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terça-feira, janeiro 06, 2009
domingo, dezembro 21, 2008
Marco Antonio Cavalari
PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
A Tribuna Piracicabana
http://www.tribunatp.com.br/
Entrevista: Publicada no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://www.tribunatp.com.br/
http://www.teleresponde.com.br/
Entrevistado: Marco Antonio Cavallari
O olhar de um artista plástico é diferenciado, ele tem uma percepção própria e única. Cada artista tem sua personalidade expressa em sua obra, como uma impressão digital. Jamais dois artistas trabalhando um mesmo tema, realizarão obras exatamente iguais. Ambas são meritórias. Marco Antonio Cavallari nasceu no bairro Vila Rezende, em Piracicaba, no dia 29 de outubro de 1948. Filho de Agenor Rosário Cavallari e Rita Bertolazzo Cavallari. Têm inúmeras obras espalhadas pela América Latina, EUA e vários países da Europa. Sés trabalhos abrangem as áreas: Anatomia Humana, Arte Arquitetônica, Arte Decorativa e Utilitária. Desenho, Escultura, Máscara Facial, Maquetes, Miniaturas, Monumentos, Pintura, Réplicas e Formas, Reconstituição Craniométrica, Restauração, Simbologia Maçônica, Troféus, Comendas e Medalhas. Autor da obra "Aprenda a Desenhar, Desenhando”, com 14 Estágios Modalidades de Desenho e 48 meses de duração como Curso. Autor do livro "Desenho Artístico para Crianças de 7 aos 10 anos", com 15 Estágios Modalidades de Desenho, para crianças na faixa etária dos 7 aos 10 anos e com 28 meses de duração como Curso. Autor do "Tratado de Cerâmica Artística Rústica", com 10 capítulos e com 18 meses de duração como Curso. Autor do livro-documento sob título "Trabalho de Reconstituição Craniométrica do Padre Marcelino José Bento Champagnat". Autor do filme-documento sob título "Trabalho de Reconstituição Craniométrica do Padre Marcelino J. B. Champagnat". 2002 - PEQUENA MEDALHA DE OURO, pelo desenho a lápis-de-cor sob título; "ORVALHO", no III Salão Nacional de Artes Plásticas do Centro Universitário Adventista de São Paulo - Campus 2 - Engenheiro Coelho - SP. 2001 - MEDALHA DE BRONZE, pelo desenho a giz-pastel-oleoso, sob título: "LÁGRIMAS DE MARIA" , no III Salão de Arte da ALIE, promovido pela Associação Limeirense de Educação - Limeira -SP. 2001 - MEDALHA DE OURO, pela escultura em bronze "EXEMPLO DE AMOR", no III Salão de Arte da ALIE, promovido pela Associação Limeirense de Educação - Limeira - SP. 2001 - GRANDE MEDALHA DE PRATA, pelo desenho a grafite sob título "NONA", no II Salão Nacional Adventista de Artes Plásticas promovido pelo Centro Universitário Adventista de São Paulo Campus 2 - Engenheiro Coelho - SP. 2000 - MEDALHA DE OURO, pela escultura "ORAÇÃO", no II Salão de Arte da ALIE - (Associação Limeirense de Educação) em Limeira - SP. 2000 - GRANDE MEDALHA DE OURO, pela escultura "BANHISTA", na Mostra Almeida Júnior - X Salão de Artes Plásticas da Associação Piracicabana dos Artistas Plásticos (APAP). 1997 - PEQUENA MEDALHA DE BRONZE, pelo Desenho a grafite "NONA", na Mostra 97 - Almeida Júnior: IX Salão de Artes Plásticas da Associação Piracicabana dos Artistas Plásticos (APAP).1997 - PEQUENA MEDALHA DE OURO, pela escultura "A MORTE DO GLADIADOR", na mostra 97 - Almeida Júnior: IX Salão de Artes Plásticas da Associação Piracicabana dos Artistas Plásticos (APAP).1995 - GRANDE MEDALHA DE PRATA, pela escultura "UM GRANDE CAMPEÃO", na mostra 95 - Almeida Júnior: VII Salão de Artes Plásticas da Associação Piracicabana dos Artistas Plásticos (APAP). 1994 - "OUR CONCOURS", no I Salão Regional de Artes Plásticas de Tatuí, com o conjunto de esculturas "DOIS CORAÇÕES" e "O PEDREIRO". 1993 - "OUR CONCOURS", no XXXI Salão Ararense de Artes Plásticas, com a escultura em bronze, "ELA E O VENTO". 1993 - GRANDE MEDALHA DE BRONZE, pelo conjunto de esculturas: "POR UMA QUESTÃO DE HONRA" e a "FUGA", na Mostra 93 - Almeida Júnior: V Salão de Artes Plásticas da Associação Piracicabana dos Artistas Plásticos (APAP). 1992 - MEDALHA DE BRONZE, pelo conjunto de esculturas: "DAMA DOS GATOS" e "DOIS CORAÇÕES", no X Salão de Artes Plásticas de Araraquara. 1991 - PEQUENA MEDALHA DE BRONZE, pela escultura "DESCANSO DO BÓIA-FRIA", na Mostra 91 - Almeida Júnior III Salão de Artes Plásticas da Associação Piracicabana dos Artistas Plásticas (APAP). 1985 - 2º PRÊMIO EM DINHEIRO, pela escultura "MÃE-DE-LEITE", no XXXIII Salão de Belas Artes de Piracicaba. 1984 - MEDALHA DE BRONZE, pela escultura "O PEDREIRO", no II Salão de Artes Plásticas de Rio Claro. 1984 - MEDALHA DE BRONZE, pelo conjunto de esculturas "A METAMORFOSE DE ADÃO", "MEMÓRIAS" e "FÚRIA SELVAGEM", no XI Salão Limeirense de Arte Contemporânea. 1983 - PRÊMIO "TORQUE", pelo conjunto de esculturas "DAMA DOS GATOS" e "DOIS CORAÇÕES", no XI Salão Ararense de Artes Plásticas. 1983 - 2º PRÊMIO EM DINHEIRO, pela escultura "BRUNO, O BISCOITEIRO", no XXXI Salão de Belas Artes de Piracicaba. 1983 - MEDALHA DE OURO, pela escultura "DAMA DOS GATOS", no VI Salão de Artes Plásticas de Itu. 1983 - MEDALHA DE BRONZE, pela escultura "CACHIMBANDO", no I Salão de Artes Plásticas de Rio Claro. 1982 - PRÊMIO DE AQUISIÇÃO - PREFEITURA MUNICIPAL, pela escultura "GRILHÕES", no XXX Salão de belas Artes de Piracicaba.1982 - PRÊMIO "USINA SÃO JOÃO", pela escultura "SERESTEIROS", no IX Salão Ararense de Artes Plásticas. 1981 - MEDALHA DE PRATA, pela escultura "O PEDREIRO", no XXIX Salão de Belas Artes de Piracicaba. 1981 - MEDALHA DE OURO, pela escultura "O PEDREIRO", no VII Salão Ararense de Artes Plásticas. 1980 - 2º PRÊMIO EM DINHEIRO, pela escultura "DOIS CORAÇÕES", no XXVIII Salão de belas Artes de Piracicaba. 1980 - GRANDE MEDALHA DE OURO, pela escultura "O PEDREIRO", no V Salão Oficial de Belas Artes de Matão. 1980 - GRANDE MEDALHA DE PRATA, pela escultura "LAVANDO A CARA", no V Salão Ararense de Artes Plásticas. 1980 - MEDALHA DE BRONZE, pelo conjunto de esculturas "DAMA DOS GATOS", "MIGUÉ, O TOCADOR DE LATINHAS", e "CACHIMBANDO", no VIII Salão Limeirense de Arte Contemporânea. 1979 - MEDALHA DE PRATA, pela escultura "DESCANSO DO BÓIA-FRIA", no VII Salão Limeirense de Arte Contemporânea. 1979 - MEDALHA DE PRATA, pela escultura "DESCANSO DO BÓIA-FRIA", no III Salão Ararense de Artes Plásticas. 1979 - MEDALHA DE BRONZE, pela escultura "FARRAPO DE GENTE", no I Salão Nacional de Artes Plásticas de Leme. 1978 - MEDALHA DE BRONZE, pela escultura "POR UMA QUESTÃO DE HONRA", no I Salão Ararense de Artes Plásticas. 1977 - MENÇÃO HONROSA, pela escultura "FARRAPO DE GENTE", no V Salão Limeirense de Arte Contemporânea. 1973 - MEDALHA DE BRONZE, pela escultura "A FUGA", no XXI Salão de Belas Artes de Piracicaba.
Qual era a profissão dos seus pais?
Ele era ajustador mecânico do Engenho Central, e minha mãe costureira. Meu avô Hugo Cavallari imigrou da Itália junto com um amigo, o Grande Oficial Mário Dedini. O Mário Dedini chegou a convidar o meu avô para juntos montarem uma oficina, meu avô achou aquilo uma loucura, o momento era para plantar café. O resultado nós conhecemos: o Mário Dedini progrediu de forma vertiginosa e o meu avô teve o desgosto de ver o café dando-lhe um tremendo prejuízo, fato comum á todos os cafeicultores da época. Mesmo assim meu avô teve uma boa qualidade de vida, na época como funcionário qualificado do engenho tinha uma série de benefícios. O fato de falar fluentemente italiano e francês ajudava muito.
O senhor é casado?
Sou casado com Marilda dos Santos Cavallari sou pai de dois filhos, Marco Antonio Cavallari Júnior e Mariana Gabriela Cavallari.
O curso primário o senhor realizou em que escola?
Estudei no Grupo Escolar José Romão, na Escola Estadual Jerônimo Gallo. Aos 10 anos de idade comecei a trabalhar em uma oficina de funilaria, propriedade do Neno e do Elpídio Rossin, ficava bem próxima de casa. Lavava peças, parafusava e desparafusava algumas partes. Sindo de lá fui trabalhar em uma oficina de torno, propriedade de Duílio Borghese, ficava atrás da Escola Industrial. Permaneci lá por uns dois anos. Trabalhava com torno. Naquele tempo o patrão fazia o papel do instrutor. Considero um grande erro a proibição de hoje as crianças não poderem trabalhar. É uma lei absurda essa em vigência. O que não se pode é explorar o trabalho de uma criança. Tem que ser dada a oportunidade para que a criança estude e fazer com que ela trabalhe. Só assim teremos grandes homens. Digo isso por tudo que passei minha família sempre foi pobre, e batalhamos muito para progredir. Cheguei a vender sucata de ferro, então chamada de ferro-velho, para poder comprar um presentinho a ser dado no Dia das Mães. Criava coelho, vendia rato branco para a Esalq usar em suas experiências de laboratório. Onde hoje é o Hospital dos Plantadores de Cana havia uma argila espetacular, era cinzenta. Fiz uma carriola, de madeira, com roda de borracha, trazia a argila de lá e fazia as minhas pequenas esculturas. Fazia as “minhocas”. Com o rolo de macarrão fazia as placas, cortava, construía as peças e vendia. Aprendi também a fabricar vassouras. E sou fundidor de ferro. Sei fazer vassoura de piaçava, fazia quarenta dúzias por dia, isso na Fabrica de Vassouras Marabá que ficava na Vila Boyes.
