sábado, agosto 10, 2013

Pe. GIOVANNI MURAZZO

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
Sábado 03 de agosto de 2013
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

ENTREVISTADO: Pe. GIOVANNI MURAZZO



Giovanni Murazzo é o pároco da Igreja Imaculado Coração de Maria, também conhecida como Igreja da Paulicéia. Nunca gostou de ser chamado de pároco e sim de animador missionário. Nascido a oito de julho de 1936, na Itália, em Palata, na região de Molise, Padre Gionanni Murazzo è um dos cinco filhos de Giuseppe e Zara Filomena Murazzo: Tereza que faleceu aos catorze anos de peritonite, Michele (Miguel), Alberto, Giovanni, Tereza (nome dado em homenagem a primeira filha). Seus pais eram agricultores que cultivavam de tudo um pouco: trigo, milho, feno que era dado como alimento ás vacas, tinham ovelhas, porcos, galinhas, coelhos. A terra era propriedade da família. Carismático, escritor com mais de uma dezena de livros publicados, em português e italiano, comunicativo, culto, estudioso e pesquisador, um missionário espalhando sementes de fé e esperança. No Brasil conviveu com D. Helder Câmara, D. Luciano Mendes, D. Paulo Evaristo Arns. Foi ordenado sacerdote pelo cardeal africano Rugambwa, primeiro cardeal negro da história. Exerceu seu sacerdócio por dez anos em uma região inóspita, a Ilha da Sardenha. Veio como missionário para o Brasil onde trabalhou no Rio de Janeiro, São Paulo. Em 1987 retornou á Itália onde permaneceu até 1995, ano em que veio para Curitiba e Guarapuava. Transferido para São Paulo, foi por sete anos, Superior Provincial dos Missionários Xaverianos. Em 19 de junho de 2011 foi nomeado Pároco da Paróquia Imaculado Coração de Maria, da Paulicéia. Sua obra “Cruzes no Caminho” é um bálsamo para os dias atuais onde Padre Giovanni reuniu relatos de experiências muito fortes e positivas, vividas por fiéis que o conheceram.

O senhor nasceu em 1936, vivenciou a Segunda Guerra Mundial, embora ainda criança, lembra-se de algum episódio?

A guerra durou de 1939 a 1945, senti falta de segurança, ameaça de morte de dia e de noite, a minha cidadezinha foi bombardeada por aviões durante o dia e a noite por canhões. Ali foi palco de batalha entre americanos e alemães. Em uma tarde uma bomba caiu a 20 metros da minha casa, eu estava sentado na porta, a casa pulou como se fosse uma caixa de fósforos, ao lado passavam duas crianças que faleceram. A noite a família dessa crianças se hospedou em nossa casa, quando uma bala de canhão caiu sobre nosso telhado. Estou vivo por um milagre. A bala quebrou o andar superior, a cozinha, e embaixo o porão. Essas são as lembranças mais trágicas que tenho daquele período. Os agricultores não passaram fome porque tinham uma reserva de trigo, de milho, embora em determinados tempos os invasores sequestraram tudo, as famílias tinham que se virar. Ao menos naquela região da Itália não chegamos a passar muita fome.

Com que idade o senhor começou a trabalhar?

Como na história Os Três Pastorinhos de Fátima, onde Lúcia de Jesus dos Santos tinha onze anos, Francisco Marto nove anos e Jacinta Marto sete anos, durante as férias eu deixava a cidade, na verdade um lugarejo onde tinhamos uma casa, para onde meu pai voltava todas as noites, nesse período em que eu ia à area rural cuidava das ovelhas, das vacas, dos porcos, a distância entre a nossa casa e a chacara era de um quilometro e meio. O reitor do seminário nos recomendou que nunca deixasemos de ir a missa, um dia disse a meus irmãos que ficaria trabalhando até as seis e meia, depois iria embora. Eles não levaram em conta, eu fui a missa, as vacas foram para a vinha e deram um prejuizo. Meu irmão disse-me: “ -Mas você participa de tantas missas durante o ano, porque quer ir a missa agora que está de férias?”. Eram convicções profundas que os educadores nos passavam. Deus em primeiro lugar. Missa em primeiro lugar. O fato das vacas darem prejuizo ás vinhas para mim era um fato secundário.

Como se deu a descoberta do senhor pela vocação sacerdotal?

Naquela época a maioria da população trabalhava nos campos, permaneci com meus pais até 14 anos, quando fui para o seminário. A minha vocação está ligada a um padre xaveriano, Padre Alexandro Pataconi era um missionário muito alegre, divertido, ele veio de Ancona a Termoli, umas três horas de viagem, veio para ajudar o nosso pároco na Semana Santa, se hospedou na casa da minha professora do primário, Gemma Fioritti, que tinha um irmão capuchinho. Essa professora foi para mim uma segunda mãe, depois que o padre Pataconi foi embora ela fez animação vocacional, falando dos padres xaverianos, das missões na China, sobre a necessidade de outros missionários. Ela perguntou quem queria ser padre, quatro ou cinco garotos levantaram a mão. Ela então explicou que para ser padre tinha que ter boa saúde, estudar, ser religioso, rezar bastante. Eu fui um daqueles que levantaram a mão. A professora entrou em contato com a minha mãe, passou a relação dos documentos necessários. Minha mãe e eu fomos pedir uma carta de apresentação ao Padre Rafaelli Di Alessandro, um ex-salesiano, que tinha sido capelão militar e era nosso pároco. Em 1950 entrei em Ancona, que era a casa dos xaverianos mais próxima a minha cidade. Lá encontrei o reitor Padre Mário Veronezzi, ele tinha sido geômetra antes de ser xaveriano. Quando chegamos ao seminário, éramos três, frutos da animação missionária da professora. Padre Mário nos disse: “Mário, Vicenzo e Giovanino, assim como trem que os trouxe tem dois trilhos aqui também temos duas grandes obrigações: oração e estudo”. No ano seguinte ele foi ser missionário em Bangladesh, em 1973 foi morto durante a guerrilha, quando levava no colo um rapaz ferido. É considerado um mártir. Fiz os cursos normais de ginásio. Em Ancona fiquei só um ano, os outros anos foi em Bergamo, terra do Papa João XXIII. O noviciado foi próximo a Ravenna, onde São Guido Maria Conforti tinha sido arcebispo. Após o noviciado por um ano fiz estágio educativo, três anos de filosofia em Désio, próximo a Milão. Os últimos cinco anos eu estudei em Parma, onde fui ordenado a 13 de outubro de 1963. Se Deus quiser no ano que vem irei celebrar o jubileu de ouro, 50 anos de ordenação sacerdotal missionária.

Quem o nomeou padre?

Foi o Cardeal Rugambwa, primeiro cardeal da África, nomeado aos 44 anos pelo Papa João XXIII. Ele era alto, magro, muito negro. Foi uma benção, o nosso superior geral era de Bergamo, ele acompanhava os bispos da África, da Ásia, onde tínhamos missões e convidou o Cardeal Rugambwa.

Para onde o senhor foi designado após tornar-se padre?

Eu queria ir para o Japão, o meu superior disse-me para ir provisoriamente para a Sardenha. Esse provisoriamente durou 10 anos!

Como era a Sardenha naquela época?

Era uma época em que houve muitos seqüestros na Itália, as vítimas eram levadas para uma região de difícil acesso, existente na Sardenha. Nem os romanos conseguiram conquistar o povo daquela região. Era um lugar muito selvagem. A natureza influencia sobre nós, mas o nosso coração é que dá um sentido à natureza. Se tivermos paz interior somos capazes de ver a vontade de Deus na criação das pedras. Nas décadas 60 e 70, quando inclusive houve o seqüestro de Aldo Moro, a Sardenha ocupou o noticiário. Dois terços da Sardenha são formados por pedras, é um povo muito pobre. O único recurso é o pastoreio de ovelhas, um pouco de turismo, é uma ilha com praias. Toda a Sardenha tinha um milhão e meio de habitantes, a Sicilia, com o mesmo tamanho tinha de cinco a seis milhões.

Em que local da Sardenha o senhor viveu?

No centro da Sardenha, na província de Nuoro, na cidadezinha de Macomer. Cheguei no Brasil em 1974, voltei para a Itália em 1980, de três em três anos, quando volto para a Itália vou até a Sardenha, porque lá fiz muitos amigos. Os sardos têm no início desconfiança da pessoa estranha, é um temperamento histórico, os invasores vinham pelo mar para se apossarem da ilha. Após conhecerem a pessoa é firmada uma amizade verdadeira. Quando cheguei ao Brasil o superior regional Carlos Coruzzi me perguntou se eu me dei bem com a Sardenha, quando lhe disse que sim, ele disse-me: “Coragem! Irá se encontrar bem no Brasil! A Sardenha é como o noviciado para começar a vida religiosa aqui no Brasil.”Há em comum a religiosidade popular, lá ainda continuam a dizer “Se Deus quizer”, “Vai com Deus”, “Deus te abençoe” e também no Brasil o relacionamento de amizade é muito forte.

Quem decidiu que o senhor deveria vir para o Brasil?

