domingo, dezembro 13, 2009

LUIGINO (LUIS) ZAVA


                                           LUIGINO (LUIS) ZAVA



PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 12 de dezembro de 2009
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADO: LUIGINO (LUIS) ZAVA
Nasci no norte da Itália, em Pistóia, em 21 de setembro de 1920, filho de Hermelinda e João Zava. Aos dois anos de idade perdi a minha mãe. Meu pai aos 15 anos de idade tinha saído da casa dos pais dele, permanecendo por 15 anos no Canadá. Ele conheceu a minha mãe por carta. Ela era amiga da minha tia, irmã de meu pai. Minha mãe e a minha tia freqüentaram uma escola de obstetrícia. Essa minha tia escreveu uma carta para o meu pai, onde apresentou a sua amiga, que depois veio a ser a minha mãe, e a partir daí começou o namoro entre o meu pai e a minha mãe, um namoro por carta que durou anos. Em 1914, quando a Itália entrou em guerra meu pai tinha saído da Itália, voltado para o Canadá para providenciar a ida da minha mãe e minha irmã que tinha nascido. O ataque dos submarinos alemães aos comboios comerciais suspendeu a navegação que atravessava o Oceano Atlântico. Minha mãe não pode ir para o Canadá, e permaneceu esperando na Itália até o termino da guerra. Em 1918 meu pai voltou á Itália, em 1920 eu nasci.
Qual era a atividade do pai do senhor no Canadá?
Ele era ebanista, marceneiro que trabalhava em ébano e outras madeiras finas, ele fazia mobiliário fino. Profissionalmente sua formação foi nos estaleiros de Veneza.
Como o senhor veio ao Brasil?
Quando eu tinha três anos de idade a minha tia perguntou ao meu pai se ele não queria vir para o Brasil, na Itália não se encontrava trabalho, era só brigas de fascistas pelas ruas. Ele concordou, e veio para São Paulo com essa minha tia, Ursulina, trazendo minha irmã Vilma, hoje com 96 anos de idade e que mora em São Paulo. Fizeram a carta de chamada, que permitia que ele entrasse no país como profissional na sua área. Chegamos ao porto de Santos, em seguida fomos a São Paulo, onde dirigimo-nos á casa da Tia Ursulina. Essa minha tia era parteira, tinha conhecimento com grande parte das famílias moradoras no bairro de Santana, era a única parteira por perto. No dia seguinte meu pai já foi trabalhar no Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo.
Em que local de São Paulo morava a tia do senhor?
Morava em Santana, na Rua Voluntários da Pátria, próximo aonde hoje é a Avenida General Ataliba Leonel. Quase em frente onde eu morava havia uma escola pública foi lá que fiz o curso primário. Após quatro anos nessa escola, eu tinha 11 anos de idade, fui estudar Desenho Geométrico no Liceu de Artes e Ofícios onde estudei por dois anos geometria plana. Ocorreu um fato interessante, quando entrei para o curso de Desenho Geométrico, tinha 12 anos de idade, porém só com a idade de 14 anos era permitido o acesso do aluno, foi aberta uma exceção e passei a estudar regularmente. Tive meu interesse despertado em fazer um curso profissional, fiz o Curso de Tecnologia Mecânica lá mesmo no Liceu de Artes e Ofícios. As oficinas onde eram ministradas as aulas práticas de mecânica ficavam no fim da Rua João Teodoro, próximo a Rua da Cantareira. Das 7 horas da manhã até as 3 horas da tarde eram dadas as aulas práticas. Á noite eram dadas as aulas teóricas, das 19 horas até 21 horas e 30 minutos. Nas aulas práticas era ensinado desde picar carvão para acender a forja até forjar as peças, aprendíamos a dar o acabamento ás peças, era o único curso nesse setor em São Paulo.
Em que ano o senhor formou-se no Liceu de Artes e Ofícios?
No fim de 1938, eu tinha 18 anos. Fui trabalhar como ferramenteiro. Meu primeiro dia de trabalho, já como profissional, foi no dia 25 de dezembro de 1938.
Mas 25 de dezembro é comemorado o dia de natal!
Era Dia de Natal! Entrei ás sete horas da manhã e saí ao meio dia. Naquela época não existia carteira de trabalho, não se falava em Cédula de Identidade! Aos sábados trabalhávamos o dia todo, no Natal trabalhava-se até o meio-dia. Não havia esses feriados todos que existem hoje.
Como se chamava a primeira empresa em que o senhor trabalhou?
Chamava-se Metal Ars Natale. Era um gravador de aço, fazia medalhas, chatilene, que era uma corrente com uma plaqueta com os dizeres que a pessoa queria usar, o nome da pessoa, uma frase. Era gravado com buril no latão, mandava-se niquelar. Eram feitos porta-chaves de casas. Ele fazia em aço, depois temperava o aço e estampava em latão.
Logo que o senhor formou-se adquiriu uma motocicleta?
Logo no começo que me formei adquiri uma motocicleta da marca Triumph, inglesa, usada. Meu objetivo era melhorar minha pontualidade no trabalho. Nessa época a Rua Voluntários da Pátria não era asfaltada, era calçada com paralelepípedo, com o tempo a passagem do bonde afundava os dormentes e os trilhos ficavam salientes, se tivesse que cortar a via eram grandes as possibilidades de cair. O número dos bondes que iam para a Voluntários eram os 43 e o 44.
A empresa ficava onde?
Ficava na Praça Princesa Isabel, na Luz. Permaneci nessa empresa por dois anos.
O senhor morava em Santana?
Morava com a nossa família em Santana, ia trabalhar de bonde.
Já existia a Ponte das Bandeiras?
Não existia ainda. Havia a Ponte Grande, era uma ponte de madeira. Nessa ponte havia trilhos só para um bonde passar, muitas vezes um dos bondes esperava em um desvio o outro passar para ele seguir a viagem.
O bonde era fechado?
Era bonde aberto! O único bonde fechado era o que fazia a linha do centro da cidade da Praça da Sé até o Largo do Socorro em Santo Amaro. Só esses bondes eram chamados de “camarão” por serem pintados de vermelho.
O senhor andava no estribo do bonde?
Não havia outro jeito! Tinha que me agarrar onde dava, para não perder hora de trabalho. Quando chegava à Ponte Grande, muitas vezes acontecia de encontrar com os bondes que traziam soldados da Força Pública, hoje Polícia Militar. Eles saiam do quartel situado na Avenida Tiradentes e iam para uma área de treinamento lá pelos lados de Santana. Tínhamos que esperar passar aquele tremendo batalhão de soldados!
O senhor almoçava onde nessa época?
Nesses dois anos em que trabalhei no Natale, almoçava em uma lanchonete, na Rua Santa Efigênia, o proprietário era um português, havia dois pratos, o completo que geralmente nós dispensávamos e outro prato mais simples. A verdade é que não podíamos gastar muito dinheiro por isso não pedíamos o prato completo!
Da empresa Metal Ars Natale o senhor foi trabalhar onde?
Fui trabalhar na Laminação Nacional de Metais, uma empresa de propriedade de Francisco (Baby) Pignatari, neto do Conde Francisco Matarazzo. Entrei já como desenhista mecânico. A empresa fazia laminação e extrusão de latão. Eram feitos tubos de latão por extrusão, laminadas as chapas de latão. Essa empresa ficava em Utinga, no município de Santo André. Tinha que tomar o trem na Estação da Luz. Quantas vezes eu não corri para apanhar o trem? Permaneci lá por uns três anos. Por algum tempo me interessei por tecelagem, queria abrir um caminho para me especializar em manutenção nessa área. Infelizmente não deu certo. Com isso fiquei conhecendo malharias, fiações. Era um trabalho mais voltado á parte comercial, eu não me adaptei. Preferia permanecer na área técnica.
O senhor foi trabalhar em outra empresa?
Fui trabalhar em uma indústria que fundia tarugos e mancais de bronze. A usina era no Ipiranga, o escritório, a parte técnica ficava no centro de São Paulo, na Rua Marconi. Permaneci lá por uns dois anos.
Após esse período onde o senhor trabalhou?
Fui trabalhar na então Rua Ataliba Leonel, em um ponto em que cruzava com uma Rua chamada Nelson, são ruas que vem do alto do morro e descem até Santana. Ali tinha a Fabrica de Maquinas Para Beneficiar Madeiras Raiman. Apresentei-me como projetista de ferramentas e máquinas, a matriz da empresa ficava em Santa Catarina. O diretor da indústria me transferiu para chefiar a usinagem, tornearia, retificação. Permaneci por sete anos como chefe da oficina. A Rua Ataliba Leonel já era calçada. Diziam que era porque uma importante figura do cenário nacional tinha nessa rua interesses de cunho afetivo.
Após a Raiman o senhor trabalhou onde?
Trabalhei na Columbia por 30 anos. Era uma empresa de autopeças, fazia buzinas, bombas d’água. Ficava na Lapa, depois mudaram para a Vila Leopoldina. Aposentei-me e permaneci trabalhando lá mesmo por mais alguns anos. O que eu me orgulho não é o que eu fiz na minha profissão, mas o que eu fiz com os profissionais que dirigi. Proporcionei a possibilidade para que os profissionais de destaque fizessem cursos, como o TWI, (“Training Within Industry”) ou Treinamento Dentro da Indústria, onde é abordado o aspecto de como se explica um serviço para um aprendiz. Também mandei fazer o curso de Supervisor pelo SESI. Formei supervisores, coordenadores de máquinas. A linha de montagem não podia parar.
Quantos funcionários havia no total?
Uns 350 funcionários. Havia prensas desde 5 toneladas até 150 toneladas. Eles preparavam, punham as ferramentas, as estampas. Os estampos eram feitos de tal maneira que era necessário pisar no pedal e a prensa descia. Com as mãos o operador tinha que puxar dois manúbios e disparar a prensa, para evitar que as mãos corressem riscos de acidentes. Todas as máquinas tinham recomendações prevenindo contra acidentes.
O senhor é uma testemunha do crescimento da cidade de São Paulo?
Lembro-me que no final do ano de 1936, com um grupo de amigos do curso do Liceu fomos acampar no Pico do Jaraguá Era um mato total! Permanecemos por uma semana, acampados. Foi uma semana de chuva! Á noite nós víamos o Edifício Martinelli com a propaganda da Bayer. Aquele círculo escrito: Bayer. Ele acendia e apagava. Era o único prédio de São Paulo!
O senhor freqüentava cinema?
Freqüentava cinema. Mas freqüentei teatro, adoro ópera. Durante 20 anos não perdi uma temporada. Freqüentava o Teatro Municipal onde eram encenadas essas óperas, assisti ali a apresentação com o grande trágico italiano do século passado Ermete Zacconi, ele estava com 80 anos quando apresentou Rei Lear de Shakespeare. Na Rua Barão de Itapetininga havia a Vienense, com chás e doces finos.
O senhor chegou a freqüentar o famoso Táxi Dancing Avenida?
Sim! Na Avenida Ipiranga! Freqüentei, mas gastava-se muito dinheiro. Elas dançavam muito bem, sabiam quando o individuo não sabia dançar, elas facilitavam os passos. Eu nunca fui bom de dança.
O senhor chegou a ver as pessoas nadarem, pescarem no Rio Tietê?
Quantas vezes eu fui nadar nos cochos que tinha no Tietê! No verão, a noite, descia a Voluntários e ia nadar no Tietê. Antes de o Esperia fazer a piscina. A primeira piscina construída tinha o formato oval, com uns 15 metros de comprimento, por 10 de largura. Foi feito pelo clube Sociedade Paulista de Esportes. A piscina era toda de cimento, não era azulejada. Era a única de São Paulo!
O que eram os cochos existentes no Tietê?
Eram uns quadrados de madeira, enterrados no leito do rio, amarrado nas margens com cabos. Era como se fosse uma piscina. Nadava-se no rio também. Tinha peixes, havia pessoas que pescavam diariamente.
Isso era onde hoje é a Ponte das Bandeiras?
Chamava-se Ponte Grande, a Ponte das Bandeiras foi feita depois.
O senhor nadou no Rio Pinheiros?
Eu tinha um amigo que morava próximo ao Rio Pinheiros, íamos a pé nadar no Rio Pinheiros.
Do que o senhor tem mais saudade em São Paulo?
Eu adoro São Paulo! Gosto de andar no centro, eu sou citadino! Onde há atividade artística, cultural. Adoro teatro, “Deus Lhe Pague” com Procópio Ferreira é uma das peças que assisti.
O senhor andava muito de trem?
Com a idade de 12, 14 anos saia de São Paulo ás sete horas da manhã e ia para Santos pelo trem expresso. Existiam o “Cometa” e o “Planeta” eram trens com três carros de passageiros. Passava as férias na casa de uma prima que morava em Santos, no bairro Gonzaga. Existia o Parque Balneário. Assisti a inauguração do Atlântico Hotel.
Como o senhor resolveu mudar-se para Piracicaba?
Li uma reportagem sobre o Lar dos Velhinhos de Piracicaba, qual era a área, toda arborizada, com a possibilidade de se construir chalés por preços convidativos. Vim para cá, conversei com o Dr. Jairo Ribeiro de Mattos, ele me expôs o que realmente era o Lar dos Velhinhos.
Entre o que foi exposto e hoje oito anos já morando no Lar qual é sua opinião?
Não acredito que exista um lugar melhor do que este. Pode ter igual, mas melhor não!
Atualmente o senhor dedica parte do seu tempo na área de venda de livros usados que o Lar dos Velhinhos recebe em doação.

