sábado, março 23, 2013

GILMAR ROTTA

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
Sábado 23 de março de 2013
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/


ENTREVISTADO: GILMAR ROTTA

Gilmar Rotta nasceu em Piracicaba a 29 de julho de 1966, filho de José Antonio Rotta, mecânico de automóveis, e Diva Vazatti Rotta, costureira, que tiveram ainda os filhos Jaqueline Aparecida Rotta e Carlos Alberto Rotta (já falecido). Gilmar Rotta é casado com Andréia com quem tem o filho Felipe. A cerimônia foi realizada pelo Monsenhor Jorge a quatro de setembro de 1999.


Seus pais sempre residiram em Piracicaba?


Eles moravam na cidade de São Pedro. Meu pai começou a sua carreira de mecânico trabalhando no Aeroclube de São Pedro. ( Dutra em 30 de abril de 1946 mandou fechar todos os cassinos, inclusive do Grande Hotel de Águas de São Pedro). Havia um fluxo razoável de aviões que pousavam em São Pedro. Já em tempos mais recentes o cantor Roberto Carlos descia de avião em São Pedro e dirigia-se à Águas de São Pedro.


Em que bairro de Piracicaba o senhor nasceu?


Nasci na Vila Independência, meus pais tinham uma casinha próxima ao atual Teatro Municipal, na Avenida Independência, essa casa existe até hoje. Algum tempo após meu nascimento meus pais mudaram-se para o final da Rua Dr. Otávio Teixeira Mendes, acima do Colégio Salesiano Dom Bosco. Estudei na Escola Estadual de Primeiro Grau Prof. Augusto Saes situada na Rua D. Pedro I. Lembro-me do professor Mezzacapa que deu aula de educação física, Dona Zoride Carboni que deu aula de ciências. Dona Maria Dinei, professora de história. No Augusto Saes estudei até a oitava série. O primeiro colegial estudei no Sud Mennucci, cuja diretora era Dona Flordelis. O segundo e terceiro colegial estudei no Colégio Piracicabano, onde fiz o curso de Tecnólogo em Processamento de Dados, tínhamos matérias complementares como matemática, contabilidade, biologia, química. Prestei vestibular na Unimep e fui aprovado em Ciências Matemática. Embora não exerça a função já faz tempo, sou professor de matemática, lecionei no Sud Mennucci á noite. Era um ambiente de alunos com todas as atividades profissionais, trabalhavam durante o dia e estudavam a noite. Recém formado, com uma bagagem enorme, uma grade curricular a seguir para lecionar, cobrança da direção da escola, da Secretaria Estadual da Educação, encontrava muitos alunos exaustos do trabalho exercido durante o dia, mas que sabiam que tinham que estudar para progredir em suas vidas. Matemática é uma ciência que exige a atenção do aluno em classe. Fiz um processo de conversar com cada aluno, entender seus objetivos, e assim adaptando as minhas aulas para serem mais prazerosas para os alunos. Que houvesse o envolvimento deles nas aulas.


Antes de ser professor o senhor chegou a trabalhar em outra atividade?


Meu primeiro emprego foi com o meu pai, em sua oficina mecânica. Meu trabalho era lavar peças. Na época ele era sócio do Libório, que trabalha com cabeçotes de motores, a oficina deles era na Chácara Nazareth, logo acima do SESC.Ali eles faziam a retífica de motores de caminhonete, o chamado “Misto Quente”. A parte de cima era de um tipo de motor, a parte de baixo era do motor a diesel. Eles juntavam partes dos dois motores e faziam funcionar a diesel, o chamado “Misto Quente”. Dava uma compressão maior e funcionava com óleo diesel. Minha função com uns treze anos era quando tiravam esse motor de uma caminhonete, por fora ele estava com uma mistura de óleo, barro, terra. Era tirado com o guincho, levado para a caixa de lavagem, eu com um par tênis da marca conga nos pés, calça jeans, um pincel na mão, lavava o motor com óleo diesel, usava uma lamina de serra para raspar os locais mais resistentes. Deixava limpinho. Depois meu pai desmontava para iniciar o conserto. Trabalhei ali até meus dezesseis anos.


O senhor foi trabalhar onde depois da oficina?


De quem olha de frente para a Catedral de Santo Antonio, do lado direito ao lado do atual Bistecão, havia um barzinho de um árabe que fazia quitutes típicos. Passei a trabalhar como balconista. Servia um pingado, um quibe. Quando sai dali fui trabalhar na Rações Ceres, que nessa época já estava na Avenida Carlos Martins Sodero, 77. A fábrica já estava instalada na Unileste. O proprietário era o Paco Munhoz, seu filho Angi Munhoz e a Dona Sílvia.


Qual era a sua atividade na Rações Ceres?


Eu trabalhava na parte administrativa voltada mais para a parte financeira como contas a pagar e a receber. Era a época dos borderôs. (Documento onde são relacionados os cheques pré-datados e/ou duplicatas negociados). Permaneci ali até 1986, quando o marido da ex-vereadora Adeli Bacchi, que era engenheiro de nutrição da Rações Ceres disse que Adeli Bacchi precisava de um ajudante, naquela época não existiam assessores na Câmara Municipal. Ela era presidente do Centro de Defesa do Consumidor- CEDECON. Não existia o Procon. Sai da Rações Ceres e vim para a Câmara de Vereadores. A minha função no CEDECON era atender as reclamações. Chegavam inúmeras reclamações, umas das que se destacavam era com relação ao peso do filãozinho. Eram vendidos individualmente, tinham que pesar 25 ou 50 gramas. A Adeli Bacchi sempre foi rígida nessa questão, ela comunicava-se com o IPEM Instituto de Pesos e Medidas de Campinas que vinha fazer as vistorias em Piracicaba, acompanhados pela vereadora. Isso foi em 1986, quando entrei na Câmara, através de cargo nomeado. O presidente na época era Braz Rosilho, já falecido. A vereadora Adeli Bacchi não foi reeleita, fui então convidado pelo vereador Irineu Ulisses Bonazzi que se reelegeu e tornou-se presidente da Câmara. Ele me levou para o gabinete da presidência. Na época eram 21 vereadores, passei a assessorar todos os vereadores. Não havia assessores, era apenas eu. Eu tinha uma máquina de escrever Remington, usava papel sulfite com papel carbono. Um fato peculiar, o ex-vereador Tenente Elias, o Sub-Elias, era o primeiro a chegar à Câmara, trazia escrito em um papel o que desejava, uma indicação, tapar um buraco, só que o papel era aquele em que se embrulhava o pão chamado de “bengala”, que precedeu o filãozinho. Era o famoso papel de pão.


O senhor era o homem que mais entendia de leis relativas a Câmara?


Tudo passava pela presidência do Bonazzi e vinha até as minhas mãos. Chegou um momento em que o Bonazzi percebeu que eu não tinha mais condições de assessorar tudo sozinho, foi então que ele trouxe mais duas pessoas. A Câmara tinha um diretor geral, o Dr. Rolim, professor de Direito Romano na UNIMEP. A diretora da Câmara na época era Dona Maria Inês. Eduardo Rufino, já falecido, era o diretor do departamento legislativo da Câmara. Meu cargo era de Auxiliar Técnico Legislativo. Naquela época ajudei vereador do PT Isaac Jorge Roston Junior, Laerte Zitelli, Rogério Vidal, Helly Melges, José Inácio Mugão Sleiman, José Coral, tínhamos uma Câmara forte em discutir as leis, os vereadores brigavam em cima da lei. Naquela época somando todos os funcionários não chegava a cinqüenta. Eram 21 vereadores. Depois caiu para 19, 16 e voltou para 23 vereadores.


Como se deu a informatização da Câmara Municipal?


Irineu Ulisses Bonazzi sempre gostou muito de ler os jornais “O Estado de São Paulo”, a “Folha de São Paulo”, ele via os encartes de informática que na época estava despontando. Ele me disse: “Tem-se que informatizar esta Câmara”. Fiz uma pesquisa, até conseguir a informação de que a Câmara Municipal de São Sebastião, Litoral Norte do Estado de São Paulo, estava iniciando o processo de informatização. A Maria Inês, a Ângela e eu fomos até São Sebastião conhecer o sistema. Gostamos. Dissemos a nossa impressão ao Bonazzi.


Qual foi o primeiro equipamento utilizado na implantação do sistema em Piracicaba?


