sábado, março 12, 2011

MARLY THEREZINHA GERMANO PERECIN

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 26 de fevereiro de 2011
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/

ENTREVISTADA: MARLY THEREZINHA GERMANO PERECIN
A Profa. Dra. Marly Therezinha Germano Perecin e a Profa. Valdiza Caprânico formaram uma das mais felizes parcerias em um empreendimento de fôlego e quem vai ganhar muito com isso é Piracicaba. Em uma iniciativa pioneira, passaram a catalogar símbolos próprios da nossa cidade e discorrer sobre eles, de uma forma objetiva e sintética, bem ao gosto do leitor da nossa época. Contaram com a participação de Thiago Guerreiro, um jovem artista plástico que realizou as belíssimas ilustrações. A obra é composta por 10 volumes e foi lançada na quinta feira, dia 24 na Biblioteca Publica Municipal, em cerimônia marcante contando com grande afluxo de pessoas, incluindo expoentes da intelectualidade piracicabana. A Profa.Valdiza concedeu entrevista á Tribuna Piracicabana no lançamento desse projeto, a profa. Marly discorre sobre aspectos envolvidos nessa obra, agora que parte dela está concluída. Dra. Marly é autora entre outras obras de: “A Síntese Urbana”, que recebeu o Premio Clio de História pela Academia Paulistana de História; “Candeias em Espelho D`Àgua”, Prêmio Especial de Melhor Texto Paradidático sobre a Revolução Liberal de 1842; “Ypié (Maria dos Anjos); “O Instituto Baronesa de Rezende”; “Os Passos do Saber”. Pelo lado materno descende de antiga família de tropeiros de Jundiaí; pelo lado paterno de velho tronco ituano, a família Germano é originária de 1827, junto a barranca do Rio Piracicaba, pelo casamento de Mariana Dias com o lionês Jean Germain (João Germano de França).
Dra. Marly a senhora é natural de qual cidade?
Meus pais começaram suas carreiras na região araraquarense, eu nasci em Taquaritinga a 6 de novembro de 1936, meu pai era piracicabano da gema, o seu desejo era retornar a Piracicaba, como funcionários públicos, de remoção a remoção acabaram voltando a Piracicaba, quatro anos após o meu nascimento. Meu pai ao retornar, disse uma frase: “-Minha filha, tiramos as rodinhas da mobília!” Estudei em Piracicaba até ingressar no curso de História na PUC – Pontifícia Universidade de Campinas.
Viajava todos os dias?
Morei lá certo tempo, após me casar viajava todos os dias. Em Campinas morei no famoso Pensionato das Irmãs de São José, na Rua Culto á Ciência, era reservado ás meninas que tinham o melhor aproveitamento escolar na faculdade, a seleção era feita desde o exame vestibular. Nós éramos o xodó da Madre Ruth. O fundador da Universidade Monsenhor Emilio José Salim zelava pelo pensionato, assim como o Cardeal Agnelo Rossi, um santo homem, estava sempre presente, ele foi meu professor, tive a oportunidade de encontrá-lo em Roma já como Cardeal e posteriormente em uma visita que fez ao Lar dos Velhinhos de Piracicaba. O Bispo Castanho foi outra presença religiosa muito marcante.
A senhora em algum momento almejou seguir a carreira religiosa?
Nunca! Tenho uma tendência mística, mas que não se afina com nenhuma das confissões religiosas. Estudei religião católica, meus pais eram espíritas, morei em colégio de freira, meu marido era protestante. Nunca consegui ter três coisas: partido político, confissão religiosa e doutrina filosófica. Sou muito céptica!
A senhora é céptica, mas tem elementos de expressivo cunho religioso em seu ambiente de trabalho!
São símbolos muito fortes, como a Bandeira do Divino! Ela é cultural na minha família, a minha tetravó, bisavó, avó, eram devotas do Divino! Sempre participaram com o sal e a carne do Divino. Esse culto na família do meu pai é muito antigo. As novas gerações cresceram e passaram a achar que a Festa do Divino era coisa de somenos importância, como eu sou a ultima neta da família Germano, esse legado acabou ficando para mim, afeiçoei-me muito com essa antiga tradição, cultivo folcloricamente, socialmente, culturalmente a Festa do Divino e tenho uma fé com uma das pessoas das pessoas da Santíssima Trindade, o Consolador Prometido por Jesus. Na minha singularidade isso desempenha uma idéia-força muito importante. Oro na minha intimidade e oro socialmente. Gosto muito de orar!
A senhora tem elos fortes com a Escola Sud Mennucci.
Lá eu fui tudo, fui aluna, sai formada como professora, voltei, dei aulas, desempenhei outras funções na escola e lá permaneci até me aposentar.em 1995.
Algumas pessoas afirmam que Piracicaba em seu início era a “terra do degredo”. Qual é a sua opinião?
Essa historia do degredo é uma expressão muito usada entre os primeiros tempos da expansão povoadora no oeste paulista. Quem eram os degredados de Portugal? Geralmente os injustiçados, os cristãos novos, nem todos eram criminosos embora fossem perseguidos pela justiça por inveja, malquerença, comportamento, dinheiro, acusava-se de judeu e confiscavam-se os bens. Há casos que ocorreram em São Paulo. A história do degredo já vem de Portugal, os degredados eram enviados aos povoados distantes, para iniciarem a ocupação do local. Isso era muito comum. Diz-se que para Piracicaba vieram indivíduos de ínfima plebe, índios vadios, isso está no documento do capitão-mor Vicente Taques da Costa. A sociedade da época era dividida em três classes: clero, nobreza e povo. O povo tinha as suas gradações, individuo de ínfima plebe era o ultimo degrau da pobreza. A raspa do tacho. Onde se incluíam bêbados, arruaceiros, prostitutas e as que não eram tão prostitutas, mas as ditas mulheres do fado, mulheres de má vida. As bruxas. Essa gente toda era banida para populações distantes. Os índios vadios não eram vagabundos, eles não estavam com ocupação definida, eram os índios preados, que ficavam em campos de concentração, as aldeias indígenas ao redor de São Paulo, Barueri é uma delas, assim como Itapevi, Pinheiros. Esses índios eram depositados nessas aldeias. Administrados. Esses são os tais índios vadios trazidos pelo Capitão Antonio Correia Barbosa para Piracicaba. Pequenos agricultores, artesãos também foram convencidos a vir. Piracicaba teve uma vanguarda que era o Forte de Iguatemi, outra colônia povoadora. Para lá foi a chamada ralé da ralé, padres apóstrofos, frades amaldiçoados, bruxas, muitas prostitutas, desertores, bandidos. Iguatemi se agüentou por 10 anos, quando a fortaleza foi tomada pelos espanhóis. Ali é chamado de “cemitério dos paulistas”, a maleita ceifava centenas de vidas. Era um processo de “limpeza” e ocupação. Quando trato do assunto em “Águas do Adeus” significava que quem descia pelo Rio Tiete para Iguatemi não voltava mais. Após a conquista de Iguatemi pelos espanhóis, por dois anos havia gente voltando á Porto Feliz.
Qual era o tempo de duração dessa volta?
Correndo tudo bem quatro meses. Mais da metade ficava sepultada pelo caminho. Ao chegar a Porto Feliz, havia uma ordem, os soldados eram considerados culpados pela derrota, eram presos. Muitos soldados que voltavam com a família ao invés de ir a Porto Feliz tomavam o caminho para Piracicaba, sabiam que o Capitão Antonio Correia Barbosa acolhia essa gente.
Qual era o perfil do Capitão Antonio Correia Barbosa?
Admirável sob todos os pontos de vista! Era um bom construtor de barcos, sua origem é de família pobre, era inteligente, ambicioso. Quando para o Real Serviço foram convocadas pessoas do Terceiro Estado, da sessão dos pobres, ele foi indicado pelo Capitão Dias de Almeida, armador das monções para o Baixo Tiete. Quando uma pessoa desempenhava funções ás suas próprias custas, e que fizesse parte do plano real, como fundar povoações, fazer expedição de desbravamento, fundar uma cidade mais extrema, essa pessoa inteligente, ambiciosa, e com posses entrava para o Real Serviço. Se o seu desempenho desse certo ele acabava ganhando um título de nobreza, como por exemplo, “capitão” e angariava pensões do governo. Todos os paulistas eram sertanistas, iam ao mato procurar riquezas.
Por qual motivo fala-se mal de Antonio Correia Barbosa?
Ele entrou em conflito com o padre! O padre queria os dízimos para a sobrevivência da igreja. Houve três padres com os quais ele se indispôs. Os rendimentos de Piracicaba eram muito pequenos. Houve o conflito entre o poder temporal e o clero. Isso é multimilenar na história da civilização ocidental. A produção de canoas que era a riqueza de Piracicaba deveria ser usada para o desenvolvimento de Piracicaba. O governo da capitania quando viu que era uma riqueza apropriou-se dela. O Barbosa ficou vitima dos capitalistas de Porto Feliz e Itu. Ele foi obrigado a fazer o povoamento do Tietê, fato que só se consumou no século XX, com as cidades que vão até Itapura. Imagine onde Barbosa poderia obter recursos para fundar cidades do Baixo e do Médio Tietê? As despesas que o Barbosa teve que enfrentar implodiu o projeto de Piracicaba.
A tão decantada história da mudança de padroeiro de Piracicaba como se deu?
O capitão general Dom Luiz Antonio de Souza Botelho Mourão, Morgado de Mateus, era uma pessoa de difícil trato, usava e abusava do poder que detinha, foi um dos piores tiranos da história de São Paulo. Seu sucessor provou que as povoações fundadas pelo Morgado não passava de um pau fincado em uma praça com meia dúzia de choças. Esse homem foi o autor da desgraça de Iguatemi. Foi o algoz dos paulistas. Algumas das povoações que ele mandou fundar deram certo, como a de Lages, em Santa Catarina, ou Guaratuba, Itapetininga, elas estavam situadas em pontos estratégicos da estrada para o sul. Ele implodiu o projeto de desenvolvimento de Piracicaba pela sua ganância ao dinheiro das embarcações. Motivo pelo qual Barbosa saiu de Piracicaba com a roupa do corpo, indo abrir uma sesmaria para o lado de Mogi - Mirim. Seus filhos foram herdeiros das terras á margem direita do Rio Piracicaba que posteriormente foram adquiridas pelo Barão de Rezende. O capitão general manda nas suas tropas e é autoridade civil, o bispo manda na igreja e é autoridade religiosa, quem decide quem será o orago (santo padroeiro) de uma igreja é o bispo. Não importava que o capitão general desejasse que fosse Nossa Senhora dos Prazeres, que ele dizia ser sua madrinha. O bispo quis, declarou, ordenou e assinou o documento: será Santo Antonio! A igreja foi inaugurada com o orago Santo Antonio. Nunca tivemos Nossa Senhora dos Prazeres no altar da igrejinha de Piracicaba! A história de que jogaram a santa no rio não passa de uma balela. É uma lenda! Por isso estamos escrevendo e publicando essa coletânea, para tirar duvidas!
Piracicaba recebeu o cognome de Ateneu ou Atenas Paulista?
O intelectual italiano, Roberto Capri foi quem denominou Piracicaba de Ateneu Paulista. Em visita a nossa cidade ele viu que aqui havia muitas escolas, um fenômeno para a época, proporcionalmente tínhamos mais escolas do que Campinas e Santos, na época as maiores cidades do estado. Eram tantas escolas que ele chamou Piracicaba de “Ateneu Paulista”. Ateneu é o local onde os intelectuais se reúnem centro de intelectuais, ele jamais poderia falar que aqui era Atenas, pois Atenas é a pátria da democracia e aqui era a terra dos coronéis!
Com relação a Casa do Povoador?
Nunca foi e nem poderia ser! Barbosa fundou Piracicaba na margem direita, a chamada Casa do Povoador está na margem esquerda. Caso ele se mudasse para a margem esquerda perderia a posse das terras da margem direita, ele era posseiro, uma vez que a cidade mudou-se de lugar e ele foi a Itu comprar a esquerda, encontrei a escritura dessa compra em Itu. Mesmo ele saindo de Piracicaba as terras da margem direita continuaram de sua propriedade. A construção existente, a chamada Casa do Povoador, é do inicio do século XIX, com alguns recursos arquitetônicos do século XVIII, como a construção com taipa de mão. Aquela não é uma habitação residencial, é apenas um sobradinho, com duas janelas de frente com vista para a corredeira Itaipava do Vai-e-Vem. Era provavelmente a Casa da Ponte, onde o vigia fiscalizava a ponte e cobrava os pedágios. Não podemos dizer se foi da primeira ponte construída em 1823, ou se foi de outras duas pontes posteriores construídas entre 1824 e 1827. O primeiro construtor de ponte ali foi o meu tetravô Manuel Dias Ribeiro.
O que é esse trabalho que está sendo apresentado á Piracicaba?
É uma coletânea de 10 volumes sobre os ícones piracicabanos. Qual é a árvore símbolo de Piracicaba? É o tamboril, justamente a árvore com que Barbosa construiu a sua frota de barcos. Qual é o peixe símbolo do Rio Piracicaba? É o dourado! O animal símbolo de Piracicaba? Ai vai outro desmancha mitos, o Rio Piracicaba se chama Piracicaba na nossa região, antes ele tem outro nome, ele se chama Jaguari, mineiro que atravessa todo o Estado de São Paulo. O que é jaguari? Jaguary com “Y” significa rio, o rio do jaguar, o animal de grande porte, furor da selva, era o jaguar, a onça pintada! E porque Piracicaba? Por causa da sua própria geografia, quando qualquer criança diz: “Piracicaba é o lugar onde o peixe para!” Por que ela diz isso? Por que tem um salto? E como se fala salto? Piracicaba é o salto! A região de Piracicaba é a região do salto, que deu nome a uma vasta região. Piracicaba significa lugar onde cai o rio, o peixe para porque ali tem um salto.
Um dos volumes da coletânea é sobre o XV de Novembro, a senhora é quinzista?
Na minha família todos nascem de camiseta! Pedi ao meu pai que me levasse a um jogo do XV, eu precisava ver como era isso, era uma religião! Na época os espectadores iam de terno, chapéu e gravata. Assisti De Sordi jogando.
Outros ícones piracicabanos tratados nessa coletânea?
A fruta símbolo é a pitanga, a flor símbolo é a orquídea, o parque Beira Rio. São 10 volumes: “O meu amigo Tamboril”, “O Diário de uma Onça Pintada”, “O Show do Rio”. “A Festa do Divino”, “ O XV ÃO”, “Vôos de Liberdade”, “Doces Sabores de Nossa Terra”, “Piracicaba Cheia de Flores”, “O Parque da Beira Rio”, “O Rio de Piracicaba”, e um complemento pedagógico, o caça-palavras referente aos temas abordados..