Após 10 anos na Sardenha fiz o ano sabático, de aggiornamento, é um ano só de estudos, atualização, não se tem compromisso com seminário, paróquia. Fiz esse ano em Roma, no Ateneu dos Salesianos. Tive como coordenador do nosso curso o Padre Carlos Geanolla, especialista na pastoral juvenil, No segundo semestre Padre Geanolla disse-nos “ Vocês missionários são gente da galera, gente da prisão. Se queixam que a imprenssa publica tantas coisas ruins, e vocês missionários que vão para outro lugar, para outro povo, culturas diferentes, não escrevem nada, com a desculpa de que não sabem escrever, ninguém pede que sejam grandes escritores”. Para mim essa provocação foi como uma chicotada. Naquela época era muito forte a consciencia de que o missionário deixou a sua pátria não somente em nome da congregação, mas em nome da igreja da sua localidade. Incorporei essa idéia, e a cada cinco ou seis meses mandava uma carta ponte. O livro “Pequena Ponte” escrevi recolhendo todas as cartas que escrevia para os amigos, da Sardenha, da Itália. Continuo escrevendo essas cartas a cada três ou quatros meses, conto as coisas mais significativas. Ao chegar em Piracicaba, a primeira experência que contei-lhes é que aqui tem uma catequista, Josefina, que é catequista por cincoenta anos. Temos três pedreiros que trabalham para a manutenção das nossas capelas, um deles, o Wilson, me disse: “Padre Giovanni, não vejo a hora de me aposentar no ano que vem para me dedicar completamente a evangelização”. Eles está fazendo a caminhada do SINE Sistema Integral da Nova Evangelização, que o nosso bispo recomenda, missão permanente. São pequenas faíscas que procuro, para não perder a motivação que nos deu Padre Geanolla. Quando fiz a despedida na minha paróquia em 1974, ao sair da igreja fui procurado por uma senhora bem idosa, ele disse-me: “Padre Giovanni eu não escuto bem, parece que vai como missionário ao Brasil?” Disse-lhe- “Sim, Alfonsina, vou lá onde está o Padre Silvestre”. Ela tinha um filho padre que estava no Brasil. Ela então pegou as minhas mãs e disse-me: “Não faça como o Padre Silvestre, que não me escreve!”. Duas lágrimas caíram do seu rosto. Disse-lhe que faria também a parte do Padre Silvestre. Depois cobrei de mim mesmo, seja pela motivação racional de Dom Geanolla, seja pela emocional daquela mãe. O primeiro batismo que fiz foi em 13 de novembro de 1963, do neto dela, em minha paróquia, e se chama Alfonso. Quando fui ordenado éramos em 32, cinco foram ordenados nos Estados Unidos, porque fizeram teologia naquele país. Em Parma éramos 27, todos ordenados pelo Cardeal Rugambwa. Depois cada um ia celebrar sua primeira missa em suas paróquias de origem. Cheguei em Palata dia 2 a noite , era um sábado, dia 3 celebrei a primeira missa e a tarde fiz meus dois primeiros batizados, Alfonso e Gianluigi.

Em que dia o senhor veio para o Brasil?

Cheguei no Brasil no dia primeiro de outubro de 1974, viajando pelo navio Augustus, deve ter sido a ultima viagem do transatlantico. Saímos de Genova em setembro, após dois ou três dias de greve, era normal ter greve, após 12 dias chegamos ao Rio de Janeiro, onde permanecemos por seis horas, eu e o Padre Renato Gotti, fomos visitar duas irmãs que fizeram o curso conosco, em Verona, e já fazia uns cinco ou seis meses que estavam no Rio de Janeiro. Saímos do porto e ao atravessar a Avenida Brasil, o farol abriu, estava atravessando a avenida, um taxi avançou na minha direção, tive tempo de saltar, mas o meu relógio espatifou no meu pulso. Era o dia do Anjo da Guarda, 2 de outubro.

Qual foi a sua primeira impressão ao chegar no Brasil?

O Cristo do Corcovado (Padre Giovanni emociana-se muito). A acolhida do povo. Voltamos ao navio, chegamos em Santos, veio me buscar o Padre Carlos Corrucci, que era o provincial na época. Estava lá também o tio do Padre Renato Gotti, que era presidente de uma conferência de vicentinos, ele era da família Trainna. Em São Paulo tinha um bolo com a bandeira da Itália e do Brasil, escrito “Seja Bem Vindo Padre Giovanni” Fui buscar no meu baú uma garrafa de Vernaccia, um vinho da Sardenha. O Padre Domenico Costella, foi por muitos anos professor da PUC, hoje está em Curitiba, onde dá aula de filosofia na Universidade dos Vicentinos. Fiquei três meses em São Paulo para aprender a língua, morava na Vila Mariana, a nossa casa está próxima a Estação Ana Rosa do metrô, que fica depois da Estação Paraíso. Quando alguém me pergutava: “Onde mora em São Paulo?” repondia: “Além do Paraíso”. Padre Renato e eu íamos às aulas em uma escola que ficava na Rua Manoel de Nobrega. Entravamos no ônbus super lotado, na hora de sair eu não sabia dizer: “-Dá licença!”. Era sempre um desafio descer no ponto certo. O fato de aprender outra líbgua deu-me a impressão de ter outra alma, é uma experiência fantástica, como entrar em outro mundo. O meu primeiro destino foi Centenário do Sul. Diocese de Londrina. O Padre Renato deveria ir para Francisco Beltrão, Ele disse ao provincial que sofria muito com o frio e que gostaria de ir para Londrina. O provincial perguntou-me se eu aceitava. Respondi que sim, para favorever ao Padre Renato não teria nenhum problema. Fiquei por seis meses em uma paróquia que tinha 18 comunidades na Diocese de Francisco Beltrão e Parmas, próximo a Pato Branco. Havia lá outro padre, dois padres xaverianos foram transferidos, antes de mim, tinha chegado o Padre Stanislau Pirolla .O bispo que nos acolheu foi Dom Agostinho Sartori, capuchinho. Ele disse ao povo com sua voz que parecia um trovão: “-Povo de Deus. Cuide bem desses dois padres, porque uma comunidade paroquial sem padre é um corpo sem cabeça”. Ele nos chamava de Padre Lau e Padre João. Após seis meses, vieram os padres Carlos Corrucci , o vice-provincial Padre Roberto Beduschi. Fui transferido, chorei como uma criança que perdeu a mãe.

O senhor foi transferido para onde?

Fui para Centenário, e ia para Lupianópolis às quartas-feiras, sádados e domingos. O povo era muito acolhedor, comecei a divulgar nosso jornal “Cosmos”, primeiro jornal missionário do Brasil, era impresso em São Paulo, divulgado junto aos adolescentes. Após seis meses em uma assembléia, o provincial disse: “- No Rio de Janeiro existe o Diretor da Infância Missionária, um padre holandes, ele está pedindo um padre xaveriano que vá ajudá-lo como secretário, na contabilidade. “-Vocês acham que devemos aceitar esse convite?” Todos reponderam “-Sim!”. E quem devemos mandar? “-Padre Murazzo! Padre Murazzo!”. Por aclamação fiz as malas mais uma vez. Esse padre, Paulo, era colega de escola de Lefevre. Ele não sabia uma palavra de italiano e eu não sabia uma palavra de holandês. Nos comunicávamos em português. Fiquei um ano e meio no Bairro de Santa Tereza, aos pés do Corcovado, foi um período abençoado. Estavamos situados entre as mansões e a Favela dos Prazeres. No meu livro “Ide e Evangelizai”, contei algumas experiências desse período. Quando cheguei ao Rio de Janeiro, uma das irmãs paulinas foi encarregada de coordenar a Coleção Evangelização de Conversão. A irmã e diretoria de um colégio, Isabel Fontes Leal Ferreira me pediu que escrevese lguma coisa das missões. Em três volumes contei experiências que propiciam reflexões.

Após um ano e meio no Rio de Janeiro o senhor foi transferido para São Paulo?

Fiquei mais de um ano com as pontifícias obras missionárias, foi quando tive contato com Dom Evaristo Arns, divulgamos o jornal Cosmos. Isso foi em 1976, 1977.

Foi um período político bastante agitado?

Sim, Dom Evaristo era um ponto de referência. De 1978 a 1984 por seis anos fiquei em Londrina, foi na época da contestação, eu era reitor do Seminário Nossa Senhora de Fátima de Londrina. Nessa época escrevi o livro “Cêntuplo” Os seminaristas tinham uma ideologia muito acentuada. Tínhamos os cursos de segundo grau e filosofia, inclusive com vocações adultas, pessoas que entravam já com 25 anos ou mais. Foi nesse período que explodiu a revolução na diocese de Campo Mourão, onde tínhamos três paróquias e dois padres no seminário. O bispo era Dom Eliseu Resende. Em 1981 os dois primeiros padres xaverianos que vieram para a paróquia da Paulicéia eram o Padre Zézinho e Padre Zézão, este espanhol. Vim para São Paulo a pedido de Dom Paulo Evaristo Arns. Fui evangelizar em Itaquera, Guaianazes e toda aquela região. Depois de seis anos meio em Londrina fui para a Diocese de Ourinhos, para Piraju, na época era Diocese de Botucatu. Foram três anos muito abençoados. Em Piraju, em 1987, quando o Papa João Paulo II esteve em Buenos Aires mandamos quatro jovens para representar o Brasil Na época eu fazia um programa na rádio, juntamente com os jovens era um programa voltado á juventude. Foi quando nasceu um livro com a experiência daquela época.

O senhor voltou à Itália?

