domingo, junho 03, 2012

JULIO CESAR BARROS AYRES

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 02 de junho de 2012
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
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ENTREVISTADO: JULIO CESAR BARROS AYRES

Julio Cesar Barros Ayres é nascido no Rio de Janeiro a 14 de maio de 1965, filho de Carmelo Leal Ayres, militar da aeronáutica e Maurina Barros Pulosena Ayres, tem um irmão de nome Marcos. Até os seis anos permaneceu com a família morando no bairro Laranjeiras, com a transferência do seu pai para São Luis no Estado do Maranhão, Julio iniciou seus estudos na Escola Mengue. Estudou no Colégio Marista de Araçagy (São Luis/MA). Em seguida foi cursar medicina na Universidade Estadual de Belém, no Estado do Pará. Entrou em 1985 e saiu em 1990.

Como se deu a sua decisão em cursar medicina?

Acredito ter sido por vocação, além de influência familiar, eu já tinha vários parentes que eram médicos. Por dois anos especializei-me em ginecologista e obstetrícia em Anápolis, Goiás, em 1992 conclui a especialização. Em 1993 voltei ao Maranhão, fui trabalhar em Açailândia, próximo a Imperatriz, lá conheci Dr. José Durante Sobrinho, que é de Rio das Pedras. Eu já estava casado com Viviane Bilio Ayres, advogada, natural de Minas Gerais. Lá tivemos uma filha que veio a falecer com um ano de idade. Nessa ocasião recebi um convite para vir passear em Rio das Pedras, fiquei na casa do Dr. Aparecido, já falecido e irmão do Dr. José Durante.

Atualmente o senhor exerce atividades profissionais em que locais?

Quando cheguei a Rio das Pedras o prefeito era o Marrano, havia necessidade de médico para trabalhar na cidade, me convidaram para ficar em Rio das Pedras, isso foi em 1994. Já me considero rio-pedrense, meus filhos Julio Cesar e Ana Júlia nasceram em Rio das Pedras. Por 16 anos trabalhei na Prefeitura Municipal de Rio das Pedras. Sou médico no Hospital dos Fornecedores de Cana em Piracicaba, tenho meu consultório particular, trabalho na Amhpla em Rio das Pedras, trabalho na Prefeitura Municipal de Piracicaba, onde sou concursado.

Qual foi a sua primeira impressão sobre Rio das Pedras assim que o senhor chegou?

A de uma cidade pacata, tranqüila, eu já estava vindo de uma cidade do interior. Aqui encontrei a oportunidade de conhecer muita gente. Fiz muitas amizades em Rio das Pedras.

Isso o motivou a ter o desejo de uma participação mais efetiva nas decisões políticas da cidade?

Observando as carências, principalmente na área da saúde, em 2004 a convite de Vitório Cezarino sai na sua chapa como candidato a vice-prefeito. Em 2006 me lancei na candidatura para Deputado Estadual, tive quase 40% dos votos do município. Em 2008 fui candidato a prefeito, tive 38% dos votos. Hoje sou pré-candidato a prefeito pelo PPS.

A saúde é uma questão muito delicada no mundo todo, países ricos como Estados Unidos não conseguem atender a contento sua população.

Exatamente. O Brasil nos últimos anos avançou consideravelmente no aspecto saúde. O sistema SUS disponibilizou maiores recursos, as regiões mais carentes do país melhoraram. Nossa cidade, Rio das Pedras, teve a pior nota do Estado de São Paulo: 3.7, a própria Tribuna publicou recentemente.

Por qual motivo essa avaliação foi tão baixa?

Acho que por falta de gestão. De competência na gestão. Rio das Pedras é uma cidade que tem uma arrecadação considerável, está no entorno das cidades com maior renda per - capita do Estado de São Paulo.

Em Rio das Pedras onde é feito o atendimento ao paciente?

Hoje existe um único pronto socorro, um ambulatório da prefeitura e um hospital. A cidade já está com quase 30.000 habitantes e é preciso implantar os programas do governo federal, não existe nenhum deles implantado. A cidade não tem o programa de saúde da família, o programa de saúde da mulher, da criança, do adolescente, do idoso.

E por que não têm esses programas?

Acho que é má gestão do serviço de saúde. O programa de saúde federal existe em todas as cidades, inclusive em cidades do nordeste.

Esses programas estão disponíveis e não foram implantados?

Não foram implantados no nosso município, pode ser por visão política, ou por falta de um técnico com visão competente para implantar esses programas. Tem que haver gerenciamento por técnico e não por político.

Qual é o maior problema na área de saúde em Rio das Pedras?

A prevenção. A assistência a saúde primária.

Há pessoas que adquirem determinados remédios, e não sabem que esses remédios têm distribuição gratuita?

Existe o programa Farmácia Popular, do governo federal. A população precisa de mais informações. Em Rio das Pedras temos diversas farmácias cadastradas. O governo federal dá gratuitamente o remédio. São remédios genéricos de qualidade. Isso tem contribuído para melhorar a prevenção da saúde no país todo.

Qual é o índice de natalidade da cidade?

O município tem esses dados com precisão, geralmente nascem de 30 a 40 crianças por mês em Rio das Pedras.

Houve um período em que muitas adolescentes tornaram-se mães precocemente, isso no Brasil todo, houve alguma mudança?

Continua sendo assim ainda, os números caíram muito pouco. Há muita falta de informação para essas mães precoces. Tem que haver os programas de saúde do adolescente.

Um dos grandes problemas que a saúde enfrenta é a falta de informação?

A informação custa caro, têm que ser montados programas específicos, a parceria entre as secretaria da educação e da saúde constituem em importante fonte de informação. A própria escola pública, a sociedade através de centros comunitários são canais importantes para levar a informação. É importante a parceria entre poder público e entidades religiosas, entidades de serviços.

O senhor é religioso?

Sou católico.

O senhor já tem um programa de governo elaborado?

O Brasil tem crescido muito, nós temos que aproveitar esse momento para crescermos juntos. Temos um distrito industrial que tem que ser ampliado. A cidade tem essa vocação industrial pela localização dela, entre duas importantes rodovias. Temos duas usinas açucareiras e produtoras de álcool, temos que valorizar a função agrícola.

Como o senhor vê a possibilidade de duplicação do trecho entre Rio das Pedras e a Usina Santa Helena (Rodovia Cornélio Pires)?

É uma rodovia estadual, já está passando da hora de duplicar, temos tido muitos acidentes com óbitos.

O senhor não pretende governar sozinho?

Pretendo governar com parcerias tenho o total apoio do deputado Roberto de Morais, que se prontificou a ajudar no desenvolvimento do município, colaborando com emendas para melhorar rodovias, para construção de postos de saúde, e a própria parceria privada. A cidade pode ter um portal, em sua entrada, de acordo com a sua necessidade. O que temos hoje está abandonado, poderia ser utilizado como um posto da Guarda Municipal, um local para informações. Não adianta fazer as obras e não cuidar é um dinheiro público mal empregado. Bons exemplos nós temos na cidade vizinha, o prefeito faz as obras e continua cuidando.

O senhor tem algum projeto voltado para a qualificação do funcionário municipal?

Acompanhei há alguns anos um projeto muito interessante no município de Praia Grande. A qualificação dos funcionários públicos e dos administradores tem que ter uma visão que ajude o município a crescer. Uma administração tem que ser descentralizada e com pessoas competentes. Dar responsabilidade e autonomia para cada colaborador. E cobrar resultados.

Quantos vereadores têm em Rio das Pedras?

Nove.

Hoje como é a relação da câmara com o município?

O prefeito tem a maioria. Espero se eleito for manter um bom relacionamento com o legislativo.

A população rio-pedrense tem pré-disposição para colaborar com o poder público?

Tem que haver uma abertura por parte da prefeitura para o povo ajudar. Acho que são solícitos. O que não vi nessa última administração é essa abertura. É um governo muito fechado, distanciado do povo.

O senhor acredita que a proximidade do administrador junto a população é fundamental?

É fundamental estar junto a população, aos empresários, as entidades religiosas.

