sexta-feira, outubro 28, 2016

TONI CARDI

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 29 de outubro de 2016.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
ENTREVISTADO:  TONI CARDI


 O ator Irineu Antonino Travalini, o Toni Cardi revelação em antigas produções cinematográficas de faroeste conta que fez 28 filmes (longa-metragem), dirigidos por importantes diretores como Anselmo Duarte

                          Anselmo Duarte recebendo a Palma de Ouro em Cannes, 1962







                                                    José Mojica Marins (Zé do Caixão)




                                



Luiz Sérgio Person


                                                 Depoimentos sobre Luiz Sergio Person

                                                 Rretirados do documentário "Person" dirigido por Marina Person




Um filme sob a direção de Rafaelle Rossi com a participação de Toni Cardi



 José Mojica Marins (Zé do Caixão) Ozualdo Candeias, Luiz Sérgio Person, o italiano Rafaelle Rossi,




 Carlos Miranda, do seriado “O Vigilante Rodoviário” e “Águias de Fogo” (TV Tupi), entre outros. 


VIGILANTE RODOVIÁRIO



                      TONI CARDI CONTRACENANDO COM O VIGILANTE RODOVIÁRIO



Toni Cardi cita alguns filmes como “A Última Bala”,


  que filmou ao lado de nomes famosos como Pepita Rodrigues; quatro com Mazzaropi, “Jeca e a Freira”, “No Paraíso das Solteironas”, “Uma Pistola para Djeca” (paródia do Django) e o “Grande Xerife”.  


Entrevista com Amácio Mazzaropi


O Jeca e a Freira




Mazzaropi no Paraiso das Solteironas


                                                              Uma pistola para Djeca

Grande Xerife 

 Fez cinema do final de 1966 até a década de 80 e, nesse espaço de tempo, ainda atuou em cinco novelas da Tupi, “Hospital”, com direção de Walter Avancini; a primeira versão de “Mulheres de Areia”, com Eva Vilma; “Barba Azul”, também com a atriz, sob a direção de Carlos Zara; “Divinas e Maravilhosas”, fazendo par romântico com Nicete Bruno; e, na TV Record, “Depois do Vendaval”, sob a direção de Waldemar de Moraes. Ele ainda foi ator e diretor de diversas fotonovelas da revista “Melodias”, e depois entrou para o ramo imobiliário, profissão que atua até hoje.
Você nasceu em que cidade?
Nasci em Piracicaba, na época o bairro era conhecido como Bimboca, na Vila Rezende. Meu pai era oleiro, nasci a 10 de maio de 1943. Sou filho de Pedro Travalini e minha mãe era uma espanhola muito bonita, chamava-se Dolores Peinado, tiveram doze filhos, sendo que cinco faleceram ainda muito pequenos, ficaram sete filhos: Irineu, Irene, Iracema, Irivaldo, Lourdes, José Marcos e Claudete. Meu pai trabalhou muito, sempre procurando uma situação um pouco melhor, teve emprego em muitos lugares, meu pai fez treze mudanças. Ficou muitos anos em fazenda, tocando lavouras de todo tipo de plantação.
Em qual escola você iniciou seus estudos?
Nessa época, morávamos próximos a Usina Costa Pinto, foi em uma escola nessa localidade que eu estudei dali fui para o bairro Dois Córregos, em seguida fui para São Paulo. Em Barueri fiz o terceiro ano, o quarto ano eu estudei em Carapicuíba, na Rua da Palha.  Depois segui meus estudos, o colégio eu fiz na cidade de São João da Boa Vista onde fiz o Curso de Direito até o quarto ano.  No período em que fiquei em Piracicaba, vim da fazenda e fui trabalhar em uma oficina com o meu primo Antonio Travalini, conhecido como Toninho Cavalo, pelo seu porte físico avantajado, chamava-se Mecânica Bom Jesus. Era do Piacentini, Bernardino e do meu primo. Nessa oficina permaneci por seis anos e meio, dali eu fui para Campinas trabalhar na Clark Equipamentos, em seguida fui para a Aços Villares em São Paulo, como ferramenteiro, Trabalhei na General Motors, lutava judò pelo clube da empresa.. Vim para Piracicaba, eu namorava aqui, fui trabalhar na Dedini, onde eu ganhava menos da metade do que ganhava em São Paulo. Desisti, fui para o comércio. Nessa época eu namorava uma moça que foi Miss Piracicaba, Sidnéia de Oliveira, isso foi em 1968. Quem comandava o concurso era o deputado Francisco Antonio Coelho, o Coelhinho e Arquimedes Dutra. Eles me ligaram dizendo: “- Sua noiva será Miss Piracicaba!”.
A eleição dela foi muito interessante, por quê? 
Ela tinha um instituto de beleza na Rua XV de Novembro esquina com a Rua José Pinto de Almeida, ela foi contratada para maquiar as candidatas do concurso. O Coelhinho acompanhando o processo chamou o Arquimedes Dutra e disse-lhe: “- Professor! Olha a nossa miss aqui!”. De fato ela era muito bonita, tinha 1,78 metros de altura. Decidiram ali mesmo: “Você vai ser a nossa miss!” Nessa época eu já era ator de cinema. Tinha feito teatro. Trabalhei no que foi a coqueluche de uma época, que era a luta - livre. Em 1964 fui campeão paulista de judô, aos 21 anos.
Como surgiu o ator Toni Cardi?
Eu já fazia teatro, viajávamos com peças pelo Brasil, em uma dessas ocasiões estava com Roberto Mauro, que é piracicabano, ele disse-me: “-Tem um diretor italiano que vai fazer um filme, o Rafaelle Rossi. Ele tinha trabalhado como segundo assistente de direção do filme “El Cid” em Cinecitta. Fomos até onde poderíamos encontrar o Rafaelle, em São Paulo, na rua em que havia boates, fomos até a boate “La Vie en Rose”. A conversa tomou corpo, e acabamos fazendo, o filme  “O Homem Lobo”. Era um drama de um estudante que em noites de lua cheia se transformava em lobisomem. Viemos em Piracicaba filmar parte do filme. João Chaddad participou do filme.
Em que local de São Paulo você passou a residir?
Fiquei por 25 anos morando em um apartamento situado no Largo do Arouche, no Edifício Santa Elisa, em cima da Galeria do Arouche, próximo ao Gato Que Ri, La Casserole, Rubaiyat.  Eu tinha um Maverick, V-8, cheguei a ter cinco Maverick. O Luiz Aguiar morava no mesmo prédio. 
                                                                 La Casserole




