PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
Rádio Educadora de Piracicaba AM 1060 Khertz A Tribuna Piracicabana
Sábado das 10 ases 11 Horas da Manhã Publicada ás Terças-Feiras
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
19 3433.8749 / 8206 7779 / 8167 0522
Rua do Rosário, 2561 Cep 13401.138 Piracicaba- S. P.
joaonassif@gmail.com
(05/julho/2008)
Entrevistado: A.A. de Piracicaba.
Quatro décadas recuperando vidas.
“O alcoolismo é uma doença física, mental e espiritual, progressiva, incurável e de término fatal.”
“Para surpresa nossa ficar sóbrio não é a experiência horrível e enfadonha que prevíamos. Quando bebíamos, viver sem o álcool parecia não ser vida. Mas, para a maioria dos membros de A.A., viver sóbrio é realmente viver uma experiência repleta de alegria e que achamos muito melhor de que os problemas que tínhamos quando bebíamos.” Depoimento de um alcoólico anônimo.
A irmandade A.A. está presente no Brasil desde 1947, em São Paulo desde 1964, sendo que no dia 9 de abril de 1965, foi fundado em São Paulo o Grupo Sapiens de Alcoólicos Anônimos. Madre Cristina, não alcoólica, da Faculdade SED Sapiens, conseguiu uma sala na parte de trás da entidade, que dava para a Rua Caio Prado, 120, ali foi o início do A.A. em São Paulo. Em 1968, a Assistente Social do Centro de Obras Sociais de Piracicaba procurou o Grupo Sapiens. Em 15 de outubro de 1968, formou-se o Grupo Piracicaba com o ingresso do primeiro companheiro. Hoje Piracicaba conta com 10 grupos de A.A. A Irmandade funciona através de mais de 97.000 grupos em 150 países. (Esses números de quando foram fornecidos até a presente data podem ter sido aumentados). Alcoólicos Anônimos é uma irmandade de homens e mulheres que compartilham suas experiências, forças e esperanças, a fim de resolver seu problema comum e ajudar outros a se recuperarem do alcoolismo. O único requisito para se tornar membro é o desejo de parar de beber. Para ser membro de A.A. não há necessidade de pagar taxas ou mensalidades; são auto-suficientes, graças às próprias contribuições. A.A. não está ligada a nenhuma seita ou religião, nenhum partido político, nenhuma organização ou instituição; não deseja entrar em qualquer controvérsia; não apóia nem combate quaisquer causas. O propósito primordial é manter seus adeptos sóbrios e ajudar outros alcoólicos a alcançarem á sobriedade. O que AA não faz: 01. Recrutar membros, ou tentar aliciar alguém para juntar-se ao AA 02. Manter registro de seus membros ou de suas histórias. 03. Acompanhar ou tentar controlar seus membros. 04. Fazer diagnósticos ou prognósticos clínicos ou psicológicos. 05. Providenciar hospitalização, medicamentos ou tratamento psiquiátrico. 06. Fornecer alojamento, alimentação, roupas, emprego, dinheiro ou outros serviços semelhantes. 07. Fornecer aconselhamento familiar ou profissional. 08. Participar de pesquisas ou patrociná-las. 09. Filiar-se a entidades sociais (embora muitos membros e servidores cooperem com elas). 10. Oferecer serviços religiosos. 11. Participar de qualquer controvérsia sobre álcool ou outros assuntos. 12. Aceitar dinheiro pelos seus serviços ou contribuições de fontes não pertencentes ao AA 13. Fornecer cartas de recomendação á juntas de livramento condicional, advogados, oficiais de justiça, escolas, empresas, entidades sociais ou quaisquer outras organizações ou instituições. A tecnologia trouxe o “A.A.” também para a internet. Alguns links (endereços) interessantes:
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5 de Abril - Chat de Voz
Estes Grupos ajudam pessoas que têm dificuldades para freqüentar reuniões, pelos mais diferentes motivos, permitindo que não deixem de ter a oportunidade de se livrarem dos problemas do alcoolismo. Está aberto a todos os que desejarem participar, inclusive aqueles que freqüentam grupos ditos cara x cara, pois nos grupos on-line podem encontrar mais uma opção para manterem-se sóbrios e em recuperação, só por hoje. Tradicionalmente, os membros de A.A. sempre cuidaram de manter seu anonimato em nível público: na imprensa, no rádio, na televisão, no cinema e, mais recentemente, na Internet. Estiveram nos Estúdios da Rádio Educadora de Piracicaba, 1060 Khertz, no último dia 5 de julho de 2008, dois representantes dos Alcoólicos Anônimos: Reinaldo e Carlinhos.