sexta-feira, fevereiro 18, 2011

MARIA CECILIA GRANER FESSEL E JOSÉ VICENTE POUSA FESSEL

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
Sábado 19 de fevereiro de 2011
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
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http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADOS: MARIA CECILIA GRANER FESSEL E JOSÉ VICENTE POUSA FESSEL
Karl Graner, nascido em Thüringen em 1812, chegou ao Brasil em setembro de 1853. Um dos seus filhos, Heinrich Berthold Graner, que nasceu na Prússia e veio para o Brasil com os pais aos 10 anos, casou-se com uma imigrante suiça, Marianne Obriest Meyer, é o primeiro casamento registrado na Câmara Municipal de Piracicaba, uma vez que por questões religiosas não foi registrado na igreja católica, como de costume. Maria Cecília Graner Fessel é trineta de Heinrich Berthold Graner, nasceu em Piracicaba no dia 22 de junho de 1942. José Vicente Pousa Fessel nasceu em São Pedro em 14 de setembro de 1941. Ambos são primos, o pai de José Vicente é irmão da mãe de Maria Cecília. As brincadeiras e os folguedos de infância já tinham aproximado os primos, as tranças da menina Cecília eram o alvo predileto para o garoto José puxar e sair correndo. Por longos anos conviveram no ambiente familiar, e só se deram conta do amor que os envolvia quando a jovem Maria Cecília foi estudar em São José do Rio Preto. Com a concordância da Igreja Católica casaram-se na Catedral de Santo Antonio, em Piracicaba. Pais de dois filhos muito saudáveis: Paulo Afonso e Vitor, já são avós. Cecília foi professora na rede estadual de ensino, onde conquistou respeito e admiração de todos que a conheceram, por levar conhecimento técnico e científico, mas, sobretudo por exercer com extrema competência o papel de educadora. José Vicente por muitos anos foi professor na Faculdade de Direito da UNIMEP, tendo a satisfação de ver muitos de seus ex- alunos ocupando altos cargos no Brasil afora. Ainda criança Cecília foi assídua freqüentadora dos Cines Broadway e São José, o seu pai Max Graner era o gerente desses dois cinemas. Maria Cecília é acadêmica da Academia de Letras, Ciências e Artes da Associação dos Funcionários Públicos do Estado de São Paulo, é integrante do Grupo Oficina Literária de Piracicaba – GOLP, do Centro Literário de Piracicaba – CLIP. Sua irmã Nilda protagonizou uma das passagens que agora revelada ao grande público passa a ser parte do folclore piracicabano. Dotada de bela voz, Nilda era escolhida para interpretar a Verônica na procissão da Semana Santa. O canto fúnebre sempre foi um dos pontos altos da procissão, mas em determinado ano Nilda interpretou de uma forma tão expressiva que a multidão passou a chorar de forma compulsiva. O seu canto tocou fundo o coração daquelas pessoas, era um profundo lamento. Estranhamente algumas de suas amigas mais próximas, seguravam o riso em ocasião tão solene. Elas sabiam que boa parte daquele lamento de Nilda vinha de um amargo diálogo com o namorado! Era mesmo dor de paixão!
Onde a sua família morava quando a senhora nasceu?
Morávamos na Rua Prudente de Moraes, nas imediações da Igreja São Benedito, meu pai Max Graner por formação era contador, ele gostava de ler, era uma pessoa muito culta, foi gerente dos cines Broadway e São José por volta de 1946 a 1958. A minha mãe Otília Fessel Graner era de prendas domésticas. Tenho ascendência germânica por parte de meus pais. Além de Fessel e Graner a família Keller faz parte da nossa ascendência.
José Vicente qual é o nome dos seus pais?
Sou filho de Antonio Augusto Fessel e Albertina Fessel, meu pai era dentista na cidade de São Pedro e a minha mãe professora. Na época não era muito fácil ser filho de pai que era dentista, os recursos técnicos existentes não privilegiavam o tratamento absolutamente indolor, exigia certo grau de tolerância á dor por parte do paciente o que contribuía para que o tratamento dentário fosse motivo de ojeriza. A casa existe até hoje, fica na Rua Veríssimo Prado, a um quarteirão da igreja matriz. A minha mãe foi minha professora no Grupo Escolar Gustavo Teixeira. A ida de trem de Piracicaba á São Pedro demorava duas horas e meia de viagem. Com a idade de 10 a 11 anos eu vim para Piracicaba, permaneci hospedado por uns seis meses na casa dos meus tios, pais da Cecília. Logo depois a minha família mudou-se á Piracicaba, nessa época meu pai continuou trabalhando em São Pedro, como dentista, quando ele veio á Piracicaba já estava aposentado.
Vocês estudaram em que escolas?
Estudamos no Grupo Escolar Moraes Barros e no Instituto Sud Mennucci onde fizemos o Curso Científico na mesma época, mas nunca na mesma sala de aula.
A senhora era uma boa aluna?
Eu era aluna muito dedicada, estava geralmente com a melhor nota da turma, inclusive ingressei na faculdade classificada em primeiro lugar. Nessa época o José Vicente ainda não se dedicava tanto como eu nos estudos.
José Vicente, quais foram as suas atividades profissionais?
Trabalhei com Luiz Guidotti na sua indústria de refrigeração, situada á Rua Cristiano Cleophat, como técnico em contabilidade trabalhei na Helssa (Hellmeister e Sbrissa), fábrica de cadeiras. Quando me casei a Cecília disse: “-A minha família não admite gente sem diploma, você vai estudar!”. Fiz o curso de técnico em contabilidade, na Vila Rezende ao lado da Igreja Matriz da Vila Rezende, havia alguma ligação com a igreja, o prédio existe até hoje. Era popularmente chamada de “Escola do Carequinha”, não sei dizer exatamente o porquê era assim denominada. A Angelina Aquino era a diretora. Após concluir o curso, a minha esposa me apertou para entrar na faculdade. Ela sempre foi durona! Fiz o vestibular e para “desgosto” da Cecília passei em primeiro lugar! Iniciei o curso quando a Faculdade de Direito era no centro, conclui na primeira turma formada no Campus Taquaral. O reitor Richard Edward Senn a principio iria construir o campus da UNIMEP onde hoje se situa o Shopping Piracicaba, na ocasião houve a permuta pelo espaço onde está atualmente a UNIMEP, na Rodovia do Açúcar. Por 22 anos lecionei na UNIMEP. Fui professor na faculdade Anhanguera em Jundiaí, na UNIP de Campinas. Realizei-me sendo professor, valeu a pena.
Como advogado o senhor atuava em que área?
Atuei na área cível e na trabalhista. O advogado tem que estudar muito, eu achava que sabia tudo, quando resolvi fazer o mestrado vi que não sabia nada.
Há excesso de advogados no mercado?
Faz tempo que esse mercado está inflacionado e a tendência é de aumentar o número de profissionais. Quando fiz o curso em nossa região havia a UNIMEP e a PUC de Campinas, hoje muitas cidades vizinhas dispõem de cursos de direito. Havia faculdade com até oito classes de alunos no primeiro ano de direito, cada uma com 80 alunos. Atualmente deve haver mais escolas e mais alunos de direito.
Quais requisitos são necessários a um bom advogado?
(Pausa). Tem muita coisa! Em primeiro lugar, e isso deve haver em qualquer profissão, é a educação. Não confunda educação com instrução. A educação é adquirida ainda na própria família, a noção de que você é membro de uma comunidade, pertence a uma sociedade com regras que devem ser seguidas. O profissional deve ter conhecimento, isso sim se consegue através de estudo. A prática da profissão é essencial ao bacharel, ao sair da faculdade ele é carente de conhecimentos básicos da pratica da profissão.
A morosidade do andamento dos processos ocorre principalmente em função do que?
Ocorre principalmente porque o Poder Legislativo cria um grande número de leis que atrapalham a vida do cidadão. O Poder Legislativo não se preocupa em criar leis que sejam de interesse á população como um todo. Cada código de processo que aparece é mais uma possibilidade de recurso para aquele que perdeu o processo e não quer pagar a conta. A começar do próprio governo.
É um subterfúgio?
É um “sub todas as coisas”! Dona Cecília tem um dinheiro para receber do Governo do Estado que foi condenado pelo Poder Judiciário a pagar, não paga! Há um ano e meio a imprensa trouxe a notícia de que a “Lei do Calote” tinha sido aprovada pelo Congresso Nacional! O governo comprou a Companhia Paulista de Estrada de Ferro, só que até hoje não pagou! O precatório está lá! (Ordem da Justiça para que o agente público, Prefeitura, Governo Estadual ou Federal pague uma ação judicial que foi perdida). Chegou-se ao cumulo de um oficial de cartório civil, em Piracicaba, dizer que determinada lei que oferecia a gratuidade de registro do primeiro filho, naquele cartório “não pegou”!