O pai do senhor tinha uma veia artística?
O Pedro Alexandrino freqüentava muito a minha casa. Aprendi a tocar violão com o meu pai. Cheguei a ir até a televisão, no então Canal 4, TV Tupi. Era o programa “Gaiola de Ouro”, de Alfredo Borba. Fomos, eu, minha irmã e o Misael de Oliveira do Super Som 7. Cantei a música Perfídia, a letra de Trini Lopez. Meu pai era desenhista, cantor,.poeta e trabalhava com argila também. Só que na época o artista plástico não era valorizado. Ele trabalhou como ilustrador de quadros anatômicos para o Grupo Escolar José Romão e para a Escola Baronesa de Rezende. As aulas eram dadas com folders, papéis que mostravam como era o sistema digestivo, circulatório, respiratório. Na época não havia á venda esses quadros. Hoje é muito comum serem impressos em gráficas. Naquele tempo tinha que existir um artista para fazer esse trabalho. Eu ficava fascinado com o trabalho do meu pai. O colorido que ele dava para cada detalhe.
Em que ano o senhor foi estudar na Escola Panamericana de Arte em São Paulo?
Foi em 1964. Ia a pé até a rodoviária de Piracicaba, pegava o primeiro ônibus para São Paulo, ficava o dia todo lá e chegava de volta em Piracicaba ás nove horas da noite. Isso era feito dois dias por semana. A escola ficava na Avenida Angélica. Tive como professores o Ziraldo, Manoel Vitor Filho, Walter Forster, Danilo Di Pretti. O curso durou quatro anos. Fiz também em Piracicaba a Escola Megatec, com os professores Danilo Sancinetti e Chico Gobbo. Passei a executar os trabalhos que o meu pai fazia: os desenhos anatômicos, geográficos, para o Grupo Escolar José Romão e para a Escola Baronesa de Rezende. Um dia a irmã Clara, perguntou se eu conseguiria ilustrar umas paredes com temas infantis. Pintei. Nesse meio tempo Dona Hilda Gobbo viu o meu trabalho e me convidou para realizar pinturas onde era o Centro de Reabilitação, hoje funciona o prédio do Senac, próximo ao correio. Pintei dois quadros de 6 por 3 metros com os temas A Dama e o Vagabundo e A Branca de Neve e os Sete Anões. Acabei sendo contratado para dar aulas no Centro de Reabilitação, onde permaneci por sete anos lecionando. Tinha 64 alunos sob a minha tutela. Formei com alguns alunos a Turma de Produção Especial em Cerâmica, a Tupec. Eles tinham um uniforme próprio, sentiam-se valorizados. Faziam e vendiam seus próprios trabalhos.
Em seguida o senhor foi trabalhar na Coopersucar?
Eu já estava casado. Iniciei trabalhando no departamento de segurança da Coopersucar. Eu tinha que ilustrar todo o material a ser divulgado em 78 usinas de açúcar. Era sobre primeiros socorros, prevenção de acidentes, proteção contra incêndios. Não havia nada a respeito dos assuntos. Fiz vários cursos sobre segurança. Produzia todo material didático visual para os supervisores darem aulas. Fui inovador e pioneiro em transparências colorizadas com caneta de transparências, mas com características usadas em quadro a óleo. Misturava as cores e conseguia obter cores secundárias, terciárias, com álcool etílico. Até réplicas de canas cheguei a fazer. Esculpia a caninha, pintava na cor e depois ela era enclausurada em acrílico. Fizemos cana de gesso. Doze dessas amostras de variedades que a Coopersucar havia desenvolvido foram dadas ao Presidente João Baptista Figueiredo como presente. Permaneci por 14 anos na Coopersucar. Eu entrava no centro do canavial, ia pegar as canas no meio do canavial, para usar como modelo e reproduzi-las em pinturas e maquetes. As canas da periferia do canavial sofrem a influencia do sol e mudam de cor. Eu trazia as canas protegidas, embrulhadas em um pano, entrava na minha câmara escura, com a luz dirigida apenas para o meu desenho. No final de uma das minhas obras, retrato detalhes de cada tipo de cana em bico de pena.
O senhor é perfeccionista?
Sou. Tem um provérbio que diz que quando o artista atinge o seu apogeu, ele está morto. Ele tem que parar ou assumir a abstração, sob o risco de revelar a sua decadência ou mediocridade. Picasso fez isso e foi muito bem sucedido.
Depois da saída do senhor da Coopersucar qual foi a sua próxima atividade?
Montei um estúdio e passei a trabalhar como artista autônomo. Trabalhei para empresas de publicidade, fiz muitos modelos de estojos para óculos. Até para a Bolívia eu trabalhei. Sou formado em desenho publicitário pelo Senac.
O senhor tem uma noção de quantas obras já foram realizações suas?
Tenho muita coisa registrada, mas já perdi a conta. Bustos mesmo eu acordei para registrá-los há pouco tempo. Devo ter mais de 500 bustos espalhados pelo Brasil. Inclusive um pequeno que foi entregue ao Rei Gustavo da Suécia.
O senhor tem um trabalho realizado para uma instituição religiosa?
O fundador do Instituto dos Irmãos Maristas, Marcelino Champagnat, nasceu na França, era um sacerdote da igreja católica, e após ter realizado dois milagres, que foram confirmados, ele foi beatificado. Em 1999 ele iria ser canonizado pelo Vaticano. Porém não existiam fotografias dele. O Vaticano pediu que fosse providenciada a melhor imagem possível dele. Só existia uma pintura feita por um amigo seu. Outra pintura dele foi feita quando ele já estava morto. Vestiram o cadáver com sua batina, e o pintor muito rapidamente o retratou. Os maristas da Província de São Paulo conheciam o Badan Palhares, que tinha sido o coordenador do trabalho feito com o Josef Mengele. O Dr. Badan entrou em contato comigo e passamos a trabalhar juntamente com o legista Dr. Nelson Massini. Ficamos 230 dias nessa reconstituição. Fiz a réplica de uma cópia do crânio de Marcelino Champagnat que mandaram da cidade francesa de Saint Chamond para cá. Recebi visita até da CNN após ter concluído o trabalho.
Era realmente do Mengele o corpo encontrado em Bertioga?
Era ele sim. Foi inclusive feito o exame de DNA dele na Inglaterra. Ele possuía uma fistula (N.J. um sinal clínico) e foi essa fístula que confirmou sua identidade também. O meu nome saiu como escultor no laudo oficial da polícia brasileira, alemã, israelense e americana.
Qual é o processo desenvolvido para dar as formas do rosto, a cor de pele?
Isso é feito posteriormente. No crânio humano, existem os pontos craniométricos. Eles limitam em milímetros aquilo que existia antes de tecido, glândulas, músculos, gordura. Isso permite resgatar o ser humano e a raça a qual pertence. Isso não implica em definir quais eram as características fisionômicas. Essas características são adquiridas através de fotografias. Ou através de informação oral.
Quanto tempo o senhor levou para fazer o trabalho com o crânio do Mengele?
Uns dois meses. Foi rápido.
Foi um trabalho que teve grande repercussão internacional?
Saiu em todas as revistas da Europa. Ele era um componente do primeiro escalão nazista.
Com esse trabalho o senhor escreveu o seu nome na história?
Acredito que sim. Tem um provérbio de Marco Cavallari que diz: “O acaso gera muito mais satisfações do que o propósito”.
Em que ano o senhor trabalhou na reconstituição de Mengele?
Foi em 1986. O de Champagnat foi em 1998.
De onde saí tanta criatividade?
Do alto.
PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
A Tribuna Piracicabana
http://www.tribunatp.com.br/
Entrevista: Publicada no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://www.tribunatp.com.br/
http://www.teleresponde.com.br/
Entrevistado: Marco Antonio Cavallari
O olhar de um artista plástico é diferenciado, ele tem uma percepção própria e única. Cada artista tem sua personalidade expressa em sua obra, como uma impressão digital. Jamais dois artistas trabalhando um mesmo tema, realizarão obras exatamente iguais. Ambas são meritórias. Marco Antonio Cavallari nasceu no bairro Vila Rezende, em Piracicaba, no dia 29 de outubro de 1948. Filho de Agenor Rosário Cavallari e Rita Bertolazzo Cavallari. Têm inúmeras obras espalhadas pela América Latina, EUA e vários países da Europa. Sés trabalhos abrangem as áreas: Anatomia Humana, Arte Arquitetônica, Arte Decorativa e Utilitária. Desenho, Escultura, Máscara Facial, Maquetes, Miniaturas, Monumentos, Pintura, Réplicas e Formas, Reconstituição Craniométrica, Restauração, Simbologia Maçônica, Troféus, Comendas e Medalhas. Autor da obra "Aprenda a Desenhar, Desenhando”, com 14 Estágios Modalidades de Desenho e 48 meses de duração como Curso. Autor do livro "Desenho Artístico para Crianças de 7 aos 10 anos", com 15 Estágios Modalidades de Desenho, para crianças na faixa etária dos 7 aos 10 anos e com 28 meses de duração como Curso. Autor do "Tratado de Cerâmica Artística Rústica", com 10 capítulos e com 18 meses de duração como Curso. Autor do livro-documento sob título "Trabalho de Reconstituição Craniométrica do Padre Marcelino José Bento Champagnat". Autor do filme-documento sob título "Trabalho de Reconstituição Craniométrica do Padre Marcelino J. B. Champagnat". 2002 - PEQUENA MEDALHA DE OURO, pelo desenho a lápis-de-cor sob título; "ORVALHO", no III Salão Nacional de Artes Plásticas do Centro Universitário Adventista de São Paulo - Campus 2 - Engenheiro Coelho - SP. 2001 - MEDALHA DE BRONZE, pelo desenho a giz-pastel-oleoso, sob título: "LÁGRIMAS DE MARIA" , no III Salão de Arte da ALIE, promovido pela Associação Limeirense de Educação - Limeira -SP. 2001 - MEDALHA DE OURO, pela escultura em bronze "EXEMPLO DE AMOR", no III Salão de Arte da ALIE, promovido pela Associação Limeirense de Educação - Limeira - SP. 2001 - GRANDE MEDALHA DE PRATA, pelo desenho a grafite sob título "NONA", no II Salão Nacional Adventista de Artes Plásticas promovido pelo Centro Universitário Adventista de São Paulo Campus 2 - Engenheiro Coelho - SP. 2000 - MEDALHA DE OURO, pela escultura "ORAÇÃO", no II Salão de Arte da ALIE - (Associação Limeirense de Educação) em Limeira - SP. 2000 - GRANDE MEDALHA DE OURO, pela escultura "BANHISTA", na Mostra Almeida Júnior - X Salão de Artes Plásticas da Associação Piracicabana dos Artistas Plásticos (APAP). 1997 - PEQUENA MEDALHA DE BRONZE, pelo Desenho a grafite "NONA", na Mostra 97 - Almeida Júnior: IX Salão de Artes Plásticas da Associação Piracicabana dos Artistas Plásticos (APAP).1997 - PEQUENA MEDALHA DE OURO, pela escultura "A MORTE DO GLADIADOR", na mostra 97 - Almeida Júnior: IX Salão de Artes Plásticas da Associação Piracicabana dos Artistas Plásticos (APAP).1995 - GRANDE MEDALHA DE PRATA, pela escultura "UM GRANDE CAMPEÃO", na mostra 95 - Almeida Júnior: VII Salão de Artes Plásticas da Associação Piracicabana dos Artistas Plásticos (APAP). 1994 - "OUR CONCOURS", no I Salão Regional de Artes Plásticas de Tatuí, com o conjunto de esculturas "DOIS CORAÇÕES" e "O PEDREIRO". 1993 - "OUR CONCOURS", no XXXI Salão Ararense de Artes Plásticas, com a escultura em bronze, "ELA E O VENTO". 1993 - GRANDE MEDALHA DE BRONZE, pelo conjunto de esculturas: "POR UMA QUESTÃO DE HONRA" e a "FUGA", na Mostra 93 - Almeida Júnior: V Salão de Artes Plásticas da Associação Piracicabana dos Artistas Plásticos (APAP). 1992 - MEDALHA DE BRONZE, pelo conjunto de esculturas: "DAMA DOS GATOS" e "DOIS CORAÇÕES", no X Salão de Artes Plásticas de Araraquara. 1991 - PEQUENA MEDALHA DE BRONZE, pela escultura "DESCANSO DO BÓIA-FRIA", na Mostra 91 - Almeida Júnior III Salão de Artes Plásticas da Associação Piracicabana dos Artistas Plásticas (APAP). 1985 - 2º PRÊMIO EM DINHEIRO, pela escultura "MÃE-DE-LEITE", no XXXIII Salão de Belas Artes de Piracicaba. 1984 - MEDALHA DE BRONZE, pela escultura "O PEDREIRO", no II Salão de Artes Plásticas de Rio Claro. 1984 - MEDALHA DE BRONZE, pelo conjunto de esculturas "A METAMORFOSE DE ADÃO", "MEMÓRIAS" e "FÚRIA SELVAGEM", no XI Salão Limeirense de Arte Contemporânea. 1983 - PRÊMIO "TORQUE", pelo conjunto de esculturas "DAMA DOS GATOS" e "DOIS CORAÇÕES", no XI Salão Ararense de Artes Plásticas. 1983 - 2º PRÊMIO EM DINHEIRO, pela escultura "BRUNO, O BISCOITEIRO", no XXXI Salão de Belas Artes de Piracicaba. 1983 - MEDALHA DE OURO, pela escultura "DAMA DOS GATOS", no VI Salão de Artes Plásticas de Itu. 1983 - MEDALHA DE BRONZE, pela escultura "CACHIMBANDO", no I Salão de Artes Plásticas de Rio Claro. 1982 - PRÊMIO DE AQUISIÇÃO - PREFEITURA MUNICIPAL, pela escultura "GRILHÕES", no XXX Salão de belas Artes de Piracicaba.1982 - PRÊMIO "USINA SÃO JOÃO", pela escultura "SERESTEIROS", no IX Salão Ararense de Artes Plásticas. 1981 - MEDALHA DE PRATA, pela escultura "O PEDREIRO", no XXIX Salão de Belas Artes de Piracicaba. 1981 - MEDALHA DE OURO, pela escultura "O PEDREIRO", no VII Salão Ararense de Artes Plásticas. 1980 - 2º PRÊMIO EM DINHEIRO, pela escultura "DOIS CORAÇÕES", no XXVIII Salão de belas Artes de Piracicaba. 1980 - GRANDE MEDALHA DE OURO, pela escultura "O PEDREIRO", no V Salão Oficial de Belas Artes de Matão. 1980 - GRANDE MEDALHA DE PRATA, pela escultura "LAVANDO A CARA", no V Salão Ararense de Artes Plásticas. 1980 - MEDALHA DE BRONZE, pelo conjunto de esculturas "DAMA DOS GATOS", "MIGUÉ, O TOCADOR DE LATINHAS", e "CACHIMBANDO", no VIII Salão Limeirense de Arte Contemporânea. 1979 - MEDALHA DE PRATA, pela escultura "DESCANSO DO BÓIA-FRIA", no VII Salão Limeirense de Arte Contemporânea. 1979 - MEDALHA DE PRATA, pela escultura "DESCANSO DO BÓIA-FRIA", no III Salão Ararense de Artes Plásticas. 1979 - MEDALHA DE BRONZE, pela escultura "FARRAPO DE GENTE", no I Salão Nacional de Artes Plásticas de Leme. 1978 - MEDALHA DE BRONZE, pela escultura "POR UMA QUESTÃO DE HONRA", no I Salão Ararense de Artes Plásticas. 1977 - MENÇÃO HONROSA, pela escultura "FARRAPO DE GENTE", no V Salão Limeirense de Arte Contemporânea. 1973 - MEDALHA DE BRONZE, pela escultura "A FUGA", no XXI Salão de Belas Artes de Piracicaba.
Qual era a profissão dos seus pais?
Ele era ajustador mecânico do Engenho Central, e minha mãe costureira. Meu avô Hugo Cavallari imigrou da Itália junto com um amigo, o Grande Oficial Mário Dedini. O Mário Dedini chegou a convidar o meu avô para juntos montarem uma oficina, meu avô achou aquilo uma loucura, o momento era para plantar café. O resultado nós conhecemos: o Mário Dedini progrediu de forma vertiginosa e o meu avô teve o desgosto de ver o café dando-lhe um tremendo prejuízo, fato comum á todos os cafeicultores da época. Mesmo assim meu avô teve uma boa qualidade de vida, na época como funcionário qualificado do engenho tinha uma série de benefícios. O fato de falar fluentemente italiano e francês ajudava muito.
O senhor é casado?
Sou casado com Marilda dos Santos Cavallari sou pai de dois filhos, Marco Antonio Cavallari Júnior e Mariana Gabriela Cavallari.
O curso primário o senhor realizou em que escola?
Estudei no Grupo Escolar José Romão, na Escola Estadual Jerônimo Gallo. Aos 10 anos de idade comecei a trabalhar em uma oficina de funilaria, propriedade do Neno e do Elpídio Rossin, ficava bem próxima de casa. Lavava peças, parafusava e desparafusava algumas partes. Sindo de lá fui trabalhar em uma oficina de torno, propriedade de Duílio Borghese, ficava atrás da Escola Industrial. Permaneci lá por uns dois anos. Trabalhava com torno. Naquele tempo o patrão fazia o papel do instrutor. Considero um grande erro a proibição de hoje as crianças não poderem trabalhar. É uma lei absurda essa em vigência. O que não se pode é explorar o trabalho de uma criança. Tem que ser dada a oportunidade para que a criança estude e fazer com que ela trabalhe. Só assim teremos grandes homens. Digo isso por tudo que passei minha família sempre foi pobre, e batalhamos muito para progredir. Cheguei a vender sucata de ferro, então chamada de ferro-velho, para poder comprar um presentinho a ser dado no Dia das Mães. Criava coelho, vendia rato branco para a Esalq usar em suas experiências de laboratório. Onde hoje é o Hospital dos Plantadores de Cana havia uma argila espetacular, era cinzenta. Fiz uma carriola, de madeira, com roda de borracha, trazia a argila de lá e fazia as minhas pequenas esculturas. Fazia as “minhocas”. Com o rolo de macarrão fazia as placas, cortava, construía as peças e vendia. Aprendi também a fabricar vassouras. E sou fundidor de ferro. Sei fazer vassoura de piaçava, fazia quarenta dúzias por dia, isso na Fabrica de Vassouras Marabá que ficava na Vila Boyes.
O pai do senhor tinha uma veia artística?
O Pedro Alexandrino freqüentava muito a minha casa. Aprendi a tocar violão com o meu pai. Cheguei a ir até a televisão, no então Canal 4, TV Tupi. Era o programa “Gaiola de Ouro”, de Alfredo Borba. Fomos, eu, minha irmã e o Misael de Oliveira do Super Som 7. Cantei a música Perfídia, a letra de Trini Lopez. Meu pai era desenhista, cantor,.poeta e trabalhava com argila também. Só que na época o artista plástico não era valorizado. Ele trabalhou como ilustrador de quadros anatômicos para o Grupo Escolar José Romão e para a Escola Baronesa de Rezende. As aulas eram dadas com folders, papéis que mostravam como era o sistema digestivo, circulatório, respiratório. Na época não havia á venda esses quadros. Hoje é muito comum serem impressos em gráficas. Naquele tempo tinha que existir um artista para fazer esse trabalho. Eu ficava fascinado com o trabalho do meu pai. O colorido que ele dava para cada detalhe.
Em que ano o senhor foi estudar na Escola Panamericana de Arte em São Paulo?
Foi em 1964. Ia a pé até a rodoviária de Piracicaba, pegava o primeiro ônibus para São Paulo, ficava o dia todo lá e chegava de volta em Piracicaba ás nove horas da noite. Isso era feito dois dias por semana. A escola ficava na Avenida Angélica. Tive como professores o Ziraldo, Manoel Vitor Filho, Walter Forster, Danilo Di Pretti. O curso durou quatro anos. Fiz também em Piracicaba a Escola Megatec, com os professores Danilo Sancinetti e Chico Gobbo. Passei a executar os trabalhos que o meu pai fazia: os desenhos anatômicos, geográficos, para o Grupo Escolar José Romão e para a Escola Baronesa de Rezende. Um dia a irmã Clara, perguntou se eu conseguiria ilustrar umas paredes com temas infantis. Pintei. Nesse meio tempo Dona Hilda Gobbo viu o meu trabalho e me convidou para realizar pinturas onde era o Centro de Reabilitação, hoje funciona o prédio do Senac, próximo ao correio. Pintei dois quadros de 6 por 3 metros com os temas A Dama e o Vagabundo e A Branca de Neve e os Sete Anões. Acabei sendo contratado para dar aulas no Centro de Reabilitação, onde permaneci por sete anos lecionando. Tinha 64 alunos sob a minha tutela. Formei com alguns alunos a Turma de Produção Especial em Cerâmica, a Tupec. Eles tinham um uniforme próprio, sentiam-se valorizados. Faziam e vendiam seus próprios trabalhos.
