sexta-feira, março 16, 2012

ARNALDO LEITE, A MEMÓRIA DO CINEMA PIRACICABANO

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 17 de março de 2012
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
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ENTREVISTADO: ARNALDO LEITE

Por décadas ir ao cinema significava muito mais do que ir assistir um filme. Envolvia um processo de preparação, a preocupação com que roupa ir, quem seriam as companhias, se fosse um casal de namorados a adrenalina aumentava, pois em uma época em que os costumes sociais eram muito rígidos, aquele era o momento em que podiam estar mais próximos, conversarem sem a severa vigilância doméstica. Existia em alguns casos a famosa figura da “vela”, era uma criança que acompanhava os namorados, podia ser um irmão mais novo, sobrinho ou até mesmo uma amiga da namorada. Funcionava como uma espécie de fiscal do comportamento de ambos, cujo “relatório” era dado à zelosa mãe. Por décadas, qualquer casal de namorados jamais retornava à casa da namorada após 22h. Só mesmo em ocasiões especialíssimas, como um baile, geralmente de carnaval, onde pais e parentes estavam o tempo todo presente. Com isso ir ao cinema além de assistir a apresentação de um filme, envolvia a oportunidade de proximidade da pessoa amada.

O cinema tinha uma importância marcante, desde a programação veiculada através dos jornais, quando determinado filme ganhava o título de imperdível. Artistas famosos eram avaliados pelo seu desempenho, idolatrados, com seus hábitos impunham costumes aos jovens da época. Penteados, roupas, comportamentos, tudo era imitado de seus ídolos. Um mundo de sonhos e imaginação.

Arnaldo Leite participou ativamente de grande parte da história do cinema em Piracicaba. Lembra-se de cada detalhe vivido naquela época. Nascido à 19 de agosto de 1932, no distrito de Piracicaba, entre os bairros rurais de Anhumas e Ibitiruna, uns 40 quilômetros distantes do centro de Piracicaba. Filho de Antonio Leite da Silva e Catarina Penha Bernal.

O pai do senhor tinha uma propriedade rural?

Tinha um sítio de 12 alqueires paulistas, cada alqueire mede 24.200 metros quadrados, onde criava boi, porcos, frangos. Permaneci lá até completar 15 anos, estudei até o terceiro ano escolar na escola em Anhumas, situada a uns seis ou sete quilômetros, ia a pé e descalço, tinha um amigo que residia nas proximidades, íamos juntos à escola. Quando voltava para casa isso em torno de meio dia à 1h, ia ajudar meu pai na plantação. Conforme podia pegar no cabo da enxada já passava a ajudar.

A que horas o senhor acordava?

Às seis horas da manhã. Socava dois litros de arroz no pilão, pegava o arroz em casca, socava para tirar a casca, peneirava, ficava uma espécie de arroz integral, a minha mãe fazia o almoço com ele. Saia de casa às sete horas da manhã e ia para a escola.

E o café da manhã como era?

Café com leite, logo cedo minha mãe tirava o leite, eu tomava quase um litro de café com leite, pão feito em casa, feito com leite. Chegava 8h em ponto na escola. Isso foi de 1941 até 1943. Meus avós moravam em Santa Maria da Serra, foi lá que fiz a quarta série, em Anhumas ainda não existia. Eles tinham um monjolo.

O que é um monjolo?

Era um equipamento rústico, movido a água, destinado ao beneficiamento do milho para fazer fubá, e depois fazer a farinha de milho. O milho fica curtindo na água por uns quatro ou cinco dias, depois vai em em uma espécie de pilão, a própria água tem uma espécie de bica que acumula em uma peça e a levanta, à semelhança de uma gangorra, ao transbordar o líquido ele é despejado, dando um golpe forte na outra ponta, socando o milho. Depois de socado vai em um tacho quente, onde é quebrada aquela massa fazendo a farinha de milho.

Como o cliente pagava pelo serviço de moer o milho e fazer a farinha?

Existia uma regra pré-estabelecida, onde tantos quilos de milho em natura são permutados por determinada quantidade de farinha. Eu ia à escola e na volta dava uma mãozinha também. Quando conclui o quarto ano escolar voltei para a casa dos meus pais.

Por que o pai do senhor vendeu a propriedade da família?

A 31 de janeiro de 1947 deu uma chuva de pedra que acabou com os cinco alqueires de algodão que o meu pai tinha plantado. Não ficou um pé de algodão. Naquela época era comum comprar no armazém por ano, então a produção que iria ser colhida e vendida é que fornecia o dinheiro para pagar as contas, feitas ao correr do ano. Ficamos na mais absoluta falta de dinheiro, viemos para a cidade para carpir cana. O armazém onde comprávamos passou por vários donos, o Righetto, o Moraes, o Moral.

Esses comerciantes tiveram um prejuízo significativo também?

Não receberam de imediato, mas o meu pai vendeu o sítio para poder pagar as dívidas. Meu pai passou a trabalhar na Escola de Agronomia, na época o governador era o Dr. Adhemar de Barros, e por algum desencontro administrativo o salário do meu pai atrasou muito. Foi mais um motivo que o levou a vender o sítio, nessa época ele já estava devendo no armazém do Vitório Fornazier, na Paulista, onde atualmente situa-se o Supermercado Balan. Quando nós mudamos para a cidade passamos a ser fregueses a prazo de Vitório Fornazier. Lembro-me do Armazém do Aliberti, situado na esquina da Rua do Rosário com a Avenida Madre Maria Teodora, inclusive aos domingos eu ia ajudá-lo a rastear o boche, eu não tinha quase força para puxar o rodo e nivelar a cancha. A bola de boche era de madeira.

O senhor passou a trabalhar em que local?

A 27 de abril de 1947 passei a trabalhar na Casa Coury, situada na esquina da Rua XV de Novembro com a Rua Governador Pedro de Toledo, onde hoje é a loja Charm Cosméticos. Os proprietários eram os três irmãos Coury: Alexandre, Michel e Raja. Era um estabelecimento que trabalhava só com tecidos.

Como saindo do sítio o senhor foi trabalhar com tecidos?
Eu comecei a fazer a documentação para trabalhar na fábrica de tecidos Boyes, que naquele tempo era o ganha pão do piracicabano. Nós morávamos na Rua João Crisóstomo, 67, na Paulista, viemos para o centro, meu pai e eu, com o intuito de arrumar um emprego para mim. Ele foi a Casa Guerra, onde era freguês desde moço, o proprietário era o Sr. José Guerra. De lá fomos a Casa Coury, o Raja pediu que eu deixasse o meu nome e endereço, isso foi em uma terça-feira, quando foi no domingo o Raja apareceu em casa, não sei como ele achou, naquele tempo nem ônibus tinha. Ele foi a pé. Conversou com meu pai, acertando para na segunda-feira eu começar a trabalhar. O serviço era varrer, espanar, fazer entregas. Em 1954 eles construíram e inauguraram o Cinema Palácio, na Rua Benjamin Constant entre a Rua XV de Novembro e a Rua Rangel Pestana, onde atualmente funciona uma igreja. Eu até ajudei a puxar massa para a obra. Era um quarteirão já todo construído, não tinha terreno vazio. O cinema foi construído para comportar 1.100 cadeiras. Foi feita uma reforma e diminuíram a capacidade de cadeiras.
Quantos cinemas havia em Piracicaba nessa época?

Havia o São José, Colonial, Broadway e o Palácio. O Politeama foi construído mais tarde pelo Stolf.

Quando terminaram as obras do Cine Palácio o senhor trabalhou lá?

Fui trabalhar de porteiro. Trabalhava durante o dia na Casa Coury, saia um pouquinho antes das 18: h. ia para casa, tomava banho, colocava uma calça preta, um paletó cinza, e gravata borboleta, com camisa branca. Chegava ao cinema ás 19h. A sessão começava às 20:h. Eu que abria o cinema, o maquinista chegava na última hora, era o Lázaro Gorga, seu apelido era Zinho. Havia outro que era seu ajudante, eu o conhecia por Tito. Eram os dois que trabalhavam.

Entrando no cinema, do lado esquerdo havia uma bomboniere, quem era o proprietário?

Era terceirizada, pertencia ao Brancalion.

Acabada a obra de construção do Cinema Palácio houve a sessão de inauguração.

Foi em maio de 1954. O primeiro filme projetado chamava-se Lili. Era um musical, a primeira sessão foi às 20h, a segunda sessão foi às 22h. Na sessão de inauguração o cinema lotou, ficaram pessoas fora do cinema, não havia mais lugares. Quando era um filme de primeira linha sempre ficavam pessoas fora do cinema, não conseguiam ingresso para entrar.

A sessão inaugural foi normal ou foi franqueada gratuitamente ao público?

Não teve nada de graça, comprava o ingresso e entrava, normalmente. Naquele tempo não existia nada de especial para atrair convidados especiais, imprensa.

Com isso o senhor passou a ser uma pessoa mais importante?

Eu era porteiro e lanterninha também. Nós trabalhávamos em dois porteiros, o outro era o Durval Santana.

O senhor tinha dois salários, um na loja e outro no cinema?

De fato, não era lá essas coisas, mas era bom para mim que era solteiro.

Já havia a meia-entrada para estudantes?

Havia sim. Havia duas moças que eram da bilheteria, duas irmãs, Áurea Rodrigues e Célia Rodrigues. Havia uma entrada só no cinema, ficava um porteiro de cada lado, recebíamos em média 550 ingressos cada um. Ao pegar os ingressos, éramos obrigados a rasgá-los, porque tinha o fiscal do filme, que era uma pessoa determinada pela distribuidora dos filmes. Ele ficava ao lado, com um pequeno aparelho que contava o número de pessoas que entravam. Os filmes vinham até o Cine São José de onde eram trazidos até o Cine Palácio. Às vezes o filme passava primeiro no Cine São José. Quem levava as latas com os rolos de filme dentro era o Odilom.

Acontecia durante a projeção do filme de quebrar a fita?

Acontecia! Naquele tempo eram filmes de celulóide, Quando o filme arrebentava durante a sessão tinha que emendar. Acendia a luz do cinema.

Era obrigatório o uso de paletó e gravata para ir assistir a um filme no cinema?

Não, era um habito quase obrigatório o uso de camisa de mangas compridas.

Para que idades existiam filmes proibidos?

Para 14 anos e 18 anos. Filmes proibidos para 18 anos geravam problemas, tinha que ter psicologia para avaliar pela fisionomia da pessoa a sua idade. Na dúvida tinha que pedir um documento que provasse ter 18 anos ou mais. Se não mostrasse documento não entrava. Ao meu lado tinha o comissário de menores, isso quando o filme era proibido para menores de 18 anos. Se não tivesse os 18 anos o menor era convidado a deixar o cinema e recebia o dinheiro do ingresso de volta.

Em que dias funcionavam as sessões?

De segunda-feira a sexta-feira era uma sessão só, as 20h., sábado e domingo eram duas sessões, das 20h e das 22h, à tarde tinha a matinê. Teve um período em que eram projetados filmes domingos às 10h da manhã, o público era formado por criançada. Passava praticamente só projetavam desenho animado.

Qual era a função do senhor como lanterninha?

Se fosse no comecinho do filme a pessoa não achava uma poltrona vaga, eu corria a lanterna procurando alguma vaga. Se houvesse vaga indicava e a pessoa sentava-se.

