domingo, abril 26, 2009

OSMAIR FUNES NOCETE

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista joaonassif@gmail.com
Sábado,25 de abri de 2009
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://www.tribunatp.com.br/
http://www.teleresponde.com.br/ http://blognassif.blogspot.com/


ENTREVISTADO: OSMAIR FUNES NOCETE


Com um custo estimado em 10 bilhões de dólares, o trem bala que fará o percurso entre Rio de Janeiro e São Paulo, com extensão até Campinas retoma um assunto que gera ferrenhas discussões: o transporte ferroviário no Brasil. Com o estabelecimento das concessões ferroviárias, cujos prazos atingem até 50 anos, desapareceu o trem de passageiros, a malha ferroviária está a serviço do transporte de cargas. O valor a ser aplicado na construção do trem bala se aplicado na construção de ferrovias convencionais, considerando o valor de 1 milhão de dólares por quilometro permitiria a construção de 10.000 quilômetros de ferrovia em todo o país. Percebe-se claramente que recursos não faltam, o que se têm pela frente são decisões de cunho político. Vivemos tempos de internet de alta velocidade, quando já são realizados testes para a transmissão por fios de energia elétrica, onde qualquer tomada de luz poderá passar a ser um ponto de conexão com o mundo, com alta velocidade, muito acima das utilizadas até o momento. Em meio a essa verdadeira panacéia fazemos uma incursão ao passado recente. Uma figura quase extinta das nossas lembranças é o telegrafista. A chegada de um telegrama era um acontecimento. Fechamento de negócios. Notícias familiares. Tudo que era de extrema urgência tinha no telegrama o seu instrumento maior. Até então a telefonia era precária, era muito comum ir e voltar á São Paulo em um tempo menor do que conseguir uma ligação telefônica para o mesmo local. Isso em uma época de estradas e veículos com tecnologia muito inferiores a atual. Osmair Funes Nocete é ferroviário aposentado e filho de ferroviário, iniciou trabalhando como telegrafista chegando a ser Chefe de Estação. É ele quem proporciona uma rápida lembrança da realidade que já pertence ao passado. Nascido em Rio das Pedras, em 31 de dezembro de 1938, filho de Francisco Funes Fernandes e Laura Nocete, descendentes de espanhóis.
O seu pai, Francisco Funes Fernandes trabalhava na ferrovia?
Ele era funcionário da Estrada de Ferro Sorocabana, trabalhava na via permanente, responsável pela conservação da linha do trem. Seu ingresso na empresa deu-se quando ele tinha aproximadamente 25 anos de idade. O ramal da Sorocabana vinha de São Pedro e ia até Itaici. Em Itaici existia a escolinha de telegrafistas. Havia o entroncamento, o trem que vinha de Piracicaba seguia para Jundiaí. O trem que vinha de Mairinque ia para Campinas.
Em Jundiaí, assim como em quase todas as outras estações havia vendedores de produtos alimentícios?
O trem parava, havia os vendedores de biscoito de polvilho, um cone de papel com amendoim salgado dentro, uva, figo. Na região de Jundiaí já havia a produção de figos e uvas.
Seus primeiros estudos foram feitos onde?
Cursei a escola primária em uma localidade denominada Chave do Barão, não restou mais nada das construções da época nessa localidade, era o que chamávamos de Turma de Conserva, havia umas cinco casas construídas no local. Indo pela estrada que liga Rio das Pedras á Mombuca próximo á Fazenda Lageado ficava a Chave do Barão. Ali moravam o feitor, o encarregado e os trabalhadores. Meu pai era o encarregado. Moravam cinco famílias, cada um em uma casa. As casas eram de alvenaria. Era composta por: sala, dois quartos e cozinha. O banheiro ficava na área externa da casa, ainda no sistema de fossa séptica. Havia dois poços de água em frente ás casas. Fazíamos o primário lá. Lembro-me do nome de uma professora: Elza Moura Barbosa. O quarto ano primário era feito em Mombuca, nós íamos de trem, como era filho de ferroviário tinha o passe livre para viajar pelo trem. Uma das minhas professoras nessa escola foi Dona Nair. Ela era da família Siqueira que tinha uma loja de ferragens na Rua Governador Pedro de Toledo esquina com a Rua XV de Novembro, a Casa Siqueira. Quando eu mudei para Piracicaba já tinha 13 anos de idade. Passei a minha infância entre Rio das Pedras e Mombuca.
Você ainda pequeno já ajudava nos afazeres domésticos?
Eu era criança, punha o bigolo nas costas, com dois baldes pequenos, um de cada lado e ia buscar água na bica.
O que era bigolo?
Era um pau, á semelhança de um cabo de enxada, com um prego em cada extremidade, para evitar que o balde caísse, um balde equilibrava o outro, fazia o contrapeso.
A linha de trem exigia uma área lateral a ser preservada ao longo do seu trajeto. Quantos metros eram reservados para a linha de trem?
A faixa da Companhia é de 15 metros de cada lado da linha do trem. Isso era de acordo com o regimento.
Porque ao longo da linha, junto aos trilhos, havia a plantação de erva-cidreira?
Era para retenção de aterro, contenção de erosão. E evitava a invasão do mato sobre a linha de trem. Lembro-me do tempo em que os dormentes eram assentados diretamente sobre a terra. Depois fizeram o que foi denominado de empedramento, foram colocadas pedras na linha. O dormente passou a ficar sobre a pedra, e quando chovia a água infiltrava através das pedras. Chamávamos isso de deixar a linha “laqueada”. Funcionava como um dreno evitando o apodrecimento do dormente.
Qual tipo de madeira que era utilizada para fazer os dormentes?
Ultimamente era o eucalipto. Mas houve uma época em que era utilizada madeira de lei. Naquele tempo havia abundancia. A madeira já vinha prontinha, na forma de dormente, para ser colocada no leito da linha.
A furação para fixação da linha junto ao dormente como era feita?
Furavam na verruma, um trabalho manual. Tinha vários tipos de prego. Um modelo era fixado mediante golpes de marreta. Tinha um que nós chamávamos de tirefon, esse utilizava rosca para ser parafusado no dormente.
Qual era a bitola da Sorocabana?
Era a bitola de 1 metro, bitola métrica. A Companhia Paulista era de 1,60 metros. Não existia um acordo entre as ferrovias. A bitola de 1 metro leva desvantagem, não pode andar a mais de 80 quilômetros por hora. Quando passou a ser Fepasa, em Campinas havia um guindáste que retirava o vagão da bitola estreita e punha em cima da bitola larga. Quando houve a fusão entre a Sorocabana e a Paulista, aqui em Piracicaba para tirar o trem de dentro da cidade na Água Branca foi feita uma ligação com a Companhia Paulista. Na ocasião eu trabalhava na Estação da Paulista.
Você começou a trabalhar como telegrafista com que idade?
Eu comecei a trabalhar de fato em 1958. Fui trabalhar em Pedro Barros, próximo a Juquiá. Eu estava completando 18 anos, já tinha feito o curso de dois anos para exercer a função de telegrafista.
Você conheceu o Rancho Alegre, em Piracicaba?
Funcionava como um buffet. Cheguei a trabalhar lá como ajudante de confeiteiro. Eu tinha uns 14 anos. A proprietária era a Dona Joaninha. Trabalhei como ajudante de padeiro na Padaria Di Giacomo, na esquina da Catedral onde está hoje um supermercado. O forno era a lenha, nós ficávamos enrolando os pãezinhos. Era tudo feito no braço. Padeiro não tinha pelos no braço. Tinha o filão também conhecido por bengala. Havia outros tipos de pão como o filãozinho, pão italiano, pão trançado. Eu ficava a noite inteira trabalhando, e ainda, como ajudante eu fazia o café para todos tomarem a noite. Um café com pãozinho feito na hora é uma delicia. Nessa época eu praticava telegrafo durante o dia e fazia bico na padaria.
Você tinha linha aberta de telégrafo para praticar?
Praticávamos na linha intermediária. Havia uma que se comunicava de Piracicaba até São Pedro. Outra linha intermediária que se comunicava com Rio das Pedras. Havia duas linhas exclusivas com São Paulo, nessas linhas nós não interferíamos.
Havia diversos aparelhos de telégrafos na mesma sala, o som de um não atrapalhava o outro?
Não! Cada um encostava-se ao seu telegrafo e tinha que ficar concentrado nele.
O primeiro local que você passou a trabalhar como telegrafista foi onde?
Foi em Pedro Barros, no dia 5 de agosto de 1958. Éramos dois telegrafistas, eu e o Saccaro de Rio das Pedras. A cidade mais próxima era Miracatu. Para chegar lá era só pela ferrovia, levava um dia para chegar. Para vir a Piracicaba tinha que acumular as folgas, isso porque era um dia para vir e mais um dia para voltar. Na época em São Paulo não havia estação rodoviária. Cada empresa de ônibus tinha uma agencia na cidade. A Estrada de Ferro Sorocabana fornecia em Pedro Barros um quartinho para usar como dormitório, só que a comida nós tínhamos que nos virarmos para prover. Era um quartinho de madeira, fazia um calor tremendo.
Você usava uniforme?
Na Sorocabana não usávamos uniforme. O traje exigia o uso de gravata, e a companhia mandava um quepe em que estava escrito telegrafista.
Havia uma cooperativa para fazer as compras de consumo doméstico?
A cooperativa ficava em Itu ou São Vicente. Só quando era solteiro não comprava. Era um sistema semelhante ao cartão de crédito hoje, só que era feito através de uma caderneta, onde marcávamos os produtos que queríamos e ao final do mês vinha descontado no pagamento. O trem trazia as encomendas, vinha em um saco branco.
Quanto tempo você permaneceu em Pedro Barros?
Fiquei por um ano. Depois disso pedi a minha transferência e o único lugar disponível era Acaraú. Em Pedro Barros já havia certa infra-estrutura. Acaraú não tinha energia elétrica, só tinha água que caia da serra e era depositada em um tanque. Tinha a estação, a casa do mestre de linha, um barracão de madeira meio caindo, e duas casas de madeira dos portadores. Eu comia pão com banana. Comi muito pão com banana. Acaraú era denominado de Quartel General dos Borrachudos. Permaneci ali por 4 anos. Até hoje tenho sonhos com esse local, na verdade quase verdadeiros pesadelos! Uma curiosidade topográfica. A Via Anchieta tem de aclive sete por cento. A Estrada de Ferro Sorocabana, de Evangelista até Gaspar Ricardo tem quatro por cento de aclive. Tanto que a locomotiva subia com 350 toneladas. De Mairinque até Santos existem 32 túneis. Isso foi construído em 1932, projetado para linha dupla até Samaritá e para eletrificação. Quando sai de Acaraú estavam terminando a eletrificação. Quando mudou para a Fepasa tudo virou sucata.
Como era o apelido do aparelho de telegrafo simples?
Era Pica-Pau. Por causa do barulho semelhante ao que a ave faz com seu bico. É um aparelho de origem inglesa. O espanholete ou cabeça de cavalo era assim denominado por ter duas teclas.
O que é staff?
São bastões de ferro, integrados a uma argola de couro, para facilitar a entrega ao maquinista. O bastão é engatado embaixo. Em Acaraú o trem passava a 40 quilômetros por hora, ele pegava o staff de Acaraú e deixava o dele em um arco na entrada. Em Nova Odessa o trem passava em alta velocidade e eles jogavam o staff no chão da estação. O maquinista pegava no braço o staff da estação.
Você permaneceu como telegrafista até quando?
Até quando foram unificadas as ferrovias, passando a serem denominadas de Fepasa. Nessa época o meu cargo passou a ser denominado auxiliar de estação. A função era a mesma. Havia uma devoção do funcionário para com a empresa, e na época sentíamos que uma grande injustiça estava sendo feita com os funcionários, que sentiam orgulho em trabalhar em uma ferrovia. Nosso salário não era reajustado de acordo com os índices econômicos. Nas minhas horas de folga passei a trabalhar como taxista para complementar o meu salário. Tinha um amigo, o José Segredo, trabalhávamos de forma alternada com o táxi. A cada noite um trabalhava com o táxi. Fazíamos ponto ali na Rua XV de Novembro com a Avenida Armando Salles. Chamava-se Ponto Santa Clara, mas era conhecido como Ponto Guerra, ficava de frente para o Supermercado Guerra, onde mais tarde funcionou a Márcia Pisos.
Quantos anos você trabalhou como telegrafista?
Permaneci por 15 anos. Na época tudo era feito por telegramas. Telegramas de aniversários, negócios. Em Pedro Barros tinha diversos bananicultores, quando Santos mandava um telegrama mandando carregar frutas, já sabíamos o teor do telegrama. O texto era: “Confirmo carregamento 800 cachos banana exportação embarque vapor Ana Maru Santos dia (dava até o dia)”. Lembro-me até hoje Eram exportadas muita banana por lá. Eram dois a três trens por dia. Quando falavam o nome de um bananicultor já sabíamos que era para carregar banana.
Como era cobrado o telegrama?
Era cobrado por palavras. Mais do que 25 caracteres cobravam-se como duas palavras.




