domingo, fevereiro 19, 2012

CARLOS MORAES JÚNIOR

JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 12 de fevereiro de 2012
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
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ENTREVISTADO: CARLOS MORAES JÚNIOR
O Brasil vive um momento em que a necessidade de mão de obra qualificada tornou-se um gargalo para o seu desenvolvimento, o valor da educação salta aos olhos. Piracicaba é denominada como Ateneu Paulista, embora alguns façam referência a Atenas Paulista, uma forma de dizer que é considerada uma cidade privilegiada pelo número de estabelecimentos de ensino. O ensino público por décadas foi considerado superior ao ensino privado, até surgir reformas como a aprovação continuada, que hoje causa grande polêmica, o princípio estabelecido era louvável, mas na prática é desastroso. Há quem diga que os estudantes muitas vezes concluem o ciclo de ensino com a qualificação de analfabeto funcional. Houve um grande desenvolvimento tecnológico, mas o aprendizado árduo, que requer empenho por parte de alunos e mestres, foi em muitos casos relegado a um segundo plano. Historicamente pode acontecer que um percentual pequeno de alunos que se dediquem ao aprendizado serão líderes naturais em detrimento àqueles que têm o título, mas não estão capacitados. Nessa grande massificação de cultura, emergem ilhas de grupos intelectuais. Piracicaba mais uma vez se destaca, instituições voltadas às Artes Plásticas, Musica, Literatura formam grupos de pessoas interessadas em desenvolverem seu potencial. O Jornalista Carlos Moraes Júnior é o responsável pelo Clube dos Escritores, uma entidade que tem cerca de 600 associados no Brasil todo, classificados em grupos distintos, cada associado recebe denominação referente á cadeira que ocupa. Carlos Moraes Júnior nasceu em Tatuí, no dia 16 de dezembro de 1948 são seus pais Professor Carlos Moraes e Professora Dirce Avalone de Moraes. Carlos é o primogênito dos quatro filhos que o casal teve. A esposa de Carlos é Maria Clarice Alves da Silva Moraes, ambos são pais de Luis Emiliano.
Quem nasce em Tatuí geralmente toca algum instrumento.
Minha mãe era formada em piano. Estudei música por quatro anos, só que como bolsista fui designado a tocar um instrumento com o qual não tinha nenhuma simpatia, o violino, eu queria na realidade estudar piano, só que não tinha bolsa de estudos para piano. Minha mãe era formada em piano. Um dia eu estava tão enfadado daquele instrumento que o joguei em cima de um caminhão que passava, o motorista o trouxe de volta, na época eu deveria ter uns treze anos, estudava teoria musical e tocava violino. Com o decorrer do tempo passei a tocar piano, violão, órgão, escaleta, só não toco sanfona, tenho mais de 30 músicas compostas por mim, geralmente com parceria de alguém que compunha a música e eu fazia a letra. Gosto de música sertaneja, não posso ouvir músicas de Roberto Carlos, acabo chorando, principalmente as músicas da época da Jovem Guarda, eu vivi aquilo. Prefiro a fase mais antiga do cantor, não me identifico com as musicas recentes dele. Acho que Erasmo Carlos mantém-se mais fiel a sua origem.
Quando você compôs a sua primeira poesia?
Foi em 1962. Em Tatuí havia um jornal estudantil, nele eu publiquei as minhas primeiras poesias. Com 13 anos eu já tinha lido Monteiro Lobato, Érico Veríssimo, Machado de Assis, Castro Alves. Jorge Amado eu não tinha acesso. Meu pai dava-me os livros. Na idade entre 13 e 14 anos eu já havia lido mais de 50 poetas, inclusive de outros países. Eu lia muito, na minha cidade não tinha o que fazer, conheci televisão quando tinha 12 anos, ia até a casa de um vizinho que tinha televisão para assistir o desenho do Pica Pau que passa até hoje. Tinha um programa chamado “I Love Lucy”, outro programa com Eva Wilma e John Herbert. Eu adorava o “Grande Teatro Tupi”. Não gostava de futebol, mas era campeão de natação. Eu gostava mesmo era de ler e escrever poesias. Mais tarde é que passei a escrever crônicas, tenho mais de 3000 crônicas escritas e publicadas. Tive a coluna diária chamada “Temática” era publicada pela Tribuna Piracicabana, permaneceu por cinco anos. Simultaneamente eu publicava no Jornal de Piracicaba. Às vezes republico na Gazeta de Piracicaba uma crônica que escrevi há 20 anos e que está dentro do contexto atual. Quero ver se nestas festividades dos 50 anos faço uma exposição dos meus desenhos, tenho dezenas deles.
Em que ano você e sua família vieram morar em Piracicaba?
Foi em 1966, fomos morar na Avenida Armando Salles de Oliveira, entre a Rua Rangel Pestana e D.Pedro II, a casa existe até hoje. Ainda circulava o trem a vapor, a famosa Maria Fumaça, dia e noite escutávamos a movimentação de term. Fomos estudar no Sud Mennucci, no curso científico fui aluno de Argino Cecarelli, do professor Demóstenes que lecionava química.
Nessa época você já trabalhava?
Em 1967 fui trabalhar como revisor no Jornal de Piracicaba, no prédio da Rua Moraes Barros, Dr. Losso Neto era o diretor. Lembro-me do Nelson (Tuca) Barreiro, José ABC era o editor. A primeira poesia que publiquei no Jornal de Piracicaba foi na coluna social do Lino Vitti. Fiquei no Jornal de Piracicaba até 1972, só que ai já estava escrevendo, fazendo Mobral Em Revista, eu era Supervisor no Mobral, Movimento Brasileiro de Alfabetização, eu dava aula no G. E. Olivia Bianco, no Jaraguá, era monitor, depois passei a supervisor. Nessa época escrevia a coluna Temática. O jornalista Geraldo Nunes me convidou para ir fazer reportagem em “O Diário”, em 1972 fiz meu ingresso. A primeira matéria que fiz foi Bandeirantes Modernos, sobre o projeto Rondon, que ocorreu em Rio das Pedras. “O Diário” era um jornal combativo, suas páginas criavam polemicas, fiz muitas reportagens buscando sempre defender os interesses da população. Fazia notas policiais, horóscopo. Apareceu a oportunidade de trabalhar no Jumbo Eletroradiobrás, que se instalava em Piracicaba, fui para São Paulo, fiz um treinamento em seguida inaugurei as lojas da Casa Verde, Aeroporto, Guarulhos, Botucatu, Santos, Campinas e viemos inaugurar a loja de Piracicaba onde me tornei Gerente de Promoção de Unidade, permaneci no Jumbo por dois anos e seis meses.
Como era a liberdade de imprensa no período do Regime Militar?
Em 1967 tinha a sala do censor, dentro do jornal. Fui convidado a explicar uma crônica minha. Tive que explicar linha por linha. O trecho censurado era: “O resto eu não posso contar, tem um gato no telhado, sinhozinho”. O Senhor Censor disse que tinha coisa perigosa na minha crônica. Veja as coisas como eram, o livro “A Capital” de autoria de Oscar Niemayer, sobre a construção de Goiânia era considerado livro de filosofia comunista, um enorme imbróglio com “O Capital” de Karl Marx.
As agências de publicidade já atuavam em Piracicaba?
Trabalhei na Agencia de Publicidade LH, ficava próxima á Porta Larga, eu fazia redação publicitária, só que o trabalho não tinha o reconhecimento monetário que hoje existe.
Você teve a necessidade de trabalhar em algo mais promissor?
Fui trabalhar com atendimento médico no INPS como concursado. O critério de atendimento aos pacientes adotado pela chefia me deixou descontente, saí de lá, percebi que aquele estado de coisas não me fazia bem. Fiz concurso para Fiscal de Rendas Municipal, passei em segundo lugar, ingressei e após 33 anos de trabalho,em 1997, me aposentei. Quando fiz o concurso o prefeito era Homero Paes de Athayde.
E a poesia?
Eu fazia poesia de qualquer coisa. Uma ocasião eu estava no ônibus, em pé, segurando no corrimão, de repente surgia “Na ponte do meu amor você é a longarina...” Quando cheguei nas proximidades da minha casa, na Rua João Botene, eu estava com a poesia inteira na minha cabeça, só não estava escrita ainda, se alguém falasse comigo eu perderia tudo. Vinha decorando-a. Quando cheguei à minha casa. Pronto saiu! Eu pegava o dicionário e lia página por página, procurando decorar as palavras. Lí a Bíblia umas quatro vezes. Como fiscal eu sempre fui um peixe fora da água. Nunca tive a índole de penalizar o contribuinte, mas sim de orientar. O que eu fiz foi amizade com todo mundo, ganhei muitos amigos sinceros. Basicamente eu fiscalizava ISS, Imposto Sobre Serviços, incidente a todos os prestadores de serviços. Fiscalizava desde construções até usinas de açúcar, ficávamos procurando os locais onde pudesse haver irregularidades. Fiscalizava as empresas que realizavam eventos, se estavam com a documentação em ordem, algumas vezes chegamos a parar bailes em pleno andamento, as empresas não estavam devidamente legalizadas, sequer emitiam nota fiscal de prestação de serviços, nem tinham um talão de notas, eram empresas clandestinas.
Em que ano foi fundado o Clube dos Escritores?
Foi em 1995. Em 1986 já estávamos pensando em criar um clube, entre outros esse grupo era composto por Fuzato, Edsel Clemente, Clemente Nelson de Moura, José Moraes. Achávamos que era necessário criar uma coisa nova. Sou um dos fundadores da Academia Piracicabana de Letras, a minha cadeira era a número 4, com as mudanças ocorridas na mesma, fui determinado a ter a cadeira 38. A fundação da APL foi feita pelo João Chiarini, Sacconi, Haldumont Nobre Ferraz, Homero Anéfalos, mais dois integrantes residentes em outras cidades. As reuniões eram feitas no escritório de João Chiarini, na Galeria Brasil. A Academia Piracicabana de Letras tinha mais de 600 cadeiras. Chiarini nunca cobrou anuidade de ninguém. Ele conseguia verbas com empresas da cidade. As sessões magnas eram com mais de 500 pessoas, sendo a maioria de outras cidades, ele realizou essas sessões no Teatro São José, no Clube Cristóvão Colombo, no então Cine Palácio, no auditório da Unimep, da Câmara Municipal. Os participantes dessas sessões eram pessoas de elevado nível intelectual. Em menos de três anos a Academia era conhecida no Brasil todo. Pertenciam á Academia entre outros, Jorge Amado, Juscelino Kubistchek, Ivens Gandra Martins. Chiarini era compadre de Jorge Amado.
Como foi o declínio da Academia?
Com o falecimento de João Chiarini ela entrou em uma fase descendente, o sucessor não administrou com a mesma orientação dada por Chiarini. Henrique Cocenza assumiu a Academia já em uma fase muito difícil.
O Clube dos Escritores nasceu de que forma?
Nós tínhamos o programa Clube dos Escritores na Rádio FM Municipal, isso em 1995. Anteriormente chamava-se Poesia na Madrugada, era levado ao ar da meia noite até meia noite e meia, aos sábados. Eu escrevia o programa, era apresentada a biografia de um escritor, o tempo em que viveu e exemplos de suas obras. Apresentamos 378 programas. Com a mudança de prefeito toda a diretoria da rádio foi mudada, logo em seguida nosso programa deixou de ser apresentado naquela emissora. Fomos para a Rádio Educadora de Piracicaba, a diretora da rádio, Professora Ana Maria Meirelles de Mattos adorava o programa. Ela e o radialista Celso Melotto faziam um bate bola, declamavam poesias. Ela era exímia declamadora. Alícia Pedrassi era outra participante que declamava muito bem. O programa era apresentado no sábado a meia noite. Dona Ana gravava as suas declamações no período da tarde. Permanecemos na Rádio Educadora de 1995 até 1999. Em 16 de outubro de 1995 fundamos na Brasserie o Clube dos Escritores, estavam presentes 23 pessoas.
Escrevi um livro chamado O Poeta Piracicabano abrangendo os anos de 1800 a 1970, encontrei 106 poetas nesse período.
A seu ver quem é o maior poeta piracicabano?
Para mim é Francisco Lagreca.
Como surgiu o nome de um de seus livros “Nem Tambores, Nem clarins”?
Eu tinha um livro pronto, disse ao Henrique Cocenza que precisava de um nome para o mesmo. Ele então me perguntou: “-Seu livro tem tambores? Tem clarins? Então pode ser Nem tambores, Nem clarins!” esse livro foram duas edições. Estávamos tentando descobrir uma forma acessível para escrever e publicar livros, era caríssimo. Em 1986 montamos uma cooperativa, a Coopia, Cooperativa Independente de Autores. Eram 10 pessoas, cada um pagava uma mensalidade, e saia um livreto por mês. Com o passar do tempo os integrantes do grupo dispersaram. Para escolher de quem seria o livro a ser publicado era feito um sorteio. Passamos a fazer literatura alternativa, eram impressos livretos com 10 a 12 páginas. Conseguíamos anúncios publicitários para todas as páginas. Fiz 389 livretos, meus, totalizando 35.000 exemplares, eram distribuídos gratuitamente. Fiz uma oficina de literatura alternativa na Casa do Povoador, isso em 1986. Ensinava como compunha, montava um livreto. Essa coleção eu doei para a Biblioteca Municipal.Publiquei 1200 poesias minhas, em 12 volumes, com ilustrações na capa, feitas por mim. Fiz o livro Poeta Piracicabano que vendeu 1.500 exemplares, o dinheiro, fruto da venda do livro, doei ao Crami. Em outubro deste ano estarei completando 50 anos de carreira, de jornal, poesia. A primeira sessão magna do Clube dos Escritores foi feita no Mirante, foi estrondoza, tinha mais de seiscentas pessoas. Tarciso Mascarim e Antonio Altafin foram homenageados.
Como são designados os associados do Clube dos Escritores?
Existe o Membro Titular Fundador, Membro Titular Emérito, o Conselho, o Decano do Conselho, em seguida temos o Colegiado Acadêmico e Preclaro. Temos sócios honorários, assim como assinantes da revista. No início, juntamente com Haldumont Nobre Ferraz, o Tiquinho, criamos três categorias: Cidadão Prestante, Cidadão Emérito e Magna Persona, esses foram os três primeiros diplomas que demos, conforme lei municipal e registro em cartório. Todos os títulos que mencionei são frutos de lei e tem registro em cartório. Criamos mais três: Magno Mérito Cívico Cultural, Medalha Cientifica Walter Radamés Accorsi e Escritor Honoris Causa.
O Clube dos Escritores conta com quantos membros atualmente?
São 740 membros, em 189 cidades localizadas em 20 estados. Duas vezes por ano realizamos sessão magna, este ano de 2012 será dia 27 de julho e 26 de outubro, na Câmara Municipal. O titulo de Honoris Causa só concedemos um até hoje, foi para um associado do Rio Grande do Norte, ele veio até Piracicaba para receber o título. Há associados que em função de diversos fatores não tem como se locomover até Piracicaba. Em novembro do ano passado realizamos uma sessão magna contando com associados de 32 cidades. Atualmente a nossa revista é enviada por e-mail. www.cclubedos escritores.comunidades.net, temos uma comunidade no facebook.
O Clube dos Escritores proporciona á você grandes alegrias?
Tenho muita satisfação quando entra em contato com o clube alguém de uma cidade da qual só conheço o nome, algumas eu nem sabia que existia, como Vanini no Rio Grande do Sul, é muito grande a alegria de estar conversando com a pessoa que se idêntica com o clube. O Clube dos Escritores em determinadas categorias abrange além de textos, também artes e ciências.
Há mais homens ou mulheres participando do Clube dos Escritores?
A presença feminina é maior. Há poetisas com um talento espetacular. Assim como cronistas, como uma de Porto Alegre.
Você sente-se orgulhoso em levar o nome de Piracicaba á todas essas cidades?
Nós fazemos o que o João Chiarini fazia. Acedito que o pensamento de João Chiarini está correto, escritores não se resume nos 40 grandes nomes, há escritores de todo porte, excepcionais, escritores mais fracos, outros são medianos, iniciante. A nossa academia que é de Ciencias, Artes e Letras, e só não se chamou Academia Piracicabana de Ciências, Artes e Letras, por resistência de alguns integrantes de outra academia, que no entender deles seriam duas academias concorrentes, o que de fato não é realidade.
O membro da Academia de letras é denominado de imortal, isso ocorre com os membros do Clube dos Escritores?
O integrante do Clube dos Escritores é considerado imortal, cada um tem um patrono, que são pessoas de Piracicaba, temos vários que eram membros da academia, faleceram e hoje poderão dar seus nomes à cadeiras.
O Clube dos Escritores recebeu alguma homenagem?
Devemos ter umas 10 moções de aplauso feitas em diversas épocas. A nossa medalha de colegiado está exposta em Brasília, onde em um local mantido por militares ficam expostas medalhas do país inteiro. A figura estampada na medalha nós desejamos que fosse de São Paulo, o santo. Haldumont Nobre Ferraz tinha o sonho de fazer o Colar de Mérito Literário. Em 2012 será o terceiro ano que concederemos o colar. O Clube dos Escritores conta com 189 delegados espalhados pelo Brasil.
O brasileiro lê?
O brasileiro lê, o problema é o que ele está lendo. O que está acontecendo nos últimos dez anos, tenho visto isso nas bienais do livro espalhadas pelo Brasil, é a quantidade de crianças procurando livros. Isso é importante. Estou completando um ciclo da minha vida, 50 anos dedicados à literatura.









