LUIZ ANDRÉ FILHO
PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista joaonassif@gmail.com
Sábado, 30 abril de 2009
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
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ENTREVISTADO: LUIZ ANDRÉ FILHO
Desde quando José de Anchieta, por volta de 1550, dedicou-se a transmitir novos conhecimentos aos naturais da terra, ensinar é mais uma vocação do que um fim. Nos dias atuais, são imensos os desafios encontrados a quem se dedica a esse ofício. Se Anchieta recorreu a música para poder transmitir melhor seus ensinamentos, hoje a tecnologia está a serviço do aprendizado. Os instrumentos tradicionais e seculares como o giz, a “pedra” como por longos anos foi assim chamada a tradicional lousa, aos poucos vão cedendo seu grau de participação para telas de computadores, transmissões de aulas por satélite. E para o espanto de muitos, uma pesquisa recentemente divulgada pelo conceituado jornal O Estado de São Paulo, o aproveitamento dos alunos através de novos métodos de ensino é muito superior aos alunos que ainda praticam as formas de ensino tradicionais. Luiz André Filho um dia teve que fazer uma opção, entre um emprego que oferecia estabilidade, status e um bom salário, como funcionário do governo ou buscar novos desafios. Deixar de assumir um cargo desse nível, obtido após realizar um concurso, parecia uma temeridade. A sua opção pessoal hoje reflete na vida de muitas pessoas, que buscam conhecimento nos estabelecimentos de ensino que estão sob sua supervisão. Natural da cidade de São Paulo, nascido no bairro da Mooca, em 24 de maio de 1946, passou sua infância na Vila Formosa, morava em uma rua de nome bastante peculiar: Rua Dedo de Deus. Luiz André Filho é o novo presidente do Clube de Campo de Piracicaba, empossado no dia 1º de Maio de 2009.
Qual era a principal diversão do senhor na época da sua infância e juventude?
Futebol! Sempre fui ligado em jogar bola. Naquela época havia a denominação de “ponta-direita”, nessa posição é que eu “corria atrás da bola”! Cheguei a brincar um pouco no campo do Juventus, na Rua Javari. Mas nunca fui um exímio jogador de futebol, embora mantenha o habito de praticar o esporte até hoje.
O senhor estudou em colégio particular?
Estudei no Colégio Sagrado Coração de Jesus, junto a Igreja da Vila Formosa. Lá cursei o ensino fundamental. Todos os dias antes de iniciarem-se as aulas os alunos faziam uma oração. Cheguei a ter aula de latim. Em Piracicaba cursei o ensino Técnico de Contabilidade na Escola Cristovão Colombo, a “Escola do Zanin”. Ficava na Praça José Bonifácio, a lado do Cine Politeama. Depois fiz Administração de Empresas na Unimep e posteriormente formei-me como bacharel em Direito pela Unimep. No período em que cursava Administração, participei do escritório contábil Perecin e Godoy. Eu me especializei em Direito Tributário. O escritório tinha cada elemento executando uma área de especialização. Atendia não só as empresas de Piracicaba como também as empresas da região. Foi na época em que prestei concurso para Auditor (Fiscal) Federal e fui aprovado. No auge da minha juventude, tinha uma vontade muito grande de dar continuidade ao desenvolvimento do escritório, fato que já estava ocorrendo.
Mais tarde senhor deixou essa sociedade e montou seu próprio escritório?
Exatamente! Foi quando montei o meu próprio escritório, chamado Fisconsult. Isso no tempo de copiar o diário na gelatina. O diário era todo datilografado em um papel próprio para esse processo, e depois se aplicava uma gelatina já especifica para esse fim, dessa forma era realizada a “impressão” do diário sobre o livro!
Com quantos anos de idade o senhor mudou-se para Piracicaba?