Em seguida o senhor foi trabalhar na Coopersucar?
Eu já estava casado. Iniciei trabalhando no departamento de segurança da Coopersucar. Eu tinha que ilustrar todo o material a ser divulgado em 78 usinas de açúcar. Era sobre primeiros socorros, prevenção de acidentes, proteção contra incêndios. Não havia nada a respeito dos assuntos. Fiz vários cursos sobre segurança. Produzia todo material didático visual para os supervisores darem aulas. Fui inovador e pioneiro em transparências colorizadas com caneta de transparências, mas com características usadas em quadro a óleo. Misturava as cores e conseguia obter cores secundárias, terciárias, com álcool etílico. Até réplicas de canas cheguei a fazer. Esculpia a caninha, pintava na cor e depois ela era enclausurada em acrílico. Fizemos cana de gesso. Doze dessas amostras de variedades que a Coopersucar havia desenvolvido foram dadas ao Presidente João Baptista Figueiredo como presente. Permaneci por 14 anos na Coopersucar. Eu entrava no centro do canavial, ia pegar as canas no meio do canavial, para usar como modelo e reproduzi-las em pinturas e maquetes. As canas da periferia do canavial sofrem a influencia do sol e mudam de cor. Eu trazia as canas protegidas, embrulhadas em um pano, entrava na minha câmara escura, com a luz dirigida apenas para o meu desenho. No final de uma das minhas obras, retrato detalhes de cada tipo de cana em bico de pena.
O senhor é perfeccionista?
Sou. Tem um provérbio que diz que quando o artista atinge o seu apogeu, ele está morto. Ele tem que parar ou assumir a abstração, sob o risco de revelar a sua decadência ou mediocridade. Picasso fez isso e foi muito bem sucedido.
Depois da saída do senhor da Coopersucar qual foi a sua próxima atividade?
Montei um estúdio e passei a trabalhar como artista autônomo. Trabalhei para empresas de publicidade, fiz muitos modelos de estojos para óculos. Até para a Bolívia eu trabalhei. Sou formado em desenho publicitário pelo Senac.
O senhor tem uma noção de quantas obras já foram realizações suas?
Tenho muita coisa registrada, mas já perdi a conta. Bustos mesmo eu acordei para registrá-los há pouco tempo. Devo ter mais de 500 bustos espalhados pelo Brasil. Inclusive um pequeno que foi entregue ao Rei Gustavo da Suécia.
O senhor tem um trabalho realizado para uma instituição religiosa?
O fundador do Instituto dos Irmãos Maristas, Marcelino Champagnat, nasceu na França, era um sacerdote da igreja católica, e após ter realizado dois milagres, que foram confirmados, ele foi beatificado. Em 1999 ele iria ser canonizado pelo Vaticano. Porém não existiam fotografias dele. O Vaticano pediu que fosse providenciada a melhor imagem possível dele. Só existia uma pintura feita por um amigo seu. Outra pintura dele foi feita quando ele já estava morto. Vestiram o cadáver com sua batina, e o pintor muito rapidamente o retratou. Os maristas da Província de São Paulo conheciam o Badan Palhares, que tinha sido o coordenador do trabalho feito com o Josef Mengele. O Dr. Badan entrou em contato comigo e passamos a trabalhar juntamente com o legista Dr. Nelson Massini. Ficamos 230 dias nessa reconstituição. Fiz a réplica de uma cópia do crânio de Marcelino Champagnat que mandaram da cidade francesa de Saint Chamond para cá. Recebi visita até da CNN após ter concluído o trabalho.
Era realmente do Mengele o corpo encontrado em Bertioga?
Era ele sim. Foi inclusive feito o exame de DNA dele na Inglaterra. Ele possuía uma fistula (N.J. um sinal clínico) e foi essa fístula que confirmou sua identidade também. O meu nome saiu como escultor no laudo oficial da polícia brasileira, alemã, israelense e americana.
Qual é o processo desenvolvido para dar as formas do rosto, a cor de pele?
Isso é feito posteriormente. No crânio humano, existem os pontos craniométricos. Eles limitam em milímetros aquilo que existia antes de tecido, glândulas, músculos, gordura. Isso permite resgatar o ser humano e a raça a qual pertence. Isso não implica em definir quais eram as características fisionômicas. Essas características são adquiridas através de fotografias. Ou através de informação oral.
Quanto tempo o senhor levou para fazer o trabalho com o crânio do Mengele?
Uns dois meses. Foi rápido.
Foi um trabalho que teve grande repercussão internacional?
Saiu em todas as revistas da Europa. Ele era um componente do primeiro escalão nazista.
Com esse trabalho o senhor escreveu o seu nome na história?
Acredito que sim. Tem um provérbio de Marco Cavallari que diz: “O acaso gera muito mais satisfações do que o propósito”.
Em que ano o senhor trabalhou na reconstituição de Mengele?
Foi em 1986. O de Champagnat foi em 1998.
De onde saí tanta criatividade?
Do alto.
segunda-feira, dezembro 15, 2008
Um homem vivia à beira de uma estrada e vendia cachorro quente.
Ele não tinha rádio, não tinha televisão e nem lia jornais, mas produzia e vendia o melhor cachorro quente da região.
Ele se preocupava com a divulgação do seu negócio e colocava cartazes pela estrada, oferecia o seu produto em voz alta e o povo comprava e gostava. As vendas foram aumentando e, cada vez mais ele comprava o melhor pão e a melhor salsicha. Foi necessário também adquirir um fogão maior para atender a grande quantidade de fregueses. E o negócio prosperava e prosperava . . . Seu cachorro quente era o melhor! Vencedor, ele conseguiu pagar uma boa escola ao filho.
O menino cresceu, e foi estudar Economia numa das melhores Faculdades do país. Finalmente, o filho já formado, voltou para casa, notou que o pai continuava com a vida de sempre, vendendo, agradando e prosperando e teve uma séria conversa com o pai :
- Pai, então você não ouve radio? Você não vê televisão? Não acessa a Internet e não lê os jornais? Há uma grande crise no mundo. A situação do nosso País é crítica. Está tudo ruim. O Brasil vai quebrar.
Depois de ouvir as considerações do filho Doutor, o pai pensou: Bem, se meu filho que estudou Economia na melhor Faculdade, lê jornais, vê televisão e internet, e acha isto, então só pode estar com a razão! Com medo da crise, o pai procurou um Fornecedor de pão mais barato ( e é claro, pior ). Começou a comprar salsichas mais barata ( que era, também, a pior ). Para economizar, parou de fazer cartazes de propaganda na estrada. Abatido pela noticia da crise já não oferecia o seu produto em voz alta. Tomadas essas 'providências', as vendas começaram a cair e foram caindo, caindo e chegaram a níveis insuportáveis e o negócio de cachorro quente do velho, que antes gerava recursos até para fazer o filho estudar Economia na melhor Faculdade... quebrou. O pai, triste, então falou para o filho: - 'Você estava certo, meu filho, nós estamos no meio de uma grande crise. 'e comentou com os amigos, orgulhoso: - 'Bendita a hora em que eu fiz meu filho estudar economia, ele me avisou da crise ...' Aprendemos uma grande lição : Vivemos em um mundo contaminado de más noticias e se não tomarmos o devido cuidado, essas más noticias nos influenciarão a ponto de roubar a prosperidade de nossas vidas.
O texto original foi publicado em 24 de fevereiro de 1958 em um anúncio da Quaker State Metais Co. Em novembro de 1990 foi divulgado pela agência ELLCE, de São Paulo.
(by Moni).
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Ele não tinha rádio, não tinha televisão e nem lia jornais, mas produzia e vendia o melhor cachorro quente da região.
Ele se preocupava com a divulgação do seu negócio e colocava cartazes pela estrada, oferecia o seu produto em voz alta e o povo comprava e gostava. As vendas foram aumentando e, cada vez mais ele comprava o melhor pão e a melhor salsicha. Foi necessário também adquirir um fogão maior para atender a grande quantidade de fregueses. E o negócio prosperava e prosperava . . . Seu cachorro quente era o melhor! Vencedor, ele conseguiu pagar uma boa escola ao filho.
O menino cresceu, e foi estudar Economia numa das melhores Faculdades do país. Finalmente, o filho já formado, voltou para casa, notou que o pai continuava com a vida de sempre, vendendo, agradando e prosperando e teve uma séria conversa com o pai :
- Pai, então você não ouve radio? Você não vê televisão? Não acessa a Internet e não lê os jornais? Há uma grande crise no mundo. A situação do nosso País é crítica. Está tudo ruim. O Brasil vai quebrar.
Depois de ouvir as considerações do filho Doutor, o pai pensou: Bem, se meu filho que estudou Economia na melhor Faculdade, lê jornais, vê televisão e internet, e acha isto, então só pode estar com a razão! Com medo da crise, o pai procurou um Fornecedor de pão mais barato ( e é claro, pior ). Começou a comprar salsichas mais barata ( que era, também, a pior ). Para economizar, parou de fazer cartazes de propaganda na estrada. Abatido pela noticia da crise já não oferecia o seu produto em voz alta. Tomadas essas 'providências', as vendas começaram a cair e foram caindo, caindo e chegaram a níveis insuportáveis e o negócio de cachorro quente do velho, que antes gerava recursos até para fazer o filho estudar Economia na melhor Faculdade... quebrou. O pai, triste, então falou para o filho: - 'Você estava certo, meu filho, nós estamos no meio de uma grande crise. 'e comentou com os amigos, orgulhoso: - 'Bendita a hora em que eu fiz meu filho estudar economia, ele me avisou da crise ...' Aprendemos uma grande lição : Vivemos em um mundo contaminado de más noticias e se não tomarmos o devido cuidado, essas más noticias nos influenciarão a ponto de roubar a prosperidade de nossas vidas.
O texto original foi publicado em 24 de fevereiro de 1958 em um anúncio da Quaker State Metais Co. Em novembro de 1990 foi divulgado pela agência ELLCE, de São Paulo.
(by Moni).