                                                             O  GATO QUE RI

Como surgiu o nome artístico Toni Cardi ?
De Antonino, que é meu nome, surgiu o Toni, de um livro de Irving Wallace surgiu o sobrenome Cardi.
De quantas novelas você participou?
Participei de quatro novelas na TV Tupi e de uma novela na TV Record. Na Tupi fiz “Hospital” com Walter Avancini, a primeira versão de “Mulheres de Areia” com Eva Wilma. Com Eva Wilma, com direção de Carlos Zara, fiz “Barba Azul”; “Divinas e Maravilhosas” eu fazia um par romântico com Nicete Bruno. Fiz uma novela na Redord, fui dirigido por Waldemar de Moraes. Fiz uns 30 comerciais para a televisão, entre eles: “Café Caboclo e Açúcar União”; “Calças Dolza”; lançamento do avião “Bandeirantes”;  “Jogo de Cama, Mesa e Banho Calfat” com Jean Manzon; lançamento da perua “Belina”. Fiz fotonovelas na “Revista Melodias” cheguei a dirigir algumas fotonovelas.
Quantos filmes você fez no cinema?
Fiz 28, se fosse nos Estados Unidos ou Cinecitta eu estaria milionário!
Atualmente você continua trabalhando?
Desde quando atuava em cinema eu já era corretor imobiliário, é a atividade que realizo atualmente. Tive uma empresa, a MIC Empreendimentos, fiz uns 20 e poucos loteamentos, depois comecei a prestar serviços. No total hoje tenho em minha atuação uns 230 loteamentos.
Foi a área que deu um retorno financeiro melhor?
O ator vive da sua imagem, tem que procurar ganhar bem para vender uma bela imagem, isso custa caro, boas roupas, bons carros, freqüentar grandes restaurantes: Gigetto, Eduardo`s, Os Vickings, eram os grandes restaurantes na época. Só consegui guardar um pouco de dinheiro quando me casei. Namorei dez anos e meio. Casei-me com uma paulistana, em 1975, meu sogro foi comandante da Polícia Militar em Piracicaba. 
Qual é o nome da noiva com quem você se casou?
É Sidnéia de Oliveira, tivemos quatro filhos: Rodolfo, Magno, Natasha e Willian.
O seu ingresso na Luta Livre como se deu?
Aos 14 anos eu comecei no judô. Em cima do cinema Polyteama, em Piracicaba, havia a academia de judô, era do Peixinho, campeão paulista, se não me engano sul-americano também. Na Rua Riachuelo o Zezinho Marafon fazia luta livre jiu-jitsu.
Como você conheceu Amácio Mazzaropi?
O Mazzaropi me conheceu! Eu estava na escadaria da TV Tupi conversando com a artista Nadia Tel, o diretor de elenco Aldo Cezar, nisso parou um carro Impala, o Aldo disse: “ Olha o Mazzaropi chegando!”. Uma pessoa desceu d carro, apresentou-se como sendo Roberto Pirillo, perguntou o meu nome, se eu era ator, disse que o Mazzaropi queria falar comigo, se eu podia ir até o carro para conversar. Cheguei junto ao carro, na frente estava o Carlos Garcia que fazia os filmes dele, o Mazzaropi abriu o vidro traseiro, apresentei-me, perguntou-me se eu montava cavalo, disse-lhe que era uma das minhas especialidades, perguntou-me se conhecia alguma coisa de luta, respondi-lhe que era faixa preta de judô e fazia luta - livre na televisão de vez em quando na então Excelsior Canal 9, Edson “Bolinha” Coury era o apresentador.
                                                           Edson “Bolinha” Coury
                                                   
Foi quando o Mazzaropi disse que ia fazer um filme e estava precisando de um ator com as minhas características. Ele então me deu um cartão do seu escritório, PAM Fimes- Produções Amácio Mazzaropi, que ficava em cima do Cine Paissandu. Disse-me para ir no dia seguinte até o seu escritório as nove horas da manhã.
Você foi?
No dia seguinte, cheguei ao escritório ele já estava me esperando junto com Abílio de Souza que ia dirigir o filme na época. Fui contratado na hora, ele perguntou-me se tinha pratica em produção de cinema, disse que tinha acabado de fazer a produção do filme que tinha terminado naqueles dias. No dia seguinte viajamos para Taubaté onde era o estúdio do Mazzaropi, fiz a produção e atuei em “O Jeca e a Freira”, junto com Mauricio do Valle, Isaura Bruno que tinha acabado de fazer o papel de Mamãe Dolores, o Henrique Felipe da Costa, mais conhecido como Henricão, no ano seguinte fui fazer “O Paraíso das Solteironas”, no próximo ano fiz “Uma Pistola para Djeca”, ele fez a seguir “Um Caipira em Bariloche”, eu não fui, em 1970 ou 1971, voltei a fazer com ele “O Grande Xerife”, onde eu era o galã. Fiz quatro filmes com Mazzaropi.