As entidades religiosas têm uma atuação forte ou há uma supervalorização das mesmas?

Elas têm de fato muita importância, até mesmo pela omissão do poder público que na parte de assistência social deixa a desejar.

Como está a situação do dependente químico em Rio das Pedras?

Grave. Gravíssimo. Não existe um programa de recuperação do dependente químico. Na nossa região, de Piracicaba e Campinas, há um déficit de 17.000 vagas.

Para o jovem, Rio das Pedras não oferece muitas opções de lazer.

Pretendemos melhorar a parte de lazer, esportes. E precisa ser construído um espaço apropriado, um local onde possa ser feitas as festas do calendário municipal sem incomodar a cidade. Isso gera um custo mais baixo, as adaptações que são feitas geram despesas inúteis. Todo evento realizado no campo de futebol destrói o gramado. Quando é feita de forma improvisada em outro local, a locação das instalações é caríssima e incomoda boa parte da população. Temos já uma área em vista para a construção definitiva de um local de lazer, com terreno plano, onde as pessoas possam circular a vontade, com previsão de área de estacionamento compatível.

O senhor tem um projeto de governo pronto?

Já está quase concluído. Temos conversado muito com a população para a elaboração desse projeto. Desde 2008 quando fui candidato tenho aprimorado esse projeto. Minha forma de ser conhecido pelo povo é andar pela cidade, bater de porta em porta. Explicando nosso programa.

O senhor imagina quantos cafés já tomou em um único dia dessas andanças?

Bastante! O povo nos recebe muito bem, é muito educado, ouve nosso programa.

Qual é o seu olhar sobre o que a população vê no senhor?

De esperança, de mudança, que mude a forma de administrar o município, isso eu vejo que é o que a população pede. Para desenvolver o município, nós temos um grande problema no abastecimento de água, é um problema seriíssimo que existe já por diversas administrações municipais.

Qual é a solução?

Melhorar a captação de água, nós temos encanamentos que distribuem água com cinqüenta anos de uso, há uma boa perda de água, perde-se de 30% a 40% da água captada. A cidade cresceu, da forma que está compromete os próprios loteamentos. Seja condomínio fechado ou projeto habitacional para casas populares.

Por que a conta de água oscila tanto em Rio das Pedras?

Pergunta de resposta difícil, até na minha casa a conta de água trouxe-me esse problema no mês passado. Um mês veio uma conta de R$ 40,00 em outro mês R$ 140,00 tive que ir lá reclamar. Não sei se é preciso mudar a forma de leitura, ou mudar o programa que calcula. Precisam ser mudados os hidrômetros, a forma de leitura, um software confiável.

O senhor acredita em uma terceirização do SAAE?

Isso tem que ser estudado, depende da aprovação da câmara municipal. A terceirização pode ser boa, mas tem que ver a vontade da população. O que eu me proponho é no mínimo fazer uma gerência melhor.

O aspecto segurança como está em Rio das Pedras?

Como no Brasil todo. Ruim. A nossa Guarda Municipal precisa ser mais atuante, mais motivada. Tem que existir um plano de carreira para a Guarda Municipal. Tem que estar bem orquestrada com a Polícia Civil, com a Polícia Militar. A Guarda tem que estar na rua. Ela tem que estar localizada em pontos estratégicos, principalmente nas entradas e saídas do município.

No Brasil é muito comum quando se muda uma administração o administrador seguinte altera tudo que o anterior fez, seja bom ou ruim. Qual é a visão do senhor a respeito?

Isso é uma visão revanchista, um verdadeiro absurdo. Tem-se que colaborar com o desenvolvimento do município. O que está bom tem que melhorar. O que não foi implantado deve ser colocado. O prefeito é apenas um gerente do dinheiro do município. O prefeito é um funcionário público como outro qualquer. O dinheiro do município deve ser aplicado e bem cuidado. Conservar o que está bem feito, não destruir. Rio das Pedras não tem um plano diretor eficaz, as coisas não são feitas por prioridades, tem que ser um plano que deve ser discutido com a população. Se você perguntar a um cidadão de Rio das Pedras se ele conhece o Plano Diretor do Município, ninguém conhece. Ele deve existir por exigência legal. A prefeitura tem que ter um departamento de comunicação atuante, competente, que leve a informação a população.

As composições políticas engessam ações?

Acho que não, os partidos que formam as composições tem que pensar no bem da cidade. Não podem pensar no seu próprio benefício. Em Rio das Pedras votam na pessoa, no cidadão, embora haja cerca de 20 partidos políticos.

Dizem que quanto menor a cidade a política é mais acirrada, o senhor concorda?

A política é mais forte, é mais difícil por ser feita porta a porta, tem que convencer o cidadão. As composições tornam-se mais disputadas.

Com relação ao ensino o senhor pode adiantar alguns dos seus projetos?

Acho que têm que se usarem melhor as escolas já existentes. Implantar novos cursos, instituir cursos profissionalizantes. Incentivar os professores no aspecto pedagógico e salarial. Percebemos que os professores querem ajudar mais, mas não estão tendo apoio. Um dos maiores problemas da nossa cidade é a mão de obra especializada, as indústrias reclamam que tem que buscar funcionários qualificados de outras localidades. Pretendemos em parceria com as próprias indústrias daqui trazer escolas profissionalizantes.

Como o senhor vê quando dizem que Rio das Pedras é uma cidade dormitório?

Vejo com tristeza. É uma realidade, até mesmo pela proximidade com Piracicaba. Não podemos ficar esperando parados que Piracicaba se desenvolva, temos que nos desenvolvermos juntos.

Rio das Pedras tem aterro sanitário?

Temos o aterro sanitário, o “lixão” que precisa ser mais bem cuidado. Não existe coleta seletiva na cidade. O aterro sanitário de Rio das Pedras está com aporte de lixo coletado em outras cidades, como Jumirim que recentemente foi flagrado descarregando lixo de forma clandestina. O caminhão foi preso. Isso mostra falta de fiscalização ou irresponsabilidade da empresa que coleta o lixo lá, que é a mesma empresa que coleta em nossa cidade.

Qual é a arrecadação anual do município de Rio das Pedras?

Hoje é por volta de 80 a 85 milhões de reais.

















sexta-feira, maio 25, 2012

MARIA SOLANGE PUGLIELLI

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
Sábado 26 de maio de 2012
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
      ENTREVISTADA: MARIA SOLANGE PUGLIELLI
“O DL é uma experiência transformadora. Um treinamento vivencial, intenso, envolvente e dinâmico. Permite o desenvolvimento pessoal e profissional. Dá o controle emocional, auto-estima, confiança, segurança, motivação, capacidade de trabalhar com equipes e liderá-las. O treinamento é realizado em um ambiente próprio para vivenciar e tirar proveito positivo das quatro emoções: medo, raiva, tristeza e alegria para que elas possam ajudar na conquista dos seus objetivos.” Esse é um pequeno trecho veiculado no Jornal Dois Irmãos, do município gaúcho do mesmo nome. Em meio a um cipoal de cursos de treinamento, onde cada um deles procura valorizar seus pontos fortes há uma intensa corrida do ser humano por reconhecimento e capacitação. Empresas procuram capacitar seus funcionários, aplicam fortunas no seu aprimoramento técnico, milhares de horas são gastas com palestras, toneladas de papel fazem parte de luxuosos manuais, muitos acompanhados com a mídia do momento. Houve a época em que se davam palestras intermináveis e ao final o concluinte do curso ganhava uma bolsa com até algumas dezenas de fitas cassete. Hoje a mídia está mais compacta com o DVD. Muitos palestrantes lotaram auditórios. Em tempos de globalização a humanidade parece estar em busca constante de uma fórmula milagrosa, uma área de conforto constante, longe dos “graves problemas dos nossos tempos”. Uma quimera que sempre povoou o pensamento humano. Desafios sempre existiram e enquanto houver vida sobre a terra eles serão constantes. Ferramentas para trabalhar com esses desafios é que fazem a diferença. Isso pode ocorrer com empresas, com indivíduos, com núcleos familiares. Maria Solange Puglielli nascida a 29 de fevereiro de 1960, na cidade de São Paulo, é primogênita de quatro filhos. Fez seus estudos na Escola Estadual Pedro Alexandrino (Criador do Lar dos Velhinhos de Piracicaba), e na Escola Estadual Professor Rafael de Moraes Lima, é formada em Artes Plásticas. Solange é mãe de dois filhos, Tiago com 27 anos e Diogo com 25 anos. Foi diretora de esgrima, ginástica olímpica e diretora social no Clube Regatas Tietê. O Tietê fazia muitas festas, entre elas a tradicional do Preto e Vermelho. Tinha um carnaval muito forte no Tietê. É casada em segundas núpcias com Humberto Douglas Leão.

