PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E
MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 22 de outubro de 2016.
Entrevista: Publicada aos sábados
no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços
eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADA: MARGARIDA LOPES RODRIGUES DE
AGUIAR PERECIN
Margarida Lopes
Rodrigues de Aguiar Perecin é graduada em História Natural pela Faculdade de
Filosofia Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (1960). Possui título
de doutora em Genética e Melhoramento de Plantas pela Escola Superior de
Agricultura Luiz de Queiroz, Universidade de São Paulo (1968). Realizou estágio
de pós-doutoramento na Universidade de Oxford, UK(1971/1972), e estágios
técnicos e visitas nas Universidades de Nottigham, UK e Gent, Bélgica (1985),
Plant Breeding Institute, UK e Royal Botanic Gardens KEW , UK (1987),
Rothamsted Experimental Station, UK (1989). Observação: Reino Unido (em inglês: United
Kingdom - UK),
oficialmente Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do
Norte. Aposentou-se
em 2008, como Professora Titular da Universidade de São Paulo, ESALQ, e
atualmente é Professora Sênior na mesma instituição. Iniciou sua carreira na
área de Citogenética de Aves e posteriormente desenvolveu pesquisas em Citogenética
Vegetal, atuando nos seguintes temas: evolução do cariótipo e do genoma, variabilidade
da freqüência de quiasmas entre genótipos de milho, estrutura molecular dos
cromossomos, cultura de tecidos e alteração dos cromossomos em resposta ao
estresse in vitro. Principais espécies estudadas: milho (Zea mays), Passiflora,
Crotalaria, Hypochaeris, Capsicum, Mikania, Stylosanthes, cana-de-açúcar e
Smilax. Citogenética vegetal, milho, genética vegetal, melhoramento de plantas
e evolução. Faz parte
da Academia de Ciências do Estado de São Paulo, da Sociedade Brasileira de
Genética. Teve participação relevante em sua área.
A
senhora nasceu em qual cidade?
Nasci em
Manaus a 10 de junho, quando eu tinha aproximadamente um ano de idade meus pais
vieram para Piracicaba.
Qual
era a atividade do pai da senhora em Manaus?
Meu pai, José
Pessoa de Aguiar, nasceu no Ceará, era médico, formou-se em 1936 pela Faculdade
de Medicina da Bahia, foi lá que ele conheceu a minha mãe Isabel Lopes
Rodrigues de Aguiar. Casaram-se em Manaus, onde ele passou a clinicar. Tiveram
quatro filhas: Margarida, Lúcia, Cristina e Maria da Graça.
A
senhora tem um avô que foi um pintor muito importante?
O meu avô
materno Manoel Lopes Rodrigues foi pintor, era da Bahia, ficou por dez anos em
Paris uma parte com bolsa do Imperador D. Pedro II, após a proclamação da
república, com bolsa do governo, depois trabalhou por conta própria, foi
convidado a ficar lá, não quis mudar de nacionalidade, voltou para o Brasil.
Enquanto ele esteve em Paris teve uma produção muito boa de quadros. Quando ele
voltou, casou-se, teve seis filhos. Os quadros dele estão nos museus da Bahia,
tem quatro quadros na Pinacoteca de São Paulo e oito quadros no Museu Nacional
do Rio de Janeiro. Eu tenho vontade de escrever um livro sobre ele,
principalmente para colocar reproduções desses quadros. Ele teve um aluno muito
importante na Bahia que é Presciliano Silva.
Manuel Lopes Rodrigues
Boa parte da obra produzida por Manoel Lopes
Rodrigues encontra-se no acervo da Escola de Belas Artes e do Museu de Arte da
Bahia, entre outras instituições baianas. O Museu Nacional de Belas Artes, no
Rio de Janeiro, também guarda importantes trabalhos do artista.
Prisciliano Silva
Presciliano Athanagildo Izidoro Rodrigues da Silva mais conhecido como Presciliano Silva (Salvador, 17 de maio de 1883 — Rio de Janeiro, 7 de agosto de 1965) foi um pintor brasileiro. Algumas de suas obras estão expostas no Museu de Arte da Bahia.