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sábado, dezembro 13, 2008
PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
A Tribuna Piracicabana
http://www.tribunatp.com.br/
Entrevista: Publicada no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://www.tribunatp.com.br/
http://www.teleresponde.com.br/
Entrevistado: Sebastião Franco – Craveiro
Por definição cultura é o conjunto de manifestações artísticas, sociais, lingüísticas e comportamentais de um povo ou civilização. Portanto, fazem parte da cultura de um povo as seguintes atividades e manifestações: música, teatro, rituais religiosos, língua falada e escrita, mitos, hábitos alimentares, danças, arquitetura, invenções, pensamentos, formas de organização social. Piracicaba tem influenciado a cultura do nosso país, em todos os segmentos. Uma das grandes expressões de cultura da nossa terra é a dupla Craveiro e Cravinho. Com a música no sangue, são donos de um talento reconhecido e cantado pelo Brasil inteiro. Introvertidos na vida pessoal, muito modesta, apresentam as características daqueles que sempre lutam por um sonho, por muitos anos foram obrigados a exercerem atividades profissionais alheias a música.
Craveiro, como é o seu nome?
Eu me chamo Sebastião Franco, e meu irmão o Cravinho, chama-se João Franco. No tempo em eu nasci para fazer o registro de nascimento de uma criança, esperava-se acumular o nascimento de várias outras crianças para então aproveitar a ida do sítio ao cartório e então se registravam todas nascidas naquele período. Com isso eu nasci no dia 5 de outubro, mas fui registrado no dia 5 de fevereiro de 1931. É bom ter duas datas de nascimento: eu ganho presentes duas vezes. (risos). Meu irmão nasceu em setembro de 1938. Meu pai chamava-se Josué Inocêncio Franco e minha mãe Julia de Andrade Franco. Nasci em um bairro rural que tinha por nome Cortume, município de Pederneira, próximo a Jaú. Quando tinha uns seis ou sete anos de idade mudamos para o que na época era um lugarejo, que tinha duas vendinhas, chamado Itatingui. Éramos nove irmãos. Hoje somos cinco.
Qual era a atividade profissional do seu pai?
Meu pai era retireiro, e eu ainda bem novo também comecei a trabalhar nesse ofício. Pouca gente sabe o significado da palavra retireiro. É aquele que tirava leite da vaca. O retireiro apartava os bezerros ás duas horas da tarde. Trazia as vacas na mangueira, separava os bezerros, para ele não mamar até no outro dia. Lá pelas quatro horas da manhã do dia seguinte, começava a tirar o leite. O bezerro vinha dava umas cabeçadas no ubre, o leite descia. Na época era tirado leite de umas oitenta vacas, por quatro a cinco pessoas adultas e eu, que embora tivesse uns 12 ou 13 anos de idade, fazia o trabalho de um adulto. Tínhamos que ordenhar e entregar o leite para que o trem que passava ás nove horas da manhã levasse esse leite. Para levar esse leite até a estação era usada uma carroça puxada por bois, chamada carretela.
Quantos bois puxavam essa carroça?
Dois bois. Para puxar lenha colocávamos mais bois.
O senhor lembra-se do nome de alguns desses bois?
Lembro-me do nome de alguns deles: Rolete, Maneiro, Desenho, Deserto, Pente Fino. Eram bois mansinhos, quando nós os tocávamos na mangueira eles ficavam um ao lado do outro para colocarmos a canga.
Como a família foi residir em Pederneiras?
A origem da família era lá. Meu bisavô, Felipe Franco foi quem doou a terra onde foi fundada a cidade de Pederneiras.
A vocação para cantar surgiu quando?
Surgiu quando eu ainda era criança. Meu pai, minha mãe, minha família toda cantava. Nas festas de sítio, meu cantava, catira, cateretê, e eu passei a ajudá-lo a cantar. Eu era criança, peito fino. Montamos uma dupla e passamos a cantar as modas conhecidas.
O senhor dança catira?
Dancei muito, agora as pernas já não ajudam tanto. ( risos) Mas dou uns pulos ainda.
Como surgiu o nome Craveiro?
O Bairro Itatingui, era um lugarejo, menor do que Porto João Alfredo (Artemis), só tinha duas vendas. Na época apareceu um circo, do tipo pavilhão, chamava-se Circo do Miguel. Normalmente o circo comum é redondo, o circo do tipo pavilhão é quadrado, coberto com lona, duas águas. Veio se apresentar no circo uma dupla de nome Craveiro e Rosinha. Era pai e filha. Naquele tempo eles iam e permanecia a semana inteira no local do primeiro show, por causa de condução. Deram o show no sábado, ficaram para o domingo, para a quinta-feira até o outro sábado. Com isso houve um entrosamento nosso. Eu era doente por cantoria, eles cantavam, faziam mágicas no circo. Fiquei entrosado no circo. Tornei-me muito amigo deles. Segundo alguns diziam, eu era muito parecido fisicamente com o Craveiro, a diferença é que eu era um menino e ele um senhor de uns quarenta e poucos anos de idade. Depois de o circo ter ido embora, quando eu chegava a algum lugar o pessoal dizia: “Olha o Craveiro que vem vindo”. Eu passei a ser o Craveiro.
Como surgiu o nome Cravinho?
Em Jaú existia uma rádio chamada PRG-7, eu meu irmão fomos cantar lá. Na época eu era molecão de uns 17 anos, já usava calça comprida. Um locutor falou: “Olha o Craveiro ali!”. Outro locutor disse: “E o Cravinho junto.” Quando voltamos para Itatingui já passamos a ser chamados de Craveiro e Cravinho. Quando lançamos o nosso primeiro disco, houve um momento em que foi pensado em chamar a dupla de Paulista e Paulistinha, mas acabou permanecendo Craveiro e Cravinho.
Quando a música passou a ser a profissão definitiva da dupla?
Eu fui carpinteiro. Fazia madeiramento de casa, portas, janelas.
Mas com o talento artístico de vocês não tinha como viver só da música?
Trabalhamos muito, no batente duro. Mudamos em 1957 para o Porto João Alfredo (Artemis). Logo em seguida viemos morar em Piracicaba. Na época, existia em Piracicaba uma pessoa chamada Jaime Pereira, que era um grande admirador de moda de viola. Em 1957, um cururueiro de nome Barbosinha tinha um programa no rádio isso no tempo de Lazinho Marques, Nhô Serra. Quando escutaram nossa apresentação feita á alguns amigos, imediatamente nos levaram para catar na rádio. O pai do Jaime Pereira, o Seu Abel Pereira tinha uma carvoaria na Rua Sud Mennucci, no bairro da Paulista. Ele participou ativamente da construção da Igreja São José, e nós cantávamos nas animadas quermesses, feitas em benefício das obras da igreja. Ainda em 1957 passamos a nos apresentarmos na rádio, o José Soave contratou-nos. No finzinho de 1957 passamos a ter um programa fixo na Rádio Difusora. Foi uma coqueluche. Todos elogiavam, diziam: “-Que dupla boa!”. Ficamos na rádio até o início de 1980. O Dr. Bento Dias Gonzaga também sempre admirou moda de viola. Dr. Francisco Salgot Castillon também gostava de música raiz.
Continuavam a trabalhar como carpinteiro?
Continuamos, o salário na rádio era bem apertado. Surgiu a oportunidade de gravarmos o nosso primeiro disco em 1962. Era com as músicas “Ponta de Faca” com autoria minha e de Nhô Serra e “Mata Deserta” de autoria minha e do Cravinho. Continuamos trabalhando na rádio e aos domingos íamos fazer shows na região de Piracicaba.
Quando a dupla Craveiro e Cravinho apresentou-se pela primeira vez na televisão?
Foi no programa “Canta Viola” de Geraldo Meirelles, na TV Record.
O senhor gosta de jogar truco?
Gosto muito. Todo cururueiro gosta de truco. Conheci uma turma boa de truco. João Nhô, Zé de Freitas, José Nassif. Essa turma era terrível no truco. Eu inteirava!
A dupla que aceitava jogar truco com vocês era o que chamavam de “pato”?
Saiam sem penas!
O jogo de truco é um jogo de muitas estratégias, uma delas é o sinal entre os parceiros, indicando as cartas que cada um tem nas mãos?
O uso acertado de sinal entre os parceiros significa metade do jogo ganho. O sinal corriqueiro ficou muito conhecido. Cada dupla usa um tipo de sinal. Existem sinais que são quase despercebidos pelos adversários.
Qual é a maior satisfação que um cantor obtém?
Soltar com a voz os seus sentimentos. A cantoria é emotiva. Quem canta sem entusiasmo a moda não sai boa. Tudo tem que ser natural. Quando nós cantávamos na Rádio Difusora de Piracicaba, isso em 1957, no nosso início, a nossa vontade de cantar era muito grande, o corpo acompanhava a viola, o jogo, o pessoal notava aquilo Todo serviço que é feito com amor sai perfeito.
Qual foi o lugar mais distante de Piracicaba que a dupla Craveiro e Cravinho já se apresentou?
Nos Estados Unidos! Nova Yorque e Nova Jersey. Lá existem as colônias brasileiras, o empresário brasileiro contratou a dupla de cantores Cesar e Paulinho, e pediu que nós também nos apresentássemos lá. O nosso disco “Franguinho na Panela” é muito tocado nas comunidades brasileiras de lá.
Craveiro e Cravinho já se apresentaram para autoridades muito conhecidas?
Fizemos a entrega de uma viola caipira para o Presidente Figueiredo. Foi em Ribeirão Preto. Ele gostou do presente e cantou conosco aquela Moda da Mula Preta. Ele era canhoteiro, tocou a violinha. Foi uma festa. Era um homem muito simples.
Craveiro e Cravinho tiveram um programa na televisão?
Por dois anos apresentávamos um programa. na TV Bandeirantes, em São Paulo. Era gravado no Teatro Brigadeiro, ao vivo. Chamava-se Som Verde, eram duas horas de programa. Foi um programa que mexeu com o Brasil de Norte á Sul. Nós levávamos muitas duplas boas. Quem fundou o programa foram o Tonico e o Tinoco.
Era gravado uma vez por semana?
Uma vez por semana nós íamos á São Paulo para gravar o programa. Na época nós tínhamos um carro DKW. Ia pela Via Anhanguera. Voltava á noite, naquela época não havia o trânsito que há hoje. Vinha com calma.
Vocês participaram de muitos programas de televisão?
Cantamos no programa de Airton e Lolita Rodrigues, o “Almoço Com As Estrelas”. Já participamos do programa da Hebe Camargo, Gugu Liberato. Conhecemos o Silvio Santos na Rádio Nacional de São Paulo. Nós fazíamos um programa lá. Conheci Manoel da Nóbrega. Conheci muito o saudoso Edson “Bolinha” Coury. Conheci o Chacrinha. Era boa gente, tinha um espírito de criança. Cesar de Alencar também foi nosso conhecido. Cantamos juntos com Dorival Caymi. Na ocasião do cinqüentenário da música sertaneja participamos fazendo uma apresentação no Parque São Jorge, o campo do Corinthians. Lotou o estádio. Apresentaram-se muitos cantores, foi um dia inteiro de festa. A moda de viola sempre foi uma moda querida por todos, e com a Graça de Deus está voltando de forma mais forte.