sexta-feira, dezembro 30, 2011

JOÃO GILBERTO POMPERMAYER PEREIRA

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 31 de dezembro de 2011
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/

ENTREVISTADO: JOÃO GILBERTO POMPERMAYER PEREIRA

Dr. João Gilberto Pompermayer Pereira é conhecido por inúmeros piracicabanos, Gilberto Pompermayer como é mais conhecido, nasceu na cidade de Porto Ferreira, no dia 11 de julho de 1964, cursou a primeira série no Grupo Escolar Sud Mennucci em Porto Ferreira aos sete anos sua família mudou-se para Piracicaba, ele passou então a estudar no SESI 164, dirigido na época pela Professora Josete Bragion. Em seguida foi estudar na E. E. Prof. Alcides Guidetti Zagatto, no Jardim Esplanada Fez o Curso de Técnico em Química, que funcionava no Colégio Dom Bosco, tendo Dorival Bistaco como responsável pelo curso. Em 6 de outubro de 1980 foi contratado pela Secretaria Municipal de Saúde, como Auxiliar Junior do Laboratório Municipal, que funcionava na Avenida 31 de Março, na parte de cima do Pronto Socorro Municipal, que na época ocupava nesse prédio, já demolido. Gilberto é filho de João Baptista Ferreira cujo irmão Dito Gica é pai do Frei Tito. Portanto Gilberto é primo do Frei Tito, com quem brincou na época de infância e adolescência de ambos. Maria Aparecida Pompermayer Pereira é o nome da mãe de Gilberto. Dr. Gilberto Pompermayer é casado com Elizabete Silva Souza Pereira há 22 anos, tem uma filha com 17 anos. João Gilberto Pompermayer Pereira é biólogo, pedagogo, psicanalista clínico, psicoterapeuta holístico, bacharel em teologia, especialista em Engenharia Humana, MBA em Gestão de Recursos Humanos, MBA em Gestão, Inovação e Conhecimento. Doutorem Filosofia Universal, PH/I. Filosofo Imortal “Honoris Causa” pela Academia de Letras do Brasil. É colunista do jornal de Cordeirópolis, Cordero Virtual, do Indicapira, é colaborador da Tribuna Piracicabana.