Havia lugares reservados para autoridades?

Não, algumas autoridades tinham a entrada permanente franqueada.

Cinema sempre carregou a fama de ser um local preferido dos namorados. Alguma vez o senhor teve que ser mais enérgico?

Não cheguei a ter problemas por estar sempre atento e sendo visto andando pelo cinema durante as sessões. Com o passar do tempo, adquire-se experiência, com certa facilidade controla o ambiente. Qualquer situação piscava-se a lanterna era o suficiente para serenar os animos. Em uma única ocasião tive que acender as luzes, um estudante excedeu-se, armou uma algazarra. Algum tempo depois ele veio desculpar-se. O cinema sempre contava com a presença de um policial da Guarda Civil.

O senhor chegava a ver o mesmo filme por diversas vezes?

As vezes enjoava. Quando surgiu o filme em terceira dimensão tinha-se a impressão de que a imagem saia da tela. Usava-se um óculos especial. Foi um filme muito popular, chamava-se “Museu de Cera” com Vincent Price, foi lançado em 1953. Dava-se a impressão de que os objetos saltavam da tela. Foi um grande sucesso em Piracicaba.

Houve um episódio curioso sobre um filme rodado em Piracicaba?

Quando “Os Três Garimpeiros”, em 1954, foi rodado no Rio Piracicaba, filmavam durante o dia, a noite, depois que terminava a sessão normal eles começavam a assistir que tinham filmado durante o dia. Era uma série de repetições, muitas vezes a mesma cena, para ver se tinha algo errado. Eu ficava até o fim, era afinal eu quem fechava o cinema. Dava quarenta a cinqüenta minutos de filmagem.

Como o senhor ia embora para casa?

A pé. Eu morava na Rua Ipiranga, era solteiro. Não tinha ninguém na rua, não havia viva alma.

E os filmes do Mazzaropi, lotavam o cinema?

Lotava de tal forma que ficava muita gente sem poder entrar no cinema. A fila começava na Rua Benjamin Constant ia pela Rua XV de Novembro e descia até a Avenida Armando Salles. Naquele tempo não existia televisão, o cinema era a diversão.

Até que ano o senhor permaneceu no Cinema Palácio?

Fiquei até 1957. Casei-me com Rita Durrer Leite em 25 de dezembro de 1954, na Catedral de Santo Antonio. Um pouco antes de me casar meu pai mudou-se para a Paulista na Avenida Dr. João Conceição, em uma das casas do Michel Pedro José. Em 1961 comprei uma Lambretta e guardava na casa do Atílio Bortoletto. Onde depois foi a Alvarco era pasto, logo adiante era a embarcadeira de gado da Companhia Paulista. Do Aliberti para baixo, na esquina da Rua do Rosário com Madre Maria Teodoro, existiam umas duas casas, logo depois era plantação de cana. Atrás do barracão do Michel, onde hoje funciona uma imobiliária, era tudo plantação de algodão.

O senhor andou de bonde?

Muito. Hoje penso, como éramos preguiçosos, além de ser jovem, da Rua XV de Novembro até a Estação da Paulista dá mais ou menos 1 quilometro, mas tinha que vir de bonde, talvez para se mostrar. Talvez por ser moda na época, e por estar usando terno de linho branco. Três anos após me casar saí do cinema, na loja fiquei até maio de 1980, foi vendida, já não era mais dos irmãos Coury. Aposentei-me com 33 anos de serviço.

O senhor praticava algum esporte?

Gostava de jogar boche. Aprendi no Aliberti, joguei no Nauti Club, no Club Regatas. Era bom de ponto, no Aliberti era bola de madeira, depois apareceu à bola de massa, era mais pesada. Por várias vezes ganhei disputa de jantares. Um dos últimos lugares onde joguei foi no Bar Cruzeiro, onde ganhei jantares, medalhas, troféus, que o meu neto se encarregou de guardar.

O senhor tinha algum apelido?

Tinha sim, engenheiro. Por causa do boche, eu fazia aqueles efeitos na bola, começaram a me chamar engenheiro, acabou pegando. Era a famosa trivela.

Porque mudou o cinema?

Por causa da televisão, é muito mais pratica você não necessita sair de casa, se quiser até toma um café e continua assistindo. A televisão acabou com o cinema.

O senhor era popular na cidade?

Pelo fato de ter trabalhado na loja e no cinema era muito conhecido.

O cinema fazia a projeção dos filmes com quantas máquinas?

Sempre com duas máquinas, um filme pode ser composto por sete ou oito partes (rolos), vem cada um em uma lata metálica. Quando está terminando um rolo, o segundo operador, já liga a outra máquina. Toda projeção de filmes exigia dois operadores. O filme é contínuo. O filme de terceira dimensão funcionava com as duas máquinas simultaneamente, ele atua sobre a visão do olho esquerdo e direito. Um dos motivos de não ter tido tanto sucesso é o fato de ser extremamente trabalhoso quando partia um pedaço do filme, tinha que buscar o ponto exato do outro rolo.

Acontecia de acabar a energia elétrica no cinema?

Era muito raro.

Qual foi o filme que mais marcou o senhor?

Foi “Quo Vadis”.

Quantas vezes o senhor assistiu o filme longa metragem “Os Des Mandamentos” com a duração de 3h49min?

Umas cinco ou seis vezes. Era lindo, mas muito cansativo.

Se o senhor ligar a televisão à tarde os filmes exibidos são mais “fortes” do que aqueles proibidos para maiores de 18 anos?

Muito piores! A censura carimbava o que podia exibir. Hoje novela das 18h supera qualquer exibição daquela época.

Em sua opinião a época vivida pelo cinema não tem volta?
Não volta mais.






domingo, março 11, 2012

MONSENHOR RUBENS MARINS

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 03 de maio de 2012
Entrevista: Publicada aos sábados na Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços
eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.tribunatp.com.br/
http://www.teleresponde.com.br/

ENTREVISTADO: MONSENHOR RUBENS MARINS
Uma história de fé inabalável, que a princípio parece quase impossível de se realizar, um homem maduro, com 26 anos de trabalho na Usina Monte Alegre, busca por seu ideal maior. Aos 40 anos Rubens decidiu ser padre, encontrou inúmeros obstáculos, desde a sua formação educacional até mesmo restrições pela idade madura. A sua fé venceu. Hoje é Monsenhor, um título ddo pelo Papa. Como Capelão do Lar dos Velhinhos celebra as missas, aconselha, atende, distribui amor ao próximo. É muito querido entre os abrigados. Sempre sorridente, leva bom humor a todos com que convive. Além de ser um exemplo vivo da infinita capacidade do ser humano. Monsenhor Rubens Marin é o filho mais novo dos seis filhos do casal Francisco Marin e Ida Carmaghani, nascido em Ribeirão Bonito, próximo a São Carlos, a 20 de junho de 1936. Francisco Marin sempre trabalhou na agricultura, cultivava café, algodão. A medida que os filhos foram se casando Francisco optou por trabalhar como empregado. Quando tinha aproximadamente seis anos, a família de Rubens mudou-se para a Fazenda Monte Averne, cuja atividade principal era a plantação de tomate, a fazenda tinha uma fábrica de massa de tomate. Quando Rubens tinha 11 anos a família mudou-se para a Usina São Francisco do Quilombo, em Paraisolândia. No tempo de corte de cana ele trabalhava, ia para a roça, a comida era levada de casa em um caldeirãozinho, era composta de arroz, feijão, geralmente ovo frito, chuchu, abobrinha. O pão era feito pela sua mãe, em casa. Era costume levar uma garrafa de café. Almoçava às 9h30 e ao meio dia tomava café. Mais uma vez a família mudou-se, dessa vez para a Usina Monte Alegre. Rubens continuou trabalhando na lavoura, cortando cana, e conseguiu concluir o quarto ano primário na Escola Marquês de Monte Alegre. Só aos 18 anos foi trabalhar na usina, com idade menor do que essa não era possível trabalhar no ambiente da usina. O chamado “de menor” até então só podia trabalhar na lavoura.

Ao completar 18 anos o senhor foi trabalhar com o que na usina?

Trabalhava em uma seção chamada clarificação. A garapa chega a um tacho enorme, ali eram adicionada cal, enxofre, para clarear a garapa fazer o açúcar cristal. Por três anos realizei esse serviço.

Quando jovem o senhor frequentava bailes?

Ia, principalmente nos sítios, Santa Rita, Taquaral, que hoje são regiões urbanizadas de Piracicaba. Naquela época compunham grandes fazendas da Usina Monte Alegre. A família Morganti vendeu essas áreas que foram loteadas. Aos domingos eu jogava futebol, era ponta direita. Frequentava a Teixeirada, que era praticamente um clube a beira do rio.

Após três anos na clarificação qual foi a próxima atividade do senhor?

Fui trabalhar na Fábrica de Papel e Celulose. Conheci muito bem os Morganti: os irmãos gêmeos Lino e Hélio, o Fúlvio, o Pedro Fúlvio, a Dona Beatris, a Bit. Conheci João Bassetti, na Colônia Macabá, onde eu morava. Conheci seus filhos Paulo, Lino, José, Carlos, Arthur. Éramos como uma família. Na Colônia Macabá moravam 23 famílias, eu morava na última casa. Mudei para o Piracicamirim com 24 anos, porém, continuei trabalhando na Usina Monte Alegre, eu tinha permanecido por três anos na Fábrica de Papel.

Qual era a atividade do senhor na Usina Monte Alegre?

Trabalhava no laboratório químico da Usina. Era um analista prático, eu tinha estudado até o quarto ano primário. Nessa ocasião eu era responsável pela seção, o laboratório que determinava os padrões de qualidade da usina. Permaneci no laboratório até quase completar 40 de idade. Fui para o seminário com 39 anos e meio.

Como alguém com quase quarenta anos de vida decidir pela carreira religiosa?

Desde menino sempre frequentei a Igreja, era catequista, no sítio havia uma capela, na colônia, eu preparava a criançada para fazer a primeira comunhão. Cuidava da capela. A capela que Alfredo Volpi pintou eu frequentava aos domingos, assistia a missa. Era Congregado Mariano. Desde criança eu já queria ir para o seminário. Os frades capuchinhos é que celebravam as missas nessa capela. Na entre-safra trabalhava das 7 horas até as 17 horas, no período da safra fazia dois horários. Das 6 às 18 e das 18 às 6. Eu morava na Avenida Rio das Pedras, no Piracicamirim. Quando chovia a água inundava as casas. Logo após o cemitério, dali para frente, era tudo barro. Eu ia trabalhar de onibus, do João Pavão, pai do Dr. João Orlando Pavão que foi Provedor da Santa Casa de Misericórdia de Piracicaba. Naquele tempo nós o chamávamos de Joãozinho, as vezes, principalmente nas férias escolares, ele foi cobrador do ônibus de seu pai, recolhia o passe. Naquele tempo às 6h30 tinha missa na Igreja Bom Jesus, eu participava da missa e depois seguia para a minha casa no “Pisca”a pé.

O Piracicamirim era uma área meio deserta?

Pelo amor de Deus! Que coisa tenebrosa era aquilo! Um tempo eu trabalhei das 14hrs. às 23hrs. Lá pelas 23h30 eu estava passando a pé em frente ao cemitério.