                                           Isaura Bruno em "O Direito de Nascer"
As lutas livres marcaram uma época na televisão brasileira. Você participou dessa época, pode nos falar algumas particularidades desses espetáculos?
Fantomas era nosso empresário, eu lutei com ele. Nessa época tivemos Ted Boy Marino, Tigre Paraguaio, tinha um que esmerilhava ficha de telefone e punha entre os dedos, para cortar o adversário e fazer sangrar era Aquiles, o Matador. Outros lutadores eram Espanholito, que usava o cabelo cumprido, Índio Saltense era um grupo de artistas, fazíamos apresentações em clubes, praças públicas, sindicatos.





Dava muita audiência?
Muita! Era uma delícia! Atualmente essas lutas perderam muito do seu atrativo talvez pela forma como são realizadas.
Você continuou a fazer cinema até quando?
Até quando houve excesso de exposição dos atores, com cenas intimas explicitas. Decidi que devia parar.
Hoje você está aposentado?
Aposentei-me como ator e como empresário.
Qual é a reação do publico quando o vê na rua?
Ainda sou reconhecido. Estive em Macapá, fui reconhecido lá. Em Rancho Queimado na Serra Catarinense, uma noite eu estava jantando em um restaurante, tinha uma família em uma mesa, uma senhora que estava nesse grupo perguntou-me: “- Você é artista de cinema?”. Respondi que era. Ela perguntou qual era o meu nome. Levantei-me e fui até a mesa onde ela estava com a sua família. Disse que o meu nome é Toni Cardi. Ela disse: “- Ah! Você fez filme tal, mais esse, mais aquele!” A família inteira participou. No dia seguinte o prefeito, o comandante da defesa civil, chamaram-me a prefeitura, a cidade é pequena, três mil habitantes, fizeram uma festa. Em Ribeirão Preto, quando lancei o meu livro autobiográfico “A Simetria De Uma Trajetória” a Record fez uma grande festa.


Você participou de algum programa de rede nacional recentemente?
Eu não procuro ninguém. No auge fui muito procurado, saí na revista “O Cruzeiro”, “Manchete” em todos os jornais da época.
A sua relação com a cidade de Piracicaba como ficou?
Permaneci 42 anos fora de Piracicaba. Há seis anos quando voltei era praticamente um forasteiro. A cidade cresceu. A minha família, meus irmãos, estão todos aqui.
Você participou de bailes de debutantes?
Participei de muitos! Dava um bom dinheiro na época. Os muito requisitados eram eu, Francisco Di Franco, inclusive moramos juntos no Rio de Janeiro em um apartamento na Rua Toneleiros, 200, Carlos Alberto Riccelli, tem até um caso interessante, eu estava fazendo um loteamento em Itararé, houve um baile de debutantes, e um dos diretores tinha participação no loteamento, nessa época o Riccelli era solteiro, tínhamos feito a novela “Hospital”, o Riccelli é muito amigo, é quieto, mas se precisar ele se manifesta. Combinamos o diretor do clube e eu em fazermos uma brincadeira. Coloquei o smoking, dirigi-me ao escritório do clube, nisso o Riccelli também chegou para apresentar o baile. Quando me viu fez uma festa, perguntou-me se eu tinha ido para assistir sua apresentação, eu disse-lhe que estava ali como contratado para apresentar as debutantes. A encenação continuou, o Riccelli começou a ficar nervoso, até que o diretor do clube contou que aquilo tudo era uma brincadeira com ele. Ele relaxou, demos boas risadas, ele acabou me chamando para a quadra, dançamos com as moças. Conheci a Bruna Lombardi, era mais reservada. 


                                                           Carlos Alberto Riccelli

O Juca Chaves também conheci, havia um restaurante chinês na Avenida Paulista, ele fazia show todas as noites lá. 


                                                                   Juca Chaves

Outro que conheci muito foi Waldick Soriano eu morava no Largo do Arouche e ele morava na esquina em um hotel. 


                                                            Waldick Soriano

Conheci muito Moacyr Franco ele estava sempre no Gato Que Ri, outro que andava sempre por lá era Walmor Chagas.