A marca eu não me recordo, mas foi um AT-286, era o único que tínhamos, ligados a ele havia cinco computadores chamados de “terminais burros composto por teclado e monitor”, usava o World. Impressora matricial. Quando instalamos, a empresa estava fazendo a demonstração, eu estava presente, o Bonazzi, que chamou o então vereador Barjas Negri para ver o sistema funcionando. Acabamos adquirindo o sistema que se chamava PICK. Foi nessa época em que o Luiz (Luizão) criou um sistema de filmagem das sessões facilitando muito o trabalho dos secretários. A primeira Lei Orgânica da Câmara de Piracicaba foi feita nesse sistema. Gravado em disquete, separado por temas: Saúde, Educação, Meio Ambiente. Após o Bonazzi deixar a presidência, o Vanderlei Dionísio se elegeu vereador, assessorei Eduardo Pereira também. A Câmara passou a evoluir, hoje está uma maravilha o sistema de informática. No início fazíamos os back-ups em disquetes 5 e ¼, de polegadas, eram 8 a 10 disquetes por dia, no final do mês havia uma pilha enorme de disquetes. Hoje dominam novas tecnologias, como por exemplo, Pen Drive. Vanderlei Dionisio fez uma reforma administrativa, abriram-se os cargos para vereadores, dois ou três assessores para cada vereador. Fui ser assessor do vereador Laerte Zitelli, após o seu mandato, ele não se reelegeu, eu trabalhei com o vereador Dr. João Pauli. Quando ele foi ser vice-prefeito de José Machado, de 2001 a 2004 fui diretor da Secretaria da Saúde junto ao Secretário Dr. João Pauli. Em 2005 Walter Ferreira da Silva, o “Pira”, me chamou para trabalhar com ele na Câmara. Ele cumpriu seu mandato, foi reeleito, após dois anos veio a falecer. O vereador Dirceu Alves da Silva assumiu a suplência. Muitas pessoas ligadas ao Pira, da minha família, questionaram o porque eu não saia candidato a vereador. Até então eu nem era filiado a nenhum partido. Optei por filiar-me ao PMDB.


O senhor inicia o seu expediente a que horas?


Na Câmara chego por volta das oito e meia. Não tenho horário para sair, permaneço pelo tempo que for necessário. Faço visitas a bairros da cidade. Entidades filantrópicas e beneficentes. Percorro a cidade inteira. Zona rural.


Qual é o maior problema existente em Piracicaba?


Infelizmente é a saúde. A solução é procurar dar o melhor atendimento ao paciente. O paciente deve fazer sua entrada através do posto de saúde. A entrada para o tratamento é através do posto de saúde. No posto de saúde irá passar por uma consulta com um clínico, irá ver se a pressão está boa ou não, ele ira pedir exames de fezes, sangue, urina. Esse atendimento é preventivo. Se necessário será encaminhado a um especialista: cardiologista, oncologista. O que ocorre é que a população não procura um posto de saúde para fazer exames preventivos. Ela procura de imediato o pronto-socorro. Porque ela procura o pronto socorro sem passar pelo posto de saúde? Por haver alguma falha no meio desse processo. Ela procura o pronto socorro por estar com dor e por encontrar médico disponível 24 horas. Pronto socorro é para casos de urgência e emergência. Para cólica renal grave, apêndicite, esfaqueado, baleado., com convulsão, AVC. Essa é a função de atendimento do pronto socorro. Um paciente com enxaqueca, dor na perna, vai ao pronto socorro para passar pelo médico, ele é atendido, toma a medicação, vai para casa. Só que ele não vai ao posto, deixa de pedir uma consulta com o clínico para averiguar o porquê teve essa dor que o levou ao pronto socorro.


Se a pessoa acha que deve ir ao médico para onde ela de se dirigir?


Ela deve procurar o posto de saúde para marcar uma consulta com o clínico. Todos os bairros da cidade tem posto de saúde, Piracicaba tem em torno de 55 postos de saúde. E PSF que é Programa de Saúde da Família está chegando em torno de 60.


Quem estará disponível em um Posto de Saúde?


Irá encontrar a atendente, uma enfermeira, uma técnica de enfermagem, um clínico, uma pediatra, um ginecologista, um dentista. Isso no Posto de Saúde. Não estarão todos ao mesmo tempo lá, disponíveis, há a data de agendamento. A pediatra atende de segunda e quarta feira. O clinico atende terça, quinta e sexta feira. O dentista atende as sexta feiras.


No caso de uma dor de dente, um canal, por exemplo?


Existe o pronto atendimento odontológico de Piracicaba, que fica na Rua Tiradentes. É o Centro de Especialidades Odontológicas.


Para usufruir desses recursos o que é necessário?


Ter a carteira do posto de saúde, basta ir a um posto de saúde com o CIC, RG e comprovante de residência que irá tirar a carteira.


Vereador se aposenta com quantos anos de mandato?


Não se aposenta! Existiu uma época, há muito tempo, em que vereador se aposentava com três mandatos. Essa lenda corre até hoje, são fomentos negativos. Não recebe décimo terceiro e nem décimo quarto salário. Não recebe auxilio combustível,


Quantos veículos estão disponíveis para os vereadores?


A Câmara dispõe de seis veículos, sendo que um veículo é para trabalhar para a parte administrativa da Câmara, os outros cinco veículos são distribuídos para os 23 vereadores divididos por escala. Eu uso o carro amanhã, só daqui a 20 dias irei utilizá-lo novamente. Nesse meio tempo uso meu carro pessoal sem reembolso algum. Muitas informações chegam de forma errônea, a presidência da Casa, João Manoel, e os demais vereadores sempre deixam isso claro, usando a tribuna ou em entrevistas junto a mídia. Infelizmente existe a oposição que gosta de fomentar ao contrário. A Câmara não tem um carro para cada vereador. Não paga taxi, ônibus para nenhum vereador.


Vereador tem férias?


Não tem férias, ele tem recesso administrativo, em julho e no final do ano. É um período onde não acontecem as reuniões camararias, isso no país todo, o vereador nesse período continua vindo à Câmara, dá expediente normal. Só não há sessão.


Quantos dias por semana o senhor trabalha?


Trabalho de segunda a segunda. Se eu não estiver na Câmara estou em visita a bairros. Sábado, domingo, sou procurado em minha casa. São pessoas com necessidades urgentes de serem resolvidas. Domingo passado às oito e meia da manhã fui procurado por uma pessoa que estava com sua filha pequena muito doente e ela não sabia o que fazer.


Isso é um pouco de assistencialismo?


Não sei se seria o termo certo. O papel do vereador pela constituição, pelo ordenamento jurídico é fiscalizar o executivo e fazer a legislação. Só que há uma carência da população. Alguém não está fazendo o seu papel direito. À esse cidadão falta informação, falta procurar o caminho certo. A população em seu desespero em resolver um problema procura o vereador porque imagina que ali terá ajuda para resolver o seu problema. Nós, vereadores, somos quem estamos mais próximos do executivo. A população não tem o acesso ao prefeito, ao secretário municipal, da mesma forma que aos vereadores. A porta da Câmara está aberta, há um controle de entrada por questões de segurança. Eu acho que assistencialismo é pagar uma conta de luz, um botijão de gás. Isso, nem eu e nenhum vereador faz. A Câmara ajuda nos encaminhamentos em questões de saúde. Falta de vaga em creche, vamos ver o que está ocorrendo. Procuramos orientar a pessoa para o caminho mais correto. Um exemplo prático, uma senhora de um bairro distante, precisa resolver algum problema na Secretaria de Finanças da Prefeitura. No prédio cívico de onze andares, quatro andares são de setores da Secretaria de Finanças. A dúvida dela é em qual deles irá? Quem será a pessoa que poderá procurar para expor seu problema. A Câmara de Vereadores sabe onde está a solução para cada problema.


Porque nomes de ruas ou logradouros públicos que já têm seus nomes popularmente conhecidos recebem nomes de pessoas que muitas vezes são desconhecidas por grande parte da população. Para citar um exemplo fora de Piracicaba, a Ponte Cidade Jardim recebeu um nome ilustre, mas a população continua chamando de Ponte Cidade Jardim O mesmo quase ocorreu com o Viaduto Nove de Julho em São Paulo.


Não é permitido mudar nome de rua, a legislação proíbe que se mude a denominação de via pública.


Moção de aplauso é importante para o cidadão e para a Câmara?


Ela é importante pelo fato acontecido. Se contribuir para o engrandecimento da população.


Quantos títulos de cidadão piracicabano um vereador pode conceder por ano?


São quatro títulos de Cidadão Piracicabano, dois títulos de Cidadão Piracicabanus Praeclarus, duas medalhas de Mérito Legislativo e dois Lideres Comunitário por mandato.


Qualquer cidadão pode usar a tribuna em uma sessão da Câmara?


Para usar a tribuna ele tem que se inscrever com antecedência, onde ele cita o dia e o tema em que irá falar, junto a esse pedido deve coletar trinta assinaturas. Ele irá representar alguém.