Quando seus pais mudaram á Piracicaba vieram morar em que bairro?

Por uns meses moráramos no bairro São Dimas, até meu pai adquirir uma casa na Rua Fernando Lopes, em frente à Tapeçaria Rome, endereço em que residi por aproximadamente quarenta anos. Continuo morando na mesma rua só que um pouco mais acima.

Isso significa que o senhor conhece muito aquela região!

Conheci o Padre João, o Padre Nardin da Igreja da Paulicéia. Toquei violão nessa igreja, assim como na Igreja São José, participei do Cesac, na época em que havia diversos grupos jovens. Eu participava do Grupo do Mineiro. José Luiz Ribeiro, José Valdir Sgrigneiro, que foi presidente do Sindicato dos Funcionários Municipais de Piracicaba também freqüentavam o Cesac.

O senhor atualmente exerce quais atividades?

Sou Fiscal da Vigilância Sanitária, Professor do Centro Paula Souza, onde coordeno o Projeto Ambiental e tenho o consultório particular de Psicoterapia. Sou formado em Biologia pela Unimep, dentro da Secretaria de Saúde consegui todas as promoções de carreira, chegando a Analista de Laboratório, de nível superior. Em 1987 comecei a dar aulas no Colégio Agrícola de Rio das Pedras, onde permaneci por 22 anos. Sou formado em Pedagogia. Em 2001 comecei a fazer Psicanálise, através da Sociedade Psicanalítica Ortodoxa do Brasil.

Em seu trabalho na Vigilância Sanitária o controle de qualidade da água é uma das suas responsabilidades?

A Pró-Água é um programa estadual, executado pelo município. A Vigilância Sanitária faz uma coleta a cada 15 dias, da água que o Semae distribui.

Porque em Piracicaba se consome muita água em galões, distribuída por particulares?

Principalmente em função do sabor da água distribuída pela rede pública. A qualidade da água oferecida pelo Semae é muito boa.

O galão, dependendo da forma pela qual é manuseado ou estocado pode contaminar a água, oferecendo riscos que a água encanada não oferece?

A Vigilância Sanitária fiscaliza o envasamento da água nas fontes, requisita as análises. A Equipe de Alimentos da Vigilância Sanitária fiscaliza nos pontos de distribuição e venda. Os galões de água não podem estar em contato direto com o piso. O galão deve estar bem limpo, insetos, roedores, podem passar pelos galões, principalmente á noite, se o ambiente de armazenamento não for apropriado. A obrigação do consumidor é lavar o galão antes abri-lo para o consumo.

O consumidor em busca de um sabor mais palatável pode estar trocando uma água rigorosamente tratada, por outra cujo manuseio envolve riscos?

A água oferecida pelo Semae é segura, e passa por um controle de qualidade constante.

Instituições como a Esalq, reconhecida internacionalmente pela sua capacidade técnica, poderia realizar um estudo para melhorar o sabor da água oferecida pela rede pública?

Pode ser que isso seja possível. Seria um trabalho interessante, possivelmente tenha que existir recursos humanos e financeiros para esses estudos.

O senhor atualmente leciona quais matérias?

Ética e Cidadania, Filosofia e Sociologia, isso em curso técnico envolvendo as mais diversas faixas etárias.

Ensinar ao individuo os princípios da Ética deve ser uma tarefa de fôlego nos tempos atuais.

Começo por uma abordagem holística (O todo é maior do que a simples soma das suas partes), levando em consideração não o efeito, mas sim a causa. Porquê o cidadão é anti-ético? Qual é a causa disto? Já no primeiro dia de aula digo aos alunos que a partir desse dia estaremos construindo novos conceitos sobre ética. Ética é como escovar os dentes. Se você escovar os dentes da arcada superior e não escovar os da arcada inferior estes sofrerão um processo de deterioração. Na Ética não se pode descuidar de nenhum pequeno detalhe.

Em um momento em que notícias sobre corrupção ocupam grandes espaços na mídia, é difícil ensinar ética?

Se fossemos levar em consideração apenas o efeito, essa disciplina nem existiria. Passo aos alunos o principio de nunca fazer nada que seja contra a ética. Nós temos mais direitos do que deveres, só que a sociedade nos impoem que temos mais deveres do que direitos.

A imagem do político brasileiro está bastante desgastada, isso é por falta de ética ou de carater?

São duas situações muito próximas, a falta de ética implica que talvez houvesse o desconhecimento do código de ética. Caráter tem sua origem no ambiente familiar. São situações distintas. O poder seduz e conduz.

Há quanto tempo o senhor atende pacientes em seu consultório?

No consultório atendo há 10 anos. Embora eu seja psicanalista sou psicoterapeuta holístico, aquele que leva em consideração o todo. Trabalho com auto-estima, psicoterapia evolutiva, regressiva, motivacional, comportamental, inteligência emocional, reprogramação emocional, psicoterapia psicanalítica. Pode ser paciente individual, grupo, familiar ou organizacional.

O que é inteligência emocional?

QI é o Quociente de Inteligência. QE é Quociente Emocional, que nada mais é do que adestrar a razão e a emoção. Se o indivíduo tiver 80% de Quociente Emocional ele estará em forte desequilíbrio. Se for 80% de razão, pode se instalar o egocentrismo: primeiro eu, ele ou ela é meu, pode surgir o complexo de superioridade.

O senhor é religioso?

Fui batizado na Igreja Católica, durante 20 anos freqüentei a União Espírita, fui outorgado pela Igreja Messiânica. Hoje me encontro como espiritualista holístico.

O senhor chegou a fazer algum teste de QI?

Fiz, o resultado foi que meu QI está acima da média. Escrevi os livros: “A Arte Esquecida de Ser Diferente” e “A Missão e o Momento”, igual talvez a maioria seja, o duro é ser diferente. Durante toda a minha trajetória encontrei muitas dificuldades por ser diferente, por pensar além da minha época. Nós nos esquecemos de ser diferentes.

Há uma condução para que todos sejam iguais, não interessa para alguns que exista a diversidade?

Não podemos acompanhar o movimento para o qual o mundo está sendo direcionado. No passado tivemos vários pensadores, isso não significa que temos que pensar como eles.

A humanidade está doente?

Está fadada ao caos, banalizamos o caos. Exemplificando, se acontecer um acidente na esquina quem viu conta com riqueza de detalhes a tragédia, como se aquilo fosse algo corriqueiro, natural. É a banalização do caos.

Os recentes casos de maus tratos á animais, que ocupou espaço na grande mídia, traz consigo o sentimento de revolta do ser humano contra tais atos. É uma demonstração positiva do ser humano?

Existem várias formas de entender isso. O ser humano também está passando por maus tratos, sem causar tanto furor. A diferença é que o animal não fala isso é um principio básico para o ser humano defendê-lo. O homem não se sente enfrentado. Imagine se logo pela manhã seu cachorro lhe desse uma bronca: “- Você está atrasado! Cadê o meu leite?” Cansado, ainda acordando, você esquenta o leite do cachorro. O cachorro poderá lhe falar: “Você esquentou muito, não estou acostumado a beber leite tão quente!”. Nessas circunstâncias não sei como seria a relação do ser humano com o cão. Há uma tendência do ser humano sensibilizarem-se mais quando algo o atinge diretamente. Se em um quarteirão cinco casas são destruídas por um vendaval, os demais moradores irão sensibilizar-se. Se um tufão destruir tudo, todos perderem suas casas, todos se unirão.

O que é psicoterapia regressiva?

Pode ser regressão de memória consciente, muitas frustrações, recalques que surgiram na infância. A função da psicanálise é tornar consciente o que está inconsciente. Existem técnicas para isso.

A famosa pessoa tida como “nariz empinado”, como pode ser definida?

Talvez complexo de superioridade. Essa pessoa pode ter complexo de inferioridade, auto-estima baixa. Ela entende que para continuar lá em cima tem que pisar nas pessoas. É uma forma de auto defesa. Se alguém perceber que essa pessoa é fraca ela estará liquidada, a pessoa tem consciência de que é fraca.

Como podemos definir auto-estima?

É você se valorizar, é você gostar de você, é saber que para você a pessoa mais importante é você mesmo.

É possível fazer a pessoa aprender a ter auto-estima?

Ela pode desenvolver sua auto-estima. Todos nasceram com auto-estima. Perdemos porque o mundo é muito materialista, se você não tem posses sobre algo você não é nada. Não se valoriza o ser, mas sim o ter.

A pessoa que para se manter no que considera um bom emprego e “beija o chão que o chefe passa” poderá ter auto-estima?

Ela sempre terá auto-estima baixa.

Quanto tempo o senhor permaneceu no laboratório de análises clinicas?