                                                                 Moacyr Franco

                                          


Com Pepita Rodrigues fiz a novela “Divinas e Maravilhosas” e o filme “ A Última Bala”. ( Nesse momento Toni Cardi tira de um tubo cartazes de filmes em que trabalhou, entre as curiosidades aparece a dupla Chitãozinho e Xororó, que atuaram no filme, ainda muito jovens, o violão é maior do que eles! A seguir Toni mostra uma fotografia com Carlos Miranda, o Vigilante Rodoviário, e diz: Falei com ele ontem! Toni desfila uma série de fotografias com cenas de filmes envolvendo Alberto Ruschel, Francisco Di Franco, do filme “Os Trombadinhas” com Pelé, onde aparece Toni contracenando com Pelé. Foto de “um grande diretor” : Pena Filho. Fotos com Toni contracenando com Jorge Karan, Luiz Sérgio Person, Mazzaropi, Mauricio do Valle, Carlos Garcia, Carlos Miranda, Adele Coelho, Rafaelle Rossi, Tony Vieira, Claudete Joubert.
Como surgiu seu livro “A Simetria de Uma Trajetória”?

Eu comecei a rabiscar, naquela época só tinha máquina de escrever, eu tinha uma Remington portátil papai morava na Rua Moraes Barros, eu vim de São Paulo, fiquei uns três dias ai, pensei em escrever a minha história, acabei escrevendo 17 a 18 páginas, guardei aquilo tudo. Trinta anos depois, quando vim para Piracicaba, mexendo nas minhas coisas caiu na minha mão aquele negócio todo. Incentivado pelos amigos, sozinho em casa, passei a escrever principalmente à noite. Tinha algumas madrugadas que quando eu sentia fome, olhava o relógio já eram cinco horas da manhã. O livro ficou pronto, a Editora Degaspari imprimiu e lancei o livro na Livraria Nobel, no Shopping Piracicaba, isso foi em 2013. 


Boca do luxo
Autor: João Cláudio Capasso

Foi da década de 60 a 70 que frequentei a maravilhosa boca do luxo em São Paulo, tinha vinte anos.

Lembro-me da boate Dakar, na esquina da Rego Freitas, com sua pista dança iluminada, o Holiday, Variety, o La Vie en Rose, da Ester, o Michel da Sonia, o Club de Paris do francês Jaan Pierry, que foi a primeira boate com TV circuito fechado. Em frente tinha o bar Tetéia.

Todas as noites parecia que estávamos em Las Vegas, a cidade toda iluminada, muita gente bonita nas ruas, as garotas que trabalhavam nas boates muito bem vestidas, pareciam madames.

Na Praça Roosevelt tinha La Licone, da Laura Qeu; depois mudou-se para sede própria, na Major Sertorio. O Marino, o Chicote, enfim, uma época de festas. Dificilmente tinha uma confusão.

Tinha mulheres belíssimas nas boates; um amigo casou-se com uma garota do La Vie en Rose na Igreja da Consolação, foi uma linda cerimônia, em que estavam todos os boêmios da noite de São Paulo, e depois uma grande festa. Época maravilhosa.

No dia em que a boca do luxo acabou, os prédios foram desapropriados. Todas as boates deram uma grande festa de despedida, nunca vi tanta gente chorando nas ruas, todos os porteiros, as garotas, e os clientes se abraçaram, sabendo que jamais haveria uma boca do luxo tão linda, tão maravilhosa como aquela.

Hoje não existem mais boates com aquele luxo, com show, tudo passa, mas fica a saudades daquele quadrilátero maravilhoso da Rego Freitas, Major Sertorio, Rua Araújo.

Agradeço a Deus por ter vivido os dez anos mais maravilhosos da minha vida. Quem sabe um dia voltamos a nos encontrar, mesmo que seja do outro lado da vida
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domingo, outubro 23, 2016

MARGARIDA LOPES RODRIGUES DE AGUIAR PERECIN

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS 

JOÃO UMBERTO NASSIF 

Jornalista e Radialista 

joaonassif@gmail.com 

Sábado 22 de outubro de 2016.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana 

As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/ 



ENTREVISTADA: MARGARIDA LOPES RODRIGUES DE AGUIAR PERECIN

 Margarida Lopes Rodrigues de Aguiar Perecin é graduada em História Natural pela Faculdade de Filosofia Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (1960). Possui título de doutora em Genética e Melhoramento de Plantas pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Universidade de São Paulo (1968). Realizou estágio de pós-doutoramento na Universidade de Oxford, UK(1971/1972), e estágios técnicos e visitas nas Universidades de Nottigham, UK e Gent, Bélgica (1985), Plant Breeding Institute, UK e Royal Botanic Gardens KEW , UK (1987), Rothamsted Experimental Station, UK (1989). Observação: Reino Unido (em inglês: United Kingdom - UK), oficialmente Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte. Aposentou-se em 2008, como Professora Titular da Universidade de São Paulo, ESALQ, e atualmente é Professora Sênior na mesma instituição. Iniciou sua carreira na área de Citogenética de Aves e posteriormente desenvolveu pesquisas em Citogenética Vegetal, atuando nos seguintes temas: evolução do cariótipo e do genoma, variabilidade da freqüência de quiasmas entre genótipos de milho, estrutura molecular dos cromossomos, cultura de tecidos e alteração dos cromossomos em resposta ao estresse in vitro. Principais espécies estudadas: milho (Zea mays), Passiflora, Crotalaria, Hypochaeris, Capsicum, Mikania, Stylosanthes, cana-de-açúcar e Smilax. Citogenética vegetal, milho, genética vegetal, melhoramento de plantas e evolução. Faz parte da Academia de Ciências do Estado de São Paulo, da Sociedade Brasileira de Genética. Teve participação relevante em sua área.
A senhora nasceu em qual cidade?
Nasci em Manaus a 10 de junho, quando eu tinha aproximadamente um ano de idade meus pais vieram para Piracicaba.
Qual era a atividade do pai da senhora em Manaus?
Meu pai, José Pessoa de Aguiar, nasceu no Ceará, era médico, formou-se em 1936 pela Faculdade de Medicina da Bahia, foi lá que ele conheceu a minha mãe Isabel Lopes Rodrigues de Aguiar. Casaram-se em Manaus, onde ele passou a clinicar. Tiveram quatro filhas: Margarida, Lúcia, Cristina e Maria da Graça.
A senhora tem um avô que foi um pintor muito importante?
O meu avô materno Manoel Lopes Rodrigues  foi pintor, era da Bahia, ficou por dez anos em Paris uma parte com bolsa do Imperador D. Pedro II, após a proclamação da república, com bolsa do governo, depois trabalhou por conta própria, foi convidado a ficar lá, não quis mudar de nacionalidade, voltou para o Brasil. Enquanto ele esteve em Paris teve uma produção muito boa de quadros. Quando ele voltou, casou-se, teve seis filhos. Os quadros dele estão nos museus da Bahia, tem quatro quadros na Pinacoteca de São Paulo e oito quadros no Museu Nacional do Rio de Janeiro. Eu tenho vontade de escrever um livro sobre ele, principalmente para colocar reproduções desses quadros. Ele teve um aluno muito importante na Bahia que é Presciliano Silva.