O que o motivou a participar desse trabalho?
É uma paixão!

sábado, dezembro 05, 2009

HUGO PEREIRA DE LIMA







HUGO PEREIRA DE LIMA




PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 05 de dezembro de 2009
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADO: HUGO PEREIRA DE LIMA
A frase "O sertanejo é, antes de tudo, um forte" foi escrita por Euclides da Cunha, que se tornou famoso com a publicação do livro Os Sertões, em 1902. O mestre Hugo Pereira de Lima é uma forma viva dessa frase. Sua vida é um retrato do migrante nordestino, com as cores mais marcantes que a realidade nua e crua pode oferecer. A determinação, a luta pela sobrevivência, a incansável maratona para avançar passo a passo, sem renegar seus princípios. Realizou trabalho rude, pesado, suas mãos foram embrutecidas pelo esforço físico. A sua fome por cultura o levou a tornar-se um respeitado poliglota, é reconhecido pelo seu saber, e muito requisitado por pessoas que cursam mestrado, doutorado. Sua marcante simplicidade é natural dos verdadeiros sábios. Mestre Hugo Pereira de Lima é, antes de tudo, um forte!
O senhor nasceu em que cidade?

Sou natural de Maraial, na Zona da Mata de Pernambuco, nasci no dia 30 de novembro de 1940. Meus pais são José Manuel de Lima e Maria Pereira de Lima. Fui criado em Garanhuns, que é uma cidade aonde a temperatura chega até os cinco graus centígrados. Muitas pessoas pensam que no nordeste do país todo lugar é quente, há lugares frios. O nome Maraial originou-se de uma palmeira espinhosa que existia em grande quantidade quando a cidade foi fundada. Embora eu tenha morado lá por três anos e meio nunca vi uma dessas palmeiras. Há muito tempo elas já tinham sido extintas. As pessoas que moram lá sabem a origem do nome da cidade, mas não conhecem a palmeira.
De Maraial o senhor foi morar onde?

Aos dois anos e meio de idade fui levado para Miracica, que faz parte de Garanhuns. Lá eu morava com meus avôs maternos Joaquim Pereira de Araujo e Laura Pereira de Araujo. O meu avô era carpinteiro, marceneiro, ferreiro e tanoeiro. Até hoje o seu nome é famoso na localidade. Era conhecido como Mestre Joaquim, além da sua habilidade, inteligência, era muito afável. Ele era muito respeitado pelos moradores de Miracica.
O senhor herdou um pouco do caráter dele?

Eu creio que herdei quase tudo que sou praticamente! Por mais nefasto que fosse um fato ele não ficava triste. Na época em Miracica não havia funerária, ele fazia muitos ataúdes. Ás vezes ele era acordado por alguém dizendo: “Tem que fazer um ataúde, fulano morreu!”. Ele levantava, me chamava, eu ia junto.
O senhor ajudou a fabricar ataúdes?