Permaneci por 20 anos, ficava na Avenida 31 de Março, depois foi mudado para o prédio situado atrás do Mercado Municipal, ali permaneci até o ano de 2000, ano em que fui candidato a vereador pelo PV, por 10 anos permaneci no PV, por convicção, fui secretário do partido. De 2001 a 2004 fui assessor de João Pauli, fui nomeado Ouvidor da Saúde e Coordenador do Núcleo de Capacitação e Educação Continuada da Secretaria Municipal de Saúde. Em novembro de 2004 me desfilei do PV. Em 2005 o Prefeito Barjas Negri me convidou para ir para a Vigilância Sanitária. Nesse mesmo ano me filiei ao PTB, e estou lá até hoje. O presidente do partido é o vereador João Manoel.

O senhor tem algum projeto político?

Nas próximas eleições pretendo ser candidato a vereador, espero poder contribuir com a população.

Qual foi o seu primeiro livro?

O meu primeiro livro foi a “Arte Esquecida De Ser Diferente”, faz uns 30 anos que escrevo, sempre escrevo para “A Tribuna” e para a “Folha da Cidade”, em 2009 fui convidado para fazer parte da Academia de Letras do Brasil, fui eleito presidente da regional de Piracicaba, nessa época eu tinha bastante material para publicar, juntei o material e a Academia publicou, na época foram vendidos 1.000 exemplares. A segunda edição do livro foi independente, mais uns 1.000 exemplares. Lancei mais um livro “A Missão e o Momento”, todos nós temos missões a cumprir, é preciso saber qual é o momento de colocar em prática essa missão.

O que é ser sensitivo?

É ter um sentimento mais apurado, principalmente nas questões espirituais.

O senhor ministra cursos em empresas?

Dou cursos e palestras, todos os anos umas 10 empresas me contratam. São cursos de 6 horas a 60 horas. São cursos ministrados conforme o interesse da empresa, por exemplo, despertar lideranças. Todo líder tem que se relacionar bem com as pessoas.

Como surgiu sua vocação política?

Desde criança tive uma liderança construtiva, que quer mudar as coisas.

O senhor acredita que possa mudar determinadas situações, muitas vezes ouvimos alguém dizer, que fulano tem uma conduta ética e moral impecável, mas se ele for tentar mudar um grupo de pessoas, esse grupo irá criar dificuldades para ele, podendo até excluí-lo desse grupo.

Entendo que a ordem do progresso é mudança. Quem não muda a si mesmo não muda ninguém. Só conseguimos mudar as pessoas se formos diferentes. A inveja é o combustível do ódio.

A inveja não cria mais problemas para quem sente inveja do que quem é invejado?

Nós somos um espelho, um eco e uma bussola, um para o outro. Quantas vezes em uma empresa, em um departamento, a pessoa vai tomar um café escuta a voz do outro, imediatamente direciona sua bussola noutro sentido. Quando quem estava na cozinha sai, aquele que mudou de direção volta á cozinha. Eco: se continuar a fazer o que está fazendo continuará a obter o que está obtendo. Espelho: Quando aponta o defeito da pessoa, parte desse defeito já é seu por natureza. A energia que vai, acaba voltando para você.

O que o senhor está afirmando, um dia a humanidade passará a sentir e a se respeitar mais?

Eu entendo que o Planeta Terra é um planeta de expiação e provas. Estamos aqui para aprender, para melhorar. Assim como acredito que virão novas gerações que passarão a dar belos exemplos. Tudo tem uma razão de ser, o Universo é uma grande engrenagem, sincronicidade é quando o universo conspira a seu favor.

Frei Tito o influenciou?

Eu era mais novo do que ele, quem mais me influenciou foi Frei Francisco Erasmo Sigrist, foi ele quem celebrou meu casamento em 2 de dezembro de 1989 realizado na Igreja do Lar dos Velhinhos.

Como o senhor vê a atuação da mídia sobre a população?

Vejo a televisão como a eletronização dos sonhos. Por exemplo, a mocinha vê pela novela que ela precisa casar com um homem rico, esse negócio de estudar e trabalhar não está com nada!

O pensamento atrai acontecimentos?

O pobre que pensa como rico, enriquece, o rico que pensa como pobre empobrece. Só que o pobre que vive como rico, fica endividado! Ele quer viver uma forma de vida que não é a realidade dele. Pensamentos geram sentimentos que geram ações.

A relação entre pais e filhos dentro de uma família não exatamente idêntica. Um filho poderá ser considerado mais capaz do que o outro. Isso cria um ambiente que direciona os comportamentos da própria família entre si?

Se a pessoa acreditar naquilo que estão dizendo a respeito dela, quem disse passará a ter razão. A palavra tem poder. É como se tivéssemos uma porta, as palavras são pregos que a pessoa vai pregando. Com o passar do tempo a pessoa poderá se arrepender do que disse, irá pedir desculpas, Ela estará tirando os pregos, mas os furos dos mesmos permanecerão.

O senhor tem a intenção de participar da vida política, candidatando-se á Câmara Municipal?

Sou pré-candidato pelo meu partido. O meu foco é o valor integral do ser humano, tenho certeza de posso fazer alguma diferença. Eu não teria nada para me envolver nessa atividade, mas sinto que algo está me conduzindo para isso, e estou respeitando essa determinação.

O senhor sente alguma sedução pelo poder?

Sedução não. Sempre me relacionei muito bem com as pessoas, ocupando cargos ou não.

O senhor realiza palestras?

Realizo, basta agendar com antecedência. Em outubro realizei uma palestra sobre Inteligência Emocional, para o Comando da Policia Militar CPI 9, tinha 170 oficiais do comando. Tenho um aluno que faz o curso de Logística, é capitão da PM, e ele me convidou.

Palestras para platéias composta só por mulheres o senhor realizou? O Quociente Emocional é diferente?

Há algumas diferenças básicas entre a “maquina humana” masculina e feminina. A mulher para realizar sexo tem que estar bem. O homem tem que realizar sexo para ficar bem. Casais inteligentes enriquecem em todos os sentidos: emocional, espiritual e material. A mulher não é mais tagarela do que o homem, ela é mais comunicativa. O homem é a cabeça, isso foi imposto pela sociedade. Só que a mulher é o pescoço, quem move a cabeça? É o pescoço! São pequenos detalhes que existem de fato. A função básica minha é fazer com que a pessoa acredite nela mesmo. Se você estiver bem irá transferir isso para outras pessoas, quem não tem, não pode dar. Estar vivo é ter uma missão a cumprir, com cautela para não induzir as pessoas.

O senhor tem algum hobby?

Sempre gostei de capoeira, pratiquei por 20 anos, tenho cordão azul e amarelo. Gosto de tocar atabaque, cavaquinho, violão, berimbau. Gosto de escrever, ler.

Atualmente o senhor realiza um projeto junto a comunidade?

É o “Projeto de Gestão e Educação Ambiental: o homem, o tempo e o ambiente”. Já está indo para o terceiro ano. Encontramo-nos uma vez por semana, as pessoas da comunidade podem participar do projeto. Discutimos temas sobre o meio ambiente, trazemos pessoas para palestrarem.


















































































































































































domingo, dezembro 25, 2011

NATAL

Algumas décadas passadas, a partir das sete horas da noite, a casa dos meus pais estava em alvoroço.

Os preparativos, travessas, panelas, tigelas, parecia que a casa tinha se transformado em um restaurante. A geladeira estava abarrotada. Não cabia mais nada.

A minha atenção estava dirigida aos pacotes que ficavam em cima de um armário entalhado, à altura dos olhos. Dali a pouco eu deveria tomar um banho, colocar roupas chamadas de passeio e ir à missa de Natal.

O entra e sai de parentes, uns da própria cidade, outros de terras distantes. Parentes hospedados em casa recebiam a visita de outros parentes.

Os pacotes caprichosamente arrumados já estavam com o nome dos seus ganhadores. De forma discreta procurava meu nome, tentava imaginar o seu conteúdo.

Talvez porque naquele tempo a televisão fosse apenas um acessório a mais em casa, não se falava muito em Papai Noel.

Era a noite do nascimento de Jesus Menino em uma manjedoura.

Com isso desde criança eu já sabia que Papai Noel era uma lenda, jamais imaginei encontrar cara a cara com o “Bom Velhinho”. Eu sabia que a origem dos presentes que eu ganharia era do bolso de alguém.

Nunca, jamais, dê para uma criança, roupas. Criança só considera presente se for brinquedo.

Em minha contabilidade imaginária, ganhar roupa era como perder um porta-aviões em um jogo de Batalha Naval: frustrante. Teria que esperar mais um ano para quem sabe ganhar daquela determinada pessoa um brinquedo!

Hoje, já quase na terceira idade, vou arriscar acreditar em Papai Noel, e pedir a ele que você ganhe na Mega Sena da Virada, que aquela viagem dos seus sonhos se realize, se casado for, que a sua esposa o ache idêntico ao Tom Cruise, se for casada, que seu marido comece a perguntar se aquela famosa e linda estrela da televisão não é sua prima em segundo grau, são tão parecidas!



A Deus, no dia em que se comemora o nascimento do seu filho Jesus Cristo, com a convicção de Sua existência e poder, peço que lhe dê muita saúde, paz e que a sua Mão Divina o proteja e a seus entes queridos.

Feliz Natal!