Qual é a opinião do senhor com relação à grande quantidade de leis existentes?
Somos nós que escolhemos quem irá nos representar no Congresso Nacional!
Professora Cecília, como anda o nosso ensino?
Após a Revolução de 1964, tivemos um período de greves no ensino, na época em que Paulo Maluf foi governador. Depois ocorreu um período de euforia e liberdade, sob o meu ponto de vista e também de muitos professores com quem convivi houve uma liberalização excessiva, a tal ponto que o aluno passou a ser mais importante do que o professor, a palavra do aluno e a do professor passaram a ter o mesmo peso diante do diretor da escola. O professor perdeu o seu crédito! Isso foi fruto do período da Revolução. Depois piorou, o governo passou a baixar decretos que influíam diretamente na quantidade de alunos que o professor poderia reprovar. O diretor da escola era pressionado a atingir uma cota de aprovação de alunos.
Qual era o objetivo disso?
Aprovar o maior número de alunos possível!
Com qual finalidade?
Promover a ignorância! Para não haver contestação do que o governo fazia na época. Com a história de aprovar por decreto não permitia que se reprovasse o aluno. Lembro-me de uns rapazes, alunos do terceiro ano colegial que tinham banda, nunca vinham à aula, apareciam uma vez por mês, iam porque os pais obrigavam a irem, no final do ano ao fazerem as provas era evidente que não sabiam nada, deixávamos para a recuperação, após fazerem a recuperação continuavam não sabendo nada, o diretor da escola chamava cada professor e perguntava: “-A senhora tem certeza de que esse aluno deve ser reprovado? Ele não atingiu o mínimo possível para ser aprovado?”. Eu dizia: “Tenho vergonha de aprovar esse aluno! Ele não sabe nada, além de ser uma vergonha para mim é desrespeito para com os outros que se esforçaram para serem aprovados!”.
Isso não ocorre apenas no ensino publico. Já sofri esse tipo de pressão em uma escola particular. Esse tipo de coisa não pode existir na educação! A escola deve ser um lugar onde se transmite valores morais, sociais, cívicos. Atualmente isso não acontece.
Ao concluir o curso científico a senhora foi estudar onde?
Eu gostaria de ter feito o curso de medicina, infelizmente isso não foi possível. Eu tinha um irmão que morava em São José do Rio Preto, onde havia uma faculdade que oferecia diversos cursos, entre eles o de biologia, era a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de São José do Rio Preto onde me formei em 1964.
Após a formatura onde a senhora passou a trabalhar?
Vim lecionar no Jorge Coury, em Piracicaba, o diretor era Arlindo Rufatto. Eu já tinha dado aula em um cursinho preparatório para ingressar na faculdade, dei aulas em uma escola de freiras, quando estava no ultimo ano da faculdade passei a dar aulas em uma escola estadual. Quando vim á Piracicaba já tinha alguma experiência com alunos. Lecionei na época em que entre outros estavam os professores: Conceição, Luizinho, Flordelis, Persão, Clemência. Seu Arlindo me respeitava muito porque sabia que eu mantinha a disciplina e ensinava. A escola Jorge Coury funcionava no prédio ao lado da Igreja dos Frades, na Rua Alferes. Em determinado dia Seu Arlindo anunciou que ganharíamos um prédio novo, onde haveria dois laboratórios sendo um de biologia e outro de física e química. Ele disse-me que eu deveria ir até o prédio e determinar como o laboratório deveria ser instalado. Fui até lá e indiquei onde deveriam ser colocadas as torneiras, Bico de Bunsen, e demais instalações. Ele me pediu uma relação de todos os materiais necessários para as aulas de laboratório. Fiz essa relação, quando o laboratório ficou pronto Seu Arlindo disse que aquele material iria ser comprado devagar. Acabamos comprando microscópios, vidraria. Seu Arlindo abriu as portas e deu dinheiro! A família do Dr. Jorge Coury também ajudava a escola, Dr. Raul Coury sempre foi muito atencioso com as necessidades da escola. Seu Arlindo Rufatto sempre me apoiou muito, e sempre confiou no meu trabalho. Teve uma ocasião em que alguma coisa foi feita errada e eu fiquei sem receber, meu salário não veio, isso no começo de vida me deixou apavorada, falei com Seu Arlindo, ele verificou e disse ter sido foi um engano da secretaria, pediu desculpas e pagou do próprio bolso, para quando viesse o salário eu devolvesse. A Clemência Pizzigatti agitava bastante no sentido de promover eventos, realizamos as exposições chamadas EMDA, Exposição de Material Didático de Alunos, juntamente com o professor Luizinho de geografia.
A senhora promovia viagens de cunho didático aos seus alunos?
Sempre gostei muito de proporcionar essas oportunidades aos meus alunos, no Jorge Coury fiz duas ou três excursões em conjunto com professores de outras áreas como a professora de história, a Eutimia, fomos visitar museu em São Paulo, o Planetário, quando lecionei no colégio Mello Moraes, fiz um curso onde se falou muito na Ilha do Cardoso, que era um centro de pesquisas, fiz uma visita com uma turma de professores, achei tão maravilhoso que decidi levar meus alunos. Lá tem o mar, o costão onde há certos tipos de animais, com a vegetação de duna, depois vem a vegetação intermediária, a seguir uma área com uma espécie de serradinho, em seguida vem a Mata Atlântica. É um local muito interessante para mostrar os tipos de vegetações ao longo da topografia local. Permanecíamos por três dias realizando estudos no local.
A senhora aposentou-se em que ano?
Foi em 1990.
Em que ano vocês se casaram?
Foi em 3 de janeiro de 1968, na Igreja Catedral, celebrado pelo Padre Carreta, que tinha batizado o José Vicente. Ele veio de São Pedro para celebrar o nosso casamento, o pároco da catedral concelebrou. O Maestro Ernest Mahle executou as músicas ao órgão.
A lua de mel foi onde?
Foi em Curitiba, viajamos com um carro DKW, ano de fabricação 1959, foi uma viagem muito tranqüila, não furou um pneu!
O senhor toca algum instrumento?
Recentemente fiquei sabendo que fui o primeiro aluno de flauta da Escola de Música de Piracicaba, iniciei os estudos quando tinha 14 anos, o Maestro Mahle foi o meu professor. Tanto eu como a minha esposa gostamos muito de música clássica. Cantei em alguns corais, sou baixo.
O senhor gostava de algum esporte?
Até os meus 14 anos não podia se falar de futebol na minha casa. Os meus tios, Otílio e João Pousa, irmãos da minha mãe, são fundadores do XV de Novembro. O mais velho dos irmãos, o Joaquim, não jogava, mas ia assistir às partidas trajando como de habito na época, paletó, gravata. No calor da partida foi dito algo ofensivo á um dos meus tios que jogava, o Joaquim tomou as dores, e do elegante traje pouco sobrou. Com isso futebol passou a ser visto como desgraça na família da minha mãe. Meus tios não deixaram de participar dos jogos do XV de Novembro. A minha avó materna foi residir na casa dos meus pais, com isso futebol era tabu. Aos 14 anos meu tio Joaquim voltou a morar em Piracicaba e passou a me levar aos jogos do XV. Freqüentei muito o campo da Rua Regente Feijó. Era muito gostoso estar ao lado do Professor Benedito de Andrade torcendo pelo XV de Novembro. Canarinho era goleiro, Pepino o beque, Biguá. De Sordi jogava no São Paulo, Mazzola jogava no Palmeiras.
Professora Cecília, a senhora tem algum livro publicado?
Tenho livros escritos, mas não publicados. Há um pronto sobre Maria Cecília Bonachella, com apresentação de Miriam Botelho, há alguma possibilidade de ser publicado. (No dia seguinte a entrevista chega a noticia de que o livro “Os pequenos Caminhos de Maria Cecília Bonachella” de Maria Cecília Graner Fessel,irá ser publicado com apoio do FAC, Fundo de Apoio a Cultura). Estou escrevendo o livro “Enredamentos”, titulo dado pelo meu marido, José Vicente. Nesse livro abordo o aspecto que mostra que não vivemos sozinhos no mundo, a gente se enreda com as pessoas. Tudo isso influi na nossa vida. Quantas pessoas passaram pela minha vida, deixaram algo para mim, assim como devo ter contribuído com alguma coisa para elas. Muitas vezes não vi mais a pessoa, mas ela participou da minha formação. Escrevo poesia daquilo que me toca como, por exemplo, versos de cunho social. Já fiz versos sobre os nordestinos, o resgate dos mineiros, os pescadores do Rio Piracicaba, cortadores de cana. Escrevo tendo como tema a natureza, os males que o homem provoca nela.

