JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 04 de fevereiro de 2012.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.tribunatp.com.br/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADA: IRMÃ HILDA ZANCHETTA
As Irmãs Terceiras enfrentando as dificuldades próprias do início de qualquer obra, tudo fizeram para que se tornasse realidade o “Asilo Coração de Maria” hoje “Lar Escola Coração de Maria Nossa Mãe”. Na bênção de inauguração, aos 02 de fevereiro de 1898, Frei Luiz assim se expressou, intuindo o Carisma da Congregação: “Daqui em diante, em Piracicaba, as meninas pobres, órfãs e desvalidas não chorarão mais a lágrima da orfandade, porque o Coração de Maria nossa Mãe oferece auxílio e agasalho maternais”.
Da inspiração de Irmã Cecília e da profecia de Frei Luiz, a 30 de setembro de 1900, contando com 7 Irmãs, nasceu em Piracicaba a “Congregação das Irmãs Franciscanas do Coração de Maria”. Enfrentando não poucos obstáculos, gradativamente a Congregação foi se expandindo. Foram abertas outras casas, para se dedicar no cuidado: da criança, do jovem, da família, do doente, do idoso. O Governo Geral da Congregação das Irmãs Franciscanas do Coração de Maria, quando de sua fundação em setembro de 1900 teve inicialmente sua sede na mesma casa no Lar Escola Coração de Maria Nossa Mãe,em Piracicaba. Aqui permaneceu até o início de julho de 1930, quando por proposta do Bispo Diocesano transferiu-se para a Rua Barão de Jaguara, 190, em Campinas, instalando-se no mesmo prédio onde até hoje funciona a Escola Franciscana Ave Maria. Com o passar do tempo, o Governo Geral definiu pela construção de uma sede própria no mesmo terreno da Escola, transferindo-se para o novo prédio em 2 de julho de 1955. O Governo Geral é o principal responsável pela dinamização da Espiritualidade e Carisma em toda a Congregação, promovendo Reuniões, Cursos, Retiros, confraternizações e realizando visita às Províncias, para manter vivos e atuais a herança espiritual dos fundadores. Manoel Ferraz de Camargo, presidente do então Asylo de Velhice e Mendicidade de Piracicaba em 1917 deu as Irmãs Franciscanas da Congregação do Coração de Maria a condução da rotina do que mais tarde veio se denominar Lar dos Velhinhos de Piracicaba, ou Primeira Cidade Geriátrica do Brasil. Quase um século se passou e tanto a Congregação das Irmãs Franciscanas do Coração de Maria como o Lar dos Velhinhos nessa feliz parceria tem realizado uma grande obra levando conforto espiritual e material aos seus abrigados. Uma figura de proa nesse contexto á do seu presidente, Jairo Ribeiro de Mattos, que no Lar dos Velhinhos faz o seu apostolado, um visionário de pés no chão, soube ver que só um teto, alimentação e medicamentos não bastavam, com isso o Lar dos Velhinhos foi ousado e tornou o seu ambiente motivo de orgulho á quem vive e a quem visita a instituição. As edificações são verdadeiras galerias estampando em obras de arte, o cotidiano dos moradores. O Lar dos Velhinhos é uma galeria de arte. A freira gaúcha Hilda Zanchetta é um dos pilares onde se apóia essa instituição. Nascida em Bento Gonçalves, Rio Grande do Sul a 13 de março de 1933, Irmã Hilda Zanchetta é filha de filha de Eliseu Zanchetta e Pierina Buffon Zanchetta, que tiveram 10 filhos. A família residia em uma localidade rural denominada Linha Paulina, eram agricultores cultivavam uva e trigo. Até os 12 anos ela ia á escola e na volta ajudava nos afazeres domésticos. Seus pais eram muito severos com relação a freqüência á missa aos domingos, não permitiam que nenhum membro da família perdesse a missa na Igreja Nossa Senhora do Carmo, situada bem próxima da casa onde residiam. A ocupação do Vale do Rio do Peixe, intensificou-se a partir da construção da estrada de ferro ligando São Paulo ao Rio Grande do Sul, entre 1908 e 1910. As terras férteis da região e as perspectivas de progresso com o transporte ferroviário atraíram um grande número de imigrantes das colônias de Caxias do Sul e Bento Gonçalves, dando início a criação de um núcleo, onde situa-se hoje o município de Lacerdópolis. Em 1961 a vila passou à categoria de distrito de Capinzal, recebendo a denominação de Lacerdópolis, em homenagem ao Governador do Estado de Santa Catarina Jorge Lacerda, que faleceu em acidente aéreo na década da constituição do Município, emancipou-se e foi instalado como município, em 3 de fevereiro de 1964. Irmã Hilda trabalhou no Hospital Santa Cruz em São Paulo, a mais antiga e importante instituição beneficente da cooperação nipo-brasileira ainda em plena atividade, está instalado em um terreno adquirido em 1926, dezoito anos depois do início da imigração japonesa para o Brasil, foi inaugurado em 1939, em uma campanha da qual participaram toda comunidade nikkei e os governos japonês e brasileiro, foi considerado um dos mais modernos da América Latina. Nele atuaram consagrados médicos brasileiros, sendo talvez o mais conhecido o cirurgião Euriclides de Jesus Zerbini.