Você participou de desfiles de carnaval?

Desfilei quando o Corinthians foi Campeão Brasileiro pela primeira vez, em 16 de dezembro de 1990, nós tínhamos uma turma muito grande do Clube de Regatas Tietê que saia desfilando no Corinthians. Desfilei na Avenida Tiradentes e outra vez no Sambódromo.

Qual é a sua atividade atual?

Nunca imaginei que pudesse exercer uma profissão que me desse tanta satisfação pessoal e isso encontrei trabalhando com treinamento emocional. Meu marido tem uma empresa em São Paulo, um cliente comentou com outro que tinha feito um treinamento espetacular, o Douglas, meu marido, tinha que fazer esse treinamento. O outro cliente achou que eu deveria fazer. Escutei meu nome, sai da sala onde estava e fui procurar entender o que estavam conversando. Ele disse que não tinha como contar como era esse treinamento, mas a sua expressão facial, seu olhar, estavam radiantes. Sou muito curiosa, ele não podia contar como era, mas disse que era muito bom. Logo pensei: “Se é bom quero para mim!”. Na sexta-feira seguinte eu estava em Atibaia, no hotel onde seria o treinamento. Desde muito pequena assumi responsabilidades acima da minha faixa etária, somado ao fato de ser muito pequena e magra, logo percebi que tinha que falar mais alto do que os outros eu tinha que gritar muito era assim que eu ganhava a atenção das pessoas. Eu resolvia tudo na briga mesmo. Um comportamento nada recomendável. Esse comportamento sempre me atrapalhou muito, eu ganhava as coisas no grito. O treinamento me ajudou muito, descobri que poderia ser diferente. Ajudou-me a perceber que eu tinha meus valores e que poderia usar outra forma de explicar para a pessoa que aquilo não era satisfatório para os dois lados.

Após participar do seu primeiro treinamento como surgiu a sua ligação com essa equipe?

Quando a porta abriu e entrei, vi tantas pessoas bem, são aquelas denominadas de “padrinhos”, estão levando alguém, eram pessoas muito felizes, na hora pensei: “Eu nasci para ser feliz!” Encontrei pessoas que não queriam saber onde eu trabalhava quem era meu marido, quais eram as minhas posses. Elas estavam ali para dar carinho e serem felizes. Pensei: “Meu Deus que lindo isso aqui!”. Na hora decidi que ia trabalhar ali. Encontrei o que não havia achado em toda a minha vida. Foi um treinamento intenso, você não vai para passar um fim de semana em um hotel se divertindo. São 34 horas de treinamento, que trabalha com emoções. É o seu encontro com você mesmo, irá saber o porquê da sua forma de agir. Todo trabalho é direcionado para que você se conheça plenamente. Têm uma dinâmica de alegria, de soltar a criança livre, se divertir. Tudo dentro da maior ordem e respeito.

Você está falando de adulto brincar?

Colocamos musica alta, vamos dançar, vamos brincar. A alegria de curto prazo também gera problemas. Aquela alegria em que você pensa: “Amanhã vou ter certeza de que vou me arrepender disso.” E muita gente vive caindo em alegria de curto prazo.

O ser humano procura preencher suas lacunas com atitudes aparentemente corretas, mas de conseqüência doloridas?

Principalmente dentro de uma alegria de curto prazo ele se empolga. Sente-se na obrigação de mostrar que tem muitos amigos, as vezes ultrapassam seus limites querendo provar algo para alguém. O ser humano não descobriu que não precisa provar nada para ninguém.

A nossa sociedade vive de tentativas de mostrar a capacidade individual?

Acredito que sim. Não existe essa necessidade. O individuo está sempre querendo provar alguma coisa para alguém, com isso ele deixa seus valores, sua essência em segundo plano, a pessoa perde seu rumo.

Está mais acentuada a consideração das pessoas pelos valores materiais que possuem e não pelo que são?

Acaba sendo dessa forma. Essa necessidade de provar tem seu inicio na infância. Meu brinquedo é mais bonito. A minha mãe gosta mais de mim. Porque alguns jovens começam a fumar tão cedo? Porque em uma roda de amigos ele passa a ser considerado adulto. Principalmente algumas décadas passadas fumar significava ter status. “- Ah! Ele bebe! Que legal!”. Copiamos os exemplos.

Como você vê as “uniões estáveis”?

Conheço uniões estáveis fantásticas, maravilhosas, que estão juntos ha mais de 20 anos e se dão muito bem. E conheço casamentos onde foi tudo bonitinho, certinho, casamento lindo, mas que já nasceu morno, sem futuro. As pessoas acabam tomando atitudes para provar ou fugir de alguma coisa. Está todo mundo casando, eu vou casar também. Simplesmente casa, se não der certo separa. Casamento é para viver feliz para sempre. Ainda hoje, muita gente casa para sair de casa. O ser humano está sempre querendo fugir de alguma coisa.

E aqueles casos em que a pessoa fica residindo com os pais, muitas vezes o indivíduo já é quarentão e nem pensa em criar seu próprio espaço?

Ele está na verdadeira e legitima zona de conforto. Papai está aqui, não tenho que me preocupar, chego em casa, minha mãe já organizou tudo para mim. Tenho tudo na hora certa, dá trabalho sair da zona de conforto.

A disputa dentro do mercado profissional está cada vez mais acirrada, o indivíduo tem que acumular constantemente conhecimento técnico em detrimento da relação emocional?

Ai entra o que chamamos de QA (Quociente de Adversidade), QE (Quociente Emocional) e QI (Quociente de inteligência). Quando somos admitidos em uma empresa o QI é demonstrado, quais são as minhas habilidades, capacidade, grau de conhecimento específico. Principalmente nos cargos mais altos surgem adversidades, como trabalho isso? Se o individuo não estiver equilibrado para aquele momento irá proceder de forma errônea. Perde o controle, agride a si mesmo. Pode ser áspero com subordinados. Passa a gerar um desconforto muito grande na empresa e principalmente para si mesmo.
Pessoas que trabalham sob muita pressão buscam válvulas de escape. O esporte é uma dessas válvulas e age de forma positiva. Mas existem outras que são negativas. Como está o equilíbrio emocional nos dias atuais?
Quando convidamos alguém para fazer um treinamento emocional à resposta muitas vezes é: “Ah! Eu não preciso disso! Eu estou bem demais!” São pessoas que tem medo de se olharem no espelho, ver quem ela é de verdade. Ela se acostumou tanto com a imagem que passa para os outros que se esquece de ver quem realmente ela é.
Quantas pessoas você já teve a oportunidade de treinar?
Até o momento aproximadamente 10.000 pessoas.

Algum usuário de droga química?

Principalmente jovens, só que dentro do curso ninguém o identifica como portador dessa doença. Ele pode fazer o treinamento, conquanto que assuma o compromisso de que não irá fazer uso de qualquer tipo de droga. Somos em 14 pessoas ministrando o curso, além de uma estrutura de apoio, estamos 24 horas por dia tomando conta de todo mundo. Se a pessoa tentar fazer uso de algum produto vetado durante o treinamento ( droga, álcool ) ela é retirada do treinamento. Depende só da vontade da pessoa em querer mudar.

Qual é o maior problema do ser humano hoje?