domingo, fevereiro 13, 2011

NAOKI (PEDRO) KAWAI

JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
Sábado 03 de fevereiro de 2011
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
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ENTREVISTADO: NAOKI (PEDRO) KAWAI
Naoki Kawai, conhecido como Pedro Kawai ou Pedro Fuji, é muito popular entre os piracicabanos. Pelas suas atividades profissionais, por suas atuações em entidades assistenciais. Foi eleito vereador, mas não pode assumir o cargo, os meandros da legislação eleitoral vigente na época não computaram os votos de Pedro Kawai como sendo de Naoki Kawai, nome que constava em seu registro de candidato. Isso não o deteve em sua trajetória de trabalho em benefício aqueles que necessitam de ajuda humanitária. Católico devoto uniu a sabedoria oriental com os ensinamentos cristãos. Já trabalhou na roça, foi fotógrafo de centenas de noivos, como técnico de laboratório fotográfico vivenciou a época em que as famílias dirigiam-se até o estúdio para serem fotografadas, e em branco e preto. Por muitos anos guardou como souvenir uma multa lavrada por um guarda rodoviário, tinha atingido a absurda velocidade de 140 quilômetros por hora em seu preparadíssimo Gordini! Coisa da juventude! Casou-se em 28 de fevereiro de 1970 com Inês Terezinha Furlani Kawai, tiveram os filhos: Pedro Motoitiro Kawai, Cássia Kishino Kawai e.David.Naoki Kawai. Com uma extensa folha de serviços sociais prestados á comunidade piracicabana, entre as atividades exercidas foi presidente do Clube Nipo Brasileiro por 16 anos.
Naoki Kawai como surgiu o nome Pedro Kawai?
A igreja católica não realizava o batismo com o nome japonês Naoki, o padre disse que iria batizar como Pedro pelo fato de ter nascido no dia 29 de junho, dia em que se comemora o santo, isso foi em 1944. Sou natural de Rancharia, Estado de São Paulo, o nome do meu pai é Motoitiro Kawai e da minha mãe Kishino Kawai, naturais de Okayama, Japão, chegaram ao Brasil na década de 20. Desembarcaram em Santos, de lá vieram á São Paulo, na Hospedaria dos Imigrantes e em seguida fora para a lavoura de café na Fazenda São Martinho, em Araçatuba. Meu pai foi integrante da guarda imperial japonesa, uma unidade de elite que exigia dos seus componentes o comportamento impecável das suas cinco gerações anteriores.
O choque cultural foi muito violento assim que seus pais chegaram ao Brasil?
Minha mãe contava que tanto ela como o meu pai tinham estudos superiores (faculdades), imagine o que significou ter que pegar um cabo de enxada! O choque foi muito grande para eles, ela com 23 a 24 anos e ele com 27 a 28, eram casados e já tinham uma filha.
Por quantos anos eles permaneceram na fazenda de café?
Foram de 3 a 4 anos, quando saíram e mudaram para Rancharia, onde adquiriram 40 alqueires de terras e passaram a plantar algodão.
Quantos filhos eles tiveram?
Somos no total 12 irmãos. Com seis anos de idade fui para a escola em Rancharia, embora a nossa vida fosse difícil os meus pais tinham em mente que a educação dos filhos era prioritária. Em 1959 meu pai faleceu, em 1963 mudamos para Piracicaba.
Como foi escolhida Piracicaba para a família morar?
O meu irmão mais velho, o Paulo, já estava em Piracicaba, o meu cunhado Nicolau Nakagawa era fotografo, foi dono da City Foto, localizada na Rua Moraes Barros. Nossa família adquiriu uma casa situada na Rua Benjamin Constant, próxima a Rua São Francisco de Assis, aonde mais tarde veio a funcionar a Foto Fuji.
Você já era fotógrafo?
Não atuava como profissional, mas conhecia o assunto. Trabalhei mais no estúdio, não fazia muitas reportagens externas. Estávamos em quatro irmãos trabalhando na empresa, o Paulo, Jorge, eu e o Kenji. O irmão mais novo era metalúrgico!
A Foto Fuji por muitos anos foi uma grande força da fotografia em Piracicaba. Era uma das melhores da cidade?
Sem falsa modéstia foi muito representativa em toda a nossa região. Tivemos a felicidade de fazer um contrato de exclusividade com a Fuji do Brasil e passamos a ser representantes exclusivos da marca na região. Todo produto Fuji comercializado em um perímetro determinado, envolvendo diversas cidades próximas, resultava em uma participação percentual a título de comissão. Logo depois que montamos a Foto Fuji passamos a adquirir cada vez mais filmes fotográficos, até que começamos a adquirir da própria fábrica, via distribuidora. A Fuji Film vendo o sucesso do nosso trabalho ofereceu a distribuição regional.
Que tipos de fotos eram a Foto Fuji fazia?
Antigamente eram feitas muitas fotos em estúdio, de casamento inclusive. Em um sábado do mês de maio de um determinado ano fotografei 50 casais. Minha mãe ficava no andar térreo coordenando e eu ficava no estúdio no andar superior. Eram tiradas cinco a seis fotos por casal, em preto e branco. O que mais me chateava é que às vezes saia o noivo ou a noiva de olhos fechados! Isso só se sabia após a foto ser revelada! Tirávamos muitas fotografias 3x4, fazíamos reportagens fotográficas, com 8 a 10 fotógrafos dedicados á elas como o Paulo, Jorge, Kenji, João Boaretto, Esneder Penatti, Leonel Menegatti.
Como eram essas reportagens?
São fotografias externas, realizadas em igrejas, casamentos, fatos, eventos. Cheguei a trabalhar com a Polícia Técnica na época do perito Homero Anéfalos.
Essas fotos de crimes e acidentes impressionavam?
Bastante! Eu tinha um amigo que cursava faculdade em São Carlos, quase todas as sextas feiras nos reuniam no Jequibá para bater papo e tomar uma cervejinha. Uma noite fui fazer a cobertura de um acidente no pontilhão da estrada de Iracemápolis, um dos envolvidos teve a cabeça desfigurada. Voltei ao laboratório, revelei o filme e me atentei para a pessoa da foto, era o meu amigo de sexta feira. Quando tive a confirmação me senti muito mal.
Você fotografou bailes de carnaval em clubes?
Nós tínhamos a exclusividade das fotos dos bailes de carnaval do Clube Ítalo Brasileiro.
Iam famílias para tirar fotografias?
Muitas famílias iam tirar fotos de todos os integrantes reunidos, isso no estúdio, era um costume da época.
Após um período na Foto Fuji qual foi sua próxima atividade?
Por um ano e meio trabalhei na feira livre, comercializando legumes, se você quiser conhecer uma cidade e seus habitantes o trabalho na feira é revelador, a cada dia você está em um canto diferente da cidade.
Você praticava algum esporte nessa época?
Às segundas, quartas e sextas eu treinava judô com os três irmãos Mubaraki na academia deles, situada em cima do Cine Politeama, foi lá que conheci o Jô Antonelli, hoje Sétimo Dan, grande mestre.
Você gostava de ir a bailes?
Freqüentava bailes em todos os clubes de Piracicaba, um dos mais animados era no Clube Treze de Maio. Como fotógrafo eu encontrei sempre as portas dos clubes abertas e fui muito bem recebido em todos eles.
Qual foi o primeiro veículo que você adquiriu?
Foi um caminhão Fargo, ano 1946, verde, “queixo-duro” (veículos sem direção hidráulica), eu comprei para trabalhar na feira. Tive uma Rural Willys, depois cada um dos irmãos tinha um Gordini. Quando eu me casei a lua de mel viajamos em um Gordini. Fui levar a minha irmã até Marília, na volta eu tomei uma multa por excesso de velocidade, 140 quilômetros por hora com o Gordini! Guardei essa multa por muitos anos. Era um Gordini com tala larga nas rodas traseiras, fios e velas importadas. Tive dois ou três Ford Landau, e um Alfa Romeo TI. Eu gostava muito de carro, hoje não ligo mais!
A Foto Fuji existiu por quantos anos?
A empresa encerrou as suas atividades por volta de 1993. Eu permaneci de 1963 a 1973 ano em que deixei a sociedade, minha intenção era mudar para Curitiba. A Foto Fuji tinha uma máquina muito avançada para fazer revelações de filmes de amadores. Era quase tudo automatizado, colocava-se o negativo, apertava-se o teclado e a maquina processava o filme. No Brasil só existiam sete máquinas dessas, a Foto Fuji tinha uma delas. Uma empresa de Curitiba necessitava de um técnico para operar essa máquina, fui convidado a ir trabalhar naquela cidade. O meu sogro Davi Furlani que era proprietário da Vidraçaria Santa Terezinha, convenceu-me a trabalhar com ele. Mais tarde montei a minha empresa, a Vidraçaria Fuji, na Rua do Rosário, esquina com a Avenida Dr. João Conceição, onde é hoje a Paulitintas.