quinta-feira, abril 23, 2009


Fernando Lugo Méndez, atual presidente do Paraguai, ex-bispo que se tornou político proeminente da chamada "esquerda" de nosso continente, é daqueles personagens latino-americanos que cabem com perfeição na literatura de Gabriel Garcia Marquéz. O primeiro mandatário do Paraguai é conhecido pelas suas bravatas sobre a exploração que o Brasil impõe ao pobre país por meio da Hidrelétrica de Itaipu, além das clássicas idéias sobre a exploração capitalista do ser humano. Todavia, o que o ex-bispo gosta mesmo é daqueles amores noturnos com as moças pobres de seu rebanho religioso. É certo que teve um filho (agora reconhecido) de Viviana Carillo há cerca de dois anos "depois de uma longa relação". Vejam só ! Agora aparece uma pobre senhora, Benigna Leguizamón, de 27 anos, que alega ter um filho com o bispo-galã Lugo de 57 anos. As mulheres indignadas de seu gabinete clamam ao presidente que faça um exame de DNA. Ou será um vexame de DNA ? Não consta que as indignadas tenham renunciado a seus cargos junto ao presidente-bispo e galã. No romance Del amor y otros demonios, Gabriel Garcia Marquéz conta-nos sobre Sierva Maria Todos los Ángeles, uma menina abandonada por sua família e criada entre os escravos. Mordida por um cachorro raivoso, lá pelas tantas e depois de várias tentativas de tratamento, é internada num convento passando a receber a generosa ajuda do Padre Cayetano Delaura. Tentado "pelas coisas do demônio" aquele obrero de Dios torna-se um caliente apaixonado. Ah ! O amor ! Tudo isto (em Marquéz) se passa 200 anos atrás, mas poderia ser reescrito em terras paraguaias por estes tempos.