EDIRLEY RODRIGUES

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 16 de março de 2013
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/


ENTREVISTADO: EDIRLEY RODRIGUES

Edirley Tereziano Duarte Rodrigues é conhecido nos meios de comunicação de Piracicaba e região como Edirley Rodrigues. Nascido a 28 de maio de 1950 em Piracicaba na Rua XV de Novembro a um quarteirão e meio da Rua do Porto. Do lado direito no sentido do centro para a Rua do Porto. Filho primogênito de Teresiano (com “s”) Rodrigues Pereira e Margarida Maria Duarte Pereira que ainda tiveram os filhos Fátima, que por muitos anos trabalhou em “O Diário” e era carinhosamente chamada por “Fátinha”, Flávio e Hilda. O pai de Edirley era motorista, trabalhou com ônibus, foi funcionário do Frigorífico Piracicaba, ele se aposentou como motorista da linha de ônibus circular de Piracicaba. Edirley é casado com Rosa Maria Municelli Rodrigues, Depois que se casou foi morar na Vila Resende. Quando menor, estudava e foi gráfico. Naquela época existiam em Piracicaba muitas tipografias famosas e o profissional era muito requisitado e valorizado. Já adulto conciliou no início da sua vida como jornalista (Diário de Piracicaba) e o trabalho como bancário. Nos anos 70, foi levado pelo amigo, jornalista e quinzista Delphin Ferreira da Rocha Netto, para a A Gazeta Esportiva e Rádio Pan Americana (Jovem Pan). Fez teste como redator e produtor, foi aprovado. Na Gazeta foi correspondente credenciado durante quatro anos. Não quis naquela época residir em São Paulo por razões familiares. Sua dedicação era pelo Diário de Piracicaba e Difusora. Duarte Filho lhe abriu as portas da vida profissional (rádio e jornal) e Sebastião Ferraz (diretor do Diário de Piracicaba) aconselhado por Duarte Filho e lhe deu o primeiro emprego como jornalista.


Você se lembra de ainda menino ter acompanhando seu pai no trabalho com o ônibus ou com o caminhão frigorífico?


Nunca. Naquela época os procedimentos eram mais rígidos, o meu pai era extremamente profissional. Ele entregava carne nos açougues de Piracicaba e região, nunca ele me convidou para acompanhá-lo nas entregas. Era comum o filho querer estar com o pai na cabine do caminhão. Ele sempre me ensinou a separar a vida profissional da vida pessoal. Minha mãe sempre foi do lar, está viva até hoje, com 88 anos, em suas plenas faculdades. Ela lembra-se de todas as datas, quando surge alguma dúvida sobre aniversário de alguém, seja quem for, da família, vizinhos.


O curso primário você realizou onde?


Estudei ao lado de onde nasci no Grupo Escolar "Francisca de Castro". (O Decreto 36.183,de 27 de janeiro de 1960 dá o nome de "Francisca Elisa da Silva" ao Grupo Escolar "Francisca de Castro"). Minha primeira professora foi Da. Maria Rodrigues Alves, meu primeiro diretor foi o Professor Joaquim Mello de Lara, ele morava na Rua Ipiranga. Tive as ainda as professoras Da. Alice, Da. Zaira Jordão e no quarto ano a professora Da. Elza Romano, falecida recentemente, ela morava na Rua São José esquina com a Avenida Armando Salles de Oliveira. Eu tinha o habito de todo dia 15 de outubro, Dia do Professor, telefonar-lhe ou visitá-la. Ela frequentava a Catedral de Santo Antonio.


Em que escola você prosseguiu seus estudos?


Estudei no curso preparatório para exame de admissão situado no Largo Santa Cruz, ministrado pela Dona Falzoni. Cursava de manhã o quarto ano no Grupo Escolar Barão do Rio Branco com o professor Izar. A tarde estudava no curso preparatório. Enquanto morei com meus pais sempre residi na região da Rua do Porto, a minha infância foi na Rua do Porto, embora não saiba nadar, nunca entrei nas águas do Rio Piracicaba, foi no Rio Piracicaba, no Clube de Regatas de Piracicaba, no Jardim da Cadeia, também chamado de Praça do Gavião, onde se situa a Pinacoteca Municipal Depois fui morar na Rua Moraes Barros. Já mais adulto morei com os meus pais na Rua Madre Cecília, próximo a Igreja dos Frades. Fui estudar no Colégio Estadual Monsenhor Jerônimo Gallo quando ele foi inaugurado. O prédio do Jerônimo Gallo não estava pronto, por uns seis meses nós ficamos nas instalações do Grupo Escola José Romão. O professor Helly de Campos Melges era o nosso diretor, um amigo, educador, pai, era tudo isso para o aluno. Criou a famosa fanfarra do Jerônimo Gallo, fez questão que todos nós desfilássemos usando traje banco. Tivemos as famosas fanfarras do: Jerônimo Gallo, Dom Bosco e a do Colégio Industrial que se tornou um modelo e tinha o comando do professor Danilo Sancinetti. Fiz o curso colegial na Escola Industrial "Coronel Fernando Febeliano da Costa”. Um dos professores com quem me identifiquei muito foi o professor Faganello, assim como o professor Lineu Cardoso. A professora Joana Falanghe, de matemática. O sonho de muitos garotos era sair de um curso primário e ingressar em uma escola como Jerônimo Gallo, Sud Menucci, Dom Bosco. Era difícil, o ensino era de primeiríssima qualidade. Lembro-me que morava na Rua Madre Cecília e fui a pé até o Jerônimo Gallo para ver se o meu nome estava na lista dos aprovados. Não havia a publicação dos aprovados em jornais, rádio, internet.Quando vi que o meu nome constava da lista dos aprovados fui em um cantinho e chorei muito.


Você participa de alguma religião?


Sou católico, apostólico, romano, praticante, com muito orgulho. Apesar de não freqüentar muito a Igreja dos Frades, eu gostava de ir lá, havia as festas, o futebol de salão. Freqüentávamos as quadras do Colégio Piracicabano que ficava na Rua do Rosário com entrada em frente a Rua Dom.Pedro II. Aonde mais convivi, fiz a minha primeira comunhão onde segui a minha educação religiosa, foi na catedral, tempo do monsenhor Francisco Michele. Em minha vida sempre gostei de participar de tudo, era curioso. Gostava muito de jogar bola e ver jogo de futebol. Eu gostava muito de cinema, ia durante a semana, sábado, domingo. Na época havia os cinemas: Palácio (Mais tarde Rívoli, ficava entre a Rua XV de Novembro e a Rua Rangel Pestana, onde hoje há uma igreja, Colonial, na Rua Benjamin Constant quase esquina com a Rua Prudente de Moraes, onde atualmente funciona uma igreja, Politeama que ficava na Praça José Bonifácio, onde hoje é parte do estacionamento do Bradesco, o Broadway, na Rua São José entre a Rua Alferes José Caetano e Praça José Bonifácio, o São José situado na Rua São José entre a Praça José Bonifácio e Rua Governador Pedro de Toledo, no bairro da Paulista, na Rua Benjamin Constant havia o Paulistinha, em cujo prédio funciona uma oficina de freios de automóveis. Assisti filmes inclusive no Plaza que ficava no Comurba (Edifício Luiz de Queiroz) que desabou, era um cinema luxuoso, glamoroso.Até hoje gosto de assistir filmes, só que com a facilidade de assistir filmes em casa acaba se acomodando. Acho importante ir ao cinema, quebra-se a rotina.


A sua vocação pela área de comunicação quando se manifestou?