Quando se deu o seu ingresso no Clube Nipo Brasileiro?
Logo que cheguei a Piracicaba, em 1963 filiei-me ao Clube Cultural e Recreativo Nipo Brasileiro de Piracicaba, o presidente na época era Oscar Nishimura, proprietário do Restaurante Alvorada.
Era um clube restrito a comunidade japonesa?
Era fechadíssimo, era composto por japoneses ou descendentes. Atualmente temos diretores que não são nem descentes de japoneses, como o vice-prefeito Dr. Sérgio Pacheco, há também o Rudinei Ribeiro.
Qual o critério para ser admitido como sócio do Clube Nipo Brasileiro?
Deve ser uma pessoa de boa conduta, bom cidadão e que deseje participar das atividades do clube. Temos atividades esportivas com pessoas da terceira idade, como o basebol que é muito praticado pela comunidade É famoso também o karaokê, assim como as aulas de japonês. A sede do clube fica na Avenida do Café, 611, ela foi construída pela comunidade japonesa, tendo à frente Oscar Nishimura, a família Takaki, e outros. No ano 2000 adquirimos dois alqueires de terras no Bairro Pau D`Alhinho onde temos um campo de basebol com a infra-estrutura necessária.
Entre as suas atividades filantrópicas você pode citar algumas?
Fui presidente da Casa do Bom Menino por 12 anos, vice-presidente e fundador da APAC juntamente com Carlos Cantarelli e Ariovaldo Pizzinato. Participei do Centro de Obras Sociais de Piracicaba e o trabalho que é desenvolvido na Igreja dos Frades, junto ao Cursilho.
O que o motiva a participar dessas entidades?
Pela minha óptica o homem vem á Terra para ser útil, não só para si, mas para todos que o rodeiam. Isso está escrito na Bíblia Sagrada: “Tive fome e deste-me alimento; tive sede e destes-me o que beber”; “Estive preso e me visitaste” Acredito que é uma obrigação do ser humano ser útil ao próximo. O fato de termos sido concebidos, o processo de fecundação do óvulo pelo único espermatozóide em milhões, determina que seja um vencedor dentro do maravilhoso processo da criação. Nascermos é um feito heróico! Por qual razão estamos nesse mundo? Para que?
A busca insana pelo sucesso leva o ser humano a que parte?
No meu conceito, quando chegar o momento da minha partida eu estou pronto! Tenho a plena convicção de que fiz o que deveria ter sido feito na hora correta. Todos os dias ao me levantar eu agradeço a Deus, coloco um objetivo para ser alcançado pelo meu trabalho. Há dias que logo no período da manhã atingi a meta a que me propus, em termos financeiros, esse é um objetivo que todo homem tem que ter. A partir do momento que realizei meu objetivo pessoal passo a me dedicar á filantropia, o que eu necessitava Deus já proveu para mim, resta que eu faça pelo meu semelhante. .
Esse raciocínio não é muito comum encontrarmos em outras pessoas!
Eu sou assim! Senão a gente não faz! Eu divido, não levo serviço para casa.
Pedro, você é bom cozinheiro?
Sem falsa modéstia, sei fazer uma boa feijoada assim como macarronada! Também sei fazer galinhada!
Você já participou de política?
A pedido do Bispo Dom Aniger, fui candidato á vereador sendo que o registro era em meu nome civil, Naoki Kawai, quem recebeu uma estrondosa votação foi Pedro Fuji! O nome como eu era conhecido na cidade! Pedro Fuji foi eleito, Naoki Kawai não! Na administração do prefeito João Hermann Neto, o Storel era presidente do Centro de Obras Sociais de Piracicaba, eu era vice-presidente, fui com um motorista buscar uma Belina que o governo estadual doou ao Centro de Obras Sociais, havia uma fila de representantes de outras cidades que foram receber os respectivos veículos. O Governador Paulo Maluf ia a cada representante para oficializar a entrega do veículo. Ao chegar junto a mim me apresentei: “Naoki Kawai, Piracicaba!”. Uns 90 dias depois fui novamente á São Paulo buscar uma Kombi que foi doada pelo governo á Casa do Bom Menino. Havia uma enorme fila de pessoas que foram receber doações. O Governador Paulo Maluf veio de um em um, observei se alguém sussurrava algo em seu ouvido, não vi nada, ao chegar junto a mim Paulo Maluf disse: “- Naoki Kawai, de Piracicaba o senhor está bom?”. A partir daquele momento passei a admirar Paulo Maluf! Eu tinha o famoso número do telefone vermelho de Paulo Maluf, em situações de muita necessidade era só ligar naquele número, caso não atendesse na hora ele ligava depois.
Quando você conheceu o Cursilho?
Foi de 14 a 17 de abril de 1973, permaneci por quatro dias no Seminário Diocesano, um acontecimento que marcou uma nova etapa na minha vida. Foi um encontro comigo mesmo! O cursilho me fez parar, olhar para o meu interior, analisar aspectos importantes da minha existência, assim tomei um novo rumo em minha vida. A pessoa que sofreu algum problema sério de saúde ela muda sua forma de viver. Ele percebe como é frágil.
Você se relaciona com pessoas muito influentes?
Mantenho contato com pessoas que ocupam cargos importantes, diretores de instituições, políticos, empresários, industriais. Em determinada época eu presidia a Casa do Bom Menino, tínhamos 22 funcionários, havia um déficit muito grande, Eu chamei a TV Campinas que fez uma matéria com a Casa do Bom Menino, expondo a situação falimentar da mesma, a reportagem foi parar no gabinete do governador do Estado! Consegui que o Vice Governador José Maria Marins trouxesse á Piracicaba, para a Casa do Bom Menino, um valor que cobria as nossas necessidades e ainda dava uma grande folga de caixa.
Como surgiu a idéia de criar a APAC?
Reuníamos todas as quinta feiras na Igreja São Dimas, de 10 a 12 casais, eram cursilhistas, o jornal estampou um pedido do Dr. Washington, delegado de policia que tinha vindo de São José dos Campos, solicitava a apresentação de voluntários para visitar os presos. O Cantarelli se interessou e me convidou para conhecer melhor o assunto. Fomos até a cadeia, entramos no pátio, os presos fizeram muitas perguntas á nós. Expusemos qual era a nossa intenção: evangelizar, falar de Deus, escutar as queixas deles. Alguns eram pessoas conhecidas na cidade. Trouxemos ao nosso grupo as impressões do que vimos lá, entre outras pessoas tomavam parte desse grupo Sérgio Maluf, Waldemar Brunelli, Silvio Ferraz, Ariovaldo, Antonio Benedito. Íamos á cadeia as segundas, quartas e sextas, às seis horas da tarde, permanecíamos por uns quarenta minutos mais ou menos.
Qual era o maior desejo dos detentos?
Queriam que nós visitássemos as suas famílias para levar noticias sobre elas.
Como esse trabalho refletia nos presos?
A cela quatro detinha os presos de maior periculosidade, no inicio fomos vistos com certas reservas, após uns seis ou sete meses um deles me chamou e me entregou de uma forma muito discreta, um estilete comprido o suficientemente grande para atravessar o corpo de um homem. Ele disse-me:
“- Agora tenho uma arma maior do que essa. É Deus!” Tive que fazer o possível para sair com aquele artefato sem que ninguém percebesse, poderia agravar a situação do preso.
Qual era o maior problema que você via nas celas?
A convivência na mesma cela de presos com diferentes graus de periculosidade, quem tinha cometido um delito leve estava junto a alguém que havia cometido um grave delito. Essa mistura era péssima.
O que os levava a criminalidade?
Se tivessem uma assistência como a que era oferecida na Casa do Bom Menino, com uma infância e adolescência, estruturada, bem cuidada, com educação, possivelmente não iriam cometer delitos.
A própria sociedade descuida da formação?
A formação é fundamental, é mais difícil recuperar do que formar. A APAC recuperou muitos detentos.
Qual é o seu maior sonho atualmente?
Ver a minha neta casada! Ela hoje tem apenas oito anos! (Muitos risos).