ORAÇÃO DA SERENIDADE
"Concedei-me, Senhor, a serenidade necessária para aceitar as coisas que não posso modificar, coragem para modificar aquelas que posso, e sabedoria para distinguir umas das outras".
Reinaldo há quantos anos existe o A.A. de Piracicaba?
Eu pertenço ao primeiro grupo, que estará completando quarenta anos de existência em Piracicaba. Com 61 anos de idade e freqüentando o A.A. há 32 anos.
Carlinhos você já está no A.A. há quantos anos?
Eu sou um alcoólatra, e há dezessete anos pertenço á essa irmandade.
Com que idade você começou a ingerir álcool?
O primeiro gole foi sentado no colo do meu “nonno”! Eu não me lembro, minha mãe é que contou, meu avô tomava vinho e me pegava no colo. Eu gostava de ouvir o barulho da garrafa quando sai a rolha: “pum!”. Ele falava para mim: “-Quer tomar pum?” Acho que a doença do alcoolismo já se manifestou a partir dessa época. A Organização Mundial de Saúde considera o alcoolismo uma doença. Álcool foi para mim um despertar. Eu era uma pessoa muito tímida, com o álcool tornei-me extrovertido. Tive uma infância muito bonita. Em 1965 eu tinha 18 anos de idade, já estava “tomando todas”! O álcool tomou conta de mim de forma lenta e progressiva até atingir a minha falência humana.
Você tinha algum local preferido para tomar uns drinques?
Tomei bebidas alcoólicas nos bons restaurantes, em clubes freqüentados por pessoas da sociedade, no final eu estava bebendo em bares de quinta categoria. A sociedade já não me aceitava mais. Fui até eliminado de um clube famoso. Muitas vezes saia para uma noite, com dinheiro, talão de cheques. Eu bebia de forma compulsiva. No dia seguinte é que ia verificar. As vezes o talão de cheques com quatro canhotos em branco. Eu não me lembrava aonde tinha dado o cheque, o valor do cheque, para quem tinha dado esse cheque! Quando o telefone tocava em casa, assustado eu mesmo queria atender! Era algum funcionário de banco me chamando. Eu chegava tremendo no banco. Não sabia qual era o motivo de ser chamado. Geralmente, eram cheques de pequeno valor, com assinatura incorreta. Nesse período em que eu esperava para falar com a pessoa que havia me chamado eu me lembrava de Deus: “Faça com que não seja coisa muito grave!” Tive muitos acidentes com carro. Eu poderia ter matado alguém! Era quase todo mês um acidente. Uma vez reformei minha Brasília (N.J. Carro que era objeto de desejo dos jovens da época), eu estava tão feliz por ter feito a reforma nela e fui para uma “casa da noite”. Lá tomei todas! Perdi o controle e bati. No dia seguinte meu pai disse-me: “-Você acabou de reformar seu carro e já bateu!”. Na verdade eu estava morto, só faltava que me enterrassem!
O que você buscava cada vez que você saía e bebia?
Buscava a liberação! O álcool para mim era um anestésico! Todas as minhas preocupações iam embora, essa timidez sumia. Eu já era um dependente. O primeiro gole já desencadeava o segundo, o terceiro. Eu não conseguia me controlar. Eu sou portador de uma deficiência orgânica. A doença está dentro de mim. Quando cheguei ao A.A. percebi a fatalidade da minha situação. Ouvindo o Reinaldo testemunhando as dores que ele passou no alcoolismo eu inventariei a minha dor. Constatei: sou igualzinho a ele! Quando fui para o A.A. já havia me separado da minha esposa. Quem pediu ajuda para o A.A. foi meu pai, minha mãe, minhas irmãs. Eles pediram ajuda ao A.A. por que previram que o pior estava para acontecer. No dia 10 de maio, data do meu nascimento chegou um envelope na minha casa. Quando vi um envelope no abrigo da minha casa pensei: “-Acho que a minha ex-mulher, ou o meu filho, alguém se lembrou do meu aniversário!” Quando abri aquele envelope e deparei com material do A.A., queria morrer! Eu no A.A.? Eu alcoólatra? Eu não preciso disso, eu me controlo! Em agosto de 1991, eu estava alcoolizado, de pijama, ia deitar, tinha tomado algumas, quando um primo chegou á minha casa. Não sei como, saiu da minha boca a frase: “-Pai, o que o senhor acha de eu ir com meu primo ao A.A.?” Meu disse: “-Vai filho, que deve ser bom para você!”.