E a música que vocês fizeram em homenagem ao Pelé?
É a música Pelé dos Pobres. Quando o Pelé estava no auge, na década de 70, o Moacyr dos Santos fez uma moda que dizia que existe o Pelé rico, eu sou o Pelé dos pobres. Nós gravamos essa música. Foi uma musica muito tocada. Conheci Garrincha, Rivelino. Elza Soares. Nós freqüentamos o programa da Inezita Barroso. Domingo próximo será transmitido pela TV Cultura o programa especial que nós fizemos para o fim do ano.
Atualmente a dupla apresenta um programa na Rádio Educadora de Piracicaba?
Começa ao meio dia e meia e vai até as duas e meia horas da tarde. Aos domingos. Na AM 1060 Khertz.
A dupla sempre encontra muitos fãs onde se apresenta?
Em todo lugar que nós vamos encontramos fãs ardorosos, que acompanham a nossa carreira. Muitos choram. Dão presentes: fotos, canivetes, pito.
O senhor andou muito de bonde em Piracicaba?
Lembro-me do bondinho, ele saia da Estação Sorocabana e ia até a Escola Agrícola. O Milito era o motorneiro do bonde. Os funcionários que trabalhavam no bonde gostavam muito de moda de viola. Tenho saudades daquele tempo.
Qual a sua comida preferida?
Todas são boas. Um arroz com feijão e um ovo frito é muito gostoso.
Com um franguinho na panela?
Um franguinho!
A música Franguinho Na Panela é um grande marco ma carreira da dupla?
Após essa música, conhecemos em seis ou sete anos lugares que não tínhamos conhecido em quarenta anos. Viajamos para Espírito Santo, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Mato Grosso. Hoje os veículos de comunicação são muito rápidos. A moda quando é boa chega ao conhecimento do povo de forma rápida.
Já tem alguma novidade para ser lançada?
Tem um CD quase pronto para sair.
O senhor é religioso?
Sou católico. Creio muito em Deus.
Vocês cantaram uma música para uma novela famosa?
Cantamos para a novela Corpo Dourado, a música Cabocla Tereza.
Estamos próximos ao final de 2008 qual é a sua mensagem para Piracicaba?
Que seja um Natal muito feliz, com muita comida na mesa, muita paz, e que o Ano Novo seja o ano prometido.
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sábado, dezembro 06, 2008
sexta-feira, dezembro 05, 2008
Else Ferraz Salém
PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
A Tribuna Piracicabana
http://www.tribunatp.com.br/
ESCOLA DE APLICAÇÃO
A Tribuna Piracicabana
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ESCOLA DE APLICAÇÃO
Entrevista: Publicada no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos: http://www.tribunatp.com.br/
http://www.teleresponde.com.br/
Entrevistada: Else Ferraz Salém
Um dos privilégios da maturidade é trazer doces lembranças. Se lembrar é reviver, nada melhor do que lembrar-se dos bons momentos. São imagens guardadas na memória de cada um. Muitas vezes a pessoa é a protagonista principal. Também pode ser coadjuvante. E algumas vezes apenas assiste a um fato, sem intervenção direta. Saber viver cada etapa da nossa existência é uma arte. Um eterno descobrir-se. Se por acaso a idade traz algumas limitações físicas, naturais, também aguça outras, é a lei da compensação da mãe natureza. Certo dia, um casal deixou uma cidade do litoral paulista, onde vivia com o conforto que lhe era permitido. Escolheram Piracicaba para morar. Mais precisamente, o Lar dos Velhinhos, que lembra o Vaticano, pelo fato de ser uma cidade dentro de outra. Se o Vaticano fica encravado em Roma, a Primeira Cidade Geriátrica do Brasil fica inserida no coração de Piracicaba. Desfrutando de excelente saúde, uma disposição invejável, eterno bom humor, e um relacionamento extremamente harmonioso são notáveis o exemplo de vida de Else Ferraz Salém e Tércio Becker Salém, um casamento que perdura por 60 anos. Um casal de eternos apaixonados.
A senhora é paulistana?
Nasci em 3 de abril de 1926, na Rua Joly, no bairro do Brás. Naquele tempo bem em frente de casa ainda tinha lampião de gás. Um senhor chegava lá pelas seis horas da tarde, limpava lampião e acendia. Era gás de rua. Ele ia a pé de poste em poste. No dia seguinte ele mesmo apagava. É de uma época em que começo a lembrar de alguns fatos da minha vida, deveria ter uns 4 anos de idade. Meu pai Sethe Ferraz e minha mãe Gertrudes Hermel de origem alemã. Meu avô Virgílio Spindler Hermel nasceu no Rio Grande do Sul e minha avó da família Metzner Muller. A minha mãe, Gertrudes, aprendeu a falar português aos seis anos de idade, até então se comunicavam em alemão. Meus av´s tiveram treze filhos, sendo que a minha mãe era a mais velha. Após mudar-se para São Paulo, com o tempo passaram a usar mais a língua portuguesa como meio de comunicação. Os filhos mais velhos aprenderam a língua alemã. Os mais novos não. Minha mãe casou-se em 1 de junho de 1922.
Eles tinham algum propósito definido quando se mudaram para São Paulo?
Meu avô era do tipo que fazia de tudo. Moraram primeiro em Ibitinga, depois para Bauru, e finalmente para São Paulo. Ele exerceu as funções de fotografo, dentista, trabalhou com engenharia também. Meus costumavam dizer que as pedras de calçamento que existiam em Ibitinga, Bauru, Piraju eram todas obras realizadas pelo meu avô, como mestre de obra. Minha mãe durante uma semana ajudava a minha avó no trabalho de costura, outra semana ela ajudava meu avô no consultório dentário. Meu avô era ainda pastor evangélico.
A senhora foi paciente do seu avô?
Ele obturou alguns dos meus dentes. Até hoje tenho essas obturações. A cadeira era bem simples. O motor era movido conforme o movimento do pé do dentista sobre um pedal. Tinha que ter uma coordenação motora boa, além de trabalhar com as mãos nos dentes do paciente, tinha ainda que movimentar o motor com o pé. Meu avô era um homem enorme, muito alto, grande.
Os pais da senhora tiveram quantos filhos?
Seis filhos. Cinco mulheres e um homem: Maria Clara, Else, Odila, Jaci, Cláudio e Marila. Minha mãe ainda criou por uns três anos uma garotinha cuja mãe havia ficado doente, a Tirza.
A atividade do pai da senhora qual era?
Papai era pastor evangélico da Igreja Presbiteriana Independente. E era médico pediatra também. Ele estudou medicina e teologia em São Paulo. Era vontade do meu avô que ele fosse pastor. Da minha avó que ele fosse médico. Para contentar aos dois, formou-se nas duas profissões. Papai residiu por uns dois anos no bairro do Belém em São Paulo, depois se mudou para o Brás. Eu nasci na Rua Almirante Barroso. Meu marido Tércio nasceu na mesma rua. Quando eu tinha um ano de idade a igreja construiu uma casa para o pastor, e nessa casa papai morou quase até o fim da vida. Ele teve que mudar de lá porque a poluição do Brás estava prejudicando a saúde da minha mãe. Mamãe era muito ativa na igreja. Na família do meu pai tivemos sete pastores, o assunto no almoço era sempre sobre igreja.
A senhora estudou em que escola?
Com sete anos de idade fui estudar na Escola Normal Padre Anchieta, que ficava na Avenida Celso Garcia. Lá estudei até a quinta série. Eu queria estudar medicina, mas não deu certo, naquela ocasião teve a reforma Capanema. Na época faziam o pré e entravam para a faculdade. Eles terminaram os prés e criaram os colégios. Demoravam muito para criarem os colégios e o pré tinha acabado. Na ocasião eu não fiquei sabendo que estavam aceitando alunos da quinta série sem pré, sem nada. Bastava fazer o exame e entrar na faculdade. Fui fazer o exame para a faculdade de educação física, que também fazia isso. Entrei para a Escola de Educação Física de São Paulo, era do Departamento de Educação Física. As aulas práticas eram dadas no Clube Espéria, depois passou a funcionar no Estádio do Pacaembu, onde permaneceu por muito tempo até ser construída na Cidade Universitária a Escola de Educação Física. Sou da turma formada em 1944. (N.J. Em 1931, a Reforma Francisco Campos, chamada reforma Chico Ciência, complicou ainda mais as coisas, “dividindo o curso em duas partes, ou dois ciclos: o primeiro de 5 anos e o segundo, e complementar, ou colégio universitário, de dois anos. Na gestão do ministro Gustavo Capanema foi promulgada, em 9 de abril de 1942, a Lei Orgânica do Ensino Secundário, também conhecida como Reforma Capanema. Por essa lei, foram instituídos no ensino secundário um primeiro ciclo de quatro anos de duração, denominado ginasial, e um segundo ciclo de três anos).
A senhora nadou no Rio Tietê em São Paulo?
Comecei a nadar com oito anos de idade. Havia o cocho no Rio Tietê, que era uma área cercada, não havia piscina no Clube de Regatas Tietê, isso foi em 1933 ou 1934. Depois que construíram a piscina aprendi a nadar com Sr.Lenk, pai de Maria Lenk. Ainda menina, quando o rio enchia o Sr, Afonso Simões, membro da nossa igreja, nos levávamos passear nas áreas inundadas, e fazíamos passeio memoráveis nas regiões alagadas.
Havia uma carência muito grande de professores de educação física naquela época?
Por ser uma disciplina relativamente nova, havia uma carência. A primeira turma formada em educação física em São Paulo foi em 1936. Era um grupo muito pequeno. Havia uma seleção rigorosa para entrar para a escola.
Como os alunos viam a adoção da educação física como matéria curricular?
Os alunos gostavam muito. Quando me formei era aplicado o método francês de pedagogia. Depois foi surgindo o método sueco, calistenia que se aplica na Associação Cristã de Moços. O método francês é uma aula de educação física bastante complicada. Tinha certa ordem de exercício que não poderia ser trocada. Diziam que quebrava o ritmo da aula. Havia uma alternância de exercício de braços, de pernas, de tronco. Havia uma preocupação muito grande com o plano de aula. Trabalhei por 10 anos na Escola de Aplicação que funcionava no Parque da Água Branca. (N.J. Criada oficialmente pelo decreto 10.307, em 13 de junho de 1939, a Escola de Aplicação ao Ar Livre Dom Pedro I só foi de fato instalada na cidade de São Paulo no dia 12 de outubro, durante as comemorações da Semana da Criança. Após os discursos da solenidade de inauguração, os alunos da Escola Superior de Educação Física “realizaram uma completa demonstração de educação physica, pelo método francês, official do governo da União” Fonte: Overmundo). Era uma escola do departamento de educação física, voltada para estudos sobre a educação física infantil, que não havia naquele tempo, e até hoje ainda é muito precária a educação física voltada á essa faixa etária.