domingo, abril 19, 2009

DIA DO EXÉRCITO BRASILEIRO - 19 DE ABRIL

Passados 361 anos do nascimento do Exército Brasileiro, encontramo-nos novamente perfilados para, uma vez mais, reverenciar atos heróicos de brasileiros que, em 1648, nos Montes Guararapes, reagiram à ocupação estrangeira. Coragem e sangue, audácia e determinação conduziram irmãos de três raças a alcançar a vitória sobre o invasor com o mesmo sentimento de brasilidade que até hoje tem caracterizado toda a história de nosso Exército. Ao longo desses séculos, consolidando a Independência, pacificando províncias, defendendo o território, fortalecendo a república e lutando pelos ideais de liberdade em solo europeu, a gente de nossa terra envergou a farda que tanto nos honra para, sob o manto dessa “segunda pele que adere à alma”, fazer do Brasil o país forte e soberano onde hoje vivemos. Cultuar-lhes a memória é continuar-lhes os feitos. Embora nos felicitemos por identificar hoje apenas nações amigas em
nosso entorno estratégico, o Exército Brasileiro, como força armada, permanece esteio e segurança de nossos cidadãos e, além disso, presta solidariedade a outros povos com uma ativa
participação em operações de paz. A observância da destinação constitucional, o apego à legalidade, a elevada motivação e o acendrado compromisso com a Pátria permanecem inalterados na Instituição, a despeito de dificuldades de diferentes naturezas. Nos dias atuais, em que a Estratégia Nacional de Defesa reconhece a imperiosa necessidade de o Estado Brasileiro dar maior atenção à sua defesa, projetos de grande envergadura norteiam a evolução da Força Terrestre. Amazônia Protegida, Mobilidade Estratégica e Combatente Brasileiro do Futuro, entre outros, são projetos que têm por objetivo dotar a Instituição das capacidades que a Nação requer e que você, Soldado Brasileiro, deseja de longa data. Trabalhemos todos por dar-lhes consecução. A nossa Força supera obstáculos, conquista objetivos e mantém-se em estado de prontidão graças, principalmente, ao valor de sua gente. Olhar altivo, vontade inquebrantável, culto à verdade, ética, disciplina e intenso amor pelo Brasil são marcas da alma verde-oliva. O Exército é credor da confiança e do respeito da sociedade a que serve. Jamais abriremos mão dessa conquista. Somos, realmente, “da Pátria a guarda, fiéis soldados, por ela amados”.
Homenagear o Exército Brasileiro no dia de seu aniversário é cumprimentar você, homem e mulher, fardado e civil, da ativa e da reserva por uma vida de renúncia e dedicação integral ao
serviço da Pátria. Fomos, somos e seremos sempre pelo Brasil, acima de tudo!

General-de-Exército Enzo Martins Peri
Comandante do Exército

BARÇO FORTE...
... MÃO AMIGA





sábado, abril 18, 2009


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS JOÃO UMBERTO NASSIF Jornalista e Radialista joaonassif@gmail.com
Sábado, 17 de abril de 2009
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
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ENTREVISTADA: OZAIDE TRIMER

A forma pausada de se expressar, com um português impecável, revela o seu grau de cultura. Objetiva nas respostas, embora saiba relevar até o tolerável o que nem sempre a agrada. Pode-se dizer que Ozaide Trimer é constituída de uma personalidade forjada não só pela genética como pelos seus desafios, que os vencendo de uma forma arrojada, externa um pouco do infinito limite da capacidade humana. Filha de Alfredo Trimer, nascido em 13 de setembro de 1913 e Paschoa Graviol Trimer nascida em 4 de abril de 1915, ambos já falecidos, Ozaide partilha com os irmãos Orivaldo, Oveida, Odila, Oraide e Odacir Alfredo a epopéia de uma família a quem o trabalho sempre foi uma constante e a dignidade e honra considerados como valores sagrados. Onde hoje se situa o Carrefour foi anteriormente uma área denominada Chácara Morato. É possível ver acima dos muros do estacionamento, parte de uma casa de construção centenária. Era a sede da fazenda. Uma construção ao lado era a casa onde Alfredo Trimer e sua família, moravam e cuidavam da propriedade. As lembranças de Ozaide ajudam a recompor esse importante marco da cidade de Piracicaba.
Seu pai é brasileiro?
Meu pai nasceu no Brasil, na cidade de Nova Odessa, um local onde moravam muitos russos e letos. Minha mãe nasceu no município de Santa Bárbara D`Oeste, seus pais vieram da Itália, da região de Treviso. Meu avô paterno imigrou para o Brasil antes da revolução ocorrida na Rússia. Por muitos anos ele trabalhou na Estrada de Ferro Sorocabana.
Quando seu pai e sua mãe conheceram-se?
Minha mãe estava ajudando a minha tia, lavando roupas em um córrego. Meu pai e meu tio Rodolfo Arnaldo, passaram pelo ribeirão com uma carroça carregada de toras de madeira. Por algum motivo essas toras caíram no ribeirão e sujaram a água. Minha mãe comentou com a minha tia: “-Nossa, que dois moços bonitos!”. Em uma festa no Município de Santa Bárbara, na localidade muito conhecida, denominada Santo Antonio do Sapezeiro, meu pai e minha mãe estavam presentes. Essa festa foi em um mês de outubro. Houve resistência por parte da família da minha mãe contra esse casamento, por motivos diversos, a religião, o fato de meu pai ser descendente de russos. Minha mãe enfrentou tudo e casou-se com ele.
A primeira atividade do seu pai foi na lavoura?
Meu pai era muito trabalhador, era apontado como uma pessoa extremamente dedicada ao trabalho. Ele casou-se com 25 anos de idade. No início ele ia pelos sítios comercializando miudezas, era o que na época denominavam de frangueiros, pessoas que comercializam mercadorias tendo como base a permuta de produtos industrializados por produtos agrícolas. O termo frangueiro era uma denominação dada a todos que realizavam essa atividade por trabalharem com um carrinho de tração animal e na parte inferior do carrinho, já no lado externo, havia uma espécie de gaiola, onde as aves, frutos da negociação, eram transportadas vivas. Ele exerceu essa atividade por uns três anos. Quando o Marcelino Angolin encerrou as suas atividades no tradicional armazém situado em Caiubi, transferiu esse armazém para o meu pai. Nessa ocasião meu pai deixou de fazer o comércio como frangueiro e fixou-se no armazém. Por questões administrativas, especialmente a venda a crédito com elevada inadimplência, meu pai acabou perdendo tudo. Saímos de Caiubi com a roupa do corpo e os pertences da casa. Na época eu tinha doze anos de idade. Fomos para a Fazenda Cachoeira, ao lado do lugar hoje denominado Colinas de Piracicaba. O proprietário da fazenda era Dr. José Freitas. Permanecemos lá por 4 anos. Mudamos para uma fazenda do Dr. Virgilio Fagundes, bem na frente onde passava o trenzinho que ia para Ártemis. Plantávamos cana e cereais. O sítio onde morávamos chamava-se Canadá. Um dia meu pai encontrou-se com o Francisco Lima, que foi um vizinho nosso na Fazenda Cachoeira. O Francisco Lima disse que estava morando na Chácara Morato, e que eles estavam precisando de mais pessoas para trabalhar.

Isso foi em que ano?
Foi em 1960, quando então viemos trabalhar na Chácara Morato. Na época da Dona Cenira Conceição Morato Leme, ela era casada com o Dr. Celso Leme. Moramos por um período de 18 anos na Chácara Morato. Dona Cenira teve os filhos Dona Madelana, Dona. Cidinha, Dona. Cecília, Dona Martha e Francisco. O caminho para vir para a cidade era pelo pasto da Chácara Nazareth ou pela Rua do Porto.

