredo Guedes com a Rua São José.
Com que idade o senhor começou a trabalhar?
Aos 13 anos fui trabalhar na Casa Guidotti que vendia eletros domésticos, situada na Rua Governador Pedro de Toledo, entre a Rua Moraes Barros e a São José, seu proprietário era Luiz Guidotti, popularmente conhecido como Rei do Gatilho, pelas suas habilidades de exímio atirador com revólver.
Qual era o seu trabalho nessa empresa?
Fazia a limpeza, colocava acumuladores automotivos para receber novas cargas elétricas, havia um aparelho para recarregar as baterias, chamava-se “Tunga”. Carregava-se simultaneamente até oito acumuladores, era comum a loja receber muitas baterias de pessoas da zona rural, onde a energia elétrica não existia. Muitas vezes fui despachar baterias na Estação da Paulista, eram levadas por trem até seus proprietários que aguardavam a encomenda nas estações situadas junto à linha do trem. Eu saia da loja na Rua Governador, ia pela Rua Moraes Barros até o ponto do bonde da Paulista, levava a bateria ao lado do banco do bonde, descia no ponto em frente à Estação Paulista e a despachava, era muito comum essas baterias serem destinadas á pessoas residentes em Tupi, Caiubi, que retiravam as mesmas nas respectivas estações.
Qual foi o seu próximo emprego?
Fui trabalhar em uma loja situada na Rua Governador Pedro de Toledo, nas proximidades de onde hoje é a Ótica do Flavinho, chamava-se Casa Guerra, o proprietário era José Guerra, um senhor de origem portuguesa, de baixa estatura, sua esposa era uma senhora muito amável, eles eram proprietários de diversas casas que rendiam aluguel. Era uma loja de tecidos, armarinhos, ponchos que ficavam expostos nas portas de madeira. Dalí eu fui trabalhar na empresa J.B. Andrade, proprietária dos cines São José e Broadway, trabalhava no escritório, os ingressos eram selados sendo os selos adquiridos na coletoria federal que ficava na Rua Prudente de Moraes, onde hoje existem umas lojas de artigos esportivos o responsável pela venda dos selos chamava-se Batista Rigo Ao lado do Cine São José existia uma porta com uma escada que nos levava até o andar superior onde eram as acomodações da “geral” do cinema, caminhando por um longo corredor íamos até o local onde existiam três ou quatro salas. Eu pegava essas folhas de selos, prendia com tachinhas sobre um caixão de madeira, derretia a goma arábica, com um pincel espalhava a goma sobre a folha e deixava secar. Esse processo fazia com que o selo pudesse ser colado no ingresso. Passava uma esponja umedecida sobre a goma arábica que tinha sido aplicada no verso do selo e ia colando sobre os ingressos. A entrada adquirida era dada ao porteiro no acesso ao cinema, ele rasgava o ingresso e depositava em uma urna ao seu lado, após encerrar o movimento da bilheteria o gerente do cinema, o Pedro Sacconi, dirigia-se a um corredor externo onde incinerava as entradas contidas na urna. Outra tarefa que eu fazia era levar a programação do cinema para ser publicada no Jornal de Piracicaba e no “O Diário”. Os filmes a serem exibidos eram declarados em um documento que tinha que ser levado á delegacia de polícia para o delegado autorizar a exibição.
Existiam filmes proibidos?
Sim! Principalmente quando surgiram os filmes italianos. Hoje temos consciência de que não havia motivo para que proibissem esses filmes. As cenas tidas como apimentadas hoje são vistas sem que atraiam a menor atenção.
O senhor lembra-se de algum filme que foi motivo de clamor público?
Um filme proibido para menores de 18 anos gerou um alvoroço em frente ao cinema. Chamava-se “Veneno Lento”, em preto e branco, abordava doenças venéreas, assemelhava-se a um documentário. O filme “Feitiço da Cigana”, que passou na mesma época, seguia uma linha mais ousada, deu muito que falar em Piracicaba. Ao classificar um filme proibido para menores de 18 anos era o mesmo que provocar uma corrida ao cinema. Todo mundo queria assistir!
Quem eram os proprietários da empresa J.B Andrade?
Dois sócios vinham a Piracicaba, o Seu Cantidio, que era negro, vinha trajando um capote, descia do trem na Estação da Paulista, onde apanhava um taxi indo até o cinema, descia usando chapéu, fumando um charuto, tudo muito chique. O outro sócio quando vinha fazia o mesmo roteiro de visitas, indo até a cidade de Limeira, lá também eram proprietários de um cinema. Mais tarde a J. B. Andrade passou a ser denominada como Cinemas do Interior de São Paulo. Às vezes o filme que estava passando em Rio Claro deveria ser trazido para ser projetado em Piracicaba, pelas vias normais isso iria demorar muito, o cinema alugava um taxi e alguém ia até Rio Claro, Limeira para buscar o filme.
Como eram acondicionados os filmes?
Era seis ou sete rolos, cada um dentro de uma lata, no formato de uma lata de goiabada, porém maior, essas latas eram acondicionadas dentro de uma lata maior. Lázaro José Gorga, o Zinho, era um radio técnico muito competente, no cinema tinha o cargo de operador, que era quem projetava o filme no cinema, todos os dias, geralmente a partir das 14 horas, ele ia até o cinema, abria a cabine onde havia duas máquinas de projeção, tirava os filmes das embalagens, examinava, deixando tudo em ordem para á noite projetar o filme. Seu auxiliar era José Stengler. No Broadway José Mafezzoli era o operador, seu auxiliar era o Romeu.
O público que freqüentava o Broadway era diferente do público que freqüentava o São José?
O São José era um cinema mais popular, tinha a galeria que era chamada de “geral”. O Broadway era freqüentado mais pela elite da cidade. Ainda menino eu subi no forro do São José, onde pegava pombas, coruja.
O senhor permanecia quanto tempo trabalhando no cinema?
Entrava às oito horas, almoçava em casa, e às quatro horas o escritório era fechado, os funcionários tinham que ir até suas casas, se arrumarem para voltarem á noite. O gerente do Broadway era Max Graner. Durante o dia os gerentes trabalhavam juntos no escritório onde eu trabalhava. Eram preparadas as caixinhas para os bilheteiros, já com as moedas para voltar o troco, havia o controle no número de ingressos a ser vendido, para não ocorrer o excesso de lotação.
Como era a divulgação do filme no cinema?
As fotografias dos filmes eram expostas no saguão do cinema, tanto do filme em cartaz como os que viriam a ser projetados. Ás quinta-feira tinha a “sessão das moças” onde eram projetados dois filmes. Na quarta ou na sexta feira eram projetados três filmes: um romântico, o seriado e o terceiro era um filme de ação ou terror.
O cinema tinha a famosa figura do lanterninha.
Também fui lanterninha! No dia em que faltava o funcionário que tinha essa função eu desempenhava esse papel. Só faltava eu levar a minha cama ao cinema! Eu estava o tempo todo lá. Com o farolete eu indicava o lugar onde a pessoa poderia sentar-se. Ao entrar na sala de projeção a pessoa fica cega, só enxerga a tela. As matinês do Cine São José eram famosas, quando eram apagadas as luzes as crianças batiam o pé no chão, parecia que o cinema iria vir abaixo. Os vendedores de balas circulavam oferecendo bala de café, bala de coco, e um pequeno cone de papel com amendoim dentro.