MARIA ADA PIERAZZI CADIOLI

JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
Sábado 12 de fevereiro de 2011
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
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ENTREVISTADA: MARIA ADA PIERAZZI CADIOLI
Maria Ada Pierazzi Cadioli é uma simpática senhora, cabelos bem cuidados, usando um vestido com cores claras, sapatos de saltos não muito altos. Alguém bate á porta, quase em um salto Ada levanta-se e rapidamente atende, nem de longe deixa transparecer que já acumulou 91 anos de vida. Com seus olhos claros muito vivos, cumprimenta em italiano, e nesse idioma estabelece um colóquio até de que de forma muito simpática passa a se expressar em português, mantendo o seu forte sotaque italiano. È difícil imaginar que essa senhora já viveu os horrores da Segunda Guerra Mundial, que como muitos italianos, se não quase todos, encantou-se e desencantou-se com a liderança e carisma de Benito Mussolini. Maria Ada conheceu Athos Cadioli quando ambos ainda eram jovens, por 11 anos namoraram, ele foi á África combater na frente de batalha. O jovem soldado Athos retornou á Itália desposando a amada. Ambos eram professores, lecionaram por alguns anos na Itália, até a deixarem rumo ao Brasil. A América era o sonho dourado dos europeus castigados por uma guerra fratricida em seu próprio território. Ada e Athos após permanecerem algum tempo em São Paulo passaram a residir em Piracicaba, onde comercializavam tratores e acessórios, sendo representantes do lendário trator Landini, que funcionava até com óleo de cozinha como combustível! Ada e Athos eram amigos próximos de um grande empreendedor, também de origem italiana, o Comendador Mário Dedini. Em Piracicaba a professora Ada passou a lecionar italiano, inicialmente como voluntária na Società Italiana di Mutuo Soccorso. Foi professora com aulas particulares de italiano para um grande número de pessoas que foram seus alunos nessas décadas em que lecionou. Encantando a todos pelo seu conhecimento, cultura, e a sua simplicidade de hábitos. Em suas aulas de italiano além do idioma ela criou uma janela para a Itália. Os seus alunos tiveram uma imersão na cultura italiana. A acompanhante de Maria de Lourdes Camacho relata que em seus passeios matinais algumas vezes tem que dizer: “-Dona Ada! Não corra!”, graças aos passos acelerados de Maria Ada.
Em que ano a senhora nasceu?
Nasci em 2 de janeiro de 1920, em Bardelli, junto a San Benedetto Pó, na Província de Mantova, sou uma das três filhas do casal Archimedes e Dorina. Meu pai comercializava insumos para animais. ( Nesse instante batem á porta da sala, Dona Ada levanta-se com muita agilidade e abre a porta. Ao receber o comentário sobre a sua excelente disposição física ela comenta em tom de brincadeira: “Sou uma menina!”).
Como a senhora conheceu o seu marido?
A sua família morava em Zovo, cerca de 5 quilômetros da casa dos meus pais. O seu avô morava próximo a nossa casa. Em uma das visitas que ele fez ao avô eu estava lá, bastou nos olharmos para termos simpatia um com o outro, namoramos por 11 anos.. Embora fosse formado como professor sua paixão era a mecânica, manufatura com metais, os lustres que temos na sala foi feito por ele. A família da mãe do meu marido morava no Brasil, convidavam para virmos morar no Brasil. Casei-me com 27 anos.
A senhora formou-se professora na Itália?
Sim, aos 18 anos estava formada professora, lecionei a língua italiana por 8 anos, na Itália, a escola ficava em Bardelli.
Durante a Segunda Guerra Mundial a senhora estava na Itália?
Nós morávamos em uma casa muito grande, com dois andares, meu pai com seus ajudantes fizeram um abrigo subterrâneo no quintal da nossa casa, aviões voavam sobre nós jogando bombas. Sempre que percebíamos algum movimento entravamos nesse abrigo. Dormíamos com a roupa do corpo, para se necessário corrermos imediatamente ao abrigo.
A senhora se lembra de Mussolini?
Houve um período em que o povo italiano gostava muito dele. No verão eu costumava a passar um mês em Roma, era possível nessas ocasiões ver que Mussolini aparecia em público mantendo um contato muito cordial com os estudantes. Era uma pessoa bonita, tinha uma postura séria, porém muito simpática ao povo, era muito gentil com todos. Vi sua esposa, Rachele Guidi. Na época comentava-se que ela quiz conhecer Clara (Claretta) Petacci, amante de seu marido. Após vê-la disse: “Ele fez bem, ela é muito bonita!”.
Nesse período da Segunda Guerra Mundial como foi a vida da senhora na Itália?
O meu pai tinha um pedaço de terra, o suficiente para produzir o que necessitávamos para nos alimentarmos, ele construiu um abrigo subterrâneo onde estocou alimentos, que iam sendo consumidos a medida que necessitávamos. Tínhamos uma amiga que tinha uma propriedade em um campo mais afastado, a convite dela permanecemos por quase dois anos abrigados em sua casa.
Os homens foram convocados para a guerra?
Meu marido foi á frente de batalha na África. O seu pai tinha uma motocicleta, em uma viagem á Verona, para ter informações sobre a feira que iria ser realizada lá, ele sofreu um acidente com a motocicleta e faleceu. Com a morte de seu pai o meu marido voltou da África para assumir o seu lugar junto a família.
Nesse tempo em que ele serviu na África ele era seu namorado?
Sim, comunicávamos através de cartas. Sempre tive uma vida muito simples, lecionava e ajudava a minha mãe nas tarefas domésticas.
No período da guerra as mulheres foram mobilizadas?
No local onde estávamos não, morávamos em um sítio. As bombas nunca caíram muito próximas á nossa casa. Graças a Deus! Uma parte da nossa casa era de construção antiga, outra mais nova era mais bonita, apareceram soldados estrangeiros que disseram que iriam ficar na melhor parte da nossa casa. Ela foi dividida, eles ficaram nessa parte e nós na outra. Acredito que eram alemães, cozinhavam, dormiam, nunca nos incomodaram. O meu pai permanecia em permanente vigília, dormia muito pouco, naquela situação com três filhas em casa era uma responsabilidade enorme para ele. Foi assim até mudarmos para a casa da nossa amiga, em sua propriedade rural mais afastada, pode-se dizer que era um local escondido, outras famílias também se abrigaram lá. Lembro-me de que havia um moço que permanecia em um local com duas paredes, quando percebíamos que os soldados se aproximavam nos avisávamos esse moço para permanecesse em silencio, os soldados não deveriam saber o que tinha atrás das paredes que foram construídas para abrigá-lo de forma quase secreta.
A sua vinda e do seu marido ao Brasil foi após a guerra?
Sim a guerra já havia acabada, os parentes da minha sogra estavam todos no Brasil. Ao chegarmos fomos recebidos por um desses parentes que nos acolheu em sua casa por um período de quatro meses. Aportamos em Santos e dirigimo-nos á São Paulo. Meu marido montou uma empresa que oferecia trabalhos de tratores junto ao campo, contratamos tratoristas para operarem os tratores, eram em sua maioria italianos. Após algum tempo decidimos mudar á Piracicaba, na época já tínhamos nossas duas filhas, a Doretta e Clite.
Em que local passaram a residir em Piracicaba?
Na Rua XV de Novembro, próxima a Avenida Armando Salles de Oliveira, onde morávamos e tínhamos a loja de tratores e peças para tratores, éramos revendedores do trator Landini. Eu ficava na loja e meu marido na oficina.
A senhora passou a lecionar italiano em Piracicaba?
Comecei na Sociedade Italiana, onde permaneci por 20 anos lecionando como voluntária, sem remuneração. Somos muito gratos ao Comendador Mário Dedini, com quem tivemos um grande laço de amizade. Muitas vezes almoçamos em sua casa, ao que me parece o seu prato preferido era uma massa, preparada com manteiga, também gostava muito de lasanha.
Após a sua mudança ao Brasil a senhora visitou a Itália?
Estive 4 vezes na Itália após vir morar no Brasil. Sempre tive uma vida mais voltada ao trabalho, saia muito pouco, sempre fui muito reservada, não sou de freqüentar a todo momento casas de outras pessoas.
Qual é a sua religião?
Sou católica, praticante, semanalmente freqüento a missa todos os sábados às 5 horas da tarde.
Qual é o prato que a senhora faz e é considerado a “pièce de résistance”?
Acredito que seja a lasanha. Às vezes fazia a massa, com farinha, ovos.
A senhora assiste novelas?
Eu prefiro dormir! (A professora Ada convida para ir até uma cômoda, onde puxa as gavetas e surgem inúmeras peças bordadas delicadamente). Não gosto de ficar sem fazer nada.
Qual a receita que a senhora dá para atingir a sua maturidade com essa disposição?
Levanto-me geralmente as seis horas da manhã. Mantenho-me sempre ocupada com algum pequeno trabalho, leitura.
Pelo fato de ter vivido na Itália durante a guerra, isso traz lembranças ou sonhos relativos ao fato?
Não tenho lembranças nem sonhos relativos ao período da guerra. Durmo com facilidade, assim que me desperto imediatamente levanto-me da cama. Não tomo nenhum tipo de medicamento.
Dona Ada a senhora gosta de lecionar?
Muito! Atualmente tenho dois alunos!
Como é a sua relação com a internet?
(Imediatamente ela apresenta os equipamentos que estão sobre uma mesa própria). É isso que eu quero! Qua alguém me explique algumas coisas a respeito da internet. Tinha uma pessoa que por um mês e meio vinha me ajudar a utilizar o computador.
Qual é a receita para ter uma vida como a sua?
Não há nada de especial, sou uma pessoa muito simples, sou o que sou!
Após a morte o que a senhora imagina que iremos encontrar?
Encontraremos Deus!
A senhora não se prende a lembranças do passado?
Vivo o presente! Algumas vezes pergunto a mim mesmo: “-Quando irei morrer?”. Deus não me diz nada a respeito! Sempre em minhas orações peço a ajuda de Deus.
O que a senhora acha de Piracicaba?
Embora eu quase não sai da minha casa, estou contente em estar aqui, nesta cidade.