Apesar da denominação de chácara qual era a área compreendida pela propriedade?
Eram 50 alqueires. Fazia divisa com Chácara Nazareth. Onde hoje é o bairro Castelinho era um pasto enorme da Chácara Nazareth. Uma coisa curiosa é que a ponte existente lá sempre foi conhecida como Ponte Francisco Morato. Um dia tive uma surpresa muito grande ao ver que essa ponte havia recebido uma nova denominação. Dr. Morato foi um homem muito influente, a cidade de São Paulo tem rua, uma ponte muito importante com o seu nome. Há até uma cidade, em sua homenagem, que é Francisco Morato.
Na Chácara do Morato havia na entrada muito bonita?
Era uma alameda formada por árvores. Ainda resta uma árvore muito bonita, situada nas imediações do Carrefour. Acho que é a árvore mais bonita da cidade. Na época da construção do supermercado, fiquei sabendo que um senhor do Bongue permaneceu embaixo dessa árvore por dias, para que não cortassem essa árvore.
A casa onde a sua família morou ainda existe?
Ela foi desmanchada quando foi vendida uma parte da área para o supermercado. A Dona Cenira era uma defensora da preservação das coisas antigas.
Uma das curiosidades existentes na época era uma sirene manual?
Era! Na passagem de ano ficávamos acordados, meu pai ia lá e tocava por um bom tempo a sirene.
Em que ano sua família mudou-se da Chácara Morato?
Saímos em 1977. Quando eu estava na chácara trabalhei na roça por muito tempo. Fiz o colegial e a universidade. Tenho o curso superior de Processamento de Dados. Cheguei a fazer estágio na Cipatel, Companhia Telefônica de Piracicaba, empresa antecessora da Telesp em Piracicaba. Permaneci por um ano lá. Em 15 de setembro de 1977 fui contratada para trabalhar como auxiliar de secretaria no Colégio Piracicabano. O Reitor era o Dr. Richard Edward Senn. Depois entrou o Professor Elias Boaventura.
Por quanto tempo você permaneceu no Instituto Piracicabano?
Por 21 anos. Em 1987 fui nomeada Secretária Chefe.
Qual era a sua função nesse cargo?
Era cuidar da parte legal, principalmente junto a Delegacia de Ensino.
Você deu um salto tão grande na sua vida!
Graças a Deus! Quando entrei era a menorzinha de todas, com o salário mais baixo. Cuidava do Arquivo. Só que sempre fui muito curiosa. Quando eu descia para ajudar as meninas, queria saber o porquê o histórico era feito daquela forma. Lá dentro eu dei um salto muito grande. Nós saímos dos históricos feitos manualmente para o feito pelo computador. Trabalhava com o Centro de Processamento de Dados que atende a universidade e ao colégio. Tinha um analista que trabalhava com o computador de grande porte e eu desenhava o formato em que deveria ser o histórico, a ficha individual, toda a documentação do aluno. Deu um trabalho muito grande para fazer. O analista de sistema queria saber o porquê de cada dado ser colocado de determinada forma. Ocorre que existe uma legislação a respeito e que tem que ser obedecida de forma rigorosa. Sair de um sistema totalmente manual, escrito a tinta, onde não podia ter erro. Quando eu cheguei era utilizada a caneta tinteiro. Para a correção de algum erro foram sendo inventadas formas de apagar os possíveis erros cometidos. Misturavam a água com água sanitária, até chegarem a uma combinação ideal das duas substâncias, de tal forma que o erro era apagado. Só que não podia ser escrito em cima no mesmo dia, tinha que esperar uma semana para secar bem e depois podia escrever sem problema nenhum. Aquilo era um segredo das meninas da secretaria!
Você realizou um trabalho de integração de arquivo de alunos?
Para cada curso que um aluno realizava havia uma pasta independente, consegui unificar tudo em uma pasta só. O período de trabalho era de oito horas. Nos finais de ano o período de trabalho se estendia para 12, 13, 14 horas. Depois que assumi o cargo de Secretaria Geral eu fazia o cerimonial de formatura. Havia um programa, um protocolo bastante rígido.
Você teve câncer?
Tive na mama direita. Tirei um nódulo aqui em Piracicaba. Passei a fazer tratamento na Unicamp, fiz mastectomia total, usando a técnica do Dr. José Aristodemus Pinotti, o médico faz a transposição do tecido da barriga para o seio, no mesmo dia. Eu ia para Campinas fazer radioterapia e quimioterapia. Fiquei por seis meses, afastada do trabalho. Após esse período voltei a trabalhar, isso foi em 1987.
Você aposentou-se quando?
Em 1998. No último dia em trabalhei lá fizeram uma festa com muitas flores e presentes.
Você passou a buscar novas atividades?
Eu acalentava um sonho desde criança: viajar. Sempre tive uma vida bastante regrada, a minha remuneração era dentro de um orçamento modesto. Minha amiga Mercedes Vecchini convidou-me para ir para Rodeio, em Santa Catarina, porque os tiroleses participam de uma festa existente lá. Eu disse-lhe que não gostava de rodeio. Ela então me disse que esse era o nome da cidade! Fiquei sabendo que ela tinha viajado anteriormente para Austrália e Nova Zelândia. Fiquei curiosa em saber como ela tinha realizado essas viagens. Foi então que ela me disse que fazia parte da Friendship Force Internacional (Força da Amizade Internacional) e foi contando como funciona. É uma Organização Não-governamental que tem por objetivo promover amizade entre os povos através de intercâmbios, onde os visitantes são hospedados em casas particulares durante uma semana, participando da vida e cultura local. Ela disse-me que havia vaga para a Alemanha e Hungria. Era isso que eu queria! Nesse meio tempo veio para o Brasil um grupo de americanos. E eu acabei hospedando uma senhora do Estado de Nova Iorque, Miss Mayblin. Ela ficou em casa.
Em que língua vocês se entenderam?
Eu usava mais os gestos para fazer me entender! A Friendship tem esse lema: não é obrigatório o uso do inglês. O mais importante é a linguagem do coração. Saber receber, acolher, a pessoa fica uma semana na sua casa. Existe uma programação pré-estabelecida.
A Miss Mayblin ao chegar a Piracicaba desceu onde?
Foi no Jornal de Piracicaba. Sempre a Dra. Antonieta Rosalina da Cunha Losso Pedroso tem o costume de oferecer o café da manhã aos membros do Friendship quando chegam a Piracicaba. Inclusive ela participa da Friendship Force Internacional. De lá trouxe Miss Mayblin para a minha casa. O lema desses intercâmbios não é de cunho turístico, e sim de amizade entre os povos, e através dessa amizade chegar a um mundo de paz.
Ela achou a comida muito diferente?
Existe uma orientação para não procurar oferecer alimentos com as características da terra do visitante, e sim o que nós temos aqui.
Qual é a impressão que o estrangeiro tem da cidade de Piracicaba?
Eles acham lindo! O Rio de Piracicaba, a Rua do Porto, adoram comer pastel no Mercado Municipal. Vamos com eles na Agronomia. Uma americana que conheceu a Unimep ficou fascinada, achou própria de um país muito avançado.
E o caldo de cana faz sucesso?
Aqueles que levamos para visitar o Lar dos Velhinhos acham lindo demais, muito avançado. Houve o caso de uma americana, portadora de diabetes, que na volta do passeio ao Lar dos Velhinhos, já na Avenida Beira Rio, paramos em um trailer que fazia garapa, ela com diabetes e tudo tomou nem quantos copos! Essa se chamava Jim, com 81 anos de idade. A Mercedes estava hospedando uma outra americana. Nos as levamos para comer pastel na Rua do Porto, elas tinha uma adoração por pastel. As duas sentaram e passaram a ficar olhando o Rio Piracicaba por um longo tempo.
E caipirinha?
Eles tomam e gostam. Sempre fazemos um almoço na Rua do Porto, acompanhada de peixe.
E a reação deles no Mercado com relação a frutas como é?
Principalmente os americanos, eles ficam doidos por mamão, que denominam de papaia.
Quantos países você conhece?
Fui para a Alemanha duas vezes, Hungria uma vez, fui duas vezes aos Estados Unidos, para a Costa Rica fui duas vezes, para o Canadá, África do Sul, no México fomos a um restaurante no 47º andar, é um restaurante giratório. Percebe-se que está girando pelos edifícios que estão á vista. Fomos á viagens dos sonhos nas Montanhas Rochosas no Canadá. Fui para Itália. Estive em Cuba, eu adorei. Não cheguei a ver Fidel Castro. Em agosto do ano passado fomos á Terra Santa, começamos a viagem pelo Egito, Frei Augusto foi nosso guia espiritual.
Você foi ao muro das lamentações?
Fui! Coloquei o papelzinho no muro! Conheci a entrada do Monte Sinai.
Precisa ser rico para fazer essas viagens?
Não! É preciso apenas pagar uma taxa, ficamos hospedados em casas de família. Essas viagens não têm nada de luxo. Eu sou caipira, me orgulho de ser caipira, trabalhei na roça, não recebi herança nenhuma. Cortei cana, carreguei até lenha em caminhão. Ia descarregar lá nas olarias da Água Branca. Hoje conheço o mundo.