Qual era a reação do senhor?

Eu parava um pouco na porta para olhar lá dentro.

Alguém sugeriu que o senhor se tornasse padre?

A sacristã da Igreja Bom Jesus, Dona Ana Zaia um dia me disse: “- Rubens, por que você não vai ser padre?” Respondi-lhe: “- Depois de velho vou ser padre?”. Nessa época havia fundado a assistência social mariana do Bom Jesus, mas funcionava no Piracicamirim. No começo ali foi de tudo, farmácia, ambulatório, gabinete dentário, roupeiro, casa de merenda, fica ali na Avenida Dois Córregos. Por muito tempo foi capela, depois foi criada a Paróquia, e muito tempo assim funcionou aquele salão que era da Assistência Social do Bom Jesus. Muitos tinham medo de trabalhar naquela região, existia a fama de bairro violento. Em uma casinha que existe até hoje, de manhã a minha mãe fazia o leite e a tarde a sopa das crianças.

De fato na época o senhor agia como um padre?

Quando mudei lá, havia uma única família que ia à igreja, eles eram da Ordem Terceira na Igreja dos Frades. Ninguém mais frequentava a igreja. Ninguém rezava aquela criançada abandonada pelas ruas. Comecei a dar catecismo na sala da minha casa. Preparei a primeira turma, de 16 crianças com a idade de 13, 14 anos. Preparando essas crianças para a primeira comunhão a nossa congregação foi visitar Aparecida do Norte eu pedi para o presidente da congregação, José Capranico, vamos começar a levar a imagem de Nossa Senhora Aparecida nas casas, para rezarmos juntos, existia um ambiente de promiscuidade no bairro. Era o que podemos chamar “uma boca qunte”. A Prefeitura Municipal cedeu um telefone que ficava em casa. Para lá da Ponte do Piracicamirim era o único aparelho telefônico. Era usado para tudo: chamar polícia, chamar parteira, de madrugada, muitas vezes íamos buscar o doente trazendo nas costas, a ambulância não conseguia entrar naquelas barrocas.

A casa do senhor, no Piracicamirim era um ponto avançado da civilização?

Era. Conseguimos um terreno com José Francisco Prudente, tanto que o nome oficial do bairro é Vila Prudente, quando foi para ser construído o salão da Assistência Social da Paróquia do Bom Jesus fui pedir o terreno para esse senhor. A princípio ele se negou a dar o terreno. Passados uns dias ele me chamou e disse: “Eu vou dar o terreno porque você está ensinando as crianças a rezarem, já fizeram a primeira comunhão” O altar foi em cima de um caminhão, a celebração foi feita pelo Monsenhor Martinho Salgot. A imagem de Nossa Senhora Aparecida cada dia ficava em uma casa, se é que podíamos chamar aquele amontoado de papelão e latas de casas.

De onde vinham os recursos para leite e sopa para tantas pessoas?

Haldumont Nobre Ferraz, o Tiquinho, era o presidente da Assistência da Igreja do Bom Jesus, logo pela manhã ele ia ao Mercado Municipal, com a colaboração dos comerciantes, as verduras e legumes em boas condições, mas que não atendiam clientes mais exigentes, ele carregava tudo em sua perua, levava até a minha casa e a minha mãe com algumas meninas que ajudavam, preparavam aquele sopão. Os açougues contribuiam com um pouco de carne, até mesmo osso para juntar àquela sopa.

Com o falecimento da mãe do senhor o que aconteceu?

Eu mudei, fui morar com a minha irmã, que morava em frente. Nessa época que Dona Ana Zaia disse-me que deveria ser padre, quando argumentei sobre como faria para atender os “meus pobres”, ela retrucou dizendo que para atender aos pobres tem muita gente. Um dia eu estava em casa, tinha acabado de chegar do trabalho, quando Dona Ana chegou acompanhada de um padre visitador dos salesianos. Chamava-se Eduardo Serradel, era o responsável pelas vocações salesianas. Conversamos muito, ele disse-me que para ser padre bastava ter vontade. Eu tinha 26 anos de emprego efetivo, registrado em carteira. Passados uns meses o padre Diretor do Dom Bosco, Padre Vicente Gerdes mandou dizer que queria falar comigo, para procurá-lo no Dom Bosco. Ele disse-me que se quisesse de fato entrar para o seminário deveria fazer o curso supletivo João Wesley.Ele me disse: “ Você tem que se desligar da empresa em que trabalha, vir morar aqui conosco, e estudar a noite, porque só há esse curso à noite”. Isso foi a 6 de janeiro de 1976. O gerente, quando disse-lhe que estava deixando a empresa para ir para o seminário disse-me: “Você vai deixar tantos anos de empresa para ir para o seminário? Você deveria ir para o hospício!” O Padre Gerdes já tinha marcado a matrícula no João Wesley, que ficava na Rua Alferes José Caetano esquina com a Rua Voluntários de Piracicaba. Acabei o colegial, fui a Aparecida do Norte fazer vestibular para estudar filosofia.

Aos quarenta anos qual foi a sensação que o senhor teve ao pensar: “Agora vou ser seminarista!”

Pensei, agora estou no Colégio Dom Bosco, antes eu era analista responsável por uma seção, um laboratório, talvez eu vá trabalhar na secretaria do colégio. Eu passei a morar na clausura, junto aos padres, um local reservado, de acesso restrito, sem duvida um privilégio. Na segunda-feira o economo da casa disse-me: “Rubens, agora você irá ficar responsável pela manutenção dos apartamentos dos padres, sala de reunião, tudo que estiver dentro da clausura”. O material de limpeza fica naquele quartinho. Eu ia ser o faxineiro. Eu que pensava que iria fazer serviço de escritório. Graças a Deus eu tive um chefe muito bom, quimico, chamava-se João de Godoy, aprendi muito com ele, técnicas de manutenção e limpeza. Para limpar 9 apartamentos mais o do inspetor quando vinha, e outro de visita, no total eram 11 apartamentos. Quando passei a morar lá a ordem que me deram era as 5h30 tocar a campainha para os padres levantarem-se, 6 horas já estavam rezando o ofício da manhã, terminando o ofício desciam para o café, que eu já tinha levantado as 4h30 para fazer, preparar tudo, para depois subirem e começarem as aulas. Passei a servir o almoço, o jantar, no refeitório não era permitida a entrada feminina. Havia as mulheres que cozinhavam. Hoje não há mais clausura no colégio.

O senhor conheceu Dom Aniger?

Morei com ele na Casa Paroquial da Paulicéia durante oito meses, na Igreja Sagrado Coração de Maria. O Padre João Echevarria faleceu, não tinha padre, Dom Aniger foi de pároco lá. Ele já era o bispo diocesano de Piracicaba.

Como o senhor foi parar lá?

Eu permaneci por 2 anos no Dom Bosco, como seminarista salesiano. Fui aconselhado a ser seminarista diocesano, seria mais interessante no sentido de ganhar tempo de estudos. Fui falar com Dom Aniger. Ele me conhecia muito bem, da forma como eu trabalhava naquele Piracicamirim. Consegui terreno para construção do local voltado a comunidade e o terreno da matriz, logo mais acima. Também doado por José Francisco Prudente. Passei a ser seminarista diocesano, embora morando no colégio diocesano, até completar os estudos básicos. Quando fui falar com Dom Aniger para ir para o seminário ele disse que eu não deveria ir mais, pois vocação na minha idade era muito tardia, ou seja, não era vocação. Cheguei no Colégio Dom Bosco, o diretor era o Padre Antonio Feltrin, o diretor já sabia, apenas disse-me que não era para me preocupar com nada. Um compadre meu ficou sabendo, disse-me que já tinha conseguido um serviço para mim na Itelpa. Um dia fui falar com Frei Saul, eu o conhecia, pensei quem sabe ele me convida para entrar lá, eu vou querer ser um irmão leigo, nem vou querer ser padre. Tinha mudado o bispo, era Dom Eduardo Koiak, embora ainda como titular, Dom Aniger estava em São Paulo. Frei Saul disse-me: “- Vai falar com Dom Eduardo!” Eu respondi, que se o titular tinha dito que não era vocação o que o outro bispo iria dizer? Frei Saul ligou, e disse-me para ir depressa que Dom Eduardo estava de saída. Desci a Rua Governador Pedro de Toledo, contei o caso a Dom Eduardo. Ele me disse como estava morando no Dom Bosco, para pedir ao meu diretor uma carta: “Com tudo que ele sabe de ruim de você. Carta fechada, hem!” Nesse momento chega Dom Aniger, e me diz: “O meu filho, você por aqui?” Eu queria que abrisse um buraco no chão para poder entrar. Já tinha terminado a conversa com Dom Eduardo, mas sai com a sensação de que tinha acabado tudo. Levei as cartas ao Dom Eduardo, uma semana depois. Ele então me disse que nada impedia, mas como as aulas já tinham começado você vai fazer o propedêutico em Rio Claro, condução você pega uma carona com os padres da Igreja São Judas Tadeu, você vai estudar mais um pouco de latim e grego. Eu tinha que deixar o café pronto para os padres e ir. Levantava as 4h30, preparava aquilo tudo lá, esse aqui precisa ovo quente, esse aqui banana assada, cada coisa no seu lugar. Pegava meus cadernos e saia por essas ruas a pé. Um ano fiz o tal de propedêutico. Tinha um abençoado padre espanhol, que todo santo dia fazia a chamada, com o lápis batia na mesa e dizia: “Kýrios Rubens!” que em grego quer dizer, Senhor Rubens! Leia, vamos! Todo dia eu tinha que ler. Conclui, falei com Dom Eduardo, fiz outra vez o bendito vestibular no Seminário Bom Jesus em Aparecida, eu estava com uns 45 anos, em 1986 terminei o curso. Em 29 de novembro de 1986 na Paróquia Nossa Senhora Aparecida fui ordenado padre. O primeiro ano de padre morei com o Monsenhor Jamil, em Rio Claro, e também dava assistência em Santa Gertrudes. Em 1988 fui pároco da Paróquia Nossa Senhora da Saúde em Rio Claro. Continuava dando assistência em Santa Gertrudes. Depois fui para a Paróquia do Bom Jesus em Santa Bárbara D’Oeste, fui pároco na Nossa Senhora do Rosário em Charqueada, em 2001 fui para Menino Jesus de Praga, e agora sou capelão no Lar dos Velhinhos, já a mais de nove anos. Recebi o título de Monsenhor, um dos padres do conselho diocesano deve ter entrado com esse pedido, eu não sabia. Todo esse conselho aprovou, houve a aprovação do bispo, é feita uma carta ao Santo Padre o Papa, pedindo que o referido padre passe a ser monsenhor.

Como o senhor se sente sendo capelão do Lar dos Velhinhos?