Ajudei muito! Era feito com tábuas e revestido com tecido na cor correspondente ao perfil do falecido. Se a pessoa era viúva usava-se pano roxo, se fosse uma pessoa de idade avançada usava-se tecido preto. No caso de crianças, o caixão era revestido na cor azul clara. Quando era feito um caixão para uma criança, dizia-se que era caixão para anjo. Havia uns enfeites prateados, na forma de cruz, de anjo com asa, anjo sem asa. Ficava até bonito!. Como ali era uma região pobre, havia um caixão na Igreja São José, era preto, grande, recebia a denominação de “Caixão de Caridade”. Quando a pessoa muito pobre morria, a igreja emprestava aquele caixão. Era colocada uma mortalha (um pano que cobria a pessoa morta), o caixão era conduzido até aonde a pessoa seria enterrada, era então retirado o corpo, sepultado, e o caixão voltava para a igreja. Esse costume não existe mais nos dias atuais. Na época havia muito o enterro de rede, o corpo era conduzido e sepultado envolto em uma rede. Meu avô se sabia que a pessoa não tinha condições financeiras ele não cobrava pelo caixão. No período em que ele estava fazendo o caixão, isso poderia ocorrer durante o dia ou á noite, era um habito dele contar piadas, rir, para amenizar o ambiente de tristeza da família.
Durante o velório, onde era apoiado o caixão?
Sobre dois cavaletes. As pessoas ficavam cantando as ladainhas, os Bem-Ditos, as excelências, hábitos do folclore, acendiam velas, lá não havia carpideiras. (Mulheres que recebem dinheiro para rezar e chorar por mortos desconhecidos). Minha avó era “tiradeira de excelência”, as pessoas cantavam aquelas excelências. Lá não se chama velório, é Sentinela. Uma característica era o repique do sino da igreja. Quando falecia uma criança havia uma seqüencia de toques. Se a falecida era uma moça solteira era outra seqüencia de toques. Conforme tocava o sino sabia-se as características da pessoa falecida.
O senhor mudou-se de Miracica quando?

Aos quatorze anos de idade voltei a morar em Maraial, onde permaneci até dezessete anos e meio. Não nutria por lá a satisfação que tinha quando morava em Miracica. Resolvi ir sozinho para Maceió.
O senhor já conhecia Maceió?

Não conhecia nada! Fui de trem, era a Rede Ferroviária do Nordeste, antiga Great Western. A Great Western do Brasil Railway Co., empresa inglesa, tinha sido encampada pelo Governo da União. Só que as pessoas mantinham o nome original quando se referiam ao trem. Cheguei a Maceió, fiquei andando pelas ruas da cidade, acabou o meu dinheiro, não tinha como voltar para casa. Eu tinha fraturado a clavícula durante o percurso da viagem de trem Quando já fazia cinqüenta horas que eu não tinha comido nada, fui até uma pensão, subi uma escada, e disse para a dona da pensão: “- Faz 50 horas que eu não como, estou muito faminto, não tenho dinheiro para ir embora, não tenho nada!”. Ela respondeu-me: “-Certo!”. Não me deu comida, não me deu nada. Desci a escada, fraco de fome, segui por uma rua chamada Dias Cabral, quando cheguei ao número, 217 não conseguia andar mais. Só que não era por estar fraco, embora não seja espírita, sentia alguma coisa que me impedia de prosseguir caminhando. Coloquei a mala no chão e sentei sobre ela. Algumas portas têm uma pequena janela, que lá é chamada de postigo, uma jovem senhora abriu essa janelinha e falou: “-Moço! O que você deseja!”. Contei a história. Ela fez um bom prato de comida. Após eu ter me alimentado, ela disse-me: “Meu marido é do Exército Brasileiro, ele está trabalhando. Guarde a mala aqui.”. Ela então me deu algum dinheiro para pagar ônibus e recomendou-me que andasse pela cidade, e quando fosse 4 horas da tarde o seu marido retornaria para casa e eu falaria com ele. Voltei no horário que ela disse, ele havia chegado. Recebeu-me como se fosse uma pessoa conhecida há muitos anos. Ele era Primeiro-Sargento do Vigésimo Batalhão de Maceió. Isso foi em junho de 1958, havia a Copa do Mundo, ia ter um jogo Brasil e França. Ele tinha um rádio que estava sem funcionar. Eu disse-lhe que entendia um pouco de rádio, como eu estava com a mão imobilizada por causa da clavícula, fui orientando como ele deveria desmontar e proceder para consertar. Era rádio á válvula. Consegui consertar o rádio, e ele pode ouvir o jogo. Permaneci oito dias sendo hospedado pelo casal. Voltei para Pernambuco, até a minha casa, onde morava com minha mãe e padrasto. Disse á minha mãe que iria até Miracica, onde morava meu avô. Tomei o trem e fui para Lourenço de Albuquerque, em seguida fui para Propriá, que é na divisa de Alagoas com Sergipe. De lá atravessei o Rio São Francisco em um barco, tomei um trem até Muribé e ai acabou o dinheiro. Naquele tempo guarda-chuva não era como hoje, um bom guarda-chuva tinha valor. Eu tinha um guarda-chuva bom. Vendi esse guarda-chuva e com o dinheiro consegui chegar até Aracaju. Fiquei andando pela cidade, com uma mala na mão. Era de madeira. Permaneci por 3 dias em um albergue de um centro espírita. Fui orientado para que procurasse o Departamento de Migração. Eu não tinha completado 18 anos ainda, e a diretora da instituição por esse motivo não me concedeu a passagem. Permanecei mais algum tempo na cidade, dormindo na beira do mar, no aeroporto.
E como o senhor fazia para alimentar-se?

Conheci um amigo que era gago, chamava-se Gabriel. Saiamos juntos e ele pedia o alimento ás pessoas. Eu não pedia. Fomos para São Cristóvão, que é uma cidade histórica, fomos para Salgado, em seguida para Estância. Sentados em um banco na Praça Rio Branco, decidi que devíamos ir á delegacia como ultimo recurso. Na época o cargo de delegado de policia no Nordeste era ocupado por militares. Um sargento nos acolheu, alimentou e arrumou emprego para nós dois. Fui trabalhar em uma padaria, onde também iria morar. O Gabriel foi trabalhar em uma serraria, brigou com o dono pegou o ônibus, que lá chamavam de marinete e saiu da cidade. Permaneci em Estância por quase dois anos. Fui para Salvador, onde trabalhei em tudo, até pegar caranguejo na loca.
De Salvador o senhor dirigiu-se para onde?

Na época a Irmã Dulce deu uma autorização de passe, que era para retirar a passagem na prefeitura. Fui para Minas Gerais, onde permaneci algum tempo trabalhando no campo. Em seguida passei pelo Rio de Janeiro, São Paulo e fui morar no meio da selva no Mato Grosso. Trabalhei seis meses, o dia inteiro cortando madeira com o machado. Voltei para São Paulo e fui trabalhar em uma empresa cuja sede era em Piracicaba. Chamava-se Sobar, Sociedade Bandeirante de Reflorestamento. Fui trabalhar como braçal, carpindo. Um rapaz que hoje mora próximo á minha casa, chamado Irineu Camargo Peixoto, era meu supervisor, na época era chamado feitor. Nós morávamos em pequenos barracos. Eu ficava ali com muita saudade do Nordeste. Escrevia cartas que jamais mandei, eu as dependurava em um prego. Um dia o administrador, Álvaro Wingeter entrou para fiscalizar o barraco. Ele viu as cartas, leu uma a uma, perguntou quem tinha escrito. Apresentei-me, ele então disse: “-A partir de amanhã você será inspetor!”. Deu-me o material necessário para fazer as anotações. Recebi diversas promoções até passar a administrador.
O senhor fez seus estudos onde?

Até o terceiro ano do curso primário estudei em Miracica. O quarto ano, eu estudei na Usina Água Branca. Voltei para Marial, quando sai de casa tinha o quarto ano primário. O curso de rádio eu fiz por correspondência no Instituto Monitor.
O senhor está concluindo um livro?

O nome do livro é “Histórias Que A Vida Me Contou”. Relata histórias verídicas. Mantenho o nome real das pessoas quando o fato é positivo para a personagem. Quando o fato é negativo dou um nome fictício. As histórias são fatos acontecidos em Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia, Mato Grosso, Minas Gerais e São Paulo. Cada lugar tem um capítulo, gerando cem histórias.
Quantos idiomas o senhor domina?

Falo o inglês, italiano e espanhol, fluentes, e tenho boas noções de francês. Estudei esperanto com a professora Nair Barbosa.
Como o senhor chegou a Piracicaba?

Pelo fato da empresa ser de Piracicaba, vim para fazer o acerto de contas aqui. Fiquei hospedado em uma pensão. Quando cheguei á Piracicaba tive muito problema com uma palavra: unspardela. Diziam: pegue unspardela! Ou seja: Pegue uns pares dela!
Lembra-se do dia em que o senhor chegou á Piracicaba?

Foi no dia 15 de fevereiro de 1963, entrei na pensão umas três horas da tarde. Essa pensão hospedava muitas pessoas que trabalhavam nessa empresa de reflorestamento.A partir dessa fase eu iniciei uma nova etapa na minha vida. Nessa pensão aconteceram fatos típicos, um deles foi com um mineiro, funcionário da Dedini que ganhou por cinco vezes na loteria esportiva, era uma quantia de dinheiro muito expressiva. Ele acabou torrando tudo e morreu como indigente.
Qual foi o seu primeiro trabalho em Piracicaba?