Estava em Piraju quando fui chamado de volta à Itália, para mim foi a morte, como se estivesse indo para o exílio. A Direção Geral ficou sabendo do sofrimento por que tinha passado em Londrina. Faz parte da rotina, um xaveriano após 5, 10, 15 anos em missão em outros países, ser chamado de volta para a Itália. Para se reciclar e dar uma consciência missionária, formar missionários. Fui a Désio e lá fiz parte da equipe que tinha esse trabalho. Foram oito anos abençoados, lá estava o Cardeal Martini, era uma diocese que conseguia cativar os jovens através da bíblia. Em 1995 voltei ao Brasil, fui destinado para Curitiba onde Dom Pedro Fedalto pediu que animasse as vocações. Por três anos fiquei morando no seminário no bairro Vista Alegre das Mercês. Era uma capela dos frades capuchinhos que se tornou paróquia, fiquei a disposição da diocese. Fazíamos encontros missionários. No livro “Cêntuplo” tem vários testemunhos de pessoas de Curitiba.

Quantos livros o senhor já escreveu?

Onze livros. Escrevi na Coleção Evangelização de Conversão: “Amar é ir ao Encontro”, “A Amizade Tudo Pode e Tudo Alcança”, “ Ide e Evangelizai”, “Alegria e Admiração”, também traduzido para o italiano. “A Amizade, Segredo de Felicidade” está ainda sem tradução do italiano para o português. Há ainda o livro “O Cêntuplo”, “A Ponte da Amizade”, “A Reciprocidade, Coração da Amizade”. Em duas línguas “Os Jovens e a Civilização do Amor”, escrito com Claudinei Polizel. Um livro que ajuda a refletir e meditar para melhorar a nós mesmos e o relacionamento com os outros.

O senhor está lançando um novo livro?

É o livro “Missionário – Ternura na Família Trinitária” com o subtítulo, “Entrevista ao Jubilando Padre Giovanni Para os 50 Anos de Sacerdócio Missionário”, é uma entrevista do começo ao fim, Claudinei Polizel me fazia as perguntas e eu respondia. Comecei a escrever esse livro no dia 13 de maio de 2012, dia 13 de maio deste ano, 2013, Claudinei Polizel me surpreendeu, trouxe o livro impresso para a primeira revisão. Será lançado no dia 17 de agosto de 2013, na livraria Nobel do centro de Piracicaba, às 10 horas da manhã, um sábado.

Como o senhor chegou a Piracicaba?

Em 11 de janeiro de 2011 terminei o segundo mandato de provincial em São Paulo. O pároco daqui foi eleito provincial, disse-me: “–Agora você fica em meu lugar”. Nós xaverianos fomos feitos para animação missionária. Eu queria fazer o mesmo trabalho que já tinha feito em Curitiba, no Rio de Janeiro, São Paulo. Ele pediu novamente que ficasse nesta paróquia, aceitei e no dia 18 de fevereiro de 2011 o bispo Dom Fernando me apresentou ao povo. Atualmente sou pároco de 20 comunidades, para serem cuidadas por três padres: eu. Padre Humberto e Padre Lucas.

Recentemente o senhor esteve em Aparecida do Norte?

Concelebrei a missa com o Papa Francisco, de quem fiquei a 100 metros do Papa. Quem me levou foi Osvaldo Schiavolin, conhecido como “Tozon”.

Qual foi a impressão que o senhor teve do Papa Francisco?

Uma simplicidade como a água, o sol, o fogo. Ele fez uma homilia muito breve, uma celebração muito simples, cativou todo o mundo. Os três pensamentos também foram muito bonitos: Primeiro manter viva a esperança, segundo pensamento abrir-se as surpresas de Deus, devemos descobrir as surpresas de Deus e finalmente a alegria. Alegria de Francisco de Assis. O verdadeiro cristão não pode ser pessimista, deve testemunhar a alegria. Além dos conteúdos, das homilias, das reflexões, o que mais cativou foi a sua atitude de vida, sua simplicidade. Ir de encontro ao povo. Para mudar as estruturas temos que mudar a nós mesmos. Se estou nas trevas não posso testemunhar a luz.

Quando o senhor comemorará os seus 50 anos como padre?

Será dia 6 de setembro com a missa as 19:00 horas, depois da missa a confraternização com um bolo para toda a comunidade.



 

 

domingo, julho 28, 2013

GERSON MENDES

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
Sábado 27 de julho de 2013
Entrevista: Publicada aos sábados na Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/





                                    ENTREVISTADO: GERSON MENDES



Nascido a 31 de dezembro de 1948 em Petrópolis, região serrana do Rio de Janeiro. Quem nasce naquela região é também conhecido como papa-goiaba, é uma região montanhosa e fria, e segundo consta havia dois cultivos principais, hortênsias, que rendeu o titulo de “Cidade das Hortênsias” e “Cidade das Goiabeiras”, havia muitas goiabas. Ao que parece um contraste, porque parece que goiaba não gosta muito de frio.


Gerson é filho de Adail Mendes, ferroviário da Estrada de Ferro Leopoldina e de Zilda Rosa Mendes, atualmente com 92 anos, residente em Petrópolis. O casal Adail e Zilda teve quatro filhos: Ronei, Maria Helena, Gerson e Márcio. O pré-primário Gerson estudou na Escola Santo Antonio, as quatro primeiras séries foram feitas na Escola Rui Barbosa. No Colégio Estadual D. Pedro II ele cursou o ginásio. O colegial estudou no Colégio Biblos. Entrou em oitavo lugar no curso de Letras, na Pontifícia Universidade Católica. Nessa época suas duas grandes paixões passaram a ser rádio e futebol. Gerson é casado com Wilma Thiago Mendes. O casal tem os filhos: Marcelo, Tatiana e Dionatan


Na infancia e adolescência além de estudar você trabalhou?


Meu pai era mecânico de locomotivas a vapor, as famosas “Maria-Fumaça”, com oito a des anos eu levava o almoço para ele, a uma distância de uns três quilômetros, eu ia a pé, descalço. A Estrada de Ferro Leopoldina ligava o Rio de Janeiro e Minas Gerais. Ela tinha uma ligação de Petrópolis ao Rio de Janeiro através da serra, passando por Magé, Xerem, Duque de Caxias, esse trajeto era feito por máquinas menores, pequenas Maria-Fumaça, o trilho tinha uma cremalheira, os trens só desciam com dois vagões. Cada máquina descendo travando, ou subindo empurrando apenas dois vagões.


Você visitou o famoso museu de Petrópolis?


Conheço o Museu Imperial de Petrópolis, tem exposta a coroa imperial, carruagens, recomendo uma visita a quem for à Petrópolis.É muito bonito, inclusive o visitante tem que usar pantufas especiais na entrada. É um lugar maravilhoso, com coisas da época. Em Petrópolis, cidade a 60 quilômetros do Rio de Janeiro, os descendentes de D. João VI recebem o laudêmio: uma taxa sobre a venda de todos os imóveis da região central da cidade histórica. Ainda menino, conversei com Juscelino Kubitschek de Oliveira, em Petrópolis, no Palácio Rio Negro. Ele foi fazer uma visita política, minha mãe estava com o meu irmão no colo, Juscelino pegou o meu irmão Marcio no colo, e ficou aquela conversa sobre o cotidiano. Ele era uma pessoa finíssima.


Seu primeiro emprego foi onde?


Foi em uma papelaria, como balconista, eu tinha uns doze ou treze anos. Eu gostava muito de uma mercearia eu tinha ao lado, onde tudo era na base do saco e do cone, os produtos eram vendidos a granel, não existia nada embalado como hoje. Eram vendidos e pesados conforme a vontade do freguês: arroz, feijão, fubá, milho. Lembro-me da goiabada cascão. Eu achava aquilo tudo nobre. Havia uma balança Filizola para pesar diante do cliente. O café era moído na hora. A maioria dos clientes eram os ferroviários que pagavam na velha caderneta. Eram pontuais e honestíssimos. As entregas eram feitas de caminhonetes. Trabalhei lá até servir o exército, que eu não queria ir, mas fui.


Você serviu o Exército aonde?


No Primeiro Batalhão de Guarda em São Cristóvão, no Rio de Janeiro, perto do Maracanã. Primeiro fiz de tudo para não entrar, depois chutei o futuro. Hoje para entrar na Academia Militar de Agulhas Negras o candidato tem que fazer um vestibular, naquela época se conseguia entrar por mérito. Fui convidado pelo Capitão Gilberto Pereira da Costa, que me perguntou: “Você quer ir hoje para a Academia Militar das Agulhas Negras, fazer o curso de oficialato?”. Disse-me ainda: “- Pense bem, vale a pena.”. Eu originário do interior do estado, muito jovem ainda, não tinha uma orientação sobre a importância do convite. Talvez o capitão não tenha sido tão enfático como seria necessário. Aquilo me deixou triste e frustrado. Hoje eu poderia ser um oficial do Exército Brasileiro, possivelmente reformado. Não ter aceitado esse convite é um dos meus maiores arrependimentos que tenho até hoje.


Por quanto tempo o senhor serviu o Exército?


Servi por 10 meses e sem falsa modéstia era um excelente soldado. Fui escolhido para a guarda do Presidente Castelo Branco. Tem uma passagem pitoresca a respeito, cheguei a tomar um café com o então Presidente Marechal Castelo Branco, na mesa dele. O Capitão Oficial de Dia disse-me: “O “homem” está lhe chamando!” Entrei no gabinete, nem sabia como me portar diante de um Marechal. Eu tremia. Ele queria saber como ele era visto fora do exército, perguntou quais lugares eu freqüentava. Não sei se era algum teste. Apenas disse-lhe que não tinha visto nada. Se fiquei ali foram cinco a des minutos. O capitão me chamou e me levou para a sala do Coronel Gilberto. Lembro-me do meu número como soldado: 465. Quando ia receber alguma ordem era assim que me chamavam: 65! Isso no tom militar, gritado, dando ordem. Naquela época havia o jogo de bicho, a locomotiva do meu pai era a 546. Se ele tivesse um palpite jogava no número da locomotiva ou no meu número 465.