Desde criança, aos oito ou deis anos meu sonho era ser jornalista e radialista. Não passava em meus anseios nenhuma outra profissão. Duas tias, a Josefa, conhecida como Zezé, já falecida e a Benedita que está viva, ambas quando me encontravam diziam que eu iria ser radialista. Eu brincava de narrar futebol, achava bonita a magia do rádio. Eu admirava como aquela voz que saía do rádio na época usava válvulas para funcionar. Eu achava um encanto aquilo ali. Ser radialista era um sonho que eu tinha. O jornalismo era uma vocação que eu tinha. Aos 10 para 12 anos passei a entregar “O Diário de Piracicaba”, cujo diretor era Sebastião Ferraz. O chefe da seção de entrega era o Seu Antonio. Quem me trouxe ao “O Diário” foi um primo, o Moisés Aparecido Romano. Eu chegava às 4 horas da madrugada para iniciar a entrega do jornal, meu objetivo era estar junto ao jornal, começar, entregar jornal para mim era um detalhe. Eu estava junto com o pessoal que fazia o jornal, encontrava um pretexto para estar ali. Eu trabalhava no Diário, era um “faz de tudo”, tinha um determinado salário, aos 19 a 20 anos eu já estava dentro da redação. Um dia eu estava sozinho na redação do Diário, era o horário de transmissão do programa “A Voz do Brasil”, dás 19 ás 20 horas. Os que iam jantar já tinham ido embora, quem viria a noite iria chegar as 19:30 a 20 horas. Eu ficava sozinho, para receber anúncios, notícias, atender telefones. Um dia Pedro Natividade, que fazia seleção de funcionários para o Lélio Ferrari, entregou um anúncio, o Supermercados Brasil precisava de um gerente. Começamos a conversar, o Pedro disse-me que eu parecia ser um menino inteligente, vivo, se não queria me candidatar ao cargo. Quando ele me falou o salário no dia seguinte fui até o Supermercados Brasil, onde permaneci por uns bons anos. Comecei no Supermercados Brasil da Rua Governador, situado entre a Rua XV de Novembro e Rua Moraes Barros, fui gerente ali. Depois inauguramos a loja no bairro São Dimas, cheguei a ser gerente geral. Em minha passagem pela Rede de Supermercados Brasil, como gerente eu cresci pessoalmente e profissionalmente graças ao relacionamento com o público e funcionários. Aprendi o valor da palavra paciência e a administrar crises e egos. Foi na Rede de Supermercados Brasil que conheci Luiz Antonio Bandeira na época gerente geral, pai do vereador André Bandeira. Lélio Ferrari faleceu, em uma quarta feira de manhã eu deixei de trabalhar no Supermercados Brasil, disse para a minha mãe que iria descansar um pouco e ver o que iria fazer. Fui para Santos, me hospedei no Hotel Avenida, aprendi a ficar ali por ser o lugar onde o XV de Novembro concentrava. Fui para ficar uma semana. A noite tinha um recado, Ary Pedroso da Rádio Difusora, conseguiu saber com a minha mãe onde eu estava. Telefonei-lhe, foi quando ele me disse: “- Retorne que você irá trabalhar conosco na Rádio Difusora”. Fiquei mais uns dois ou três dias em Santos. Voltei, foi quando nasceu a minha vida no rádio.


Você conviveu e convive com profissionais de peso na mídia de Piracicaba.


Sempre tive o privilégio de trabalhar com grandes nomes do rádio e jornal piracicabanos. Pessoas que eram consideradas referências em suas atividades. Minha referência no comércio foi Lélio Ferrari. No esporte foi Romeu Ítalo Rípoli, de quem guardo uma frase: “Valorize sempre o lado positivo da pessoa”. No jornalismo Sebastião Ferraz que me ensinou o profissionalismo de um jornalista, Cecílio Elias Neto com quem aprendi muito. Lembro-me que Sebastião Ferraz alertou-me da importância da dedicação incondicional ao jornalismo. A notícia não tem hora. Quem me levou para a redação de “O Diário” foi Nadir Blumer Pereira que me apresentou à Miguel Célio Hipólito cujo pseudônimo era Duarte Filho, era chefe do departamento de esportes de ”O Diário”, trabalhava como radialista na Rádio A Voz Agrícola e era funcionário da ESALQ. Naquela época todos nós tínhamos dois ou três empregos. À noite dedicávamos ao rádio ou ao jornal. Trabalhei no comércio, fui bancário, trabalhei no Banco Auxiliar, funcionava ao lado da catedral, onde hoje é um restaurante. Prestei um concurso e entrei no Banco da América que ficava na Rua Governador esquina com a Rua Moraes Barros. Pouco depois o Banco Itaú comprou o Banco da América, ficou banco Itaú-América. O Duarte Filho deixou a redação para se candidatar a vereador e me indicou para assumir sua função em O Diário. Sebastião Ferraz a principio me achava muito jovem para ocupar a função, mas acabou aceitando. Permaneci no Diário por muitos anos, fazia toda a parte de esporte, de todas as modalidades de esportes. Os jornais de Piracicaba sempre deram destaque para o XV de Piracicaba, o basquete naquela época era fortíssimo, o futebol amador era muito forte, muito bom, competitivo. Eu gostava de entrevistar todo mundo. Queria saber para que time o Comendador Mário Dedini torcia, entrevistei o Comendador Antonio Romano, Comendador Humberto D’ Abronzo. Eu queria conhecer as pessoas que se destacavam em suas atividades. Com isso conheci muitas pessoas.


O que você começou fazendo na Rádio Difusora?


Na Difusora aprendi muito com muitos (como na redação do Diário de Piracicaba. Devo minha entrada na emissora a: José Roberto Soave, Luiz Gonzaga Hercoton e Ary de Camargo Pedroso. Posso dizer que lá fui muito feliz.


Você chegou a ter programas na Rádio Difusora?


Tive entre eles o “Prefixo Jovem” das 23 horas até a 1 hora da manhã. Era a época da Jovem Guarda, tinha uma grande audiência, até hoje encontro com casais que nem conheço, eles param perto de mim e começam a cantar musicas que foram prefixos do programa dizendo: “Naquela época namorávamos e ouvíamos o seu programa”. Era um tempo em que não havia rádio FM. Quando escolhi esse horário o José Roberto Soave e o Luiz Hercotom me questionaram. Disse-lhes que nesse horário os estudantes estavam saindo das aulas, iria fazer rádio para a jovem guarda.


Como você conheceu Roberto Morais?


Vi Roberto Morais iniciar carreira de radialista e depois político. Um radialista apaixonado pelo que faz. Pensávamos exatamente iguais, por isso deu certo. Um político consciente da sua responsabilidade. A sua seriedade com o trabalho e a lealdade com o eleitor, mais carisma e humildade o levou a sucessivos mandatos. Hoje, um político admirado e respeitado. Eu e o Roberto Morais trabalhos juntos há mais de 30 anos. Construímos uma amizade baseada em lealdade na Difusora e por isso encaramos o desafio da Onda Livre AM deixando a Difusora em 2008 depois de três décadas. Meu grande desafio profissional foi aceitar ir para a Rádio Onda Livre AM. Lourenço Tayar convidou Roberto Morais que me levou junto.


Como explicar o prestígio e a audiência da Rádio Onda Livre AM ?


Uma meta foi traçada. Um objetivo foi definido. Meta: uma empresa sólida alicerçada pela credibilidade. Objetivo: audiência indiscutível baseada na qualidade. Lourenço Tayar é um mestre. Basta observar o que ele fez com a Onda Livre FM e a Gazeta de Piracicaba colocando-os na liderança. Um empresário com habilidade diferenciada. Sabe selecionar gente, montar equipes e as deixa agir com absoluta independência. Tínhamos a certeza de que não seria diferente com a rádio AM.


Mas, o sucesso foi rápido


Observamos prioridades. Havia necessidade de deixar claro o nosso compromisso com o ouvinte, oferecendo-lhe muita informação e prestação de serviço. Priorizamos esporte e jornalismo. Precisávamos recuperar a imagem do rádio AM, desgastado por causa da sua estagnação. Terceira prioridade: valorização do produto. Você encontra camisa por vários preços, só que uma é completamente diferente da outra. A diferença está na qualidade. Nosso compromisso com o cliente é exatamente a relação de confiabilidade. Ele precisa acreditar que seu dinheiro é bem aplicado. Temos a obrigação de lhe dar retorno.
















sexta-feira, março 08, 2013

BRAHMA KUMARIS - JOANA D'ARC FILETTO

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
Sábado 09 de maço de 2013
Entrevista: Publicada aos sábados na Tribuna Piracicabana
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ENTREVISTADA: BRAHMA KUMARIS - JOANA D'ARC FILETTO
A Organização Brahma Kumaris desde o seu princípio trabalha na restauração dos valores humanos individuais e coletivos. Atualmente conta com 7000 escolas em 130 países. A sede principal fica na Índia, a sede em Londres representa o Ocidente, há uma sede em Nova Iorque para as Américas. No Brasil desenvolve suas atividades desde 1979, sendo a sede nacional em São Paulo. Em Piracicaba a coordenadora de um grupo de professores é Joana D`Arc Filetto, natural de Franca, onde nasceu a 25 de outubro de 1960. Seus pais são Plácido Filetto e Antonia de Oliveira Filetto, professores, tiveram os filhos: Joana, Isabel Cristina, Sandra e Plácido Henrique. Joana estudou até a oitava série no Colégio Jesus Maria José em Franca. A seguir fez o Curso Técnico em Enfermagem. Em 1980 iniciou o curso de Psicologia na PUC em Campinas, formando-se em 1984. Nesse período morou em um pensionato.
A senhora iniciou suas atividades como psicóloga em que localidade?
Foi em Campinas mesmo, atuando sempre na área clínica e educacional. Tinha meu consultório e trabalhava em uma instituição infantil na vizinha cidade de Valinhos. Permaneci trabalhando em Campinas até 2005. Hoje trabalho em Piracicaba em uma instituição infantil que abriga crianças em situação de risco e tenho meu consultório.


