sexta-feira, setembro 21, 2012

ARI JONES

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
Sábado 22 desetembro de 2012
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/


ENTREVISTADO: ARI JONES


Ariovaldo Flávio Dilio e Ari Jones são nomes distintos da mesma pessoa. Ariovaldo é pouco conhecido enquanto Ari Jones faz sucesso nos meios de comunicação, principalmente no rádio piracicabano.


Como surgiu o nome Ari Jones?


Surgiu na época em que o filme Indiana Jones estava sendo lançado. Um tanto quanto arteiro eu usava um boné e um colete muito utilizado por fotógrafos. Um grande amigo deu-me essa denominação, ele achava que para ingressar no rádio eu deveria ter um nome artístico. Assim surgiu Ari como abreviatura de Ariovaldo, e Jones em função do chapéu e do colete. Na ocasião achei meio esquisito, esdrúxulo, mas acabei aceitando e permanece por 25 anos.


Você nasceu onde?


Nasci em Piracicaba, na Santa Casa de Misericórdia, no dia 22 de julho de 1963. Sou filho de Plínio Dilio, falecido, e de Aparecida da Conceição Cerignoni Dilio. Hoje com 75 anos. Sou primo em segundo grau de Francisco (Pirata) Cerignoni.


Seus primeiros estudos foram feito em que escola?


O primeiro e segundo ano, estudei no SESI, que funcionava no Colégio Dom Bosco Assunção. Estudei no Grupo Escolar Alfredo Cardoso, no Sud Mennucci na Escola Estadual Antonio Pinto de Almeida Ferraz (APAF). Aos 18 nos de idade me casei com Tania Regina Tomazella tivemos dois filhos Flávia, que infelizmente faleceu, e Felipe.. Mais tarde casei-me em segundas nupcias com Andrea Sassi, tivemos o noso filho Enrico. Hoje sou casado com a arquiteta Silvana Bordenale, mãe de Bruna e Victória.


Qual foi seu primeiro emprego?


Fui auxiliar de eletricista e ajundante geral em uma empresa de um amigo, Celso Bigelli, Em 1976 quando meu pai faleceu eu tinha de 11 para 12 amos. Eu trabalhava drante o dia e estudava a noite. Tenho os irmãos Adilson e o Rogério. Nasci na Rua São Francisco de Assis mudei para o bairro Nova América onde permaneço até hoje. Após permnecer pouco mais do que um ano trabalhando com o Bigelli fui trabalhar na fábrica de balas Atlante.de propriedade de Hermínio Petrin Júnior, de Paulo Cesar Petrin, da família Petrin. Essa indústria existe até hoje só que ela produz pastilhas para a garganta.


Você entrou para a fábrica de balas com uns quatorze anos?


Eu tinha 13 para 14 anos, a legislação permitia que o menor nessa idade trabalhasse. Logo que entrei o que mastiguei de chicletes e balas foi uma coisa de louco. Tive a grande satisfação de saber como eram feitas, é um processo muito interessante. Hoje junto com os amigos que trabalharam conosco temos o prazer em saber que adoçamos a vida de muitas pessoas. A fábrica ficava na Rua Dona Rosália. Permaneci nessa fábrica por uns uatroa anos


Após a fábrica de balas qual foi sua próxima atividade?


Fui ser vigilante bancário, permaneci quase dois anos como viglante bancário, no antigo Banco Sudameirs, localzado na esquina da Rua Moraes Barros esquina coma Praça da Catedral.


Você passa a imagem de uma pessoa extremamente ativa, sendo que o vigilante bancário tem uma função mais de observação e permaneçe em seu posto por várias horas. Como foi dessempenhar essa função?


Acho que as coisas acontecem por obra de Deus. Acredito que nada nessa vida é por acaso. Por indicação de uma pessoa fui trabalhar no banco. Na época o Banco Sudameris precisava de um contínuo. Me candidatei ao cargo, fiz uma prova, uns testes, fui aprovado, 15 dias depois passava de vigilante bancário para contínuo do banco. De 1983 a 1986 passei por todos os setores do banco. De contínuo a quase sub-gerente. Era o tesoureiro do banco e o caxa responsável pela movimentação da agência. Nessas coincidencias da vida passei a ter uma amizade muito estreita com Hide Maluf Júnior. Insistentemente me convidava para trabalhar com ele na sua empresa Maluf Comercial. Saí do Banco Sudameris e fui trabalhar com ele, na época a empresa funcionava na Rua Cristiano Cleophat, posteriormente mudou-se para a Avenida 31 de Março. Permaneci lá por alguns anos. Tanto no período em que trabalhei no Sudameris como no que trabalhei na empresa Maluf Comercial, eu já fazia rádio.


Como o rádio passou a fazer parte da sua vida?


Tudo começou com o Roberto Moraes em 1985 para 1986. Ele fazia reportagem de campo eu jogava no campeonato amador, como lateral esquerdo pelo Santos do Bairro Nova América. Nessa amizade toda com o Roberto, dando entrevistas em campeonato, um dia ele me perguntou se eu não queria tentar uma carreira no rádio. Disse-lhe: “- Roberto, não tenho o mínimo talento para isso”. O meu sonho era ser médico, em decorrência dos eventos ocorridos, como o falecimento do meu pai, tudo mudou. Como disse-lhe, acredito que nada acontece por acaso. O Roberto me fez essa oferta, quando a Rádio Difusora de Piracicaba tinha o seu departamento de jornalismo no sub-solo, eu fui para conhecer. De imediato ele me deu uma caneta e algumas folhas de sulfite e pediu que eu fosse até a Delegacia de Polícia tirar os boletins de ocorrências na mão. Eu trouxe um texto enorme para ele. Ele deu risada, até colheu algumas notícias. Por uns dois ou três meses permaneci fazendo isso. Roberto de Moraes era apenas radialista, ainda não tinha nenhuma participação política. O Roberto deu-me como tarefa escrever á maquina as noticias, eu “catava milho”. Fui fazer um curso de datilografia. Quando eu estava pegando a noção ele disse-me: “Agora você vai começar a gravar as notícias”. Achei que não era para mim, voltei a trabalhar em outra atividade. Nesse interim, o Luciano Júnior foi convidaddo para ser o diretor da rádio, ele me convidou para trabalhar com ele para vendas. Pelos contatos que eu tinha quando trabalhava com a Maluf Comercial, tinha os compradores de cimento, que eram as grandes lojas da cidade. Angariei uns cinco ou seis contratos para, na época ele ficou deslumbrado. Foi quando ele me convidou, me deu um programa de domingo. Chamava-se “Domingo Máximo”.Era só aos domingos, das 9:00 às 10:00 horas, depois passei das 10:00 às 12:00 horas. Ficou no ar por muito tempo esse programa “Domingo Máximo”. O formato era conversar com o ouvinte, colocar musicas no ar. Eu não me via como radialista, me via mais como vendedor. A coisa foi ganhando rumo, fui ganhando experiência, o Luciano foi me dando uns toques. Fui me aprimorando e comecei a pegar gosto pela coisa. A hora que eu vi já estava envolvido. Isso foi em 1987. A venda do cimento deu uma queda. De setembro de 1987 comecei a fincar o pé no rádio onde estou até hoje. Fiquei dois ou três anos na Rádio Alvorada, tenho eterna gratidão ao Roberto de Moraes, Luciano Júnior, Titio Luiz, que sempre me deram uma força. Antonio Sérgio Piton foi quem me incentivou de forma decisiva para que eu permanecesse no rádio. Piton ´um grande radialista, uma dos maiores narradores de futebol reside em Rio Claro. Em 1988 ou 1989 ele tinha uma rádio no Acre, denominada Rádio Alvorada do Acre. Ele veio pasar uma temporada em Rio Claro e ouvindo a Rádio Alvorada aqui, gostou da minha voz, falou com o Luciano Júnior, em uma semana eu estava em Rio Branco, no Acre. Fui para lá no finalzinho de 1989, comecei o pograma no rádio em fevereiro ou março de 1990 permanecendo até outubro de 1992 quando vim passar férias em Piracicaba. Minha passsagem de volta para Rio Branco estava marcada para dia 6 de novembro de 1992, no dia 5 minha filha faleceu. Mandei um telegrama para o Piton que ficou desolado, eu tinha a maior audiência do Acre. Era um programa tipo “pastelão”, brincando, conversando com o ouvinte, mais ou menos o que faço aqui hoje, só que com 4 horas de programa. Começava as 7:30 e terminava as 11:30.


Essas brincadeiras que você faz não ultrapassam nenhum limite?