Manuel Lopes Rodrigues
Pintor, desenhista, ilustrador, cenógrafo, ensaísta e professor.
Manoel Lopes Rodrigues (1860: Fonte Nova do Desterro, BA – 1917: Salvador, BA).
Filho do pintor e professor João Francisco Lopes Rodrigues, estudado em Salvador com seu pai e com o mestre Miguel Cañisares. Um dos fundadores da Escola de Belas Artes de Salvador, foi artista eclético e competente acadêmico.
“Manoel Lopes Rodrigues praticou o retrato, o interior, a natureza-morta, a pintura histórica, a paisagem, o gênero, postando-se estilisticamente entre o Realismo e o Simbolismo, e podendo ser reclamado pelo Ecletismo em vigência na última década do Séc. XIX.” (LEITE, José Roberto Teixeira. Dicionário crítico da pintura no Brasil. Rio de Janeiro: Artlivre, 1988, p. 290).
1878 – Lecionou desenho no Liceu de Artes e Ofícios e na Escola de Belas Artes, em Salvador.
1882-85 – Residiu no Rio de Janeiro, RJ, para onde se transferira com a intenção de estudar na Academia Imperial de Belas Artes, o que, contudo, acabou não se concretizando.
No Rio, tornou-se crítico de arte do periódico Gazeta Literária, executou desenhos e aquarelas para a Exposição Médica Brasileira e produziu ilustrações para diversos livros da área médica, entre eles o Atlas da clínica de olhos, de autoria do Dr. Moura Brasil, e o Atlas de moléstias da pele, escrito por Silva Araújo.
1886-95 – Estabeleceu-se na França, onde viveu inicialmente dos rendimentos obtidos no Rio de Janeiro e mais tarde da ajuda financeira de mecenas baianos e do próprio imperador Pedro II. Com o fim do regime imperial, em 1889, recebeu bolsa do Ministério da Fazenda do novo regime republicano. Em Paris, foi discípulo de Raphael Colin, e posteriormente estudou com Jules Lefebvre e Tony-Robert Fleury. Além disso, participou da classe de Leon Bonnat, na Escola Superior de Belas Artes.
1895 – Permaneceu três meses na Bahia em decorrência do falecimento do pai. Nesse período, executou trabalhos encomendados pelo governador baiano Rodrigues Lima e para o mosteiro de São Bento. Ainda neste ano viajou para Roma, onde terminou a pintura do quadro Primeira Reprimenda.
1896 – Retornou à Bahia, em virtude do fim da bolsa que recebia do governo brasileiro. Pintou a tela A República, encomendada pela Assembleia Geral baiana.
1897-98 – Trabalhou como diretor da parte artística do periódico baiano O Album.
1917 – Foi um dos organizadores da Sociedade Propagadora de Belas Artes de Salvador.
Realizou a seguinte exposição individual:
1896 – Teatro São João, Salvador.
Realizou, entre outras, as seguintes exposições coletivas:
1884 – XXVI Exposição Geral de Belas Artes, Academia Imperial de Belas Artes, Rio de Janeiro.
1889 – Exposição Universal de Paris, Paris.
1890, 92, 94, 95 – Salon des Artistes Françaises, Paris.
1894, 96 – Exposição Geral de Belas Artes, Escola Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro.
1895 – Retrospectiva, Escola de Belas Artes da Bahia, Salvador.
Foi homenageado, entre outras, nas seguintes exposições póstumas:
1918 – Retrospectiva, Sociedade Propagadora de Belas Artes, Salvador.
1950 – Um Século da Pintura Brasileira: 1850-1950, Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro.
2000 – Brasil + 500 Mostra do Redescobrimento, Fundação Bienal, São Paulo.
2004 – Mestres da Pintura Baiana, Museu de Arte da Bahia, Salvador.
2008 – De Colônia a Império, Museu de Arte da Bahia, Salvador.







Boa parte da obra produzida por Manoel Lopes Rodrigues encontra-se no acervo da Escola de Belas Artes e do Museu de Arte da Bahia, entre outras instituições baianas. O Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, também guarda importantes trabalhos do artista.