sexta-feira, abril 17, 2009



PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS JOÃO UMBERTO NASSIF Jornalista e Radialista joaonassif@gmail.com
Sábado, 08 de abril de 2009
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
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ENTREVISTADO: AMADEU GOMES DOMINGUES





Em um prédio situado na esquina da Rua XV de Novembro e Rua do Rosário, uma faixa dependurada, com os dizeres “Vende-se”, parece uma página a ser virada na história recente de Piracicaba. Ao lado do “Dispensário dos Pobres” também conhecido como “Pensionato das Freiras”, onde dezenas de moças pensionistas, ali viveram durante o período de seus estudos em cursos universitários de Piracicaba. Por muitas décadas um estabelecimento comercial, de proporções físicas diminutas, foi para muitos o local que atendeu as urgências de complementos culinários e domésticos para as referidas pensionistas. Ao lado esquerdo do armazém, o Condomínio Vargas abrigava um grande número de “repúblicas” de estudantes. Profissionais de elevada competência, espalhados nos mais distantes rincões, quando ainda estudantes residiram ali, estabeleceram animados diálogos regados á deliciosa cerveja servida “no ponto”, no Bar da Rosário. Mais do que ingerir o líquido, havia a companhia de amigos, companheiros de jornada, muitos sonhando com o futuro, traçando planos. Aquele armazém além de servir gêneros próprios da sua atividade é uma fábrica de sonhos e de esperança. Em cada detalhe, parece que o tempo foi congelado. O ladrilho hidráulico, hoje bastante raro, a geladeira revestida de fórmica de um tom avermelhado, como era a moda da época. O que destoa do ambiente é a presença do proprietário que transmite uma energia simpática e autoritária, de alguém que foi talhado para atuar nesse ramo de atividade. Amadeu Gomes Domingues, aos 69 anos de idade, nasceu em 28 de novembro de 1939 é o proprietário desse armazém desde 9 de fevereiro de 1982.
Como o senhor passou a ser comerciante?
O meu trabalho anterior era na Itelpa. Uma indústria que fabrica telas para a indústria de papel. Trabalhei lá por 22 anos. Comecei a trabalhar em fevereiro de 1958, quando a Itelpa situava-se na Rua Moraes Barros esquina com a Avenida Armando Salles de Oliveira. Em 1969 ela transferiu-se para a localidade onde está situada até hoje, na rodovia que vai de Piracicaba á Tupi. Eu comecei a trabalhar na Itelpa quando tinha 18 anos de idade e sai com 40 anos. Antes eu trabalhei em uma indústria situada na Vila Rezende, era uma tecelagem de seda, chamava-se Suceda, trabalhei lá no período de 1955 até 1957, comecei a trabalhar lá com 14 anos de idade. Eu trabalhava no setor de estamparia, estampávamos o tecido. Na época eu morava no local denominado Morro do Enxofre, na Rua da Colônia, 132.
Como se chamavam seus pais?
Meu pai chamava-se Ricardo Gomes Domingues e a minha mãe Josefa Anhão Rando Gomes. Ambos vieram da Espanha, papai com 18 anos e mamãe com 11 anos de idade. Conheceram-se aqui na região de Piracicaba, naquela época havia as fazendas de café. A propaganda feita na Europa incentivou a vinda de muitos espanhóis para o Brasil. Meus pais desembarcaram em Santos, depois rumaram para São Paulo, onde ficaram na Hospedaria dos Imigrantes. Lá eram estabelecidos os contatos com emissários de fazendeiros, onde de forma fantasiosa arregimentavam os novos colonos, que na verdade vinham para substituir a mão de obra escrava dos negros libertos recentemente. Meus pais moraram no Bairro da Floresta, depois se casaram e se mudaram para Santa Maria da Serra. Isso já foi em uma fase em que tinham superado as imensas dificuldades sofridas pela família, desde a chegada ao Brasil. Mais tarde voltaram para Piracicaba e passaram a morar na Rua da Colônia. Meus pais tiveram oito filhos: Ricardo, Amadeu, Mercedes, Nelson, Maria, José, Josefa.
Onde ficava a primeira empresa em que o senhor trabalhou?
A Suceda ficava em frente ao Dedini. Para ir trabalhar tinha que pegar o primeiro bonde. Ás cinco e meia da manhã desciam os três bondes: o da Vila Rezende era o primeiro que descia, o segundo era o da Agronomia e o terceiro era o da Paulista. A garagem dos bondes era na Avenida Dr. Paulo de Moraes, próxima ao antigo Corpo de Bombeiros. Eu tinha que pegar o primeiro bonde para não pagar duas passagens. E se perdesse o primeiro bonde, teria que esperar o bonde voltar da Vila Rezende. Ou ir a pé do centro até a Suceda. Entrava ás sete horas da manhã e saia ás cinco horas da tarde, com intervalo de duas horas para o almoço. Naquele tempo levávamos a marmita. Eu trabalhava na estamparia. O tecido era estampado á mão, quadro a quadro. Um tecido com cinco cores usava cinco quadros como, por exemplo: branco, verde, preto, vermelho, amarelo. Os desenhos eram sobrepostos. Esticava-se o tecido em uma mesa com uns trinta metros de comprimento, almofadada, essa peça era colocada sobre a mesa, poderia ser popeline, seda. Ficava uma moça de cada lado com os quadros, e iam passando-se os quadros na seqüência. Tinha estampas que levavam duas cores, outras levavam quatro. Dali ia para uma máquina chamada vaporizador para fixar essa tinta no tecido. Em seguida ia para a lavanderia e para a embalagem.
Como o senhor ingressou na Itelpa?
Eu completei 18 anos, e nessa época a Suceda estava em declínio. Eu tinha um tio que trabalhava na Itelpa e me indicou para trabalhar lá. Entrei em 1958, já em 1961 eu tinha passado de ajudante a tecelão e fazia urdições, que é o começo da tela, do tecido. Na época o tecido era feito em bronze ou em aço inox também. Por volta de 1968 a 1970 essa tela passou a ser feita em fio sintético. O bronze era muito caro e dava muito problema. A matriz da Itelpa ficava na Alemanha. Em 1961 a Itelpa comprou uma empresa em Buenos Aires. Éramos cinco pessoas de Piracicaba que fomos para ensinar o pessoal de Buenos Aires a trabalhar com os teares. Permaneci lá por três anos.
Na época o senhor era solteiro?
Era. Tinha 22 anos. Tive contato com a cultura argentina. A cada seis meses eu tinha direito a uma viagem para o Brasil, onde permanecia por 15 dias. Realizei essas viagens de avião, com exceção de uma que fui de navio para Buenos Aires, para levar uma máquina.
Buenos Aires traz lembranças de bons vinhos, carnes?
Já se passaram quarenta e poucos anos. Mas lembro-me de que éramos muito bem servidos com carnes, pão, massas. Mesmo porque a nossa alimentação era feita exclusivamente em restaurantes, pagos pela empresa. Eu não era muito ligado a esporte, tinha vindo do interior, não tinha muito conhecimento de esportes. Nessa época Pelé estava muito em evidencia. Coutinho que era de Piracicaba, também estava em evidencia. Os argentinos tinham muita curiosidade em saber sobre Pelé. Eu não tinha muitos subsídios para poder responder a todas as questões que me faziam. Procurava sempre me informar para matar a curiosidade deles. Um dos diretores da empresa argentina era muito esportista. Coincidiu que o Santos foi fazer uma excursão por lá, levando Pelé, Coutinho. Fomos assistir a uma partida no campo do River Plate, que fica em Nuñes, um bairro muito bonito de Buenos Aires, e o Santos ganhou de 8X2. Só Pelé marcou 5 gols, Coutinho marcou mais 2. No outro dia na fábrica, os argentinos nos aclamavam. Eu cheguei a ser sócio do Racing Club. Nós estávamos hospedados no Lafayette Hotel na Calle Constitucion, um dos diretores do hotel nos tornou sócios do Racing, o que nos dava uma série de vantagens, como piscina, a dançar o tango, que foi uma das coisas que não consegui aprender a dançar com perfeição. O tango bem dançado é difícil!