A família da senhora sempre morou no Rio Grande do Sul?
Quando eu tinha doze anos, a nossa família mudou-se para Lacerdópolis próximo a Joaçaba em Santa Catarina, as irmãs abriram um colégio, o Educandário São José, elas eram professoras e passaram a lecionar no seminário aos alunos da primeira série até o colegial. Lá eu continuei estudando, a nossa casa era muito próxima. Duas irmãs de Campinas foram visitar as irmãs daquele colégio, perguntaram se eu não gostaria de ir para São Paulo, conhecer melhor a ordem, eu tinha 15 anos. Eu buscava uma vida em que não estivesse nem solteira e nem casada, pedia que Deus me mostrasse o caminho. Essa ida das irmãs foi a abertura da porta para essa nova realidade. Quando as irmãs chegaram lá, as conheci e gostei muito da vida delas. Elas participavam de terço, da missa. Quando comuniquei à minha família que gostaria de conhecer as irmãs, meu pai disse-me: “- Você pensa que é brincadeira ser religiosa?”. Eu respondi que iria experimentar. A minha mãe também não gostou muito da minha decisão, mas ambos foram juntos até o colégio das irmãs, não chegava a um quilômetro de distância da nossa casa.
Para que cidade do Estado de São Paulo a senhora veio?
Vim para Campinas, naquela época o trem era o nosso meio de transporte, de Lacerdópolis até Campinas viajamos por três dias e duas noites de trem. Quando chegamos estávamos em um estado miserável. Tínhamos trazido alimentos para comer durante a viagem, porém nunca foi o suficiente. Passei a ser aspirante no Colégio Ave Maria, na Rua Barão de Jaguara, 190, observando como era a vida religiosa praticada pelas freiras. Um dia a superiora geral disse-me: “Você não gostaria de passar para o noviciado?”. Eu era grande, gorda e forte, com o passar do tempo minha altura foi diminuindo. Respondi para a superiora que gostaria de permanecer mais um pouco de tempo para realmente saber se era essa a vida que gostaria de seguir.
Em que dia a senhora recebeu o habito?
Foi no dia 2 de agosto de 1952. Em 1954 fiz os votos de pobreza, castidade e obediência. Tenho que agradecer a Deus pelo fato de ter sido escolhida para a vida religiosa. Em nossa família poderia ter sido outra pessoa a ser escolhida. Rezo muito, pela minha família, ofereço a missa diariamente, meus sobrinhos são todos casados, constituíram suas famílias. Tenho uma irmã que se casou e mora em Campinas, ela me visita com freqüência. Hoje fui almoçar com ela no Shopping Piracicaba.
Quando foi a sua primeira visita á sua família após ingressar na vida religiosa?
Após 10 anos em que deixei a minha família, minha mãe faleceu. Recebi um telegrama anunciando o seu falecimento, fazia três dias que tinha ocorrido. Com isso quando ao vir para Campinas, no dia em que tomei o trem, foi a nossa despedida, nunca mais a vi. Após receber o telegrama fui para Lacerdópolis com outra irmã, o tempo em que fiquei lá foi muito triste.