Como a senhora conheceu a Brahma Kumaris?


Foi algo bastante interessante, no início do ano de 1990 eu estava nessa busca para o entendimento mais profundo de quem eu sou, pesquisando, lendo, entrei em contato com o nome Raja Yoga. Em agosto de 1991 iniciei o curso de Meditação Raja Yoga em Campinas onde existe uma escola como a que hoje temos em Piracicaba.


O que é a Brahma Kumaris?


É uma organização não-governamental cuja sede mundial fica na Índia, no Estado do Rajastão, em um vilarejo chamado Monte Abu. A Brahma Kumaris iniciou os trabalhos no aspecto de resgatar os valores humanos em 1936. Na Índia ela é conhecida como Universidade Espiritual Mundial Brahma Kumaris, seu fundador é Prajapita Brahma por isso o nome Brahma Kumaris, no início havia muitas mulheres que participavam das atividades eram conhecidas como Filhas de Brahma. A palavra Kumaris significa filhas. Desde 1937 a Brahma Kumaris desenvolve projetos, atividades, com o intuito de despertar essa consciência para os valores humanos que atualmente estão invertidos. A encontrar a paz, a felicidade, o amor. O curso que nós temos de meditação Raja Yoga visa essa consciência, o entendimento de quem eu sou como funciono, qual é a minha dinâmica interna, para resgatar esses aspectos positivos do ser. A meditação é a ferramenta que nós usamos para fortalecer esses aspectos, esses valores e qualidades do ser humano.


Qual era a formação do fundador Prajapita Brahma ?


Ele era um joalheiro. Na Índia quando as pessoas atingem a idade de 60 anos aposentam-se, vão viver em ashram, locais onde se dedicam à espiritualidade. Foi o que aconteceu com Prajapita Brahma, ele passou a visualizar um mundo melhor, uma visão de uma grande transformação que estaria acontecendo no mundo. Ele aprofundou-se querendo saber o que era isso. Faz parte da cultura indiana, ter alguém que representa essa espiritualidade, que são os gurus.


É uma religião?


A Brama Kumaris não é considerada uma religião, mas se eu pegar o sentido da palavra religião da mesma forma que digo “faço isso religiosamente”, ou seja, com uma regularidade, uma freqüência, ai poderá ser assim chamada. Temos aulas todos os dias, praticamos a meditação todos os dias em horários específicos. Não é considerada uma entidade religiosa no sentido de religiosidade praticada por templos e igrejas. O fundador não é um religioso, não é guru, é alguém que passou seus ensinamentos, nós desenvolvemos essa consciência, a palavra yoga significa lembrança, então é “eu me lembrar de quem eu sou para poder me conectar com uma fonte maior que podemos chamar de “Sol Espiritual”, “Ser Supremo”, “Deus”. Temos um quadro com um ponto de luz que é essa representação. Eu sou esse ponto de luz, esse ser consciente, e Deus, essa alma suprema também é. Só que nós somos seres separados, individuais.


A Instituição acredita em Deus?


Sim. O que nós entendemos é que eu, você, enquanto esse ser espiritual, esse ser é uma energia metafísica, que não conseguimos ver, mas podemos sentir, perceber. É essa energia que pensa, sente. Eu sou eterna. A alma, esse ser consciente que pode ser chamado de “self” (si mesmo), pode ser chamado de “eu interior”, é uma energia.


Qual é a diferença entre alma e espírito?


Não colocamos como diferentes, mas sim como sinônimos. Cada um de nós é essa energia viva, um ser espiritual, um ser consciente. Se não existisse esse ser em meu corpo não estaríamos conversando agora. O corpo é simplesmente um veículo através do qual posso me expressar, eu como sendo esse ser. Então vejo através dos olhos, ouço através dos ouvidos, uso minhas mãos para realizar alguma tarefa. Essa energia fora do corpo o torna sem vida.


Qual é a importância do olhar?


Os olhos são como a janela da alma. O que estou sentindo, experimentando internamente eu expresso através do olhar. Se tenho a consciência de que sou esse ser pacífico, amoroso, esse sentimento é transmitido principalmente através dos olhos. A meditação que fazemos é com os olhos abertos.


Há um fundamento científico?


Todo esse conhecimento e experiência que nós temos hoje são percebidos que há avanços na ciência e no estudo dessa questão do pensamento, do aspecto dessa energia, a física quântica está bem avançada nesse processo. No inicio, quando se começou a falar que não sou o corpo, mas esse ser espiritual foi muito pela fé. Mesmo quando entrei em contato com o Raja Yoga senti que foi muito mais pela fé. Eu queria entender quem eu era não conseguia aceitar que o ser humano é ao mesmo tempo bom e ruim, ao mesmo tempo positivo e negativo. A essência é positiva.


Isso significa que o indivíduo desenvolve seu lado ruim?


Pelo fato dele se distanciar dessa consciência, de quem ele é, esse individuo esquece que é paz, amor, verdade. Ele passa a buscar isso fora dele, desenvolvendo o que é chamado de negatividade. Pelo fato da paz ter sido enfraquecida é desenvolvida a raiva. Não é a raiva, o medo que existem. É a falta de base, do amor, que o leva a experimentar essas negatividades, mas ele não é essa fraqueza, essa negatividade. A ausência de luz é a escuridão. Ao acender a luz ela é dissipada. Se a essência de cada um for resgatada deixa-se de experimentar a violência, a tristeza. A essência é positiva, se eu for ao encontro do meu estado original as negatividades enfraquecem. Eu não estou a busca de tristeza, raiva, pelo contrário. E por que fazemos isso? Porque essa é a nossa natureza.


Em todas as camadas sociais a humanidade passa por muitas infelicidades, onde está a raiz da questão?


A palavra espiritualidade está vinculada ao espiritual, eu sou o espírito, sou a alma. Tudo que se refere a esse ser a alma é espiritual, ele é eterno, imortal, amoroso. A alma é eterna, é uma energia. Não é criada e nem destruída, sempre irá existir.


E quando ocorre o óbito de um ser humano?


O Ser espiritual deixa aquele corpo, aquele veículo, irá dar vida em outro corpo. Sempre na forma humana, pode dar vida à um corpo masculino ou feminino.


Nesse aspecto há alguma semelhança com o espiritismo?


Os espíritas também falam disso, essa questão de nascer e renascer.


Vocês têm algum embasamento para crer nesses fatos?


Entendemos que existe uma lei espiritual, que é a lei do karma. Às vezes pessoas ou crianças trazem uma bagagem, a pergunta é porque isso? Entendemos que vem de experiências e vivências anteriores que essa alma teve e que nesse nascimento expressa com mais facilidade. Pode ser facilidade com línguas, música, dança.


Um espírito que realiza o mal ao renascer irá sofrer as conseqüências da sua vida anterior?


A palavra karma significa ação. De acordo com a Lei de Newton A toda ação há sempre uma reação oposta e de igual intensidade. As ações positivas que pratico trarão retorno positivo. As ações negativas trarão retorno negativo. Em sua essência toda alma é positiva. O entendimento dessa lei faz com que possamos entender os porquês. Por que estou aqui? Nada acontece por acaso e eu sou responsável. Não é o outro que é responsável pelo que estou sentindo. Essa lei nos coloca na situação: “Eu sou responsável pelo que estou experimentando hoje”. O que estou experimentando hoje é fruto do meu passado recente, passado mais remoto, passado de outras vidas. O que experimento hoje é fruto do nascimento atual assim como de nascimentos anteriores.


Isso explica a empatia ou antipatia imediata ao conhecer alguma pessoa?


Em algum momento da minha existência eu já tive contato com essa alma, em outro papel, outro corpo, isso ocorre também com lugares.


Quando foi fundada a Brahma Kumaris em Piracicaba?


Este ano está completando 32 anos, quem trouxe para Piracicaba foi Ida Meirelles, ela conheceu a Brahma Kumaris em São Paulo, iniciou em sua casa, formando grupos de pessoas interessadas.


O ciclo de nascimento e renascimento é infinito?


É eterno.


Qual é o objetivo?