É o seu controle emocional, cujo desequilíbrio faz o individuo se apoiar em drogas, bebidas. Tem um caso muito interessante, um jovem cujo pai era alcoólatra, e em determinado momento esse jovem desabafou com um senhor muito mais idoso, dizendo que o seu pai tinha se separado da sua mãe por causa da bebida. O senhor começou a chorar, dizendo: “Estou aqui porque bebo muito, e estou acabando com o meu casamento por causa da bebida”. Outro caso, um padre estava fazendo o curso, ele ministra missa em Aparecida do Norte. Uma senhora contou fora do período do curso, quando chamou esse moço, sem sequer imaginar que era padre, e disse-lhe que tinha algo apertando seu coração, precisava contar, mas que só um padre teria condições de ouvi-la. Desesperada ela acabou revelando a esse moço o que a magoava tanto. Ele calmamente a escutou, ao término disse-lhe: “Filha, você está absolvida, eu sou padre!”.

Como você vê esse universo de cursos de treinamento?

Como em toda atividade, existem excelentes profissionais assim como existem aqueles que deixam a desejar. Acredito que todo treinamento acrescenta algo ao indivíduo. De 80% a 90% dos treinamentos que temos em São Paulo saíram de dentro do INEXH que já existe há 15 anos. Temos uma grande preocupação em nosso trabalho porque estamos trabalhando com seres humanos, onde cada um tem sua particularidade, suas dores, seus traumas. Os maiores traumas têm sua origem na infância.

Estamos nos referindo a pessoas adultas que tiveram traumas na infância, essas pessoas não cresceram?

Só que os traumas crescem juntos. Não existe emoção boa ou ruim, o nosso cérebro, nosso inconsciente registra por grau de emoção. Nosso cérebro registra tudo, sem exceção. Comportamos de certa forma porque em algum momento esse comportamento foi útil.

Qual é a importância da emoção na vida do ser humano?

É fisiológica. Ela tem a função orgânica. A raiva serve para destruir, o medo é fruto do desconhecido, quando eu desconheço, paro, formulo uma estratégia, se aparecer uma serpente no meu caminho, eu não sei se ela é venenosa, que ação tomarei com relação a essa situação? O medo serve para isso. A tristeza serve para fazer a pessoa pensar. Ela faz a pessoa refletir, o que está fazendo com a sua vida, como pode melhorar. Se as pessoas conhecessem um pouco mais sobre as suas emoções elas teriam mais habilidades para lidar com a vida.

O Brasil é o maior consumidor mundial de um determinado ansiolítico (calmante), usado pelos brasileiros como elixir contra as pressões banais do dia a dia: insônia, prazos, conflitos em relacionamentos. Isso significa que estamos cada vez mais estressados?

Uma pessoa do nosso círculo de amigos estava fazendo tratamento com medicamentos pesados, ela tinha síndrome de pânico. Começou tomando um remédio para dormir, foi aumentando sua ansiedade e a medicação foi a cada dia ficando mais forte. Com síndrome do pânico. Graças à vontade dele de mudar ele decidiu fazer o treinamento no DL. No seu conceito o máximo que poderia acontecer seria perder um final de semana. Ele não conseguia dirigir seu próprio veículo, tinha medo de passar mal, estar dirigindo e morrer. Isso o levou a andar quase sempre de taxi. Não entrava em transporte coletivo, como metrô, ônibus. Após sair do DL foi reduzindo a medicação, já há dois anos não toma remédios, a uns 5 meses atrás ele foi nos visitar, já tinha feito viagens de ônibus pelo Brasil, sem contar sua superação com relação a andar de transportes coletivos. Na ocasião em que foi nos visitar estava voltando de uma viagem á China, permanecendo um elevado número de horas dentro de um avião. Algo antes impensável para quem não ficava em ambiente fechado.

Como os psiquiatras se manifestam com relação a esse treinamento?

Os psiquiatras gostam do DL. Muitos psicólogos também. Quando um paciente vai fazer um treinamento, o seu médico psiquiatra tem que autorizar por escrito, mencionar quais remédios ele usa, ele não pode parar de tomar essa medicação. Nós vamos trabalhar o seu comportamento. Muitos psicólogos dizem aos seus pacientes: “Estamos fazendo um tratamento há oito anos, vai fazer um treinamento de caráter emocional que você irá resolver seu problema”. Todo DL tem uns 10 a 15 psicólogos também fazendo treinamento. Pastores fazem o DL, assim como médicos, políticos, eu mesma já convidei e levei três prefeitos. Entre os muitos esportistas que fizeram o DL em Atibaia, posso citar grandes nomes do vôlei masculino como Tande, Giovani, Bernardinho, e outros. Uma capitã da policia militar, da Academia do Barro Branco, fez o DL, levou seu comandante, com isso muitos militares foram fazendo o DL. Formulamos um treinamento com fundamentos idênticos ao DL e que eles passaram a aplicar em suas instruções. Pessoalmente eu não vejo com simpatia o treinamento que é dado pelo superior ao seu subordinado. Em minha opinião deve haver uma dissociação. Quando se harmoniza o ser tudo em sua volta fica harmônico. Para trabalhar o ser tem que tirá-lo da sua zona de conforto. Dissociar de patrão, superior, pai e filho. Marido e mulher nós pedimos que não façam o treinamento na mesma data.

Após passar esse treinamento de 34 horas, na semana seguinte a pessoa estará sentindo-se muito bem. Isso continua?

É interessante que escutamos as pessoas que vão para o treinamento dizerem que vão á tantas palestras, lêem muito, após dois ou três dias acabam esquecendo, deixando de lado. Quando você faz um treinamento no DL você aprende na emoção, tudo que se aprende com a emoção é para sempre. O seu cérebro, seu sistema todo quando percebe que teve um ganho com isso, ele não retrocede. Nenhum sistema gosta de perder. No DL você começa a reforçar comportamentos adequados.

Há uma tendência da pessoa gravar o que é ruim e desprezar o que é bom?

Nesse caso o que a pessoa aprendeu de negativo por emoção foi muito forte, permanece registrado. Uma emoção que machuca com certeza ficará registrada. Ninguém esquece um acidente de carro, a emoção foi muito forte. Há uma preparação para viver momento de alegria, uma festa, um casamento, o nascimento de um filho, tudo isso é preparado. O INEXH tem uma grade de mais trinta cursos e treinamentos, todos com muita programação neurolingüística. A programação neurolingüistica ajuda a buscar excelência em tudo que você faz. Atualmente o Brasil tem o maior conhecimento em neurolingüistica, a mais avançada do mundo. O Brasil é bom em muita coisa, temos um médico, ainda jovem, que é recordista mundial em transplante de fígado. Em odontologia somos os melhores do mundo.

Você acredita que dentro dessa linha de trabalho está fazendo mudanças na vida de muitas pessoas?

Acredito, eu vejo isso acontecer todos os dias. As pessoas estão cheias de cascas, colocam muitos escudos. Aprendemos a fazer isso desde pequenos. É lindo ver como isso acontece durante o treinamento, o treinando não percebe, mas na primeira dinâmica sai um pequeno escudo, a medida que são realizadas outras dinamicas as pessoas vão retirando seus escudos. No domingo as pessoas estão totalmente diferentes do que eram quando iniciaram o treinamento. Há uma grande mudança de comportamento, uma nova vida.

Existe alguma relação com religião?

Nenhuma. O treinamento não envolve crenças religiosas, visões políticas. É tratado como ciência. Usamos uma capacidade muito pequena do nosso cérebro de forma consciente. Uma enorme parte do cérebro é formada pelo inconsciente. Não utilizamos 5% da capacidade cerebral. O restante fica tentando nos proteger e guardar tudo, o que ocorre em nossa vida está registrado em nosso cérebro.

O que é renascimento?

Através de técnicas de respiração, é levado um volume maior de oxigênio até o cérebro. Não há nenhum tipo de indução, apenas o uso de técnicas de respiração. As memórias da pessoa surgem, inclusive do período pré parto. Não ha riscos ou danos, a pessoa sairá sentindo-se revitalizada. Ficam 14 pessoas monitorando o andamento do processo, caso surja algum movimento diferente há a intervenção apropriada a situação.