A maior alegria que sinto é ser Capelão do Lar dos Velhinhos.
















sábado, março 10, 2012

PASTOR DILMO DOS SANTOS

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS


JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 10 de março de 2012
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.tribunatp.com.br/
http://www.teleresponde.com.br/



ENTREVISTADO: PASTOR DILMO DOS SANTOS

Pastor Dilmo está em Piracicaba há 9 anos. fluminense, nascido em Angra dos Reis, a 13 de agosto de 1964, seu pai, Manoel Correia dos Santos era pescador,sua mãe Edith Peres dos Santos, aos 84 anos mora em Angra dos Reis. Somos cinco filhos, três irmãos e duas irmãs. Eu vim para essa igreja com a transferência do Pastor Moisés, que permaneceu aqui por vinte anos. Pertenço a Assembléia de Deus Ministério Madureira. Ministério Madureira é uma convenção nacional. Meu pai também era pastor da igreja de Angra dos Reis. Minha mãe durante 64 anos foi líder de grupos de oração da igreja. Até os 16 anos ajudava o meu pai, trabalhava com ele no barco de pesca. Eram as sardinheiras ou traineiras. Meu pai chegou a ter 10 barcos de pesca. Guardo comigo a foto do barco do coração, ainda em preto e branco. Naquele tempo Angra era uma cidade muito limitada, hoje já é mais desenvolvida. Ao concluir o colegial tinha que sair da cidade para dar continuidade aos estudos. Fui para a casa dos meus avós em Volta Redonda, onde passei a trabalhar e a estudar o curso colegial. Depois fui para o Rio de Janeiro, onde dei continuidade aos meus estudos. Estudei, fiz seminário, Ciência de teologia pela Faetad Faculdade da Assembleía de Deus, depois fiz pela Batista também. Fiz o Curso de Teologia pelo nosso instituto bíblico, fui cuidando da vida espiritual e também da secular. Trabalhei um período na empresa American Express no Rio de Janeiro, por quase seis anos, onde tinha cargo de gerência.

O senhor além de exercer as funções de religioso tinha que trabalhar para sobreviver?

Sempre fui evangélico, mas a minha vida paralela secular foi constituída com meu trabalho em empresas, como a Sul América Seguros, Editora Bethel, durante quatro anos fui diretor do jornal Tribuna de Angra.

O senhor é casado?

Sou casado, pai de três filhos. Felipe, Bernardo e Vitória.

Qual é o cargo que o senhor ocupa dentro da Assembléia de Deus?

Hoje sou Pastor Presidente deste Campo, que cuida de 210 das igrejas, inclusive de uma igreja situada na Irlanda. Temos 20.000 fiéis batizados, com cartão de membro. Em Piracicaba são 10.000 membros. Isso não implica em relacionar além destes, aqueles que são congregados. Se os contabilizarmos também podemos chegar a 35.000 congregados. São membros da família, filhos, que não se manifestam como fiéis, mas congregam em nossa igreja. Frequentam participam. A Assembléia de Deus Madureira tem hoje no Brasil oito milhões de fiéis. No Estado de São Paulo temos 9.200 templos, com quase três milhões e meio de fieis dentro do Estado.

O senhor foi candidato a deputado estadual recebeu votos de quantas cidades do Estado de São Paulo?

Como candidato a Deputado Estadual fui votado em 511 cidades do Estado de São Paulo, tive 90.909 votos, não fui o único candidato pela igreja, tivemos mais três outros candidatos.

O senhor atualmente exerce a função pastoral e a função parlamentar?

Eu nunca tinha sido candidato a cargo eletivo, essa foi à primeira vez, isso também por uma necessidade da igreja. Ao longo do tempo a nossa denominação teve pouquíssimos representantes para investir nessa situação política. E Graças a Deus eu fui um deles aqui em São Paulo. Houve realmente o apoio a minha candidatura para que eu pudesse chegar, e realmente cheguei. A minha condição foi de não abrir a minha convivência pastoral. Eu gostaria de continuar sendo sacerdote. Sou pastor a 20 anos, só de pastorado na parte administrativa estive por sete anos conduzindo a editora, cuidando da literatura da igreja filosoficamente falando. Nessa editora em que fui superintendente geral, vendemos dois milhões e meio de revistas por trimestre. São revistas já endereçadas, de assinantes. Eu sabia que Deus tinha um plano para mim, e eu gostaria muito de exercer e graças a Deus em Piracicaba eu me achei. Cheguei à igreja, presidindo a igreja, vivemos um período muito positivo da igreja. Foi um crescimento fantástico em 2003 tínhamos 89, filiais, com 8.000 membros hoje são 210 filiais com 20.000 membros. Eu gosto de fazer esse atendimento, eu me dedico a isso, me preparo para isso, me preparei para ser pastor. Estou como deputado, é uma coisa condicional, foi uma necessidade que a igreja teve, e teve que tirar um daqueles que estão participando para estar enfrentando esse momento. Até agora tenho conseguido conciliar.

Sem querer ser indelicado, na última campanha política tivemos um candidato que se eleito fosse iria dizer qual é a função de um deputado, algo que ele dizia não saber. Foi eleito como um dos mais votados. O que podemos dizer de um candidato desses?

Ele não conhecia a função do deputado e iria falar. Talvez de uma forma humorística tratou uma coisa muito séria. De uma forma muito vulgar, eu penso. Não podemos tapar o sol com a peneira, sou totalmente a favor da verdade. É claro que nos preparamos para enfrentar todas as situações, quando me coloquei a disposição para ser candidato, claro que procurei saber quais eram as funções inerentes ao cargo. Na verdade, quem está do lado de fora não tem a mínima noção do que acontece lá dentro. A gente se frustra. Hoje por exemplo qual é a função do Deputado Estadual? É fiscalizar o governo, fazer projetos de leis, para facilitar e ampliar os investimentos. Para ser sincero, quando você vai fiscalizar uma conta com deputado o Tribunal de Contas impede, ele é em boa gíria, “O Cara”. Quando você vai fazer projetos de leis, eles são discutidos só pelas lideranças dos partidos; como deputado você pode ter 300.000 votos, um milhão de votos, lá vale apena s com um voto e acabou. Se você não tem “tempo de casa” e não tiver um pouquinho de jogo de cintura você não entra na discussão, lá você é “baixo clero”. Quando você faz um projeto de lei, o mesmo fica subjugado à vontade de 5,6 ou 10 parlamentares. A terceira condição do Deputado Estadual seria a interveniência entre o Estado e o Município, que hoje virou chacota. Hoje se diz que tem deputado que vende a emenda. Hoje a demanda é tão grande, todo o mundo vai lá para pedir, ele diz: “Deputado, eu tenho uma demanda, a minha cidade precisa.” A função do deputado é encaminhar, ele encaminha, ai vem: grupos de interesses que a gente não conhece, escusos às vezes; ou interesses políticos de outros que vem para atrapalhar, e começa a jogar no ar: “Você é isso, você é aquilo”. Você analisa e pergunta a si mesmo: “O que eu estou fazendo aqui meu Deus do Céu?”

Se houver mudanças elas serão de forma gradativa e constante, existe alguma fórmula?

Se as pessoas de bem, nisso existe um equívoco, quando você tem uma posição independente, você não quer se envolver. A sua condição de independência te dá aversão a política. Isto está errado. Quando um homem de bem, um líder espírita, um líder católico, um líder protestante, que tenha a condição de boa intenção, se coloca as avessas, isso não trás nenhuma contribuição, só trás mais espaço para aqueles que não têm condição de estarem lá, mas estão, e estão comandando. Eu penso que a conscientização dos homens de bem tem que crescer. Muitas vezes somos até mesmo pichados pela mídia: “É pastor! É evangélico! É líder espírita que está se envolvendo!” Não pelo Amor de Deus. São os homens de bem! Se a gente não for, não participar com muita vontade, isso nunca irá se arrumar! É isso que eles querem!

Pelo que o senhor está dizendo o descontrole é total, e a grande massa desconhece?

Precisamos formar cidadãos, desde a mais tenra idade os currículos escolares contemplaram estudos de verdadeira cidadania. Criar a consciência de Amor á Pátria. Criar uma sociedade mais justa, que dê condições mais justas aos nossos filhos, nossos netos.

O senhor acredita em voto distrital?

Acredito de forma plena. Sou a favor, espero que um dia o Brasil esteja exercendo dessa forma a situação política. Um país do tamanho do nosso quem conhece é quem está junto acompanhando, no dia-a-dia. Fui votado em 511 cidades, você acredita que vou ter condições de conhecer passo-a-passo, ou dia-a-dia, uma cidade a 500, 800 quilômetros de distância? Isso é humanamente impossível. Isso é uma loucura! Nós não podemos e tolos o bastante para essa imprensa e esse grupo que tem essa vontade de ver a coisa retrocedendo para que ele continue se mantendo. Só que quanto mais nós vermos que está incomodando mais nós temos que reagir. Não posso me omitir, não posso me esconder, de uma coisa que tenho a certeza de que poderá mudar. Precisamos estar envolvidos para que isso mude. A discussão não pode ser pequena. Não posso desprezar a capacidade de pensamento das pessoas.

Aquelas pessoas alienadas por questões consideradas éticas deve mudar sua forma de ver as coisas?

São aqueles que se acham tão bons que julgam que não devem participar. É por você ser tão bom que deve estar lá. Essas pessoas não dão chance de se mudar à situação. São exatamente elas que podem mudar. Esse seria o grande acontecimento do Brasil hoje.

Há uma movimentação de evangélicos direcionando comportamentos sociais?

Nem tudo que está parado em estacionamento é carro. A discussão sobre minha ação como homem público não significa que devo impor a minha fé. Hoje está em pauta a homofobia, em minha opinião a discriminação parte de ambos os lados. Eu não quero ser agredido em meu espaço, e não preciso agredir o seu espaço.

Quando a grande mídia, em especial uma rede de televisão, impõe hábitos á uma nação continental, pode acarretar consequências que fujam ao controle?

Nesse caso o presidente Lula foi mal interpretado, quando ele quis fazer censuras, não á imprensa, mas dar dignidade, ética profissional, hoje entra na minha casa não o que eu quero, ou o que eu penso, entra o que eles querem. Há uma invasão sem que haja uma reação. A minha dignidade como indivíduo está sendo invadida. Há a banalização de termos chulos. Não é uma ação restrita a uma só emissora de televisão, mas aos meios que detém poder de manipulação. Temos que formar critérios, o povo é ingênuo. Existem limites. Os grandes meios usam como massa de manobra, comandam, fazem o que bem entendem. Isso é horrível, não temos critérios formados para discernir.

Os povos que colonizaram o Brasil davam-nos miçangas em troca de ouro, o processo continua, mudando apenas para miçangas com tecnologia embarcada?

Temos que retornar ao verdadeiro civismo. Ninguém está sendo preparado para amar a pátria. Há um jogo de interesses, resultados. O Governo não assume a parte dele e as nossas crianças estão crescendo. Em momento algum penso em criar fanatismo, mas a igreja ensina o seu povo a amar aquilo que é verdade. Hoje se faz CD evangélico, porque o evangélico por principio não compra CD pirata. Foi-lhe dada a razão porque não deveria comprar o CD pirata, é um delito. Enquanto não educarmos nossas crianças, nossos filhos, profissionalizando-os de forma correta, sempre seremos cidadãos de segunda classe.

Há iniciativas isoladas, como a do Professor e Maestro Helio Manfrinato, que aos 90 anos constituiu um grupo de 60 crianças, em sua maior parte pertencentes á área de risco. Deu-lhes 15 violinos, arrumou voluntários como professores, monitores. De 30 hoje são 60 crianças. Cada violino custa apenas 150 reais. É um projeto de envergadura que na Venezuela preparou 360.000 músicos em 35 anos. São músicos para tocarem em qualquer platéia do mundo. Aqui se lutam por migalhas. Falta verba para a sobrevivência do professor. Como o senhor vê isso?