sábado, janeiro 29, 2011

Georgina Maria Antonia Pires faleceu

Georgina Maria Antonia Pires, faleceu ontem (26 de janeiro de 2011), na cidade de Rio das Pedras – SP, contava 99 anos, filha dos finados Sr. Antonio Salvador e da Sra. Maria Antonia Pires, era viúva do Sr. Otavio de Carvalho, deixa os filhos: Benedito Carvalho, casado com a Sra. Esmeralda; Antonia de Carvalho; Antonia Carvalho; Jorge Aparecido Jesus Carvalho, solteiro; Maria Aparecida de Jesus Carvalho Fragnani; Maria Margarete Oliveira Carvalho e Aparecido Carvalho. Deixa demais parentes e amigos. Seu sepultamento foi realizado hoje, tendo saído o féretro às 17h00 do velório municipal, para o cemitério daquela localidade em jazigo da família.

sexta-feira, janeiro 28, 2011

TARCISO CHIARINELLI

JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
Sábado 29 de janeiro de 2011
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
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ENTREVISTADO: TARCISO CHIARINELLI
Conceituado e requisitado mestre-de-cerimônias, atuando em solenidades com a presença de autoridades de alto nível, como Presidentes da República, Governadores, Ministros, Prefeitos, presidentes de conglomerados financeiros, industriais. O constante convívio com autoridades das mais diversas áreas em nada afetou o comportamento simples e discreto desse comunicador e grande nome do rádio piracicabano, Tarcísio Chiarinelli. Sua vida pautada pela retidão de caráter reflete no seu trabalho ético e de profissionalismo admirável. Acalentou o sonho de ser um homem de comunicação, em particular do rádio, sem ser visionário e com passos em terra firme trabalhou duro até tornar o seu sonho em realidade. Tarciso Chiarinelli é um dos 10 filhos do casal Rosália Grisotto e Ernesto Chiarinelli, nasceu em 8 de janeiro de 1952 no bairro rural Monte Branco, cerca de 18 quilômetros de Piracicaba. Seu pai trabalhava como conservador de estrada e na agricultura.
Quantos anos você tinha quando sua família mudou-se para Piracicaba?
Tinha de 3 a 4 anos, fomos morar no Saibreiro, assim era denominada a região dos bairros Jardim Elite, Nova América. Logo depois fomos morar no bairro Jaraguá, na Rua Cabriúva. As lembranças que guardo da minha infância são a partir da nossa casa na Rua Dona Anésia quase na esquina com a Rua da Colônia.
Como era a ocupação da área, havia muitas casas?
As ruas não eram asfaltadas, quando chovia brincávamos nas enxurradas, jogávamos bola na rua. A minha vida foi sempre de muito trabalho, não sobrava muito tempo para as brincadeiras de infância. A nossa família cultivava uma horta, meus irmãos e eu plantávamos, a minha mãe acordava cedinho e ia cortar as verduras que deveriam ser vendidas. O meu pai trabalhava na prefeitura e saia logo cedo de casa, a Rua do Rosário foi varrida por ele por muitos anos. Aos 10 anos eu já vendia verduras nas ruas, levava-as em uma cesta de bambu, fazia uma parte da Paulista, o dinheiro apurado ajudava na manutenção da casa, éramos muito pobres. Comecei a usar sapato a partir dos 14 ou 15 anos, até então andava de pé no chão ou com chinelo. Eu tinha uma clientela mais ou menos certa, às vezes vendia logo e retornava mais cedo para casa. Outras vezes tinha que esticar mais o percurso, indo oferecer as verduras até as residências situadas á Rua Benjamin Constant. Iniciava o meu trabalho ás sete horas da manhã e tinha que vender tudo antes do meio dia para poder ir á escola na parte da tarde, estudava no Grupo Escolar Barão do Rio Branco.
Havia algum cliente marcante?
Na Avenida João Conceição, que nós chamávamos de “Rua Atrás da Estação”, havia uma senhora que adquiria verdura quase todos os dias, imagino que possa até ser para me ajudar. Fiz esse trabalho até os 12 ou 13 anos.
Qual foi seu próximo trabalho?
Fui trabalhar no Mercado Municipal, na Banca do Antonio Brancalion, ele tinha duas bancas de sua propriedade, uma em frente à outra, ambas no ramo de mercearia.
Qual foi a sua reação com relação ao novo trabalho?
Dizíamos no mercado que quanto mais forte era o santo mais cedo tinha que levantar, aos feriados ás quatro e meia da manhã eu já tinha que estar no mercado, preparar para abrir às seis horas, no inicio ia ao trabalho a pé, com o tempo comprei na Casa São Francisco uma bicicleta Göricke. Permaneci trabalhando com o Antonio Brancalion por quatro anos e meio, foi o meu primeiro registro em carteira. Recebi uma proposta para trabalhar com o Antonio Ferrante que tinha uma banca de frutas, também no mercado municipal. O forte da banca eram as frutas importadas, a clientela era mais exigente, o memorável radialista Ari Pedroso estava no auge da sua carreira, ele freqüentava a nossa banca, acredito que ele tenha sido uma das minhas fontes de inspiração para ingressar no radio. Outro cliente famoso era o Comendador Humberto D¨Abronzo, a sua esposa telefonava, encomendava as frutas e geralmente quem entregava era eu. A família Coury também realizava suas compras dessa forma.
A que horas você encerrava os seus trabalhos no mercado?
Trabalhava até o final da tarde, algumas vezes, no final da tarde, ia até Campinas, de Kombi, para trazer frutas do Ceasa.
Qual foi o seu próximo emprego?
Fui trabalhar no Centro de Energia Nuclear na Agricultura, CENA, trabalhei na portaria contratado por uma empresa terceirizada. Permaneci por pouco tempo lá. Em seguida fui trabalhar na empresa Angemar, onde permaneci por 13 anos.
Onde se situava a Angemar?
Na Avenida Dona Jane Conceição esquina com a Rua do Rosário, em frente à Praça Takaki, os proprietários eram Luiz Marchini, Antonio Marchini e Marcos Contarini. Entrei como ajudante, fui promovido para balconista e passei a chefe de expedição. Nesse local antes da Angemar se estabelecer era um terreno vazio onde se montavam parques de diversões, circos de pequeno porte, na Semana Santa havia a malhação do Judas com pau de sebo e tudo. Na esquina tinha o Bar Serenata onde hoje é a farmácia Drogal. Na época tínhamos duas farmácias na Rua do Rosário, a Farmácia Nossa Senhora da Penha e a Farmácia São Judas Tadeu, os farmacêuticos atendiam os doentes do bairro, aplicavam injeções, faziam curativos, só depois de algum tempo é que apareceu um pronto socorro na Rua São João, o transporte do paciente era precário.
Na Avenida Madre Maria Teodora circulava caminhões carregados de cana?
Éramos crianças, gostávamos quando chovia porque os caminhões não conseguiam subir o Morro do Enxofre, a rua não era asfaltada, os motoristas precisavam amarrar correntes nos pneus. A água da chuva formava enormes valetas onde nós brincávamos.
Um ponto “turístico” do bairro da Paulista era a descarregadeira de gado?
(Situava-se no terreno, hoje desocupado, entre a Droga Raia e o Restaurante Frios Paulista)
Ali era uma festa! O gado embarcava ou desembarcava do trem, fechava o trânsito na rua para passar o term. Onde hoje é o leito da Avenida Dr. Paulo de Moraes existia o beneficiamento de café colhido na Chácara Nazareth. Eu ia assistir a chegada ou a partida dos trens da Cia. Paulista. Algumas vezes fui de trem até Santa Barbara, Tupi, Caiubi. Fui usuário do bonde, ia em pé no estribo.
Conheceu o Cine Paulistinha?
Era carinhosamente chamado de “Purgueiro”! (risadas cheia de saudades!) Os acentos eram em madeira sem estofamento. Nós não tínhamos muito tempo para divertir, não só eu como meus amigos também, trabalhávamos muito. Naquele tempo havia muitas hortas no bairro da Paulista, quem cuida de horta trabalha aos domingos, feriados, era assim e continua sendo até hoje. Para molhar as verduras era comum tirar água de poço ou de algum ribeirão próximo. No fundo da Rua da Colônia havia um pessoal que cultivava agrião no próprio ribeirão, a água naquele tempo era boa. No domingo a tarde era comum ver os meus colegas cortarem agrião para embalarem e serem vendidos na segunda feira.
Há uma fotografia em que você aparece com barba e cabelo enormes qual era o motivo?