São os votos de João Umberto Nassif





domingo, dezembro 18, 2011

Geraldo Pereira Felisberto Silva

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
Sábado 17 de dezembro de 2011
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADO: Geraldo Pereira Felisberto Silva

O brasileiro tem hábitos característicos da própria cultura, o nosso folclore é riquíssimo em exemplos. Fazer uma “fézinha” é acreditar no que cientificamente é explicado como “A teoria da probabilidade” onde permite que se calcule a chance de ocorrência de um número em um experimento aleatório. O primeiro Jardim Zoológico do país, o Zoológico de Vila Isabel foi fundado em 1888, por João Baptista Vianna Drummond, o Barão de Drummond, que nasceu em 1825 e faleceu em1897. O monarca D. Pedro II dava-lhe uma subvenção, visto que o jardim era franqueado ao público. O auxílio imperial era de 10 contos de réis, por ano. Com o advento da República em 15/11/1889 o Rio de Janeiro torna-se o Distrito Federal, logo em seguida, a subvenção do zoológico foi cortada. Com a falta desse dinheiro, o Barão, e a sua fortuna empregada na bicharada, começou a encontrar dificuldades para manter o zoológico. Poucos anos depois, em 1892, foi que ele teve a sua mais grave crise financeira. Um mexicano, Manuel Ismael Zevada, havia introduzido no Rio de Janeiro, sem muito sucesso, o “jogo das flores”, deu-lhe a idéia do “jogo do bicho”. Assim, em 1892 o Barão apresentou a sua estratégia para atrair visitantes ao local, que consistia em premiar, em dinheiro, os freqüentadores cujos bilhetes tivessem estampadas as figuras dos animais sorteados ao final de cada tarde. O Barão acabava de criar o chamado Jogo dos Bichos, que se tornou um sucesso em diferentes círculos sociais. O jogo do bicho surgiu como um divertimento da alta sociedade fluminense, como mostram os jornais da época. O jogo se processava da seguinte maneira: cada ingresso, vendido para visitar o zoológico, dava direito a um cupom que trazia a estampa e o nome de um animal para concorrer a um sorteio que concedia ao ganhador um prêmio vinte vezes maior do que o valor pago pelo ingresso. Como a entrada no zoológico, à época, custava mil réis, a sorte enchia o bolso do ganhador com vinte mil réis. Toda manhã, logo cedo, o Barão escolhia uma estampa com a figura e nome de um dos 25 bichos que faziam parte do jogo e colocava essa estampa em um quadro de dimensões enormes, içado a um mastro erguido à porta principal do Jardim Zoológico. Uma vez o quadro içado ninguém tinha acesso a ele. Esse quadro era de madeira e, trancado à chave. Às 15 horas o próprio Barão de Drumond acionava um dispositivo, exibia o bicho sorteado sem causar dúvida a quem assistia ao sorteio. Aos poucos, aumentava o número de visitantes, por isso foram criados outros pontos de venda de ingressos com a finalidade de concorrer ao jogo do bicho. Em um só domingo a venda atingiu 80 contos de réis, com entradas! Com isso além de salvar seu investimento, proporcionar melhores condições de habitação aos animais ali expostos, o Barão instituiu um habito na cultura do povo brasileiro, o de acreditar na sorte. Realizar um jogo legalizado, sem ser compulsivo, faz parte do cotidiano de milhões de brasileiros. Há, porém aqueles que desenvolvem o vício do jogo, um processo complexo influenciado por diversos fatores: a perturbação profunda da perspectiva pessoal, problemas nos relacionamentos, estado de excitação invulgar. Diversos sentimentos enraizados de inferioridade, muitas vezes originados na infância, são compensados por ilusões megalomaníacas. Por diversos motivos, muitos jogos passaram á ilegalidade, inclusive o do bicho. Permaneceu a tradição da “fezinha”. Atualmente as casas lotéricas, sob o controle de uma instituição federal, oferecem aos brasileiros a oportunidade de dar a continuidade á uma cultura já institucionalizada. São as conhecidas Casas Lotéricas, que ampliaram o leque de operações, deixando de ser apenas casas de apostas, para tornarem-se prestadoras de serviços, recebendo taxas, impostos, contas e pagando aposentadorias, benefícios, direitos. Atuam como um posto bancário avançado. A Copa do Mundo FIFA de 1970, foi disputada no México, de 31 de maio até 21 de junho. O evento foi marcado pelo tricampeonato do Brasil, a primeira equipe a ter o título de campeão mundial por três vezes. A histórica vitória por 4 a 1 sobre os italianos consagrou o futebol brasileiro. A terceira conquista do torneio deu direito ao Brasil de ficar com a posse definitiva da Taça Jules Rimet. Piracicaba passou a ter uma casa lotérica denominada Copa 70, um nome forte pelo seu significado. Seu atual proprietário Geraldo Pereira Felisberto Silva é natural de Andradina, Estado de São Paulo, onde nasceu no dia 4 de janeiro de 1958, filho de Ernani Felisberto da Silva e Virgídia Pereira da Silva. Casado com Sandra Maria Elias Silva tem duas filhas. Geraldo cursou o primeiro grau no Instituto de Educação Estadual de Andradina, o segundo grau no Colégio Estadual Barão de Ataliba Nogueira. É Engenheiro Civil, com especialização em Mecânica dos Solos, Estacas Strauss e Tubulões, Controle Tecnológico de Concreto. Exerceu sua profissão na Ominnia Engenharia de Construções, na Tecno Tasa Engenharia de Fundações. Atuou como projetista e calculista estrutural. Geraldo é radialista, manteve um programa na Rádio Educadora de Piracicaba.

Geraldo como se deu o seu contato com uma Casa Lotérica?

Praticamente eu cresci dentro de uma Casa Lotérica, o meu pai era proprietário da Milionário Lotérica, no Bairro Taquaral em Campinas, isso na década de 70, quando existiam apenas a Loteria Federal e a Loteria Esportiva. Eu tinha 16 anos quando nossa família mudou-se de Andradina para Campinas.

Você é religioso?

Sou católico praticante, faço parte da comunidade, equipe litúrgica da Igreja São Benedito, participo de todas s festas da Igreja São Benedito, assim como Adilson Benedito Maluf sou devoto de São Benedito. Faço leituras, comentários, todos os sábados á três horas da tarde estou presente á igreja. Minha esposa, minhas duas filhas e eu assistimos as missas realizadas aos sábados. Não é comum vermos jovens com 23 e 18 anos irem á missa. Seus namorados não vão, elas não freqüentam a missa por obrigação. Eu participei ativamente de grupos de jovens, quando me casei freqüentava as missas embora não participasse de nenhum grupo. Com o nascimento das minhas filhas passei a levá-las e elas passaram a me levar de volta para a igreja. Hoje as minhas filhas vão á missa pelo prazer, elas sentem o que é assistir um culto, saem mais leves. Elas têm uma compreensão melhor da vida graças a religião. O pároco oficial é o Monsenhor Jamil, auxiliado pelo Padre Adauto recém chegado. Coloco em prática tudo que a minha religião determina.

Com sua fé e determinação de participar ativamente da vida religiosa, você acredita ter sido poupado de alguns dissabores e transtornos vividos por famílias alheias aos valores da espiritualidade?

Caso encontre alguns percalços, tendo uma religião é fácil entender que aquilo é uma provação pela qual irei passar, sem ira, sem revolta. Acredito em Deus, sei que sairei daquela situação indesejável. Isso é muito importante para se viver bem, valorizar as pessoas em volta de você.

Alguns indivíduos que se intitulam “intelectuais”, “filósofos do pensamento livre”, apregoam que a religião é o ópio do povo, como você, católico praticante entende essas afirmações?

Creio que pessoas que dizem isso simplesmente não entendem o que é religião, a profundidade da religião, por eles não conhecerem simplesmente criticam. Acho inadmissível a pessoa dizer: “Não vou á missa por causa do padre!”. Eu não estou indo á igreja por causa do padre! Eu faço parte da Equipe Litúrgica da Igreja São Benedito, realizo leituras, não posso pegar um texto, subir junto ao altar e ler. Quando a Helen de Lucca, nossa coordenadora geral diz que vou fazer a primeira leitura, vou para casa, estudo meu texto, leio várias vezes, eu preciso entender o que estou lendo, tenho que passar o sentimento contido no texto. Obedecer às pontuações, cada vez que leio aquele texto entendo melhor a profundidade do mesmo. O que está faltando para muitas pessoas é entender a profundidade da celebração. Até mesmo católicos as vezes estão presentes apenas fisicamente, são aqueles que desejam que a missa termine logo. Ao ir a um culto religioso, tente sentar na frente. Se a mesma pessoa fosse a algum show pago ás vezes chegaria várias horas antes para poder estar em um bom lugar. Em cultos religiosos sempre tem lugar disponível na frente. Pelo fato de ter uma participação ao lado do padre, a visão da igreja é privilegiada, é comum ver pessoas em pé no fundo da igreja, com lugares vazios á frente. Se a pessoa tem àquela hora disponível dentro da igreja, ela deve procurar aproveitá-la, ver a beleza do culto. Acredito que muitas pessoas se afastam da religião por comodismo.

A mídia de uma forma em geral, tem conduzido o indivíduo para outra direção, principalmente elegendo o consumismo como ideal ao ser humano?

Atualmente se passa uma falsa idéia de que tudo está bem, tudo está maravilhoso, vamos consumir, e o pior é que isso esta cada dia mais rápido, antigamente quando o sonho de consumo era uma maquina fotográfica, após adquiri-la ela durava uns vinte anos, atualmente uma câmera digital ou um celular em menos de um ano já estão defasados. Você acaba de comprar, vai pagar no caixa, já lançaram outro produto com mais recursos técnicos. Hoje está muito difícil acompanhar o nível de consumo, poucas pessoas conseguem resistir a isso. Para os mais jovens é pior, o próprio meio que freqüentam conspira para o consumo insensato. Vejo pelas minhas filhas, que passam por essa fase, embora não tenham o consumismo voraz de algumas pessoas que as rodeiam.