E quando quebrava a fita do filme?
As luzes eram acesas de uma forma quase instantânea. O operador raspava as duas pontas do filme, passava acetona e juntava-as, estava feita a emenda, às vezes nesse processo eram pulados alguns quadros. A projeção de um filme era feita sempre com duas máquinas de projeção, para cada uma delas havia uma pequena janela, através da qual se projetava o filme. Uma porta deslizante de ferro permitia que ao abrir uma das janelas a outra era simultaneamente fechada. Isso proporcionava que os seis ou sete rolos de filme fossem projetados sem intervalos, ao terminar o rolo de filme de uma máquina era dado o inicio no rolo de filme de outra, movimentando-se essa janela na troca de máquinas, essa movimentação tornava-se imperceptível á quem estava assistindo o filme.
Ocorria às vezes a troca da seqüência de filmes?
Quando isso acontecia era uma tremenda gritaria no cinema.
Qual foi o seu próximo emprego?
Fui trabalhar na Agencia Municipal de Estatística que pertencia ao IBGE, o agente era o Walter Geraldi. Funcionava no prédio que foi a antiga casa do Barão de Serra Negra, derrubada deu lugar ao estacionamento da Câmara Municipal, na esquina da Rua Alferes José Caetano com Rua São José. Nesse palacete havia um enorme porão, com um pé direito alto, podia-se entrar sem ter que se curvar. Foi lá que encontramos um livro de ata da Prefeitura Municipal, fato mencionado em meu livro. Lembro-me que no fim do recenseamento de 1950 após passar a noite toda trabalhando, às seis horas da manhã fomos comemorar o fim dos trabalhos no Bar do Banhara, situado próximo á Igreja São Benedito. Foi nessa época que fui fazer o serviço militar no Tiro de Guerra, as instruções era no Largo da Sorocabana, às vezes o sargento nos conduzia a um descampado onde foi edificado o Colégio Dom Bosco. Em uma madrugada escura acabei caindo em um enorme buraco, era uma das muitas fundações que estavam sendo feitas para ser erguido o prédio do Dom Bosco.
Onde o senhor trabalhou depois de deixar a agencia de estatística?
Fui trabalhar no IAPETEC, Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Empregados no Transporte de Cargas, naquele tempo cada ramo de atividade tinha o seu instituto de previdência. Entrei no IAPETEC em 13 de dezembro de 1951 permanecendo até 31 de maio de 1954, desempenhei as mais diversas funções dentro da instituição, afirmo sem falsa modéstia, com bom desempenho. O agente chamava-se José de Moraes. Eu tinha prestado concurso para ingressar no IAPI, Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Industriários, ele situava-se na Rua Governador quase esquina com Prudente de Moraes. Logo depois foi construído o prédio na Rua XV de Novembro, entre a Rua Boa Morte e a Governador Pedro de Toledo. Passei no concurso como escriturário datilógrafo, ingressei no dia 1 de junho de 1954 permanecendo até 24 de maio de 1982, quando me aposentei. Por 11 anos atendi ao público, era muito bem quisto pelos associados.
Como o senhor conheceu a sua esposa?
A minha esposa Madeleine Furlan Nascimento é bairro altense também! Morávamos próximos um do outro, ela trabalhava em uma oficina de alta costura, de certa forma já tínhamos notado um ao outro. A sua família era sócia do Clube Cristóvão Colombo, eu não era sócio, o Odilon Olivetto era meu amigo e conseguiu com que eu entrasse em um baile de carnaval, isso foi em 1952. A partir da segunda noite passamos a dançar. Em 8 de dezembro de 1955 o Monsenhor Martinho Salgot celebrou o nosso casamento realizado na Igreja Bom Jesus. Permanecemos casados até hoje.
Como surgiu o seu livro?
Há muito tempo senti o desejo de escrever sobre o bairro onde nasci, fui coletando e acumulando informações, fotos. Posso afirmar que 90% do conteúdo do livro é fruto da minha própria memória. A redação final do livro foi feita em dois anos e meio e menos seis quilos de peso que perdi nesse período.
Onde o senhor estudou a língua japonesa?
Foi no Clube Cultural e Recreativo Nipo-Brasileiro de Piracicaba, tive três professoras, sendo que recebi da professora Yeokiko Maeda o maior número de aulas.
Como surgiu a intenção de estudar japonês?
Sou uma pessoa que gosta de desafios!

sábado, dezembro 11, 2010

RICARDO ABE

JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 11 de dezembro de 2010
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
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ENTREVISTADO: RICARDO ABE
Os poetas que aclamam Piracicaba em prosa e verso inúmeras vezes citam a elevada cultura do seu povo. Quem não conhece a cidade em toda a sua abrangência pode até imaginar que a verve do artista é simpática a Noiva da Colina. O imenso manancial de cultura e conhecimento que Piracicaba acumula há muitas décadas fazem dela uma cidade muito especial, de capital importância no cenário brasileiro e mesmo mundial. Quem tiver curiosidade a respeito pode colecionar os inúmeros fatos relatados diariamente pela nossa mídia. Muitos desses elementos nós conhecemos pela constante exposição nos mais diversos meios de comunicação, outros preferem colocar a sua obra acima da imagem pessoal, para quem os conhece, e pode avaliar a sua importância, eles são verdadeiros gurus. Temos inúmeras pessoas nessas condições em Piracicaba, estão influenciando a história da humanidade aqui mesmo da nossa cidade. Ricardo Abe é uma dessas pessoas, que em sua simplicidade, como matemático têm realizado proezas, é consultado por mestres e doutores, não só do Brasil como do exterior. Seu pai foi oficial da marinha japonesa, Ricardo é um dos primeiros filhos de imigrantes japoneses a formar-se em curso superior, parece ter apontado a direção á milhares de outros jovens descendentes de japoneses que encontraram na carreira universitária a chave para o sucesso. Nascido em 15 de fevereiro de 1939, tem mais quatro irmãos: Antonio, Marisa, Fernando e Claudio. Casado com a professora Cecília é pai de três filhos: Marcelo, Verônica e Veridiana.
Qual motivo trouxe o seu pai ao Brasil?
Ele era de uma família de posses, em 1935 achou que o Japão poderia entrar em algum tipo de conflito, decidiu então imigrar para o nosso país. Trabalhou em São Paulo a principio no consulado do Japão, depois montou uma lavanderia na Rua Tabatinguera,
Em 1938 ele estabeleceu-se em Piracicaba, montou uma tinturaria na Rua Prudente de Moraes, onde hoje é a Câmara Municipal. Na esquina da Rua Prudente de Moraes com a Rua Alferes José Caetano morava o Santos Bueloni, que foi padrinho de batismo do meu irmão Antonio e da minha irmã Marisa, meu pai era xintoísta, minha mãe era budista, havia uma movimentação de religiosos, padres e freiras que procuravam incentivar o batismo do meu irmão, meu e da minha irmã. O meu padrinho de batismo foi o José Francêz. Nós três fomos registrados no consulado japonês, pelo meu pai, com o nome japonês: eu como Kionobo, o meu irmão Antonio como Kiotomo e a minha irmã Marisa como Kimico, os padrinhos de batismo se empenharam para que recebêssemos nomes próprios usuais no Brasil. Só depois de adulto é que fiquei sabendo que tinha sido registrado como Kionobo no consulado do Japão. Fomos fotografados pelo Lacorte, que deixou exposta á vista do público a fotografia de dois japonesinhos, a curiosidade do povo era em saber quem eram as duas crianças, não era comum fotos de crianças japonesas na cidade. Watanabe era casado com uma descendente de árabe, tinha um restaurante no centro, ao lado do Teatro Santo Estevão. Na época os japoneses estavam fixados na zona rural, eram raros os que moravam na zona urbana.