Quantas professoras de educação física havia na Escola da Água Branca?
Eram 10 professoras de educação física naquela escolinha. Eu passei a trabalhar com a professora Maria Laura, de acordo com ela passei a fazer um trabalho inovador com as crianças. Depois disso passei a dar aulas sempre para crianças de 4 e 5 anos de idade, sempre na escolinha do Parque da Água Branca. Quando havia uma visita importante Adhemar de Barros a levava visitar a escola. Ele e Dona Leonor ficavam sentados ali, olhando as crianças bem pequenininhas. A Lúcia Mercandante era a professora, quando ela saiu, eu assumi o seu lugar. Passei a dar as demonstrações para as visitas do Dr. Adhemar de Barros. Dona Leonor sempre me dizia: “-Só sendo uma menina desse jeito para dar uma aula assim”. Ela e Dr. Adhemar eram pessoas muito simples. Tem uma passagem muito peculiar. O Dr. Adhemar de Barros era muito amigo do Oswaldo Miller da Silva, que era meu primo. Um dia eles estavam na praia de Bertioga, o Milton que era professor de educação física e médico e irmão do Oswaldo Miller da Silva, entrou no mar, com a noiva, chamada Hilda Zanini. O mar começou a puxar a Hilda não sabia nadar e o Milton não agüentou segurar a menina. Ele fazia sinal para a praia de que estava com dificuldade. Minha tia estranhou e disse: “-O que está acontecendo com o Milton?”. Um dos rapazes que estava junto disse: “-Eu vou ver.” Conseguiu chegar lá perto. O Milton falou para que ele segurasse a Hilda que ele estava exausto. Minha tia via o Milton indo embora, o mar puxando. Ela foi até a estrada e pediu socorro. Parou um carro. Quem desceu do carro? Adhemar de Barros ele já era governador. Ele conhecia minha tia. Disse á ela”- A senhora espere um pouco!”. Deu meia volta, foi para o porto de Bertioga, a lancha dele estava lá. Havia sido roubada do Porto de Santos algum tempo antes. Com a lancha Dr. Adhemar pegou a lancha, puxou o Milton pelos cabelos, e fez os procedimentos de primeiros socorros. O Adhemar de Barros era médico.
A senhora credita essa precariedade no ensino de educação física infantil á que fatores?
Acho que existe uma grande dificuldade nesse sentido. Quando me formei só havia 3 colégios do estado em São Paulo: Padre Anchieta, Escola da Praça (Caetano de Campos, na Praça da República) e o Colégio do Estado. Pouco antes de eu me formar, alguns poucos foram construídos em bairros isolados.
Em que ano a senhora passou a lecionar no Estádio do Pacaembu?
Foi em 1944. Eu estive na inauguração do Estádio do Pacaembu em 27 de abril de 1940, como participante do orfeon da escola Padre Anchieta. Eu era soprano.
A senhora freqüentava as lojas do centro de São Paulo?
Com 10 a 12 anos de idade eu ia para a cidade de bonde, para fazer as compras para a minha mãe. Tinha também um ônibus que ia do Brás até o Largo São Bento. Andava por todo o centro de Piracicaba. Cheguei a comprar na loja do Mappin que ainda era no hoje Largo do Patriarca.
Qual seu lazer preferido?
Eu era filha de pastor. Isso significava que havia restrições quanto a formas de lazer. São bastante rígidos. Nós vivíamos em uma comunidade um tanto quanto fechada. A igreja oferecia aos jovens partidas de pingue-pongue, patins na quadra de esporte, passeios, piquenique. Os meus colegas de colégio é que iam estudar em casa. Os estudos de grupo eram feitos em uma sala da igreja, que tinha um quadro negro. Era um ambiente de estudos muito bom.
Na época a igreja católica tinha laços muito fortes com o poder constituído. Havia algum tipo de descriminação aos não católicos?
Não cheguei a sentir muito isso. O fato de papai ser médico quebrou muitas barreiras, ele era muito querido no bairro todo. No Brás o Dr. Sethe era muito conhecido. Fiz uma poesia ao meu pai: “Tinha eu meus três anos; e da porta fascinada; olhava no consultório; de avental branco imponente; todas as tardes ele atendia aos seus doentes; e a nós pequenos era proibida a entrada no pequeno consultório; ou na grande sala ao lado. Eu, pequena, olhava fascinada, para aquele armarinho branco; com caixinhas coloridas de vidrinhos variados. E papai me perguntava: - Você quer alguma coisa? Eu dizia: - Uma caixinha, um vidrinho e um dinheiro. Papai então tirava do armário, uma caixinha, um vidrinho vazio e do bolso do colete é que vinha a moedinha: um tostão ou duzentos réis. Eu saía contente tendo em mãos o que julgava o mais rico presente. Os anos foram passando, e pelo meu aniversário, papai sempre perguntava: - Você ganhou uma caixinha, um vidrinho e um dinheiro? Sempre ganhava, quando faltava um ele completava. Os anos passam velozmente, e ainda hoje, velhinho, com um sorriso brejeiro, me pergunta: Recebestes uma caixinha? Um vidrinho? Ou um dinheiro? (N.J.: Poesia recitada de memória pela entrevistada).
Havia ensino religioso na escola?
Nós saíamos da sala de aula e ficávamos no pátio. Era dada essa liberdade de escolha. Um fato muito interessante foi o comentário de uma professora, que gostava muito de nós, ela dizia: “-É uma pena que vocês sejam protestantes!”. Em outra ocasião o diretor chamou algumas alunas á diretoria, quando olhei eram todas evangélicas, além de uma espírita. Estranhei a situação. Ele disse: “-Essa escola está sofrendo a ação de alunos que querem fazer greve, bagunçar com o colégio. Mas eu notei que neste grupo aqui eu posso confiar, e nós vamos fazer uma campanha de moralização da escola”. Ele era católico. Não houve discriminação religiosa.
Como era o uniforme da escola?
Era uma saia azul marinho, pregueada, plissada, blusa branca com o emblema do colégio, meia de cor branca, sapatos pretos. No grupo usávamos o laço de fita no cabelo. Era aquele bendito laço de fita enorme.
O pai da senhora trabalhou como médico durante o período de alguma epidemia em São Paulo?
Como médico ele trabalhou muito durante a gripe espanhola que grassou pela cidade. E na Revolução de 1932 ele trabalhou muito, mesmo não tendo ido á frente de batalha. Como éramos pequenos fomos com a minha mãe para a casa de familiares em Bauru.
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As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos: http://www.tribunatp.com.br/
http://www.teleresponde.com.br/
Entrevistada: Else Ferraz Salém
Um dos privilégios da maturidade é trazer doces lembranças. Se lembrar é reviver, nada melhor do que lembrar-se dos bons momentos. São imagens guardadas na memória de cada um. Muitas vezes a pessoa é a protagonista principal. Também pode ser coadjuvante. E algumas vezes apenas assiste a um fato, sem intervenção direta. Saber viver cada etapa da nossa existência é uma arte. Um eterno descobrir-se. Se por acaso a idade traz algumas limitações físicas, naturais, também aguça outras, é a lei da compensação da mãe natureza. Certo dia, um casal deixou uma cidade do litoral paulista, onde vivia com o conforto que lhe era permitido. Escolheram Piracicaba para morar. Mais precisamente, o Lar dos Velhinhos, que lembra o Vaticano, pelo fato de ser uma cidade dentro de outra. Se o Vaticano fica encravado em Roma, a Primeira Cidade Geriátrica do Brasil fica inserida no coração de Piracicaba. Desfrutando de excelente saúde, uma disposição invejável, eterno bom humor, e um relacionamento extremamente harmonioso são notáveis o exemplo de vida de Else Ferraz Salém e Tércio Becker Salém, um casamento que perdura por 60 anos. Um casal de eternos apaixonados.
A senhora é paulistana?
Nasci em 3 de abril de 1926, na Rua Joly, no bairro do Brás. Naquele tempo bem em frente de casa ainda tinha lampião de gás. Um senhor chegava lá pelas seis horas da tarde, limpava lampião e acendia. Era gás de rua. Ele ia a pé de poste em poste. No dia seguinte ele mesmo apagava. É de uma época em que começo a lembrar de alguns fatos da minha vida, deveria ter uns 4 anos de idade. Meu pai Sethe Ferraz e minha mãe Gertrudes Hermel de origem alemã. Meu avô Virgílio Spindler Hermel nasceu no Rio Grande do Sul e minha avó da família Metzner Muller. A minha mãe, Gertrudes, aprendeu a falar português aos seis anos de idade, até então se comunicavam em alemão. Meus av´s tiveram treze filhos, sendo que a minha mãe era a mais velha. Após mudar-se para São Paulo, com o tempo passaram a usar mais a língua portuguesa como meio de comunicação. Os filhos mais velhos aprenderam a língua alemã. Os mais novos não. Minha mãe casou-se em 1 de junho de 1922.
Eles tinham algum propósito definido quando se mudaram para São Paulo?
Meu avô era do tipo que fazia de tudo. Moraram primeiro em Ibitinga, depois para Bauru, e finalmente para São Paulo. Ele exerceu as funções de fotografo, dentista, trabalhou com engenharia também. Meus costumavam dizer que as pedras de calçamento que existiam em Ibitinga, Bauru, Piraju eram todas obras realizadas pelo meu avô, como mestre de obra. Minha mãe durante uma semana ajudava a minha avó no trabalho de costura, outra semana ela ajudava meu avô no consultório dentário. Meu avô era ainda pastor evangélico.
A senhora foi paciente do seu avô?
Ele obturou alguns dos meus dentes. Até hoje tenho essas obturações. A cadeira era bem simples. O motor era movido conforme o movimento do pé do dentista sobre um pedal. Tinha que ter uma coordenação motora boa, além de trabalhar com as mãos nos dentes do paciente, tinha ainda que movimentar o motor com o pé. Meu avô era um homem enorme, muito alto, grande.
Os pais da senhora tiveram quantos filhos?
Seis filhos. Cinco mulheres e um homem: Maria Clara, Else, Odila, Jaci, Cláudio e Marila. Minha mãe ainda criou por uns três anos uma garotinha cuja mãe havia ficado doente, a Tirza.
A atividade do pai da senhora qual era?