Geraldo, você trabalha em uma atividade onde o fator principal é o sonho das pessoas.

Quando vim para Piracicaba, na época a casa lotérica se resumia a Loteria Esportiva e Loteria Federal, um bilhete inteiro tinha 20 frações, hoje tem 10. O sucesso era a Loteria Esportiva. Em Campinas o encerramento dos jogos era na quinta feira, até a meia noite podia se jogar, para correr no domingo. Em uma cidade como Campinas ficávamos com a lotérica aberta até meia noite, aceitando apostas. Hoje isso seria inimaginável. O resultado seria divulgado na segunda feira pelo jornal. A coqueluche da época era a “Zebrinha”, ou "Zebrinha da Loteria Esportiva" ou "Zebrinha do Fantástico", (Personagem criada pelo Borjalo ( Mauro Borja Lopes) para informar os resultados da Loteria Esportiva na Rede Globo. Na gíria da época, "zebra" era um resultado inesperado no futebol, numa alusão ao Jogo do Bicho, zebra é um animal que não existe naquele jogo, portanto, é um resultado impossível de acontecer). O Brasil parava para ver o resultado no Fantástico, assim que começava o programa. A Mega Sena e a Mega Sena da virada ocuparam o grau de importância da Loteria Esportiva da época. Na época eu estudava engenharia em Lins, consegui uma transferencia para a Escola de Engenharia de Piracicaba. Me encantei com a cidade, não era tão grande como Campinas e não tão pequena como Andradina. Piracicaba tinha aquela coisa gostosa do povo do interior, das pessoas que conversavam, valorizavam a amizade. Me formei em 1982 pela PUC de Campinas, foi no período de maior crise da construção civil. Ninguém construia, ninguém reformava. O meu pai foi sábio, disse-me: “ -Vamos comprar uma Casa Lotérica e você irá ter a sua loja, só que você irá me pagar, não estou lhe dando de presente!” Lembrei-me de Piracicaba.

Já existia a Lotérica Copa 70?

É a Casa Lotérica mais antiga de Piracicaba, comprei de uma senhora chamada Edna Lafratta, esposa de Roberto Serafim, ele chegou a ter quatro lotéricas em Piracicaba. A Copa 70 é onde atualmente é a Agencia do Bradesco, na Praça José Bonifácio. Quando a adquiri ela estava na Rua Alferes José Caetano esquina com a Rua Prudente de Moraes, onde atualmente é o estacionamento do Unibanco. Era uma garagenzinha em frente a Câmara Municipal. Isso foi em 1982. Para oferecer um local mais confortável aos clientes mudei para a Rua Alferes, 882. Não gostei, mudei para Rua Alferes esquina com a Rua São José, onde hoje tem um moto taxi. Quando cheguei em Piracicaba, e adquiri a casa lotérica, disseram-me: “-Você escolheu a cidade errada!”ou “Piracicaba é uma cidade pé-frio, aqui não sai prêmios!” ou ainda “- Piracicaba é uma cidade fim de linha!” A principio me preocupei, mas achei que poderia mudar essa forma de ver as coisas. Era uma cidade que na época já deveria ter seus 300 mil habitantes. Na época Piracicaba tinha 15 hoje existem 22.

Aconteceu algo de extraordinário em sua lotérica?

Eu vendi pela primeira vez o primeiro prêmio em Piracicaba, bilhete número 70228, fiz um estardalhaço na cidade, na época o editor do Jornal de Piracicaba era o grande profissional Geraldo Nunes. Divulguei em todos os veículos de comunicação da cidade. Aqueles que antes diziam que a cidade era “pé-frio” comentaram: “O premio saiu para Piracicaba uma vez, agora vai demorar muito para sair de novo! Nunca mais sai prêmio aqui!” Sete ou oito meses depois eu vendi o bilhete da cobra, final 34, primeiro prêmio de novo! Mais uma vez consolidei através da mídia a possibilidade de se ganhar.

Quais são as reações do ganhador?

Ele treme, chora, de tanta felicidade.

O ganhador dá á lotérica ou á seus funcionários algum tipo de recompensa?

Existem muitas promessas. Vendi os dois maiores prêmios da cidade, um premio de dois milhões na Super Sena, logo em seguida um prêmio de três milhões. Essa pessoa continuou jogando comigo, ela estava fazendo um novo jogo na lotérica, ninguém sabia que essa pessoa tinha sido a ganhadora, eu tinha colocado faixa, anunciando que o prêmio tinha saído aqui. Pessoas presentes na lotérica fizeram essa mesma pergunta: “- Geraldo, dois milhões de reais, deu-lhe alguma coisa?” Isso com o ganhador ao meu lado, quieto. Fazendo um novo jogo. De forma muito discreta, desviei o rumo da conversa e encerrei o assunto. Continuaram: “- Mas que pão duro! Ganhou um dinheirão desse e não deu nada para você e nem para os funcionários?”. Discretamente o ganhador saiu sem dizer nada, foi até um supermercado, comprou quatro caixinhas de uma marca popular de chocolate e voltou dizendo: “- Isto aqui é para ninguém falar que nunca dei nada para vocês!” Eus sou otimista. Peguei o número de série da caixa do chocolate e apostei! Esse foi o único presente que ganhei até hoje! Para minha felicidade Piracicaba nunca foi pé frio nem fim de linha, o que acontecia é que ninguém divulgava os prêmios que saiam para a cidade. O que me fez ser conhecido como “Pé Quente”, “Copa 70, a que vende prêmios” foi a mídia. Aproveitei cada momento, nunca faltando com a verdade. A última vez, quando saiu um prêmio de 3 Milhões de reais, liguei para a EPTV em Campinas, contei a história, a emissora veio até Piracicaba, entrevistou apostadores, foi em frente a Caixa Econômica Federal, filmou as pessoas passando, perguntou a diversos se era o ganhador. Às sete horas da noite a noticia espalhou-se para a região toda. Até hoje tenho clientes que vem de Americana, Limeira, que vem por terem visto aquela noticia.

Qual é o perfil do apostador?

O apostador é uma pessoa feliz, uma pessoa que sonha. Quando alguém ganha comigo, eu passo a analisar como era a atitude dessa pessoa perante a lotérica, com relação a gente: sempre feliz, nunca reclama quando perde, perseverante. É agradável conversar com alguém que afirma que quer ganhar na loteria para viajar, comprar um sítio, ele tem um sonho! Toda pessoa que aposta é uma pessoa feliz, sociável, gosta de amigos, está de bem com a vida. Eu condeno os extremos, quem nunca joga, por dar a si mesmo a oportunidade de ganhar e também o outro extremo, aquele que joga de forma compulsiva.

Já ocorreu com você algum caso onde houve a sua intervenção para que o apostador fosse mais comedido?

Vários! Quando percebo que a pessoa está jogando acima do seu limite, convido-a a uma conversa reservada. Você nunca poderá achar que irá resolver os seus problemas através do jogo! Você poderá sim realizar sonhos!

Você recomenda que a pessoa estabeleça um limite máximo, dentro do seu orçamento, para apostar?

Somos todos destinados a estabelecer os percentuais necessários á sobrevivência, dentro de um padrão de vida. Se a pessoa quer cultivar o sonho de ganhar algum premio ela deve destinar o valor que não comprometa os demais compromissos. Temos clientes que são verdadeiros exemplos de equilíbrio e sensatez. São clientes que estão conosco a mais de vinte anos.

Qual é a faixa etária do apostador típico?

A pessoa começa a gostar de apostar a partir dos 28 a 30 anos, com ascendência até os 45 anos. Depois tem uma estabilidade até os 60 anos de idade. Dos 60 anos em diante cinqüenta por cento continuam apostando, outros cinqüenta por cento não jogam mais, perderam o prazer pela vida, nada mais interessa.

Alguém já levantou alguma hipótese sobre a lisura do processo de sorteio da loteria?

Já! E a cada vez que ouvia isso ficava profundamente irritado. Em 2001 liguei para a Caixa Econômica Federal agendei com eles a vinda do Caminhão da Sorte para Piracicaba. Em fevereiro de 2001 os lotéricos de Piracicaba trouxeram o Caminhão da Sorte na Praça José Bonifácio. O sorteio foi feito ao vivo. Em julho do mesmo ano trouxemos novamente o Caminhão da Sorte á Piracicaba. Mostrando a lisura, é tudo feito com controle remoto, eles escolhem alguém da platéia para apertar o controle remoto, se alguém quiser ser voluntário e ficar lá em cima é permitido.

Como surgiu sua coluna na Tribuna Piracicabana?

Há dois anos tenho uma coluna na Tribuna Piracicabana, na pagina 3, toda terça feira. Nessa coluna eu pesquiso e conto histórias de ganhadores, passo informações sobre jogos, qual é o tipo de jogo recomendado para a semana. Estatísticas, dezenas que mais saíram dezenas que menos saíram. E o mais importante, dezenas que estão mais atrasadas. Na Mega Sena a dezena que mais sai ninguém imagina: é 05!

A lotérica ocupou o espaço do jogo do bicho?

A lotérica tomou muito espaço do jogo do bicho, ela não chega a ocupar o espaço do jogo do bicho porque é outro perfil de jogo. A informática não conseguiu ainda fazer um jogo semelhante ao jogo do bicho. São tantas opções, eu não consigo entender a mecânica do jogo do bicho. Como apostador não saberia jogar no jogo do bicho, é uma cultura que vem de avô, pai, filho. Como meu pai nunca teve esse habito, mesmo como consumidor acho um jogo muito complicado.