Presciliano o primeiro filho das segundas núpcias de Possidônio Izidoro da Silva e de Clotilde Rodrigues da Silva, que foi sua grande incentivadora; a mãe o matricula, já aos 13 anos, na Escola de Belas Artes e desde então frequenta aulas particulares no Liceu de Artes e Ofícios, com o professor Manoel Lopes Rodrigues.
O mestre apoia sua ida a Paris, em 1903, onde sofre preconceito e experimenta o sofrimento causado pelos ruídos e surdez de uma esclerose nos tímpanos. Fica em França até 1906, quando retorna à Bahia e tem resposta favorável aos seus trabalhos, o que, com incentivo de amigos como Olegário Mariano, o motiva a expor no Rio de Janeiro.
Em 1912 vence as resistências e consegue expor em Paris, no Salão Oficial, o quadro que retrata Mme. Le Clinche. Com o início da I Guerra Mundial volta à cidade natal, onde estabelece seu ateliê, no ano seguinte.Na cidade leciona na Escola de Aprendizes e Artífices. Em 1920 tem de Ruy Barbosa as mais elogiosas palavras: "...o meu instinto, minha intuição, algum gosto que terei, talvez, e o meu hábito de ver obras de mestres, me indicam em Presciliano Silva um pintor de extraordinário merecimento e futuro."
Ingressa como docente, em 1928, na Escola de Belas Artes da Bahia, onde mais tarde seria diretor e professor emérito. Em 1930 realiza seu maior trabalho, retratando o 2 de julho de 1823, data que marca o fim da guerra pela Independência da Bahia, intitulada Entrada do Exército Libertador
O artista continua pintando até sua morte, em 1965, tendo seu trabalho sido consagrado por diversas exposições e prêmios. Era casado com Alice Moniz Silva, com quem teve uma única filha, Maria da Conceição
Presciliano Silva - Farol da Barra
Manuel Lopes Rodrigues
Pintor, desenhista, ilustrador, cenógrafo, ensaísta
e professor.
Manoel Lopes Rodrigues (1860: Fonte Nova do Desterro, BA – 1917: Salvador, BA).
Manoel Lopes Rodrigues (1860: Fonte Nova do Desterro, BA – 1917: Salvador, BA).
Filho do pintor e professor João Francisco Lopes
Rodrigues, estudado em Salvador com seu pai e com o mestre Miguel Cañisares. Um
dos fundadores da Escola de Belas Artes de Salvador, foi artista eclético e
competente acadêmico.
“Manoel Lopes Rodrigues praticou o retrato, o
interior, a natureza-morta, a pintura histórica, a paisagem, o gênero,
postando-se estilisticamente entre o Realismo e o Simbolismo, e podendo ser
reclamado pelo Ecletismo em vigência na última década do Séc. XIX.” (LEITE,
José Roberto Teixeira. Dicionário crítico da pintura no Brasil. Rio de Janeiro:
Artlivre, 1988, p. 290).
1878 – Lecionou desenho no Liceu de Artes e Ofícios
e na Escola de Belas Artes, em Salvador.
1882-85 – Residiu no Rio de Janeiro, RJ, para onde se transferira com a intenção de estudar na Academia Imperial de Belas Artes, o que, contudo, acabou não se concretizando.
No Rio, tornou-se crítico de arte do periódico Gazeta Literária, executou desenhos e aquarelas para a Exposição Médica Brasileira e produziu ilustrações para diversos livros da área médica, entre eles o Atlas da clínica de olhos, de autoria do Dr. Moura Brasil, e o Atlas de moléstias da pele, escrito por Silva Araújo.
1886-95 – Estabeleceu-se na França, onde viveu inicialmente dos rendimentos obtidos no Rio de Janeiro e mais tarde da ajuda financeira de mecenas baianos e do próprio imperador Pedro II. Com o fim do regime imperial, em 1889, recebeu bolsa do Ministério da Fazenda do novo regime republicano. Em Paris, foi discípulo de Raphael Colin, e posteriormente estudou com Jules Lefebvre e Tony-Robert Fleury. Além disso, participou da classe de Leon Bonnat, na Escola Superior de Belas Artes.