Na época eu tinha 14 anos de idade. A família da minha mãe é daqui de Piracicaba. A família do meu pai tem suas raízes em São Manoel. Conheceram-se aqui em Piracicaba, casaram-se e tiveram cinco filhos: Cecília, André, Bernadete, Lucia, Tarcísio. Nós sempre vínhamos passear em Piracicaba, e um detalhe interessante é que a estrada de São Paulo á Piracicaba não era asfaltada. O leito carroçável era de terra, na época meu pai usava um “guarda-pó” sobre a roupa, para preservá-la da poeira. Ele era proprietário de uma fábrica de móveis estofados, foi em um período em que houve uma grande procura por esse tipo de móvel. Na época a fabrica ficava no bairro Belém. Quando ele mudou-se para Piracicaba, continuou com a mesma atividade. A fábrica chamava-se Móveis Brasília, ficava na Rua Bom Jesus esquina com a Rua Treze de Maio. A inspiração veio da então fundação da capital federal, tanto que o logotipo da empresa tinha os célebres traços do Palácio do Planalto, obra de Oscar Niemeyer. Em Piracicaba fazíamos não só móveis estofados, mas como todo tipo de móveis. O pessoal que ia casar mobiliava a casa toda. Até hoje existe móveis feitos naquela época.
Qual era o tipo de sofá mais procurado na época?
Era o sofá-cama, revestido por curvim.
Aqui em Piracicaba vocês chegaram a ter uma caminhonete que até recebeu um nome próprio?
Era a Dengosa. Uma caminhonete que por muitas vezes dei a partida nela usando a manivela. Era verde-escura.
Vocês criaram um modelo de sofá muito curioso?
Isso foi na fase em que eu tinha 18 a 19 anos de idade. Tinha uma turma de amigos que gostava muito de muito de sair, fazer seresta: o Japão, o Magrão, entre outros. Criamos na época o sofá-cama já com toca discos embutido. Ficava no braço do sofá. Abria-se uma tampa e saia o toca discos, no braço do lado oposto do sofá ficavam os discos de vinil a serem tocados. A caixa de som ficava embaixo do sofá! Isso foi no tempo em que os Beatles faziam sucesso! Vendemos para vários estados do Brasil.
Qual era o nome desse engenhoso produto?
Temos que conhecer um pouco melhor as circunstâncias. Meu apelido era Dumbo, não por causa das orelhas, mas por ser considerado inteligente. Nós então denominamos essa linha de sofás como Dumboflex! Chegamos a gravar um jingle onde o mote era: “Dumboflex! Dumboflex...Dumboflex! Infelizmente não preservei nenhuma cópia dessa propaganda. Já procurei, mas não encontrei.
O senhor toca algum instrumento?
Não. Apesar de gostar muito de música, ficava só aplaudindo. Meu pai tocava violino, por um bom tempo tocou violoncelo, minhas irmãs tocam piano. Fiz algumas tentativas, mas não evoluíram.
Qual é a origem do nome André?
A origem é italiana, o nome original é Andreello. Meus avós paternos eram italianos, ele chamava-se Mansuetto Antonio Andreello, e ela Lucia Bertoncini Andreello. Meu pai é Luiz André e minha mãe é Ana Barbosa André. Estou fazendo uma correção, o sobrenome André é uma corruptela de Andreello.
Seus avós maternos moravam em que local da cidade?
Moravam na Rua Benjamin Constant, próximo onde passava o trem da Sorocabana. Uma das coisas que deixou muitas saudades eram as pescas realizadas no Rio Piracicaba, quando peixes do tipo dourado eram pescados. Os peixes brilhavam quando expostos ao sol.
Para conseguir a qualificação de pessoal especializado na área de escritório contábil que medida foi tomada?
Montamos um centro de treinamento de pessoal. Funcionava no Edifício Kennedy na Praça José Bonifácio. Passamos a ministrar aulas de noções de contabilidade tributária, fiscal e pessoal. Os alunos que se destacavam eram encaminhados para o nosso escritório ou para os escritórios dos nossos clientes. Nesse mesmo edifício havia a Escola de Datilografia Presidente Kennedy, que acabamos adquirindo. Muitas pessoas da cidade de Piracicaba foram alunas da Escola de Datilografia Presidente Kennedy.
O cipoal de leis que existe na época atual já existia naquele tempo?
Lamentavelmente sempre foi assim!
A pressão do Estado e seus agentes sobre o chamado “contribuinte” já havia?
Sempre houve. O leão sempre foi muito faminto. Nós tivemos muito sucesso com o nosso escritório por termos criado a administração tributária. Como economizar tributos legalmente. Hoje a empresa precisa pensar exatamente nisso. Não deve haver sonegação, mas descobrir uma alternativa mais inteligente de trabalhar, pagar os impostos, sem pagar em duplicidade. Essa gestão de uma empresa é fundamental. Tem que agregar valores para que o empresário tenha um resultado mais satisfatório para o seu negócio.