Após deixar o Exército, qual foi a sua nova atividade?


Fui trabalhar em uma fábrica de tecidos, a Fábrica de Tecidos Dona Isabel, tinha até um time de futebol, uniforme vermelho e preto como o Flamengo, mas eu estava sempre carregando a frustração de ter recusado seguir carreira no Exército. Fiz um curso de tecido, chamado voal, o gerente deixou a Fábrica de Tecidos Dona Isabel, fundou uma fábrica própria e me levou.


Como surgiu a sua paixão pelo futebol?


Sempre gostei de futebol, ficava ouvindo pelo rádio, ficava jogando jogo de botão, hoje os botonistas não gostam que chame de jogo de botão, querem que seja denominado de Futebol de Mesa. Tenho em casa ainda 72 times de futebol de botão, daquela época. Eu irradiava o jogo, ouvia a Rádio Globo do Rio com Waldir Amaral, Jorge Coury, meu pai era vascaíno, eu sou torcedor do Botafogo desde o ventre da minha mãe! Meu pai tinha um amigo torcedor do Botafogo, um pedreiro alemão que havia construído a casa dele lá no alto, na Rua Teresa, uma característica de Petrópolis é ter muitas ruas com nomes de pessoas da época imperial. Esse alemão dizia: “-Esse menino vai ser botafoguense!”. Quando eu estava para nascer, jogavam Vasco e Botafogo, isso em novembro, meu pai queria que eu me chamasse Rui, em alusão a Rui Barbosa, o Águia de Haia, minha mãe não concordava. O Botafogo tinha um zagueiro chamado Gerson. Meu pai disse: “- Gostei desse Gerson. Se o Botafogo for campeão o menino se chamará Gerson!”. Resultado da decisão final 3 a 1 para o Botafogo. Eu tornei-me torcedor do Botafogo por causa desse pedreiro alemão. Meu time de nascimento é o Botafogo. Hoje gosto muito do XV de Novembro, como meu time por adoção.


Em que época você começou a narrar as partidas do jogo de botão?


Antes de ir para o Exército eu já irradiava os jogos de botão. Eu imitava o Waldir Amaral. Até que um dia meu irmão Ronei, pegou um gravador, colocou embaixo da mesa sem eu saber, gravou e levou para a Rádio Difusora de Petrópolis. Eles me chamaram. Logo no primeiro jogo me colocaram junto com Paulo Cesar Rabelo no Maracanã, jogo do Fluminense contra Botafogo, preliminar de Vasco e Flamengo. Carneiro Malta que era o dono da emissora disse: “Esse rapaz tem jeito para narrar partidas de futebol”. Foi quando pedi a eles para me levarem nas transmissões de futebol amador. Comecei a acompanhar e ouvindo o narrador Paulo Cesar. Eles faziam o futebol amador aos sábados e o Campeonato Carioca aos domingos. Só que um dia foram transmitir uma partida de futebol a pedido de uma instituição que organizou um campeonato de futebol de salão com sede em Petrópolis. Gostei. Na velocidade daquilo para poder aprender eu embalei. Comecei a transmitir futebol.


Quando você entrou para o rádio?


Comecei a transmitir dia 12 de julho de 1967. Um ex-diretor da Rádio Difusora de Petrópolis estava na Rádio Guarani de Belo Horizonte. Ele levou a fita de transmissão para Belo Horizonte. A Rádio Guarany pertencia aos Diários Associados, Quando me ligaram em casa achei que era brincadeira, não acreditei. Até que o diretor geral da rádio José Fonseca Filho me ligou, fui até lá, disse quais eram as minha condições, eles concordaram. Isso gerou um grande problema, os titulares ganhavam metade do que a rádio me ofereceu. Isso em 1976, eu tinha me casado em 21 de dezembro de 1974 na Igreja São Cristóvão. Conheci a minha esposa em um baile no Clube Dona Isabel. Em 1978 fomos para a Argentina para fazer a Copa, fizemos jogos da Libertadores, acabei me identificando com a torcida do Cruzeiro, o presidente do Cruzeiro, Felício Brandi, era dono de uma fábrica de macarrão chamada Massas Orion. Permaneci em Belo Horizonte até 1983, meus dois filhos mais novos são nascidos lá. A Rádio Capital estava sendo implantada pelo Professor Edvaldo, ele me chamou, oferecendo metade do que eu ganhava. Pela Rádio Capital fui para a Espanha, com o Cruzeiro também. O treinador era o famoso Yustrich. Ele me chamava “Pelado!”pelo fato de não ter cabelos. Conta o Presidente Felicio Brandi, que em um desses jogos, o Cruzeiro ganhou por 5 a 1 contra um time da Suiça, e o Yustrich liberou todo o mundo. Ele disse-me vamos comemorar com lagosta e Vinho do Porto, camarão, tudo do bom e melhor. Eu disse-lhe “- Professor esse negócio vai ficar caro” ao que ele respondeu, “-Você não tem que se preocupar, não irá pagar nada”. Ele era bem rispido. Disse o presidente, que a nossa despesa, minha e do Yustrich ficou mais cara do que o jantar do time inteiro. Yustrich, cujo nome era Dorival Knipel começou no futebol aos 18 anos como goleiro do Flamengo, onde jogou até 1944. Ganhou o apelido por sua semelhança física com Juan Elias Yustrich, famoso goleiro argentino, do Boca Juniors.




 

Voce ficou quanto tempo na Rádio Capital?


Permaneci por uns três anos na Rádio Capital. Recebi um convite da Rádio Princesa de Patos de Minas, lá permaneci por mais três anos. Ai veio o convite para vir para Piracicaba.


Em que ano você veio para Piracicaba?


Foi em 1986, e aqui estou até hoje. Em 1998 me aposentei, só que a aposentadoria no nosso país obriga a pessoa a continuar trabalhando. Quando vim para Piracicaba era só para transmitir futebol, hoje apresento jornal, faço o Show da Manhã das 9:30 às 11:30, ai apresento o esporte das 11:30 ao meio dia. E faço as narrações do XV com a nossa equipe. Em 27 anos deixei de narrar apenas dois jogos do XV de Novembro.


Você deve ter histórias fantásticas vividas dentro futebol.


Ah! Tenho! Algumas envolvendo nomes muito conhecidos.


Voce é timido?


Não é questão de ser tímido, talvez eu não seja muito sociável. Nunca fui mestre de cerimônia, fiz uma palestra uma vez em uma faculdade em Belo Horizonte, me chamaram para falar sobre rádio. Fiz com o maior prazer. Participo de alguns convites, estive em duas solenidades envolvendo o centenário do XV de Novembro, fui lá para contar histórias, a platéia riu muito.


Você já transmitiu jogo sem ver os times jogando?


Uma única vez, o locutor passou mal, entrei no estúdio da Rádio Guarani de Belo Horizonte, e dublei a rádio, ouvia outra rádio e transmitia pela nossa. Não é fácil fazer isso. Transmiti alguns jogos para a TV Itacolomy e pela TV Itacolomy. Na Copa de 1978, por exemplo, fiz a abertura para a rede que envolvia Belo Horizonte, Salvador, Recife, São Paulo. Foi feito um carrossel com Osmar, José Carlos Araujo. Transmiti duas Copas do Mundo, a de 1978 e a de 1982. Sempre fui só narrador. Não fazia reportagens de campo.


Você sempre atuou profissionalmente só no rádio?


Eu não sosseguei enquanto não abri um comércio, tive um bar por 10 anos, era conhecido como Bar do Gerson situado na Rua Voluntários de Piracicaba esquina com a Rua Bernardino de Campos. Está lá até hoje, tem um movimento que é uma maravilha. Só que com o XV de Novembro no Campeonato Brasileiro, na Segunda Divisão, ou eu ia abrir o bar ou ia transmitir o jogo. Cansei e parei com o bar.


A história de pedir linha telefônica era um problema?


Era outro inferno, hoje em dia não é muito fácil também não.


Existe diferença entre o radio no interior e o rádio em capitais ou metrópoles?


A diferença pode estar na estrutura da empresa. No quesito competência profissional não tem diferença nenhuma, pelo contrário, tem muita gente boa no interior, de primeiríssima linha.


O que você acha do locutor ter que vender propaganda?


Errado!


Você tem algum material escrito sobre a sua trajetória como radialista esportivo?


Eu tinha várias agendas com jogos de futebol, com todos os dados técnicos das partidas, o que acontecia nas viagens, independente de ser no jogo ou fora dele. O que vi na cidade. Aborreci-me por um detalhe e dei fim a tudo isso. Transmiti em média 40 jogos por ano, imagine quantas agendas tinha por ano. Sempre gostei de escrever. Gosto de ler.


O que você acha do Brasil estar sediando a Copa do Mundo?


Como desportista, amante do futebol, quem não gostaria de ter a copa em seu país? Desde que tivesse a devida infra-estrutura. E não é o caso do Brasil. O Brasil está fazendo a Copa no momento errado, a violência urbana extrapolou a normalidade, o país precisa de investimentos. Nós não poderíamos jamais gastar 12 bilhões em uma Copa. Só no estádio de Brasília estamos gastando 2 bilhões. Veja quanto não vai de dinheiro enquanto estamos fazendo campanha e criando anteprojeto para mais médicos, mais postos de saúde, e o governo dizendo que o INSS está quebrado. Está quebrado em quanto? Em 38 bilhões? Mas temos 50 bilhões para gastar com futebol!