Fui trabalhar na Usina Monte Alegre, trabalhar no guincho. No meu emprego anterior eu era administrador da fazenda, tinha secretária, era uma estrutura bem montada, onde chefiava 120 pessoas. Todo meu conhecimento na empresa de reflorestamento de nada valia nas atividades da usina. Trabalhei o período da safra por seis meses. Fui trabalhar com raspagem de taco, aprendi com a necessidade! Um dia comprei o Jornal de Piracicaba e vi que a Eneo, que era uma empresa de contratação de mão de obra, estava oferecendo vagas para trabalhar na Dedini. Eu tinha 23 anos. Fui contratado para trabalhar na Dedini, entrei pintando peças. Logo eles perceberam que eu sabia ler e escrever bem, passei a ser apontador, Em 1963 houve um período muito conturbado na nossa história. Com isso muitos funcionários foram dispensados da Dedini. Após algum tempo, esse meu amigo que tinha ganhado na loteria tinha perdido tudo e voltado a trabalhar na Dedini. Ele falou com o chefe e me levou de volta para trabalhar na Dedini. Ao analisarem a minha ficha fui designado para ser inspetor de qualidade, fui promovido a programador de produção, supervisor de programação e depois fui transferido outro departamento como tradutor. Nessa época eu já acompanhava os estrangeiros em visita á empresa.
O senhor conheceu Armando Dedini?

Conheci. Era uma pessoa de um coração maravilhoso, muito humano.
Como o senhor, migrante nordestino falava inglês fluente?

Quando eu morava com meu avô ele dizia: “-Quando esse menino crescer, eu quero que ele fale três idiomas, como Rui Barbosa”. Eu estava fazendo o Tiro de Guerra em Sergipe, havia na cidade um rapaz tido como intelectual. Ele soube que eu havia feito o curso de taquigrafia. Apresentou-me a um professor de inglês, que tinha sido marinheiro e me ensinou conversação. Em minhas andanças, nos períodos de folga eu lia muito. Já em Piracicaba, passando pela Livraria Brasil vi um cartaz: “Aulas de inglês grátis, ministradas por professores americanos”. Era da Igreja Mórmon. Eu já tinha um vocabulário grande. No dia 25 de agosto de 1965 fiz um discurso em inglês, sobre Luiz Alves de Lima e Silva, Duque de Caxias. Fui muito aplaudido. Permaneci por quatro anos estudando.
E italiano como o senhor aprendeu?

Li no Jornal de Piracicaba um anúncio: “Aulas de italiano grátis”. Inscrevi-me, a professora era Dona Ada Cavioli. Aprendi muito bem o idioma. Na Dedini tive um chefe argentino, José Luiz Castelioni. Combinamos que eu ensinaria inglês para ele e sua esposa e eles me ensinariam o espanhol. Foram dois anos, três horas por semana, dedicados ás aulas. Depois Estudei na Aliança Francesa, com Dona Janine estudei francês. Estudei alemão por dois anos com Dona Briguitte. Simultaneamente dava aula no Lessa, Inglês para brasileiros. No Instituto Piracicabano lecionei inglês em 1978.




























ELIZEU DAMASCENO GOIS


                                                    ELIZEU DAMASCENO GOIS


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 28 de novembro de 2009
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADO: ELIZEU DAMASCENO GOIS
O Presidente da Câmara Municipal de Rio das Pedras, Elizeu Damasceno Gois é natural da cidade de Marcionílio Souza, na Chapada Diamantina, próxima a Itaberaba, Estado da Bahia. Nascido em 25 de julho de 1970 é filho de Antonio Pereira Gois e Regina Damasceno Gois. Elizeu é um dos 8 filhos do casal, seu pai exerceu a atividade agrícola onde criou boa parte dos filhos, com o tempo mudou-se para um centro urbano, acabando por entrar no meio político, fez parte da administração pública, colaborou na eleição de um sobrinho como prefeito, isso no município de Marcionílio Souza.
Quem nasce em Marcionílio de Souza recebe qual denominação?
O natural de Marcionílio de Souza é marcionilense!
Esse gosto pela política demonstrado pelo pai do senhor o contagiou?
Eu acredito que sim. O político tem uma atuação social muito importante. Sou contra o assistencialismo, acredito que o bom administrador dará á população uma condição de vida melhor, a qualidade de vida depende muito da atuação de quem administra. Acompanhando a atuação do meu pai, pude ver a criação de novos projetos, desde o seu início até o seu desenvolvimento.
O senhor mudou-se para São Paulo em que ano?

Foi em 1989, eu estava já com 18 para 19 anos de idade. Trabalhei em uma empresa de terraplanagem, na área de construção civil, fazia sondagem de solo, com isso viajei muito pelo Estado de São Paulo. Eu sentia a necessidade de me fixar em algum lugar. Não me adapto em cidade muito grande, foi por isso que ao chegar á Rio das Pedras decidi que aqui deveria permanecer. Eu casei-me na Bahia, tenho dois filhos nascidos em Marcionílio de Souza e aqui em Rio das Pedras tivemos mais um filho. Vim para Rio das Pedras em 1993, tinha o desejo de fazer parte da administração pública. Em 2004 participei do pleito como candidato a vereador, tendo recebido 152 votos, não consegui ser eleito, mas fui convocado pelo prefeito Marcos Buzetto para assumir a pasta da Secretaria de Esportes. No dia 2 de janeiro de 2005 assumi a função de Secretário de Esportes. Até então eu tinha concluído apenas o ensino médio, fiz o vestibular na UNIMEP para a carreira de Gestão Pública, com o propósito de exercer a função de fato. Eu sabia que precisava me qualificar para exercer a atividade. Sabia que se fosse eleito no pleito seguinte deveria ter conhecimento técnico e prático. Em 2007 o prefeito sentiu a necessidade de que eu realizasse meu trabalho na Secretaria da Comunicação. Permanecei como Secretário da Comunicação até meados de 2008, quando me afastei do cargo para participar das eleições.
Quais são as atribuições do Secretário de Comunicação de Rio das Pedras?

Os atos administrativos têm que ser divulgados. O Prefeito Marcos Buzetto construiu muitas obras, que foram divulgadas pela Secretaria da Comunicação. Eu consegui acompanhar no período em que estive ocupando a função de secretário, foram 91 obras. Uma administração, mantidas as proporções de cada município, quase igual a do prefeito de Piracicaba, Barjas Negri.
Rio das Pedras construiu um portal monumental em uma de suas entradas, a função desse portal simboliza o que para a cidade?

Trata-se de um portal receptivo para quem chega á cidade. A primeira impressão é sempre a que permanece. Nós tínhamos uma entrada que não era tão bonita, pela SP-127, que vinha no sentido da Usina Santa Helena para Rio das Pedras, e tem outra entrada pela Rodovia Julio Bassa, que vem do sentido da Usina São José para a cidade. São as duas entradas principais da cidade. Nesta segunda entrada temos o problema de uma pequena comunidade morando á beira da pista, em habitações precárias. Foi feita a opção de construir o portal Pilé Degaspari na SP-127. Ao que consta Pilé é um apelido de origem italiana, que significa doçura, coincide com o cognome de Rio das Pedras de Cidade Doçura.
A situação dos moradores dessa comunidade está sendo estudada?

Pedi ao prefeito, inclusive mandei a minuta do projeto, para que se crie um auxilio moradia para as quinze famílias ali residentes. É um desejo meu, que essas famílias possam passar o natal em melhores condições. Hoje eles vivem em situações subumanas, correm risco de contraírem doenças, sofrerem atropelamentos. O prefeito já está remetendo o projeto de lei e estaremos aprovando esse ano ainda. A sobrevivência deles vem da reciclagem, atualmente existe o espaço onde eles moram e o local onde depositam os materiais. Vamos deixar uma área especifica para que eles façam essa armazenagem.
O senhor considera que todo político deve se qualificar tecnicamente antes de candidatar-se á um cargo?

Independente do tamanho da cidade, o legislador, o administrador público, tem que ter qualificação técnica.
O senhor foi eleito vereador em que ano?

Fui eleito em 2008.
Quantos vereadores compõem a Câmara Municipal de Rio das Pedras?
É constituída por nove vereadores.
O senhor foi eleito Presidente da Câmara já em seu primeiro mandato?

Fui eleito por unanimidade. A composição da Câmara foi praticamente reformada nas ultimas eleições. Da gestão anterior só permaneceram dois vereadores. Como faço parte dos sete novos eleitos, pelo fato de já ter assumido duas secretarias anteriormente, acredito que encontraram condições para que eu possa presidir uma câmara municipal. Não houve resistência contra a indicação de meu nome, e nem houve a necessidade de que eu pedisse algum voto de algum vereador a meu favor. Eu achava que um dos dois vereadores reeleitos deveria assumir a presidência, mas ambos declinaram.
As sessões da câmara municipal ocorrem em que dia?