1895 – Permaneceu três meses na Bahia em decorrência do falecimento do pai. Nesse período, executou trabalhos encomendados pelo governador baiano Rodrigues Lima e para o mosteiro de São Bento. Ainda neste ano viajou para Roma, onde terminou a pintura do quadro Primeira Reprimenda.
1896 – Retornou à Bahia, em virtude do fim da bolsa que recebia do governo brasileiro. Pintou a tela A República, encomendada pela Assembleia Geral baiana.
1897-98 – Trabalhou como diretor da parte artística do periódico baiano O Album.
1917 – Foi um dos organizadores da Sociedade Propagadora de Belas Artes de Salvador.
1882-85 – Residiu no Rio de Janeiro, RJ, para onde se transferira com a intenção de estudar na Academia Imperial de Belas Artes, o que, contudo, acabou não se concretizando.
No Rio, tornou-se crítico de arte do periódico Gazeta Literária, executou desenhos e aquarelas para a Exposição Médica Brasileira e produziu ilustrações para diversos livros da área médica, entre eles o Atlas da clínica de olhos, de autoria do Dr. Moura Brasil, e o Atlas de moléstias da pele, escrito por Silva Araújo.
1886-95 – Estabeleceu-se na França, onde viveu inicialmente dos rendimentos obtidos no Rio de Janeiro e mais tarde da ajuda financeira de mecenas baianos e do próprio imperador Pedro II. Com o fim do regime imperial, em 1889, recebeu bolsa do Ministério da Fazenda do novo regime republicano. Em Paris, foi discípulo de Raphael Colin, e posteriormente estudou com Jules Lefebvre e Tony-Robert Fleury. Além disso, participou da classe de Leon Bonnat, na Escola Superior de Belas Artes.
1895 – Permaneceu três meses na Bahia em decorrência do falecimento do pai. Nesse período, executou trabalhos encomendados pelo governador baiano Rodrigues Lima e para o mosteiro de São Bento. Ainda neste ano viajou para Roma, onde terminou a pintura do quadro Primeira Reprimenda.
1896 – Retornou à Bahia, em virtude do fim da bolsa que recebia do governo brasileiro. Pintou a tela A República, encomendada pela Assembleia Geral baiana.
1897-98 – Trabalhou como diretor da parte artística do periódico baiano O Album.
1917 – Foi um dos organizadores da Sociedade Propagadora de Belas Artes de Salvador.
Realizou a seguinte exposição individual:
1896 – Teatro São João, Salvador.
1896 – Teatro São João, Salvador.
Realizou, entre outras, as seguintes exposições
coletivas:
1884 – XXVI Exposição Geral de Belas Artes, Academia Imperial de Belas Artes, Rio de Janeiro.
1889 – Exposição Universal de Paris, Paris.
1890, 92, 94, 95 – Salon des Artistes Françaises, Paris.
1894, 96 – Exposição Geral de Belas Artes, Escola Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro.
1895 – Retrospectiva, Escola de Belas Artes da Bahia, Salvador.
1884 – XXVI Exposição Geral de Belas Artes, Academia Imperial de Belas Artes, Rio de Janeiro.
1889 – Exposição Universal de Paris, Paris.
1890, 92, 94, 95 – Salon des Artistes Françaises, Paris.
1894, 96 – Exposição Geral de Belas Artes, Escola Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro.
1895 – Retrospectiva, Escola de Belas Artes da Bahia, Salvador.
Foi homenageado, entre outras, nas seguintes exposições
póstumas:
1918 – Retrospectiva, Sociedade Propagadora de Belas Artes, Salvador.
1950 – Um Século da Pintura Brasileira: 1850-1950, Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro.
2000 – Brasil + 500 Mostra do Redescobrimento, Fundação Bienal, São Paulo.
2004 – Mestres da Pintura Baiana, Museu de Arte da Bahia, Salvador.
2008 – De Colônia a Império, Museu de Arte da Bahia, Salvador.
1918 – Retrospectiva, Sociedade Propagadora de Belas Artes, Salvador.
1950 – Um Século da Pintura Brasileira: 1850-1950, Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro.
2000 – Brasil + 500 Mostra do Redescobrimento, Fundação Bienal, São Paulo.