Onde o senhor iniciou seus estudos?
Fiz o primário no Grupo Escolar Barão do Rio Branco, o ginásio eu estudei no Colégio Dom Bosco, quando ele começou as suas atividades, funcionava no prédio situado na Rua Alferes José Caetano, ao lado da Igreja dos Frades, onde depois funcionou o Colégio Dr. Jorge Coury. Após certo tempo o primeiro pavimento do Colégio Dom Bosco foi construído no local onde até hoje funciona. Fui aluno da primeira turma do Dom Bosco, isso foi no ano de 1955. O diretor era o Padre Pietro Baron os padres Afonso, Brás, lecionavam, assim como os professores Cotrin, Monteiro. Fui estudar no Sud Mennucci, onde conclui o científico. Eu queria estudar matemática ou física, prestei vestibular na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Rio Claro, entrei e fui aluno da primeira turma, isso em 1959. Os professores do curso de matemática eram todos professores vindos do ITA. Existiam 20 vagas, apenas sete alunos entraram, tínhamos sete professores para sete alunos. Fiquei morando em Rio Claro, nessa época meu pai era proprietário de uma pastelaria, localizava-se na Praça da Catedral, ao lado da igreja, vizinho ao prédio onde atualmente funciona o Bistecão, havia o Bar Santa Terezinha, meu pai ocupava um pequeno espaço e com esse espaço ele me sustentou em Rio Claro, e o meu irmão na Faculdade de Odontologia. Até hoje o pastel do Abe é lembrado por quem os consumia.
O senhor sabe fazer pastel?
Sei! Outro dia fiz 400 pastéis em uma festa de confraternização que houve no edifício onde moro. Para fazer pastel é necessário apenas água, farinha e óleo. Só!
O senhor destacou-se em seus estudos na faculdade?
Fui monitor de um professor de física, chamava-se Heitor Gurgulino de Souza, que foi o primeiro reitor da Universidade Federal de São Carlos, reitor da Faculdade da UNESCO em Tóquio, Ele foi presidente do Conselho Federal de Educação. A faculdade pagava ao monitor um salário, eu morava em um apartamento no único prédio existente em Rio Claro, em frente ao Cine Variedades. Alugaram para nós pelo fato de sermos os primeiros estudantes universitários da cidade de Rio Claro. Éramos muito estimados pela população!
Quem mais morava nesse apartamento?
De Piracicaba eram cinco: Alceu Marozzi Righetto, Canarinho que veio a ser goleiro do XV de Piracicaba, Paulo Adão Monteiro, Rubens Ferreira de Amaral Mello. O Natalino Molfetta era de São Carlos. A estrada para Rio Claro era de terra, terrível, a viagem durava uma hora e meia, quando chovia era difícil, a viagem durava duas horas, duas horas e meia. O curso teve quatro anos de duração. Embora tenha feito o curso de matemática eu gostava muito do estudo da física. Um dia o Professor Heitor Gurgolino telefonou dizendo: “-Quero que você venha para os Estados Unidos, com a melhor bolsa deste país!”. Eu não podia ir, tinha perdido meu pai recentemente.
Como foi a sua relação com o estudo de física nuclear na USP?
Na época éramos poucos alunos, quem se destacava era imediatamente empregado. Quando me formei recebi sete empregos na mão, inclusive para lecionar no Instituto Tecnológico de Aeronáutica, o ITA. Escolhi o pior: pesquisador em física, eu tomava conta do laboratório de física e trabalhava com radioisótipos, nas férias íamos à Cidade Universitária, em São Paulo, utilizar o gerador de Van de Graaff (Máquina empregada em física nuclear para produzir as tensões muito elevadas necessárias em aceleradores de partículas). Além do Van de Graaff havia o Bétatron (Primeiro acelerador de partículas do Brasil) e o Reator Atômico. Isso foi entre 1961 a 1962, era um estudo avançadíssimo, só existia em São Paulo, eu ia fazer doutorado em Física Atômica Nuclear. Eles nos chamavam de Rio Claro porque em São Paulo não havia alunos de física. Eles queriam criar uma nova mentalidade na área de física. Permaneci nessa atividade até a morte do meu pai, quando tive que voltar á Piracicaba, retornando a estaca zero. Eu formado como professor e meu irmão formado como dentista, voltamos a trabalhar na pastelaria. Meu pai faleceu em março de 1963. Ainda estudante em Rio Claro todos os fins de semana eu permanecia trabalhando na pastelaria para o meu pai descansar.
A partir de quando o senhor passou a lecionar matemática?
Eu trabalhava na pastelaria, não sei como as escolas descobriram que eu era licenciado em matemática, os colégios começaram a insistir para que eu desse aula, em agosto de 1963 comecei a lecionar física e matemática no Colégio Piracicabano. No ano seguinte dei aula no Jorge Coury, Jerônimo Gallo, Piracicabano, Sud Mennucci e Dom Bosco. A Faculdade de Ciências Econômica, Contábeis e Administração de Empresas foi a primeira faculdade aberta pela UNIMEP, fui o primeiro professor a ser contratado para lecionar matemática. O diretor na época era Gustavo Jacques Dias Alvim, dei aula na UNIMEP por 43 anos. Na UNIMEP fui diretor da Faculdade de Ciências Exatas, em 1979 fui convidado a assumir temporariamente a administração da Faculdade de Engenharia no campus de Santa Barbara D`Oeste, permanecendo inicialmente por três anos como diretor, consegui montar um laboratório perfeito e uma biblioteca técnica de alto nível, sempre trabalhei muito com o apoio dos alunos..
Quando o senhor iniciou suas aulas na Escola de Engenharia de Piracicaba, a EEP?
O curso de engenharia foi iniciado em 1968, em 1969 entrei para dar aulas de Cálculo II, matéria que permaneci lecionando até 2001. Fui diretor da Escola de Engenharia de Piracicaba de 1986 a 1989. O Secretario da Educação era José Aristodemo Pinotti, consegui que ele transferisse os equipamentos que estavam na Escola Industrial, cerca de quarenta tornos, que foram colocados aos cuidados da EEP. Estabeleci regras para estágios dos estudantes com excelente aproveitamento prático junto a grandes indústrias. Um aluno de engenharia civil e um aluno de engenharia mecânica eram levados pela Petrobras para estagio. Visitava com os alunos e tinha convênios com empresas como Volkswagen, Ford, Philips, Embraer, Bosch. Sempre fui um diretor participativo, não era diretor de gabinete. Empresas que só recebiam alunos da Politécnica abriram as portas para os alunos da EEP.