E o XV de Novembro de Piracicaba?


Eu aprendi, temos um defeito, colocamos a paixão antes da razão quando estamos transmitindo o jogo do XV.


O que é necessário para ser um bom narrador de futebol?


Tem que gostar de futebol. Ter a técnica de transmitir futebol. Você sabe que galinha de Angola canta, o difícil é gravar um CD.


Qual é o seu chavão nas transmissões?


“Se tem futebol no rádio...tem alegria no povo!”.





Foto: Jogador do Clube Dona Isabel, foto de 1 de fevereiro de 1970. Fotografia tirada em um jogo em TeresópolIS. Gerson Mendes entrevistando atleta do Clube Santa Isabel.


sábado, julho 20, 2013

DIRCE DE MATTOS ROSSI E JOÃO CARLOS ROSSI (PADARIA SÃO JOÃO)

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 20 de julho de 2013.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/


ENTREVISTADOS: DIRCE DE MATTOS ROSSI E JOÃO CARLOS ROSSI (PADARIA SÃO JOÃO)

                       DIRCE MATTOS ROSSI E SEU FILHO JOÃO CARLOS ROSSI
O tempo parece ter congelado a imagem dos prédios onde funcionou a Padaria São João e ao lado a residência do seu proprietário. O toldo que protegia do sol e da chuva, sanfonado, em metal, tão comum na época ainda permanece no mesmo lugar, como testemunha de milhares de pessoas que entraram e saíram daquele estabelecimento. Situado a Rua Alferes José Caetano, 2.167, a 50 metros da Avenida Dr. Paulo de Moraes, do lado direito de quem vai seguindo o sentido bairro-centro. Vizinha a duas quadras e meia , na Rua da Boa Morte existia a Padaria Jacareí, que permanece em atividade até hoje. Ambas atendiam públicos distintos. Acima da linha do trem da Companhia Paulista não havia nenhuma padaria, os moradores dessa área serviam-se da Padaria São João. O pão pré-fabricado, que é levado ao forno apenas para assar, é um produto relativamente recente. Os armazéns e alguns bares vendiam pães já prontos fornecidos pelas padarias da cidade. Com a instalação da padaria Suiça, na Praça Takaki, boa parte da clientela passou a se servir da mesma. Mais tarde a denominação dessa padaria passou a ser Padaria Takaki. Sendo que a então Padaria Suissa, já com nome modificado passou a funcionar em outro local, na Avenida Nove de Julho, 1068, no Bairro Jaraguá. Para contar um pouco da história da famosa Padaria São João, Dirce de Mattos Rossi e seu filho João Carlos Rossi,nascido em Piracicaba a 24 de janeiro de 1948, que por anos a fio trabalhou na fabricação e entrega de pães contam um pouco da história vivida por eles.


                                                          DIRCE MATTOS ROSSI
 

Dona Dirce a senhora nasceu quando?


Nasci a 24 de outubro de 1920, na Rua do Vergueiro em Piracicaba, meus pais são Manoel Cesar de Mattos e Amália Paschoalotto, tiveram dois filhos eu e meu irmão Orlando, já falecido. Quando eu tinha dois anos e sete meses de idade minha mãe faleceu. Meu pai casou em segundas núpcias com Norma Nardi, sendo que dessa união nasceram mais quatro filhos: Leni, Édni, Durval e Airton.


Qual era a atividade do pai da senhora?


Ele era padeiro, trabalhava na Padaria Aliança, situada na Rua Regente Feijó esquina com a Rua do Rosário. Um dos proprietários dessa padaria era Cássio Paschoal Padovani que mais tarde veio a ser prefeito de Piracicaba.


Com que idade a senhora começou a trabalhar?


Aos 14 anos de idade comecei a trabalhar na Fábrica Boyes, trabalhava na espuladeira, onde fazia a espula uma espécie de carretel comprido. Que em seguida era mandado para a tecelagem. Nessa época nossa família morava na Rua São José. Não fiquei por muito tempo na Boyes. De lá fui trabalhar em um barracão de laranjas onde hoje é a Mausa. O proprietário tinha o sobrenome Pires, nós encaixotávamos as laranjas para exportar. As laranjas eram escolhidas, uma a uma, embrulhava-as individualmente em um papel próprio, colocava na caixa e despachava. Éramos umas 15 moças fazendo essa atividade. Saí de lá para me casar com João Rossi em 23 de junho de 1938, o casamento foi na Igreja Bom Jesus. Após nos casarmos, fomos morar com a minha sogra, Rosa Cavallini. Ela morava em uma chácara que havia na Rua São João esquina com a Rua Dom Pedro. Passei a trabalhar só em casa. Fazia de tudo, até “roupa de ganho” (roupa de terceiros) eu lavei. Não tinha outra opção, nem uma máquina de costura eu tinha. Comecei a fazer flor para vender. Com o tempo adquiri uma máquina Singer, que está comigo há 71 anos, e passei a costurar vestidos.


Como vocês se conheceram?


Foi em um circo, na Rua São José, perto da linha do trem da Sorocabana, hoje extinta, que deu lugar para a Avenida Armando Salles de Oliveira. Lembro-me que havia um palhaço chamado Pastachutta. O João vinha em casa, o namoro naquela época era muito diferente do namoro atual. Ele pediu permissão ao meu pai, recebeu autorização e passamos a namorar.


Qual era a profissão do seu namorado, João Rossi?


Era padeiro, quando casamos, ele trabalhava na Padaria Santa Cruz, situada na Rua José Pinto de Almeida esquina com a Rua Moraes Barros. Na esquina oposta funcionava a Santa Casa de Misericórdia de Piracicaba, que depois de um bom tempo mudou-se para onde se encontra atualmente, na Avenida Independência.


O Seu João fazia que tipo de pão?


Fazia de tudo, filão, panhoca, As entregas eram feitas com carrinho de tração animal, o carrinho era composto por uma caixa de madeira, sendo internamente revestida com folha de zinco.


Quantos filhos a senhora teve?


Tivemos oito filhos: Maria Ivani, Marli Ivete, as gêmeas Neusa Maria e Rosa Maria, João, Túlio Manoel, Sueli e Lilian.


Depois de sair da casa da sogra da senhora em que bairro a senhora morou?


Moramos na Rua Floriano Peixoto, nas proximidades da Mausa, lá para cima, no sentido do colégio Dom Bosco era tudo mato.


A família da senhora usava muito o bonde para locomoverem-se?


Usava o pé! Ia andando mesmo! Depois mudamos para uma chácara na hoje Rua Santa Catarina, no bairro Piracicamirim. Era uma chácara grande, tinha vaca leiteira, eu tirava leite, tinha uma cabra, porcos, fazia manteiga, lingüiça, para consumo da família. Daquele lugar eu tenho saudades. Ali consegui juntar um dinheirinho e comprar um terreno na Travessa da Saudade, atrás do SEMAE. Fiz uma casa. Depois comprei mais dois terrenos. O dinheiro vinha principalmente da costura, eu ia de ônibus á Americana buscar pano, fazia camisa social para vender. Produzia as camisas em diversos tamanhos e saia vendendo. Vendia tudo. Tudo feito nessa maquininha de costura que mantenho até hoje.


A senhora costura bem?


Costurava, agora não costuro mais, só faço crochê.


Após morar na chácara no Piracicamirim qual foi a próxima atividade que a família exerceu?


Veio a Padaria São João, situada na Rua Alferes José Caetano, 2167. O prédio existe até hoje, ao lado há uma casa que era onde morávamos. Ali era alugado. Foi do Coelho, que tinha um bar na Rua Benjamin Constant e depois passou para o Pardi. Nós assumimos a padaria em 1958, nós a adquirimos dos irmãos José Silveira Campos e Benedito Silveira Campos, além de um terceiro sócio cujo nome não me recordo no momento.


                  FACHADA ATUAL (JULHO 2013) DO PRÉDIO ONDE FUNCIONOU A PADARIA SÃO JOÃO 

CASA ONDE RESIDIU A FAMÍLIA ROSSI QUANDO ERAM PROPRIETÁRIOS DA PADARIA SÃO JOÃO (FACHADA EM JULHO DE 2013). ESTA CASA FICA AO LADO DO PRÉDIO ONDE FOI A PADARIA
 

Seu João, quais eram os tipos de pães feitos pela padaria São João?


Eram muitos tipos de pães: a famosa bengala, filão grande, pão d água, sovado, aviãozinho, pão de ovos, o tradicional pão doce, que era feito com uma massa doce e depois punha uma espécie de melado de açúcar, passava com um pincel, polvilhava com açúcar cristal e voltava um pouquinho no forno, só para secar. Isso tudo no forno a lenha. Naquela época fazia-se bastante pão de torresmo. A massa ficava macia em função da banha pura que era colocada. A banha vinha de um fornecedor, um açougue situado no bairro Santa Terezinha, do Dirceu. Pão francês era muito raro ser feito.


Era a senhora que fazia os doces da padaria?


Fazia todo tipo de doces: cocada, pudim, bomba, tortinha, bolos.


Fazia bolo de noiva?


Dona Dirce diz: “- Quantos bolos de noiva eu fiz! O maior deles foi um com dezesseis formas, para o casamento da minha filha Lilian”. Nós fornecíamos pães para a Igreja dos Frades.


João, vocês vendiam para os fiéis que saiam da Igreja dos Frades?