Existem muitas pessoas nessa situação?
Alcoolismo é a doença da família. Todo mundo esconde!
Você chegou a dar caixinha para garçom em festa?
Muitas! Eu nunca bebi pelo sabor, bebia pelo efeito, queria que subisse logo, me liberasse. Nas festas já tinha tomado alguma coisa antes para ver a cerimônia. Ao adentrar no salão de festas observava de imediato onde estava ele: “O Rei Álcool”! Minha preocupação exclusiva era se tinha o bastante, se iria dar para beber á vontade. O garçom passava com o aperitivinho, imediatamente eu tirava uma cédula e enfiava no bolso dele dizendo: “-Não deixe faltar nessa mesa!”.
Reinaldo (também conhecido pelo cognome Sabóia) ,há 32 anos você chegou ao A.A.?
Cheguei ao A.A. em 14 de julho de 1977. Cheguei arrasado, com uma facada no corpo, fruto de uma discussão em decorrência de um enterro, isso foi em família, por sinal todos eram alcoólatras. Após ter passado por procedimentos médicos, tendo inclusive colocado um dreno, quando recebi alta, a primeira atitude minha foi tomar meio litro de conhaque. Só sobraram na minha vida minha esposa e minha filha, que fui conhecer aos sete anos de idade.
Você conheceu sua filha apenas aos sete anos de idade por quê?
Porque eu não via nada na minha frente. Só via o álcool. O Rei Álcool. Na minha casa era só briga. Eu trabalhava em uma empresa em 1975. Bebia no bar, levantava tremendo, “tomava uma” para parar de tremer. O maior orgulho meu era ás seis horas da manhã ficar sentado na esquina com um copo de pinga, quem vinha comprar pão, leite, falava: “Nossa Sabóia! Mas já cedo você tomando isso? Você é forte heim!” Eu falava: “Não façam isso que vocês não podem vocês são doentes! Eu posso. Eu sei beber!” Para mim era motivo de grande orgulho, eu estava no auge! Por isso me afundei! Uma pinga não fazia nada. Duas não me faziam nada. Cinqüenta começava a mexer comigo. Eu não almoçava. Ia bebendo. Bebia cinqüenta pingas durante o dia. Quando chegava na hora do jantar, a minha esposa colocava a mesa, sempre havia a briga. Se a comida estivesse quente brigava por estar quente. Se estivesse fria brigava por estar fria. Sempre eu tinha que arrumar uma encrenca para poder ir beber. Eu não sabia quem eu era. Mas era sempre o “bonzão”.
Você trabalhava?
No serviço enquanto eu tinha condições de trabalhar eu trabalhava. Eles me respeitavam na empresa por causa do meu serviço. Eu era a cabeça ali dentro. Eles não conheciam o estagio do meu alcoolismo. O Alcoólatra é muito hábil em esconder sua doença. Nove horas da manhã já havia bebido uma garrafa de pinga. (Ele cita uma famosa marca). Já tinha comido quatro tomates com sal, para poder ter paladar para beber mais. Eu queria o efeito. Queria ficar “ligado” o dia inteiro, por isso que eu já não almoçava. Eu já tinha feito uma experiência a respeito, Um dia no bairro São Dimas, acabei de almoçar, almocei bem, isso foi em uma sexta-feira. Veio a preocupação: “Almocei bem, vai acabar o efeito!” Corri no bar, pedi um copo grande cheio de pinga com groselha, quando acabei de engolir, vomitei no peito do dono do bar! A comida com a bebida não são aceitos pelo organismo. Com o estomago cheio ninguém bebe. O alcoólatra bebe porque não come. Com isso vem a fraqueza, o delírio. Pelo fato de ter uma constituição física forte, eu não caía, virava um leão. Nunca tive problema com álcool. Ele nunca faltou para mim! Com dinheiro ou sem dinheiro o alcoólatra bebe.
Reinaldo, o senhor tem bebidas alcoólicas em sua casa?