Papai era pastor evangélico da Igreja Presbiteriana Independente. E era médico pediatra também. Ele estudou medicina e teologia em São Paulo. Era vontade do meu avô que ele fosse pastor. Da minha avó que ele fosse médico. Para contentar aos dois, formou-se nas duas profissões. Papai residiu por uns dois anos no bairro do Belém em São Paulo, depois se mudou para o Brás. Eu nasci na Rua Almirante Barroso. Meu marido Tércio nasceu na mesma rua. Quando eu tinha um ano de idade a igreja construiu uma casa para o pastor, e nessa casa papai morou quase até o fim da vida. Ele teve que mudar de lá porque a poluição do Brás estava prejudicando a saúde da minha mãe. Mamãe era muito ativa na igreja. Na família do meu pai tivemos sete pastores, o assunto no almoço era sempre sobre igreja.
A senhora estudou em que escola?
Com sete anos de idade fui estudar na Escola Normal Padre Anchieta, que ficava na Avenida Celso Garcia. Lá estudei até a quinta série. Eu queria estudar medicina, mas não deu certo, naquela ocasião teve a reforma Capanema. Na época faziam o pré e entravam para a faculdade. Eles terminaram os prés e criaram os colégios. Demoravam muito para criarem os colégios e o pré tinha acabado. Na ocasião eu não fiquei sabendo que estavam aceitando alunos da quinta série sem pré, sem nada. Bastava fazer o exame e entrar na faculdade. Fui fazer o exame para a faculdade de educação física, que também fazia isso. Entrei para a Escola de Educação Física de São Paulo, era do Departamento de Educação Física. As aulas práticas eram dadas no Clube Espéria, depois passou a funcionar no Estádio do Pacaembu, onde permaneceu por muito tempo até ser construída na Cidade Universitária a Escola de Educação Física. Sou da turma formada em 1944. (N.J. Em 1931, a Reforma Francisco Campos, chamada reforma Chico Ciência, complicou ainda mais as coisas, “dividindo o curso em duas partes, ou dois ciclos: o primeiro de 5 anos e o segundo, e complementar, ou colégio universitário, de dois anos. Na gestão do ministro Gustavo Capanema foi promulgada, em 9 de abril de 1942, a Lei Orgânica do Ensino Secundário, também conhecida como Reforma Capanema. Por essa lei, foram instituídos no ensino secundário um primeiro ciclo de quatro anos de duração, denominado ginasial, e um segundo ciclo de três anos).
A senhora nadou no Rio Tietê em São Paulo?
Comecei a nadar com oito anos de idade. Havia o cocho no Rio Tietê, que era uma área cercada, não havia piscina no Clube de Regatas Tietê, isso foi em 1933 ou 1934. Depois que construíram a piscina aprendi a nadar com Sr.Lenk, pai de Maria Lenk. Ainda menina, quando o rio enchia o Sr, Afonso Simões, membro da nossa igreja, nos levávamos passear nas áreas inundadas, e fazíamos passeio memoráveis nas regiões alagadas.
Havia uma carência muito grande de professores de educação física naquela época?
Por ser uma disciplina relativamente nova, havia uma carência. A primeira turma formada em educação física em São Paulo foi em 1936. Era um grupo muito pequeno. Havia uma seleção rigorosa para entrar para a escola.
Como os alunos viam a adoção da educação física como matéria curricular?
Os alunos gostavam muito. Quando me formei era aplicado o método francês de pedagogia. Depois foi surgindo o método sueco, calistenia que se aplica na Associação Cristã de Moços. O método francês é uma aula de educação física bastante complicada. Tinha certa ordem de exercício que não poderia ser trocada. Diziam que quebrava o ritmo da aula. Havia uma alternância de exercício de braços, de pernas, de tronco. Havia uma preocupação muito grande com o plano de aula. Trabalhei por 10 anos na Escola de Aplicação que funcionava no Parque da Água Branca. (N.J. Criada oficialmente pelo decreto 10.307, em 13 de junho de 1939, a Escola de Aplicação ao Ar Livre Dom Pedro I só foi de fato instalada na cidade de São Paulo no dia 12 de outubro, durante as comemorações da Semana da Criança. Após os discursos da solenidade de inauguração, os alunos da Escola Superior de Educação Física “realizaram uma completa demonstração de educação physica, pelo método francês, official do governo da União” Fonte: Overmundo). Era uma escola do departamento de educação física, voltada para estudos sobre a educação física infantil, que não havia naquele tempo, e até hoje ainda é muito precária a educação física voltada á essa faixa etária.
Quantas professoras de educação física havia na Escola da Água Branca?
Eram 10 professoras de educação física naquela escolinha. Eu passei a trabalhar com a professora Maria Laura, de acordo com ela passei a fazer um trabalho inovador com as crianças. Depois disso passei a dar aulas sempre para crianças de 4 e 5 anos de idade, sempre na escolinha do Parque da Água Branca. Quando havia uma visita importante Adhemar de Barros a levava visitar a escola. Ele e Dona Leonor ficavam sentados ali, olhando as crianças bem pequenininhas. A Lúcia Mercandante era a professora, quando ela saiu, eu assumi o seu lugar. Passei a dar as demonstrações para as visitas do Dr. Adhemar de Barros. Dona Leonor sempre me dizia: “-Só sendo uma menina desse jeito para dar uma aula assim”. Ela e Dr. Adhemar eram pessoas muito simples. Tem uma passagem muito peculiar. O Dr. Adhemar de Barros era muito amigo do Oswaldo Miller da Silva, que era meu primo. Um dia eles estavam na praia de Bertioga, o Milton que era professor de educação física e médico e irmão do Oswaldo Miller da Silva, entrou no mar, com a noiva, chamada Hilda Zanini. O mar começou a puxar a Hilda não sabia nadar e o Milton não agüentou segurar a menina. Ele fazia sinal para a praia de que estava com dificuldade. Minha tia estranhou e disse: “-O que está acontecendo com o Milton?”. Um dos rapazes que estava junto disse: “-Eu vou ver.” Conseguiu chegar lá perto. O Milton falou para que ele segurasse a Hilda que ele estava exausto. Minha tia via o Milton indo embora, o mar puxando. Ela foi até a estrada e pediu socorro. Parou um carro. Quem desceu do carro? Adhemar de Barros ele já era governador. Ele conhecia minha tia. Disse á ela”- A senhora espere um pouco!”. Deu meia volta, foi para o porto de Bertioga, a lancha dele estava lá. Havia sido roubada do Porto de Santos algum tempo antes. Com a lancha Dr. Adhemar pegou a lancha, puxou o Milton pelos cabelos, e fez os procedimentos de primeiros socorros. O Adhemar de Barros era médico.
A senhora credita essa precariedade no ensino de educação física infantil á que fatores?
Acho que existe uma grande dificuldade nesse sentido. Quando me formei só havia 3 colégios do estado em São Paulo: Padre Anchieta, Escola da Praça (Caetano de Campos, na Praça da República) e o Colégio do Estado. Pouco antes de eu me formar, alguns poucos foram construídos em bairros isolados.
Em que ano a senhora passou a lecionar no Estádio do Pacaembu?
Foi em 1944. Eu estive na inauguração do Estádio do Pacaembu em 27 de abril de 1940, como participante do orfeon da escola Padre Anchieta. Eu era soprano.
A senhora freqüentava as lojas do centro de São Paulo?
Com 10 a 12 anos de idade eu ia para a cidade de bonde, para fazer as compras para a minha mãe. Tinha também um ônibus que ia do Brás até o Largo São Bento. Andava por todo o centro de Piracicaba. Cheguei a comprar na loja do Mappin que ainda era no hoje Largo do Patriarca.
Qual seu lazer preferido?
Eu era filha de pastor. Isso significava que havia restrições quanto a formas de lazer. São bastante rígidos. Nós vivíamos em uma comunidade um tanto quanto fechada. A igreja oferecia aos jovens partidas de pingue-pongue, patins na quadra de esporte, passeios, piquenique. Os meus colegas de colégio é que iam estudar em casa. Os estudos de grupo eram feitos em uma sala da igreja, que tinha um quadro negro. Era um ambiente de estudos muito bom.
Na época a igreja católica tinha laços muito fortes com o poder constituído. Havia algum tipo de descriminação aos não católicos?
Não cheguei a sentir muito isso. O fato de papai ser médico quebrou muitas barreiras, ele era muito querido no bairro todo. No Brás o Dr. Sethe era muito conhecido. Fiz uma poesia ao meu pai: “Tinha eu meus três anos; e da porta fascinada; olhava no consultório; de avental branco imponente; todas as tardes ele atendia aos seus doentes; e a nós pequenos era proibida a entrada no pequeno consultório; ou na grande sala ao lado. Eu, pequena, olhava fascinada, para aquele armarinho branco; com caixinhas coloridas de vidrinhos variados. E papai me perguntava: - Você quer alguma coisa? Eu dizia: - Uma caixinha, um vidrinho e um dinheiro. Papai então tirava do armário, uma caixinha, um vidrinho vazio e do bolso do colete é que vinha a moedinha: um tostão ou duzentos réis. Eu saía contente tendo em mãos o que julgava o mais rico presente. Os anos foram passando, e pelo meu aniversário, papai sempre perguntava: - Você ganhou uma caixinha, um vidrinho e um dinheiro? Sempre ganhava, quando faltava um ele completava. Os anos passam velozmente, e ainda hoje, velhinho, com um sorriso brejeiro, me pergunta: Recebestes uma caixinha? Um vidrinho? Ou um dinheiro? (N.J.: Poesia recitada de memória pela entrevistada).
Havia ensino religioso na escola?
Nós saíamos da sala de aula e ficávamos no pátio. Era dada essa liberdade de escolha. Um fato muito interessante foi o comentário de uma professora, que gostava muito de nós, ela dizia: “-É uma pena que vocês sejam protestantes!”. Em outra ocasião o diretor chamou algumas alunas á diretoria, quando olhei eram todas evangélicas, além de uma espírita. Estranhei a situação. Ele disse: “-Essa escola está sofrendo a ação de alunos que querem fazer greve, bagunçar com o colégio. Mas eu notei que neste grupo aqui eu posso confiar, e nós vamos fazer uma campanha de moralização da escola”. Ele era católico. Não houve discriminação religiosa.
Como era o uniforme da escola?
Era uma saia azul marinho, pregueada, plissada, blusa branca com o emblema do colégio, meia de cor branca, sapatos pretos. No grupo usávamos o laço de fita no cabelo. Era aquele bendito laço de fita enorme.
O pai da senhora trabalhou como médico durante o período de alguma epidemia em São Paulo?
Como médico ele trabalhou muito durante a gripe espanhola que grassou pela cidade. E na Revolução de 1932 ele trabalhou muito, mesmo não tendo ido á frente de batalha. Como éramos pequenos fomos com a minha mãe para a casa de familiares em Bauru.
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