Como as moças argentinas o viam?
Não sei se era pelo fato de estarmos trabalhando em uma empresa como a nossa, e desfrutarmos de uma boa condição de vida, tínhamos facilidade em conquistarmos as moças argentinas. Só que na época era um país muito distante. Hoje com o avanço dos meios de transportes tornou-se um país de mais fácil acesso. Na época usávamos a Varig, Alitália, Lufftansa, para voar.
O senhor chegou a manter um namoro firme com alguma argentina?
Quase cheguei a casar! Namorei a moça por cerca de um ano. Freqüentei a casa da moça. Ela morava bem próxima á fábrica onde trabalhávamos.
O senhor ia almoçar aos domingos na casa dela?
Fui algumas vezes. Era servido churrasco, o argentino come muita carne. Eu me dava muito bem com o pai da moça, ele trazia um vinho, é um habito deles, oferecer o melhor vinho ao visitante. Só que no fim não deu certo. Ela era muito apegada á família dela, eu sou muito apegado a minha família. Fui muito claro com ela, disse-lhe que se nós chegássemos a casar e vir embora para o Brasil, seria muito difícil ela ver a família dela. Isso se tornou um empecilho para que continuássemos nosso relacionamento.
O senhor casou-se no Brasil?
Casei-me em 21 de janeiro de 1967 com Regina Passarelli Gomes na Igreja do Bom Jesus, tendo Monsenhor Martinho Salgot como celebrante. A festa foi na casa dela, fizemos um “empalizado”nós fomos cortar bambu na fazenda do pai dela em Santa Maria da Serra, fizemos o empalizado, com o encerado cobrindo, choveu muito naquela noite, mas deu uma bela de uma festa. Isso foi na Rua Bom Jesus, 1417.
O senhor chegou a voltar para a Argentina depois de casado?
Voltei para a Argentina, de carro, com a minha esposa grávida e um filho de três anos. Isso foi em 1973, no primeiro ano em que surgiram as férias de 30 dias na indústria. Eu tinha comprado um Fusca ano 1970, branco, 1200cc, e fomos para Buenos Aires. Levamos seis dias de viagem. Permanecemos um dia em Florianópolis, onde morava uma prima da minha esposa. Na Argentina ficamos por volta de vinte dias na casa de amigos que foram colegas na empresa.
O senhor permaneceu na Itelpa até que ano?
Até agosto de 1980. Foi quando fiz um acordo com a empresa, de empregado estável para empregado novo. Após 90 dias fui demitido. Meu último cargo foi de Inspetor de Qualidade da Divisão Telas. Recebi todos os meus direitos. Trabalhei por um período de um ano e meio na Cicobra, na Avenida Armando Salles.
Como o senhor entrou em um ramo totalmente diferente, que é esse em que o senhor trabalha hoje?
Eu tinha um cunhado que tinha um bar na Rua XV, e descobri que o antigo proprietário deste estabelecimento, o Sr. Antonio Granzotto estava querendo vender. O prédio era alugado, assim como eu também pago aluguel.
Qual foi o impacto que o senhor teve no primeiro dia já como proprietário?
Foi difícil! Eu não entendia nada! O antigo dono permaneceu por uns 15 dias me acompanhando. Comecei a pegar o jeito da coisa e segui até hoje.
Quando o senhor se estabeleceu aqui já existia o Dispensário dos Pobres?
Já! Na época em que entrei aqui o dispensário era bem atuante.
Existia também o pensionato para as moças?
Existia. O portão de acesso para as moças era fechado ás 11 horas da noite. Os pais deixavam as moças hospedadas aí com inteira segurança. Elas faziam as faculdades de odontologia ou agronomia, cada uma fazia o curso que havia escolhido. Era pensionato de moças. Namorado não entrava. Aqui ao nosso lado temos um conjunto de apartamentos chamado Conjunto Vargas, era república só de homens. Poderia até existir alguns que tivesse alguma namorada lá, mas no horário estabelecido pelo pensionato a moça tinha que se recolher.
De forma geral como era a rotina das moças que moravam no pensionato?
Elas viajavam no final de semana para as suas cidades de origem, e quando voltavam traziam alimentos congelados. Cada uma tinha o seu espaço nas geladeiras. Elas tinham que fazer a própria comida no pensionato. Ás vezes faltava alguma coisa. Elas vinham comprar aqui, por exemplo, um ovo. Outra vinha comprar uma cebola. Ou um tomate. Algumas perguntavam: “-Você vende um ovo só?”. Eu brincava, dizia que só não vendia metade porque não tinha onde cozinhar um ovo. Algumas fumavam, vinham buscar dois, três cigarros avulsos. O nome do estabelecimento é Bar da Rosário, antigamente era conhecido como “Jumbinho da Rosário” em uma alusão ao supermercado Jumbo. Era em uma época em que eu trabalhava com legumes, e diversos gêneros alimentícios.
Os rapazes se reuniam na frente do estabelecimento para tomar cerveja?
Isso era mais aos finais de semana, na sexta-feira, sábado. Naquele tempo havia umas oito mesas eles sentavam e ficavam a vontade. Havia algumas meninas que também vinha tomar cerveja. Era um número restrito de moças. Mas ficavam tomando uma cervejinha aos sábados á tarde ou na sexta-feira.
Uma pessoa muito famosa passava ás vezes por aqui?
O Sr. Eugenio Nardin, foi um grande amigo nosso. Ele era um artista muito importante. As portas da Catedral de Piracicaba foram feitas por ele. As cadeiras do altar também foram feitas por ele.
Uma figura folclórica freqüentava o estabelecimento?
O famoso Zé do Prato era nosso cliente. Ele foi casado com uma tia de uma sobrinha minha. Com isso criou-se uma amizade. O pessoal que freqüenta aqui são quase sempre os mesmos. Um que trabalhou por 22 anos na Boyes é o Oswaldo, mais conhecido como Pardal. Uma pessoa muito boa, muito conhecida. É uma pessoa muito inteligente.
Aqui é o ponto de informação da cidade?
Justamente! O que nós damos de informação! Perguntam onde é a delegacia, onde é o posto fiscal. A maioria pergunta onde é a Acipi, aonde vai “limpar” o nome. Procuram pela Guarda-Mirim.
As questões nacionais são resolvidas na mesa do Bar da Rosário?
Geralmente todos os bares têm as soluções mais perfeitas para os problemas que afligem a humanidade!
Nesse instante um freqüentador interrompe e solta a frase lapidar:
“O Bar do Amadeu é cultura!”. (Bar da Rosário ou Bar do Amadeu como é conhecido o estabelecimento pelos habitués).




quarta-feira, abril 01, 2009

DIA DA MENTIRA

O hábito de brincar com essa data é universal e vem sendo difundido há séculos. A origem das brincadeiras com esse dia é desconhecida, mas existe uma versão de que começou no século 16, com a mudança para o calendário gregoriano, que trocou a comemoração do Ano Novo para 1º de janeiro (antes comemorado entre 25 de março e 1º de abril, o primeiro dia da primavera na Europa). Consta que a troca custou a ser assimilada e quem continuava comemorando na antiga data era chamado de "bobo de abril". Essas pessoas eram vítimas de "trotes" e para elas, em 1º de abril, se contavam as maiores mentiras.