Sempre mantenho uma linha. As vezes acho que exagero um pouco, acaba saindo uma palavrinha de duplo sentido sem ofender ningém. Eu acho qua a minha missão no rádio é transmitir alegria e fazer novas amizades. Tanto que tenho meu bordão: “Meus amores no rádio”. Acho que temos uma grande responsabilidade em transmitir a alegria para quem está do outro lado, levar a emoção, uma palavra amiga. Ser realmente o companheiro de todos os dias que a pessoa precisa. Percebo que aqui na rádio além de rádio, tenho um consultório sentimental. Muitas pessoas me ligam para desabafar, contar uma história, falar das dificuldades, fazer um pedido. São homens, mulheres, avós.


Voce já passou algum tipo de “saia justa” no rádio?


Tive pessoas depressivas, que diziam ter vontade de largar tudo e sumir pelo mundo afora. De vez em quando o que denominamos de “pingaiada” ligam dizendo: “ Tamo te ouvindo aqui, manda aquele abraço!”Mas não passa disso.


E as eternas apaixonadas pela “voz de travesseiro” do locutor?


Tem bastante! Guardo em minha casa, desde o tempo da Rádio Alvorada, cartas em que a pessoa vai colando folhas sulfites uma na outra, deve dar uns 100 metros de comprimento. Dizendo: “ Eu te amo, você é o meu melhor amigo!” “Você é o radialista que eu sempre sonhei”.


Isso não desperta ciumes doméstico?


É natural uma ponta de ciúmes. O Ari do rádio é uma coisa, o Ari fora do rádio é outra. O Ari do rádio é extrovertido, alegre, vibrante, dinâmico. O Ari fora do rádio é um ser que tem problemas, dores, muito tímido. As pessoas não acreditam, mas sou tímido.


Você fala em público, enfrenta uma platéia?


Se for necessário sim. Se tiver um microfone falo com facilidade. Sem microfne eu fico meio travado. Se eu sentir que estou tendo plena liberdade, falo com tranquilidade. As pessoas que não me conhecem fora do rádio dizem: “ Nossa Ari! Você é uma pessoa muito séria! Sisudo, não sorri.” É a minha timidez que me deixa assim. Depois que a pessoa vai ganhando a minha amizade, vai me conhecendo, ela diz que não tem nada a ver com a primeira impressão que passei. Tenho um grande amigo que esses dias me disse que tinha que me pedir desculpas. Estranhei. Então ele me disse: “- Eu achava você tão pedante, de nariz empinado. Eu tinha raiva de você.!. Com isso ele me deixou emocionado. Ele então me disse: “ Você é um cara sensacional! Gosto demais de você!”.


Atualmente você atua como profissional em quais veículos de comunicação?


Hoje tenho três programas aqui na Rádio Difusora: “Manhã Total”, “Jornalismo Verdade” onde a apresentação é minha, do Gersom Mendes ,Luiz Antonio, do Vladimir Catarino e os repórteres de rua Vanderlei Albuquerque e Haroldo Faria. Aos sábados na Radio Difusora FM tenho o programa SindFlash apresentado por mim e pelo Hugo.Liva. Tenho a minha produtora de televisão, onde produzo programas independentes, filmes independentes. Aos domingos tenho o programa “ Ponto de Vista Regional”, que é exibido aos domingos pela TV Opinião. E assessoro na medida do possível a parte política, me especilizei em marketing político. Fui aluno de Adolpho Queiroz no marketing político. E Limeira estudei Rádio e Televisão, Jornalismo fiz no Senac em Limeira.


Qual é a sua visão sobre o rádio atualmente?


O profissional de rádio está em extinção. Vemos pouquíssimos radialistas dedicados.


Você sobrevive trabalhando só em rádio?


Fica difícil! Sobrevivo de rádio e TV,


A maior dificuldade de quem trabalha em rádio é o aspecto comercial?


O rádio do interior não se aperfeiçoou como o rádio das grandes capitais. O rádio das grandes metrópoles tem um departamento comercial. O radialista não se preocupa em vender a publicidade. O interior não acompanhou essa evolução. Convivo o cotidiano com a diretoria da Rádio Difusora, busco incansavelmente vendedores para o núcleo do departamento de vendas. Nãos se acha vendedores! Não existe! Alguns permanecem por uma semana, quinze dias no máximo e vão embora. Cada cliente tem a sua necessidade, eu adequo a necessidade do cliente ao meu texto. Faço o texto que acredito que o cliente irá gostar. Para cada cliente tenho uma música, como se fosse um jingle. Quando aquela música é tocada a pessoa associa ao produto do anunciante. Com isso tenho clientes de quinze anos.


Há certos clientes que criam a espectativa de realizarem uma propaganda e obterem resultados imediatos. Qual sua visão a respeito?


Isso não existe, não somos mágicos! O cliente tem que ver propaganda como investimento e não como despesa. O nome da empresa tem que ser lembrado. Ser ouvido. A partir daí é um trabalho de formiguinha. Eu não posso garantir que em três meses ele venda uma enormidade de produtos, que é o seu desejo. Se publicidade não fosse bom as grandes empresas não investiriam de forma maciça nela. O primeiro ponto é conscientizar meu cliente de que ele precisa colocar seu nome em evidência. O segundo ponto é fazer com que meu ouvinte acredite que aquele produto irá ser satisfatório para ele.


Você algum dia se viu obrigado a fazer propaganda de um produto de qualidades duvidosas?


Não faço isso! Eu só anuncio produto em que acredito! Se eu não acreditar no produto, não anúncio. Preciso conhecer, ver sua aplicação ou benefício para estar consciente dos benefícios e anunciar.


Você recebe visitas no estúdio?


Tenho! Tem pessoas que vem tirar fotografia comigo.


Há aquelas pessoas que realizam visitas constantes, muitas vezes permanecendo o programa todo sentado ao seu lado?


Eu filtro para não atrapalhar o andamento. Quando você etá fazendo rádio tem que dar atenção àquilo que está fazendo. Consequentemente você não consegue dar atenção a pessoa que está ao seu lado. Já tive isso, é o sangue-suga, e ele quer que você fale o nome dele no ar.


O que é sucesso para você?


Sucesso é me manter no dia a dia e sustentar a família!


Quantos anos de rádio você irá completar neste mês?


No dia 22 de setembro estarei completando 25 anos de rádio.


Você faz televisão em que dias e horários?


Apresento na televisão aberta, Canal 40 UHF, aos domingos das 11:30 às 12:00 horas reprisado âs terças-feira. O programa chama-se “Ponto de Vista Regional”, onde abordo tudo, eventos, lançamentos, inaugurações, política, clip musical, bastidores de artistas. Em televisão relizar um programa com tomadas externas é muito caro. Já fiz muito isso, para promover o programa, já fiz muita entrevista onde o onus era totalmente meu, as pessoas julgam que podem aparecer sem que a estrutura envolvida seja remunerada, é a famosa auto-promoção sem respeitar o trabalho dos profissionais envolvidos. Preciso pagar meu cinegrafista, meu editor, preciso pagar a gasolina do carro. As vezes até vou buscar o entrevistado para ele vir ao estúdio no meu carro.


O seu sucesso se dá também pelo seu olhar profissional em todos os aspectos, inclusive financeiro?


Sou muito crítico, não gasto dinheiro a toa. Tenho tudo controlado, o que gasto, o que faço, (Ari tira de uma pasta um livro-caixa, onde todas as suas entradas e saídas são registradas; Anexa uma pasta com os documentos a serem pagos ou recebidos.)


Ari, essa meticulosidade financeira de quem trabalha no meio de comunicação é uma raridade!