O Estado não conhece, ele está no macro, não está no micro, por isso nossas crianças evoluem para as drogas. Quando tentamos obter verbas micros, que são pequenas, porém as necessárias, encontramos um meio burocrático tão terrível que acham que aquela pequena verba, importantíssima, é que irá fazer o grande rombo no Estado. Precisamos identificar esses projetos, realizados por pessoas de bem. Quando um deputado leva um projeto como esse ele é questionado: Qual selo essa iniciativa tem? Selo1? Selo2? Selo3? Para sair uma verba de 50 ou 60 mil reais são exigidos um calhamaço de papel que quase ocupa uma sala. As grandes empreiteiras chegam e só em uma canetada levam 10, 15, 20 milhões de reais. Isso tem que acabar. Sou do Partido Verde Hoje estou me negando a entrar em reuniões para discutir meio-ambiente. Isso porque geralmente a pessoa que discute meio ambiente nunca esteve no meio ambiente. Fala do que não conhece. Como você vai falar do rio Piracicaba se você não o conhece? Como irá falar de mata ciliar se nem sabe o que é mata ciliar? Estou com um projeto, parado, porque cada vez que se coloca em discussão aparece pessoas mostrando maquetes, projetos, um enorme amontoado de papéis. Pergunto quantas vezes você já esteve lá? Respondem : “Passei assim pelo alto!”. Digo:lhes “Você não sabe que mora lá, quem é o ribeirinho, qual a sua necessidade”. Essas pequenas ações custam pouco, esse projetos devem ser feitos, não é passar mega investimentos.

O que o senhor acha dessas construções esportivas?

Construções para a Copa do Mundo? Eles acharam um meio de fazer investimentos que talvez não fariam nunca se não tivessem uma coisa que motivasse a sociedade de uma forma cega. A sociedade para o futebol nem discute valores, ela acha que se for um bilhão, tem que dar dois bilhões. Uma coisa alarmante é a rendição de uma nação soberana a vontade de um grupo pequeno: A FIFA dizendo o que deseja. Eu nunca vou colocar um filho meu dentro de um estádio de futebol num dia desses, se com a bebida proibida já é alarmante imagine com o álcool livre nos estádios. Quem vai controlar a quantidade de bebida que o torcedor irá ingerir? O que tem dentro da lata? Um país soberano como o Brasil, se rendendo!

Pastor Dilmo, o mundo está em crise?

O mundo sempre viveu crises, se você olhar a História irá ver que não tem um período em que não esteve em crise. Mas sempre tem o começo, meio e fim. Tem o bem e o mal. O bem geralmente vence o mal, quando não vence fica estigmatizado. Para que haja aprendizado, evolução. Parece que neste período em que estamos vivendo não nos orientamos com as experiências passadas. A evolução da ciência foi tão grande que não nos permite mais sermos desinformados. As nossas lideranças fortes parecem que se fecharam para isso, elas não querem de forma nenhuma perder a “boquinha”, infelizmente essa é a verdade. Sabem, conhecem, mas não querem perder, estão brigando para se manter. Enquanto está bom para mim dane-se o mundo! Abrahão plantou uma árvore no seu final de vida, ele sabia que não iria usufruir, mas tinha que pensar nas gerações futuras. Nós não estamos pensando nas gerações futuras, estamos pensando no nosso momento. Isso ocorre mundialmente, é um egoísmo terrível, está globalizado, mas cada um procurando o seu interesse. A América o Norte que foi o grande poder, hoje falido, por questões egoístas. Mas eles para se manterem por muito tempo eles nos mataram. Esse egoísmo barato, sem buscar exemplos no passado, nos leva para o abismo. Eu tenho certeza, convicção de que Jesus está voltando. Enquanto vivemos na Terra temos que ser responsáveis, até mesmo pela Terra, pois ela foi criada por Deus.

Como deputado estadual em algum momento o senhor foi cobrado com relação a segurança?

Sempre! Segurança e Saúde. Faz um ano que estou exercendo o meu mandato, só de investimento para a saúde de Piracicaba devo ter mandado uns 1 milhão e meio, isso para a Saúde. Mandei dinheiro para a prefeitura construir postos,para a Santa Casa, para o Hospital dos Plantadores de Cana, é pouco, mas com esse pouco é que se fazem as mudanças. O que nos falta são pessoas com bons interesses, engajamento, para fazer a gestão que necessita ser feita. Piracicaba é uma cidade que tem um número para realizar atendimentos ela não pode inchar sem planejamento. Não sou contra o desenvolvimento da cidade, sou contra ser feito de qualquer maneira. Não se pode da noite para o dia em uma estrutura preparada para duzentas mil pessoas, colocar trezentas, sem criar um planejamento para aumentar o número de atendimentos. Um exemplo típico é a Hyundai, se o planejamento fosse ser permitido contratar trabalhadores apenas de Piracicaba, já que é Piracicaba que está dando o incentivo, talvez não se inchasse. Mas todo mundo trouxe mão de obra de fora, nós não qualificamos. O que acontece é que um posto de saúde que atendia quinze mil pessoas passa a atender vinte mil. Esses cinco mil a mais como se faz? Alguém vai sair perdendo. Posso colocar todo investimento do mundo que não irá dar certo. Não podemos nos enganar e nem enganar o povo. Está ai o erro. Segurança é a mesma coisa. Hoje o grande problema da polícia é mão de obra. Como pode uma polícia sair de casa ganhando R$ 1.200,00, tendo que morar nas comunidades, porque não tem como pagar aluguel nos grandes centros. Não tem dinheiro para colocar seus filhos na escola. Não tem condições de dignidade e sai para dar segurança para mim? Isso não existe. Falam vamos fazer reengenharia, a reengenharia é fácil, é dar estímulo e preparação.

Com relação ao trabalho do menor, qual sua opinião?

Hoje se criam regras que ao menor, direitos, que muitas vezes o coitado nem sabe discernir direito, mas agrada a quem manda. Isso atrás de uma roupagem de direitos humanos e tantos outros direitos com diversas denominações. Não existem limites. Tudo na vida é formação e educação. Não adianta criar regras, sem educar e sem formar. O Estado não é orientador familiar, e não tem esse interesse. Para a mídia não interessa famílias mais fortes, o grande gancho está na desintegração, criar formas diferentes, de consumismo. Sou contra a libertinagem, aquilo que vai destruindo a liberdade para fazer da forma que você quer.

Quanto a progressão de pena, qual é a visão do senhor?

Sou contra. Temos que formar uma maneira que a pessoa não tenha a necessidade de passar por isso. Sou preventivo. Sou a favor das reformas carcerárias, reformas das leis. Em tudo há interesses, quanto mais presos tem mais se gasta com alimentação. Mais roupa se lava. Enquanto gente boa não se envolver o sistema não muda. Os que estão no poder tentam limitar a entrada daqueles que não estão, impedindo através de formas, leis. Dificultando. E as pessoas se inibem. E cidades com 200 a 300 mil habitantes o poder está nas mãos de alguns, que não deixam, não permitem que outros participem. Precisamos reconstruir o ser humano em seu caráter. Hoje há planejamento para tudo, mas não há planejamento para o ser humano, ele foi colocado em uma condição secundária. Quando ele é o elemento principal. O ser humano se tornou frio, ele está atrás de conquistas econômicas. O que era para estar trazendo felicidade está trazendo transtorno. Estou trabalhando em um projeto de inclusão social, onde crianças têm a oportunidade de ter acesso a informações culturais. Tudo passa pela informação e pela educação.



































sábado, fevereiro 25, 2012

HORA DA CORNETA

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 21 de janeiro de 2012
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.tribunatp.com.br/
http://www.teleresponde.com.br/
Da esquerda para a direita
Márcio Antonio Barbon, Rodney Albert Roston, Fernando José Vitti, Marcel Guarda, Armando Thomaziello Jr, Wilson Macchi, Marcelo de Jesus Sá. 