Filhos não devem culpar os pais pelos problemas que ocorreram em suas vidas?

Freud segue essa linha, onde tudo é culpa do pai,da mãe, do tio, do avô. Nós damos ferramentas para que a pessoa entenda que a criação da mãe dela foi pior do que a dela. Se ela nãao sabia dar carinho foi porque ela não recebeu carinho. Ninguém dá o que não tem. Uma pessoa completamente analfabeta pode ensinar outro a escrever? Você dá o que você tem.

Como a pessoa pode entrar em contato com você?

Pelo e-mail solpuglielli@hotmail.com ou pelos telefones (011) 99383716. (011) 2959 4594.







sábado, maio 19, 2012

GABRIEL FERRATO DOS SANTOS

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 19 de maio de 2012
Entrevista: Publicada aos sábados na Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
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ENTREVISTADO: GABRIEL FERRATO DOS SANTOS
Gabriel Ferrato dos Santos é Secretário Municipal de Educação do município de Piracicaba desde janeiro de 2009. È professor do Instituto de Economia da Unicamp desde 1988, com pós-doutorado em Economia da Saúde pela University of York (Inglaterra), pela Universidad Pompeu Fabra (Espanha). Doutor em Economia pela Unicamp, mestre em administração de Empresas pela FGV-SP, Mestrado Profissional em Gestão de Sistemas de Saúde pela UFBa, graduado em Ciências Econômicas pela Unimep. No período 2007/2008 foi coordenador do Núcleo de Economia Social Urbana de Políticas Públicas da Unicamp. De 1995 a 2002 cedido pela Unicamp ocupou cargos públicos como o de secretário de Planejamento do município de Piracicaba, coordenador-geral do Projeto Reforsus do Ministério da Saúde, Secretário Nacional de Gestão de Investimentos do Ministério da Saúde. Em 2004 elaborou estudo para a Rede de Redução de Pobreza e Proteção Social do BID- Banco Interamericano de Desenvolvimento. Nascido a 31 de outubro de 1951 em Piracicaba é filho do contador e comerciante Donato Corrêa dos Santos, natural de Brotas, e Maria Dinis Ferrato dos Santos, nascida em Andradina de prendas domésticas. O casal teve sete filhos: Bernadete, Raquel, Maria Angélica, Gabriel, Judite, Márcia e Alexandre. Seus primeiros estudos foram feitos no Grupo Escolar Prudente de Moraes, na época a família residia na Rua Floriano Peixoto. O segundo ano primário estudou no Grupo Escolar Barão de Rio Branco. Seu pai foi trabalhar na área contábil da “PAMEC” - Patrulha de Mecanização Agrícola “PAMEC” Ltda, hoje denominada PAINCO Indústria e Comércio S/A situada em Rio das Pedras, onde permaneceram por um ano, período em que Gabriel estudou na BSN, Escola Barão de Serra Negra e foi coroinha da Igreja Matriz de Rio das Pedras, o pároco era o Padre Ivo Vigorito. Gabriel lembra-se até hoje da missa celebrada em latim, recita ainda algumas frases: Dominus vobiscum ("O Senhor esteja convosco") cujo responso, é: Et cum spiritu tuo ("E com o vosso espírito"). Recorda do sino tocado pelo coroinha durante a misa, do turíbulo, onde era colocado o incenso em determinadas cerimônias religiosas.

Alguma vez o senhor pensou em seguir a carreira religiosa?

Nessa época pensei, quem convive nesse meio quando criança é natural que isso passe pela cabeça, eu gostava muito de participar das celebrações. Essa minha participação tem muito a ver com o meu pai, ele era extremamente religioso, era muito rigoroso com as questões religiosas, no período da infância e adolescência todos nós em casa cumpriamos o que a igreja orientava. Meu pai cumpria todos os preceitos e nós o acompanhavamos, às refeições rezávamos. Por um longo período da nossa vida, todas as noites, meu pai rezava o terço conosco antes de dormirmos. Os efeitos são importantes, a religião tem uma função básica na vida do indivíduo, inclusive disciplina a sua própria vida. A formação cristã que recebi marcou minha vida e marca até hoje.

Com a volta da família á Piracicaba em qual escola o senhor passou a esstudar?

O quarto ano primário fiz no Sud Mennucci, prossegui os estudos até concluir o curso científico. Aos 15 anos comecei a trabalhar no Bradesco como contínuo, a agência era na Rua XV de Novembro, 831, entre a Rua Governador Pedro de Toledo e o abrigo de onibus situado atrás da catedral.

Pelo ECA, Estatuto da Criança e do Adolescente hoje o senhor não poderia trabalhar com essa idade.

Hoje não poderia trabalhar. Sem querer contrariar o ECA, fazer da forma que fiz, conciliar estudo e trabalho não vejo nenhuma dificuldade. São dadas responsabilidades ao adolescente em formação, não sei se posso generalizar, mas no meu caso trabalhar já nessa idade me transformou em outra pessoa a partir daquele momento. Terminei a faculdade trabalhando no Bradesco, paguei meus estudos com o salário que recebia do banco. Naquela época dizia-se que Economia era a carreira do futuro, fiz um curso muito bom na Unimep, com excelentes professores. Em 1973 me formei. No final do curso já prestei exame para fazer mestrado. No último ano de faculdade deixei o Bradesco e fui trabalhar na própria Unimep, no projeto de implantação do CPD- Centro de Processamento de Dados. Era um equipamento IBM, a linguagem de programação era RPG- Report Program Generator. O primeiro sistema implantado envolvia a tesouraria, eu fazia a integração entre a rotina manual e a mudança para o sistema informatizado.

O senhor ingressou na Fundação Getúlio Vargas em São Paulo?

No final do ano, me preparei, e fiz o exame para ingressar na GV em São Paulo, entrei classificado em quinto lugar. Fui fazer mestrado em Administração de Empresas. Tive professores como Eduardo Suplicy, Bresser Pereira, Yoshiaki Nakano, Claude Machline, Carlos Osmar Bertero. Isso foi em 1974, nós estávamos na crise do petróleo.

O senhor residia em que local?

Comecei morando com um amigo em uma quitinete onde quase não cabíamos nós dois, ficava no Bairro da Liberdade, saí de lá e fui morar em um apartamento emprestado por um ex-professor, onde permaneci por uns dois meses, na própria GV formamos um grupo e fomos morar em uma pensão, ficava em uma rua que sai da Praça 14 Bis, hoje está instalado lá o Recanto Goiano. A partir dessa pensão constituímos um grupo de amigos e montamos uma república, era em um apartamento com três dormitórios. Nessa república tinha um gaúcho, eu de paulista, um mineiro, um cearense, um alagoano e um paraense. Falávamos quase um dialeto, pois todos os sotaques regionais estavam presentes naquela república.

Como era a sua locomoção por São Paulo?

No início utilizava ônibus, tanto dentro da cidade como para vir visitar a família em Piracicaba. Três meses depois de estar cursando o mestrado fui convidado a dar aula de economia na denominada atualmente como Universidade Ibirapuera. Eu tinha bolsa no mestrado, era do Programa Nacional de Executivos, ao final do curso eu tinha que reembolsar o valor recebido. Quando comecei a lecionar consegui comprar um Fusca branco, na época havia financiamento em longo prazo. Em 1975 fui convidado para dar aula na Unimep. Na Unimep tínhamos um grupo de estudos, eu, Renato Maluf, Barjas Negri, Antonio Augusto Franco, o Periquito, e mais alguns colegas. Saíamos da escola as 23h e íamos estudar. Reuníamos na casa do Renato Maluf. Permanecíamos estudando até a 1 ou 2 horas da manhã. Aos sábados, nos fins de semanas, também estudávamos. Todos nós fizemos mestrado. Fiquei dando aulas em São Paulo, na Unimep e estudando. Em 1976 entrei para o corpo docente da GV.

O senhor tinha algum apelido?

O meu apelido surgiu no ginásio, até hoje meus colegas de ginásio usam meu apelido, “Jaba”, quem me deu esse apelido foi o professor José Salles, com o tempo passou a ser “Jabinha”. Durante uma aula, o professor José Salles com o intuito de motivar as aulas procurava usar seu bom humor, um dia disse em sala de aula, que em árabe Jaba significa Gabriel.