Começávamos a trabalhar às sete horas da noite, o pessoal saia às oito horas da igreja, fazíamos o filãozinho, eles entravam na padaria e levavam o pão quente para casa. A produção começava umas seis e meia da noite e trabalhava até as seis horas da manhã. Trabalhávamos em quatro padeiros: eu, Rosalvo, Chiquito e outro que não me lembro o nome agora. O Suspiro também trabalhou lá. Nós “desmanchávamos” (usavam para fazer pão) uns des a onze sacos de farinha de trigo por dia.


Quantos carrinhos de tração animal eram utilizados para fazer a entrega de pães diariamente?


O Tito tinha uns quatro carrinhos, depois eu, meu pai e meu irmão também entregavamos pães. Trabalhei bastante tempo até a uma hora da manhã dentro da padaria, na produção, depois ia até o pasto buscar o cavalo, engatava no carrinho e ia entregar pães. Entregava na Vila Rezende, Bairro Alto, ia pela cidade toda.


Onde ficava o pasto dos cavalos?


Aqui no Morlet (Antiga metalúrgica entre a Avenida Dr. João Conceição, Rua da Glória e Avenida Dr. Paulo de Moraes), no meio do caminho tinha o bebedouro onde dava água para o cavalo, eles vinham sozinhos, a gente apenas os acompanhava, vinham sem mandar até a padaria, estavam acostumados. Engatava o carrinho e ia embora. Até a freguesia os cavalos já sabiam onde era, onde deveriam parar.


O senhor lembra-se do nome desses cavalos?


Lembro-me: Chaito, Rozil, Gaucho e Branco. Eram cavalos bonitos. Tinha quatro cavalos e três carrinhos. Meu pai fornecia para o bairro Paulicéia, a distância era menor, ele usava o cavalo todos os dias. Nós que fazíamos um percurso maior trocávamos, deixavamos sempre um descansando.


Os pães eram entregues nas casas dos consumidores?


Nas casas, nos bares, armazéns.


Nas casas os pães eram deixados aonde?


Dentro do relógio de força, na janela, alguns deixavam uns picuás (sacos de pano), nós deixávamos dentro. Outros deixavam uma cesta.


Esses pães não sumiam?


Naquele tempo não tinha ladrão, era muito difícil. Só estudantes é que às vezes tiravam. (há casos célebres). Você não via ninguém na rua, era um deserto só.


E no dia em que chovia?


Era difícil! Eu colocava um chapéu na cabeça e ia. Até hoje não me acostumei com guarda-chuva. Quando chovia tinha o lugar certo para deixar o pão, muitas vezes eu pulava o portão e levava a um lugar mais abrigado da chuva, geralmente uma janela, se fosse chuva de vento batia na janela para que o freguês pegasse o pão senão molhava tudo.


E para receber o dinheiro do pão que foi entregue?


Após um mês, eu pegava a bicicleta, era uma bicicleta Merk Suiça e ia receber, de casa em casa. Levava a conta certinha. Demorava de três a quatro dias para receber de todos os clientes, isso era feito durante o mês, não de uma só vez. Entregávamos pão pela cidade toda. Até dentro da ESALQ entregávamos pão. Em um dos locais em que entregávamos tinha um bezerro enorme, quando me via vinha em cima como um foguete. Era tudo escuro na madrugada.


Cachorro também assustava quem entregava pão?


Também. Nunca tomei mordida de cachorro grande ou bravo. A única vez que levei uma mordida foi de um cachorro pequeno que mordeu o meu pé, ele estava amarrado na casinha dele, eu fui receber pela entrega dos pães entregues no mês. Entrei sossegado, ele nunca tinha avançado em mim, naquele dia ele decidiu me morder.


A que horas vocês paravam de fazer entregas?


Eu vinha da Vila Rezende, parava na hora que apitava a Fábrica Boyes, ela apitava 4:50 e 5:00 horas da manhã. Essa hora eu estava em cima da ponte sobre o Rio Piracicaba, tinha feito os últimos fregueses nas casas do Engenho Central. Subia, pegava mais pão e fazia a clientela perto da Mausa. Chegava as sete horas da manhã em casa.


Quantas viagens por dia o senhor fazia entregando pães?


Fazia duas viagens.


Aproximadamente quantos pães iam a cada viagem?


Na primeira viagem levava umas 200 bengalas e filão, filãozinho como existe hoje não fazíamos. Em cima da tampa do carrinho tinha umas caixas de papelão que também iam lotadas de pães.


A Padaria Jacareí era concorrente?


Éramos amigos. O forno francês tem a pá comprida, às vezes a pá deles quebrava, eles emprestavam conosco. Quem fabricava essas pás era a Carpintaria Passini. Chegamos a emprestar carrinho com animal para a PANSA Padaria Nossa Senhora Aparecida. Cogitamos em comprar a Padaria Cruzeiro do Seu Berto Sachs. A Padaria Cruzeiro já existia no inicio da década de 40.


Qual foi a padaria mais antiga de Piracicaba?


Dizem que foi a “Padaria do Sol”, situada na Vila Rezende, em frente onde inicia a Avenida Manoel Conceição. Depois as mais antigas devem ser a “Central” e a “Jacareí”. A “Padaria Cruzeiro” deve ser dessa época. A “Padaria Bom Jesus” é muito antiga também, fica na Rua Moraes Barros. Quem montou a Padaria Jacareí era conhecido como Zequinha Bolacheiro, ele veio de Jacareí e deu o nome da cidade para a padaria, famosa por um tipo de bolacha até hoje fabricada lá. Quando ele chegou a Piracicaba começou a fazer bolacha igual a que era feita naquela cidade. A “Padaria Santa Cruz” também é bem antiga. Na Rua XV de Novembro, atrás da catedral, existia a “Padaria Di Giacomo”. Outras que marcaram época foram a “Inca” da Dona Augusta, a “Padaria Brasileira”, na Rua Alferes José Caetano, 701, que foi do Cardinalli. A “Vosso Pão” que ficava onde hoje é o Edifício Canadá.


Quanto tempo a família Rossi foi proprietária da Padaria São João?


Começamos em 1958 e fomos até 1975.


Na época de festas natalinas eram assados guisados como frangos,leitoas, perus?


Assávamos de tudo. Passava quase o natal inteiro dentro da padaria. A Igreja da Volta Grande fazia festas, lotávamos os dois fornos da padaria com frangos para serem assados. Particulares também levavam aves, leitoas para serem assados. O chão ficava todo cheio de gordura assim como as mesas. Tinha que lavar tudo. Dava um trabalhão, o salão onde ficavam os fornos era grande, tinha uns 15 metros de comprimento por uns 10 metros de largura. O terreno era grande, da Rua Alferes José Caetano quase atravessava até a Rua da Boa Morte.


Muitos vizinhos eram clientes da padaria e grandes amigos?


Sim, logo acima tinha o José Signoretti, sua esposa, Dona Irene Signoretti, o Pedro Cerignoni e sua esposa Dona Helena, Spironello, Fausto Motta, Silvio Motta. O Simionatto morava em frente a Estação da Paulista.O Olbrich era chefe da estação, seu neto Engenheiro Carlos Augusto Olbrich mora em frente a Estação da Paulista. Em frente a Igreja dos Frades tinha um cercadinho onde o pessoal que vinha do sítio deixava os cavalos. O Signoretti enrolava fumo, o Coelho que ficava na Rua Joaquim André tambem, asssim como o Angeli, pai do Cláudio.


Seu João o senhor chegou a frequentar o cineminha promovido pelos frades?


Ia sim . Pegava os “pontinhos” lá na igreja, no catecismo, e ia ao cinema. Havia quermessses, Dona Rosa Razera fazia um cuzcuz gostoso. Estudei ali no Grupo Escolar Dr. João Conceição, ao lado da Igreja dos Frades. Lembro-me do professor Pedro Negri. Lembro-me dos frades da época, Frei Liberato, Frei Benjamin, Frei Honório que era de Piraju, Frei Crispim.


Seu João, a venda de sorvete em carrinho começou em sua família?


Meu tio Orlando criou a “Sorveteria Douradinho”, foi a primeira sorveteria a vender sorvete em carrinhos, antes mesmo da Kibon. Ficava na Rua Prudente de Moraes entre a Avenida Armando Salles de Oliveira e a Rua José Pinto de Almeida. Ela foi vendida para o Pedro José Silveira Lara. Ele era proprietário da linha de onibus que ia para Anhumas. O Miguel Fernandes tinha a jardineira, marrom,Ford, que ia para Botucatu, era banco inteiro, cada banco tinha uma portinha. Miguel Fernandes foi dono do Bar Serenata, na Praça Takaki, esquina com a Avenida Dona Jane Conceição, onde hoje funciona uma farmácia. Antes ele teve um bar no sobrado em frente a Estação da Paulista, embaixo era o bar, em cima morava Augusto Amstaldem. O Hotel Paulista ficava na esquina da Rua Joaquim André com a Rua Boa Morte. Na esquina oposta, onde hoje há a Padaria Assagio era o Armazém do Coelho. O Del Nero tinha um depósito de bebidas em frente ao Lar Escola Maria Nossa Mãe, na Rua da Boa Morte. Um compdre nosso, Antonio Carvalho fazia os xaropes dos refrescos. O Andrade, da Bebidas Andrade, fazia uma garrafinha de refresco que vinha com uma bolinha de vidro como tampa, presa por uma presilha. Essa bolinha de vidro era descartável. O Andrade produzia o refrigerante “Abacatina” a base de abacate. Cerejinha só era feita em Santa Barbara D`Oeste.