Além do futebol, o senhor tem algum outro hobby?
Minha esposa Regina Martinelli Galvão e eu gostamos muito de dançar. Dançamos um ritmo mais calmo, como bolero. Já tentamos dançar o tango, arriscamos até uma especialização no tema, em visita a Argentina, mas não deu muito resultado! Além de freqüentarmos o Clube de Campo, todos os sábados nós estamos no Clube do Saudosista de Piracicaba. Eu conheci a minha esposa em um baile de formatura no Teatro São José.
O senhor tem o habito de anotar fatos relevantes que vivenciou?
Tenho. Não é propriamente um diário, mas são anotações de situações que ocorreram, e que são determinantes. São registros que podem ser utilizados para o resgate da história da família, da empresa, da cidade. Ainda preservo a minha primeira máquina de escrever.
Como foi a migração para a atual empresa voltada ao ensino de informática?
Foi o próprio momento que determinou. A evolução da datilografia foi a digitação. Na época os equipamentos eram enormes. Ocorreu neste momento a lembrança de uma situação bastante curiosa. O pai de um candidato a aluno de datilografia ligou para a nossa escola. Perguntou ao atendente o que era fundamental para que seu filho aprendesse datilografia. A resposta do nosso atendente foi incisiva: “-Ele tem dedos?”. Nossas professoras de datilografia, a Dona Tita e a Dona Dirce, colocavam uma cobertura de madeira sobre o teclado, de tal forma que as mãos dos alunos ficavam livres para bater nas teclas, mas não era possível ver em que tecla estava colocando-se o dedo. Era um método de datilografar sem olhar para o teclado, que é o método correto.
Houve um crescimento da escola?
Ocorreu um crescimento muito rápido. Fizemos uma parceria com a Data-Pró Informática, voltada para o ensino de informática. Permanecemos por uns 7 a 8 anos. A partir daí, houve um crescimento no número de escolas na região. Isso proporcionou a formação de uma empresa chamada Data Brasil, que permanecemos trabalhando com ela até meados de 1999.
Em que ano aproximadamente o senhor passou a participar do Clube de Campo de Piracicaba?
Após o nascimento das minhas filhas, na década de 80. As crianças passaram a exercer atividades na piscina. Quando completei 35 anos de idade passei a freqüentar o futebol no quadro dos veteranos. Depois disso não parei mais.
Qual é a relação do formato clube, na década de 80 e nos dias atuais?
Em 1992 quando foi fundada a Associação dos Clubes Esportivos de Piracicaba era composta por 17 clubes. Hoje, os clubes que preenchem as obrigações estatutárias, devem ficar em torno de meia dúzia. Houve uma mudança significativa nesse processo. A própria família mudou. Hoje o número de sócios familiares, onde os pais e filhos são filiados, também reduziu. Hoje há o associado individual. Há uma procura muito grande pelos jovens, pelas mulheres, por pessoas preocupadas com a sua qualidade de vida. É uma tendência natural isso acontecer. Hoje manter bailes de carnaval em um clube implica em uma grande dificuldade. O reveillon também é diferente do que já foi há alguns anos. Todas essas implicações são tendências naturais de um novo cenário. A tecnologia colabora para isso.
O senhor já exerceu diversos cargos dentro da administração do Clube de Campo de Piracicaba?
Participando do futebol social, passei a ser Diretor de Futebol, na gestão seguinte passei a ser Diretor Geral de Esportes, Diretor de Sede. Por duas gestões seguidas exerci a função de Vice-Presidente. Atualmente sou Presidente do Conselho Deliberativo e a partir do dia 1º de Maio sou Presidente Executivo do Clube de Campo, um novo desafio. O Clube de Campo é um clube de serviço, buscamos nos associarmos a um clube como a extensão da nossa casa na área de esportes, lazer, cultura. São os três pilares que sustem os clubes de uma forma geral. O objetivo é proporcionar uma melhor qualidade de vida ao associado e sua família. Temos que incentivar a pratica esportiva, proporcionar reuniões sociais e recreativas para haver uma interação entre os associados, e agregar valores na área cultural, não só para os associados como também para a comunidade.