O senhor praticava algum esporte?

Até começar a ter essa vida corrida eu jogava futebol, era centro-avante. Aos 15 anos, antes de começar a trabalhar cheguei a passar pelo juvenil do XV de Piracicaba, na época o Alfinha, João Carlos Clemente, também jogava ambos éramos os mais novos, a idade média do juvenil era 17 anos. Joguei em diversos times do Bairro Alto, era convidado a compor times, não jogava em um determinado time apenas. Joguei no Regente, que era o time do Barjas. Atualmente em função dos compromissos apenas pratico caminhadas. Como hobby eu tenho a leitura. A minha vida sempre foi composta por Três períodos: de manhã, á tarde e á noite. Quando não também fins de semana.

O senhor é casado?

Sou, com Selma Aguiar, nos conhecemos em um carnaval no Clube Cristóvão Colombo, eu gostava muito de carnaval, sai desfilando na Equipelanka, na Caxangá. Na época a Selma era bancária, atualmente ela está concluindo o curso de enfermagem. Temos dois filhos: Guilherme e Gustavo.

Quando o senhor passou a integrar a administração municipal?

Em 1978 fui convidado a participar na montagem do banco de dados da prefeitura municipal. O Barjas tinha começado, eu continuei esse trabalho, passei a fazer a pesquisa de preços, eu era o Gerente do Programa de Abastecimento da cidade, foi o período em que começamos a estudar a comercialização de hortifrutigranjeiros na cidade. O primeiro varejão da cidade foi uma iniciativa da minha administração, praticamente invadimos uma área central remanescente da Estrada de Ferro Sorocabana, era um terreno abandonado, que favorecia todo tipo de contravenção. Assim criei o primeiro varejão da cidade. Deu tão certo que em seguida foi criado um programa de criação de varejões.
O senhor é um dos pré-candidatos a prefeito municipal?
O prefeito Barjas Negri formulou uma lista de nomes possíveis de sucedê-lo na administração municipal, e o meu nome consta dessa lista, ocorreu um processo natural que acabou convergindo para dois nomes.

Na visão do senhor quais são as necessidades mais urgentes de Piracicaba?

Em 1995 e 1996 já fui secretário de Planejamento da cidade, o principal problema de qualquer gestão pública no Brasil é social. Temos que enfrentar os problemas sociais. A desigualdade social no Brasil é muito alta. O país é rico no seu PIB, que é mal distribuído. É um dos países de maior concentração de renda do mundo, portanto a maior desigualdade de renda do mundo. As demandas e necessidades da população são muito grandes. Isso bate na saúde porque as pessoas dependem do SUS, bate na educação, convivo com isso diariamente, porque depende da vaga na creche. Bate na segurança, embora os problemas com segurança sejam decorrentes apenas da desigualdade social. O jovem sem perspectiva por conta da desigualdade social vê no negócio da droga um ganho relativamente fácil. Isso bate no problema da segurança.
Educar um filho requer muito esforço dos pais, por diversos fatores, está ocorrendo uma “terceirização” do que deveria ser feito pelos pais?
Na escola tentamos dar a educação formal, a escolarização, obviamente que entramos nos temas éticos, morais e sociais. Só que se a família não faz a sua parte acaba estourando tudo na escola. Sempre afirmo que nós estamos fazendo a nossa parte, cabe as famílias se preocuparem com a formação ética e moral, deveria ser de casa e não na escola. Não cabe a escola dar formação religiosa, moral, ética nem comportamental. São valores trazidos de casa. Só que isso se interpenetrou de tal forma que a escola acabou ficando responsável até por essa formação que deveria ser familiar. Isso trás problemas para a escola, e os pais infelizmente participam muito pouco da escola, são chamados a participarem, mas eles não vão. Apenas uma minoria vai. Com isso a escola acaba sendo o estuário de uma série de problemas.

Com toda a experiência de vida e conhecimento que o senhor carrega o senhor acredita que estamos em meio a um furacão, a humanidade está passando por mais um período de mudanças, assim como ocorreu na Idade Média, na Revolução Industrial?

Tem gente que é otimista, eu ando preocupado. É claro que se você pegar a história do mundo, a Europa que era a menina dos nossos olhos, são países que se desenvolveram e tem um equilíbrio social, são países muito dignos, as pessoas têm dignidade nesses países. A Europa para mim sempre foi um exemplo, não vejo a coisa americana como modelo, pelo seu individualismo. E de repente deu-se essa crise, por um elemento muito curioso. Onde está o fundo dessa crise? Essa crise tem sua origem pelo consumo! Consumo exacerbado, além das possibilidades! A Europa não era assim. Quando estive realizando um curso na Inglaterra um dos debates mais interessantes que ouvi foi de jornalistas analisando as mudanças de hábitos de consumo ocorridos na Inglaterra. Eu via isso nas ruas de York, cidade de uns 200 mil habitantes, onde morei, no nordeste da Inglaterra. Eu via o consumo explodindo, as pessoas saiam às compras, as lojas ficavam lotadas, o comércio trabalhava sábado e domingo o dia todo. A Inglaterra não era assim, passou a ser no chamado período de globalização, dos anos 80 em diante.
A mídia é a grande vilã?
Não. É o processo econômico do capitalismo. Capitalismo é isso: acumulação e consumo. Com o processo de globalização, em que há certa padronização do consumo, por exemplo, as marcas famosas estão no mundo inteiro. Antes não era assim. Onde você for verá as mesmas roupas, as mesmas lojas, é o mesmo tudo. Isso no mundo inteiro, não era assim antes. Houve a padronização do consumo, e obviamente o marketing do consumo. Isso acabou atingindo os países europeus que eram menos consumistas, e criou uma geração, principalmente a geração mais jovem, consumista. Os mais velhos desses países não são tão consumistas como os jovens o são. Criou-se uma geração de 20 a 30 anos, consumista.

A administração de uma empresa privada é diferente da administração pública?

É bem diferente. Por vários motivos, um deles é a flexibilidade da empresa privada diante do poder da coisa pública. A coisa pública é extremamente complexa por ser obrigada a seguir rigorosamente as legislações. Há um quadro de funcionários que não pode ser alterado e nem criar motivação, a motivação no funcionalismo público é muito mais difícil de ser criada do que no setor privado. Criar salário variável no setor público é muito complicado de ser feito. No setor privado é baseado nos resultados da empresa. Baseado em que isso pode ser feito no setor público? Vem a questão incorpora ou não incorpora ao salário? O que conseguimos fazer com os professores até agora, foi criar o incentivo para a freqüência. Nos últimos três anos demos mais de 70% de aumento de salário aqui.

Todo crescimento de uma cidade trás ônus e benefícios, é possível equilibrar essas variáveis?

A vantagem do crescimento econômico reflete no mercado de trabalho. A única forma de ter emprego para os jovens que estão entrando no mercado de trabalho é o crescimento econômico. Não existe alternativa. A Espanha está com 50% dos jovens sem emprego. Não há como afirmar ser contra o crescimento, a não ser no dia em que a população jovem se estabilizar. O crescimento econômico não pode ser a qualquer custo, tem que ser acompanhado de políticas públicas que dêem o que modernamente é chamada de sustentabilidade a esse crescimento. O crescimento não pode prejudicar o meio ambiente, tem que ter suporte a esse crescimento na área social, cultural. Isso tem que ser feito com equilíbrio, o problema do Brasil é que ele desequilibrou.
A vinda de empresas de grande porte, como está ocorrendo, trazendo pessoas com hábitos e culturas de outros países podem impactar negativamente?

Acho que é positivo para a cidade. A combinação de culturas é uma coisa positiva. A indústria moderna traz um mercado de trabalho melhor do que outros setores. A mão de obra é qualificada e com melhor remuneração. O fato de trabalhar no chão de fábrica não implica que seja mal remunerado. Tudo que ocorre no comércio e nos serviços tem a ver com isso. Você acha que existe serviço que de alguma maneira não esteja vinculado à indústria ou a agricultura? A indústria produz mercadorias, o serviço vem em conseqüência das mercadorias. Do bem tangível.