O que significa a matemática para o senhor?
O grande problema da matemática é que se diz para decorar as suas fórmulas. Sempre falo, não é para decorar nenhuma fórmula! A matemática não é fórmula você tem que saber o que está fazendo. Não é preciso decorar a fórmula para resolver um problema. No antigo primário estudava-se matemática com aritmética, é uma escola francesa. Para estudar matemática tinha que raciocinar. Com a revolução de 1964 começou a entrar os americanos, que são práticos, No Brasil dispensou-se a escola francesa e permaneceu a escola americana. Esse foi o grande erro cometido no ensino da matemática. Estudar matemática era gostoso porque se pensava. Atualmente as faculdades não preparam os alunos em matemática. O matemático clássico conhece tudo a respeito de matemática, mas, se perguntar onde poderá ser aplicada, ele não saberá responder. A matemática serve para quantificar qualquer tipo de fenômeno físico, químico, biológico, consegue-se determinar uma fórmula para cada situação.
O senhor tem um profundo conhecimento de matemática!
Na matemática não se descobre mais nada! O teorema de Fermat faz 350 anos que foi formulado por ele e ninguém conseguiu provar até agora, ninguém consegue, ficam 40 a 50 anos trabalhando para demonstrar o teorema e ninguém conseguiu. A única coisa que pode ocorrer é quando surge um ramo de uma ciencia, a função da matemática é estudar e quantificar, reduzir a uma fórmula; se for um fenomeno fisico de astronomia tem que se conhecer astronomia.
A informatica ajudou muito o estudo da matemática?
Qualquer coisa que você necessitar da matemática está na internet. De vez em quando surge algum problema, um ex-aluno meu dá aulas particulares, esses dias ele me procurou, um dos seus alunos trouxe um problema de matemática para o qual ele não está encontrando solução. Resolvi na hora geométricamente, não preciso de fórmula matemática.
O senhor recebe consultas do Brasil todo?
Tem muita gente que me consulta, são problemas classicos que não estão no livro. Uma empresa de engenharia de Minas Gerais me consultou a respeito do cálculo de uma ponte. Há professores de universidades de São Paulo que foram meus alunos muitas vezes me consultam. As vezes um professor de concreto afirma que determinada fórmula ditada pela norma técnica deve ser aplicada, se um aluno pergunta como se deduz aquela fórmula ele não saberá responder, ele a recebeu já pronta. Nessa hora esse professor me telefona perguntando como se deduz aquela fórmula. Mando a resposta por e-mail.É natural fazer isso na matemática. As normas tecnicas de engenhria mudaram, antigamente vinham muitas normas prontas, agora as normas tem dedução de tudo. Recebi uma consulta de uma empresa que estava vendendo casas financiadas, de acordo com uma tabela apresentada os compradores teriam suas casas após determinado tempo, fiz os cálculos, cheguei a conclusão de que usando aquela tabela nunca ninguém iria receber nenhuma casa mediante as parcelas que estavam pagando.
Foi desconhecimento ou proposital?
Foi proposital. A empresa encerrou suas atividades. Toda tabela tem uma lógica, se contrariar a lógica está errada. Quando o homem quer manipular ele manipula. Contabilidade é matemática.
O senhor tem alguma relação com a Nasa?
Eu não, quem tinha era o meu professor Nelson Onuchic que dava acessoria para a NASA, eu trabalhava com ele,era seu aluno, aprendi com ele em pós graduação sobre a estabilidade das soluções das equações diferenciais.
Tanto o senhor como seu irmão foram os primeiros descendes de japoneses de Piracicaba que seguiram a carreira universitária?
O fato do meu pai ter sido oficial da marinha japonesa influenciou bastante na sua maneira de pensar, ele dizia que todos os seus filhos deveriam estudar, escolher a profissão que desejassem. O Komatsu que tinha pastelaria em frente a estação de trem, queria que todos os filhos fizessem medicina, três formaram-se médicos. O Natálio Komatsu foi o primeiro descendente de japonês de Piracicaba a diplomar-se em um curso superior, em seguida fomos meu irmão e eu, e depois o Francisco Komatsu. Na época havia uma tendência na colônia japonesa do jovem trabalhar duro na lavoura, nós como estudantes universitários éramos vistos com alguma reserva, uma espécie de bon vivant! Com o passar dos anos reconheceu-se a importância de uma profissão com solida formação universitária.
O seu irmão Antonio jogou no Unidos Futebol Club, de Piracicaba, o senhor jogava futebol?
Eu não jogava futebol, de vez em quando jogava no gol, aos nove anos de idade pesava 80 quilos! Hoje peso 62 quilos!
O senhor pratica algum esporte?
Gosto muito de caminhar, perdi oito quilos nos últimos meses caminhando e diminuindo o sal e o açúcar da alimentação.
Qual assunto aborda o livro que o senhor está escrevendo?
É um livro de matemática aplicada, estou com 1.200 páginas já escritas. Há duas editoras com interesse nele.

JOSÉ RIVADÁVIA SALVADOR (RIVA)

JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Quinta feira, 09 de dezembro de 2010
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
ENTREVISTADO: JOSÉ RIVADÁVIA SALVADOR (RIVA).
Uma vida de glamour, uma festa quase contínua, ambientes com pessoas interessantes, conversas agradabilíssimas, uma existência de sonhos, privilégios de reis, imperadores, milionários, nobres, estadistas, industriais, artistas. Alguns profissionais freqüentam esse ambiente a trabalho, entre eles está um muito especial, cuja função é registrar todos os detalhes do evento, usando palavras e imagens, irá perpetuar a lembrança de algumas horas em que aquele grupo de pessoas esteve reunido. Seu trabalho é o de cronista social, deve ser de cunho jornalístico, informativo. Alguns perdem suas próprias referencias e descambam para um dos caminhos que despertam a ira dos socialites: a odiosa fofoca. Manter a conduta integra é o principio básico de quem se aventura a fazer a crônica social. Um mestre no assunto surgiu de forma espontânea, natural. Não teve a necessidade de apresentar-se á sociedade, ele já pertencia a ela. Com seu jeito simples e elegante conquista facilmente a simpatia de qualquer interlocutor. Não se jacta de suas amizades, pelo contrário, tem o que é essencial ao cronista social que se preze: é discreto! José Rivadávia Salvador, o Riva, é um documentarista dos eventos que ocorrem em nossa cidade. Nascido em Piracicaba a 29 de março de 1957, casado, é pai do médico Rafael Salvador. Riva relembra os tempos em que muitos jovens tinham como lazer reunirem-se a noite na Praça da Catedral, nas imediações da famosa lanchonete Daytona. Embalados por um papo animado, o assunto era sempre sobre as “maquinas” que possuíam época em que se sentia prazer sem a necessidade de alimentar os ânimos com qualquer estimulo além da adrenalina própria da idade.
Rivadávia é sobrenome?
É parte do meu nome, ouvi uma história de que o meu pai conheceu um detetive da policia de Piracicaba, que se tornou seu grande amigo. O nome desse policial era Rivadávia, em sua homenagem meu pai colocou-me esse nome.
Como foi a infância do cronista Riva?