Como ser eterno a alma originalmente não residia aqui no mundo físico, residia no que chamamos de mundo das almas que pode ser chamado de céu, nirvana, é o local de residência das almas, esses minúsculos pontos de luz. É um lugar de silêncio e paz. Não existe matéria para que o som aconteça. Ali a alma permanece em estado de latência, como uma semente que precisa ser plantada na terra para surgir a árvore e possa colher o fruto que você deseja. A alma, esse ser vivo, vem para o mundo físico e entra em um corpo. O mundo físico que conhecemos a Terra, todos os planetas, a natureza, é como se fosse um imenso palco onde cada um de nós somos os atores. Saímos desse lar e viemos para esse grande palco para desempenhar os nossos papéis. Estamos desempenhando-os nascimento após nascimento. Vamos criando contas positivas e negativas. Para voltar tenho que retornar da forma que vim, sem nenhuma negatividade. Imagine crianças brincando na rua, o pai está para chegar a mãe diz: “-Vamos tomar banho rápido, o pai está chegando e está na hora do jantar!”. As almas saíram do mundo das almas, saíram da companhia do pai e da mãe, que é a alma suprema, e vieram para cá. Tanto que a população cresce e as almas não retornam para o lar, permanecem no plano físico. Vai ter o momento da transformação no universo, no planeta e nos próprios seres humanos, já está ocorrendo essa transformação. As almas irão retornar para o mundo das almas. Se eu promover essa transformação interna de uma maneira consciente retorno sem experimentar sofrimento, estou consciente e me empenhando para me transformar. Sei que não sou um ser triste, irei me empenhar para resgatar a felicidade em mim. Esse é o nosso objetivo aqui, promover a autotransformação através do autoconhecimento.


Como é vista a afirmação de que nascemos com pecado original?


Entendemos que pecado são as nossas fraquezas, nossas negatividades. O nosso estado original são os aspectos positivos. O açúcar é doce, e será assim sempre. Se você fizer uma limonada ele irá agregar a doçura, o açúcar sempre será doce. O sal sempre é salgado. A alma é eternamente esse ser bom, generoso, pacífico, cooperativo. Isso é natural. A alma vem plena do mundo das almas, no contato com a matéria ela vai usando a sua energia, como uma bateria irá gastando energia, chega um momento em que ela enfraquece, é quando surgem as negatividades, as fraquezas. Fui usando a minha energia ao longo da minha existência desde quando estou no mundo físico, eu já existia como ponto de luz. À medida que a consciência de alma é enfraquecida passo a desenvolver a consciência corpórea. Identifico-me com os papéis que represento com o que faço o que tenho. Aí começo a desenvolver as negatividades como apego, ganância, arrogância, isso que nós entendemos como sendo pecado. Se experimento tristeza é um pecado. Se eu dou tristeza também é um pecado. A alma originalmente não é assim.


Nós temos que nos dar alegrias?


A minha natureza é essa, assim como o açúcar é doce, eu alma sou pacifica, amorosa, feliz, sou a verdade, sou humilde, pura. As negatividades foram adquiridas com o passar do tempo, nesse nosso processo de nascer e renascer. Imagine um diamante, com sua crosta que tem que ser removida para conhecer o diamante e seu valor. Esse ser espiritual, a alma, é o diamante, só que em volta dele tem toda essa crosta de negatividade. Com a ajuda do Pai Supremo é preciso remover essa crosta para o diamante aparecer, esse Ser de luz, essa consciência de que eu sou essa essência e não o que está ao meu redor, que fui acumulando, eu não sou aquela negatividade. Posso estar triste, estar com raiva, mas não sou isso.


No momento a depressão parecer acometer um número significativo de pessoas, como a senhora vê essa situação?


Entendo que a depressão vem de muitas perdas: de pessoas queridas, trabalho, da própria identidade. A primeira perda que a alma sofre é a identidade.


A senhora já esteve na Índia?


Já fui por várias vezes, geralmente permaneço de 20 a 25 dias. Lá temos uma rotina diária: pela manhã a meditação inicial, em seguida aulas. Participamos de workshops relacionados a aspectos do conhecimento espiritual. Participamos de reuniões relacionadas a aspectos da própria organização, principalmente por fazer parte do papel que tenho aqui em Piracicaba. Também participamos de atividades recreativas, programas culturais.


Qual é o idioma usado nessas ocasiões?


É o híndi, que é traduzido para o inglês e do inglês traduzido para outras nacionalidades das pessoas presentes.


Os homens ou as mulheres são predominantes no Brahma Kumaris?


Existem mais mulheres. Famílias, crianças, também freqüentam só que estas tem uma programação especial voltada para elas. A partir de seis a sete anos, se tiver uma noção de leitura a criança pode fazer o curso, idêntico ao dos adultos só que com outra didática.


Qual é a duração das atividades?


Pela manhã de uma hora e quinze minutos a uma hora e trinta minutos, a parir das seis horas da manhã. Para freqüentar essas aulas matinais é necessário fazer o curso introdutório, a meditação Raja Yoga, com duração de oito aulas. São duas aulas por semana à noite, ou então três sábados. Se a pessoa quiser continuar tem as aulas de espiritualidade prática, que tem o objetivo da pessoa ter a experiência da meditação. A meditação Raja Yoga significa criar pensamentos positivos, elevados, relacionados ao ser para conectar com a Alma Suprema. As aulas de espiritualidade prática são duas vezes por semana á noite na quarta feira, a partir das 19 horas e no sábado a tarde, às 16 horas com duração de uma hora e meia cada aula. Se a pessoa quiser continuar se aprofundando existe um curso intermediário que irá preparar o aluno para as aulas matinais ministradas todos os dias.


Esses cursos são pagos?


Não. A Brahma Kumaris é uma organização não-governamental, sem fins lucrativos. As atividades são mantidas através das contribuições espontâneas dos alunos que a freqüentam.


São muitos os freqüentadores da Brahma Kumaris em Piracicaba?


Entendemos que não é todo mundo que talvez esteja em um processo de mudança. Posso gostar achar bom, experimentar o benefício de vir às palestras. Freqüentar um workshop, traz um conhecimento, um refrescamento. Empenhar em uma mudança profunda são poucos que o fazem. Implicam em mudanças de hábitos, padrões, pensamentos, crenças, é despojar de tudo que você acreditou que era e que de fato você não é. Envolve a questão de basear sua identidade em nome, status, cultura, nacionalidade. Estou desempenhando um papel, sou o ator, não sou o papel e nem dono do teatro. Terminou a peça volto para casa. É essa consciência que precisa não só ser experimentada, mas desenvolvida. Apesar da Brahma Kumaris estar em Piracicaba há mais de trinta anos muitas pessoas não a conhecem. No dia 30 de abril de 2013 iremos receber a visita de uma indiana que atualmente reside na África, será no período da noite, a entrada é franca. Quando foi a celebração dos 30 anos recebemos a visita da coordenadora da Brahma Kumaris na América com a presença de umas 1.300 pessoas.


A organização tem participação ativa junto a comunidade?


Além das atividades regulares, temos trabalhos feitos em presídio feminino e trabalhos na Fundação Casa. No ano passado iniciamos a campanha “Escolha a Calma”, eu faço as escolhas, posso escolher ficar irritado ou ser calmo, temos que usar a nossa capacidade de racionar para fazer as escolhas corretas com base nesse entendimento do meu estado original, só sabendo disso é que posso fazer a minha escolha. Houve uma participação muito grande em conjunto com outras entidades.


É interessante salientar que não é uma postura passiva ou amorfa.


Você não reprime nada. Se eu ficar com raiva não irei reprimi-la e sim ter o entendimento de quem eu sou. A doença não é natural, todo ser é saudável, poderá tornar-se doente por descuido, por uma questão karmica, o retorno de alguma coisa que não cuidei. O estado original do nosso corpo não é a doença, seu funcionamento é para ser saudável.


A senhora é vegetariana?


A dieta vegetariana é o principio da não violência, se eu entendo esse princípio não consumo nenhum tipo de carne animal.










sexta-feira, março 01, 2013

MILTON BUZETTO

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
Sábado, 02 de março de 2013
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
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ENTREVISTADO: MILTON BUZETTO