Fiz uma promessa e consegui a graça, a promessa era de ficar um ano sem cortar a barba e o cabelo. Era moda ter cabelos e barba compridos, desde que fossem cuidados, e no meu caso não despontava nem aparava. Nessa época eu já era casado com a Neusa, e tinha o nascido o meu filho Fábio, depois nasceu a Aline. Tenho dois netos, o Fernando e o Murilo. (Tarciso guarda diversas fotos dos netos em algumas de suas gavetas, apressa-se em mostrar, com muito orgulho). Quando fui cortar a barba e o cabelo recorri ao meu pai que também era barbeiro, além de trabalhar na limpeza de rua, ao chegar em casa aplicava injeção nas pessoas que necessitavam e cortava cabelo de quem o procurasse. Após aposentar-se ele trabalhou como jardineiro, guardo comigo a alfange de marca São Floriano, que lhe pertenceu. (Tradicional marca de origem austríaca). Quando fui cortar o cabelo e a barba levei o meu filho junto, ele tinha uns 5 anos, e poderia assustar-se em ver o pai sem o cabelo e a barba compridos. Mantive desde aquela data o uso de bigode.
Como surgiu o rádio em sua vida?
Desde criança tive atração pelo rádio. O Alcides Spironello tinha uma banca no mercado municipal, ele me emprestou um gravador, na época uma verdadeira raridade, eu pegava as propagandas impressas em jornais, os chamados “reclames”, e ficava lendo praticando, fazia isso na minha casa, como havia as vezes muita gente em casa, eu saia e ia até onde estavam fazendo o loteamento da Chácara Nazareth, que tinha ainda muitos pés de café, eu entrava ali perto da Rua do Rosário, e na sombra de um pé de café gravava comerciais, notícias de jornal. Eu ouvia o que havia gravado, gravava novamente, buscando atingir a melhor apresentação possível. Devolvi o gravador e passei a ter contato com pessoas que trabalhavam na “Rádio A Voz Agrícola”, eles me arrumaram uns textos. Naquela época os textos eram apresentados ao vivo nas rádios, não eram gravados. Quem me deu um empurrão foi Antonio José, o Gordo, ele trabalhava como produtor do Garcia Neto, na Rádio Educadora, quando ainda era na Rua São José, esquina com a Rua Governador.
Como você ingressou em uma rádio?
Decidi conversar com o Garcia Neto, foi em uma quinta feira à noite, no horário em que ele apresentava um programa de esporte. Ao chegar ele me perguntou: “-O que você quer menino?” Respondi-lhe: “- Quero ser locutor!”. Perguntou-me se tinha experiência, disse-lhe que não, ele então sugeriu que fizesse um teste. Eu tinha treinado, mas não deu certo, o nervosismo bateu forte. Ele chamou o Gordo e mandou que me desse dois textos para que eu lesse. O Garcia disse que eu poderia ser um bom locutor, mas que no momento necessitava de um profissional com experiência. Encaminhou-me para a Rádio A Voz Agrícola, aos cuidados do Francisco Caldeira, diretor da rádio, ela estava instalada na Rua Moraes Barros ao lado do Chaveiro Expresso. O Caldeira disse-me que não precisava de ninguém naquele momento. Perguntei-lhe se eu poderia ficar apenas olhando o pessoal trabalhar. Eu trabalhava no mercado, tinha o domingo à tarde de folga, ele aceitou. Passei a observar o trabalho feito na rádio, surgiu a Jornada Esportiva, após algum tempo o rapaz que fazia o plantão saiu da rádio, ele era do Mato Grosso. Na época o Abel Bueno tinha um programa de cururu nos domingos á noite, eu passava a tarde acompanhando a Jornada Esportiva, ficava só olhando, de vez em quando o mato-grossense dizia-me: “-Dê esses resultados desses jogos!”.
Você operava a parte técnica?
Nunca operei, nem sei como é que se liga! Nunca fiz técnica.
Como foi o seu progresso profissional na Rádio A Voz Agrícola?
Após determinado tempo o Abel Bueno me disse: “-Ajude-me a fazer o programa!”. Passei a apresentar, a ler uns comerciais, isso foi na década de 70. Era um programa muito solto, muito tranqüilo. A primeira vez que falei ao microfone disse ao Abel que iria ler o texto, ao que ele disse que não deveria ler nada, deveria falar de improviso. Fiz improvisado, e tremendo! Depois surgiu o Márcio Terra, na época ele era diretor de esportes, me convidou para fazer o plantão esportivo, acabei assumindo estimulado pelo Márcio Terra, procurando melhorar cada vez mais. Fiz plantão esportivo por 33 anos!
O que a sua esposa dizia dessa sua dedicação ao rádio?
Ela sempre me apoiou e me incentivou, ela sabia que era isso que eu queria! Eu a conheci na Igreja São José, quando eu tinha uns 20 anos.
Você freqüentava o Cesac?
Fui coordenador de uma SEJOPAC - Semana Jovem para Cristo. Quando havia as festas no Cesac eu era o locutor que dizia: “O rapaz de camisa branca oferece esta música para a moça de vestido azul”, e assim por diante! O Cônego Luiz deu uma grande força para mim!
Quando ocorreu o momento decisivo, de dedicar-se apenas ao rádio?
Fiquei na Rádio Alvorada uns 10 anos. O Roberto Moraes me convidou para fazer o plantão esportivo na Rádio Difusora, ele tinha a equipe completa só faltava o plantonista. Em 1991 eu e o Vanderlei Albuquerque fomos para a Rádio Difusora onde permaneço até hoje, só não faço o plantão esportivo. Sempre tive dois empregos, sempre trabalhei muito. Atualmente já não faço transmissão de carnaval de madrugada. Eu trabalhava na Angemar e por um ano e mio trabalhei em São Paulo. A minha rotina era apresentar um programa sertanejo, “Manhãs na Roça”, na Rádio Alvorada, das quatro horas da manhã até as sete, ia trabalhar o dia todo na Angemar e a noite estudava. Eu já era casado e tinha meus dois filhos. Surgiu a oportunidade de trabalhar em São Paulo, na Rádio Gazeta, na Avenida Paulista, fazia o plantão esportivo, Dinival Tibério tirou e publicou uma foto onde dizia que era mais um piracicabano que ia para São Paulo, isso na década de 70. Fiz um acordo com o Luiz Marchini da Angemar, eu saia do serviço no sábado as 10 horas, tomava um ônibus, ia até São Paulo, fazia o plantão no sábado a tarde e a noite, dormia em São Paulo, na própria rádio, terminava a Jornada Esportiva as onze e meia ou meia noite, acabava dormindo no próprio estúdio, Antônio José Quartarollo, o Tony José, foi quem me levou para a Rádio Gazeta. Logo em seguida ele foi para a Rádio Bandeirantes. Cheguei a fazer plantão em São Paulo na quarta feira à noite. O programa “Manhãs na Roça” tinha um espaço da Secretaria de Serviços Públicos, o secretário municipal era José Flavio Leão que ia até a rádio para dar informações principalmente ás pessoas da zona rural. Após algum tempo ele me convidou para prestar uma assessoria junto a sua pasta. O prefeito era o Dr. Adilson Maluf, o meu contrato de trabalho não tinha nenhuma estabilidade, tive o apoio do Luiz Marchini, que deixou as portas abertas para quando eu quisesse voltar. São fatos que nunca irei esquecer.
Os cerimoniais como surgiram em sua carreira?
Surgiu na época em que o prefeito era o Dr. Adilson Maluf, o chefe do cerimonial e diretor de comunicação da prefeitura era Jamil Neto, Xilmar Ulisses, Gaiad, Benedito Hilário e Waldemar Bilia também participavam. Quando fui trabalhar na prefeitura fiz o cerimonial da inauguração do Campo do Jaraguá, com o apoio do Jamil e dos outros integrantes da equipe. O Jamil trabalhava com muito profissionalismo. Dessa ocasião em diante passei a fazer cerimoniais para a prefeitura.
Qual é o segredo para realizar um bom cerimonial?
É agir com responsabilidade, não subestimar nenhum cerimonial, por mais modesto que pareça ser, cada evento é um desafio e todos têm a mesma importância. Não é qualquer pessoa que enfrenta um público, uma coisa é ser locutor de estúdio e outra é ter um publico á sua frente. Um cerimonial exige uma preparação detalhada antes de ser realizado, conhecimento de cada detalhe, é necessário ter muito jogo de cintura, após ter o cerimonial pronto, normalmente ele se desvirtua. No lançamento da pedra fundamental do novo prédio da FUMEP fui cumprimentado por um ministro de estado pela realização do cerimonial em decorrência de situação anômala e pela forma como conduzi o evento. O cerimonial público tem normas, a lei federal de número 7274 de 9 de março de 1972 regulamenta todos os cerimoniais.. Não é só chegar, pegar e falar.
Você contou quantos cerimoniais já realizou?
Mais de mil com certeza! Não sou o único que faz na cidade e nem na prefeitura. (Realizando os cálculos da média mensal pelos anos trabalhados descobrimos que Tarciso já realizou mais de 5.000 cerimoniais).

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