Na Inglaterra, quem "cai em 1º de abril" é chamado de noodle (pateta). Na França, de poisson d'avril (peixe de abril); na Escócia, de april gowk (tolo de abril); nos Estados Unidos, de april fool (bobo de abril). Bem, o "Dia da Mentira" certamente é uma história que não começou na nossa cultura, mas nós herdamos...




domingo, março 29, 2009

Encarnacion Marins Sturion




PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS JOÃO UMBERTO NASSIF Jornalista e Radialista joaonassif@gmail.com
Sábado, 28 de março de 2009
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
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ENTREVISTADA: Encarnacion Marins Sturion


Ela é uma das pessoas mais conhecidas e estimadas da comunidade Piracicabana. Dona Encarnação e Seu Toninho durante décadas foram proprietários de uma banca no Mercado Municipal de Piracicaba. A especialidade deles eram os famosos pastéis, folhados, salgados, sempre acompanhados de uma caçulinha, um café com leite ou um pingado. Piracicaba evoluiu, o mercado sofreu reformas em suas estruturas, mas as lembranças permanecem límpidas na memória dessa senhora que até hoje é extremamente dinâmica. Nascida em 24 de setembro de 1926, Dona Encarnação parece ainda estar no mesmo ritmo que sempre levou, de muito trabalho e disposição para viver.
Dona Encarnacion, o seu nome tem uma origem peculiar?
Encarnacion era o nome de uma moça que foi namorada do meu pai João Miguel Marins quando ele ainda morava na Espanha. Minha mãe era Henriqueta Sanches Frias. Foi muito amiga da Dona Rosa Canaan Nassif. Passavam muitas tardes juntas, conversando, lanchavam juntas. Lembro-me de Dona Rosa, que ficava sentada no estabelecimento comercial onde hoje funciona uma lotérica, na esquina das Ruas do Rosário e Avenida Dr. Edgar Conceição. Uma imagem que permaneceu na minha lembrança eram os braceletes de ouro que ela usava! A nossa casa ficava onde hoje é o Banco do Brasil da Paulista. Dessa casa saíram cinco noivas! Eu fui uma delas. Onde hoje é o Banco Itaú havia uma casa de propriedade do meu pai e que era alugada. A nossa casa tinha as portas de duas folhas, colocava-se uma cadeira segurando as duas folhas. A distração da minha mãe era conversar com a Dona Rosa e com uma outra comadre. A casa permanecia o dia todo com apenas a cadeira segurando a porta! Não era comum usar chave, cadeado nem pensar.
O pai da senhora, João Miguel Marins trabalhava em que atividade?
Ele tinha sítio no Marins. Lá se chama Bairro do Marins por causa do meu pai, do meu avô. Meu pai veio da Espanha com 17 anos de idade e minha mãe com 9 anos. Eles tiveram os filhos: Isabel, Augusta, Maria, Encarnacion, Inês, José, Adelaide. Quando papai deixou de trabalhar exclusivamente no sítio, ele ia ao Mercado Municipal, comprava produtos de excelente qualidade, juntamente com banana, feijão que vinha do nosso sítio, e vendia para as donas de casa da Rua Governador. Naquele tempo as donas de casa não tinham o habito que nós temos hoje de ir ao supermercado. Nem havia supermercado. Aqui na Paulista não tinha quase casa. Não havia calçada, eram armazéns com uns poucos sacos de cereais a granel. As compras eram marcadas em cadernetas, á lápis. Ninguém “tungava” ninguém naquele tempo.
A Avenida Madre Maria Teodora era terra nua?
Na época era conhecida como Morro do Enxofre. Quando saímos de noiva tinha uma valeta tão grande na frente da casa do meu pai, isso em decorrência das águas de chuvas, as crianças brincavam naquela água e muitas acabarem afogando-se, indo parar no bueiro lá no fim da hoje Avenida Madre Maria Teodora.
Naquela época era hábito o namoro terminar ás 10 horas da noite?
Imagine! Ás nove horas da noite minha mãe já falava: “-Menina, amanhã você tem que levantar cedo!”.
O namorado que veio depois a ser o marido da senhora chamava-se como?
Era Antonio Sturion. No período em que namoramos, ele tinha a profissão de alfaiate. Era de família com origem em Saltinho, mas já estavam todos morando em Piracicaba, em frente á Santa Casa, onde hoje há um edifício com consultórios médicos. O Antonio, e seus irmãos José e Nozor Sturion eram alfaiates. Naquela época usava-se muito terno e ninguém comprava pronto. O meu sogro, Martinho Sturion era guarda no Mercado Municipal. A minha sogra chamava-se Angelina Ramelli Brancalion.
A senhora casou-se quando?
Casei-me no dia 28 de julho de 1946 na Igreja São Benedito. O Antonio pertencia á Paróquia da Catedral, naquela época ela estava em reforma. Então o casamento era feito na Igreja São Benedito. Os móveis do meu casamento foram feitos pelo Seu Luiz Nardin. A festa do meu casamento foi feita na casa do meu pai. Lembro-me que as cocadas eram fornecidas pelo Martini. A minha cunhada, Mirtes Sturion, irmã do meu marido, trabalhava na casa do Dr. Nelson Meirelles e Dona Livica. Ela os convidou para virem no meu casamento. O casamento foi realizado ás 2 horas da tarde. Teve o bolo, foi em um período em que o trigo estava racionado. Quem fez o meu bolo foi Dona Alzira Adamoli, há 60 anos só ela que fazia bolo de casamento. Quando Dona Livica e Dr. Nelson chegaram á festa do meu casamento quase morri de vergonha, tinha praticamente acabado tudo! Alguém foi até o local mais próximo buscar refrigerante, que naquele tempo era servido á temperatura ambiente! Não havia geladeira onde foram buscar.
Como surgiu o negócio de pastelaria no mercado?
O meu sogro pelo fato de já estar trabalhando no mercado acabou comprando um negócio voltado a servir café, pastel, lanches. Comprou um box para cada filho, eram em três irmãos. O Mansur era um comerciante que tinha loja no mercado, e que mais tarde veio a ser a Arca de Noé, já na Rua Governador Pedro de Toledo. Ele era solteirão, depois se casou com uma moça que veio da sua terra de origem. Chamava-se Sonia. A nossa banca vendia pastel, folhado, bolo de fubá, bolo de trigo, sanduíche. Abria ás seis horas da manhã e fechava ás seis horas da tarde. Ficava o dia inteiro fora de casa. Eu vinha á pé, correndo para amamentar o meu filho quando ele era ainda pequeno. E voltava a pé. Nesse tempo eu era feliz e não sabia. O nosso pastel era “puxado” na mão. Meu marido fazia um pastel que era uma delícia. Até hoje encontro pessoas que dizem sentir saudades do nosso pastel, do folhado que fazíamos. Até hoje ainda faço para a minha neta! Naquela época fazíamos pastel de queijo, carne, bacalhau, geralmente acompanhado de uma caçulinha, uma cerejinha, pingado ou uma média. Era uma delícia.
A senhora morava bem em frente onde hoje é a Praça Takaki, como era na época esse espaço?