Piracicaba é uma cidade que gerou e continua gerando grandes nomes em todos os campos de atuação: artistas, esportistas, políticos, empresários, cientistas, profissionais liberais. Alguns permanecem em nossa cidade, outros buscam novos horizontes. Com o passar do tempo muitos retornam à terra natal. Trazem consigo uma grande bagagem de experiências e deixam por onde passaram além de saudades o nome de Piracicaba. Milton Buzetto é um desses piracicabanos. Tornou-se estrela de primeira grandeza no futebol, conviveu com grandes nomes do esporte.
Nascido em Piracicaba a 14 de novembro de 1937, filho de Francisco Buzetto e Elídia Bovi Buzetto. Seu pai tinha uma lenhadora situada na Rua Treze de Maio entre a Rua Luiz de Queiroz e a Rua Vergueiro.
Essa lenhadora situava-se muito próxima ao centro da cidade.
Naquela época o fogão a gás não era tão difundido, o mais comum era usar o fogão a lenha. Meu pai mandava picar a lenha, também vendia carvão, e entregava. Era conhecida como Lenhadora do Francisco, a minha mãe também dava uma mãozinha.
Quantos filhos seus pais tiveram?
Éramos cinco: Milton, Alcides, Euclides (Já falecido, foi vereador em Piracicaba), Orides e Sonia Maria. Até o quarto ano estudei no Grupo Escolar Moraes Barros, em frente, na Rua Alferes José Caetano havia a Fábrica de Bebidas Andrade que produzia os refrigerantes gengibirra e cotubaina. Meu primeiro professor se chamava Petan, era muito bravo. Na Escola Cristóvão Colombo, na Praça José Bonifácio estudei por três anos me formando como contabilista.
O senhor já gostava de esportes nessa época?
Gostava de futebol, só que aos 12 anos comecei a trabalhar na Farmácia Popular de propriedade do Dinho, situava-se na Rua Alferes José Caetano esquina com a Rua Prudente de Moraes ao lado da Câmara Municipal o local hoje é ocupado por um edifício. Onde é o prédio da Câmara Municipal, na esquina, era a casa de Santo Bueloni, na Rua Prudente de Moraes havia a Relojoaria Muller, a Casa Francêz. Na farmácia do Dinho trabalhei por uns dois ou três anos, fazia um pouquinho de tudo: entregava, varria, ajudava o Dinho a fazer as fórmulas. Depois a Farmácia São Paulo de propriedade de Carlos Kalil, situada atrás da Matriz de Santo Antonio, comprou o meu passe. Eu já aplicava injeção na veia, no músculo. Lá havia um grande farmacêutico chamado Maximiliano, um senhor na casa dos setenta anos, ele havia registrado um xarope de sua fabricação que era revendido na farmácia, mas totalmente legalizado e registrado. Chamava-se “Xarope de Cecrópia” (Cecropia planta de cujas folhas se faz um pó ou uma tintura com propriedades diuréticas e cardioestimulantes ). Maximiliano e sua esposa moravam na Rua Benjamin Constant, lá ele tinha um laboratório onde fabricava esse xarope. Um farmacêutico, Ismar Rufino de Oliveira, veio de São Paulo e arrendou uma filial da Farmácia São Paulo na Rua Treze de Maio em frente ao Correio que funcionava na esquina com a Rua Alferes José Caetano onde é atualmente a Pizza do Bira. O Ismar casou-se com uma piracicabana, cujo irmão era o Porunga, jogador profissional de futebol. Ele jogou em muitos times fora de Piracicaba, quando ele entrava de férias e vinha à Piracicaba eu saia com ele para treinar. Fui pegando o gosto, me entrosando. Isso foi por volta de 1953. Na Rua Luiz de Queiroz em frente a Fábrica Arethusina reuniam-se um grande número de meninos, todos com quase a mesma idade, fazíamos um campinho onde hoje é uma praça, quando dava uma folguinha íamos jogar. Jogávamos descalços. Foi montado um time, o “Estrela Dalva” não tinha campo, jogava no campo da Boyes. Eu acompanhava esse pessoal, fui treinando, jogando. O time “Unidos” era da Rua Benjamin Constant. Tinha ainda o Ipiranga, o MAF, Jaraguá entre outros. Com 16 anos apareceu a oportunidade de jogar no time principal do “Estrela”. Joguei seis meses, era lateral direito. Naquela época o futebol amador tinha mais projeção na mídia, os campos estavam sempre lotados. Hoje o Dinival Tibério é um dos grandes baluartes do futebol de várzea. Idílio Gianetti gostava do “Estrela”, ele era um dos sócios da Viação Piracicabana. Um dia ele me perguntou: “-Você quer ir para o juvenil do Palmeiras? Eu vou levar o Cuíca”. Cuíca era como o Mazzola também era conhecido. Respondi: “-Se o Cuíca for eu vou também”. Fomos ambos para o Palmeiras. José João Altafini é o nome do Cuíca. Após um amistoso contra o Benfica, de Portugal, Valentino Mazzola e todo o time do Torino, além de dirigentes e jornalistas, morreram quando o avião em que viajavam chocou-se contra uma igreja. José João Altafini é conhecido no Brasil como "Mazzola" devido à sua semelhança com Valentino Mazzola.
O senhor chegou a rever José João Altafini, o Mazzola, depois que ele foi morar na Itália?
Vi sim. Continua o amigo de sempre.
Junto com o Mazzola foram jogar no Palmeiras?
Mazzola e eu fomos jogar sem remuneração, morávamos dentro do Parque Antártica, tinha alimentação, alojamento. Era uma beleza ir de Piracicaba à São Paulo, não pagava a passagem de ônibus, era cortesia de Idílio Gianetti. O ônibus passava em frente ao Palmeiras. Lá no Palmeiras terminávamos de treinar na faixa juvenil íamos jantar em frente ao clube, voltávamos íamos treinar basquete. O Palmeiras tinha bons times de basquete, futebol de salão. Como passamos em todos os testes veio uma remuneração. Ganhava mais do que trabalhar em Piracicaba.
Qual foi a reação do senhor ao chegar a São Paulo para jogar pelo Palmeiras?
Eu só pensei em não voltar para Piracicaba, quem estava tomando conta do futebol da cidade não acreditava nos jogadores que saiam daqui. Quando eu telefonava para a minha mãe ela dizia: “Estão metendo o pau em você e no Mazzola, dizem que vocês não jogam nem no XV de Novembro vão querer jogar no Palmeiras?”. Jogamos e fomos campeões pelo juvenil, aspirante, isso em 1956. Daí, subimos para o profissional, o Palmeiras fez uma grande remodelação no time, permaneceram Valdemar Filme, Gérsio, Renatinho, Ivam. Os demais jogadores eram todos novinhos. Aymoré Moreira era o técnico, muito inteligente, usava muita tática. Depois veio o Gonzales, um argentino.
Quando o senhor vinha visitar seus familiares em Piracicaba era reconhecido como atleta do Palmeiras?
Muitos não acreditavam que eu estivesse jogando no Palmeiras, achavam aquilo impossível. Uma vez viemos jogar contra o XV de Novembro, foi assunto para a semana toda, diziam: “- O Palmeiras vem com Mazzola e com Milton, se o XV não ganhar de goleada é marmelada!”. Ficamos concentrados em Águas de São Pedro. Ao terminar o primeiro tempo estava 3 X 0 para nós. Mazzola tinha marcado dois gols. O jogo terminou com 4 X 1 Mazzola fez mais um gol. Isso foi no campo da Rua Regente Feijó, o “Roberto Gomes Pedrosa”. Daí para frente aqueles que duvidavam, passaram a acreditar que Piracicaba poderia dar bons jogadores. Continuei no Palmeiras por mais uns dois anos, foi quando chegou o treinador Osvaldo Brandão, que não trabalhava com jogador novo, ele pediu novas contratações para ser campeão isso em 1959. Ele me chamou, disse-me que desejava que eu permanecesse no time, só que não iria jogar porque ele estava contratando jogadores da seleção brasileira. Para não ficar parado ele me arrumou o Noroeste de Bauru para jogar nesse período. Foi no ano da Copa, em 1958. Fiquei um ano em Bauru, tinha me casado em 20 de setembro de 1958, na igreja da Avenida Pompéia. Estamos casados a 53 anos.
O senhor conheceu sua esposa em São Paulo?
Minha esposa, Maria Bárbara Aguiar era atleta da equipe de natação do Palmeiras.

Como foi a ida do senhor para o Juventus?
Em 1960 o Juventus comprou o meu passe do Palmeiras. O presidente do Juventus tinha uma loja na Rua 25 de Março, era também conselheiro do São Paulo Futebol Clube. O Juventus só tinha o campo na Rua Javari, mais nada. As coisas foram mudando, entrou o presidente Roberto Ugolini, italiano, dono de uma indústria de alumínio. Depois entrou o presidente José Ferreira Pinto que considero juntamente com Romeu Ítalo Rípoli dois gênios do futebol, inteligentíssimos.