Não guardo nenhuma lembrança do meu pai, ele faleceu quando eu tinha apenas 11 meses, meus irmãos tinham quatro e sete anos a minha mãe ficou viúva com três filhos para criar, com muita determinação ela venceu as dificuldades, trabalhando nos serviços mais humildes, como lavadeira, faxineira, passadeira, nós moramos na Rua Moraes Barros, quase esquina com a Rua Bernardino de Campos, em um imóvel que oferecia condições precárias de uso. Aos oito anos eu comecei a trabalhar entregando medicamentos para os clientes da Farmácia Bom Jesus de propriedade do meu tio José Maria Pereira Campos, no inicio entregava a pé, quando cresci um pouco ele adquiriu uma bicicleta para que eu fizesse as entregas, permaneci lá até meus 15 anos.
Onde foram feitos seus estudos?
Entrei no Colégio Dom Bosco aos sete anos de idade onde permaneci até concluir o curso ginasial. De lá fui estudar no Sud Mennucci, indo fazer o curso de contabilidade na Escola de Contabilidade Cristóvão Colombo.
Lembra-se do nome de alguns dos padres que faziam parte do Colégio Dom Bosco no período em que você estudou lá?
Lembro-me do Padre Bolinha, Padre Luiz, Padre Bordignon (Padre Luiz Ignácio Bordignon Fernandes era muito dedicado aos esportes em geral, estava sempre por dentro de todos eles; entendia e sabia tudo sobre campeonatos; olimpíadas; torneios; classificações; favoritos; lanternas). Não tínhamos as facilidades que hoje existe para a prática de esportes, o Colégio Dom Bosco oferecia diversas opções de esportes, era o quintal da nossa casa.
Em algum momento você sentiu-se tentado a seguir a carreira eclesiástica?
Nunca, aos 15 anos tive vontade de ser jogador de futebol, sempre fui corintiano, meu ídolo na época era o Rivelino. Aos 16 anos eu era o quarto goleiro do XV de Novembro de Piracicaba, eu e o Florindo fizemos teste e fomos aprovados para jogar no Santos que tinha a orientação técnica do Formiga e do Olavo. O presidente do XV de Novembro na época era Romeu Ítalo Rípoli, as negociações entre ele e o Santos resultaram na nossa permanência no XV de Piracicaba.
Após a farmácia onde você foi trabalhar?
Aos 18 anos passei a trabalhar como promotor de vendas da Gessy Lever, passando a seguir a exercer a função de vendedor. Aos 21 anos me casei.
Como você conheceu a sua esposa?
A praça em frente a catedral era aberta ao transito de veículos, a noite estacionávamos os nossos carros ali e ficávamos conversando. Em uma dessas noites ela passou me senti atraído e decidi seguir em frente. Estamos casados já há 33 anos.
Os jovens que se reuniam para bater papo formavam um grupo muito animado?
Entre esses jovens estavam o Junior Benetton, Jô Aroco, Abrahão, Zé Português, Nuno, não ingeríamos bebidas alcoólicas, não havia drogas, bebíamos refrigerantes. Gostávamos muito de nos reunirmos para conversarmos, ir conhecer alguma cidade próxima. Uma das nossas ações mais ousadas foi quando abriu a Estrada do Açúcar, íamos com nossos carros para acelerar um pouco mais, não fazíamos nenhuma loucura. Graças a Deus nunca ninguém sofreu algum tipo de acidente nesses nossos passeios. As nove horas da noite encostávamos os carros na praça, ficava bonito, era um grupo de uns vinte jovens. As pessoas paravam para ver. Existiam outros grupos, inclusive de jovens com poder aquisitivo maior, não havia rivalidades entre nós. Nunca tivemos uma briga. Gostávamos da vida! De carros bonitos! Rebaixávamos o motor, colocávamos a famosa roda “tala larga”. Eu tinha um Fusca 1300 troquei o motor por um 2000. Na época o som era TKR ou Roadstar, colocávamos auto falantes 6 por 9, twitter, vidro Ray Ban, degradê, conta giros, volante esporte de madeira, banco retrátil, fone de ouvido, o painel parecia de avião! Gastávamos dinheiro com o que nos dava prazer: o carro! Com 18 anos adquiri o meu primeiro carro financiado em 36 meses, um Fusca.
Qual era a cor desse Fusca?
Esse foi o problema! Eu já estava trabalhando, com um bom salário, fissurado pelo carro, fui até a União de Veículos, o proprietário era Max Weiser, só tinha a cor verde-abacate, acabei adquirindo! O difícil foi o dia em que resolvi vender esse carro!
Após se casar a sua freqüência á Praça da Catedral diminuiu?
Com as responsabilidades de pai de família surgiram novas obrigações. Fui trabalhar em uma empresa familiar que produzia painéis de comando para usinas de açúcar, onde permaneci por muitos anos.
Com que idade você foi cursar Direito?
Com 48 anos fui fazer Direito, que é uma área que sempre gostei, dentro da classe éramos cinco alunos mais maduros convivendo com jovens de até 17 anos. Estabeleceu-se uma relação muito saudável, eles se apegaram a gente como um irmão mais velho, ou mesmo um pai, me senti muito estimado.
Há muitos anos você está integrado a chamada alta sociedade de Piracicaba, como se deu esse acesso?
Aos 24 anos tornei-me sócio do Clube de Campo de Piracicaba, o Aljovil Martini, o Jova, tinha assumido a presidência do clube, sempre gostei da parte social, aos 26 anos fui diretor social do clube, foi na época em que Antonio Lazaro Aprilante foi presidente do clube, a diretoria era composta por Marco Aurélio Nassif, Lastória, Gordinho, Nivaldo Pizzinatto, Celsinho Coelho, Joaquim Fernando. O Aprilante conseguiu constituir uma equipe que trabalhou muito e deu grandes resultados para o Clube de Campo de Piracicaba. Como diretor social eu trouxe Cauby Peixoto, o pessoal da Jovem Guarda a Wanderléia, Jerry Adriani, Os Vips, Golden Boys, Rosemery. Na história do Clube de Campo nunca havia tido um baile de debutantes, consegui fazer dois bailes de debutantes. Há 30 anos sou conselheiro do Clube de Campo. Atualmente os clubes estão enfatizando muito a parte esportiva, eu acho que a parte social não deve ter a sua importância diminuída, ela agrega muito para o clube. Piracicaba é uma cidade que não oferece muitas opções ás pessoas com cinqüenta e poucos anos de idade. Há uma lacuna nessa faixa etária, isso não ocorre em Campinas ou São Paulo.
Há um fenômeno ocorrendo em quase todo país, a redução de freqüentadores de clubes sociais, o que tem tirado os associados dos clubes?
É a oferta de lazer que ele tem em sua própria casa. Antigamente não se ouvia falar em condomínio fechado.
O condomínio fechado é uma nova leitura do conceito de vila existente antigamente?
Condomínio fechado é uma vila de luxo! Essa população tem em seus domínios a sua piscina, churrasqueira, muitos têm quadra de tênis, campo de futebol, é lá que ele reúne seus amigos aos finais de semana. Dentro da sua casa há uma privacidade maior, o fator deslocamento também pesa.
Isso determina um isolamento do individuo?