2004 – Mestres da Pintura Baiana, Museu de Arte da Bahia, Salvador.
2008 – De Colônia a Império, Museu de Arte da Bahia, Salvador.
Prisciliano Silva
Presciliano Athanagildo Izidoro Rodrigues da Silva mais conhecido como Presciliano Silva (Salvador, 17 de maio de 1883 — Rio de Janeiro, 7 de agosto de 1965) foi um pintor brasileiro. Algumas de suas obras estão expostas no Museu de Arte da Bahia.
Presciliano o primeiro filho das segundas núpcias de Possidônio Izidoro da Silva e de Clotilde Rodrigues da Silva, que foi sua grande incentivadora; a mãe o matricula, já aos 13 anos, na Escola de Belas Artes e desde então frequenta aulas particulares no Liceu de Artes e Ofícios, com o professor Manoel Lopes Rodrigues.
O mestre apoia sua ida a Paris, em 1903, onde sofre preconceito e experimenta o sofrimento causado pelos ruídos e surdez de uma esclerose nos tímpanos. Fica em França até 1906, quando retorna à Bahia e tem resposta favorável aos seus trabalhos, o que, com incentivo de amigos como Olegário Mariano, o motiva a expor no Rio de Janeiro.
Em 1912 vence as resistências e consegue expor em Paris, no Salão Oficial, o quadro que retrata Mme. Le Clinche. Com o início da I Guerra Mundial volta à cidade natal, onde estabelece seu ateliê, no ano seguinte.Na cidade leciona na Escola de Aprendizes e Artífices. Em 1920 tem de Ruy Barbosa as mais elogiosas palavras: "...o meu instinto, minha intuição, algum gosto que terei, talvez, e o meu hábito de ver obras de mestres, me indicam em Presciliano Silva um pintor de extraordinário merecimento e futuro."
Ingressa como docente, em 1928, na Escola de Belas Artes da Bahia, onde mais tarde seria diretor e professor emérito. Em 1930 realiza seu maior trabalho, retratando o 2 de julho de 1823, data que marca o fim da guerra pela Independência da Bahia, intitulada Entrada do Exército Libertador
O artista continua pintando até sua morte, em 1965, tendo seu trabalho sido consagrado por diversas exposições e prêmios. Era casado com Alice Moniz Silva, com quem teve uma única filha, Maria da Conceição
Presciliano Silva - Farol da Barra
Em que
local de Piracicaba o pai da senhora montou consultório?
Na Rua XV de
Novembro entre a Rua Benjamin Constant e a Rua Governador Pedro de Toledo. Ele
tornou-se muito conhecido em Piracicaba como Dr. Pessoa. Era especialista em otorrinolaringologia
e oftalmologia. A
minha mãe além dos afazeres do lar, pelo fato de conhecer a língua francesa,
deu aulas particulares de francês e também lecionou francês no Seminário
Seráfico São Fidelis
Assim que se mudou para Piracicaba a família passou a
residir em que local?
Residimos na Rua Boa Morte, no
centro, logo mudou para a Rua XV de Novembro. Naquele tempo era comum o médico
ter o consultório ao lado da casa em que residia. Após muitos anos ele mudou-se
para o Jardim Europa. O consultório continuou na Rua XV de Novembro. Ele
praticamente clinicou a sua vida inteira em Piracicaba, ele clinicou até os 72
anos faleceu com 74 anos, em 1986. A minha mãe já tinha falecido antes dele.
Meu pai era muito conhecido, naquele tempo havia poucos médicos na cidade.
Sempre trabalhou na Santa Casa de Misericórdia de Piracicaba. Ele dava
atendimento gratuito aos chamados na época de indigentes, isso na parte da
manhã, nessa época os médicos faziam isso.
Essas pessoas de parcos
recursos procuravam retribuir a atenção recebida de alguma forma?
Geralmente de pessoas
residentes na zona rural ele ganhou cabrito, porco, sempre traziam algum agrado
dentro das suas possibilidades. Era uma demonstração de carinho e gratidão.
Naquele tempo era possível receber esse tipo de presente porque as casas tinham
um quintal grande.
Ele realizava cirurgias?