Eu tenho medo de ficar devendo! Isso aprendi com meu pai e com a minha mãe. Você não pode perder a rédea, se perder a rédea você se perde.









domingo, setembro 16, 2012

LUIZ CARLOS (LALO) CAZZONATTO, JOSÉ ARALDO BARBOSA E TARCÍSIO ( MINHÃO) CASONATO

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 15 de setembro de 2012
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:



ENTREVISTADOS: LUIZ CARLOS (LALO) CAZZONATTO,  JOSÉ ARALDO BARBOSA E TARCÍSIO ( MINHÃO) CASONATO
É comum funcionários que trabalharam em grades empresas, após muitos anos compartilhando o mesmo ambiente de trabalho, continuarem cultivando uma grande amizade entre si. Sempre que podem reúnem-se para compartilharem suas memórias, festejarem o momento presente. Formam uma fraternidade criada ao longo dos anos.
Em Piracicaba existem diversos grupos constituídos espontaneamente e de maneira informal, um desses grupos é formado por funcionários que trabalharam por muitos anos na empresa Dedini, que foi por um grande período o braço forte da indústria em Piracicaba. Era motivo de grande satisfação ser funcionário de tal empresa, um cartão de visita que abria muitas portas. O funcionário da Dedini tinha muito prestígio. Aposentados, periodicamente reúnem-se em locais pré-determinados, geralmente na chácara de alguns deles. Ali conversam, lembram-se de fatos pitorescos, riem do passado muitas vezes difícil, atualizam-se com as notícias mais recentes dos componentes do grupo, juntos divertem-se, jogam cartas, fazem churrascos, reafirmam dessa forma a amizade que os uniu. Três integrantes, representantes desse grupo nos conduzem por uma viagem através do tempo.
Tarcísio Casonato nasceu a 5 de janeiro de 1941 em Piracicaba, filho de João Casonato e Itália Pelissari Casonato. É casado com Cecília Moretti Casonato com quem tem os filhos Márcio Fernando, Alderson e Helen Miriam Tarcísio é tio de Luiz Carlos, irmão do seu pai. Na Dedini era muito comum trabalharem diversos membros de uma mesma família.
Luiz Carlos Cazzonatto é filho de Moacir Casonato e Elydia Baldini Cazzonatto, nascido a 2 de fevereiro de 1949.em Piracicaba na Vila Rezende. Casado com Dirce Lopes Cazzonatto com quem tem os filhos: Marcos, Maurício e Flávia
José Araldo Barbosa nascido a 25 de julho de 1947 em Ipeúna, na época distrito de Rio Claro.é filho de Antonio Pires Barbosa e Alvina Oliveira Barbosa, casado com Alair Alves de Oliveira Barbosa, com quem tem os filhos Michel e Andressa.


Dos três quem foi o primeiro a ser contratado pela Dedini?


Eu, Tarcísio, nascido na Vila Rezende, estudei no Grupo Escolar José Romão, minha primeira professora foi Dona Iná. Eu morava na mesma casa onde moro até hoje, no Largo São Luiz. Não tinha asfalto, embora tivesse bastante casas, é um local onde existe muitas casas antigas. Na direção da Avenida Manoel Conceição era só brejo, pasto, uma grama que quando íamos jogar futebol sentíamos que embaixo só havia água. Era denominado como Nhô Quim. A Bimbóca, hoje São Luiz, começava no sentido de onde moro na direção da Travessa Dona Santina. Hoje já não chamam mais aquela localidade de Bimboca, na época era esse nome que estava escrito no letreiro do ônibus que se dirigia para lá. Meu pai foi lavrador, ele trabalhou no Mário Baronesa (Mário Áreas Vitier, conhecido como Mário da Baronesa).em uma lavoura perto do frigorífico. Ele tinha trabalhado no Engenho Central. Conheci o Mário, quando era pequeno, devia ter uns oito anos, ia levar almoço para o meu pai que trabalhava nas propriedades do Mário cuja esposa se chamava Mercedes, eu perguntava ás filhas do Mário onde meu pai estava trabalhando, me lembro de uma delas chamava-se Ana.


O senhor jogou futebol?


Fui quarto zagueiro no Atlético, joguei com o genro do Mário. Aos 10 anos de idade comecei a trabalhar na fábrica de vassouras “Pagé”, hoje não existe mais. Ficava na Avenida Maria Elisa, encostada com um posto de gasolina que existe até hoje. Estudava, saia da escola unas 10 horas, almoçava e ia trabalhar. Permanecia até as cinco horas da tarde. Ajudava, picava, escolhia palha, cortava barbante.


Pelo fato de começar a trabalhar com essa idade o senhor deixou de aproveitar a sua infância.


Na minha época não. Eu brincava a noite, naquele tempo podia-se sair a noite brincar Tinha uma brincadeira chamada garrafão. É uma brincadeira de “pais”, desenhava-se a boca de um garrafão e um garrafão, só que tinha que entrar pela boca do garrafão. Aos sábados jogávamos bola.


Ainda criança havia brincadeiras com o bonde?


Onde ficava o motorneiro, nós chamávamos de cozinha do bonde. Quando o bonde ia para o centro iam pessoas até no engate do bonde, no lado externo do mesmo. Na época quem morava na Vila Rezende era chamado de “índio” pelos piracicabanos do outro lado do rio Piracicaba. Lembro-me de em certa ocasião, o bonde da Vila Rezende estava subindo a Rua do Rosário, nas imediações da Escola Industrial, um indivíduo gritou da calçada: “-Olha o bonde dos índios!” Desceram do bonde, “os índios”. O que essa pessoa correu!


O bonde que ia para a Vila Rezende tinha um desvio. Ali se encontravam os bondes que ia para a Vila e o bonde que vinha para o Centro. Um aguardava o outro passar e depois seguia, usando a linha do anterior, mas no sentido contrário. Tanto o bonde que ia como o que vinha usavam a mesma linha após cruzarem nesse desvio. Onde ficava esse desvio?


Situava-se na Rua Campos Salles, entre a Rua do Rosário e a Rua Tiradentes. Na Vila o ponto final do bonde era onde hoje é o pronto socorro.


Era comum a criançada fazer brincadeiras com o bonde?


Um dia o bonde não conseguia subir a Barão de Serra Negra para prosseguir pela Avenida Rui Barbosa. Tinham passado graxa nos trilhos. O trem da Sorocabana cortava a Avenida Rui Barbosa onde havia um sinaleiro. Tinha uma criançada que pegava um pedaço da chapinha de metal que envolvia o barril de madeira, e esfregava no ponto certo, disparava o alarme falso de que um trem ia passar. Formava uma fila enorme de carros. Depois íamos todos para o Rio Piracicaba, íamos pescar cascudo. Eu não sabia nadar, mas vivia no rio. Nós íamos muito na ilha, havia a comporta que desviava água que ia para o Engenho Central Quando chegava o fiscal na fábrica de vassoura nós saíamos pela porta do fundo e íamos para o rio. Lembro-me de uma época em que estavam filmando no Rio Piracicaba “Os Garimpeiros”. Nós ficávamos assistindo as filmagens. No Mirante, na curva do então restaurante, tinha uma árvore grossa, estava sendo rodada uma cena em que uma índia estava sendo segurada por um ator, representando o malfeitor. Um artista caracterizado de índio atira uma flecha, o malfeitor desvia e atinge a árvore. O ator errou, perdeu umas quatro ou cinco flechas, caíram todas no rio. O Girdão era um amigo nosso que trabalhou no filme, ele estava em um bote, em determinada cena ele grita de dentro do bote: “ –Abre a porteira”. Eu não assisti ao filme, isso me contaram. Após a sua participação no filme seu apelido deixou de ser Girdão, passou a ser chamado por nós como “Astro”.






ANCORA DENAVIO PRODUZIDA NA DEDINI


Em que ano o senhor passou a trabalhar na Dedini?

Foi a 1 de julho de 1957. Entrei como ajudante de mandrilhador. Mandrilheira é uma máquina de usinagem, quase igual ao torno. No torno a peça vira, na mandrilheira a ferramenta vira, ela faz várias operações na peça. Apareceram uns cursos como leitura e interpretação de desenho, metrologia, mandrlhador e outros, especialização oferecida pela própria Dedini.


O senhor chegou a conhecer o Comendador Mário Dedini?


Conheci. Ele ia. Andava por um corredor, observando. Ia inclusive à noite. Nunca ia sozinho, sempre tinha alguém com ele, às vezes seu filho Armando o acompanhava, o seu genro Dovílio também ia. Uma vez ele adquiriu uma patente para fabricar um equipamento para a Usina São Francisco. Para os funcionários que trabalharam nas peças para essa montagem ele deu um envelopinho, com um valor dentro. Ao funcionário que se aposentava, Mario Dedini oferecia um almoço na sua própria casa. Lembro-me que o funcionário Nhô Finca, pessoa muito brincalhona, foi homenageado com um almoço desses ao aposentar-se. Sai da Dedini no dia 5 de novembro de 1999. Por 42 anos, 4 meses e 4 dias trabalhei lá.


Luiz Carlos como começou essa reunião que vocês fazem periodicamente?


Começamos em seis: eu, Zé Araldo, Rabello, Santo, Orlando Gonçalves de Rio Claro e o Fazzenaro. Mais conhecido como Goiaba. Tudo começou quando decidimos fazer um churrasquinho. Isso foi em 1993, fizemos nesse ano uma quatro reuniões semelhantes.
Fizemos umas quatro reuniões por anos aos domingos. Decidimos fazer aos sábados, ao invés de domingo. O grupo foi aumentando, atualmente a cada 45 a 60 dias realizamos esse encontro. A média de participação é de 35 pessoas.


O senhor entrou na Dedini com qual idade?