Além de beneficiar o ganhador a loteria arrecada recursos destinados a outros fins?

O governo quer legalizar da melhor maneira possível o jogo. Quando o apostador joga, automaticamente está pagando o seu imposto, de tudo que é jogado dois terços é retido para pagar impostos, ajudar muita gente.

Além de jogos a Casa Lotérica realiza prestação de serviços?

No inicio as casas lotéricas recebiam IPTU e água. Ampliamos o leque de recebimento e hoje uma casa lotérica oferece inúmeras opções. As pessoas muitas vezes desconhecem as facilidades oferecidas por uma casa lotérica: fácil acesso, horário estendido, opções antes inimagináveis, se o cliente tiver uma multa do seu veículo ele pode pagar em uma casa lotérica, até mesmo o desconto de vinte por cento é dado normalmente. Se você trouxer somente o número do Renavam você pode licenciar seu veiculo em uma casa lotérica. Atualmente em uma casa lotérica é possível fazer depósito, saque. Receber PIS, Fundo de Garantia, Seguro Desemprego. A Copa 70 recebe contas das 8 da manhã até as 6 da tarde. Isso uma prestação de serviço. Com o fluxo de dinheiro que sai em forma de pagamento não permanece dinheiro nas casas lotéricas. Além do horário estendido presto o serviço de malote empresarial, para fazer mais pelo cliente. Agregado a isso quem sabe o cliente decide fazer uma aposta. Um cliente que ganhou um bom volume de dinheiro confidenciou-me, que tinha vindo pagar uma conta, estava na fila, viu algumas faixas com os números ganhadores, fez uma combinação de números e ganhou uma boa bolada.

Uma única aposta pode ser vencedora, enquanto grandes números de apostas deixam de ser?

Se você jga mais, a sua probabilidade de ganhar aumenta, só que o fator sorte fala mais alto. Na Mega Sena da virada de 2009, um apostador de Santa Rita do Passa Quatro, vizinho á Piracicaba, ganhou sozinho com uma cartelinha de seis reais, na época um prêmio de 164 milhões.

Ao ganhar na loteria a vida do felizardo muda?

Por mais que ele queira disfarçar, ele mesmo não consegue guardar segredo, acaba contando para alguém, e segredo quando se conta para alguém deixa de ser segredo! Ele passa a ostentar, trocando de carro, de casa, teve um que me disse não saber que tinha tantos parentes, apareceram de todos os lugares, cada um com sua necessidade. A pessoa tem que estar preparada para receber a sorte. Porque muitos ganham e perdem tudo? Ele não estava preparado para esse momento, para o assédio, para o glamour, com tantas pessoas em volta dele. Ele acaba ficando mais pobre do que antes de ganhar o premio. Não basta ganhar, tem que estar preparado para receber a sorte.

Teve uma época em que tínhamos verdadeiros manuais que instruíam como ganhar na loteria.

Apareceu aqui um dia, um senhor, que disse vir de São Paulo e ter um manual para apostar na Mega Sena, disse que precisaria de um espaço na minha lotérica para divulgar seu livro. Ele me agradeceu, disse que ninguém estava acreditando nas suas melhores intenções. Levei-o ao Jornal de Piracicaba, onde ele contou sua história, e abri espaço para ele. Esse senhor esteve na minha lotérica, divulgou o livro, vendeu uma caixa de livro, ele tinha um método que para ele deu certo, já havia ganhado algumas vezes. Esse livro é como manual para fazer regime, o simples fato de adquiri-lo não o fará emagrecer.

Os apostadores buscam inspiração nas mais diversas ocasiões?

Quando falece uma pessoa ilustre o pessoal joga muito, cria as mais diversas combinações, como data do dia de nascimento, data do dia da morte. O brasileiro é criativo, gosta de jogar. Quando Airton Senna faleceu foi um caos. Tudo que era divulgado sobre o Senna era transformado em palpite, que ano ganhou o primeiro titulo quantas vitórias.

A sua coluna é publicada ás terças feiras na Tribuna Piracicabana, como entrar em contato com você?

Quando falei do meu projeto ao Evaldo, ele disse-me: “Estou a tanto tempo no jornalismo, mas nunca vi nada parecido”. Eu estava em um congresso em Santa Catarina, onde havia representantes de mais de 50 jornais, e todos afirmaram que não tinha visto ainda uma coluna que bata um papo com o leitor a respeito de jogo. Todo jornal dá resultados. É diferente de dar dicas, passar informações, contar histórias.

A minha coluna chama-se “Sorte No Jogo”, quem quiser mandar e-mail é só enviar para

lotericacopa70@ig.com.br

domingo, dezembro 11, 2011

GERALDO ZARATIM

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
Sábado 10 de dezembro de 2011
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/

ENTREVISTADO: GERALDO ZARATIM

Quem acompanha o mundo das artes e da literatura sabe que alguns artistas e escritores só tornaram-se celebridades e tiveram suas obras reconhecidas após alcançarem o segundo plano. O pintor pós-impressionista Vincent Van Gogh, por exemplo, vendeu pouquíssimas de suas obras ainda em vida. Uma década após seu falecimento, em 1890 expressionistas alemães reconheceram seu talento. O mesmo aconteceu com dois grandes compositores: Franz Schubert, cuja maioria de suas obras nunca ouviu executada, e Johann Sebastian Bach, cujas mais de 1.000 composições só vieram a ser reconhecidas depois de sua morte. Os motivos para uma vida de insucesso são os mais variados: desde a falta de divulgação das obras até o choque com os costumes e as tradições de determinada época. Então, somente décadas ou mesmo séculos mais tarde é que o reconhecimento chega e o sucesso acaba por acontecer. O termo arte naïf aparece como sinônimo de arte ingênua, original ou instintiva, produzida por autodidatas que não têm formação culta no campo das artes. Nesse sentido, a expressão se confunde freqüentemente com arte popular, arte primitiva por tentar descrever modos expressivos autênticos. Geraldo Zaratim, a exemplo de diversos artistas piracicabanos, expressa sua sensibilidade de forma original. Com a velocidade das mudanças ocorridas na cidade, materializou em modelos ou maquetes, símbolos marcantes de uma época: A Usina Monte Alegre, o Engenho Central, locomotivas, bondes, veículos, edifícios, tudo com material reciclado. Realizou exposições nos mais diversos lugares, como no Terminal Interurbano de Piracicaba, no Museu da Água, no Engenho Central, em supermercados de grandes redes, escolas. Ministrou cursos para professores de uma conceituada escola particular. Com sua simplicidade, e até certa timidez, Geraldo tem quase 100 peças devidamente armazenadas em sua residência. Por muitos anos foi funcionário de uma indústria de tratores, localizada em Piracicaba, com papel, cola, tinta e muito talento, construiu réplicas da linha completa de produtos dessa empresa. Por motivos que desconhece nunca conseguiu expor aos seus ex-colegas o seu trabalho. Geraldo Zaratim realiza suas obras por idealismo. Não busca fama ou dinheiro, nunca teve qualquer trabalho seu remunerado, nem mesmo os cursos que ministrou. Um ex-prefeito da nossa cidade apaixonou-se por uma de suas obras, ele simplesmente a doou, hoje ela encontra-se no Museu da Água. Os valores das obras de Geraldo ainda são mal compreendidos, além de preservar a história, ele indica a direção de como educar as futuras gerações para a reciclagem, de forma lúdica. Uma didática perfeita. Detalhista, ele retrata o passado e o presente em suas obras. A única duvida é se alguém viverá para conhecer o futuro reconhecimento desse autentico artista. Geraldo Zaratim é filho de Henrique Zaratim e Luiza Balaminut Zaratim., nasceu no dia 17 de dezembro de 1941, na cidade de Rio das Pedras, na Fazenda Viegas. Teve um irmão, já falecido, Iris Zaratim. Aos cinco anos seus pais mudaram-se para o bairro Monte Alegre.

Quem eram os proprietários da Usina Monte Alegre quando sua família mudou-se para lá?

Era a família Morganti, nessa época estava ocorrendo a evolução da usina de açúcar, foi no auge do açúcar. Fomos morar na colônia chamada Vila Odila, na casa número 27, era uma casa recém construída, fomos os seus primeiros moradores, as fechaduras da porta era um trinco simples, as janelas tinha tramelas (tranca para portas e janelas moldada em madeira, com um furo no centro), na porta ficava encostada uma cadeira, o ultimo a chegar empurrava a porta com a cadeira e entrava. Permaneci no Monte Alegre até 1975.

Tinha um time de futebol no Monte Alegre?

Era o União Monte Alegre Futebol Clube, joguei como zagueiro central, cheguei a fazer teste para ir jogar no União Barbarense, só que naquela época o futebol amador em Piracicaba tinha mais reconhecimento do que o futebol profissional. Um jogador do MAF, do Jaraguá, do Atlético Piracicabano, ele preferia permanecer em Piracicaba, em função das amizades, dos colegas, do que ir jogar em um time profissional. O União Monte Alegre era uma potência, Baltazar jogou lá. Joguei contra o Coutinho, que era jogador do Palmeirinha, onde atualmente é o Pão de Açúcar, no Bairro Alto era o campo do Unidos e do El Tigre. Era um ralador, um campo de terra, tinha até pedra no meio do campo, as chuteiras daquela época não ofereciam conforto como hoje, após um jogo era comum aparecer bolhas no calcanhar. O União Monte Alegre tinha sua sede, existia no Monte Alegre um cinema, salão de baile. Os filmes projetados em cinemas do centro de Piracicaba eram projetados lá.

Qual era o nome do cinema?