Fazia na Santa Casa. Já eram
realizadas cirurgias de catarata. Ele chegou a ter um equipamento moderno no
consultório.
O curso primário a
senhora estudou em qual escola?
Estudei no colégio das freiras,
no Externato São José, localizado no prédio que existe até hoje, na esquina da
Rua Alferes José Caetano com Rua D. Pedro II, onde mais tarde funcionou a
Faculdade de Odontologia de Piracicaba. O primeiro ano do ginásio fiz no
Colégio Assunção na Rua Boa Morte. Depois me transferi para o Sud Mennucci,
colégio estadual. Naquela época era tida
como a melhor escola de Piracicaba. Lá fiz o curso científico. Concluído, fui
para São Paulo fazer o curso de História Natural na Faculdade de Filosofia Ciências e
Letras da Universidade de São Paulo. Uma parte do curso era na Alameda Glete e
outra parte já tinha se mudado para a Cidade Universitária. Eu freqüentava os
dois locais, tinha algumas matérias na Alameda Glete, no centro, e outras
matérias Cidade Universitária.
Em São Paulo em qual local a senhora morava?
Morava no centro, em um pensionato de freiras salesianas,
situada na Rua Guaianazes, eram dois casarões conjugados. Era um pensionato
grande, às oito horas da noite os portões se fechavam. Às vezes pegávamos um bailinho
na Alameda Glete, a freira deixava ir e voltar mais tarde. Acredito que na
época São Paulo não era assim tão perigoso, costumávamos ir aos domingos nas
matinês do cinema, no centro da cidade. Lembro-me do Cine Paissandu, Cine
República, Cine Marrocos, naquele tempo São Paulo tinha bonde, era uma cidade
mais tranqüila.
A senhora chegou a conhecer o requintado chá do Mappin?
Conheci, na época em que o Mappin já estava em frente ao
Teatro Municipal, na Praça Ramos de Azevedo. Fui uma vez com meus pais.
Freqüentava o Teatro Municipal, tinha uns concertos matinais, nas manhãs de
domingo.
Para ir do pensionato onde a senhora morava até a Cidade
Universitária, qual a condução era usada?
Tomava três conduções: o bonde “camarão” até a Praça do
Correio, ali tomava outro bonde que ia até a Praça de Pinheiros, ali tomava um
ônibus para a Cidade Universitária. Tinha que acordar muito cedo, as aulas
começavam às oito horas, eu saia de casa
entre seis a seis meia da manhã. O prédio onde eu estudava deve existir até
hoje, ficava na Rua do Matão. Permanecia na escola até as seis da tarde,
estudava em período integral. Chegava a minha casa às oito horas da noite, para
o jantar. Depois às vezes ia dormir outras vezes ia estudar. O curso era de
quatro anos, eu me formei em 1960, como Bacharel em Ciências Naturais, fiz o
bacharelado e licenciatura.
A senhora permaneceu em São Paulo?
Voltei â Piracicaba, consegui uma
bolsa de estudo no Departamento de Genética da ESALQ no tempo do professor Professor Friedrich Gustav Brieger, isso foi em 1961,
ele tinha fundado um Departamento de Genética junto ao Instituto de Genética.
Ele tinha bolsas para contratar pessoas, tinha muito contato e recebia
subsídios da Fundação Rockefeller que é uma fundação criada em 1913 nos Estados Unidos que define sua missão
como sendo a de promover, no exterior, o estímulo à saúde pública, o ensino, a pesquisa e a filantropia.
Como era o Professor Brieger?
Ele veio da Europa a convite da ESALQ em 1936, era uma
pessoa muito dinâmica, foi quem criou o Departamento de Genética na ESALQ,
convidado pelo diretor José de Melo Morais, conhecido como Melinho. O
professor Brieger além de fundar o Departamento de Genética, incentivou várias
áreas de pesquisa, tanto a pesquisa básica como a aplicada. Tanto em genética
como em citologia, na área de melhoramentos de plantas, ele incentivou muito o
melhoramento de milho, de hortaliças, mais tarde ele incentivou um laboratório
de genética de microorganismos. Ele era alemão, falava o português, com
bastante sotaque. No inicio ele começou as pesquisas sobre raças de milho,
depois ele se dedicou a pesquisas sobre evolução de orquídeas. Nessa época ele
organizou uma coleção muito grande de orquídeas que existe até hoje no
Departamento de Genética.