Fiz 14 anos no dia 2 de fevereiro, disse ao meu pai: “-Quero trabalhar na Dedini!” Meu pai trabalhava na Dedini no tempo em a empresa tinha um forninho de 3 toneladas. Ele entrou com 17 anos de idade, como servente de pedreiro. Ele queria trabalhar na fundição, moldar peças. O chefe geral era o “João do Aço”. Ele mandou meu pai trabalhar no forno, que era o pior serviço. Ele acabou sendo encarregado do forno elétrico, quando passava filme no Cine São José o forno não poderia ser ligado, ele roubava energia, não era possível projetar o filme. Quando terminava o filme eles ligavam, usando aqueles telefones com manivela do lado, dizendo: “Pode ligar o forno que terminou o filme!”. Isso por volta de 1940. Aos 19 anos meu pai casou-se indo morar em frente à Escola Industrial, na Rua do Rosário. Minha mãe às 10 horas da noite fazia a cestinha de almoço que ficava aquecida, junto ao fogão a lenha. Um dia minha mãe perdeu hora. Meu pai pegava o bonde às seis horas. Ele disse para a minha mãe: “ Lídia, perdemos hora e não ligaram o forno!” Pela lâmpada ele sabia que não tinham ligado o forno. Pegou a cestinha, um paletó que usava e foi trabalhar a pé. Quando chegou à Rua Mário Dedini, os quatro homens que trabalhavam com ele estavam todos sentados na porta, esperando-o.


Qual é a temperatura para derreter o ferro?


O aço 1380 a 1400 graus. O ferro 1300 graus. Nessa época Leopoldo Dedini morava nas proximidades. Na esquina da Mario Dedini com Santo Estevão. Às nove horas, Tito Ducatti foi chamar meu pai dizendo: “ O Seu Leopoldo quer falar com você”. O meu pai pegou a cestinha, o paletó e disse: “-Pessoal, tchau para vocês. Da roça eu vim, para a roça eu volto”.Chegando lá o Seu Leopoldo perguntou: Moacir, perdeu hora hoje” Ao que ele respondeu: “ Perdi!”O Fabretti era chefe dos pedreiros, a Dedini estava fazendo cinco casas, na Rua Santo Estevão, ao lado do atual posto de saúde. Leopoldo disse: “Moacir, procure o Fabreti diga-lhe que quando terminar a primeira casa para dar a chave para você eu quero que você venha morar aqui”. Meu pai foi morar lá. Começou a nascer a criançada, éramos oito irmãos. Meu pai tinha hora para entrar na Dedini mas não tinha hora para sair. Eu, Airton e minha irmã Maria Elisa chegamos a ficar os três na cama com 40 graus de febre. Dr. Cláudio Mann estava a disposição de qualquer funcionário da Dedini a qualquer hora. Devido a ter oito crianças, meu pai acertou com o Luiz Guarda, dizendo-lhe o seguinte: “- Acertei com a minha esposa, que se der uma dor de barriga em alguma das nossas crianças ela irá acender a luz da área, seu Luiz fazia a ronda o tempo todo. Meu tinha sempre a sua disposição uma caminhonete com motorista para atender as necessidades urgentes, desde buscar algum material até atender algum funcionário necessitado. Um dia minha mãe ficou costurando roupas até a uma hora da manhã. Ao apagar a luz da sala acendeu a luz da área. Seu Luiz Guarda avisou meu pai, que veio e perguntou a minha mãe: “-Eu entrei as seis horas da tarde, estava tudo bem em casa, o que aconteceu?”. Minha mãe o chamava de Macilo. Ela disse-lhe que estava tudo bem, que sem querer ao apagar a luz da sala acendera a luz da área. Meu pai permaneceu trabalhando na Dedini até 1978. Eu entrei como ajudante de um senhor chamado Mário Furlan. Tinha as engrenagens grandes, chamadas de engrenagens volandeiras, não me esqueço nem do modelo era M-10-60. Tirava a engrenagem com 200 a 250 graus, como ajudante colocava duas tábuas, jogava um pouco de água, subia um vapor, Tinha que tirar a areia queimada para fazer tudo de novo, é uma areia fina, que para movimentar com a pá não rende. Esse homem cuspia na mão, dizia “Lalo, vamos lá!’ Jogava uma cinco pás e ia fazer uma das três coisas: ir ao banheiro, tomar café ou tomar água. Quando ele voltava estava tudo limpinho já. Fiquei seis meses ajudando Seu Mário, essas peças eram feitas por empreitada, só que ajudante não ganhava. Meu chefe, Giacobelli colocou-me para trabalhar com Seu José David. Trabalhei por três meses com ele, com ele ganhava um troquinho a mais. Passei a moldar sozinho rodete. Trabalhei na macharia, onde fazia machos. O chefe da macharia era o Barella. Um dia ele disse-me: “-Menino você trabalha muito”. Fui trabalhar na fundição leve, para o cubo da Scania tinha três ou quatro pessoas apenas que moldava. Com o tempo passaram a ser fundidas peças de navios, hidroelétricas, mineração. Após cinco anos sai da empresa. Fui trabalhar em Sumaré, na Soma que era uma empresa de Osasco e fazia tanques de petróleo. Os donos da escola Megatec eram Danilo Sancinetti e Chico Gobbo eu tinha me formado na primeira turma da escola. Chico Gobbo sabendo que eu tinha saído da Dedini, me chamou na escola, dizendo que havia uma vaga na Soma em Sumaré e que cinco ex-alunos da Megatec iriam se candidatar a essa vaga. Fizemos o teste, passei e fui trabalhar lá. Por um mês morei lá, em um hotelzinho.Me casei nesse período. Minha mulher levantava as três horas da madrugada, fazia a comida, eu pegava a minha bicicleta, entre as duas rodoviárias, municipal e intermunicipal havia a garagem da AVA Auto Viação Americana. Eu chegava lá as 4hora e 50 minutos, deixava a bicicleta guardada Eu morava abaixo da Igreja São Luiz, na Rua Dr. Kok. Saia com o primeiro ônibus, ia até Americana, lá eu descia em frente a estação de trem, pegava o trem que vinha de Barretos para São Paulo. O ar carregado do vagão era difícil de suportar. Tinha um ônibus da AVA de numero 83, no dia em que ele fazia o percurso eu perdia a hora. Da estação de trem até a empresa tinha que andar três quilômetros. Fiz isso por um ano e meio, depois não agüentei mais. Estava desempregado, fui trabalhar na Fundição Técnica Nacional. Por uma série de circunstâncias acabei me desligando da empresa. Meu irmão Airton trabalhava na Dedini, ele disse que o Ari Regitano queria conversar conosco. Ele disse-me que queria que eu fosse trabalhar na Dedini, estava sendo implantado o sistema de controle de qualidade, o gerente era Dr. Renato Ramalho. Na terça feira comecei a trabalhar, com muito orgulho fui o primeiro inspetor de qualidade da fundição. Isso foi em 11 de dezembro de 1970. Alberto Vollet Sachs Filho era o chefe do planejamento. Trabalhei como inspetor de qualidade por uns dois anos. Dr. Cinemar Cervelini era o nosso gerente de fundição, ele disse-me que o Manoel Jurado iria se aposentar, precisava por uma pessoa no lugar. E me convidou. Pedi três dias para pensar. Aceitei, e assim trabalhei mais 27 anos na empresa, cheguei a supervisor de tratamento técnico de fundição. Sai no dia 14 de dezembro de 1995. Eu estava aposentado desde 6 de novembro de 1991.


PEÇA FUNDIDA EM UMA ÚNICA VEZ, SEM EMENDAS, PARA GERAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA. OS FUNCIONÁRIOS NO INTERIOR DO CIRCULO DÃO IDÉIA DA DIMENSÃO DA PEÇA.

José Araldo Barbosa o senhor entrou na Dedini com que idade?


Devia ter uns 19 anos, antes eu trabalhava na Usina São Francisco, cortava cana, desde pequeno após ir a escola ficava ajudando a minha mãe que cortava cana. Com 14 anos fui registrado na usina. Em 1968 vim para Piracicaba. Entrei no Senai, morava na pensão do Lugo Mineiro, ficava na Vila Rezende, perto do Posto de Saúde. Trabalhei um tempo como servente de pedreiro nas propriedades da Baronesa de Rezende, quem construiu foi a Doplan, Dovilio Ometo planejamento. Dia 7 de janeiro de 1969 entrei na Dedini, trabalhando como rebarbador, limpando as peças que eram fundidas. Colocavam caçamba de peças para que eu trabalhasse nelas, com o esmeril, o que outros faziam em uma semana eu fazia no dia. Após uns 45 dias me colocaram como ajudante no forno. Fui para ajudante de maçariqueiro. Perguntaram se eu queria aprender a soldar, aceitei na hora, Euclides era o soldador, após uns quinze dias houve um corte de funcionários, o Leone me disse: “O Euclides foi dispensado, a máquina de solda está aqui, pode se virar!”. Trabalhei por 10 anos como soldador. O único qualificado pela Petrobrás dentro da Dedini era eu. Viajei muito, onde a Dedini tinha peça para ser recuperadas eu era enviado. Sai como supervisor de produção. Sai no dia 14 de dezembro de 1995. Já estava aposentado desde 1992.