Tenho! Se eu convidar alguém para almoçar em casa ofereço cerveja, se a pessoa gosta de tomar uma caipirinha, eu faço. Eu não proíbo ninguém de beber. Fico junto, mas não bebo, eu sou alcoólatra! Eu sofro a doença do alcoolismo! Eu evito salada com vinagre. Se alguém me der uma bala recheada com algum derivado de álcool, eu aceito a bala, disfarço e jogo fora. A coisa mais fácil que existe é parar de beber. Parei mil vezes. Mas voltava a beber. Eu não sabia que o mal está no primeiro gole. Fui convidado por um companheiro que por muito tempo bebemos juntos. Ele foi á minha casa, eu estava com meio litro de conhaque ao lado do sofá, um sofá que era só buraco, só armação. Ele me convenceu a ir até o A.A. A minha primeira reunião foi em um domingo, logo pela manhã.
Reinaldo a doença do alcoolismo afeta as pessoas sem discriminações?
O alcoolismo não escolhe pessoa, idade, pessoa, sexo, profissão, poder econômico. Não escolhe nada. É uma doença no seu início quase imperceptível, mas de forma traiçoeira, busca nas pessoas mais inteligentes e capacitadas, mais bem quistas na família. O alcoólatra tem como característica ser extremamente inteligente. De cada 10 pessoas 4 são alcoólatras, e ao que consta pelas últimas estatísticas, a mulher está bebendo mais do que os homens. A mulher consegue dissimular melhor. Teve um caso, em uma cidade vizinha, permaneci durante um mês trabalhando para conseguir descobrir que ela era alcoólatra. Ela bebia vodca, que era acondicionada dentro da máquina de lavar roupa, entre a lata e a borracha da máquina, o batom que ela usava disfarçava o hálito do álcool! Por ser uma pessoa inteligente não demonstrava sinais aparentes de estar alcoolizada. Outra mulher escondia na caixa de descarga do banheiro. Essa foi mais fácil identificar, ela usava cachaça, acabou caindo na minha frente.
Existe uma frase muito interessante no A.A.?
Carlinhos responde: “Se você quiser beber, o problema é seu. Se quiser parar de beber, o problema é nosso”.
Rádio Educadora de Piracicaba AM 1060 Khertz A Tribuna Piracicabana
Sábado das 10 ases 11 Horas da Manhã Publicada ás Terças-Feiras
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
19 3433.8749 / 8206 7779 / 8167 0522
Rua do Rosário, 2561 Cep 13401.138 Piracicaba- S. P.
joaonassif@gmail.com
(05/julho/2008)
Entrevistado: A.A. de Piracicaba.
Quatro décadas recuperando vidas.
“O alcoolismo é uma doença física, mental e espiritual, progressiva, incurável e de término fatal.”
“Para surpresa nossa ficar sóbrio não é a experiência horrível e enfadonha que prevíamos. Quando bebíamos, viver sem o álcool parecia não ser vida. Mas, para a maioria dos membros de A.A., viver sóbrio é realmente viver uma experiência repleta de alegria e que achamos muito melhor de que os problemas que tínhamos quando bebíamos.” Depoimento de um alcoólico anônimo.