A senhora permaneceu em Campinas?
Voltei para Campinas, e fui enviada para Bandeirantes, no Norte do Paraná, onde fui tomar conta das crianças. Naquele tempo Bandeirantes era pequena, ruas de terra, quando chovia era um barro só, para ir a missa tinha que ir pisando barro. Lá permaneci por um ano. Voltei para Campinas onde permaneci por mais um ano, em seguida fui designada para ir á Penápolis, onde permaneci por mais um ano. Regressei á Campinas onde fiz os votos. A Superiora Geral Madre Angelina perguntou-me se eu gostaria de trabalhar em hospital. Respondi-lhe: “- Nunca trabalhei, mas posso experimentar”. A Escola de Enfermagem Coração de Maria em Sorocaba era dirigida pelas nossas irmãs, que lá lecionavam também. Fiz o curso de Auxiliar de Enfermagem, voltei á Piracicaba onde fui trabalhar na Santa Casa de Piracicaba, designada para trabalhar na enfermaria onde estavam internados 60 pacientes do sexo masculino, permaneci ali por uns três anos.
De lá a senhora foi para onde?
Fui para o Hospital Santa Cruz, localizado na Rua Santa Cruz, na Vila Mariana, onde permaneci por três anos. Voltei à Piracicaba, fui trabalhar na Santa Casa de Misericórdia de Piracicaba, na pediatria, coma as crianças carentes, eram cerca de 60 crianças. Chegavam em péssimas condições de saúde, desidratados. Naquela época nós fazíamos tudo. Participei de um congresso das enfermeiras em Curitiba, hospedei-me na casa das Irmãs Missionárias. Fui designada para o Hospital Santa Lídia em Ribeirão Preto, onde permaneci por quase três anos, era um hospital infantil, quando fui não tinha quase nada, começamos a receber funcionários e pacientes, crianças com defeitos físicos que necessitavam de intervenções cirúrgicas. Dois anos depois voltei para o Hospital Santa Cruz, em São Paulo, onde permaneci trabalhando no quarto andar, olhando também a maternidade. Voltei á Piracicaba, na Santa Casa fiquei na pediatria Monsenhor Rosa, onde fiquei até 1973. Voltei ao Hospital Santa Cruz, onde permaneci por uns 10 anos. Aposentei-me e em 01 de fevereiro de 1994 vim para o Lar dos Velhinhos, fui trabalhar no Pavilhão Vargas, a irmã Virginia passou a ser superiora, ela pediu que eu tomasse conta do Pavilhão Lula, com o passar do tempo passei também a tomar conta do Pavilhão Madalena, estou até hoje tomando conta de dois pavilhões. Agora ainda estou dando uma cobertura na parte espiritual do pavilhão masculino, dando a unção dos enfermos, levando a comunhão. Vou aos flats também, vejo as pessoas que querem receber a comunhão.
Como é o dia da senhora?
Levanto bem cedo, umas 3 horas e 45 quarenta e cinco da manhã. Faço uma hora de oração. Em seguida faço uma ronda pelos pavilhões, para ver os acontecimentos ocorridos à noite. Às 6 horas vou a Santa Missa, em seguida tomo o café da manhã, volto aos pavilhões onde os funcionários fazem o seu trabalho, acompanho, almoço por volta das 11h30min, em meia hora faço a refeição e já volto aos pavilhões. Acompanho a saída de quem entrou pela manhã. Às vezes algum funcionário falta, tem providenciar quem fica. Tenho uma 15 pessoas residentes nos pavilhões. Quem dá o banho não pode servir a copa.
Após o almoço a senhora não descansa?
Por enquanto não tenho a necessidade de fazer isso, pode ser que um dia tenha que fazer.
Seu trabalho implica também em ter que fazer a higiene pessoal da pessoa abrigada?
Se precisar faço, cuido, carrego. Ajudo em tudo. Às três horas tomo um lanche e volto ao pavilhão sem saber à que horas vou sair. Normalmente saio entre 19 e 19h30min, vou para o meu quarto, sempre assisto o Jornal Nacional, faço questão em assistir, quando termina, já deito e durmo.