Quantos funcionários a Dedini chegou a ter?


O grupo inteiro deve ter chegado a ter 12.000 funcionários.





sexta-feira, setembro 07, 2012

MONSENHOR ORIVALDO CASINI

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 08 de agosto de 2012
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
ENTREVISTADO: ORIVALDO CASINI
Suceder alguém e dar continuidade ao trabalho desenvolvido com excelência por essa pessoa é um enorme desafio. Isso ocorre em todas as áreas profissionais. Empresas são suscetíveis a esse momento de transição e continuidade. Há uma diretriz na Igreja Católica que procura amenizar a carga de trabalho administrativo de um pároco após o mesmo atingir certa idade. Geralmente é convidado outro religioso, mais novo, para assumir oficialmente os atos paroquiais. Isso não diminui a importância do pároco anterior, ele continua exercendo suas atividades religiosas, celebrando missas, casamentos, batizados. Seu carisma é cada dia mais rico. Ao padre que assume a igreja legalmente perante as autoridades religiosas o seu esforço tem que ser muito grande. A comunidade nesse momento é muito observadora, analisa com lente de aumento quem é o sucessor. Faz isso de forma natural, até mesmo de forma inconsciente. Pesa muito a sabedoria do responsável por essa substituição. A Paróquia da Imaculada Conceição, na Vila Rezende, é um ponto de referência para os católicos piracicabanos, e até mesmo da região. Inúmeros casamentos foram celebrados na majestosa igreja, projetada pelo Arquiteto João Chaddad e construída as expensas do Grande Oficial Mário Dedini. Monsenhor Jorge Simão Miguel deu alma àquela paróquia. Carismático, ainda hoje é muito procurado em todas as ocasiões, seja celebrar um casamento, uma missa, um batizado. Muitos são os cristãos que o procuram para serem por ele aconselhados. Monsenhor Orivaldo Casini, que foi batizado pelo Monsenhor Jorge na Capela de Artemis, foi designado para assumir a Paróquia Imaculada Conceição. Conviver com um dos ícones de Piracicaba, Cônego Jorge Simão Miguel (Que muitos até hoje chamam de Padre Jorge, por força do habito) é motivo de muita alegria, mas implica em ter muita humildade diante de um símbolo vivo da Igreja em Piracicaba. Monsenhor Orivaldo Casini assumiu a paróquia com sabedoria, fraternidade e muita determinação. Nascido a 11 de julho de 1958, em Piracicaba no Distrito de Artemis, filho de Guerino Casini e Cecília Scarpelin Casini.


Isso em uma época em que Artemis era um local provido de mais recursos?


Minha mãe morava em São Pedro e segundo ela conta, meu bisavô tinha uma fazenda com plantação de café, em São Pedro. Naquele período da quebra do café eles fizeram empréstimos, a hipoteca foi executada e eles perderam tudo. Vieram para o Bairro Água Branca para cortar cana, não deu certo, mudaram-se para Artemis. Minha mãe conta que em Artemis tinha de tudo: estação de trem, cinema, cartório. Meus pais trabalhavam no corte de cana-de-açúcar. Quando eu tinha dois anos de idade meus pais mudaram-se para a cidade de Piracicaba, sou o mais velho de quatro filhos: eu, Sueli, Roseli e Claudinei. Aqui sempre moramos na Vila Rezende, o primeiro local onde moramos foi no Nhô- Quim, no Paiero. Meu pai passou a trabalhar em indústria, chegou a trabalhar no Dedini. Trabalhou no frigorífico próximo ao bairro Santa Terezinha. Meu pai faleceu com 28 anos de idade. Ele era um exímio pescador. Quando menino, com us cinco anos de idade, ele me levava junto, deixava-me sentado na barranca do rio, mergulhava e só voltava do rio com dois peixes cascudos na mão. Ia buscá-los na toca, no fundo do rio. Um domingo, após o almoço ele foi pescar com o meu tio. Aonde tem a Ponte do Caixão ele atravessou o rio com a tarrafa amarrada no peito, chegou até a outra margem e depois quis voltar, na volta, sentiu-se mal e faleceu no local. Minha mãe tinha 24 anos de idade, analfabeta, com três filhos e grávida de três meses do quarto filho. Morávamos em uma casa em frente onde hoje é o Quartel da Polícia Militar. Eu tinha sete anos de idade. A princípio fomos morar na casa dos meus avôs, Ela foi trabalhar, teve que aprender pelo menos a assinar o seu nome, para poder tirar sua documentação. Ela lançou-se a luta, trabalhando. Com 10 anos de idade eu estava na rua vendendo pipoca, vendendo doces. Dona Gertrudes, mais conhecida como Dona Tudinha, era vendedora de doces, tinha um carrinho de pipoca, eu fui ajudá-la. Ganhava alguma moedinha por dia. Os outros três filhos minha mãe levava para a creche. Onde foi construída a Biblioteca Municipal havia uma creche. Minha mãe saía a pé do bairro Paiero atravessava a ponte sobre o rio Piracicaba, caminhava até o centro onde trabalhava na casa de uma família. Ela fez isso por muitos anos.


Monumento á Mário Dedini, no centro o indústrial, a seu lado direito o metalúrgico e ao lado esquerdo o agricultor. Esse monumento a princípio foi instalado na Praça José Bonifácio, no centro de Piracicaba. Por questões políticas, foi transferido para a praça em frente a Igreja Imaculada Conceiçãom construída as expensas de Mário Dedini

O senhor estudou aonde?


Na Avenida Conceição, tinha uma escola que funcionava em uma casa, ensinava do primeiro ao terceiro ano primário. Minha primeira professora foi Dona Juracy Neves de Mello Ferracciú. A do segundo ano se chamava Maura. Do terceiro ano era Dona Elza. O quarto ano primário eu estudei no Grupo Escolar José Romão. Surgiu a oportunidade de fazer o curso preparatório no Instituto Baronesa de Rezende. para ingressar no ginásio. Fui fazer o ginásio ao lado da minha casa, nessa época morava na Rua João Teodoro, onde hoje funciona a Escola Abigail Grillo, durante o dia era Escola Abigail Grillo e á noite era Escola Dr. João Sampaio. Estudei a noite. E durante o dia vendia as pipocas, os doces. Concluindo o ginásio fui fazer o curso de Técnico em Mecânica na Rua do Rosário, no antigo Colégio Técnico, que hoje é a Escola Técnica Coronel Fernando Febeliano da Costa, tinha os cursos de mecânica e eletrotécnica. Conheci os professores Danilo Sancinetti, Professor Zocante. Meu primeiro emprego foi em uma granja, hoje seria talvez chamada de agropecuária, o proprietário era Dr. Isidoro, oficial de justiça. Tinhamos todos os tipos de rações para pássaros, galinhas, cachorros. Ele fechou a granja. Fui trabalhar como balconistaa em um supermercardo no Jardim Baronesa.Dali fui trabalhar na fábrica de vasssouras do Virgílio Naléssio, na Vila Boyes, fui vassoureiro, fabricava vassouras. Eu tinha de 18 para 19 anos. Fazia o percurso do Nhô Quim até lá de bicicleta, eu a tinha adquirido usada, de um parente próximo. Por um período recebia um valor fixo por mês, depois que aprendi a fabricar vassouras, que eram de boa qualidade, pintadas em várias cores, feitas com palha de vassoura, passei a ganhar pela produção realizada. Chamava-se Vassoura Pluma. Tinhamos um campinho de futebol, onde a bola estava eu ia junto. Tinhamos os cines Polyteama, Broadway e Colonial Eram os cinremas que eu frequentava por sinal os mais baratos. Nessa fábrica de vassouras trabalhei mais de quatro anos. Nessse período eu estava concluindo o curso de técnico em mecânica, veja como as coisas são por Deus. O nosso vizinho era do departamento de relações humanas da Dedini, disse que ia trazer uma ficha para preencher, ele iria levar ao seu departamento. Preenchi a ficha, ele me levou junto com a ficha. Lá fui encaminhado ao controle de qualidade da fundição, cujo diretor era Ari Regitano. Fui bem acolhido, sentei-me em sua sala, deu-me um modelo de madeira, um retângulo com um cubo em cima, e disse-me: “-Você faça planta, elevação e perfil desse modelo”. Eu não era bom desenhista, nunca gotei. Passei a tarde toda para fazer aquele desenho e saiu péssimo. Os desenhistas perguntavam : - Quer ajuda aí?” Ëu respondia:”- Estou terminando!”Chegou a hora de fechar o esritório e eu lá, tentando desenhar. Fui embora, voltei no outro dia, Regitano disse-me “- Você desenha mal. Só que é perseverante. Seu salário onde trabalha é muito baixo. Vou dar o serviço para você¨. A minha experiência na Dedini foi muito rica, um pessoal fantástico. Iniciei trabalhando como inspetor de qualidade, verificando as peças fundidas.