Todas as quarta feiras a partir das 19 horas são transmitidas ao vivo pelo site www.camarariodaspedras.sp.gov.br Nós temos o auditório com capacidade para 100 pessoas, as sessões são abertas para quem deseje freqüentá-las.
Como é o dia a dia de um vereador em Rio das Pedras?

Pelo fato de ser uma cidade pequena, o cotidiano do vereador não é conturbado. A posição ocupada pelo Presidente da Câmara é pior, por ser responsável pela parte administrativa e legislativa da Câmara e a vereança para qual fui eleito. Com isso tenho que me desdobrar, cumprindo o mandato de vereador, falar e cobrar em nome do povo, e administrar a instituição.
A tradicional burocracia normal aos órgãos públicos envolve muitos papéis?

Em todos os setores a burocracia é grande, fato que não é privilégio da nossa cidade, mas de toda a nação. Pretendemos nas novas instalações evitar ao máximo o volume de papéis, usando os recursos da informatização. Vamos evitar a tramitação desnecessária de papéis.



No imaginário popular a figura do vereador é quem resolve todo e qualquer tipo de problema. Se a atividade própria á um assistente social garante votação eleitoral, traz também uma carga de atividades e problemas alheios a função?

A função do vereador é a mesma de um trabalhador. É uma forma de trabalho. Para a população não basta que o vereador fiscalize e cobre a aplicação dos investimentos da melhor forma possível, de tal forma que reverta em beneficio da própria população. O vereador é pago pela população para acompanhar a administração publica do executivo, para saber se realmente estão sendo aplicados os recursos naquilo que foi projetado. É um fiscal do povo. Não é um assistente social! Em Rio das Pedras a cultura assistencialista está mudando. É feito um rastreamento por uma assistente social, onde é verificada a necessidade de quem precisa participar dos programas do governo. Os que realmente necessitem serão beneficiados. Há um impulso natural do vereador em querer fazer esse papel, movido por simplicidade ou até por falta de conhecimento. Quando ele passa a atender e a contribuir com as exigências dos pedidos de alguns eleitores, ele passa a ter problemas pessoais de ordem financeira. Ele descobre que o seu salário não é suficiente para atender as solicitações.
O senhor acredita que a Câmara dos Vereadores de Rio das Pedras não dá espaço para o assistencialismo?

Não dá! Todas as pessoas que chegam com suas necessidades, nós encaminhamos para a assistência social. Lá é feita a triagem e verificada a real necessidade do solicitante.
Rio das Pedras cresceu nos últimos anos?

Cresceu bastante, em população e em orçamento municipal. A migração em si é um problema existente no Estado de São Paulo. A mudança ainda está muito lenta em outros estados. Em um passado mais remoto, Rio das Pedras teve um período em que ocorreu o incentivo de migrantes, com isso uma nova onda de possíveis eleitores, só que a justiça eleitoral se fez presente barrando as ilegalidades, principalmente quanto a domicilio eleitoral.
Como anda o orçamento da cidade?
Dobrou e está quase triplicando. Não só em função de indústrias, mas da própria administração do prefeito Marcos Buzetto.
Há algum projeto de trazer novas indústrias á Rio das Pedras?

Hoje está bastante difícil recepcionar novas indústrias em função da Lei de Responsabilidade Fiscal. Não se permite mais as doações de áreas, as empresas não se contentam com a concessão de áreas, elas querem receber em doação com escritura definitiva.
A formação básica escolar feita pelo município em Rio das Pedras é tida como modelo?

São escolas com nível das escolas particulares de primeira linha. O sistema municipal de ensino público atraiu as pessoas interessadas em um ensino com qualidade.
Existe alguma perspectiva de instalação de indústrias que necessitem de funcionários especializados em Rio das Pedras?
Acredito que isso irá acontecer de forma natural. A implantação de grandes empresas em Piracicaba irá motivar a busca de novos locais para a instalação de empresas fornecedoras de componentes integrados aos produtos dessas grandes empresas. A própria saturação da cidade de Piracicaba fará essa distribuição, o valor imobiliário é um fator favorável a Rio das Pedras. O ISS, Imposto Sobre Serviços em Piracicaba é 5% em Rio das Pedras é 3%.
Há uma tendência de Piracicaba e Rio das Pedras a exemplo do ABCD paulista tornarem-se cidades sem delimitações aparentes?

Irá chegar essa hora, só que acredito que isso não irá interferir muito na administração de ambas as cidades, a exemplo do que ocorre no ABCD.
O que é o projeto de Moeda Circulante Local?

É criação minha! Fui visitar um projeto semelhante, que já existe a 12 anos no Bairro das Palmeiras, em Fortaleza, Ceará, criaram a moeda circulante local para evitar que a economia migrasse para o centro de Fortaleza. Tentei implantar em Rio das Pedras, porque percebemos que as grandes cidades sugam nossas economias, e o comércio local fica patinando. Lancei o projeto da moeda local. O prefeito atendeu a reivindicação.
Como chama essa moeda adotada por Rio das Pedras?

Lá em Fortaleza chama “Palmas”, tomou o nome do bairro Palmeiras.
Em Rio das Pedras será “Pedras”?

Seria talvez. A solução adotada foi diferente. O município adquiria cesta básica através de concorrência pública e os ganhadores eram sempre de outras cidades. Até então Rio das Pedras adquiria cestas de uma empresa de Corumbataí, quase 1.000 cestas por mês, a R$ 78,00 cada uma. É muito dinheiro! Os tributos eram recolhidos pela prefeitura de Corumbataí. O prefeito decidiu passar as cestas de R$ 78,00 para o vale alimentação no valor de R$ 150,00 praticamente dobrou o valor. Será licitado um cartão vale alimentação onde será credenciado o comércio local. Esse dinheiro será investido em Rio das Pedras. Dentro do período de 3 anos de administração do prefeito Marcos Buzetto ele irá investir no comércio local mais de 4 milhões de reais. Isso passará a vigorar a partir de janeiro. Eu acho que essa medida substituiu o projeto da Moeda Circulante Local.
Rio das Pedras tem um potencial turístico?

Eu acredito que existe. Quem explora o turismo é a iniciativa privada, o poder público contribui para o desenvolvimento inicial. Até hoje na administração municipal ninguém se interessou pela Rua Torta. Tanto é que não existe nenhum processo de tombamento, porque a partir do momento em que é feito um tombamento, a responsabilidade pelo patrimônio tombado é do poder publico. A Rua Torta já está desfigurada, pelo fato das administrações anteriores não terem atentado para isso. O que não impede que possa vir a ser feita alguma ação no sentido de dar o devido valor á Rua Torta. Isso depende não só do poder público, tem que haver a participação da iniciativa privada.