ENTREVISTADO: HORA DA CORNETA - Márcio Antonio Barbon, Rodney Albert Roston, Fernando José Vitti, Marcel Guarda, Armando Thomaziello Jr, Wilson Macchi, Marcelo de Jesus Sá.
A primeira vista um grupo de amigos realiza performances que lembra um pouco programas populares de humor, como Pânico, CQC e outros que seguem as mesmas diretrizes. O que torna esse grupo diferente dos milhares de outros que se reúnem nas mesmas condições, é que a criatividade do conjunto é muito grande, riem de si próprios, e rir de si mesmo é algo muito comum na vida da maioria das pessoas, que tem senso de humor. O riso tem uma extraordinária capacidade de liberar, curar e também, não deixa de ser um ato de entrar em contato consigo mesmo, surgindo, uma percepção mais aguçada perante as situações da própria vida. Pode-se dizer que cada reunião do grupo Hora da Corneta é uma sessão de terapia coletiva. Buscando a origem do grupo, descobre-se que surgiu de forma natural e espontânea. O bate papo descompromissado de quem está degustando uma cerveja gelada, passou a reunir os amigos, entre muitas risadas, com o XV de Novembro de Piracicaba sendo tema obrigatório, já que todos são quinzistas, alguns participam diretamente da administração do time. A conversa animada, muitas vezes atraía a atenção de mesas vizinhas quando o grupo se reunia em uma mesa de bar. Descompromissadamente decidiram gravar o bate papo e colocar no You Tube, um site que permite que seus usuários carreguem e compartilhem vídeos. A boa repercursão animou o grupo, que passaram a alimentar o site com suas gravações. O grupo é formado por sete amigos:
Márcio Antonio Barbon, Funcionário Público Municipal, nascido em 10 de outubro de 1970.
Rodney Albert Roston Gerente Comercial, nascido em 16 de março de 1968
Fernando José Vitti corretor de seguros, nascido em 21 de abril de 1976,
Marcel Guarda, fisioterapeuta, nascido em 15 de agosto de 1982,
Armando Thomaziello Jr, diretor de empresa de Recursos Humanos, nascido em 10 de agosto de 1966.
Wilson Macchi engenheiro agrônomo nascido em 17 de março de 1968;
Marcelo de Jesus Sá. Radialista e jornalista, nascido em 20 de novembro de 1979. Com muito bom humor narram fatos engraçados, atitudes ousadas como de dois elementos do grupo que praticaram a chispada, que é o ato de correr nu em lugar público por um rápido período de tempo, os praticantes se esconderam em algum lugar, despiram-se onde ninguém os via, e apareceram quando ninguém percebeu, correndo o mais rápido que podiam, em pleno local onde estava ocorrendo o churrasco. A prática foi desenvolvida na década de 1970 como um passatempo, ocorreu de forma acentuada nos EUA, era denominada de Streaking.
Wilson Macchi, como surgiu o grupo Hora da Corneta?
Em função do XV de Novembro de Piracicaba, todos do grupo são torcedores do XV, começamos a fazer reuniões ás terça feiras, geralmente em bares frequentado por famílias. Além do XV surgiram outros assuntos, começaram a sair algumas “borrachas” (bobagens), chegou um momento em que percebemos que se gravassemos nossos bate papos teríamos um programa. Calhou do Marcelo Sá ser profissional da área de comunicação, fizemos um programa piloto, com ele conduzindo.
Marcel Guarda reafirma que tudo surgiu a partir de conversas informais, o Armando sugeriu que gravassemos, isso ocorreu em um dia muito frio, gravamos na sua casa, com equipamento totalmente improvisado. Tinhamos uma mesa de som e um microfone apenas, aqueles de lapela, a melhor sensação que tivemos após realizar esse primeiro programa foi o prazer de ter feito de fato o que haviamos pensado. Apesar da precariedade dos recursos técnicos, demos muitas risadas, colocamos na internet, agradou muitas pessoas, com isso fomos dando prosseguimento ás gravações dos nossos bate papos.
Fernando Vitti complementa, cada programa tem uma hora , dividida em blocos de quinze minutos. Eu não participei dos seis primeiros programas, ( um dos integrantes em tom de falso sarcamo comenta à voz alta: “-Foram os melhores”).
Rodney Albert Roston a partir do sétimo programa migramos para uma tradicional casa de lanches de Piracicaba, com isso começamos a fazer o programa gravado, porém com platéia, até então eram feitos na casa do Armando, nós e as nossas esposas.
Fernando Vitti, é feita uma pauta para realizar o programa?
É sim, acredito que a hetereogeneidade do grupo é que dá a liga do programa. Cada um tem uma característica pessoal, o Armando é o elemento simples, o Marcelo é o chato, que coloca ordem na casa, eu sou um dos liberais, o Marcel rí de tudo, não é risada provocada, é natural, expontânea.
Rodney Albert Roston Nós faziamos o programa no início na casa do Armando, com a presença das nossas esposas, dos amigos que passaram a ir até lé. Passamos a fazer em uma lanchonete, gravavamos e colocavamos no You Tube, um dia olhamos em volta de nós e tinha umas 60 pessoas nos acompanhando, rindo muito. Nós damos risadas de nós mesmos. Uma caracterísca é que um é alvo de piada do outro, isso entre os sete componentes do grupo. O detalhe muito importante é que não existem personagens, cada um é ele próprio, sem se caracterizar como uma personagem. Foi muito importante termos já realizado 18 programas, hoje estamos em condições de apresentá-lo em rádio.
O grupo irá colocar o programa no ar através de uma emissora de rádio convencional?
Estaremos entrando no ar no dia sete de fevereiro de 2012, pela Rádio Educadora 1060 Khertz, AM, terça feira, ás 21 horas. Todo programa gostamos de trazer um convidado, o primeiro convidado nosso foi o presidente do XV de Novembro, o Luiz Beltrame, já participaram o deputado Roberto de Moraes, o Rico Veneno, a Adriana Passari, a Madalena.
Fernando Vitti: Geralmente eu. Crio a pauta, usamos muito o Skype, ficamos todos ligados no mesmo bate papo, a pauta é feita de forma virtual. É lançada uma idéia, desenvolvemos durante a semana, no dia da gravação todos já vêm com idéias sobre o que poderá dizer. Se bem que na verdade a maioria dos assuntos surge em nosso bate papo no Skype. Um exemplo: montamos uma pauta, “Sou do tempo que...” e ai aparece a colaboração de cada um, Sou do tempo em que conjuntivite se chamava “dordólho”. Outro fala “Sou do tempo em óleo de cozinha se vendia a granel e era engarrafado na hora, no vasilhame do cliente”. Nós temos muitos programas focados no pobre e seus hábitos. Tivemos o “Dia das Mães do Pobre”; “Natal de Pobre”.
Vocês entrevistaram muitos pobres para fazer esses programas?
Em coro o grupo responde: “-São experiências próprias!” Uma ouvinte, cuja filha ouvia nosso programa, e a partir daí ela passou a ouvir também, a filha colocou no facebook que a sua mãe havia jogado 80% das suas coisas porque tudo que nós falávamos ela tinha na casa dela. (a realidade é que quando o grupo se refere a pobre pode entender-se como proprietários de artigos de gosto duvidoso, os chamados bregas, e não a condição financeira de quem os possui). O nome dessa senhora é Solange, portanto o momento de se falar de pobre é o “Momento Dona Solange”. Procuramos manter um nível em que não se crie constrangimentos de qualquer ordem, político, religioso. Uma das nossas entrevistadas foi a Madalena. Já entrevistamos entre outros: Rico Veneno, Adriana Passari, Mário Luiz, o goleiro Anderson, do XV, o Luiz Beltrame, o Carlinhos Fernandes que ajudou bastante. Quando ele não pode ir o seu filho Vitor Mandi nos ajuda. O Netão de Laranjal Paulista nos ajuda nas pautas. A esposa do Rodney é quem fazia as fotos do grupo.
Todos os componentes são casados?
Dois são solteiros, um é divorciado e outros quatro são casados.
O que as esposas desses quatro componentes do grupo acham a respeito dos seus maridos participarem?
Elas os acompanham. Gostam. Principalmente porque não estamos fazendo personagem. O que nós fazemos na Hora da Corneta é só juntar os sete componentes que já são assim no cotidiano.
Vocês fazem fofocas?
Muitas, aliás, criamos um termo para isso é “pipinguim”.
Marcelo de Jesus Sá diz: o pessoal está comedido nesta entrevista está “pegando leve”.
Rodney Albert Roston vamos aproveitar a ocasião para dizer que animamos casamentos, velórios, batizados, festas de debutantes. Quando estamos juntos, apenas o grupo, fazemos brincadeiras uns com os outros, que só nós aguentamos. Se entra alguém de fora do grupo ele possivelmente não aguentará a pressão
Quando apenas o grupo está reunido o bate papo entre seus componente é uma terapia coletiva?
Acaba sendo!
Qual será o formato do programa na rádio?
Rodney Albert Roston responde que será na Rádio Educadora de Piracicaba, o diretor da rádio, Jairinho Mattos, mostrou seu contentamento, dizendo que estamos fazendo algo totalmente diferente, um trabalho que ele buscava ha muito tempo para ser feito em uma rádio. Na sua opinião as Rádios AM e porque não citar a FM também, são monotonas, os programas são muito repetitivos. Segundo ele nos afirmou, está buscando alguém com o nosso espírito. Ele está dando total apoio e liberdade para o nosso grupo, é lógico que em uma rádio aberta existem algumas regras. E nós só estamos indo para lá por causa dessa liberdade de trabalho que nos foi dada.
Marcelo de Jesus Sá Fizemos 18 programas, foram editados, na rádio será sem cortes, ao vivo. Após gravarmos o quinto programa tivemos um convite para gravar em uma televisão local. Conversamos, e o grupo achou que naquele momento não seria ideal para nós, a fórmula que fazemos é mais direcionada ao rádio. Profissionais da área sempre afirmaram que deveríamos compartilhar esse programa com os ouvintes de uma emissora de rádio. Na internet quem nos ouve é um pessoal ligado a nós, a cada 100 elogios vinha uma crítica. A abrangência no rádio é em torno de um milhão de pessoas, da mesma forma que virão elogios, virão críticas.