A vida do senhor melhorou bastante.


Melhorou, passei a ganhar razoavelmente bem. Minha mãe que desde a morte do meu pai teve que trabalhar para sustentar a família parou de trabalhar. A filha mais nova tinha se casado, a mais velha trabalhava, o menino estava na escola. Tudo foi-se encaminhando. Aquele desejo que estava em meu coração, de ser padre, voltou mais forte.


Como surgiu esse desejo em ser padre?


Eu o tinha desde criança. Admirava a figura do sacerdote, e essa figura era o Monsenhor Jorge, que está aqui na paróquia até hoje. No período em que trabalhei no supermercado, trabalhava inclusive aos domingos. Mas antes de entrar no trabalho, entre sete e sete e meia, vinha a missa das seis horas da manhã aqui, na Igreja Imaculada Conceição. Sozinho.


O senhor chegou a ser coroinha?


Na minha adolescência ajudava um grande sacerdote: Monsenhor Cecílio Coury. Participava do grupo de jovens, nossa paróquia era muito grande, a Paróquia São Pedro era capela pertencente a nossa paróquia, eu participava de um grupo de jovens denominado DDV, Frei Afonso era o nosso diretor espiritual.


A mãe do senhor teve influência na sua devoção?


Educação nesse sentido acredito que sim, ela sempre foi devota de Nossa Senhora Aparecida. A família não tinha o costume de participação na igreja. Naquela época o sonho de grande parte dos trabalhadores era ser funcionário da Dedini. Eu estava estabilizado, ganhando um bom salário. Isso foi em 1989, chegou um novo pároco á Paróquia São Pedro. Vieram dois padres da Itália: Padre Salvador Paruzzo da Província de Caltanissetta e Padre Giovanni Giglio veio de Ragusa, vieram a pedido do Bispo Dom Aniger. Giovanni foi ser pároco no Jardim Primavera e Salvador na Paróquia de São Pedro, sabendo do meu desejo ele me incentivou a ir pra o seminário.


Foi uma decisão muito difícil?


Muito difícil. Eu tinha o desejo de experimentar o seminário. Ao mesmo tempo tinha o meu emprego, o meu salário que ajudava a manter a minha família. Eu ficava em um dilema. Fui falar com o bispo da época. Disse-lhe que desejava ir para o seminário, tinha irmãos menores, minha mãe, se acontecesse alguma coisa com eles, uma necessidade, a diocese socorre? Ele disse-me que isso não era possível. Tomei a decisão de não ir para o seminário naquele ano. No ano seguinte mudou o bispo, chegou Dom Eduardo Koiak, sabendo da minha história mandou-me chamar. Conversamos, fiz a mesma pergunta a ele. Sua resposta foi: “- Você vá tranqüilo para o seminário, qualquer problema com a sua família nós estaremos aqui para resolver”. No ano seguinte, 1982, fui para o seminário em Aparecida do Norte, da ordem diocesana, conhecidos como padres seculares. Meu primeiro ano de filosofia foi no Seminário Bom Jesus, mais conhecido como “colegião”.Éramos em 97 seminaristas oriundos de todas as partes do Brasil. Esse seminário foi construído pelo Cardeal Arcoverde, o projeto inicial era em forma de “U”, não conseguiram construir, ficou em forma de “L”. São três andares. O grupo de Piracicaba era composto por uns 8 a 10 seminaristas. Permanecemos lá por um ano. O bispo nos transferiu para a PUC de Campinas, onde fizemos Filosofia, o único de Piracicaba que permaneceu lá foi o Monsenhor Rubens, atualmente capelão no Lar dos Velhinhos.


Em que local esse grupo de seminaristas se hospedava?


O bispo já tinha construído o seminário de Santa Bárbara D`Oeste. Fomos morar em nove, todos os dias íamos para Campinas, em uma Kombi. Fiz filosofia e depois teologia, completando nesses dois cursos oito anos de estudos. Enquanto se estuda teologia, aos finais de semana o estudante vai para as paróquias, aprender com os padres. Ele faz o chamado “estagio pastoral”. Ele é apresentado como seminarista. De segunda a sexta nossa vida era ir até a PUC, voltar para o almoço, e a cada dia tinha uma atividade: limpeza da casa, compras para a nossa manutenção. José Maria de Almeida foi nosso reitor, era fantástico. Ele foi pároco na catedral de Santo Antonio em Piracicaba. Quando o aluno conclui o curso de teologia é feita uma consulta para os leigos, padres, daquela paróquia. Se nada vai contra a ordenação desse menino, se ele pode se ordenar padre, ou não.


O senhor foi ordenado em que dia?


Fui ordenado diácono a 11 de maio de 1988 em Santa Bárbara D`Oeste e sacerdote no dia 6 de janeiro de 1989 na Paróquia São Pedro, aqui no Paiero. No meu tempo de estágio pastoral trabalhei no bairro Jardim Europa, uma comunidade muito pobre. Não havia padre, apenas a freira Irmã Celeste, que admiro muito. Ela perguntou-me se não queria ajudá-la naquela paróquia, o padre vinha de Americana, que pertencia a outra diocese.


O senhor como padre passou a trabalhar em que local?


Entusiasmado pelo padroeiro da comunidade, São Sebastião, quando aceitei trabalhar lá, o padre que vinha de outra diocese deixou de vir e a irmã precisou ir embora. Acabei ficando com a paróquia. Isso no inicio do ano, no final desse mesmo ano Dom Eduardo disse-me: “Você será ordenado padre, irá para Piracicaba, para a paróquia Santa Catarina”. Expus ao bispo a necessidade de um padre na comunidade Jardim Europa, em Santa Bárbara. Acabei permanecendo lá como o seu primeiro pároco. Era tudo muito pobre, não tinha igreja, não tinha casa paroquial, tinham feito um porão onde sábado a noite era feito um baile para arrecadar fundos e domingo a noite era a missa. O bispo disse que estava com problema do outro lado da pista, no bairro Jardim Molon. ¨-¨-Estou sem padre lá, você irá assumir também aquela comunidade¨. Ele me deu uma Kombi velha, não havia igreja, fiquei com essas duas paróquias. A igreja do Molon ficava em uma comunidade com pessoas com maiores recursos, o Padre João Rodrigues, claretiano, que tinha saído, era um padre fantástico. Tinha deixado tudo encaminhado, as colunas da igreja levantadas, a estrutura metálica já estava paga, telhado pago, fechei a igreja, e já pudemos entrar na Igreja São João Batista. No Jardim Europa levantamos a igreja, lá foi a minha ordenação diaconal. Fazíamos mutirão aos sábados, os homens faziam e colocavam o concreto, tinha um pedreiro contratado que durante a semana fazia as caixas para concretagem, ia deixando tudo pronto para o mutirão ser realizado. As mulheres faziam lanches, café, sucos. Era fantástico, tínhamos 50,60, 100 pessoas fazendo o mutirão. O bispo determinou que eu fosse para o centro de Santa Bárbara, na Paróquia São José e ser o reitor do seminário. Continuei também como pároco no Jardim Europa. Em um ano conseguimos fazer a casa paroquial nessa comunidade, a igreja católica alemã mandou recursos, isso foi no final de 1990. Ao terminar a casa paroquial o bispo mandou um padre para lá, eu nem cheguei a usá-la. No meu tempo eu era reitor da filosofia e da teologia. Após três anos e meio no seminário e quatro anos e meio em Santa Bárbara o bispo disse: “Você vai para São Pedro!”. Aos 74 anos tinha falecido o padre Floriano Colombi, após 37 anos de trabalho naquela paróquia, a única para a cidade inteira. Muitos fiéis nunca tinham visto outro padre a não ser o padre Floriano. Quando cheguei foi uma novidade, eu andava de bicicleta, foi notícia até no jornal da cidade. Após um período de observação passei a propor mudanças. Adquirimos terrenos na periferia para construir as capelas. Após dois a três anos tínhamos na cidade sete comunidades, e na zona rural 14 comunidades, a zona rural é muito grande, São Pedro tem 600 quilômetros de município. Tive a graça de logo que cheguei lá, um padre já com certa idade, se apresentou: “Sou o Padre Orlando, tenho setenta e poucos anos, estou hospedado em Águas de São Pedro no Hotel do Dr. Villa que é muito meu amigo, faço tratamento nas águas. O Dr. Villa está arrendando o hotel, tenho que sair de lá”. Disse-lhe: “-O senhor vem morar comigo, ficamos 12 anos juntos”. Hoje ele deve estar com 87 a 90 anos, mora em Rio Claro. Todo padre recém ordenado Dom Eduardo mandava passar um ano comigo. Conseguimos fazer muita coisa em São Pedro. Permaneci em São Pedro por 12 anos. Teve ano em que a paróquia tocou cinco obras ao mesmo tempo.