Minha mãe criava cabra onde hoje é a Praça Takaki. Os cabritinhos quando estavam em uma idade de serem comercializados minha mãe vendia. As cabras a minha mãe amarrava no local onde hoje é a Praça Takaki. Á noite, antes de nós dormirmos, minha mãe fervia aquelas paneladas de leite e tomávamos, nós disputávamos a nata do leite! Minha mãe fazia até manteiga. Quase em frente á nossa casa morava o único motorista de táxi da Paulista, o Zaíco Martins. Era uma pessoa muito prestativa. Foi dele que meu marido e eu compramos o lote onde mais tarde construímos a nossa casa. O lote já tinha até poço d água, naquela época não havia água encanada na Paulista. Pagamos em prestações. Um freguês nosso, de nome Antonio, trabalhava no mercado e nas horas vagas construía casas. Ele que construiu nossa casa. Eu me comunicava com meu pai e com a minha mãe por cima da cerca! Papai cultivava uma horta no terreno da sua casa. Ele tinha um amigo chamado Manoel Castilho, casado com Dona Lili, ele é pai da Ivone, Hélio, Verônica. A Ivone era muita amiga da minha irmã Adelaide. A Ivone deve ter sido a moça mais bonita da Paulista.
Acima da Praça Takaki era uma área descampada?
Havia cana de açúcar plantada e um enorme descampado. Tinha plantação de algodão. Onde hoje é a Rua Sud Mennucci havia uma santa cruz. Nós tínhamos medo de passar lá. Próximo onde hoje é a Peixaria Lagostim havia alguns pés de manga. O senhor que cuidava da área chamava-se Ló, quando crianças nós íamos apanhar mangas, sem o conhecimento dele. Ele era um homem bravo, mas nós dávamos um jeito de apanhar as mangas.
Das construções existentes na época há um sobrado, que foi construído em 1934, a senhora chegou a freqüentá-lo?
Eu ia lá para arrumar o cabelo da minha amiga que morava lá, a Isabel. Eu tinha vergonha de ir lá, achava tão chique a casa da Isabel, ela me convidava para ir lá para enrolar o cabelo dela. Só tinha esse sobrado, era famoso, o lugar mais chique do bairro. Conheci um irmão dela, o Geraldo, que faleceu muito novo. Era um moço lindo. Eu comecei a trabalhar muito nova. Trabalhei na casa do gerente da Empresa Elétrica, o Seu Carlos Sachs. A sua esposa era a Dona Josefina, mãe do Dr. Japur. Depois fui trabalhar na Fábrica de Tecido Boyes, voltava para casa, comia alguma coisa, colocava um chapéu de palha na cabeça e ia apanhar algodão, onde hoje existe o Posto de Gasolina Jóia. Era plantação da família Conceição. O dinheiro que eu recebia da Boyes entregava para a minha mãe. O pouco dinheiro que conseguia ganhar apanhando algodão era para comprar tecidos para fazer minhas roupas. Naquela época era tudo feito em casa. Para comprar alguma coisa pronta era quase impossível. Eu tinha uma amiga que trabalhava na fábrica, só que ela usava o dinheiro que ganhava para mandar fazer vestidos lindos. Na época a Generosa era uma das melhores costureiras da cidade, ela morava na Rua São Francisco de Assis. Só os mais abastados é que mandavam fazer roupas lá. As nossas roupas eram feitas pela minha irmã mais velha que tinha sido aluna da Dona Alice Caprecci Soares, professora de corte e costura.
A senhora guarda muitas lembranças do Mercado Municipal?
A nossa banca ficava na primeira porta no sentido de quem vem pela Rua Governador no sentido centro para o bairro. Entrando, do lado esquerdo existe uma banca que têm uma grande variedade de itens para lanches, do lado direito tem um café. Seguindo, o nosso café ficava em frente ao açougue do Ubices. Hoje restou muito pouca gente da minha época. Naquele tempo a Aparecida Correia vendia flores. A Dona Therezinha que também vendia flores. O Henrique Usberti que tem o açougue. A Maria Portuguesa que vendia verduras, a mãe dela veio de Portugal e logo foi trabalhar no mercado. O José Bernardino está lá até agora. Vendi o meu café há 26 anos, quem comprou está lá até hoje. O Mori tinha uma peixaria. O Garcia tinha uma peixaria bem pegadinho com nós. Ainda está lá o Irineu Lopes, com armazém. Cada vez que vou ao centro vou ao mercado. Eu adoro lá. Éramos muito unidos. O Valdir Pachani tem banca lá. Os filhos do Spironelo permanecem. Existe a Banca do Laurinho. O Antonio Bracalion que é meu primo e compadre. O Caetano tem dois filhos, cada um trabalhando em uma banca.
A senhora entre inúmeros clientes teve alguns nomes importantes?
O Seu João Dutra, Arquimedes Dutra, eram todos nossos amigos. Iam tomar café lá. Minha nora Gilma Lucasechi Sturion chegou a executar pinturas sob orientação deles. O Seu João Dutra, que era mais velho do que o Arquimedes, ia tomar café com o meu marido Ele dizia: “-Sturion, vamos pescar na Rua do Porto?”. Meu marido sempre gostou de pescar.
A senhora também pescava?
Pescava com uma varinha!
A senhora chegou a ir a um estádio de futebol?
Eu ia. Sou Quinzista e Palmeirense! Hoje não vou mais por falta de condução. O meu marido jogava no MAF e no Jaraguá Futebol Clube. O campo ficava onde hoje está o Bazar do Bebê e aquele conjunto de lojas, na Paulista.
Em frente á Estação da Paulista existia uma sorveteria famosa?
No sobrado que fica na Rua Boa Morte, em frente á entrada principal da Estação da Paulista, existia a sorveteria do Seu Augusto. Ali os moços vinham namorar as meninas que moravam acima da linha da estação do trem. Era uma beleza. A concentração era lá. O seu Augusto fazia um sorvete de coco delicioso. Ela dava quatrocentão, o sorvete custava duzentos réis.
Como era a história do sinal que tocava ás 8 horas no mercado?
Lá pelas 8 horas da manhã batia um sinal, quem estava com alface, abobrinha, em cima da banca, colocava em uma cesta e ia vender na rua. A banca ficava desocupada. Só permaneciam os açougueiros, pastelarias. Onde hoje está o Brancalion era tudo descoberto, eram bancas de granito, grandes, existiam as de madeira também.
Hoje qual é sua distração?
Leio muito jornal, acompanho tudo pela televisão.
Comparando a época anterior com os dias de hoje qual é a opinião da senhora?
Eu acho que tudo está melhor.
A senhora gosta de música?
Muito! Meu marido tocava muito bem violão.
A senhora escutava rádio?
Em casa tinha um radinho, do tipo existente antigamente. Minha mãe não perdia um capítulo da novela “O Direito de Nascer” transmitido pelo rádio. Meu pai gostava de ouvir um missionário falar sobre religião.
A senhora lembra-se de ter ido a algum comício na Paulista?
Eu ia a todos. Do Guidotti. Do Salgot. Eles faziam comício e carreata, era com carrinho de tração animal, não havia quase carros. Ali no barracão que existe até hoje na Rua do Rosário, 2561 era o local onde havia reuniões de igreja, uma conferencia como agora tem na igreja São José. Que eu me lembre não havia outro lugar para nos reunirmos. Às vezes vinham missionários.







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