O mercado imobiliário não só de Piracicaba, assim como das cidades em seu entorno passaram por valorizações significativas desde que houve o anuncio da vinda de novas indústrias.

Há demanda e há especulação. O especulador nesse momento quer se aproveitar. Esse tipo de desequilíbrio existe no primeiro momento, depois acomoda.

No regime democrático como o senhor vê a relação entre o poder legislativo e executivo?

A oposição sempre terá o ponto de vista dela. Quem circula mais entre as pessoas? Não é o executivo, é o legislativo. Os vereadores que circulam pela cidade, sabem dos problemas, eles vêm com a demanda. Nesse caso ele ajuda o executivo.

A legislação engessa o poder executivo?

A legislação em geral no Brasil ela engessa. Encontramos inúmeras dificuldades para que as coisas aconteçam. Muitas vezes o problema existe, mas demoram-se meses para solucionar, tem que haver um projeto, concorrências, tudo de acordo com as leis, é uma herança colonial.

Piracicaba tem uma vocação turística?

Nós fomos brindados com esse rio maravilhoso. Poucas cidades têm o espaço maravilhoso que Piracicaba tem. O governo Barjas está fazendo o máximo, está mexendo em toda a orla e mais o Projeto Beira Rio.

Há uma demanda reprimida de hotéis em Piracicaba, como isso pode ser solucionado?

Não pode ser uma iniciativa do setor público, tem que ser uma parceria privada. Qualquer evento realizado na cidade não há como as pessoas se instalarem.

Quantas escolas municipais foram construídas em Piracicaba?

O Governo Barjas fez 41 escolas infantis e 28 de ensino fundamental, abrigando mais de 30.000 crianças. O Estado tem um bom programa de alfabetização que é o Ler e Escrever, logo que entrei aqui descobri que havia esse programa e submeti a e proposta a equipe, eles concordaram e desde 2010 implantamos. Cada criança trabalha com 40 leituras por ano. É um programa bom, estamos no terceiro ano de implantação. Na realidade o que funciona é o trabalho do professor, o material ajuda, o trabalho do professor em sala de aula é que determina o que irá acontecer. Sabendo trabalhar o material ele irá fazer a boa formação da criança. Não acredito muito em coisas salvadoras, existe o trabalho, o compromisso do professor. É isto que faz a educação!

Porque o professor diz que ganha mal?

Ganha mal mesmo, no Brasil inteiro. É um crime contra a Nação. Em Piracicaba o prefeito tinha clareza sobre isso, quando assumi tinha clareza, sabíamos que tínhamos que mexer nisso. E começamos a mexer, em 3 anos houve um amento de mais de 70% nominal, mas que deu um salto importante.






terça-feira, maio 15, 2012

JOSÉ VOLPATO

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
Sábado 12 de maio de 2012
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
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ENTREVISTADO: JOSÉ VOLPATO

José Volpato é um ser humano com características próprias e marcantes. De estatura média, poucos imaginam a capacidade desenvolvida por ele em suas décadas de vida. Muito bem informado, usa até internet como ferramenta de trabalho. É um dos mais raros exemplos remanescentes da fidelidade profissional muito comum no passado recente. Conhece seu trabalho em cada detalhe, objetivo, administra com o rigor necessário um empreendimento que há mais de um século tem presença marcante no mercado de gás carbônico e álcool de fino teor. A entrada da fazenda é um verdadeiro cartão postal, tudo feito com material obtido na propriedade, impressiona pela ordem das coisas. Parece uma imensa pintura realizada pela natureza. Enganam-se quem achar que José Volpato é condescendente com o que considera errado ou fora de lugar. Nessas horas brota a energia dos obstinados, que trabalham com amor ao que fazem uma qualidade se não em extinção, muito raras em nosso país. José Volpato é nascido a 10 de maio de 1935 no bairro rural de Paraisolândia, hoje pertencente ao Município de Charqueada, sua mãe é Ana Fernandes Volpato de prendas domésticas e seu pai Emílio Volpato que exercia o ofício de sapateiro e seleiro. Em 1952 a família mudou-se para a Vila Nova, uma vilinha pertencente Fazenda Capuava. A usina cedeu uma casa para morarem em decorrência de José Volpato vir trabalhar na usina. Rufino da Silva foi seu professor do segundo ao quarto ano primário.
Ao sair de Paraísolândia para onde o senhor se dirigiu?
Fui trabalhar no Laticínios Piracicaba Ltda., o gerente era Natalino Cabrini pai do famoso jornalista Roberto Cabrini, trabalhei na parte administrativa, permaneci por um ano e meio mais ou menos. Nessa época eu ficava em uma pensão, situava-se praticamente em frente ao Latícinios Piracicaba, na Rua XV de Novembro. A proprietária era a Dona Tereza

A que horas o senhor iniciava o seu trabalho no Laticínios?

Sempre tive o senso de que o horário é prioritário. Se eu tinha que entrar às oito horas da manhã entrava antes, por volta de sete e meia. Nunca cheguei um minuto atrasado no serviço, isso em toda a minha vida. Normalmente eu saía do trabalho no Latícínios Piracicaba às 17h. Sempre gostei de ler, ia para casa e procurava estudar coisas novas. Às vezes ia até o centro, quadrar o jardim.

Capuava era a denominação de uma fazenda?

Era uma fazenda de café, ao que consta tinha também lavoura de cana, tendo produzido açúcar inclusive. Um dos sócios foi para Barra Bonita, permaneceu na Fazenda Capuava a produção de aguardente e gás carbônico.

Como o senhor veio para a Fazenda Capuava?

A proprietária era a Sra. Sophia Rehder Matthiessen, falei com o gerente, o Sr. Leif Rene F. Schumacher, descendente de dinamarquês, me entrevistaram, acharam que eu tinha competência para trabalhar com eles, fui registrado em 2 de maio de 1952. Entrei como auxiliar de escritório. A Capuava fabricava gás carbônico extraído da fermentação da cana de açúcar, já tinha uma clientela razoável, fornecíamos até para outros estados, como Paraná, Mato Grosso.
Como era produzido o gás carbônico?
Na época era obtido da fermentação da cana de açúcar. As dornas fermentavam o caldo da cana de açúcar, depreendendo o gás carbônico que ia para a purificação através das colunas.

Para que era utilizado o gás carbônico?

Na época era muito utilizado para a gaseificação de refrigerantes, atualmente tem mais aplicações, como no uso de soldas Mig. O gás é transportado em cilindros de aço. É feito um teste hidrostático nesse cilindro a cada cinco anos, atualmente o Brasil fabrica esse tipo de cilindro, mas por muitos anos tivemos cilindros importados da Alemanha.

Após seu ingresso na empresa como auxiliar de escritório como foi o seu desenvolvimento profissional?

Passei por várias fases, na medida em que tinha tempo gostava de aprender outras coisas, sempre fui curioso. Trabalhei um pouco com o departamento pessoal, um pouco na parte de fabricação, na distilaria eu frequentava o laboratório.

A Capuava Indústria e Comércio Limitada foi fundada quando?

Quando eu entrei aqui chamava-se T. Svendsen Matthiessen, em 1950 foi transformada em Usina Capuava S/A, atualmente temos aproximadamente 700 hectares de área de plantio, e em torno de 6.000 metros quadrados de área fabril. Existe uma outra área de plantio, prpriedade do principal acionista, qua as vezes fornece cana de açucar para a nossa unidade. Segundo consta Tage Flohr Svendsen, genro de Dona Sophia, passou a produzir alcool extra fino que era comercializado a granel. Ele produziu também açucar cristal. O senhor Tage era uma pessoa muito qualificada tecnicamente. Aqui foi a primera fábrica de fermento, o famoso fermento Fleischmann nasceu aqui, a formulação foi trazida da Alemanha ou Estados Unidos, isso não sei afirmar, mas a produção passou a ser aqui. Em função da cana de açucar.