O senhor é um tocador de obras?


Penso que patrimônio tem que ser cuidado. Todo dinheiro que entra deve ser imediatamente aplicado.


Após permanecer em São Pedro o senhor assumiu qual paróquia?


Houve a troca de bispo, assumiu o atual, Dom Fernando Mason. Segundo o Código de Direito Canônico, todo padre ao completar 75 anos de vida entrega a paróquia ao bispo. Dom Fernando recebeu a paróquia de São José, do Monsenhor Luiz Gonzaga Juliani e da Imaculada Conceição do Monsenhor Jorge Simão Miguel. Imagino que até mesmo consultando outros padres, o bispo decidiu pela minha vinda para assumir a paróquia Imaculada Conceição. Assumi em 26 de fevereiro de 2006.


O senhor tem tido uma postura cristã e sábia, mantendo a figura do Padre Jorge em primeiro plano carismático.


Eu o respeito muito, acho que ele tem uma história em Piracicaba, sempre atendeu ao povo com muito carinho, não negava nada.


O senhor deve ter tido muita satisfação ao assumir a Paróquia Imaculada Conceição, particularmente pelo seu histórico de vida.


Eu vivi aqui, participei do grupo de jovens, nossas reuniões eram na sexta feira às 23 horas, não tínhamos outro horário, eram feitas no prédio em que estamos neste exato momento. É uma satisfação muito grande poder estar aqui ajudando a comunidade, encontrando meus amigos do grupo de jovens, da Dedini. Sinto-me em casa. Há pouco tempo celebrei o casamento de um filho de um amigo que trabalhamos juntos na Dedini. Faço batizados dos netos dos amigos que trabalharam comigo. Temos duas comunidades apenas: a Capela São Luiz e quando cheguei depois das missões Redentoristas, nasceu outra comunidade, próxima a Praça Parafuso, que é a Santo Frei Galvão, primeiro santo brasileiro. È interessante observar que na Paróquia Imaculada Conceição temos participantes da cidade inteira. Outra observação é que maio deixou de ser o mês das noivas, embora haja celebrações. Mas de setembro até dezembro não temos mais vagas. Realizamos todos os sábados três a quatro casamentos. Há casamentos ás sestas-feira.


Como anda a religiosidade do católico?


Os que são conscientes de sua fé estão muito firmes. O católico só de nome ainda busca alguma coisa, seja para atender suas necessidades materiais, físicas. Ele exige uma resposta imediata ao seu problema. Pela minha experiência na Imaculada temos uma participação muito grande de fiéis conscientes.


Qual é a posição do Monsenhor Jorge hoje?


Ele é pároco emérito, isso significa que ele só não responde legalmente pela paróquia, mas tem todas as atividades que sempre exerceu.


Monsenhor Jorge é um corinthiano fervoroso, o senhor também o é?


Sou palmeirense! Há pouco tempo ele fez uma aposta com uns amigos, perdeu e teve que vestir a camisa do Palmeiras.






MARIA HELENA AGUIAR CORAZZA

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
Sábado 01 de setembro de 2012
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
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http://www.teleresponde.com.br/


ENTREVISTADA: MARIA HELENA AGUIAR CORAZZA
Maria Helena Aguiar Corazza nasceu em Piracicaba, no dia 12 de agosto de 1937, na casa situada a Rua Governador Pedro de Toledo, 673, centro, Piracicaba, a casa existe até os dias atuais e é ocupada pelo Yázigi. Filha de Jorge Aguiar e Maria Aparecida Vieira Aguiar, que está com 99 anos, Maria Helena tem os irmãos Maria Lúcia e Jorge Roberto. Aos dois anos mudou-se com seus pais para São Paulo, foram morar no bairro Aclimação, de onde retornou aos 18 anos quando contraiu seu primeiro matrimônio com Antonio Corazza Júnior, com quem permaneceu casada por 51 anos, quando ele faleceu. Tiveram quatro filhos. Jorge Aguiar tinha comércio calçadista no então elegante centro de São Paulo, na Rua José Bonifácio, Rua Benjamin Constant. Mais tarde foi proprietário da Casa Marabá, em Piracicaba. Sócia fundadora do Clube da Lady, Presidente da Academia Piracicabana de Letras, lançou seu quinto livro, onde reúne uma pequena parcela das inúmeras crônicas publicadas anos a fio. Trata-se do livro “Crônicas de Maria Helena”.


Quando a senhora se casou e retornou a Piracicaba estranhou o ritmo de vida com relação a São Paulo?


Mesmo morando em São Paulo mantinha laços estreitos com Piracicaba, era aqui que eu passava as minhas férias. A família Aguiar Jorge era muito conhecida em Piracicaba, meus tios, minha avó Francisca de Aguiar Jorge ( Avó Chiquinha), o avô era José Jorge. O nome do meu pai deveria permanecer como era: Jorge Aguiar Jorge, só que ele, talvez por razões de ordem prática, suprimiu a repetição do Jorge no fim do seu nome, ficando Jorge Aguiar. Com isso não tenho em meu nome o sobrenome Jorge que minhas primas carregam em seus nomes. Eu me formei como professora na turma de 1956, no Colégio Assunção, depois de casada, fui a primeira aluna casada a terminar o curso no Colégio Assunção. Depois veio Terezinha Ferraz Leite, transferida de outra cidade, também casada. Éramos como se fossemos uma atração, tanto para as freiras como para as meninas.


Qual é a origem do sobrenome Jorge?


Meus antepassados vieram de Damasco, capital da Síria. Todos os povos e países têm seus encantos e desencantos.


A senhora é religiosa?


Muito. Sou devota de Nossa Senhora Aparecida, Nossa Senhora de Fátima, Santa
Paulina a Primeira Santa Brasileira. Estudei no colégio em que ela viveu no
Ipiranga, minha mestra Irmã Célia Cadorin foi quem fez o processo de beatificação
e santificação de Santa Paulina. Escrevi muito, sobre a vida toda de Madre Paulina, publiquei ainda no tempo em que o editor do Jornal de Piracicaba era Joacyr Coury . Escrevi muito sobre o Padre Galvão.


Como surgiu essa inspiração para a senhora escrever?


Não sei precisar. Ainda criança, com nove a dez anos já tinha muita facilidade em escrever, nessa época fiz uma redação cujo título era “Uma Gota da Água”. No final, encerro o conto comparando a gota d’água com uma lágrima. Leio muito, li clássicos, obras de Jorge Amado. Comecei a fazer Yoga, mas tenho um temperamento irrequieto demais. Uma vez arrisquei a participar de uma aula, isso há muitos anos, fui constantemente abordada por um pernilongo. Como poderia fazer Yoga sendo atacada por pernilongo? Sou a mais agitada em casa, mais do que meus filho, netos.


Como Presidente da Academia Piracicabana de Letras a senhora sabe por que o brasileiro ainda lê pouco?


O fator principal é o custo das obras.


Então como escritora a senhora teve bons rendimentos financeiros?


(Após uma boa risada Maria Helena volta a abordar o tema). Conheço pessoas que ocupam funções braçais, mas que gostam muito de ler. Como essas pessoas de poder aquisitivo restrito pode adquirir obras que custam 30, 40, 60 reais? Há a facilidade do livro eletrônico, eu não gosto, para mim tem que ser escrito no papel. Quando encontro algo que me interesso no computador, eu imprimo. Atualmente estou na fase de ler autores hindus.


Frases de efeito, motivadoras despertam seu interesse?