Como jogador o senhor jogou no Palmeiras, Bragantino, Juventus, Noroeste.
Nabi Abi Chedid era um artista. Foi buscar no Palmeiras três jogadores para o Bragantino: eu, Valdemar Filme e o Liminha. Tem casos folclóricos com o Nabi. Ele era presidente do Bragantino, estávamos disputando com Barretos, Araçatuba, íamos disputar para ver quem ia subir. O nosso pagamento estava atrasado. Íamos concentrar em Atibaia. Alguém sugeriu em pressionar o Nabi que o pai dele forneceria recursos. O pai do Nabi era proprietário da empresa de ônibus de Bragança a Itatiba, de Bragança a Socorro, de ônibus urbano em Bragança. E ele gostava do Bragantino. O Waldemar Filme que era o capitão conversou com o Nabi, que lhe perguntou: “Fora esse problema, tem algum outro?” O Valdemar disse que não. Nabi disse: “-Então vamos jogar que isso não é problema!”. Ganhamos do Barretos. Quando chegamos a Bragança recebemos. O pai do Nabi dava “um chequinho” para cada jogador. Ele dizia: “Este chéquinio é para você!” Ia a equipe toda descontar os cheques.
Em que ano o senhor tornou-se técnico do Juventus?
Em 1971 passei a ser técnico do Juventus. Como técnico atuei entre outros times no Juventus, Corinthians, Guarani, Inter de Limeira, Atlético Paranaense, Goiás, Comercial Rib. Preto, Mixto (Cuiabá), Comercial (Campo Gde), Uberaba, Francana, Paulista (Jundiaí), XV de Piracicaba ( época do Rípoli), União Barbarense, Taquaritinga, União (Rondonópolis MT), Vocem (Assis SP ), Marcílio Dias, Secretaria de Esportes SP.
O senhor teve um período de convivência com o lendário Vicente Matheus.
Não tenho nenhuma queixa contra ele, era uma pessoa mal assessorada. Eles foram me buscar no Juventus, através do Monteiro que é pai de um dos atuais diretores do Corinthians. A reunião foi na casa do Vicente Matheus que me disse: “–Escuta mocinho, você sabe por que fui buscar você? Você tem um jeitinho de conversar com jogador, eu já vi, e nós não podemos gastar muito. Para falar a verdade o nosso ônibus está penhorado para o Vasco. Temos que fazer contenção de dívidas aqui. Acho que você no Juventus fez muito jogador e sabe como fazer. Então vamos ver se dá certo”. Vicente Matheus tinha uns assessores, ficavam um em cada canto do estádio com o objetivo de ver tudo que se passava. Eu não sabia disso, depois que descobri. O Matheus chegava e dizia: “-O negócio não está bom.” Eu dizia: “-Por que Seu Matheus?” Ele então respondia: “-Aconteceu isso, isso, isso”. Então lhe explicava o que de fato tinha ocorrido, dizia-lhe que eram coisas normais em treinamentos. Ele então dizia: “-Ah!Então tá tudo bem?” “-Está tudo bem!” respondia-lhe. O tempo foi passando, o time do Corinthians estava mal, não ganhava de ninguém. E tinha grandes jogadores. Disse-lhe que em três meses iria recuperar todos os jogadores para ele. Eu reunia os jogadores como Zé Maria, Vladimir, Vaguinho, Geraldão, Romeu, Tobias, Sérgio, Ademir Gonçalves, Basílio. Faltava treinamento. Fui moldando, devagar, com apoio do departamento médico. O time foi evoluindo, quatro rodadas antes o time já estava classificado no Campeonato Nacional. Um dia o Zé Maria me procurou e expôs a situação dos jogadores, estavam ganhando pouco, a Portuguesa estava pagando o dobro para seus jogadores. O Zé Maria perguntou-me se dava para falar com o Matheus, ele não atendia os jogadores. Através de um assessor mandei o recado ao Matheus, no dia seguinte ele apareceu com sua Mercedes conversível vermelha. Nem olhava para ninguém. Entrou em seu escritório e mandou-me chamar. Disse-me que não queria inflacionar o clube. Eu disse-lhe que os jogadores estavam reivindicando algo justo. Os jogadores da Portuguesa estavam ganhando oito mil cada um. Ele estava pagando três para jogador de seleção brasileira. Disse-lhe: “- O senhor está vendo a campanha, a renda está aumentando, o time já está classificado.”. Tinha um tesoureiro, Renê, era uma pessoa muito bacana. Eu disse-lhe que o Matheus estava difícil de concordar, mas que acabaria concordando. O Vicente Matheus foi chamando um a um cada jogador. Chamou o Zé Maria e disse-lhe: “Zé, eu admiro você Zé. Você é corinthiano de coração. Você está pedindo aumento. O Corinthians não pode pagar para todo mundo”. O Zé Maria respondeu-lhe: “- Seu Matheus, nós não podemos ganhar menos do que os jogadores da Portuguesa!”. O Vicente Matheus disse-lhe: “Ah! Oito mil eu não pago! Vou pagar sete mil e quinhentos!”. E assim foi com todos os jogadores. Eles diziam: “Se eu soubesse teria pedido dez mil!”.
Ele interferia na escalação do time?
Tinha um jogador que era meio relaxado, ele sabia jogar. Fomos fazer um jogo em Ribeirão Preto e eu não tinha ninguém para por na frente. Só restou esse jogador. Terminado o treino no Parque São Jorge um assessor do Matheus, o coronel, disse-me: “-O Matheus mandou o senhor tirar esse jogador do time.” Respondi-lhe: “ O senhor diga a ele que não vou tirar esse jogador do time, ele irá jogar!” Meia hora depois apareceu o Matheus com seu carro Mercedes vermelho. Chamou-me no escritório e disse-me: Fulano não pode jogar, não serve para jogar. Disse-lhe que não iria tirar o jogador da escalação. O Matheus bateu a gaveta da sua mesa e saiu como um raio. Imaginei: “- Estou fora do Corinthians!”. O Vicente Matheus viajava comigo, contando histórias, íamos com o ônibus do Corinthians. Dessa vez ele não foi. Ele apareceu no hotel na hora de sairmos para o estádio. Insistiu mais uma vez para tirar o jogador do time. Disse-lhe que não iria tirar. Falei: “- O senhor está enganado com o rapaz”. Ele respondeu: “- Eu nunca me enganei com jogador!”. Foi quando expliquei ao Matheus porque aquele jogador iria jogar, eu não tinha outro para por no lugar. Só tem ele de atacante. Entramos em campo. Esse jogador escalado a revelia do Matheus estava arrasando. Ele era habilidoso com a bola, chutava forte. No final do jogo ele acerta um petardo. Ganhamos de 1 a 0. Foi o melhor jogador em campo, recebeu premio. Na segunda feira a Marlene Matheus, esposa do Vicente me ligou para ir até o Parque São Jorge ele queria falar comigo. Disse a minha esposa: “- Pronto! Estou fora do Corinthians!”. Cheguei ao escritório do Matheus no Parque São Jorge, tinha um homem, moreno, forte, era diretor do Flamengo, tinha assistido ao jogo em Ribeirão Preto. Queria levar o jogador que tinha marcado o gol para o Flamengo. O Matheus dizia: “- Você tá vendo, ele quer levar o nosso melhor jogador! É jogador de seleção brasileira!. Como vou vender ou emprestar para você? Não!”. Eu pensando: “- Amanhã esse jogador irá sair para umas baladas, não vai jogar nada, o Matheus irá meter o pau nele, hoje ele não quer vender o passe”. O diretor do Flamengo falou para o Matheus abrir o preço, pedir o que quisesse. Ele dizia que não. “ Nem fale mais, ele irá para a seleção!”. O diretor foi embora, eu disse ao Matheus que ele estava perdendo uma grande chance de vender aquele jogador. Ele só jogou ontem, daqui para frente só irá fazer besteira. Escalei esse jogador nos próximos dois jogos, foi o pior jogador em campo. Matheus reconheceu o erro.
O Juventus teve uma fase muito boa?
Ele foi campeão do Paulistinha. Campeão do Rebolo. Foi campeão fora do país, viajamos duas vezes para a Europa e para a Ásia.
O senhor tem uma fama muito grande de jogar na retranca.
Jogando 12 anos no Juventus, encontrava muitas dificuldades em ganhar as partidas. O Juventus contratava jogador de prestígio, como Bauer, Noronha, Nogueira, é um pessoal que não gosta de perder o jogo. Jogávamos de igual para igual com o Palmeiras, Santos, Corinthians, Portuguesa, Guarani. Tomava gol pra caramba, não via “bicho”.
 

Sem querer denegrir a imagem do time, quando foi a maior goleada?
Foi na Vila Belmiro, perdemos para o Santos de 10 a 1. Parece que Pelé fez 4. Não adiantava marcar o Pelé, o Pepe iria fazer 8! Ou então Dorval, Mengaldo, Coutinho iriam fazer. Ali teve uma história que eu fiquei sabendo depois de 10 anos. O Santos ia viajar para a Europa após o jogo. Nós estávamos concentrados em um hotel na Ponta da Praia. Umas seis e meia, após o jantar, o diretor e o treinador pediram uma reunião. Disseram que iam fazer uma modificação técnica no time. Deram a escalação do time, eu não iria jogar. Após 10 anos estávamos em uma pizzaria, aquele diretor me chamou e disse-me: “Você lembra-se daquela história de 10 a 1 na Vila Belmiro e que você não jogou? Nós tivemos uma reunião com a diretoria do Santos, eles pediram para tirar você. Estavam com medo que você machucasse o Pelé. E o Pelé era a galinha dos ovos de ouro deles.Prometeram que quando estivesse cinco ou seis iriam parar de fazer gol. Eu me arrependo até hoje de ter tirado você.”.









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