A Padaria São João entregava pães na área rural?


Entregava na Àgua Branca, nas olarias existentes ali na época, no Tomazielo. O ônibus do Silveira levava nossos pães ao Monte Branco, entregava no Antonio Valério, no Ferezini que tinha venda no Pau Queimado, tempo em que a mortadela era cortada na faca, não era na máquina.


Seu João o senhor tem recordações da Estação da Paulista?


Quando éramos crianças brincávamos lá. Pegavamos a mala dos passageiros que chegavam e levavamos até os taxis que estavam em frente a estação, principalmente as mulheres nos davam algum trocado, saiamos contentes, íamos comprar doces.


A senhora acordava com o apito do trem?


Quando ia viajar, geralmente para Cillos com as crianças, eu chegava na estação o trem já estava de saída. Seu Ebanitz que era o chefe da estação, erguia a bandeira, parava e dizia: “ Dirce, mas você mora longe!”. Ele e a sua esposa Dona Dina , eram uns amores. Ele parava o trem para embarcarmos.






MAURICIO CARDOSO

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 13 de julho de 2013
Entrevista: Publicada aos sábados na Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/


ENTREVISTADO: MAURICIO CARDOSO

Advogado formado pela PUC de Campinas, jornalista, escritor, professor, estudioso com profundos conhecimentos em Cabala, Mauricio Cardoso militou por décadas na imprensa piracicabana: em “O Diário”, “Jornal de Piracicaba” e “ A Tribuna Piracicabana”. Transitou nas mais diversas áreas do jornalismo, com maestria, sendo que sua coluna “Mini Notas” por muitos anos foi a coqueluche da cidade. Ao abrir o jornal o leitor ia imediatamente à seção, era a primeira a ser lida. Maurício conseguiu formular um noticiário abrangente, que despertava o interesse de todos os segmentos de leitores. Nascido a 21 de março de 1932 em Tatuí, na Rua Coronel Bento Pires, 212, coincidentemente na mesma rua em que nasceu a sua esposa e que ele não a conhecia, Jurema Ferraz Cardoso. Na ilha ártica de Spitsbergen, na Noruega, a quase 1.500 quilômetros do Polo Norte, estão armazenadas mais de meio milhão de sementes de todo o mundo. A "Arca de Noé botânica" é mantida pelo governo norueguês isso mostra como o tema Cabala é atual.


O nome Mauricio Cardoso pode ter origem no que chamam de “cristão-novo”?


Tenho a convicção de que sou “cristão-novo”. Dizem que “Cardoso” significa “Cheio de Espinhos”, e Mauricio vem de mouro.


O senhor começou a estudar em que escola?


No Grupo Escolar Florêncio de Abreu, lembro-me das professoras Dona Conceição e Dona Zenaide, mãe do Presidente do Supremo Tribunal Federal Dr. Celso de Mello, ele é tatuiano, O ginásio e Curso Normal. estudei no Barão de Sarui onde me formei professor. Por concurso do Estado ganhei uma cadeira no Mirante do Paranapanema. \para chegar lá eram 18 horas de viagem.


Antes de ir lecionar ao Mirante do Paranapanema o senhor protagonizou uma peça teatral?


Fiz uma peça teatral em Piracicaba, intitulada “Compra-se um Marido”. Sou um dos privilegiados em ter trabalhado e encenado no Teatro Santo Estevão. Era lindo demais. Tinha uma acústica perfeita, camarotes todos pintados em dourado, aquilo tudo era sensacional. Nessa peça que vim encenar fiquei conhecendo minha esposa, ele é filha do jornalista Sebastião Ferraz. No intervalo entre um ato e outro da peça, levávamos um conjunto para tocar, tirei-a para dançar e estamos dançando até hoje. O nosso casamento civil foi em Tatuí. O casamento religioso foi realizado na Matriz de Santo Antonio em Piracicaba. Eu gostava muito de teatro. Tinha ido de Tatuí morar em São Paulo, a minha dificuldade era conseguir dinheiro para me manter. Morava na Rua Javaés, no Bom Retiro. Era professor na Avenida Casper Libero no Instituto de Ciências e Letras Colégio Alfredo Pucca. Eu era professor coringa, faltava o professor de física nuclear lá ia o Mauricio. Eu soube que tinha uma escola de arte dramática que dava uma sopinha com pão a tarde. Essa sopinha com pão me levou até a Escola de Arte Dramática, ficava na Avenida Angélica, era de propriedade de Alfredo Mesquita do “Estadão”. Passei no exame. Um dos meus contemporâneos era o Francisco Cuoco. Eu era para ser um artista Global mesmo. Desisti de terminar a escola por que veio um teatrólogo italiano, Rogério Jacob que ia dar uns cursos gratuitamente no Conservatório de São Paulo, na Avenida São João. Inscrevi-me, os professores que compunham banca examinadora eram Sérgio Cardoso e Cacilda Becker. Tive o privilégio de ficar por cinco a des minutos com ambos em minha frente. Fizeram esse curso comigo Laura Cardoso e Flávio Migliaccio.


Por que o senhor deixou o teatro?


Porque era uma vida muito sacrificada, eu queria ter uma família, o teatro era visto de forma diferente da que é visto hoje, quando o indivíduo se identificava como ator era um demérito. As pessoas que atuavam de fato na profissão eram totalmente designadas para isso. Cheguei a ser convidado para fazer a ponta de um filme, mas recusei. Conheci Berta Zemel, Fran Carlos que era de Piracicaba, nomes dessa grandeza. Cheguei apresentar uma peça infantil no Teatro da Concórdia, muito interessante, eram só números. No Parque do Ibirapuera trabalhei em uma peça com Célia Camargo e Altair Lima. Depois eu vim fazer a peça em Piracicaba, conheci a minha esposa, fui lecionar no Mirante do Paranapanema, apareceu uma vaga, mandei um telegrama para ela que foi lecionar comigo lá.


O senhor foi morar em que local ao ir lecionar no Mirante do Paranapanema?


Fui morar em uma pensãozinha em Água da Saúde distante do Mirante do Paranapanema uns vinte ou trinta quilômetros. Depois arrumei um lugarzinho em Mirante do Paranapanema e lá fiquei. Tinha uma escola lá, comigo tinha mais uns quatro ou cinco professores. Eram uns 200 alunos, vinham de toda região, eram classes mistas.


Após se casar o senhor mudou-se para Piracicaba?


Inicialmente vim comissionado no Museu Histórico e Pedagógico Prudente de Moraes. A diretora era Luci Do Marco.


O museu recebia muitas visitas?


Principalmente as escolas visitavam muito o museu. Não faz parte da cultura popular freqüentar museus. Muitas pessoas doaram peças importantes, assim como algumas doavam algum objeto que para um museu fugia do contexto. Acabávamos aceitando a doação, que geralmente permanecia eternamente na reserva técnica do museu.


Qual é a origem dessa falta de importância que temos para com a história, muito diferente do britânico que preserva e valoriza suas tradições?


Acho que é da idade, do país e nossa. Não temos o habito de guardar esse tipo de memória. Toda noite eu guardo a minha memória familiar, rezo para noventa pessoas, pelo nome. Não é nenhuma reza especial, apenas uma seqüência. Rezo dentro de um contexto hebraico.


O senhor conheceu a sinagoga que existiu em Piracicaba?


No dia em que fiquei sabendo da existência dessa sinagoga em Piracicaba, fui até lá, na Rua Ipiranga. Havia no local apenas um terreno vazio, ela tinha sido demolida. Fui então falar com o Jaime Rosenthal, pegar alguns detalhes sobre esse fato. Faço essa minha reza para noventa e poucas pessoas, parentes, amigos. Tenho um clube em Tatuí, chama-se “Clube 17”. Éramos 17 jovens e fizemos o clube. O tempo foi passando, fizemos o “Clube 34”, composto por mais pessoas, senão com a morte dos integrantes terminaria o clube. Hoje temos apenas 17 vivos, os demais faleceram. É um clube fechado, onde não recebemos mais associados. São quase 50 anos de clube. Nos reunimos anualmente em um almoço, para relembrar as nossas passagens. Dia 13 de julho um dos “dezessetudos” irá dar um almoço em São Paulo, de Tatuí sairão duas vans para levar o pessoal para lá. Mensalmente dou uma palestra no Centro Espírita Manoel Girão.


Como professor em Piracicaba o senhor lecionou até que data?


Até uns 20 anos atrás, nas escolas “Alfredo Cardoso”, “Dario Brasil”. Tive experiências extraordinárias no ensino. Fui Secretário de Esportes no tempo do prefeito Luciano Guidotti. Começamos meio estremecidos, ele chegou até a publicar no Diário Oficial que eu era comunista. O Luciano Guidotti era formidável, uma criatura puríssima. Muito honesto. Uma vez ele nos disse que iria abrir uma avenida, que por sinal hoje tem o seu nome, em frente ao Cemitério Parque da Ressurreição. Ele disse na reunião: “- Se eu souber que alguém que participou desta reunião adquiriu algum terreno lá, suspendo a construção da avenida”. Tinha diversas autoridades presentes, inclusive vereadores. Luciano Guidotti era um tocador de obras, ele queria dar à Piracicaba um jeito de respirar.


O senhor era secretário quando houve a queda do Comurba?


Era sim. Afetou até o esporte na cidade. Onde hoje é o Estádio Municipal Barão de Serra Negra era um bosque, Luciano Guidotti foi quem construiu o estádio.