Cine UMA, União Monte Alegre. Os bailes de primavera, Primeiro de Maio, Carnaval, eram realizados só com o pessoal da usina, moravam ali na vila umas 500 famílias. Pessoas de fora não entravam. Eu poderia levar um convidado, mas me tornava responsável por ele e seu comportamento. Não pagávamos nada para entrar, apenas uma mensalidade simbólica, quem mantinha o clube era a família Morganti. O fundador foi Pedro Morganti, que ficou tomando conta após o seu falecimento foi seu filho Lino Morganti. O Hélio Morganti tomava conta da Usina Tamoio também da família, situada em Araraquara. Tinha outros filhos, Fúlvio Morganti, Renato Morganti e uma filha que nós a chamávamos de Dona Bitch, era muito festeira, tinha um Cadillac, “Rabo de Peixe”, conversível, preto.

Com que idade você foi á escola?

Aos sete anos passei a freqüentar O Grupo Escolar Marques de Monte Alegre, o ensino era rigoroso, se faltasse á aula o diretor mandava o servente se informar o porquê da ausência. Minha primeira professora chamava-se Dona Lavínia, era rigorosa, uma verdadeira mãe para nós. Existiam seis salas de aula, biblioteca, auditório com piano, e uma quadra de basquete. Naquela época não existia merenda, entrava as sete horas da manhã, ao lado da escola tinha uma entrada lateral, as ruas eram de terra, andávamos descalços não tínhamos sapatos, ao chegar com os pés sujos de barro, já na entrada do portão tinha uma caixinha de água, tinha que lar os pés para entrar na escola, o servente da escola ficava observando se todos lavavam os pés antes de entrarem na escola. Havia um pano para enxugar os pés. Na hora do recreio, a mãe ou o irmão, levava em caldeirãozinho o almoço, isso ás nove horas da manhã. Naquela época não havia INPS, décimo terceiro salário, cesta básica, não havia hora extra.

Em que período você estudava?

Estudava na parte da manhã. Meu pai trabalhava na seção de caldeira, depois passou para a sessão de moenda, a minha mãe cortava cana, eu saia da escola e ia ajudar a minha mãe a cortar cana, com doze anos. Quando completei treze anos fui trabalhar na refinaria de açúcar da usina, trabalha doze horas ao dia, havia uma balança de ponteiro, uma pessoa enchia um saquinho de cinco quilos de açúcar filtrado, ao meu lado havia um balde e uma concha, pesava os cinco quilos, e passava ao companheiro ao lado que costurava o saquinho. Depois de uma época passei a trabalhar das seis horas da manhã até as duas horas da tarde e das duas horas da tarde até as dez horas da noite a cada semana trocava de período.

Naquela época quanto pesava um saco de açúcar?

Pesava 60 quilos, quando eu tinha dezesseis ou dezessete anos não havia essa lei onde o menor não pode trabalhar hoje a marginalidade existe porque o menor não pode trabalhar. Se um adulto ficasse doente e não pudesse ir trabalhar, eu ou alguém com a minha idade o substituía, carregava carreta com trezentos sacos de açúcar. Tinha uma esteira, um funcionário vinha com carrinho do tipo que existia nas estações de estrada de ferro, com cinco sacos de açúcar, pegava do carrinho e soltava na esteira, duas pessoas ficavam empilhando em cima do caminhão.

Como era o lazer?

Tínhamos bastante, o cinema funcionava ás quintas, sábados e domingos, ás sete e meia da noite. Assisti King Kong, Titanic, originais em preto e branco. Cleópatra, O Maior Espetáculo do Mundo, esses já coloridos. O cinema comportava umas 400 pessoas. Existiam shows no palco do cinema, cheguei a ouvir a dupla Tonico e Tinoco se apresentarem lá, assim como Parafuso, Pedro Chiquito. O Rio Piracicaba passava encostado com a usina, tinha um clube chamado Teixeirada, onde tinha quadra de basquete, brinquedos, gangorras, balanços, jogo de bocha. O time União Monte Alegre era denominado “Galo Suburbano”, porque ganhava quase todas as partidas.

O que era de fato a Teixeirada?

No inicio foi formado por uma pessoa chamada Teixeira um rancho de pescaria, aos poucos foram aumentando, tinha uma escada de tijolo a vista onde encostavam os barcos de pesca, devia ter uns 20 metros de largura e uns 20 degraus, ao lado havia dois escorregadores para nadar no Rio Piracicaba, havia também um trampolim. O pessoal que gostava de pescar faziam jantares, jogavam baralho, era um ambiente para as famílias se divertirem. Quando eu casei, em 19 de dezembro de 1971, o almoço foi feito lá, era bem organizado.

Como você conheceu a sua esposa?

Ela nasceu ali em 17 de abril de 1945, seu nome é Maria Therezinha Bortolazzo, morava a três casas da minha casa. Ali você nascia, crescia, brincava junto, casava, era uma família. O famoso jogador André Cruz nasceu no Monte Alegre.

Sobre a igreja, quais são suas lembranças?

O padroeiro é São Pedro, cheguei a ver uma restauração realizada após Volpi ter pintado a igreja. Os habitantes mais antigos diziam que Volpi se hospedava na fazenda e dirigia a equipe de pintores da própria usina que cuidavam da manutenção das casas dos moradores. A obra é de Volpi, sendo que as pinturas tiveram a colaboração dos pintores de lá. Cada funcionário da usina deu um dia de trabalho para erguer aquela igreja. Quando Pedro Morganti criou seu império no Brasil, mandou um engenheiro realizar uma réplica idêntica a igreja de Siena, a cidade onde nasceu ele nasceu, acredito que cabem umas 300 pessoas sentadas. As crianças tinham aulas de catecismo e no dia de São Pedro faziam a primeira comunhão, o Cônego Juliani foi pároco dessa igreja. Quando começava a safra de cana após a missa ele benzia todo maquinário, inclusive a locomotiva. Na usina existia carpintaria, manutenção de pintura, eletricista, olaria. Só dentro da usina tinha umas 300 casas. Existia um estábulo com umas 50 ou 60 vacas, de leite, holandesa, o ambiente era tão bem conservado que não se via um fio de capim fora do lugar. O leite era vendido para os empregados a preço de custo. Existia açougue, torrefação de café, fábrica de macarrão, farmácia, ambulatório médico, com instalações para pequenas cirurgias. Médico das sete da manhã ás cinco da tarde, dentista. Centro de puericultura. Parteira. Dois quartos para ficar internado. Era tudo comprado na caderneta. A energia elétrica era gerada por dois enormes turbo geradores, que fornecia energia para a usina na época da safra. A usina não pagava energia para a companhia elétrica, ela produzia a própria energia, com o vapor das caldeiras, alimentadas com bagaço de cana e lenha, em 1959, 1960 já se usava álcool nos caminhões e carros da usina, misturado com gasolina.

Você trabalhou na produção de açúcar?

Trabalhei onde peneirava o açúcar, depois passei para a parte de cima, ali era onde cozinhava o açúcar, exigia muita experiência. Era onde o xarope era cozido até chegar no ponto de soltar nas batedeiras, não existia manômetro, nenhum equipamento auxiliar, era tudo “no olho”. Saia uma base de 30 a 40 sacos de 60 quilos cada tacho, Quando acabava a força e parava aquela batedeira cheia, aquilo virava um concreto, tinha que subir em cima com uma cavadeira e cavoucar, levava meio dia para desenroscar aquilo tudo.

Não tinha nem ladrão de galinha?

Todos se respeitavam e se estimavam. Aos domingos na Teixeirada tinha mais de 50 a 60 pessoas nadando , brincando, divertindo-se. Naquele tempo existia o sandolin, uma espécie de caiaque. A profundidade do Rio Piracicaba ali é de uns 4 metros. A União dos Refinadores foi criada pelo Pedro Morganti, onde faziam o famoso açúcar União. A Área abrangida pela família Morganti abrangia o Santa Rita, Taquaral, Perdizes, ia até a divisa com Rio das Pedras, do outro lado ia até o Marafon , em Limeira, a Fazenda São Pedro.

Quando foi seu ingresso na Caterpillar?

A Caterpillar adquiriu a área onde iria construir suas instalações, essa área havia pertencido á Usina Monte Alegre, a Caterpillar começou a fazer terraplanagem do terreno, uma pessoa de nome Luiz Lazarim, iniciou a contratação de funcionários, ele me convidou para trabalhar na empresa. O número do meu registro era 52. Entrei como operador de empilhadeira. A construtora era a Morrisson. Com o tempo passou a vir chapas, peças, na época as máquinas de solda eram no eletrodo ainda, não tinha ponte rolante, com guincho eu ficava virando peças, muitas peças que precisavam serem cortadas iam para a Painco em Rio das Pedras. A primeira máquina que saiu da Caterpillar de Piracicaba foi um Moto Scraper Caterpillar 621, o meu primeiro supervisor que veio de Santo Amaro, São Paulo para cá, foi Luiz Carlos Calil, atual presidente da Caterpillar. O transporte foi feito pela Transportadora São José. Aposentei-me na Caterpillar em 1987, continuei trabalhando até 1991.

Como surgiu a sua vocação para as obras artísticas?

Com o passar do tempo vi que o progresso estava devorando coisas do passado que foram muito importantes para muitas pessoas, tive a iniciativa de tentar manter a memória através de maquetes feitas de material reciclado. Ganhei muitos elogios, porém pouco apoio. Atualmente tenho um acervo considerável.

Qual seu maior desejo?

É poder dar continuidade ao meu trabalho com miniaturas e preservar a memória de Piracicaba.





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