A senhora entrou em algum cinema em sua vida?
Nunca. Fui até a praia, mas nunca entrei nas águas do mar, fui com a Cionéia, para conhecer a colônia do Lar dos Velhinhos, os funcionários que tinham ido diziam que era uma beleza, fiz questão de ir. Achei uma maravilha, gostei demais.
A senhora dirige veículos?
Tirei carta de motorista em São Paulo. Em São Paulo fiz o Curso Técnico de Enfermagem, Administração Hospitalar, Técnico em Raio X. Trabalhava e com licença da administração saía de casa às 4 horas da tarde e retornava a meia noite, uma hora da manhã. Fiz curso de enfermagem junto ao Hospital São Camilo, no bairro Pompéia. Ia de metrô. até Santana, lá tomava o ônibus e ia para o São Camilo. Eu morava no quinto andar do Hospital Santa Cruz. Trabalhei também no Instituto Penido Burnier em Campinas, permaneci lá por um ano substituindo uma irmã que tinha ficado doente.
Qual era o carro que a senhora dirigiu para tirar carta?
Era um Fusca. Tudo começou quando a Madre Superiora Irmã Aurora de São Francisco reuniu as irmãs e disse que tinha ganhado uma televisão e que estava pensando em fazer uma rifa, conseguir fundos para adquirir um automóvel Volkswagen, para facilitar as idas e vindas até a rodoviária e facilitar pequenas saídas dentro da cidade de São Paulo. Éramos em 12 irmãs, como ninguém disse nada, eu disse: “- Se a senhora quiser eu posso experimentar, se eu for bem ao volante continuo.” E assim passei a ter aulas de direção, nos dias em que ela estava disponível ela ia comigo. Tinha que treinar sob todas as condições, á noite, dias de chuva. Prestei o exame e passei logo na primeira vez. Eu usava aquele hábito comprido, branco, um véu branco na cabeça, e lá estava naquela fila de umas quinhentas pessoas candidatas a habilitação. Isso no Parque Ibirapuera, em São Paulo. Lembro-me de um homem que chorava por não ter sido aprovado, ele dizia que tinha que dirigir um caminhão, precisava da carteira de motorista. Depois de 10 dias o instrutor foi ao Hospital Santa Cruz levar a minha carta de habilitação. A Madre superiora comunicou que iríamos á agencia de veículos, no vizinho Bairro Saúde para ver se tinha um Volkswagen á venda. Assim passei a dirigir, ia até a rodoviária, e atendia as necessidades das irmãs se locomoverem nas imediações.
O que dá essa força, essa vontade de trabalhar tanto?
Eu acho que enquanto posso devo dar tudo de mim, procuro estar sempre com essa disposição, a nossa vida aqui na terra é tão curta. Dizem que os mais fortes chegam aos oitenta anos. (Irmã Hilda cita que em Salmos 90 a Bíblia diz: “Só vivemos uns setenta anos, e os mais fortes chegam aos oitenta, mas esses anos só trazem canseira e aflições. A vida passa logo, e nós desaparecemos.”). Muitos vivem de ilusões, temos que aproveitar e trabalharmos enquanto temos saúde. Chega uma época em que a pessoa fica doente, não tem mais vontade nem de rezar, nem de se alimentar. Quando parar de comer pode esperar que não irá muito longe.
A senhora em seu trabalho junto a hospitais conviveu próxima a muitas pessoas que faleceram?
Não se acostuma com o falecimento de pessoas, mas temos que conviver com isso, temos que fazer algo, ajudar.
Uma das doenças mais em moda é a depressão, como a senhora vê isso?
A pessoa perde a coragem para fazer qualquer coisa, as vezes perde até o apetite. Muitas vezes ela se deixa levar por acontecimentos, a pessoa se entrega.
Se fosse necessário, a senhora faria tudo que fez novamente?
Acho que com mais perfeição, sinto que perdi muito tempo, não aproveitei tanto quanto poderia ter aproveitado, viver com mais intensidade a vida consagrada à Deus.
As coisas devem ser perfeita no seu ponto de vista?
Isso! Tudo direitinho. Não me sinto bem quando vejo algo fora do lugar.