Se observarmos, há uma tendência das pessoas isolarem-se, por diversos motivos, a violência urbana é um deles, o fato da pessoa ter um veiculo com qualidades que se destaquem, ou possuir um patrimônio mais valioso, poderá colocá-la á mercê de atos de violência, em razão disso há pessoas que declinam de estar em evidência.
Há quanto tempo você apresenta uma pagina publicada pela Tribuna Piracicabana?
Após seis meses de laboratório em 1 de dezembro de 2004 passei a publicar a página com regularidade, ela está completando seis anos. Hoje faço quatro páginas coloridas todas as semanas.
Como surgiu a idéia de fazer essa página?
O meu mandato como diretor social do Clube de Campo de Piracicaba tinha terminado o Gabriel Elias, que é uma pessoa que prezo muito, disse-me: “Você conhece tanta gente, que tal fazer uma pagina social na Tribuna Piracicabana? Eu conheço o diretor Evaldo Vicente, sei que ele irá aprovar o projeto!”. Respondi ao Gabriel: “- Não é a minha praia, nunca fiz isso, gosto de ir a festas e não de trabalhar nelas!” Eu gostava de sair em coluna social!
Quando você viu a sua primeira página publicada qual foi a sua reação?
Guardo comigo essa página. O prefeito Barjas Negri estava em campanha, o registro foi de um evento que aconteceu na Churrascaria Beira Rio, entre outros estavam presentes Barjas Negri, Paulo Skaff, Tarcisio Mascarin, ao ver a página impressa pela primeira vez tive uma sensação muito gostosa, de estar realizando algo interessante. Tive alegria e temor ao mesmo tempo, fazer o registro de um acontecimento social exige muita habilidade e experiência, há pessoas que são avessas a qualquer tipo de divulgação, a privacidade deve ser respeitada. Fazer cobertura de festas é uma coisa, fofocar sobre pessoas é outra coisa.
Pescar noticia social em águas turvas traz popularidade, mas cobra um alto preço?
O meu trabalho é registrar o que acontece nos eventos, faço a parte social dos eventos, jamais irei invadir a privacidade de alguém. Sempre peço a autorização da pessoa para fotografá-la. O meu modo de ser é esse.
Quem são os principais colunistas sociais de Piracicaba?
Temos três jornais, a Meg, a Cileide Mascarin, no Jornal de Piracicaba, a Sabrina na Gazeta e eu na Tribuna, não existe uma rivalidade, são três jornais distintos, cada um com seu público, não há interesse em prejudicar ninguém.
Uma característica sua é ter sempre uma acompanhante?
Em todos os eventos dos quais participo vou acompanhado da minha esposa, se receber um convite em que não possa ir acompanhado dela deixo de ir ao evento.
Freqüentar festas com essa intensidade implica em ter uma autodisciplina alimentar ou corre-se o risco de ganhar muito peso?
Estou com ótimo preparo físico!
Em média quantas fotos você tira por evento?
De 50 a 60 fotos.
Quem é o famoso arroz de festa?
Sempre iremos encontrar na maioria dos eventos com determinadas pessoas, naturalmente elas são convidadas a uma maioria de eventos. Há um grupo que eu não denomino de arroz de festa e sim de pessoas que prestigiam os eventos a que são convidadas. Existem pessoas que gostam de estar presentes em festas, da mesma forma que há aquelas que fogem de qualquer tipo de evento.
Quem é mais vaidoso o homem ou a mulher?
A mulher é mais vaidosa, mas houve uma mudança de costumes muito grande, quando o homem é vaidoso ele se acha muito mais bonito do que a mulher, é o famoso “pavão”.
Como você vê a sociedade piracicabana?
Rotulo a cidade como muito provinciana. Lógico que há alguma mudança, quem era uma criança há 30 anos hoje participa da sociedade. Casava-se com vinte anos, hoje casa-se com 30 anos ou mais. A vinda da Hyundai a Piracicaba trará consigo de quatro a seis mil novas famílias. A sociedade piracicabana nos últimos 10 anos mudou bastante. Atualmente as pessoas são mais retraídas, não desejam publicidade pessoal.
Você tem algum ídolo?
Deus é o meu maior ídolo. Depois dele o meu filho.
Qual é seu prato preferido?
Costela bovina
Bebida?
Cerveja
Fumante?
Sim
Carro preferido?
Honda
Cor?
Preta
Traje predileto?
Social
Musica?
Romântica
Time de futebol?
Corinthians e XV de Novembro de Piracicaba
Religião?
Católica
Esporte predileto?
Futebol
Perfume?
Escada
Ator preferido?
Lima Duarte
Atriz?
Fernanda Montenegro
Livro de cabeceira?
O Evangelho Segundo o Espiritismo
País que deseja visitar?
Rever Portugal.
Melhor jogador de futebol hoje?
Ronaldo do Corinthians

ALTINO JORGE VIEIRA

JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
Sábado 04 de dezembro de 2010
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/

ENTREVISTADO: ALTINO JORGE VIEIRA
Em um dos cursos de fotografia promovido pela Fuji Photo Film do Brasil um dos participantes perguntou ao renomado professor que ministrava as aulas: “-Qual máquina o senhor considera como a melhor para realizarmos fotografias?”. Imediatamente ele respondeu: “- O fotógrafo com sua sensibilidade e suas habilidades é quem define a importância e a qualidade da fotografia, nem sempre o equipamento mais avançado irá representar o melhor trabalho fotográfico, portanto a melhor “maquina” é o indivíduo que opera a câmera fotográfica”. Altino Jorge Vieira é uma das figuras mais populares de Piracicaba Ainda estudante foi um dos comandantes da famosa Fanfarra do Industrial, que deu muitas alegrias á Piracicaba, tocando no Maracanã por ocasião do IV Centenário da Cidade Maravilhosa. Como fotógrafo trabalhou em um período de grandes mudanças no campo da fotografia, retratou os eventos mais importantes de Piracicaba. O arquivo fotográfico que Jorge mantinha em seu estúdio foi inutilizado após uma forte chuva, que reduziu a lixo a quase totalidade do seu acervo pessoal, uma perda inestimável para ele e para Piracicaba. Jorge teve uma foto sua publicada ocupando metade da primeira página do jornal “Estado de São Paulo”, foi na queda do Comurba. Teve intensa participação junto ao Clube Ítalo Brasileiro, desde o seu surgimento até o encerramento de suas atividades. Nascido em Piracicaba no dia 23 de junho de 1940, na Rua Riachuelo, seu pai era o português Altino Vieira, que aos 19 anos aportou no Brasil, sua mãe é a piracicabana Valdomira Ferraz Vieira, eles tiveram seis filhos, sendo que dois faleceram ainda muito novos. Os filhos que permaneceram vivos são: Antonio, José, Altino Jorge e Manoel. Jorge casou-se com Antonia Lazara Di Bene, sendo pai de dois filhos a Ana Lucia e o Jorge Paulo.
Como se deu a vinda do seu pai á Piracicaba?
Meu pai morou em São Paulo e no Rio de Janeiro, até que a Light começou a implantar os bondes em Piracicaba, ele era chefe de turma dos eletricistas, radicando-se em Piracicaba, tendo contraído matrimonio com a minha mãe ele foi chefiar o setor de eletricidade do Engenho Central, onde se aposentou.