O senhor trabalhou no prédio onde funcionava a Prefeitura Municipal, na esquina da Rua São José com Rua Alferes José Caetano, que foi o palacete do Barão de Serra Negra, depois demolido e hoje é estacionamento de veículos. Aquela construção imponente trazia-lhe alguma sensação especial?


Era gostoso trabalhar ali. Energizante.


Como advogado o senhor atuou em que áreas do direito?


Fiz de tudo. Tem um caso em que o juiz me nomeou para ser advogado de defesa de um individuo que matou o seu vizinho, isso foi na Rua do Porto. Ele matou o vizinho porque o galo pertencente ao mesmo, ia até a sua mesa para se alimentar. Um dia o galo estava como de habito comendo sobre a mesa, ele simplesmente pegou um revolver e matou o vizinho.


Ele não matou o galo, matou o vizinho?


É a lição moral que tiro disso tudo. Havia formas de impedir o acesso da ave, com uma cerca ou qualquer outro tipo de providencia mais lógica. Fui até o presídio, conversei com o assassino, disse-lhe: “- Você matou uma pessoa por causa de um galo!”. Ele disse-me: “ O senhor já se imaginou, conviver todos os dias com um galo aborrecendo-lhe?”. Como eu gostava de fazer júri, fui ver o local dos fatos. Dirigi-me até a Rua do Porto, entrei na casa, a esposa do assassino estava lá, me apresentei como advogado do marido dela, disse-lhe que gostaria de conhecer a cozinha da casa. Ela me convidou para entrar. Sabe quem estava em cima da mesa da cozinha? O galo! Perguntei-lhe: “- Dona, esse é o galo que provocou a tragédia?”. Ela me respondeu: “-É o próprio!”. São lições que tive em minha vida. Existem casamentos que terminam porque o marido deixou a toalha de banho no meio da sala, ou porque o marido esqueceu o chinelo no meio do quarto. São coisas minúsculas, banais.


Isso não é a gota d’água que faltava para terminar uma relação desgastada?


É uma gota d’água, mas não justifica que seja suficiente para determinar o fim de um casamento. É dar muito valor para a gota d água. Para segurar um casamento pode jorrar água do copo e não terminar por causa de uma gota.


Quantos livros o senhor já escreveu?


Tenho três livros. “Dezessete das Pedras”, é a história do “Clube dos 17” que eu escrevi, foi uma experiência que eu queria fazer, nunca li um romance, a não ser um livro que li quando estava ainda na escola Barão de Surui, fui até a biblioteca e peguei um livro de romance, fino, o título era “A Beleza Dolorida de Getúlio Schelling”. Escrevi “ Sua Majestade O Pé Esquerdo” e um terceiro que está em processo de lançamento. Estou concluindo outro que é sobre a capacidade de harmonizar opostos. Esse é mais cabala. Estou rascunhando uma peça jurídica. Menciono que escutei um político dizendo: “Precisamos ouvir a voz da rua.”. Digo: “- Você tem que começar a ouvir na sua casa, a voz da sua empregada, do seu jardineiro, a voz do seu açougueiro, a voz da pessoa que limpa a rua, até chegar a ouvir a voz da sua consciência”. Não venha com essa maquiagem intelectual. Rua não fala.


O senhor escolheu esse romance ao acaso?


Ao acaso, eu gostava muito de ir á biblioteca, para ler livros mais pesados. Quando eu trabalhava na área de Direito tinha uma biblioteca de 4.000 livros.


Nesse período em que o senhor cursou Direito como era a sua rotina?


Ia e voltava todos os dias a Campinas. Saia daqui às seis horas da manhã, com uns colegas que tinham carro, ao meio dia entrava no museu, onde estava comissionado, ficava até as seis horas, ia para “O Diário” de onde saia a meia noite.


Qual era a atividade do senhor em “O Diário”?


Fazia a reportagem policial e tinha uma coluna chamada “Mini Notas”. Reportagem policial é uma barra, éramos uma trindade: eu, Rubens Lemaire de Moraes e o Tuca Barreiros, que também tinha a coluna “O Prato Do Dia”. Nós tres éramos inseparáveis. Fizemos uma denuncia contra um traficante, na época a maconha era a droga do momento, isso na decada de 60, um dia jogaram um carro contra nós três em plena Praça José Bonifácio. Escapamos de morrer por muito pouco.


Vocês eram repórteres investigativos?


Metidos a bestas! Fomos fazer batidas juntos com delegados. Ficamos em meio a tiroteio entre policiais e traficantes. Isso é um trabalho policial e não para jornalistas. Fui reporter policial por uns 10 anos. Mais marcante para mim foi na época em que houve um escandalo de drogas em Piracicaba. Dei uma entrevista para o jornal “O Estado de São Paulo”, que recebeu o título dado pelo entrevistador: “A Amesterdam Brasileira”. Essse reporter faleceu atropelado na Avenida São João em São Paulo.


Quer dizer que o cognome que Piracicaba ganhou de Amesterdam Brasileira é fruto de uma reportagem feita com o senhor?


Isso mesmo. Naquela época as coisas estavam feias. Eu tinha tido um aluno de 12 anos que ao ser descoberto fumando maconha suicidou-se. Aquilo repercurtiu muito, tive que tomar uma atitude. O jornal “Estadão” entrou em contato comigo. Ele veio até aqui, fez a matéria, um advogado do “Estadão”, Dr. Manoel Afonso Alceu, me telefonou pedindo que fosse á São Paulo. Disse-me: “ A sua entrevista está na minha mão, estou achando muito pesada, pode trazer-lhe consequencias”. Eu confirmei que deveria ser publicada, nessa época eu já era advogado.


Como surgiu “Mini Notas”?


Sei que surgiu como uma coisa muito gostosa. Tudo na vida é tempero. Fazer jornalismo é como fazer um bolo, uma feijoada. Se faltar algum ingrediente não fica bom. Se for fazer uma coluna tem que temperar com uma notícia curiosa, outra noticia desagradável: “Fulano separou-se da mulher, fulano está doente!”. Cicrano ganhou na loteria, nasceu o filho de tal pessoa, fulano foi viajar, foi enterrado ontem fulano de tal. Tem que fazer o tempero. Outro dia li no “Estadão” a coluna de uma jornalista, ela repetiu a mesma noticia por cinco vezes em sua matéria, perdi o interesse em ler a coluna dessa moça. “Mini Notas” não era uma coluna social, era um caldeirão de noticias. Segundo diziam-me as pessoas que liam, quando o jornal chegava, a primeira parte que liam era “Mini Notas”. Eu fazia pilulas de informação. Quem pesquisar em “Mini Notas” saberá fatos curiosos da época. ”Mini Notas” permaneceu sendo publicada por uns 20 anos: primeiro em “O Diário”, depois no Jornal de Piracicaba e mais tarde na Tribuna Piracicabana.


O senhor ganhou muito dinheiro publicando “Mini Notas” que foi coqueluche na cidade?


Não ganhei nada, Graças a Deus! Havia quem imaginava que eu ganhava muito dinheiro publicando “Mini Notas”.


O que é Cabala?


Para mim é um sistema de pensamento, que você aplica na existencia de Deus, na existencia do mundo, na sua vida, para voce comprar sorvete, para escrever alguma coisa, constituir uma empresa. Você que decide o que quer aplicar. Ela tem uma figura chave que se chama “Arvore da Vida”, que você aplica em tudo que irá fazer. Pela Árvore da Vida você começa a dscobrir que o saber é importante. Cabala, que soletrada em hebraico é QBLH, deriva da raiz Qibel e significa "receber". Basta eu saber? Não! É necessário entender e compreender o saber. Tem muita gente que sabe muito, mas não entende aquilo que sabe. Há outro tipo de pessoa que compreende aquilo que ela sabe, mas não sai disso. Não conhece, conhecer é aplicar. É importante que você saiba, compreenda e aplique. Há pessoas que são eruditas, mas não crescem na vida, na família, no casamento. Fica parada. Ela não sabe aplicar em sua casa tudo que ela vê.


Quando foi o início da Cabala?


Alguns estudiosos afirmam que ela vem do tempo de Noé, 3.000 anos antes de Cristo. “Arca” em hebraico quer dizer palavra. Noé colocou um casal de cada animal que ele tinha que preservar, dentro da arca, isso simbolicamente. Há estudos que afirmam que Noé montou um banco de espermatozóide na Arca. Ele queria preservar a semente.


Não teria que ser mantido congelado?


Na realidade a idéia passada é que se deve ter muito cuidado com a semente. Os estudos da Cabala levam você a ter preocupação com a palavra, para a Cabala letra é vida. Ela ensina que a letra é viva. Existe a letra masculina e feminina. Tudo na vida é casamento. Tudo na vida tem espermatozóide e ovo.


Na sua visão o que move o mundo, dinheiro ou sexo?


Eu acho que é o sexo. Já vi muito sexo fazer sumir o dinheiro! Você faz as coisas por que tem prazer.


O senhor foi candidato a algum cargo político?


Fui presidente de partido político o PR, Partido Republicano do Governador Laudo Natel. Fundamos o partido 45 dias antes das eleições. Escolhemos a dedo um quadro de candidatos a vereador. Conseguimos ser o partido majoritário em Piracicaba. Nenhum dos candidatos a vereador podia fazer campanha individual, quem fazia campanha de um fazia campanha de 40. O Rubens Braga foi um dos eleitos, inclusive como presidente da câmara municipal. Outro eleito foi Lázaro Pinto Sampaio. Elias Jorge foi vereador também. Waldemar Romano. Isso no tempo em que vereador não ganhava nada para trabalhar.







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