                                                      Prisciliano Silva  


Presciliano Athanagildo Izidoro Rodrigues da Silva mais conhecido como Presciliano Silva (Salvador, 17 de maio de 1883Rio de Janeiro, 7 de agosto de 1965) foi um pintor brasileiro. Algumas de suas obras estão expostas no Museu de Arte da Bahia‎.
Presciliano o primeiro filho das segundas núpcias de Possidônio Izidoro da Silva e de Clotilde Rodrigues da Silva, que foi sua grande incentivadora; a mãe o matricula, já aos 13 anos, na Escola de Belas Artes e desde então frequenta aulas particulares no Liceu de Artes e Ofícios, com o professor Manoel Lopes Rodrigues.
O mestre apoia sua ida a Paris, em 1903, onde sofre preconceito e experimenta o sofrimento causado pelos ruídos e surdez de uma esclerose nos tímpanos. Fica em França até 1906, quando retorna à Bahia e tem resposta favorável aos seus trabalhos, o que, com incentivo de amigos como Olegário Mariano, o motiva a expor no Rio de Janeiro.
Em 1912 vence as resistências e consegue expor em Paris, no Salão Oficial, o quadro que retrata Mme. Le Clinche. Com o início da I Guerra Mundial volta à cidade natal, onde estabelece seu ateliê, no ano seguinte.Na cidade leciona na Escola de Aprendizes e Artífices. Em 1920 tem de Ruy Barbosa as mais elogiosas palavras: "...o meu instinto, minha intuição, algum gosto que terei, talvez, e o meu hábito de ver obras de mestres, me indicam em Presciliano Silva um pintor de extraordinário merecimento e futuro."
Ingressa como docente, em 1928, na Escola de Belas Artes da Bahia, onde mais tarde seria diretor e professor emérito. Em 1930 realiza seu maior trabalho, retratando o 2 de julho de 1823, data que marca o fim da guerra pela Independência da Bahia, intitulada Entrada do Exército Libertador
O artista continua pintando até sua morte, em 1965, tendo seu trabalho sido consagrado por diversas exposições e prêmios. Era casado com Alice Moniz Silva, com quem teve uma única filha, Maria da Conceição