Em que escolas você realizou os seus estudos?
O primário eu estudei no Grupo Escolar Dr. João Conceição que na época funcionava ao lado da Igreja dos Frades, em um prédio que existe até hoje, lembro-me das professoras Dona Maria, Dona Elvira, do professor Conca, do diretor, o Professor Negri. Na época eu morava na Rua do Rosário, na altura do número 1700, cheguei a ver a Rua do Rosário receber o asfalto, uma inovação que na época foi muito desfrutada pela criançada com seus carrinhos de rolimã, algo hoje impensável! O Bairro da Paulista era em grande parte ocupado por plantação de algodão. Na Rua Riachuelo havia até a bem pouco tempo a famosa Chácara do Vevé, a Rua Riachuelo terminava onde começava a chácara, um recinto de milionários. Cheguei a jogar futebol nessa chácara, minha posição era de half direito, o time era o Juvenil Riachuelo. O médico José Francisco Botelho, neto dos proprietários da chácara, era praticamente o dono do time. Eu cheguei a jogar contra o Coutinho (José Wilson Honório, nascido em Piracicaba a 11 de junho de 1946, foi um dos jogadores da Era Pelé do Santos, com quem fazia as célebres tabelinhas.). Onde hoje é o SESC era parte da Chácara do Vevé, assim como a área de lazer logo adiante.
Você freqüentava a Igreja dos Frades?
Cheguei a ser mariano, cordigero. Havia a projeção de filmes em um salão junto à igreja. Sempre tive facilidade em me comunicar, o grande violonista Antonio Carlos Coimbra estudava na minha classe, na festinha de quarto ano primário fui o apresentador e o Antonio Carlos com o violão se apresentou. Isso ficou em minha memória. O pai dele, o Miguelzinho, tocava muito bem violão. O ginásio eu fui estudar no Instituto Piracicabano, no Colégio Industrial conclui os meus estudos formando-me como técnico em Desenho Mecânico. Um dos motivos que me levou a estudar no Industrial era a Banda Marcial existente naquela escola. Além de participar fui um dos dirigentes, dos grandes amigos que encontrei lá um deles foi o professor Danilo Sancinetti. Nessa época, aos 17 anos, eu estudava a noite e trabalhava durante o dia na Casa Bischof , foi o inicio do meu trabalho com fotografia.
Na Banda Marcial da Escola Industrial que instrumento você tocava?
Comecei tocando o bumbo, eu ia á frente da banda, fazendo as evoluções. Ocorreu um episódio interessante, Paulo Clarício, Danilo Sancinetti e eu, acompanhando a Banda Marcial da Escola Industrial fomos a um concurso de bandas em São Paulo, o nosso uniforme era muito simples, a representação da cidade de Jaú deu um tremendo show. Ao voltarmos á Piracicaba, disse ao Danilo que deveríamos fazer uma campanha para arrecadar dinheiro e confeccionar um uniforme para a nossa banda. A nossa banda era muito querida, todos os grandes eventos cívicos que ocorriam na cidade eram efusivamente comemorados com a participação da Banda Marcial da Escola Industrial. Nessa época eu já fotografava os eventos, usava uma câmera Rolleiflex. O Comendador Antonio Romano foi quem deu-nos o empurrão inicial para a aquisição do uniforme. Reunimos um pequeno grupo e expusemos ao comendador o nosso plano, queríamos comprar um automóvel para sortear, com o dinheiro arrecadado pagaríamos o carro e empregaríamos o lucro na compra de 90 uniformes de gala, completos, para 90 pessoas, era caríssimo. A alfaiataria que fazia esse tipo de uniforme localizava-se na cidade de Jaú, tudo feito sob medida para cada integrante da banda. A Silvia Hage era nossa baliza, mais tarde ela foi eleita Miss São Paulo. O Comendador Antonio Romano disse que poderíamos adquirir o carro que ele avalizava a aquisição. O carro da época era o Gordini! Onde hoje é o Bradesco, na Praça José Bonifácio, era o Cine Politeama, havia um hall na entrada do cinema, conseguimos expor ali o Gordini que seria rifado. Com o uniforme da Banda Marcial revezávamo-nos oferecendo a rifa. A aceitação por parte do povo piracicabano foi tão grande que em uma semana vendemos todos os números, a nossa previsão era para serem vendidos no prazo de um mês. Devolvemos o dinheiro para o Comendador Antonio Romano. Ele doou do seu próprio bolso um valor adicional, assim como o Comendador Mário Dedini e o Comendador Luciano Guidotti também fizeram doações pessoais. Com essas arrecadações confeccionamos um uniforme muito garboso, lembrava muito o uniforme do soldado da rainha da Inglaterra. Foi feita uma grande apresentação em Piracicaba para apresentar o uniforme á cidade. Apresentamo-nos em São Paulo, tínhamos um toque muito bonito, que incluía marcha de banda, mas incluía também musica popular. Os concursos realizados no Vale do Anhangabaú apresentavam 40 a 50 bandas, eram enormes. A comissão julgadora era composta por militares de alta patente, o próprio governador Adhemar de Barros assistiu nossos desfiles. Quando a nossa banda entrou, arrasou. Isso foi em 1963. Apareceram convites de muitas cidades para que fossemos nos apresentar aos seus moradores. Viajamos por mais de 40 cidades. Lotávamos três ônibus. A televisão transmitia os desfiles do Vale do Anhangabaú. Com isso alcançamos uma repercussão muito grande.
Como era a composição da Banda Marcial do Colégio Industrial?
Á frente ia a baliza, em seguida três harpas, umas três porta bandeiras, duas fileiras com quatro bumbos cada uma, em seguida vinham 10 surdos, umas 20 tarolas, em seguida os instrumentos de sopro, incluindo dois trombones, totalizando 90 pessoas. Era uma coisa maravilhosa. Em 1964 houve os Jogos Mundiais da Primavera no Rio de Janeiro, foi realizado no Maracanã. Estivemos lá, tocando ao lado da famosa Banda dos Fuzileiros Navais, por ocasião do IV Centenário do Rio de Janeiro, o governador Carlos Lacerda foi nosso anfitrião.
O que determinou o fim da Banda Marcial da Escola Industrial?
É difícil afirmar especificamente o que aconteceu. Por mais de 10 anos tivemos muito sucesso em todos os lugares em que nos apresentamos. Participávamos de muitos concursos entre bandas, lembro-me de um concurso em Araraquara onde de 10 troféus conquistamos sete! Ganhávamos troféu de melhor apresentação, melhor repertório, ritmo, e assim sucessivamente.
Como era o ensaio?
Ensaiávamos uma vez por semana, na rua próxima a Escola Industrial, também no local onde atualmente é a Biblioteca Municipal. O evento que você imaginar era abrilhantado pela banda, até mesmo no sepultamento do Comendador Mário Dedini, nós executamos a marcha fúnebre. Quando éramos convidados a tocar em outras cidades era comum sermos a última banda a tocar para não desmotivar a platéia a assistir as demais, com apresentações inferiores a nossa. Nosso desfile em Piracicaba descia pela Rua Boa Morte, todo colégio tinha a sua fanfarra, nenhum fazia sombra para nós, embora o Colégio Dom Bosco, o Instituto Piracicabano e mais tarde o Jerônimo Gallo tivessem boas fanfarras.