Posso até eventualmente citar alguma frase em algum livro que escrevi. Nunca irei contestar. “Quem espera sempre alcança”, que a pessoa vá atrás então, se não for nunca irá alcançar. Sem luta você não consegue nada. A pessoa tem que agradecer a sua saúde, que já vem naturalmente. Tenho horror a frase: “Era feliz e não sabia.” Quando estou feliz, digo: “Estou mesmo muito feliz, que coisa boa!”. E espero estar sempre muito bem, pois se pensar ao contrário a pessoa fica mau de verdade. Meu primeiro marido Antonio (Toninho) Corazza Júnior aos 41 anos foi acometido de uma doença que abalou, tirou o sossego, mas prosseguimos por décadas, persistindo, acreditando, com muita fé, trabalhando muito. Após a descoberta da sua doença ele viveu mais 31 anos.


Alguns anos após o falecimento do seu marido a senhora contraiu segundas núpcias?


Sou casada com o Dr. Luiz Antonio Abrahão, tem 55 anos de participação na OAB de Piracicaba. Parte da sociedade acha que uma viúva deve ficar em seu canto, recolhida, em seu luto. Conheci pessoa que por 10 a 11 anos ficou de luto, usando só roupas pretas. Na minha opinião isso é fraqueza. Não é fácil enfrentar isso. No dia anterior ao falecimento do meu primeiro marido, fui até a capela do hospital, descarreguei toda a minha dor, a ponto de fecharaem a porta da capela para evitarem que outras pessoas me vissem tomada por um sentimento de muita dor, minha manifestação escandalosa de sentimento de perda.


A senhora acredita que ao enviuvar-se, a pessoa não de ve se isolar?


Não pode se isolar. Essa é a grande mensagem que passo em um dos meus livros, que não é uma obra de auto-ajuda e sim de alto astral. Há pessoas que nasceram com o estigma de serem vítimas. Gostam de viver da comiseração (compaixão) dos outros. Quem irá suportar uma pessoa choramingando em um canto? Talvez isso suceda por dois ou três meses, depois ninguém mais vai tolerar. Você tem que usar a sua própria força. O processo de fé é muito importante, não é ser piegas, ser ingênua. Não se pode questionar Deus. Nós estamos neste mundo, mas existem milhões de galáxias. É melhor não questionar Deus e sim Tê-lo como uma energia. Há em cada um de nós uma força muito grande e que veio de algum lugar. Observe, quando você tem um pensamento muito forte você consegue. Eu estava revendo um livro “Santa Teresa de Ávila”, eu estive em Avila, ela conseguia ganhar as coisas com os mantras (orações repetidas) que ela fazia: “ Vou conseguir, vou conseguir, vou conseguir...) É lógico que existem limites, se a pessoa estiver falecendo, no fim de sua vida, atingiu o seu limite. Você não tem essa força.


A senhora freqüenta regularmente a igreja?


Tanto eu como o Luiz freqüentamos aos domingos.


Com sua experiência de vida, passando por muitas mudanças ocorridas nesses anos todos, sob o seu ponto de vista isso foi bom ou tornou as pessoas mais individualistas?


Contra o tempo não se pode ir. Hoje tudo que acontece é sinal dos tempos atuais. Houve uma inversão de valores, de disciplina, hoje os pais muitas vezes temem em dizer algo a seus filhos, os filhos em contrapartida dizem o que querem à seus pais. Desafiam professores, afirmando que são eles, alunos, que pagam o salário do professor. Há algumas décadas os pais controlavam os filhos apenas com o olhar. Pedia-se a benção aos pais, tios, padrinhos, avós. Existia o respeito pelos mais velhos, atitudes cordiais e respeitosas, como levantar-se e dar o assento aos idosos, grávidas. Hoje se tiver uma idosa quase sem forças, homens fortes, meninos grandes e sadios, ignoram. Ninguém liga para mais nada. Do rigor extremo passou-se a liberdade sem responsabilidade, sem limites. São atitudes inadmissíveis, qualquer ser humano é merecedor de respeito.


A senhora vive de bem com a vida?


Vivo. Tenho um processo de fé. Se perder o sono na madrugada, o que raramente acontece, eu rezo o terço. Tenho a certeza absoluta de que quando terminar de rezar o terço já estarei dormindo. O terço é uma arma. As orações funcionam como mantras.


A humanidade necessita de uma higienização mental?


Está faltando esse “voltar ao outro”. Ontem estivemos em São Paulo, no trânsito percebemos a agressividade das pessoas, uns contra os outros, independente de idade, sexo ou condição social, há uma violência gratuita.


São pessoas mal amadas?


Mal amadas, mal resolvidas consigo mesmas. Uma pequena contrariedade é motivo de reações violentas. São pessoas que não se realizam de nenhuma forma. O ser humano está estressadíssimo, completamente sem paciência. Egocêntricos. Colocam todas as fichas em uma determinada direção. Isso amesquinha a pessoa. Não acrescenta. Isso o leva a fazer uso de subterfúgios. Aos totalmente desprovidos de elementos necessários a sua sobrevivência o caminho das drogas é uma fuga, aqueles que mesmo tendo recursos necessários e entram nessa situação são pessoas carentes de carinho, atenção. Eu distribuo sorrisos, tapinhas afetuosos, abraços, atenção. Com a Dona Madalena Salati e mais 25 pessoas eu tomava conta da Casa do Bom Menino, eu passava a mão na cabeça de uma criança, dava-lhe atenção. Se um dia ele se tornasse um marginalizado, iria lembrar-se de que um dia havia recebido atenção e carinho de alguém. Isso poderá fazer com que ele imagine que existe pelo menos uma pessoa boa. Carinho é tudo. Toque é tudo. Existem muitos estudos e literatura sobre o poder do toque. Até os muito idosos sentem essa necessidade de afeto, quando vou a uma determinada casa de idosos procuro dar-lhes meu melhor sorriso. Confortá-los. Conheci e pratiquei o método Reiki que é uma prática espiritual esotérica baseada na canalização da energia universal através da imposição de mãos com o objetivo de restabelecer o equilíbrio energético vital.


A senhora considera-se uma pessoa extremamente ativa?


Sou. Até mesmo em reunião de condomínio, onde sou presidente da mesa, as medidas a serem tomadas procuro decidir de forma prática e objetiva. Sem muitas delongas.


Na cozinha como é a Maria Helena?


Se precisar ninguém passa fome. Criei meus filhos, cozinhava, dava aulas de piano. Da cozinha muitas vezes corrigia “– Fá sustenido!” ou -Si Bemol” Faço um bife muito bom, dizem que é melhor do que os outros, quando chega um neto, se não tenho nada pronto faço o “Arroz de Vó”. Tenho todos os molhos em pote assim como caldos de sopa, tudo natural. Atualmente consumimos muitas saladas e frutas. Mas já fiz muito quibe, principalmente o quibe cru, um dos pratos preferidos em casa. Um prato que faz muito sucesso é o mafufo que são charutinhos com folha de uva. Coalhada, homus, homus tahine, babaganuche, adoro halawi (doce árabe com pasta de gergelim).


A senhora tem o hábito de usar o Masbaha (Terço árabe)?


Não uso esse terço em particular, embora o tenha.


As pessoas não dizem que a sua vida são só rosas?


(Maria Helena ri.) Não existe isso! Eu sempre penso, mesmo nas piores situações: “- O melhor ainda está por vir!”


A mulher é cerne da família?


Com certeza! Uma mulher forte é um baluarte. Leva o marido, leva a família. O retorno sempre vem, e muito mais forte. Quando sinto alguma dificuldade com alguém peço a Nossa Senhora que toque o coração dessa pessoa. Isso dá certo.


Como a escritora Maria Helena vê o crescimento de Piracicaba?


É irreversível, o contrário seria dizer que Piracicaba deveria ficar presa, sem caminhar. Piracicaba cresceu de forma encantadora. Lembro-me da minha terra maravilhosa, com ruas ainda de terra, havia ribeirão a céu aberto, com suas pequenas pontes. Hoje ela cresceu, com um trânsito intenso, do bairro São Dimas até o bairro da Paulista pode-se levar quarenta minutos no percurso. Mas Piracicaba é uma cidade linda, muito bem tratada, nos dois últimos governos trabalhou-se muito nesse sentido. Há necessidades a serem resolvidas na saúde, na educação, só que essas necessidades só são quase inexistentes em países com alto grau de desenvolvimento. Mesmo nesses países há alto grau de suicídios, desgraças. Nesses países deveriam trabalhar mais a espiritualidade, isso no meu ponto de vista.


Suas memórias ruins, problemas, vão para o lixo?


Lembro-me de que devo confiar no Senhor de todo meu coração. Entrego a ele todos os meus problemas. Aplico isso. Converso com Deus. Não estou questionando onde ele está. As pessoas que deixam esta vida deixam também suas energias, e isso ajuda muito. Acho que essa energia não acaba nunca. Como disse São Agostinho: “-Eu apenas estou do outro lado do caminho!”.




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