                                          Presciliano Silva - Farol da Barra 

Em que local de Piracicaba o pai da senhora montou consultório?
Na Rua XV de Novembro entre a Rua Benjamin Constant e a Rua Governador Pedro de Toledo. Ele tornou-se muito conhecido em Piracicaba como Dr. Pessoa. Era especialista em otorrinolaringologia e oftalmologia. A minha mãe além dos afazeres do lar, pelo fato de conhecer a língua francesa, deu aulas particulares de francês e também lecionou francês no Seminário Seráfico São Fidelis
Assim que se mudou para Piracicaba a família passou a residir em que local?
Residimos na Rua Boa Morte, no centro, logo mudou para a Rua XV de Novembro. Naquele tempo era comum o médico ter o consultório ao lado da casa em que residia. Após muitos anos ele mudou-se para o Jardim Europa. O consultório continuou na Rua XV de Novembro. Ele praticamente clinicou a sua vida inteira em Piracicaba, ele clinicou até os 72 anos faleceu com 74 anos, em 1986. A minha mãe já tinha falecido antes dele. Meu pai era muito conhecido, naquele tempo havia poucos médicos na cidade. Sempre trabalhou na Santa Casa de Misericórdia de Piracicaba. Ele dava atendimento gratuito aos chamados na época de indigentes, isso na parte da manhã, nessa época os médicos faziam isso.
Essas pessoas de parcos recursos procuravam retribuir a atenção recebida de alguma forma?
Geralmente de pessoas residentes na zona rural ele ganhou cabrito, porco, sempre traziam algum agrado dentro das suas possibilidades. Era uma demonstração de carinho e gratidão. Naquele tempo era possível receber esse tipo de presente porque as casas tinham um quintal grande.
Ele realizava cirurgias?
Fazia na Santa Casa. Já eram realizadas cirurgias de catarata. Ele chegou a ter um equipamento moderno no consultório.
O curso primário a senhora estudou em qual escola?
Estudei no colégio das freiras, no Externato São José, localizado no prédio que existe até hoje, na esquina da Rua Alferes José Caetano com Rua D. Pedro II, onde mais tarde funcionou a Faculdade de Odontologia de Piracicaba. O primeiro ano do ginásio fiz no Colégio Assunção na Rua Boa Morte. Depois me transferi para o Sud Mennucci, colégio estadual.  Naquela época era tida como a melhor escola de Piracicaba. Lá fiz o curso científico. Concluído, fui para São Paulo fazer o curso de História Natural na Faculdade de Filosofia Ciências e Letras da Universidade de São Paulo. Uma parte do curso era na Alameda Glete e outra parte já tinha se mudado para a Cidade Universitária. Eu freqüentava os dois locais, tinha algumas matérias na Alameda Glete, no centro, e outras matérias Cidade Universitária.
Em São Paulo em qual local a senhora morava?
Morava no centro, em um pensionato de freiras salesianas, situada na Rua Guaianazes, eram dois casarões conjugados. Era um pensionato grande, às oito horas da noite os portões se fechavam. Às vezes pegávamos um bailinho na Alameda Glete, a freira deixava ir e voltar mais tarde. Acredito que na época São Paulo não era assim tão perigoso, costumávamos ir aos domingos nas matinês do cinema, no centro da cidade. Lembro-me do Cine Paissandu, Cine República, Cine Marrocos, naquele tempo São Paulo tinha bonde, era uma cidade mais tranqüila.
A senhora chegou a conhecer o requintado chá do Mappin?
Conheci, na época em que o Mappin já estava em frente ao Teatro Municipal, na Praça Ramos de Azevedo. Fui uma vez com meus pais. Freqüentava o Teatro Municipal, tinha uns concertos matinais, nas manhãs de domingo.
Para ir do pensionato onde a senhora morava até a Cidade Universitária, qual a condução era usada?
Tomava três conduções: o bonde “camarão” até a Praça do Correio, ali tomava outro bonde que ia até a Praça de Pinheiros, ali tomava um ônibus para a Cidade Universitária. Tinha que acordar muito cedo, as aulas começavam às oito horas, eu saia  de casa entre seis a seis meia da manhã. O prédio onde eu estudava deve existir até hoje, ficava na Rua do Matão. Permanecia na escola até as seis da tarde, estudava em período integral. Chegava a minha casa às oito horas da noite, para o jantar. Depois às vezes ia dormir outras vezes ia estudar. O curso era de quatro anos, eu me formei em 1960, como Bacharel em Ciências Naturais, fiz o bacharelado e licenciatura.
A senhora permaneceu em São Paulo?
 Voltei â Piracicaba, consegui uma bolsa de estudo no Departamento de Genética da ESALQ no tempo do professor Professor Friedrich Gustav Brieger, isso foi em 1961, ele tinha fundado um Departamento de Genética junto ao Instituto de Genética. Ele tinha bolsas para contratar pessoas, tinha muito contato e recebia subsídios da  Fundação Rockefeller  que é uma fundação criada em 1913 nos Estados Unidos que define sua missão como sendo a de promover, no exterior, o estímulo à saúde pública, o ensino, a pesquisa e a filantropia.
Como era o Professor Brieger?
Ele veio da Europa a convite da ESALQ em 1936, era uma pessoa muito dinâmica, foi quem criou o Departamento de Genética na ESALQ, convidado pelo diretor José de Melo Morais, conhecido como Melinho. O professor Brieger além de fundar o Departamento de Genética, incentivou várias áreas de pesquisa, tanto a pesquisa básica como a aplicada. Tanto em genética como em citologia, na área de melhoramentos de plantas, ele incentivou muito o melhoramento de milho, de hortaliças, mais tarde ele incentivou um laboratório de genética de microorganismos. Ele era alemão, falava o português, com bastante sotaque. No inicio ele começou as pesquisas sobre raças de milho, depois ele se dedicou a pesquisas sobre evolução de orquídeas. Nessa época ele organizou uma coleção muito grande de orquídeas que existe até hoje no Departamento de Genética.
Na visão da senhora, o que significa o trabalho do Professor Brieger para a genética no Brasil?
Foi um trabalho muito importante, ele foi considerado um dos pioneiros, um dos fundadores da genética no Brasil. Foi quem implantou a genética de plantas o Brasil. O nosso país deve muito a ele. Existiam outros departamentos de genética em São Paulo, no Rio de Janeiro.
Na ESALQ a senhora teve a sua ascensão profissional.
Tive, naquela época quem não era agrônomo não podia ser professor, também não era muito comum ter mulheres professoras, após a bolsa tive o cargo de biologista, como se chamava na época, fazia pesquisa e preparei a minha tese de doutoramento como biologista. Meu orientador foi o Professor Almiro Blumenschein, eu trabalhava n laboratório dele, era o Laboratório de Citologia. Fiz um estudo sobre cromossomos de aves, estudei várias aves, foi entre 1962 a 1968, quando fiz meu doutoramento. Em 1971 é que fui nomeada professora do departamento de genética. Assumi como professora, depois fiz o concurso de livre docente, mais tarde fiz o concurso de professor titular.