O que é alcool extra fino?

É um alcool próprio para bebidas, bebidas finas, é utilizado inclusive na fabricação de perfumes. Temos alcool com teor alcoolico 96 G/L. (96% do volume total é de álcool e 4% é de água. G/L é uma homenagem ao cientista Gay-Lussac). A Capuava atualmente vende cachaça a granel, temos clientes que adquirem nosso produto há muitos anos. Diversos nomes famosos no mercado nacional são nossos clientes.
Qual é a carga de impostos sobre a cachaça?
A carga tributária sobre a cachaça atinge 81%, o que onera muito o produto.

O senhor é casado?
Sou casado com Jandira Aparecida Marchesin Volpato, nos conhecemos em festas populares de igreja.
O senhor é católico?

Sou, temos a Paróquia de Santa Rosa de Lima. Freqüentamos muito a Capela do Bairro Vila Nova. Uma vez por mês o Padre Vitório da Paróquia de Santa Rosa vem dar atendimento á nós. Aos domingos temos as celebrações que são feitas com as ministras.

Como o senhor vê a aplicação do álcool como combustível?

Considero importante tanto pra o setor industrial como para o consumidor. Os encargos são pesadíssimos, encarecem o produto.

Houve uma mudança de postura do funcionário da época em que o senhor entrou na empresa?

Houve uma grande mudança. Acho que o pessoal tinha mais amor, responsabilidade pelo serviço. Executava o trabalho com o prestígio de fazer a coisa bem feita. Hoje há diversos fatores influenciando negativamente na postura do funcionário.

O senhor chegou a presenciar alguma vez o campeonato de corte de cana?

Conheci cortador de cana muito bom. Aqui mesmo o Jorjão era um deles, naquele tempo cortava-se a cana e amarrava-se o feixe. Hoje há horário determinado para tudo. Naquele tempo se tivesse a luz da lua às seis horas da manhã o trabalhador já tinha varado um eito. Trabalhava-se por empreitada, o trabalhador dava o máximo de si. Enquanto enxergava ele estava trabalhando.

A empresa chegou a ter funcionários menores de idade?

Há muito tempo a Capuava tinha famílias que trabalhavam por empreitada. A própria família conduzia a lavoura, a família cuidava de um determinado número de quartéis de cana. Chegamos a ter umas 10 famílias trabalhando nesse sistema, a maior parte formada por descendentes de italianos. As crianças iam para a escola, quando voltavam iam ajudar.

A proibição do trabalho feito pelo menor de idade é um incentivo ao ócio?

Exatamente, já vimos isso acontecer. Por serem proibidos de trabalhar em função da idade muitos adolescentes ficavam jogado futebol, ou mesmo sem ter o que fazer. Em uma safra contratamos um rapaz que já tinha a idade permitida para trabalhar. Ele trabalhou não mais do que 15 dias, possivelmente viu os colegas que permaneciam jogando bola e juntou-se a eles.

Houve alguns períodos de racionamento de alimentos básicos como óleo comestível, açúcar, o senhor passou por algum tipo de racionamento?

Teve um período em que houve racionamento de sal. Isso quando morávamos em Paraisolândia. Não tinha sal na época, eu era criança ainda e me lembro desse fato.

O senhor tem filhos?

Tenho cinco filhos, todos casados, aos domingos nos reunimos.

Quais são as maiores dificuldades que o senhor encontra hoje para administrar uma empresa?

Alguns fatores surgem como obstáculos, a mão de obra, os pesadíssimos tributos, hoje estava vendo na internet as modificações diminuindo algumas tributações, mas lamentavelmente não fomos contemplados com tributos menores. Várias empresas tiveram facilitações no recolhimento de INSS e outros tributos, mas nós infelizmente não fomos atingidos nisso não.

Com o afluxo de muitos visitantes de outros países em função da copa de futebol, é uma oportunidade para divulgar um produto de alta qualidade como é produzido pela Capuava?

Recebemos várias consultas de interessados em exportar nosso produto.

Grandes engarrafadores de cachaça conseguem manter a mesma qualidade sempre?

Esses grandes engarrafadores recebem a cachaça de diversos produtores, conseqüentemente eles fazem um blend para padronizar a cachaça a 39, 40 GL. Após essa padronização ela é engarrafada.

Qual é o teor alcoólico da cachaça comercializada no mercado?

A nossa deve estar com 39 G/L. Normalmente é de 39 a 40 G/L. Até 54 G/L é cachaça, acima disso é álcool. A cachaça é um álcool mais fraco. Utilizando a coluna de destilação apropriada temos aqui álcool com 95 G/L.

Se adicionar água destilada a um álcool 95 G/L é possível obter cachaça?

É possível, só que sem a qualidade da cachaça destilada de forma a ser obtida naturalmente.

A Capuava fornecia para empresas tradicionais de Piracicaba?

Fornecíamos para a Tatuzinho, Cavalinho, Del Nero, Caninha Ouro Verde de Vicente Orlando, Miori.

O senhor conheceu a Fábrica de Bebidas Andrade?

Fornecíamos gás carbônico para os refrigerantes, entre eles a tradicional Cotubaina. Um dia eu estava lá, quando aconteceu um fato pitoresco. Apareceu um garoto com a caixa de engraxar sapatos na costa. O encarregado era o senhor Silvio. O menino pediu um refrigerante. Ele trouxe um quartinho de litro e deu para o menino. O engraxate reclamou dizendo: “Mas só isso?” Indignado, o Silvio trouxe uma garrafa grande e disse-lhe: “Quero ver você beber tudo!”. O engraxate colocou a caixa no chão sentou-se e ingeriu o refrigerante, fazendo intervalos, até esgotar a garrafa. Foi um fato que guardei em minha memória.

Naquele tempo era muito comum crianças lavarem os vasilhames, entravam em um tanque de água e retiravam os rótulos.

A mão de obra do menor era muito utilizada.

Atualmente como está a qualidade da cana de açúcar?

Estão sendo cultivadas canas que são propicias para a colheita mecanizada. São variedades que não são deitadas pelo vento e mantém um padrão de altura para facilitar o trabalho.

O senhor lembra-se quando no fundo da caldeira formava-se um resíduo muito duro?

As cinzas e a garapa petrificavam, semanalmente tinha que limpar a caldeira, para retirar aquilo não era fácil, em pedaços eram utilizados para decorar fachadas de casas.

Assim como se aproveita praticamente tudo da vaca, a cana torna-se totalmente aproveitável?

De certa forma sim, o bagaço da cana alimenta a caldeira, da garapa se extrai o álcool ou a cachaça, a vinhaça ou restilo é aproveitada na adubação. Quando eu era criança e morava em Paraisolandia montou-se a Usina São Francisco, tínhamos um ribeirão que passava no sítio, o restilo despejado no ribeirão acabou com os peixes, ficava uma “plasta” em cima do ribeirão, quase que dava para passar andando em cima da água.

O senhor pulveriza a cana com avião?

Não. Algumas usinas usam esse processo principalmente para antecipar a safra. Houve um ano em que ao que consta o próprio governo solicitou a antecipação da safra para atender a demanda do álcool.

O senhor acredita que muitas leis de proteção à natureza foram feitas apenas sobre mesas de trabalho, sem uma pesquisa mais profunda?

Nós enfrentamos um problema sério com o crescimento desordenado de capivaras. Tivemos que investir boa soma de recursos para tentar delimitar com cerca a área de plantio, elas devoram a metade de um talião de cana. O Rio Guamium passa dentro da propriedade e forma uma represa grande.

O senhor se sente uma pessoa realizada em seu trabalho?

Nada melhor do que fazer o que gosta com dedicação. Embora cansado, ainda aprecio o que eu faço.

O senhor não transmite a sensação de alguém que irá colocar um par de chinelos e ficar assistindo televisão o resto da vida.

Espero que não! Chego aqui 6h45 vou embora às 19h, 20h, e às vezes levo serviço para casa.

A doença da moda é a depressão, no seu conceito pode ser falta de serviço?

Eu acho que sim! Trabalhando você não coloca minhoca na cabeça.








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