Rodney Albert Roston conforme a apreciação do diretor artístico Jairinho Mattos, nós estamos muito bem preparados para fazer programa em rádio
Marcel Guarda formato do programa mais próximo do que estamos fazendo é o do Danilo Gentili, que integrou o CQC e hoje apresenta um programa na Band.
Marcelo de Jesus Sá o Danilo não utiliza as vinhetas tradicionais, pré-gravadas, por exemplo, musica de suspense, a banda que o acompanha, Ultraje a Rigor faz na hora. Isso nós também fazemos, não usamos aquela risadinha gravada, rimos ao vivo, na hora. Nosso programa deu certo assim. Vinheta para o Giro de Notícias, o Marcel faz na hora. Na semana seguinte essa vinheta sairá diferente. Com isso você quebra aquela coisa tradicional em rádio. O Wilson faz a risada sarcástica, saímos do tradicional, mostramos ás pessoas coisas que são nossas, ninguém tem igual. O humor que nós apresentamos é uma coisa nossa.
Márcio Antonio Barbon os erros de dicção que eu tenho faz parte da personagem. (O grupo explode em uma gargalhada).
Marcelo de Jesus Sá Vale a pena realçar que começamos o programa com seis pessoas, eu, Armando, Wilson, Marcel, Fernando e Rodney. Depois do sexto programa o Wilson precisava viajar muito, com isso ele faltou do sétimo e do oitavo programa, ai nós colocamos o Márcio, que já no começo deveria ter iniciado conosco. Lançamos a idéia de que ele era o estagiário. Pegou. Podemos dizer que o Márcio é o único personagem do programa. A forma como ele faz o estagiário é ele em sua naturalidade. Quando sai alguma coisa errada dizemos: “Tinha que ser o estagiário”.
A provocação é imediata, pedem ao estagiário que fale “Flamengo”, imediatamente ele diz “Framengo”. Explodem as risadas.
Marcelo de Jesus Sá pede que o estagiário repita “O clássico Fla-Flu”. Ele diz: “O crássico Fra-Fru”. Dificil mesmo é fazer com que ele repita a palavra “edredom”. Simplesmente não sai. As gargalhas tomam conta do local.
O interessado em participar do programa de vocês o que deve fazer?
Terá que entrar na fila temos muitos políticos, esportistas, pessoas da sociedade em geral, que aguardam para participarem do programa. Vamos fazer uma homenagem especial ao presidente do XV, Luiz Beltrami, foi ele quem alavancou o nosso programa. Um dos componentes do grupo afirma que também faz entrevista com ex-dirigentes do XV, já falecidos, ele psicofona. (uma alternativa a quem psicografa).
Rodney Albert Roston Nosso programa tem uma curiosidade, várias pessoas que já citamos faleceram. O único que resiste é um famoso arquiteto centenário.
Qual é a proposta da Hora da Corneta?
É a descontração do grupo, ficar milionários e irmos trabalhar na Rede Globo! Apesar de não fazermos nada planejado, esse passo de migrar da internet para a rádio é de forma improvisada. Depois da rádio vamos ver o que irá acontecer. É um pequeno passo para a humanidade, mas um grande passo para a Hora da Corneta. Juntos é uma piada, e sozinhos também. Possivelmente teremos um problema no estúdio da rádio, um elemento do grupo tem pré-disposição para eliminar gazes intestinais, recentemente ele fez um cruzeiro em um navio, adquiriu a passagem em uma luxuosa cabine, mas tornou a convivência interna da mesma quase impossível. Dizemos que toda mulher se casa vestida de noiva, a esposa dele se casou de escafandro.
Quais as coisas mais esquisitas que vocês já fizeram?
Divertimo-nos muito com situações peculiares, muitos se calam diante de certos absurdos do cotidiano. Nós expressamos aquilo que todos gostariam de dizer. Um dos componentes da Hora da Corneta pediu um lanche para levar para casa, o atendente perguntou: “-Você irá levar agora?” A resposta do nosso amigo foi fulminante: “Não, eu venho buscar amanhã cedo!”. Em outra ocasião esse mesmo integrante pediu uma cerveja em um dos estabelecimentos de Piracicaba, a atendente perguntou-lhe: “Você quer um copo?”. Imediatamente ele disse-lhe: “ Não, eu quero uma xícara!” E o pior é que ela trouxe e ele bebeu a cerveja em uma xícara! Em outra ocasião, em um famoso barzinho, o mesmo elemento perguntou ao garçom: “O senhor tem provolone?”. O mesmo disse que tinha, e perguntou-lhe: “-O senhor quer uma porção?”, ao que nosso amigo respondeu: “- Traga a peça inteira, eu corto aqui mesmo!”. O que as vezes ocorre, é quando estamos reunidos, em um barzinho, ao passar por nós alguma moça muito bonita, que esteja com as amigas, ou seja sem acompanhante que possa interpretar mal nosso gesto de carinho, nós a aplaudimos, porém de forma muito discreta, dizemos por exemplo: “-É aniversário de fulano.” E aplaudimos.
Houve uma ocasião em que dois elementos do grupo estavam em um churrasco em determinada associação em Piracicaba, e dado ao alto teor etílico de ambos, ousaram tomar uma atitude diante de uma platéia estupefata?
Um dos integrantes em uma festa de casamento fez pole dance também conhecida como dança do cano. (Há uma interrupção, mencionando uma razão qualquer, fortes aplausos homenageiam a bela moça que passa, ela estava sentada com um grupo de amigas e dirigia-se a toalete. Ela retribui com um sorriso). Outros dois elementos do grupo estavam de fato nesse churrasco, um deles sugeriu que fizesse a famosa chispada, despiram-se e saíram correndo entre os quiosques onde as pessoas estavam. Com o esforço da corrida, o efeito de algumas cervejas baixou bastante, no final do trajeto tiveram a consciência de que deveriam retornar para vestirem-se. Decidiram ficar sentado em um gramado aguardando que alguém fosse levar suas roupas, fato que não ocorreu. Voltaram andando normalmente, como se tivessem vestidos. Outro fato curioso que ocorreu com dois integrantes do grupo, foi durante um jogo de futebol entre Brasil e Holanda, pelo campeonato mundial , as ruas estavam vazias, todos tinham parado para assistir o jogo, em plena tarde, os dois amigos colocaram uma mesa no leito carroçável de uma das mais movimentadas vias da nossa cidade, a Dr. Paulo de Moraes, e passaram a jogar baralho no meio da avenida, próximo ao prédio da Prefeitura Municipal. Não aparecia um veículo sequer. Como estava tudo muito quieto, decidiram praticar a chispada. Em um jogo amistoso entre o XV e o time da Força Sindical, em pleno Estádio Barão de Serra Negra, um dos componentes do grupo levanta-se, grita com toda força dos seus pulmões, questionando a honestidade de determinado dirigente sindical, após dizer tudo que queria, identificou-se, meu nome é fulano de tal, dando não o seu nome, mas o do amigo do grupo. Um ex-presidente do XV, de tanto pegarem no pé dele, disse que iria tomar providências como impedir a entrada deles no estádio, e nos dias de jogo estabelecer um limite onde no raio de três quilômetros do Estádio Barão de Serra Negra eles não poderiam permanecer. Um dos elementos do grupo mora a 500 metros do estádio, sua preocupação era como iria chegar em casa nos dias de jogo. “Cada um de nós, individualmente, tinha como motivação torcer pelo XV, até que decidimos participar ativamente da administração do XV, hoje temos vários integrantes que são conselheiros do XV”.
Vocês aplaudiram dissimuladamente a passagem de uma bela moça que saiu da mesa de suas amigas e dirigiu-se á toalete. Existe o contrario de aplausos (que seriam vaias)?
O contrário de aplausos para nós é aplaudirmos na linguagem do surdo e mudo a LIBRAS, que é assim. (Demonstram, erguendo as mãos para o alto e balançando-as).
Vocês se consideram pessoas normais?
Rodney Albert Roston diz: Todos nós somos normais, temos famílias, sutentamos nossas familias com o nosso trabalho, todos trabalham, saimos da “normalidade” no momento em podemos. Somos malucos com responsabilidade. Ninguém aqui rasga dinheiro, nem corre atrás de avião.
De certa forma vocês cultivam a alegria da infância?
Exatamente! Embora alguns tenham trinta, quarenta anos, somos umas crianças. Fazemos campeonato de jogo de taco, uma brincadeira típica de crianças e adolescentes. O cotidiano é estressante, em todos os locais em que cada um de nós trabalha.
O que os filhos de você pensam a respeito dessas brincadeiras que vocês fazem?
Rodney Albert Roston Meu filho me acha um palhaço, assim como meus pais. Temos que deixar evidente que todos que compõem o nosso grupo são amigos, pertencem a uma classe social comum ao grupo.
Márcio, você que tem um cargo público, qual é a reação dos conhecidos?
Até as 18 horas eu sou funcionário, depois tenho a minha vida privada.
Quais são as perspectivas do programa Hora da Corneta que passará a ser apresentado pela Rádio Educadora?
Esperamos contar com a audiência daqueles que nos acessam pela internet, inclusive já falamos para nossas familiares e amigos ligarem, cada um já tem uns 15 nomes diferentes. Vamos ter enorme audiência entre os profissionais da noite, como guarda noturno, porteiros de prédios, caminhoneiros que passam pela região. Com absoluta certeza vamos ter maior audiência do que a Voz do Brasil ultrapassando a audiência da Voz do Brasil já estaremos satisfeitos. Somos gratos ao Carlinhos Fernandes, seu filho Mandi. A Hora da Corneta é uma nova opção para quem fica na internet, na TV a cabo, ou não agüenta mais ver novela, Big Brother. Estamos achando que com a entrada do programa Hora da Corneta no ar, irá cair a audiência da Globo, ela corre o risco de ter traço em sua audiência. Uma das primeiras coisas que iremos fazer será contar os capítulos das novelas, iremos antecipar tudo que irá acontecer durante a semana.
Rodney Albert Roston Sabemos que sempre tem um louco que gosta de ouvir o que nós falamos, e se algum deles quizer participar com patrocinio, sou do departamento comercial da Hora da Corneta, poderá entrar em contato através do telefone 91502073, 24 horas por dia. Não queremos rasgar dinheiro.


