O professor Brieger ainda estava na ESALQ ?
Ele tinha se aposentado, foi para Brasilia, depois foi para a UNICAMP e depois  regressou para a Alemanha. Ele faleceu na Alemanha. Ele era casado com  Da.Anneliese Kaiser Brieger, tiveram dois filhos: Barbara e Franz. O Franz estudou agronomia e depois foi trabalhar em Ribeirão Preto.
A senhora morava aonde nessa época?
Morava na Rua XV de Novembro, com meus pais, eu ia de bonde para a ESALQ. Aposentei-me em 2008, continuo lá fazendo pesquisas, mais especificamente publicando trabalhos, artigos científicos em revistas científicas. Devo ter uns 60 trabalhos citados. Publiquei um livro e tenho um livro traduzido junto com outros colegas. O livro publicado é sobre citogenética,a minha área é citogenética estudo dos cromossomos, Citogenética e Evolução de Plantas. Esse livro contém artigos que foram apresentados em um colóquio sobre citogenética e evolução de plantas que organizei com mais dois colegas em 1984, o livro foi publicado em 1985.
Já conseguimos entender os cromossomos?
Conseguimos! Os cromossomos são muito bem estudados, são filamentos de DNA onde estão os gens responsáveis pela hereditariedade. A estrutura deles é muito bem estudada, o funcionamento deles é muito bem estudado, existe várias maneiras de enfocar o estudo dos cromossomos, podemos estudar cromossomos de várias espécies que são da mesma família e entender a evolução dessas espécies, podemos estudar cromossomos para ver modificações que eles tiveram, por causa de stress por exemplo, por causa de irradiação, hoje temos técnicas mais sofisticadas para estudar cromossomos em que o pesquisador mapeia tipos de DNA ao longo do cromossomo.
As suas pesquisas continuam?
Agora estou escrevendo sobre cromossomos de milho, sou especialista em cromossomos de milho. A produção de milho hoje é sobre milho hibrido. O meu trabalho é muito básico, é sobre cromossomos de milho, estrutura dos cromossomos de milho, alterações dos cromossomos de milho, é um trabalho sobre estrutura de cromossomos de uma maneira geral, esses estudos contribuem para entendermos a evolução das plantas. A genética contribuiu muito para o melhoramento do milho, através de cruzamentos entre variedades diversas, o melhorista tem o papel de selecionar linhagens que depois cruzadas dão milho hibrido.
A informática deu uma revolucionada nessa área?
A informática deu no estudo do genoma, chamamos de genoma todo DNA da célula. Os cromossomos são o DNA compactado. Todo DNA pode ser estudado hoje. Chamamos de genoma todo DNA que existe na célula. A informática tem ajudado muito nessas seqüências de DNA.
A senhora trabalha só com plantas ou com animais também?
Trabalhei com animais em minha tese de doutorado. Depois passei a trabalhar só com plantas.
Há uma diferença muito grande nesses estudos?
Os cromossomos são constituídos de DNA e proteínas.
A cadeia de cromossomos do animal e a cadeia de cromossomos da planta têm semelhança?
Não, elas têm diferenças! A estrutura tem diferença. Mesmo o cruzamento entre plantas tem que ser da mesma família, do mesmo gênero.
A nossa flora é de fato muito rica?
A nossa flora possui uma riqueza muito grande, ainda não totalmente estudada.
Fitoterapia tem alguma relação com a área de estudo que a senhora realiza?
Não. Eu já estudei plantas medicinais, mas sempre a minha área é o estudo dos cromossomos.
A ESALQ tem um nome muito forte pelo trabalho que realiza, dispõem de recursos materiais, mas principalmente recursos humanos preciosos. Isso é um motivo para Piracicaba ter um orgulho muito grande.
A ESALQ é um orgulho não só de Piracicaba, mas para o Brasil. É uma escola importante, que tem contribuído muito para o ensino, formação de pós-graduados, formação de doutores que depois vão trabalhar em diversas regiões do Brasil. Muitos dos nossos ex-alunos foram formar núcleos de pesquisa em várias universidades do Brasil. Ou foram trabalhar na EMBRAPA. Ou em outras instituições de pesquisa.
O marido da senhora exercia qual atividade?
Meu marido, Antonio Perecin, era economista, formou-se pela UNIMEP, no curso de administração de empresa, depois ele fez mestrado na USP, foi professor da UNIMEP por algum tempo, mas ele dedicou-se mais ao seu escritório, que era um escritório de consultoria auditoria, contabilidade. Ele era grande entusiasta da área, teve muitos alunos da UNIMEP que depois foram ser bons profissionais.
A senhora permaneceu estudando na Inglaterra por quanto tempo?
Fiquei um ano e meio.
Como que a senhora compara o ensino inglês ao nosso ensino?
Eles têm um nível muito bom. A pós-graduação lá era diferente da nossa. Aqui nós temos cursos estabelecidos, presenciais, que o aluno tem que assistir. Lá os alunos não tinham curso, assistiam um ou outro curso, tinham que estudar sobre temas que o orientador desse, escrever sobre esses temas. É outra didática. Nos Estados Unidos a pós-graduação é como a nossa.
Mesmo aposentada a senhora continua trabalhando na ESALQ.
Continuo trabalhando através de um programa que se chama Professor Sênior onde podemos colaborar principalmente em pesquisa. Dependendo do perfil de cada professor ele colabora em aulas. Orientação de aluno. Trabalhos de extensão à comunidade. O programa Professor Sênior é um trabalho não remunerado, é para quem tem mania de trabalhar.
Qual é a  forma de lazer preferida da senhora?
Gosto muito de ouvir música clássica Eu tocava piano, estudei com a Dona Dirce de Almeida Rodrigues durante uns 10 anos. Tenho uma assinatura na Sala São Paulo e vou uma vez por mês à São Paulo para assistir os concertos. Tenho assistido os concertos da Orquestra Sinfônica de Piracicaba que está muito boa graças ao trabalho do Maestro Jamil Maluf. Sempre freqüentei os concertos da Escola de Música de Piracicaba.
Além da musica alguma outra atividade que a senhora faz?
Gosto muito de viajar, tenho uma irmã que mora na Bélgica, vou quase todos os anos para lá. Viajo por outros países, gosto de visitar museus, gosto muito de arte, tenho feito um curso de História da Arte com o professor Fernando Furquim Fiz vários módulos do curso que ele dá e agora estou fazendo um curso de História da Grécia.
A senhora acredita na existência de Deus?

Acredito não naquele Deus com forma humana, a figura de Deus é muito incompreensível. Freqüento um grupo de estudos espirituais. A minha ligação com Deus é de forma muito natural. Tem-se que estudar sempre, ler sempre, para manter a fé viva.

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