Quando foi o momento em que se decidiu que não dava mais para continuar a existir a fanfarra do Colégio Industrial?
Não houve um momento determinante, com o passar do tempo os instrumentos foram deteriorando-se, os uniformes também foram gastando-se, quando o Danilo Sancinetti aposentou-se mudou a diretoria do Colégio Industrial, a escola então recolheu os instrumentos e hoje nem sei mais em que situação se encontra. Os jovens da época tomaram seus destinos, a nova geração infelizmente tem novas formas de ocupação de seu tempo, algumas até prejudiciais a sua educação.
As músicas eram tocadas de ouvido?
Exatamente, eram tocadas de ouvido, não líamos as notas musicais para serem executadas.
Quando foi despertado o seu interesse pela fotografia?
Na época as coisas eram um pouco diferentes do que é hoje, eu fiz amizade com os proprietários da Casa Bischof, situada na Rua Governador Pedro de Toledo, 1005, os proprietários eram o Rodolfo e o José Bischof. Eles tinham um laboratório de revelação de fotografias que o pai tinha construído e que estava sem ser utilizado. Nós só revelávamos fotografias em branco e preto, não existiam fotos coloridas. Os filmes eram revelados em tanques grandes com revelador, água e fixador. Havia o ampliador, mas usavam-se mais a copiadeira. “A parte mais difícil era após revelar, saber qual foto perterncia a quem”! Os filmes eram chapas grandes, 6 por 9, 6 por 6, com 8 e 12 fotos respectivamente.
As fotografias tinham quais motivos principais?
Eram fotografadas crianças, cães e gatos. Ninguém da família tirava fotos de eventos, se fizesse um aniversário era contratado um fotografo profissional, que na época eram poucos, isso em 1960. Na ocasião os fotógrafos de destaque eram o Lacorte, o Caprecci, o Filetti, o Cícero. Na Vila Rezende tinha o Mário Curvinha, ficava na segunda casa após a curva em que inicia a Avenida Rui Barbosa.
Você chegou a fotografar pessoas falecidas antes de serem sepultadas?
Muitas pessoas vindas de outras regiões do país tinham por costume guardar como lembrança a foto do rosto do falecido, principalmente se fossem crianças. Essas fotografias eram muito utilizadas para serem transpostas para a porcelana e colocadas nos túmulos. Houve um caso em Piracicaba que se tornou célebre, ocorreu com o Filetti, a pessoa veio de algum sítio da redondeza, procurou um fotografo para retratar o rosto da criança falecida, só que já era tarde, não dava mais para sepultar naquele dia. Foi quando o responsável pediu para deixar o corpo no estúdio até o dia seguinte. E assim foi feito. Em 1965 eu já era reconhecido como fotógrafo. Quase ninguém tinha máquina fotográfica. Assim como existia o médico da família, o barbeiro da família havia também o fotógrafo da família. A foto da capa do primeiro LP do Pedro Alexandrino foi feita por mim. Fui free-lance de “O Diário”. A foto da queda do Comurba, em 1964 aconteceu quando eu estava na porta do Bischof, ouvi o enorme barulho, meu irmão Antonio era proprietário da relojoaria Esmeralda, que era bem próxima ao Comurba, na hora pensei no que podia ter acontecido á ele. Graças a Deus ele estava no fundo da relojoaria. Pequei a minha máquina Yashica e tirei algumas fotos, não se tirava a quantidade de fotos que se tira hoje.
Como a sua fotografia foi ocupar metade da primeira página do “Estadão”?
O Rocha Netto foi um apaixonado por fotografia, era colaborador da Gazeta Esportiva. Ele disse-me: “- Jorge você tem alguma fotografia da queda do Comurba, o Estadão me ligou pedindo.”, foi então que lhe passei a fotografia que dias depois foi publicada na primeira página do jornal.
Você recebeu algum pagamento pela foto?
Não recebemos nada, naquele tempo não havia essa postura comercial como hoje. Ninguém se preocupava em ser remunerado por alguma foto interessante. Era um prazer ver uma foto de sua autoria ser publicada em um veiculo tão importante. Colaborei muito com a imprensa de Piracicaba, nunca cobrei nada, eu ganhava dinheiro fazendo fotografias de eventos. Tirei uma foto histórica, no dia em que o Presidente Emílio Garrastazu Médici veio a Piracicaba, fotografei quando ele descia a Rua Moraes Barros, a rua foi isolada e o fluxo de transito passou a ser na mão contraria para que o carro presidencial fizesse o percurso até o centro. Fotografei Ulisses Guimarães em Piracicaba, fotografei Janio Quadros em um jantar na Chácara Nazareth eu dei essas fotos para o Deputado Francisco Antonio Coelho.
Você mantém um arquivo de fotos e negativos?
Eu tinha um estúdio na Rua Benjamin Constant, 1123, as calhas do prédio eram antigas. No fundo havia um quarto, onde fiz uma prateleira, com umas 100 caixas de sapato onde eu colocava as fotos e os negativos, bem organizados. Em 1988 tivemos uns três dias de chuvas constantes, que transbordaram pelas calhas do meu estúdio sem que eu percebesse. Uns dias após ter cessado a chuva desci até um laboratório desativado que ficava no porão, fui surpreendido por sinais de água que vinham de cima. Abri a sala onde estava meu arquivo fotográfico e vi que estava tudo perdido. Chorei o dia todo.
Quando você entrou no Clube Ítalo Brasileiro?
Eu tinha uns 30 anos, entrei no Ítalo por acaso, a sede da Sociedade Italiana (Società Italiana di Muto Soccorso di Piracicaba) na Rua D.Pedro I, estava parada, de vez em quando os sócios faziam uma reunião. O Banzato era o zelador do prédio. O Walter que tinha como apelido Italianinho me procurou e disse que o seu pai queria movimentar o espaço. Foi formada uma diretoria, independente da diretoria e fundado o Clube Ítalo Brasileiro, que funcionava em espaço cedido pela Sociedade Italiana. Fomos agrupando pessoas interessadas, montamos algumas peças teatrais, onde inclusive atuei, a primeira delas foi a peça “O Mundo Não Me Quis” de Procópio Ferreira.. Aos poucos conquistamos mais espaço físico no prédio da Sociedade Italiana, passamos a realizar bailes, sendo que o primeiro baile do Hawai realizado em Piracicaba foi trazido por mim, que havia participado de uma festa semelhante em Jundiaí. O Professor Joaquim do Marco foi o primeiro presidente do Clube Ítalo Brasileiro, eu fui diretor social. Começamos com 100 associados, com o passar do tempo adquirimos a área onde seriam construídas as instalações do clube. A ferragem da primeira piscina foi doada por Armando Dedini, coube-lhe o título de associado número 007. Passamos a fazer festas já na sede do clube.
Porque os clubes sociais estão em declínio?
As atividades do Ítalo cessaram em 2008, chegamos a ter 2.200 sócios, ultimamente eram apenas 300 sócios. A família ia ao clube, o menino ia ao futebol, á piscina, ao boche, outros dançavam cada um se encontrava em uma ocupação. Atualmente o jovem não quer saber de ficar com a família.

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