quinta-feira, novembro 26, 2009

Marcelo de Castro Meneghin



                                          Marcelo de Castro Meneghin







PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 21 de novembro de 2009
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.tribunatp.com.br/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADO: Marcelo de Castro Meneghin
Esse é um ano especial para a Faculdade de Odontologia de Piracicaba, que comemora o centenário do nascimento do Prof. Dr. Carlos Henrique Robertson Liberalli, instalador e primeiro Diretor dessa instituição de ensino. O dentista Marcelo de Castro Meneghin é vice-diretor da Faculdade de Odontologia de Piracicaba – FOP, unidade integrante da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e professor da área de odontologia preventiva e saúde pública, do Departamento de Odontologia Social. Formado pela FOP, fez a pós-graduação, mestrado e doutoramento na Faculdade de Odontologia de Araçatuba – UNESP.
O senhor é natural de qual cidade?
Sou nascido em Botucatu em 11 de maio de 1965, vim para Piracicaba em 1986, como calouro da FOP.
Os seus pais tinham alguma relação com a odontologia?
Não. Meus pais não cursaram o ensino superior, fui aluno dos bons tempos da escola pública até a oitava série. Tive a oportunidade de fazer o colegial no Colégio Arquidiocesano, após concluir o colegial fiz o exame da FUVEST e tive a honra de vir para Piracicaba. Foi aqui que encontrei Zuleica Pedroso, na época também aluna da FOP, hoje minha esposa e mãe das nossas três filhas.
Como estudante onde o senhor morou?
Inicialmente morei em república onde permaneci até a minha formatura. Passei a trabalhar no meu consultório, e morava no consultório. O dinheiro era curto, nesse inicio ingressei no setor público como dentista. Trabalhava na clínica privada e no setor público, isso me ajudou muito no desenvolvimento das minhas atividades na FOP, por ter a oportunidade de trazer a experiência do setor público para dentro do ambiente acadêmico. O desenvolvimento das atividades de pesquisa dentro da academia foi importante, para sustentar a dinâmica com os alunos, o relacionamento com o setor público. Diversos convênios sou eu quem discute com o Dr. Fernando Cárdenas, com o Prefeito Barjas Negri.
O que o levou a escolher a profissão de dentista?
A escolha não tem um motivo muito definido. Não tenho ninguém na família que tenha sido cirurgião dentista. Sempre gostei muito da área de biológicas como um todo. O que me encantava na profissão de dentista é a questão do sorriso, da estética do ser humano. Hoje a minha área é para preservar, recuperar através de um trabalho estético, como se fosse uma plástica. O sorriso como um cartão de visita das pessoas me instigava. Na escola fui descobrindo a importância da prevenção com relação á saúde. Essa pergunta é interessante, porque sou natural de Botucatu, onde há uma das melhores escolas de medicina do país e meus pais nunca esconderam que gostariam que eu seguisse a carreira de medicina. Só que eu tinha o sonho de fazer a odontologia. Até hoje, meus pais dizem de forma carinhosa: “Você tinha conquistado os pontos necessários para formar-se como médico”. Eu acho que fiz uma boa escolha, formei uma família bonita, escolhi uma boa cidade. Entendo que estou em uma posição bem situada profissionalmente.
O receio do paciente com relação á ida ao dentista é uma característica que ainda persiste?
Esse receio existe por diversos fatores, o próprio desenvolvimento tecnológico da profissão. Antigamente os equipamentos utilizados pelo profissional não eram equipamentos confortáveis ao paciente. Nem mesmo a cadeira oferecia conforto. O receio surge também pela própria dinâmica dos materiais utilizados. O processo de anestesia não tinha a eficiência que hoje existe. A nossa cultura sempre fez a ligação do profissional com um problema existente, e geralmente acompanhado de dor. O tratamento a ser feito não era fácil, era traumático, onde o paciente sofria. Nós temos uma política de saúde bucal a partir da ultima constituição, de 1988. Até então tínhamos o dentista que atendia nas escolas, sendo que muitas vezes era dito ao aluno mais travesso: “-Se você não se comportar eu te mando para o dentista!”. Era uma ameaça, com isso o dentista não era uma figura ligada á questão de saúde. Nesse aspecto abro parênteses, o Professor Miguel Morano Júnior já há 20, 25 anos, falava na questão da preservação da saúde, dentro da sua disciplina Educação Para a Saúde. O resgate do cirurgião dentista como profissional de saúde vem sendo feito aos poucos. Hoje a situação já está se tornando mais agradável, você vai ao dentista para preservar a saúde. É feita uma manutenção da saúde, um diagnóstico precoce de algum problema, o que resultará em tratamento sem o sintoma doloroso. Seguramente deverá levar ainda alguns anos para que essa mudança ocorra de forma mais abrangente.
A popularização do aparelho ortodôntico é positiva?
Como fator estético eu encaro de maneira positiva, enquanto o fator estético não atrapalhe a função saúde. Trabalho na periferia de Piracicaba e vejo a preocupação do jovem sobre a necessidade de usar um aparelho ortodôntico. Muitas vezes eles esquecem que se prevenirem uma carie dentaria terão uma aparência estética muito boa. Aproveito para associar a essa preocupação com a estética indicando um clareamento dental. Sempre que você devolver a auto-estima, confiança a uma pessoa, com seu sorriso bonito, isso será muito importante. Tudo isso deve ser sempre muito bem indicado e controlado.
Há uma faixa da população que luta muito para obter o mínimo necessário á sua sobrevivência. De que forma imagina-se que ele consiga cuidar da sua saúde bucal?
Essa questão é interessante porque muitas condições são oferecidas para que eles cuidem de sua própria saúde. Nossos alunos fazem estagio em um projeto desenvolvido junto com a prefeitura de Piracicaba, com o Ministério da Saúde, sendo que os 80 alunos do curso de graduação estão envolvidos nesse projeto. Muitos dos alunos de pós-graduação também estão envolvidos nesse processo. É importante salientar que entre os alunos de pós-graduação temos alunos de diferentes áreas: farmacêuticos, fonoaudiólogos, psicólogos. O curso é o Programa de Pós-Graduação em Odontologia, abrange algumas áreas específicas desse programa: bioquímica onde há a área de cariologia, de fisiologia, de saúde coletiva, de odontopediatria. Cada um desenvolve a sua linha de pesquisa de uma forma. Temos linhas de pesquisas na área de epidemiologia, que é o estudo da saúde publica. Temos a oportunidade de desenvolver estudos como, por exemplo, quanto um problema de desigualdade ou exclusão social interfere na questão de ter mais chances de desenvolver mais caries. Com relação aos cuidados da saúde bucal, a prefeitura tem seus programas de distribuição de escovas, pasta dental, palestras. O nosso foco é melhorar as condições de acolhimento, ou seja, como conseguir fazer com que essas pessoas procurem o serviço. O paciente idoso tem uma dificuldade maior em procurar o serviço. Uma adolescente gestante a partir do momento em que ela tem o nenê entra toda uma parte odontológica. Os pacientes diabéticos aumentam o risco de desenvolverem certas doenças, se estiver junto com o seu médico uma equipe odontológica é possível desenvolver ações para minimizar ou até evitar transtornos odontológicos. Ajudamos também na questão de organizar e qualificar as demandas, qual é o paciente que deve ser chamado com mais urgência. Qual é o setor que devemos dedicar maior atenção para os problemas não se agravarem. Encaminhamentos para unidades de especializações, um tratamento de canal para onde pode ser encaminhado.
No antigo prédio da faculdade de odontologia funciona uma clinica?
Desde 1998 funciona uma clínica grande onde atendemos uma média de 2.000 crianças por ano. É um projeto em conjunto com a prefeitura de Piracicaba, a Associação Paulista de Cirurgiões Dentistas, a Fundação Belgo do Grupo Arcelor Mittal. O trabalho é realizado com as crianças das escolas municipais de Piracicaba. Com as crianças da escola estadual algumas incursões estão ligadas á área da Educação Para a Saúde do Departamento de Odontologia Social, onde atuam o Professor Fábio Luiz Mialhe e Professor Miguel Morano Junior.
A Unicamp e o CNPq têm um projeto em conjunto?
É o Programa de Iniciação Científica Júnior, que nós chamamos de PIC Jr., temos 25 jovens do ensino médio que fazem iniciação cientifica, o Prof. Miguel Morano Jr. é que coordena mais essa ação. Recebem aulas e treinamento em diferentes setores da faculdade, e recentemente dentro do Congresso Internacional de Odontologia da FOP apresentaram trabalhos de pesquisas desenvolvidos por eles, foram muito bem avaliados. É um segmento nosso de despertar nesses jovens o interesse pela academia, pela pesquisa, pelo o que é ciência, sem a pretensão de que eles sigam nem a área odontológica ou a área de pesquisa, mas sim despertar essa curiosidade que irá auxiliá-los em suas vidas. Eles recebem uma bolsa do CNPq, estão vinculados á FOP e também a Pró-Reitoria de Pesquisa da Unicamp.
A saúde bucal reflete no estado geral de saúde do indivíduo?
O que está claramente estabelecido é que a boca não é uma estrutura, um órgão separado do corpo humano. Há uma relação de saúde bucal com saúde geral. Algumas pesquisas já estabeleceram a relação da saúde bucal com a saúde de outros órgãos do ser humano, inclusive com o coração. Na há como ignorar a saúde bucal. Antigamente parecia um curso natural ter os dentes, e ao passar do tempo perdê-los. Isso não é um curso natural, é conseqüência de uma doença! Ao cuidar da saúde bucal estará sendo cuidada a saúde geral.
Quando o dentista deve ser procurado?
Vai depender de como a pessoa mantém a sua saúde bucal. Quais são os riscos de cada indivíduo. Uma pessoa diabética tem mais chances de ter uma doença na gengiva, então deve fazer um acompanhamento com o seu dentista. Quem tem pouca salivação aumenta a chance de desenvolver alguma doença. Quem pode orientar é o dentista, ele irá indicar a medicação e procedimentos necessários. Algumas pessoas precisam escovar mais vezes os dentes. Outras têm uma raiz exposta, é um local mais sensível para desenvolver uma carie. Há aqueles que têm os dentes mais agrupados, isso dificulta a higienização, aumenta a chance de desenvolver alguma doença. O retorno ao dentista que era pré-estabelecido de seis em seis meses, pode variar muito de individuo para individuo.
Qual é o numero ideal de escovação a cada dia?
O ideal é que seja sempre após as principais refeições diárias. E também antes de dormir, por ser um período onde há diminuição do fluxo salivar.
A escovação da língua é importante?
É importante como mais um meio de se fazer uma higienização. Temos que observar que a carie está no dente, á placa bacteriana forma-se no dente. Portanto escovar a língua sem escovar o dente não irá resolver nada. O consumo inteligente, controlado do açúcar, é importante. Há mães que para cessar o choro de uma criança mergulham a chupeta em açúcar e dão para que o choro termine isso proporciona o risco dessa criança desenvolver a carie. Ou mesmo os produtos líquidos como leite, achocolatados, que são oferecidos para essas crianças, com muito açúcar, para ficar bem docinho, é uma forma de carinho, só que aumenta o risco do aparecimento de carie.
Qual é a importância do flúor na água?
Os últimos levantamentos realizados no Estado de São Paulo mostram que as cidades que utilizam flúor na água têm menos caries do que aquelas cidades que não utilizam flúor. Bem controlado, essa é a questão, o flúor não traz nenhum tipo de problema. Piracicaba tem um histórico muito positivo nesse controle. A água traz um benefício direto para a população de baixa renda, é mais um veículo barato, que traz um resultado significativo. A FOP tem um mérito muito importante, é na questão da quantidade do flúor na pasta de dente.
Quando irá acabar o barulho do motorzinho no consultório dentário?
Boa pergunta! Um bom engenheiro poderia responder por que não acaba esse barulho!
A raça negra é conhecida no conceito popular por ter dentes bons. Isso é folclore?
É folclore! A estrutura de mineral é a mesma. Se forem submetidas ás mesmas condições terão idênticos desenvolvimentos. O dente dentro do ambiente da boca tem um equilíbrio dinâmico.