Na visão da senhora, o que
significa o trabalho do Professor Brieger para a genética no Brasil?
Foi um trabalho muito importante,
ele foi considerado um dos pioneiros, um dos fundadores da genética no Brasil.
Foi quem implantou a genética de plantas o Brasil. O nosso país deve muito a
ele. Existiam outros departamentos de genética em São Paulo, no Rio de Janeiro.
Na ESALQ a senhora teve a sua
ascensão profissional.
Tive, naquela época quem não era
agrônomo não podia ser professor, também não era muito comum ter mulheres
professoras, após a bolsa tive o cargo de biologista, como se chamava na época,
fazia pesquisa e preparei a minha tese de doutoramento como biologista. Meu
orientador foi o Professor Almiro Blumenschein, eu trabalhava n laboratório dele, era o
Laboratório de Citologia. Fiz um estudo sobre cromossomos de aves, estudei
várias aves, foi entre 1962 a 1968, quando fiz meu doutoramento. Em 1971 é que
fui nomeada professora do departamento de genética. Assumi como professora,
depois fiz o concurso de livre docente, mais tarde fiz o concurso de professor
titular.
O professor Brieger ainda estava na
ESALQ ?
Ele tinha se aposentado, foi para
Brasilia, depois foi para a UNICAMP e depois
regressou para a Alemanha. Ele faleceu na Alemanha. Ele era casado com Da.Anneliese Kaiser Brieger, tiveram dois filhos: Barbara e Franz. O Franz
estudou agronomia e depois foi trabalhar em Ribeirão Preto.
A senhora
morava aonde nessa época?
Morava na Rua XV de Novembro, com meus pais, eu ia de bonde para a
ESALQ. Aposentei-me em 2008, continuo lá fazendo pesquisas, mais
especificamente publicando trabalhos, artigos científicos em revistas
científicas. Devo ter uns 60 trabalhos citados. Publiquei um livro e tenho um
livro traduzido junto com outros colegas. O livro publicado é sobre citogenética,a
minha área é citogenética estudo dos cromossomos, Citogenética e Evolução de
Plantas. Esse livro contém artigos que foram apresentados em um colóquio sobre
citogenética e evolução de plantas que organizei com mais dois colegas em 1984,
o livro foi publicado em 1985.
Já
conseguimos entender os cromossomos?
Conseguimos! Os cromossomos são muito bem estudados, são filamentos de
DNA onde estão os gens responsáveis pela hereditariedade. A estrutura deles é
muito bem estudada, o funcionamento deles é muito bem estudado, existe várias
maneiras de enfocar o estudo dos cromossomos, podemos estudar cromossomos de
várias espécies que são da mesma família e entender a evolução dessas espécies,
podemos estudar cromossomos para ver modificações que eles tiveram, por causa
de stress por exemplo, por causa de irradiação, hoje temos técnicas mais
sofisticadas para estudar cromossomos em que o pesquisador mapeia tipos de DNA
ao longo do cromossomo.
As suas
pesquisas continuam?
Agora estou escrevendo sobre cromossomos de milho, sou especialista em
cromossomos de milho. A produção de milho hoje é sobre milho hibrido. O meu
trabalho é muito básico, é sobre cromossomos de milho, estrutura dos
cromossomos de milho, alterações dos cromossomos de milho, é um trabalho sobre
estrutura de cromossomos de uma maneira geral, esses estudos contribuem para
entendermos a evolução das plantas. A genética contribuiu muito para o
melhoramento do milho, através de cruzamentos entre variedades diversas, o
melhorista tem o papel de selecionar linhagens que depois cruzadas dão milho
hibrido.
A informática
deu uma revolucionada nessa área?
A informática deu no estudo do genoma, chamamos de genoma todo DNA da
célula. Os cromossomos são o DNA compactado. Todo DNA pode ser estudado hoje.
Chamamos de genoma todo DNA que existe na célula. A informática tem ajudado
muito nessas seqüências de DNA.