A irmandade A.A. está presente no Brasil desde 1947, em São Paulo desde 1964, sendo que no dia 9 de abril de 1965, foi fundado em São Paulo o Grupo Sapiens de Alcoólicos Anônimos. Madre Cristina, não alcoólica, da Faculdade SED Sapiens, conseguiu uma sala na parte de trás da entidade, que dava para a Rua Caio Prado, 120, ali foi o início do A.A. em São Paulo. Em 1968, a Assistente Social do Centro de Obras Sociais de Piracicaba procurou o Grupo Sapiens. Em 15 de outubro de 1968, formou-se o Grupo Piracicaba com o ingresso do primeiro companheiro. Hoje Piracicaba conta com 10 grupos de A.A. A Irmandade funciona através de mais de 97.000 grupos em 150 países. (Esses números de quando foram fornecidos até a presente data podem ter sido aumentados). Alcoólicos Anônimos é uma irmandade de homens e mulheres que compartilham suas experiências, forças e esperanças, a fim de resolver seu problema comum e ajudar outros a se recuperarem do alcoolismo. O único requisito para se tornar membro é o desejo de parar de beber. Para ser membro de A.A. não há necessidade de pagar taxas ou mensalidades; são auto-suficientes, graças às próprias contribuições. A.A. não está ligada a nenhuma seita ou religião, nenhum partido político, nenhuma organização ou instituição; não deseja entrar em qualquer controvérsia; não apóia nem combate quaisquer causas. O propósito primordial é manter seus adeptos sóbrios e ajudar outros alcoólicos a alcançarem á sobriedade. O que AA não faz: 01. Recrutar membros, ou tentar aliciar alguém para juntar-se ao AA 02. Manter registro de seus membros ou de suas histórias. 03. Acompanhar ou tentar controlar seus membros. 04. Fazer diagnósticos ou prognósticos clínicos ou psicológicos. 05. Providenciar hospitalização, medicamentos ou tratamento psiquiátrico. 06. Fornecer alojamento, alimentação, roupas, emprego, dinheiro ou outros serviços semelhantes. 07. Fornecer aconselhamento familiar ou profissional. 08. Participar de pesquisas ou patrociná-las. 09. Filiar-se a entidades sociais (embora muitos membros e servidores cooperem com elas). 10. Oferecer serviços religiosos. 11. Participar de qualquer controvérsia sobre álcool ou outros assuntos. 12. Aceitar dinheiro pelos seus serviços ou contribuições de fontes não pertencentes ao AA 13. Fornecer cartas de recomendação á juntas de livramento condicional, advogados, oficiais de justiça, escolas, empresas, entidades sociais ou quaisquer outras organizações ou instituições. A tecnologia trouxe o “A.A.” também para a internet. Alguns links (endereços) interessantes:
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Estes Grupos ajudam pessoas que têm dificuldades para freqüentar reuniões, pelos mais diferentes motivos, permitindo que não deixem de ter a oportunidade de se livrarem dos problemas do alcoolismo. Está aberto a todos os que desejarem participar, inclusive aqueles que freqüentam grupos ditos cara x cara, pois nos grupos on-line podem encontrar mais uma opção para manterem-se sóbrios e em recuperação, só por hoje. Tradicionalmente, os membros de A.A. sempre cuidaram de manter seu anonimato em nível público: na imprensa, no rádio, na televisão, no cinema e, mais recentemente, na Internet. Estiveram nos Estúdios da Rádio Educadora de Piracicaba, 1060 Khertz, no último dia 5 de julho de 2008, dois representantes dos Alcoólicos Anônimos: Reinaldo e Carlinhos.
ORAÇÃO DA SERENIDADE
"Concedei-me, Senhor, a serenidade necessária para aceitar as coisas que não posso modificar, coragem para modificar aquelas que posso, e sabedoria para distinguir umas das outras".
Reinaldo há quantos anos existe o A.A. de Piracicaba?
Eu pertenço ao primeiro grupo, que estará completando quarenta anos de existência em Piracicaba. Com 61 anos de idade e freqüentando o A.A. há 32 anos.
Carlinhos você já está no A.A. há quantos anos?
Eu sou um alcoólatra, e há dezessete anos pertenço á essa irmandade.
Com que idade você começou a ingerir álcool?
O primeiro gole foi sentado no colo do meu “nonno”! Eu não me lembro, minha mãe é que contou, meu avô tomava vinho e me pegava no colo. Eu gostava de ouvir o barulho da garrafa quando sai a rolha: “pum!”. Ele falava para mim: “-Quer tomar pum?” Acho que a doença do alcoolismo já se manifestou a partir dessa época. A Organização Mundial de Saúde considera o alcoolismo uma doença. Álcool foi para mim um despertar. Eu era uma pessoa muito tímida, com o álcool tornei-me extrovertido. Tive uma infância muito bonita. Em 1965 eu tinha 18 anos de idade, já estava “tomando todas”! O álcool tomou conta de mim de forma lenta e progressiva até atingir a minha falência humana.
Você tinha algum local preferido para tomar uns drinques?