quinta-feira, novembro 19, 2009

CORCOVADO ANTES DO CRISTO REDENTOR


RARIDADE: FOTO DO CORCOVADO ANTES DO CRISTO REDENTOR
by J. Eduardo
Independente da coloração política, todo trabalho sério merece o apoio da população, em especial do eleitor. Transcrevemos aqui a mensagem do Veredor, militar reformado do Exército Nacional, que tem buscado exercer seu mandato de forma efetiva:
"Na enquete que realizamos no mês de outubro contamos com a participação de 1.600 amigos internautas, dos quais, 864 (54%) responderam que a segurança é o fator que mais preocupa a população, nos dias de hoje.
Na primeira quinzena de novembro, em uma nova enquete, contamos com a participação de 891 participantes, dos quais, 222 (25%) responderam que o desemprego é o fator que mais reflete na violência, seguidos da falta de ensino (25%) e da impunidade (21%).
Pois bem, nesta segunda quinzena de novembro, em uma nova enquete perguntamos se o internauta já foi vítima de algum tipo de violência.
Nesta nova enquete que é fundamental para o relatório que apresentaremos as autoridades governamentais (municipais, estaduais e federais) responsáveis pela segurança da nossa população.
Aos amigos internautas desde já, agradecemos a participação na enquete que está no nosso site
www.camarapiracicaba.sp.gov.br/capitaogomes
Ao término desta relevante pesquisa encaminharemos o nosso relatório final.
Capitão Gomes - Vereador"





sábado, novembro 14, 2009

Traditional Jazz Band

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 07 de novembro de 2009
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
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http://www.tribunatp.com.br/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADOS: Traditional Jazz Band




Alcides de Oliveira Lima “Cidão”