A senhora
trabalha só com plantas ou com animais também?
Trabalhei com animais em minha
tese de doutorado. Depois passei a trabalhar só com plantas.
Há uma diferença muito
grande nesses estudos?
Os cromossomos são constituídos
de DNA e proteínas.
A cadeia de cromossomos
do animal e a cadeia de cromossomos da planta têm semelhança?
Não, elas têm diferenças! A
estrutura tem diferença. Mesmo o cruzamento entre plantas tem que ser da mesma
família, do mesmo gênero.
A nossa flora é de fato
muito rica?
A nossa flora possui uma
riqueza muito grande, ainda não totalmente estudada.
Fitoterapia tem alguma
relação com a área de estudo que a senhora realiza?
Não. Eu já estudei plantas
medicinais, mas sempre a minha área é o estudo dos cromossomos.
A ESALQ tem um nome
muito forte pelo trabalho que realiza, dispõem de recursos materiais, mas
principalmente recursos humanos preciosos. Isso é um motivo para Piracicaba ter
um orgulho muito grande.
A ESALQ é um orgulho não só de
Piracicaba, mas para o Brasil. É uma escola importante, que tem contribuído
muito para o ensino, formação de pós-graduados, formação de doutores que depois
vão trabalhar em diversas regiões do Brasil. Muitos dos nossos ex-alunos foram
formar núcleos de pesquisa em várias universidades do Brasil. Ou foram
trabalhar na EMBRAPA. Ou em outras instituições de pesquisa.
O marido da senhora
exercia qual atividade?
Meu marido, Antonio Perecin,
era economista, formou-se pela UNIMEP, no curso de administração de empresa,
depois ele fez mestrado na USP, foi professor da UNIMEP por algum tempo, mas
ele dedicou-se mais ao seu escritório, que era um escritório de consultoria
auditoria, contabilidade. Ele era grande entusiasta da área, teve muitos alunos
da UNIMEP que depois foram ser bons profissionais.
A senhora permaneceu
estudando na Inglaterra por quanto tempo?
Fiquei um ano e meio.
Como que a senhora
compara o ensino inglês ao nosso ensino?
Eles têm um nível muito bom. A
pós-graduação lá era diferente da nossa. Aqui nós temos cursos estabelecidos,
presenciais, que o aluno tem que assistir. Lá os alunos não tinham curso,
assistiam um ou outro curso, tinham que estudar sobre temas que o orientador
desse, escrever sobre esses temas. É outra didática. Nos Estados Unidos a
pós-graduação é como a nossa.
Mesmo aposentada a
senhora continua trabalhando na ESALQ.
Continuo trabalhando através de
um programa que se chama Professor Sênior onde podemos colaborar principalmente
em pesquisa. Dependendo do perfil de cada professor ele colabora em aulas.
Orientação de aluno. Trabalhos de extensão à comunidade. O programa Professor
Sênior é um trabalho não remunerado, é para quem tem mania de trabalhar.
Qual é a forma de lazer preferida da senhora?
Gosto muito de ouvir música
clássica Eu tocava piano, estudei com a Dona Dirce de Almeida Rodrigues durante
uns 10 anos. Tenho uma assinatura na Sala São Paulo e vou uma vez por mês à São
Paulo para assistir os concertos. Tenho assistido os concertos da Orquestra
Sinfônica de Piracicaba que está muito boa graças ao trabalho do Maestro Jamil
Maluf. Sempre freqüentei os concertos da Escola de Música de Piracicaba.
Além da musica alguma
outra atividade que a senhora faz?
Gosto muito de viajar, tenho
uma irmã que mora na Bélgica, vou quase todos os anos para lá. Viajo por outros
países, gosto de visitar museus, gosto muito de arte, tenho feito um curso de
História da Arte com o professor Fernando Furquim Fiz vários módulos do curso
que ele dá e agora estou fazendo um curso de História da Grécia.
A senhora acredita na
existência de Deus?
Acredito não naquele Deus com
forma humana, a figura de Deus é muito incompreensível. Freqüento um grupo de
estudos espirituais. A minha ligação com Deus é de forma muito natural. Tem-se
que estudar sempre, ler sempre, para manter a fé viva.
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