Tomei bebidas alcoólicas nos bons restaurantes, em clubes freqüentados por pessoas da sociedade, no final eu estava bebendo em bares de quinta categoria. A sociedade já não me aceitava mais. Fui até eliminado de um clube famoso. Muitas vezes saia para uma noite, com dinheiro, talão de cheques. Eu bebia de forma compulsiva. No dia seguinte é que ia verificar. As vezes o talão de cheques com quatro canhotos em branco. Eu não me lembrava aonde tinha dado o cheque, o valor do cheque, para quem tinha dado esse cheque! Quando o telefone tocava em casa, assustado eu mesmo queria atender! Era algum funcionário de banco me chamando. Eu chegava tremendo no banco. Não sabia qual era o motivo de ser chamado. Geralmente, eram cheques de pequeno valor, com assinatura incorreta. Nesse período em que eu esperava para falar com a pessoa que havia me chamado eu me lembrava de Deus: “Faça com que não seja coisa muito grave!” Tive muitos acidentes com carro. Eu poderia ter matado alguém! Era quase todo mês um acidente. Uma vez reformei minha Brasília (N.J. Carro que era objeto de desejo dos jovens da época), eu estava tão feliz por ter feito a reforma nela e fui para uma “casa da noite”. Lá tomei todas! Perdi o controle e bati. No dia seguinte meu pai disse-me: “-Você acabou de reformar seu carro e já bateu!”. Na verdade eu estava morto, só faltava que me enterrassem!
O que você buscava cada vez que você saía e bebia?
Buscava a liberação! O álcool para mim era um anestésico! Todas as minhas preocupações iam embora, essa timidez sumia. Eu já era um dependente. O primeiro gole já desencadeava o segundo, o terceiro. Eu não conseguia me controlar. Eu sou portador de uma deficiência orgânica. A doença está dentro de mim. Quando cheguei ao A.A. percebi a fatalidade da minha situação. Ouvindo o Reinaldo testemunhando as dores que ele passou no alcoolismo eu inventariei a minha dor. Constatei: sou igualzinho a ele! Quando fui para o A.A. já havia me separado da minha esposa. Quem pediu ajuda para o A.A. foi meu pai, minha mãe, minhas irmãs. Eles pediram ajuda ao A.A. por que previram que o pior estava para acontecer. No dia 10 de maio, data do meu nascimento chegou um envelope na minha casa. Quando vi um envelope no abrigo da minha casa pensei: “-Acho que a minha ex-mulher, ou o meu filho, alguém se lembrou do meu aniversário!” Quando abri aquele envelope e deparei com material do A.A., queria morrer! Eu no A.A.? Eu alcoólatra? Eu não preciso disso, eu me controlo! Em agosto de 1991, eu estava alcoolizado, de pijama, ia deitar, tinha tomado algumas, quando um primo chegou á minha casa. Não sei como, saiu da minha boca a frase: “-Pai, o que o senhor acha de eu ir com meu primo ao A.A.?” Meu disse: “-Vai filho, que deve ser bom para você!”.
Existem muitas pessoas nessa situação?
Alcoolismo é a doença da família. Todo mundo esconde!
Você chegou a dar caixinha para garçom em festa?
Muitas! Eu nunca bebi pelo sabor, bebia pelo efeito, queria que subisse logo, me liberasse. Nas festas já tinha tomado alguma coisa antes para ver a cerimônia. Ao adentrar no salão de festas observava de imediato onde estava ele: “O Rei Álcool”! Minha preocupação exclusiva era se tinha o bastante, se iria dar para beber á vontade. O garçom passava com o aperitivinho, imediatamente eu tirava uma cédula e enfiava no bolso dele dizendo: “-Não deixe faltar nessa mesa!”.
Reinaldo (também conhecido pelo cognome Sabóia) ,há 32 anos você chegou ao A.A.?
Cheguei ao A.A. em 14 de julho de 1977. Cheguei arrasado, com uma facada no corpo, fruto de uma discussão em decorrência de um enterro, isso foi em família, por sinal todos eram alcoólatras. Após ter passado por procedimentos médicos, tendo inclusive colocado um dreno, quando recebi alta, a primeira atitude minha foi tomar meio litro de conhaque. Só sobraram na minha vida minha esposa e minha filha, que fui conhecer aos sete anos de idade.
Você conheceu sua filha apenas aos sete anos de idade por quê?