O que é Jazz? Ainda que muitos dicionários e estudiosos tentem definir, talvez a melhor definição esteja na frase atribuída a Louis Armstrong: "Se você pergunta o que é jazz, você jamais saberá o que é". De 1618 até 1808, quando foi legalmente proibida á comercialização de escravos na América, milhões de africanos foram trazidos, sendo a maioria levada aos estados do sul dos Estados Unidos. Grande parte dos escravos vieram do oeste da África e trouxeram fortes tradições da música tribal. No porto de Nova Orleans, estivadores negros ficaram famosos pelas suas canções de trabalho. Essas canções mostravam complexidade rítmica, na tradição africana eles tinham uma linha melódica com o padrão pergunta e resposta. No começo do século XIX, um número crescente de músicos negros aprendiam a tocar instrumentos do ocidente, particularmente o violino. A música era vibrante, quase sempre, improvisada. Diferente do nosso samba, também de origem afro, o jazz sempre se notabilizou, principalmente, por seus instrumentos clássicos: sax, trompete, piano, bateria, trombone, baixo Enquanto no Brasil era permitido aos negros cantarem e dançarem nas senzalas, o mesmo não acontecia nos Estados Unidos. Várias bandas marciais foram formadas, aproveitando a disponibilidade dos instrumentos usados nas bandas do exército. Um pianista negro não podia ser aceito em salas de concertos, mas poderia ser encontrado tocando na igreja ou tinham oportunidades de trabalho em bares, clubes e bordéis. Diversas bandas marciais, encontraram serviço particularmente em funerais luxuosos. Neles, se tocava música solene no caminho do cemitério. Alcides de Oliveira Lima, carinhosamente chamado de “Cidão” relata um pouco da história desse fenomeno musical brasileiro que já dura 45 anos, o Traditional Jazz Band, ou TJB para os seus admiradores.
Cidão você nasceu em que cidade?
Nasci em Sorocaba no dia 7 de julho de 1940, estou com 69 anos de idade mas com um corpinho de 68 anos! Cursei o Primário no Grupo Escolar "Visconde de Porto Seguro" minha primeira professora foi Dona Messias, era muito boazinha. Depois fiz a OSE. Eu fazia teatro amador em Sorocaba, fizemos a peça “Eles Não Usam Black-Tie” de Gianfrancesco Guarnieri. O Guarnieri foi assistir, gostou da minha atuação e me convidou para substituir o Flávio Migliacio que hoje está na Rede Globo. Era para fazer o papel do Chiquinho na peça. Fui, gostei da experiência e com 18 anos de idade, incompletos, eu mudei-me para São Paulo para fazer teatro. Fiz algumas peças, mas vi que a coisa era difícil para manter uma vida financeiramente estável. Acabei concluindo meus estudos e me formei em economia indo trabalhar na indústria automobilística.
Logo que você mudou-se para São Paulo foi morar onde?
Fui morar no bairro Ipiranga. Minha tia tinha a Padaria Silva Bueno, ficava perto do Grupo Escolar Visconde de Itaúna, quando tinha de 11 a 13 anos de idade , ia com meu irmão passar as férias na padaria. Era a minha diversão! As minhas férias mais maravilhosas era ajudar a minha tia na padaria. Eu tenho um carinho especial pelo bairro do Ipiranga.
Em qual escola você formou-se?
Fiz a Escola de Administração de Negócios na FAAP Fundação Armando Álvares Penteado, do Largo São Francisco. Eu já tinha feito contabilidade na OSE Organização Sorocabana de Ensino.
Você já tocava algum instrumento musical nessa época?
Eu tocava bateria desde os 16 anos de idade. Na Orquestra Irmãos Cavalheiro formada por quatro irmãos eu tocava bongô, como se dizia na época eu era “de menor”. O Comissário de Menores ia até o local do show para ver se havia algum menor presente. Os músicos eram pessoas com altura superior a um metro e noventa, eles ao perceberem a presença da autoridade, ficavam em pé e com isso ninguém me via. Dava-se o inusitado acontecimento do “bongô mágico”, ouvia-se o som do instrumento sem que soubessem quem era o artista que estava tocando! Depois passei a tocar tumbodora, que são dois bongôs maiores, juntos. A banda explorava um show de meia hora durante o baile, era um show de chá-chá-chá, mambo. Estava no auge! Passei a tocar tumbadora, maraca, durante o show eu usava aquelas roupas todas coloridas. Com isso passei a ter cada vez mais ritmo. O baterista, João Cavalheiro disse que iria me ensinar a tocar bateria. Aos 16 anos de idade comprei a minha primeira bateria, nacional, marca Gope. Logo depois adquiri uma bateria Pingüim. Um dia o João Cavalheiro me disse: “Cidão, você está pronto para apresentar-se como um bom baterista, já tem 18 anos de idade. Eu gostava muito de um tema do filme “O Homem do Braço de Ouro” é um tema específico para bateria, fiz, e no final chorei de emoção por ter realizado aquele solo.
Em seguida você mudou-se para São Paulo?
Cheguei a São Paulo para fazer teatro, fui fazer a peça “Arena Conta Zumbi”, e nessa peça precisava fazer uns batuques, umas músicas meio misteriosas da África. Disseram-me: “- Batuque você pode fazer, mas precisamos de um clarinete, saxofone, algo assim”. Deram-me uma indicação de que o Tito Martino tocava clarineta, ele já fazia jazz em um quarteto. Ele me convidou para fazer parte de um grupo de jazz. Disse-lhe: “- Só que não tenho bateria, eu vendi a minha quando vim para São Paulo”. Ele então respondeu: “- Vamos até o bairro Ipiranga, tem uma pessoa que tem uma bateria, ele pretende ser o baterista, mas acho que não reúne as condições necessárias”. Fomos até lá, peguei a bateria, passei a tocar, a impressão é de eu já a tocava por uns quinhentos anos! A pessoa emprestou a bateria, eu fazia teatro ao mesmo tempo. Estava concluindo meus estudos, passei a trabalhar no meu primeiro emprego, foi na Ford. Logo depois comprei a minha própria bateria e começamos a tocar.
Você é filho único?
Somos quatro filhos: meu irmão mais velho, com 10 anos a mais do que eu, falecido, outro é o Armando de Oliveira Lima, jornalista em Sorocaba, foi professor de filosofia pura na Faculdade de Filosofia. Outro irmão, nascido dois anos antes de mim, e que é promotor público aposentado. Eu sou o irmão caçula!
Como é o nome dos seus pais?
Meu pai é  Antenor de Vieira Lima e minha mãe Amélia Marchesini Lima.
Seu pai era músico também?
Só o meu tio Agenor, irmão do meu pai é que tocava violão. Mais ninguém na família era músico. Não tenho essa veia musical da família, acho que a inaugurei! Meu filho já toca bateria.
E o músico que faz parte do TJB, o Carlos Lima, é seu parente?
Não é meu parente, mas é meu compadre! Tive o prazer de batizar o filho dele.
Em que ano você casou-se?
Foi em 1964, na cidade de Santos. A minha esposa Vera Lúcia é de Santos. Tudo começou quando fui com um dos meus irmãos fazer uma palestra, eu estava no palco, com meu irmão, na platéia estava a Vera. Olhei para ela e um ano e nove meses depois casamos. Foi em 19 de dezembro de 1964. Dia 19 de dezembro próximo estaremos completando 45 anos de casados. Um único casal completar esse período de tempo casados é marcante. Casar diversas vezes e somar esse tempo de casado é fácil. Temos três filhos maravilhosos: Miriam, Márcia e Marcelo.
Você continua viajando muito ainda?
Trabalho em uma empresa de consultoria, eu visito as distribuidoras Toyota. Acabei de chegar de Feira de Santana. Isso sem falar que viajo com a banda.
Quem fez o logotipo da banda?
Foi João de Deus Cardoso, ele é um artista gráfico. O piston é um instrumento líder da banda e o verde e amarelo são as cores do Brasil. Viajamos bastante com a banda para o exterior.
Como a sua esposa Vera encara a sua profissão de músico?
Quando nos casamos eu já era músico. Voltava tarde para casa, ela foi muito compreensível, sei que não foi fácil para ela, ter um marido que chegava de madrugada. Quando as crianças nasceram, o intervalo de tempo de nascimento entre uma e outra foi próximo. Da Miriam para a Márcia foram 18 meses, da Márcia para o Marcelo foram 13 meses. Com isso eu fiquei afastado da música por um período de sete anos.
Você pratica algum esporte?
Lá no passado, bem no passado, eu joguei futebol na posição de meia-direita, jogava bem mal. Joguei o que chamávamos de pingue-pongue, hoje tênis de mesa. Pouca gente sabe, mas eu fui campeão paulista de futebol de botão! Na Ford tínhamos um clube dos funcionários, cheguei a ser diretor social desse clube e começamos a fazer competições com times de outras indústrias automobilísticas. Existia a Federação Paulista de Futebol de Mesa, envolvendo uma série de outros clubes.
Além do jazz você gosta de outro tipo de música?
Gosto de todas as músicas, para mim só existem dois tipos de música: de boa qualidade e de má qualidade.
Grandes nomes da música nacional estão movimentando-se para diminuir a carga tributária que incide sobre as mídias (CD, DVD), com o intuito de tornar mais acessível para o grande público as obras gravadas. Qual é a sua opinião a respeito?
O problema que existe no Brasil é de natureza cultural. Nós estamos disponibilizando os nossos CDs na internet, no portal UOL. Praticamente paramos de gravar CDs para a venda. Na minha opinião, mesmo diminuindo a carga tributária não irá resolver o problema.
Você ja escreveu algum livro?
Não. Ainda não. Estamos com o projeto de escrever.
O que você sente ao executar uma música de jazz?
Eu não sei explicar. Na primeira vez em que estive em New Orleans me senti em casa. Com essa sensibilidade, quando faço jazz me sinto transportado para essa época, 1910, 1912, 1915, 1930. Acho que sempre fui jazzista e não sabia disso. Executando jazz sinto que preencho a minha vida, não consigo me imaginar sem o jazz tradicional. Quando eu parei de tocar por sete anos, disse para mim mesmo, agora pretendo não parar nunca mais. Após trabalhar por 35 anos na indústria automobilística, me aposentei. Disse a minha mulher: “- Vera! Vou fazer o que eu gosto!”. E comecei a trabalhar com música, 90 dias depois eu estava tocando, fazendo música e infeliz! Perguntei a Vera o que estava acontecendo. Ela disse-me: “- Você precisa fazer uma coisa diametralmente oposta a música para que você possa merecer a música!”. As mulheres são sabias. Passei a trabalhar com consultoria, nunca mais tive esse tipo de problema. Merecendo a música, eu me transportava de novo!
Qual foi a sua mais grata surpresa?
A minha mais maravilhosa surpresa são os meus netos! Filho é maravilhoso, mas netos...
Quantos netos você tem?
Sou um avô babão, tenho três netos, uma menina de 12 anos, a Priscila, um menino de 10 chamado Henrique e uma pequenininha, o nosso encanto, chamada Isabella, que fez um ano em 13 de novembro. No mundo musical a grata surpresa é nós da banda termos conseguido realizar 70 por cento da escola jazzistica.
Qual foi o show mais contagiante?
Existem vários, citar especificamente um é dificil. Um muito marcante foi quando fomos tocar para um hospital nos Estados Unidos, eram crianças com necessidades especiais, montaram tudo para nós, fizeram botons, lembro-me perfeitamente que ao término do show uma criança com um braço muito fininho começou a carregar a cadeira para guardar no lugar correto. Eu quiz ajudar, ao que a menina respondeu: “- Você fez a sua parte muito bem feita, agora é a minha parte!”. Isso foi tocante.
Durante um show sempre tem o indivíduo incoveniente. Você lembra-se de algum?
Tem! Há uma história de tres mulheres incovenientes. Adoro fazer trocadilhos, é um humor inteligente. Nós estavamos tocando no Opus 2004 e dissemos assim: “-Vamos fazer 15 minutos de intervalo e voltaremos mais bebados do que nunca!”. Diziamos isso em tom de brincadeira. Os 15 minutos de músicos não deve ser levado a sério. Foram 35 minutos! Quando voltamos, peguei o microfone, tinha três senhoras, aquelas de tailleur, aspecto de executivas, uma delas passou a mão no meu microfone, não pediu licença e disse para mim: “-Olha, nós consumidores estamos sendo enganados! Esta figura que está aqui no palco mentiu para nós! Disse que o intervalo seria de 15 minutos, eu marquei no relógio exatos 37 minutos! Isso é uma afronta! Eu de posse do microfone disse-lhe: “A senhora tem razão! Em homenagem a senhora daqui para frente vamos fazer menos pausa!” O público não se conteve! Temos também os chatos de plantão.
Tem aquela figura que pede para tocar uma música que não tem absolutamente nada a ver com jazz?
Têm! A música que esse tipo sempre pede é o “Parabéns Á Você”! Nós tivemos até que fazer um arranjo especeial. Dizem: “-Toca poque hoje estou com a minha namorada e é aniversário dela! Ou é a mãe, a sogra. Fazemos jazzisticamente o “Parabéns Á Você”. Os que não entendem de jazz pedem músicas que estão nas paradas de sucesso! Isso nós não fazemos. Em Nova Iorque pediram que fizesemos um sambinha. O Edo Callia sugeriu que fizessemos o “In the Mood” que é o “Edmundo”, a letra em português. Saimos durante o dia, fomos comprar tamborim, pandeiro, e a noite apresentamos. Acabamos incluindo em nossos shows até hoje.
Onde foi o local mais exótico onde vocês tocaram?
Foi em Porto Velho, em um restaurante que ficava em cima de uma árvore. Colocaram entre duas árvores um tabladão, era um restaurante, tocamos lá. Outro local exótico foi dentro do avião da VASP.
Em New Orleans há a tradição de uma banda de jazz acompanhar um enterro. Já ocorreu isso com vocês no Brasil?
Já acompanhamos três enterros e uma missa de sétimo dia. Dois enterros foram no Cemitério da Consolação. Outro falecido deixou em testamento que fosse enterrado nos moldes dos funerais de New Orleans.

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