Já disseram que a senhora é rigorosa?
Falaram sim. Rigorosa no sentido de deixar tudo organizado. Trazendo organizado não dá dor de cabeça para ninguém, inclusive para mim. É mais fácil administrar.
A senhora tem titulo eleitoral?
Tenho sim, a cada mudança de cidade transferia o título, pela televisão acompanhava o perfil, desempenho do candidato em quem eu iria votar, além disso, analisava os comentários a respeito feito por outras pessoas.
Do tempo em que a senhora saiu da casa da sua família até hoje as coisas mudaram muito, no seu ponto de vista foi para melhor ou pior?
Em parte para melhor, principalmente em termos técnicos, de desenvolvimentos, é um ângulo bem nítido essa melhora. Antigamente havia mais rigor, mais respeito, havia mais orações, agora é mais trabalho do que oração. Muitos não aproveitam seus próprios valores, não fazem esforço para sair daquilo que a prejudica. Acham que um presente muitas vezes resolve, não resolve.
Qual atividade agrada-lhe muito?
Gosto de ter meu tempo de oração e união com Deus, por isso me levanto bem cedo, para fazer essa parada, nessa hora que carrego as baterias. Durante o dia o trabalho me envolve muito.
A senhora faz curativos?
Fiz muitos! Antigamente fazíamos tudo, desde colocar soro para um doente até ajudar o médico na cirurgia. Muitas vezes levantei-me á noite, de madrugada, para auxiliar o médico, após a cirurgia tinha que limpar a sala, deixar tudo em ordem para o dia seguinte. À noite não havia quem fizesse, a não ser as irmãs. Sou Técnica em Raio X, levantei-me muitas noites para atender as urgências.
Quantos cursos a senhora fez?
Muitos tudo que aparecia eu aproveitava e fazia, nesta parte estou tranqüila, procurei fazer o máximo que pude.
O que é mais difícil cuidar do paciente ou de seus parentes?
Acho que com a família do paciente, algumas compreendem a situação, o momento. Outras são mais difíceis. Temos que ter muita paciência. Com paciência se consegue tudo.
A senhora tem bastante paciência?
Procuro ter, de vez em quando também perco a paciência. Faço muito esforço para não chegar a perder a minha paciência.
A senhora é devota de quais santos?
Peço muito á Mamãe Cecília, como costumamos chamar a Madre Cecília, ao Coração de Maria. Ultimamente tudo que peço a Mamãe Cecília me dá. Uma das irmãs outro dia perguntou-me se eu tinha rezado para passar o temporal, disse-lhe que sim, sem dúvida.
Mamãe Cecília ainda não foi santificada?
Ela é considerada Serva de Deus. O processo de santificação está se desenvolvendo.
Será que a senhora também não poderá se tornar uma santa?
Não sou não, trabalho bastante para me santificar, isso sim. Faço sacrifícios, penitências para que Deus tenha misericórdia. Assisto a Santa Missa todos os dias, com chuva, tempestade.
No Lar dos Velhinhos aconteceu alguma vez de alguém trazer seu pai ou mãe e não retornar para visitá-lo?
Vários filhos e filhas já fizeram isso. Coloca-os, e depois falam que virá para visitar, mas nunca aparecem. A pessoa idosa fica naquela expectativa enorme, os familiares não aparecem, uma palavrinha dos familiares ou qualquer coisinha que traga, faz com que a pessoa abrigada aqui fique mais alegre. Sentem que são lembrados. Muita gente não é lembrada.
Isso é um fator cultural?
Penso que se aconteceu alguma coisa, não é para se deixar levar pelo acontecido e deixar o idoso naquela situação.
A pessoa deve esquecer algum fato acontecido no passado e tocar em frente?
Isso mesmo, só que a pessoa não tem a força que deveria ter. Muitas vezes o idoso pela idade, pelas doenças, lembra-se muito do passado, fica remoendo isso tudo.
A senhora toca algum instrumento?
Sempre gostei muito de piano, violino. Toquei piano. A música eleva, parece que eu já estou subindo. Não só a música, mas a Santa Missa, a transformação. Aqui no Lar dos Velhinhos estou em um paraíso terrestre.