Porque eu não via nada na minha frente. Só via o álcool. O Rei Álcool. Na minha casa era só briga. Eu trabalhava em uma empresa em 1975. Bebia no bar, levantava tremendo, “tomava uma” para parar de tremer. O maior orgulho meu era ás seis horas da manhã ficar sentado na esquina com um copo de pinga, quem vinha comprar pão, leite, falava: “Nossa Sabóia! Mas já cedo você tomando isso? Você é forte heim!” Eu falava: “Não façam isso que vocês não podem vocês são doentes! Eu posso. Eu sei beber!” Para mim era motivo de grande orgulho, eu estava no auge! Por isso me afundei! Uma pinga não fazia nada. Duas não me faziam nada. Cinqüenta começava a mexer comigo. Eu não almoçava. Ia bebendo. Bebia cinqüenta pingas durante o dia. Quando chegava na hora do jantar, a minha esposa colocava a mesa, sempre havia a briga. Se a comida estivesse quente brigava por estar quente. Se estivesse fria brigava por estar fria. Sempre eu tinha que arrumar uma encrenca para poder ir beber. Eu não sabia quem eu era. Mas era sempre o “bonzão”.
Você trabalhava?
No serviço enquanto eu tinha condições de trabalhar eu trabalhava. Eles me respeitavam na empresa por causa do meu serviço. Eu era a cabeça ali dentro. Eles não conheciam o estagio do meu alcoolismo. O Alcoólatra é muito hábil em esconder sua doença. Nove horas da manhã já havia bebido uma garrafa de pinga. (Ele cita uma famosa marca). Já tinha comido quatro tomates com sal, para poder ter paladar para beber mais. Eu queria o efeito. Queria ficar “ligado” o dia inteiro, por isso que eu já não almoçava. Eu já tinha feito uma experiência a respeito, Um dia no bairro São Dimas, acabei de almoçar, almocei bem, isso foi em uma sexta-feira. Veio a preocupação: “Almocei bem, vai acabar o efeito!” Corri no bar, pedi um copo grande cheio de pinga com groselha, quando acabei de engolir, vomitei no peito do dono do bar! A comida com a bebida não são aceitos pelo organismo. Com o estomago cheio ninguém bebe. O alcoólatra bebe porque não come. Com isso vem a fraqueza, o delírio. Pelo fato de ter uma constituição física forte, eu não caía, virava um leão. Nunca tive problema com álcool. Ele nunca faltou para mim! Com dinheiro ou sem dinheiro o alcoólatra bebe.
Reinaldo, o senhor tem bebidas alcoólicas em sua casa?
Tenho! Se eu convidar alguém para almoçar em casa ofereço cerveja, se a pessoa gosta de tomar uma caipirinha, eu faço. Eu não proíbo ninguém de beber. Fico junto, mas não bebo, eu sou alcoólatra! Eu sofro a doença do alcoolismo! Eu evito salada com vinagre. Se alguém me der uma bala recheada com algum derivado de álcool, eu aceito a bala, disfarço e jogo fora. A coisa mais fácil que existe é parar de beber. Parei mil vezes. Mas voltava a beber. Eu não sabia que o mal está no primeiro gole. Fui convidado por um companheiro que por muito tempo bebemos juntos. Ele foi á minha casa, eu estava com meio litro de conhaque ao lado do sofá, um sofá que era só buraco, só armação. Ele me convenceu a ir até o A.A. A minha primeira reunião foi em um domingo, logo pela manhã.
Reinaldo a doença do alcoolismo afeta as pessoas sem discriminações?
O alcoolismo não escolhe pessoa, idade, pessoa, sexo, profissão, poder econômico. Não escolhe nada. É uma doença no seu início quase imperceptível, mas de forma traiçoeira, busca nas pessoas mais inteligentes e capacitadas, mais bem quistas na família. O alcoólatra tem como característica ser extremamente inteligente. De cada 10 pessoas 4 são alcoólatras, e ao que consta pelas últimas estatísticas, a mulher está bebendo mais do que os homens. A mulher consegue dissimular melhor. Teve um caso, em uma cidade vizinha, permaneci durante um mês trabalhando para conseguir descobrir que ela era alcoólatra. Ela bebia vodca, que era acondicionada dentro da máquina de lavar roupa, entre a lata e a borracha da máquina, o batom que ela usava disfarçava o hálito do álcool! Por ser uma pessoa inteligente não demonstrava sinais aparentes de estar alcoolizada. Outra mulher escondia na caixa de descarga do banheiro. Essa foi mais fácil identificar, ela usava cachaça, acabou caindo na minha frente.
Existe uma frase muito interessante no A.A.?
Carlinhos responde: “Se você quiser beber, o problema é seu. Se quiser parar de beber, o problema é nosso”.