sexta-feira, fevereiro 24, 2012

BARBARA BRIEGER

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 25 de fevereiro de 2012
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.tribunatp.com.br/
http://www.teleresponde.com.br/

ENTREVISTADA: BARBARA BRIEGER
O espírito de cidadania, desprendimento, uma escala de valores humanos elevada, são fatores que fizeram com que no passado um grupo de cidadãos de Piracicaba tornasse esta uma cidade muito especial, com alto nível educacional e cultural entre eles Dr. Nelson Meirelles, Dr. Friedrich Gustav Brieger, Fortunato Losso Neto, Da. Vivica, Hélio Manfrinato, e muitos outros. A semente em solo fértil, decorrido o tempo necessário, deu seus frutos. Hoje espalhados pelo planeta, estrelando nos melhores e mais afamados conservatórios musicais, centenas de piracicabanos provam que um trabalho quando feito com seriedade e profissionalismo dá excelentes resultados. O Brasil sempre alegou não ter verba para a cultura musical clássica. Com sua ascensão a um patamar de pais com recursos financeiros, a mentalidade de gastar muito dinheiro e de forma indiscriminada permanece. Investimentos maciços são feitos em prédios, equipamentos de última geração, que geralmente permanecem encaixotados por falta de pessoa especializada em seu uso, isso sem falar no batalhão de pessoal administrativo, que com raras exceções são escolhidos pelo grau de afinidade familiar ou ideológica, desprezando completamente a competência profissional, enquanto isso verdadeiro valores artísticos sobrevivem com pouco mais do que um óbolo. Elefantes e mastodontes arquitetônicos construídos em caráter emergencial, dispensando os trâmites legais, depois serão demolidos como castelos de areia. Muito dinheiro vai para o ralo sem a menor cerimônia. A burocracia para incentivo à cultura é extremamente rigorosa com alguns, enquanto contempla milhões à medalhões, alguns com obras culturais questionáveis, enquanto trabalhos de excelente qualidade sobrevivem a custa única e exclusiva do autor. È uma realidade nacional. Com isso forçosamente exportamos talentos, cérebros, valores, pois se aqui permanecessem estariam em sérias dificuldades para sobreviverem. Muitos afirmam que o que falta ao nosso país é vontade política para que se torne uma grande nação de fato. Barbara Brieger é piracicabana, nascida em 10 de maio, filha de Anneliese Brieger e Friedrich Gustav Brieger. Brieger aceitou um convite para vir ao Brasil e iniciar uma cátedra de Citologia e Genética na "Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz" em Piracicaba. Friedrich Gustav Brieger pode ser considerado o pai da genética no Brasil, que de uma matéria totamente desconhecida iniciou seus experimentos em vegetais Atualmente procedimentos na área médica que tem salvado milhares de vidas são decorrentes desses primeiros passos. Tudo começou na Esalq Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz. Friedrich Gustav Brieger merece um estudo aprofundado sobre o seu trabalho. O que foi escrito é diminuto face a grandeza da sua obra.
Onde seus pais se conheceram ?
Foi na Alemanha, meu pai é de Breslau e minha mãe de Berlim. Meu pai já era cientista, minha mãe era secretária chefe do instituto hoje denominado Max Planck, ela era secretária de um departamento de cientístas. Ele foi visitar o chefe desse departamento e conheceu a minha mãe, ele deveria ter uns 25 anos e ela 24.
Foi amor a primeira vista?
Eles contanvam uma história que parece ter sido, após uns dois anos se casaram e passaram a morar em Berlim, isso foi em 1929. Meu pai nasceu em 11 de outubro de 1900 e minha mãe nasceu em 13 de agosto de 1901.
Como foi a convivência deles com a Primeira Guerra Mundial?
Foi dificil, meu pai não combateu na guerra.
Nessa época a Europa vivia um clima de incertezas?
Sim, havia esse clima, e isso contribuiu para que ele tomase a decisão de vir para o Brasil. Nessa época meus pais tinham um filho. Vieram de navio, aportaram em Santos. Em agosto de 1936 eles chegaram em Piracicaba, um domingo, de muito calor, as ruas totalmente desertas. Hospedaram-se no Hotel Central, mais tarde demolido dando lugar para uma garagem vertical automática.
Em Berlim eles permaneceram até que ano?
Em 1933 meu pai recebeu um convite para ir para a Inglaterra, aceitou o convite para trabalhar no "Instituto John Innes de Horticultura de Londres Ela já era genetecista, permaneceram em Londres até 1936. Nessa época ele recebeu um convite para vir trabalhar em Piracicaba, o Dr. Mello Moraes o convidou, ele queria fundar na agronomia o departamento de genética. Ele percorreu o mundo todo a busca de pessoas capazes, jovens e com vontade de vir para o Brasil. iniciar uma cátedra de Citologia e Genética na "Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz" em Piracicaba.Meu pai aceitou um convite para ir ao Brasil e iniciar uma cátedra de Citologia e Genética na "Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz" em Piracicaba. Ele não só foi precursor do estudo de Genética em Piracicaba, criando o Instituto em 1958, mas também consolidou e aperfeiçou a "crítica" sobre agricultura tropical. Sua obra nos campos da Genética vegetal, Citologia e Ecologia, permitiu que as pesquisas mudassem radicalmente a qualidade, quantidade e hábitos de consumo dos brasileiros. Quando o Brasil sofreu dificuldades, devido à 2ª guerra mundial, em importar sementes, ele desenvolveu excelentes cultivos de couve-flor, alface, tomate e espinafre as sementes européias não suportavam bem o verão tropical do Brasil, mas variedades desenvolvidas por ele sim. Assim como o desenvolvimento de variedades de milho de maior qualidade nutritiva. transformou muitas áreas, antes improdutivas, em locais apropriados para produção de grãos. Foi especialista na classificação e melhoramento de orquídeas, criando e exportando numerosos híbridos. Autor de inumeráveis publições. Desde 1971 consolidou a Faculdade de Genética da Universidade de Campinas.
Como se deu a comunicação com os piracicabanos?
Antes de virem eles fizram um curso de português. Sabiam falar o básico. Logo em seguida mudaram-se para a Rua Governador Pedro de Toledo, em uma casa existente até hoje, funciona como clínica médica. Poucos anos depois eu nasci, meus pais já estavam aclimatados em Piracicaba. Meu pai fazia experências com milho e um aspecto técnico muito importante é que no Brasil pode-se plantar mais vezes durante o anos. Na Alemanha dava para se plantar uma vez, colhia-se e depois vinha neve. Em casa participávamos do seu trabalho, sem contudo entrar em detalhes científicos.
A senhora nasceu em Piracicaba?
Poucos anos depois eu nasci em Piracicaba, passei a estudar no Colégio Piracicabano, desde o jardim de infância até o colegial. Aos oito anos comecei a ter aulas de piano com Dona Maria Dirce de Almeida Camargo. Gostei muito do piano, aos onze anos passei a ter aulas com o professor e pianista Fritz Jank em São Paulo, ele morava no Bairro Pacaembu. Ia acompanhada de um adulto, geralmente minha mãe, pelo trem da Companhia Paulista. Eram quatro horas de ida e mais quatro horas de volta, isso a cada duas semanas. O professor me ajudou muito, lecionava geralmente no sábado, com isso eu não faltava na escola e tinha mais tempo disponível. Em Piracicaba todos os meses tinhamos concertos com artistas internacionais, era muito bom, esses concerto eram realizados no Clube Coronel Barbosa. Piracicaba tinha uma cultura musical classica muito expressiva.
Esses concertos eram elitistas?
No ínicio eram realizados no Teatro Santo Estevão, depois foi para o Clube Coronel Barbosa, eram frequentados por sócios da Cultura Artística, o auditório ficava repleto, pessoas das mais diversas classes sociais.
A senhora tinha a perspectiva de fazer um curso superior?
Nunca pensei no que queria fazer. Fui tocando, estudando e tendo aula. Enquanto estava fazendo o científico comecei o conservatório em São Paulo, no Conservatorio Musical Carlos Gomes, cujo diretor era Armando Bellardi. Meu pai sempre dizia às visitas que iam em casa: “- A Barbara vai estudar agronomia”. Fazendo lobby. Eu dizia, “-Não, não.” Fiquei sempre na música, sem pensar se ia fazer carreira, se iria viver de música. Sempre continuei. Depois que acabei o conservatório, após 11 anos de estudo sendo que dois anos foram de virtuosidade, onde temos que tocar peças mais difíceis.
Com a conclusão no curso colegial qual foi o próximo passo que a senhora realizou?
Essa época ja existia a Escola do Maestro Ernst Mahle, eu passei a dar aulas no conservatório, quando fundou a Escola de Musica fui aluna, na época chamava-se Seminário Livre de Música. Eu tinha quinze anos quando abriu a escola, comecei a lecionar piano aos 17 ou 18 anos. Era também aluna. Permaneci por um ano, quando terminei o conservatório. Em seguida fui para Munique na Alemanha com bolsa de estudo. Lá fiquei um ano hospedada em uma casa de estudante, sentindo muito o frio do lugar. Estudava das 8 da manhã até as 10 horas da noite, assistia todas as óperas que podia, eu sabia que era um ano em que tinha que assimilar tudo que me ofereciam. Eu sou interprete, pego a partitura e procuro interpretar. Após um ano em Munique voltei para Piracicaba, onde passei mais um ano dando aulas voltei para o Rio de Janeiro. Fui aluna de Hans-Joachim Koellreutter, compositor, professor e musicólogo alemão. Mudou-se para o Brasil em 1937 e tornou-se um dos nomes mais influentes na vida musical no País, fundou escolas em São Paulo, em Piracicaba, no Rio de Janeiro e na Bahia, em Salvador. Fiquei na Pró Arte no Rio de Janeiro, como aluna e como professora, acompanhava as classes de campo, de violino. Permaneci no Rio de Janeiro por quatro anos, morando no Bairro Copacabana.
Qual era a opinião dos seus pais a respeito da carreira que a senhora escolheu?
Meus pais sempre me incentivaram. Estudando e levando as coisas de uma forma muito séria sempre tivemos o apoio deles.
Após quatro anos em Copacabana, qual foi o passo seguinte?
Sempre temos cursos de férias em Teresópolis, organizado pela escola Pró Arte, eles convidavam professores internacionais da Alemanha, Estados Unidos, e veio um professor da Alemanha para fazer um curso de Orrff, é um curso que aumenta e desafia a musicalidade pessoal, bem como as questões pedagógicas. Após quatro anos no Rio ganhei outra bolsa de estudo no Intercâmbio Acadêmico (DAAD), uma organização financiada com dinheiro público independentes das instituições de ensino superior na Alemanha. Esse professor só falava alemão, eu com descendência alemã tive facilidade em me comunicar com ele.
A senhora fala quantos idiomas?
Falo vários: português, alemão, italiano, espanhol, francês. Fiz as traduções dos cursos para ele, assim fiquei conhecendo-o melhor, ele me disse que eu sendo pianista deveria ir para a escola onde ele era professor. Pedi bolsa e fui para a Alemanha, em uma cidade denominada Trossingen, é uma cidade bem pequena, mas tem uma universidade de música aonde hoje vai gente de todo mundo para estudar. O bom é que é uma cidade pequena e não tem muito para se distrair, estuda e não tem nenhuma outra distração. Estudei lá dois anos, pretendia voltar para o Rio de Janeiro. Na faculdade conheci meu marido, Peter Ungelenk isso foi em 1966, musico, contrabaixista, maestro de coral, maestro de orquestra. Na Alemanha existe escalas de musicas que chamam de escalas de músicas juvenis. São jovens de 3 anos que podem seguir estudando até 25 anos. È permitido tocar qualquer instrumento que o aluno queira, e é paralela a escola, não dá um diploma, o aluno vai por ter vontade de tocar um instrumento. Não é um curso profissionalizante. Depois você pode se preparar, continuar estudando. Meu marido foi diretor de uma dessas escolas. Quando conheci meu marido eu pensava em voltar para o Rio. Ele não conhecia o Brasil, mas queria vir. Viemos, fomos á escola, eu disse aos diretores que estava voltando e que tinha mais um professor, que tocava contrabaixo, piano, maestro. Eles disseram que estava difícil, porque sempre música foi um campo difícil no Brasil. Ele já tinha uma posição definitiva nessa escola onde ele depois foi diretor. Eu não tive mais argumento, tive que voltar para a Alemanha onde permaneço lá até hoje.
Chegaram a ter filhos?
Tivemos três filhos.
A senhora deu concertos em vários países?
Dei concerto pela Europa toda. Meu marido sabia improvisar, eu só sabia tocar musica clássica
Se na Alemanha houvesse o clima que existe no Brasil a musica teria o mesmo grau de qualidade?
Uma boa pergunta! Há certa razão de ser, no Brasil há muito musico que compõem aqui, o Mahle que reside aqui é um compositor extraordinário. Há muitos bons compositores no Brasil. Villa Lobos por exemplo. Na Europa o que temos é a tradição, essa é a parte mais importante, lá já tinha música a partir de 800. No Brasil o que tínhamos em 800? Essa tradição evoluiu, veio o canto gregoriano, a parte renascentista, o barroco, o Bach.Mozart. É toda uma tradição que foi criando esse canto.
O que significa a música para o ser humano?
Música é a vida, é a alma. Mesmo pessoas analfabetas fazem música. Não tocam Mozart, mas fazem a música deles. O pessoal do choro, o pessoal da música popular. É a vida, é a inspiração, é a manifestação de Deus.
A música é elaborada de acordo com a capacidade intelectual de quem a executa?
Pode ser que sim e pode ser que não. As músicas mais elaboradas são compostas por pessoas que possuem uma capacidade intelectual maior
Trazem um grau de satisfação maior?
Eu não diria. A pessoa que faz música popular, que não é doutor em música, sente a mesma paixão, quem sabe até mais, por fazer com mais alma.
A música é a celebração da alegria de viver?
Com certeza.
Quem patrocina suas atividades artísticas?
Na faculdade onde leciono sou catedrática como professora de piano. O estado paga uma parte e a cidade paga outra parte.
A senhora é privilegiava, conhece a música do Brasil e da Alemanha, qual paralelo traçaria entre elas?
Acho que o conceito de música na Alemanha é mais profundo. Não só por parte do povo alemão, mas do povo europeu, a Alemanha tem uma tradição incrível em música.
A senhora é mães de três filhos, como se virava com marido, três filhos, e tendo que estudar e dar aulas?
Quando as crianças começaram a ir ao jardim de infância eu as levava à escola, ia correndo até a faculdade, dava aula, voltava para casa, cozinhava, fazia bife, que era mais rápido, batata, alemão gosta de batata, uma salada, e pronto. Ficava em casa, cuidava dos filhos, das roupas. Não tinha diarista. Punha as crianças na cama, lavava roupa, Nessa época contava com máquinas, até de lavar pratos. Sentia falta do cafezinho brasileiro, por isso tomo aqui bastante. Acontece que a água de lá é diferente, fazíamos o Café Morro Grande lá, não era tão bom por causa da água. Estudava das dez horas da noite até as duas da madrugada.
Como a senhora vê o carnaval no Brasil?
Sempre pulei muito carnaval aqui. Não perdia uma brincadeira dançante no clube, levava lance perfume, que na época era permitido. Usava fantasias. Vivi também a empolgação do carnaval no Rio de Janeiro. O que tenho visto é que nos últimos anos o carnaval virou um empreendimento comercial, perdeu a pureza e espontaneidade. As fantasias estão mais exóticas. Perdeu a naturalidade.
No seu tempo de jovem era comum os passeios no jardim da Praça José Bonifacio, a senhora participava?
Eu fazia footing (passeios), na famosa “Calçadinha de Ouro” situada na Praça José Bonifácio, ia com a Regis e Ednéia, ia ao cinema, passava na Bomboniere do Passarela, comprava balas.
A senhora crê em Deus?
Deus existe, está sempre nos dando uma força. A música é uma forma de nos comunicarmos com Ele. Acho que Santo Antonio é o meu padroeiro.
Seus filhos já se casaram?
Sim, inclusive tenho netos.
A senhora interpreta musicas populares?
Muito pouco, na minha época tínhamos que nos dedicarmos exclusivamente aos clássicos. Sei tocar bossa nova, sambinha.
A senhora sabe sambar?
Sei, inclusive toco pandeiro.
A senhora promove intercambio entre alunos alemães e brasileiros, têm algo em andamento?
O próximo grupo de alunos alemães já está esperando para vir ao Brasil.
Como o jovem alemão vê o Brasil?
Como um país maravilhoso, todo mundo quer vir,

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