PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E
MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 19 de abril de 2013.
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 19 de abril de 2013.
Entrevista: Publicada aos sábados
no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
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http://blognassif.blogspot.com/
ENTREVISTADO: ANTONIO ROBERTO PREVIDE
Antonio Roberto Previde nasceu a
22 de abril de 1949, em Piracicaba, no Bairro Monte Alegre, na Colônia do
Macabá. Filho do casal Virgilio Previde e Luiza Bacchin Previde que tiveram os
filhos Maria Antonia, Antonio e Gilmar.
Os seus pais moravam no Bairro
Monte Alegre quando ainda eram solteiros?
A minha mãe morava com sua
família mais para os lados do Bairro Rural Tupi. Meu pai morava no Macabá. Eles
se conheceram em uma festa que teve no Monte Alegre, era uma festa promovida
pelo Comendador Pedro Morganti, um churrasco para 5.000 pessoas. Todas as colônias da região eram convidadas
para participarem. Meu avô materno, Antonio Bacchin, tinha o sítio dele com
cana de açúcar. Minha mãe foi à essa festa com a família, conheceu meu pai e
alguns meses depois estavam casados. Foram morar no Macabá.
Você lembra-se como era a casa em
que morava na Colônia Macabá?
Lembranças eu não tenho, só depois,
já adulto, é que voltei para rever. Meu pai foi por dois anos consecutivos
campeão de corte de cana de açúcar. Tinha que cortar e amarrar a cana de açúcar
em um feixe, havia um padrão pré-estabelecido, cada feixe era composto por 22
canas, não podiam estar com as pontas.
O campeão de corte de cana
ganhava algum prêmio?
Ganhava! Meu pai dizia que com o
prêmio que ganhou pela primeira vez comprou uma casa na Rua Santa Cruz. Era uma
casinha simples e naquela época o imóvel não era tão valorizado como hoje. Com
o valor ganho no segundo ano em que foi campeão novamente, ele adquiriu uma
outra casa no Bairro São Judas, na esquina da Rua Dr. Alvin com a Rua do
Trabalho, onde fomos morar. Meu pai ficou trabalhando na Usina Monte Alegre até
1951. Minha mãe cuidava da nossa casa, quando havia colheita de café ela ia
ajudar.
Que idade você tinha quando sua
família mudou-se do Monte Alegre?
Eu tinha dois anos de idade
quando a minha família mudou-se para a Rua Regente Feijó esquina com a Rua
Santo Antonio. Viemos morar na casa situada no Estádio Roberto Gomes Pedrosa,
era a casa do caseiro. Romeu Ítalo Ripoli pediu que seu amigo Comendador Pedro
Morganti, indicasse uma pessoa para cuidar do campo de futebol. O Pedro acabou
indicando meu pai. Com isso moramos dentro do Estádio Roberto Gomes Pedrosa,
mais ou menos, 30 anos. Eu morei lá até me casar aos trinta anos. Meu pai
permaneceu mais dois anos, depois o estádio foi vendido para a MAUSA, ele
permaneceu mais algum tempo e acabou saindo.
Você era um espectador privilegiado?
Era! O que eu assistia de jogo de
futebol e jogava!
Você chegou a integrar a equipe
do XV de Novembro de Piracicaba?
Sim! Desde as categorias de base,
joguei como centro avante no infantil, juvenil e amador. Depois veio o XV
Escola, que o falecido Jacobelli era o treinador, o Duarte Filho era o diretor
de esporte, em 1969 passei a ser jogador profissional do XV de Novembro, na
época em que o Comendador Humberto D`Abronzo era o presidente.
Além do XV de Novembro, você
jogou em outros times?
Joguei no Platinense, de Santo
Antonio da Platina, no Paraná, o técnico era o Orlando Maia, fiquei por pouco
tempo no Bandeirantes, joguei em Tietê, tive uma passagem pela Ponte Preta.
Por quantos anos você jogou?
No amadorismo eu era famoso pelo
chute que eu tinha, eu chutava forte mesmo. Inclusive existe uma reportagem a
respeito no Jornal de Piracicaba onde fala a meu respeito, referindo-se como “O
Canhão da Rua Regente”. Pelo XV de Novembro joguei praticamente dois anos. Em
1969 me profissionalizei. Infelizmente naquela época ganhava-se o salário
mínimo para jogar no XV. Jogava porque gostava.
Tinha o “bicho” (prêmio pela
vitória) também?
O “bicho” não era isso tudo que
falavam! Em termos atuais seria R$ 100,00 ou R$ 200,00. Não é como hoje onde
ganham de bicho R$ 5.000,00 ou R$ 10.000,00. Existiam jogadores que tinham um
salário melhor, como Piau, Amauri, Nicanor, Chicão, Ademir Chiarotti, Ademir
Gonçalves. Época dos técnicos Julião, Cardinalli, Drace, Dema, Gaspar. Era uma
época em que não havia tanto o emprego da força física, era mais habilidade
mesmo. O futebol era mais gostoso de assistir. Eu afirmo que enquanto o XV de
Novembro jogava no Estádio Roberto Gomes Pedrosa, todo ano se revelava um
jogador. O XV sempre vendia um jogador para o Corinthians, São Paulo,
Palmeiras. Com o dinheiro dessa venda acaba montando o time para o próximo
campeonato. Acredito que por volta de 1973 a 1974 o XV de Novembro começou a jogar no
Estádio Barão de Serra Negra, diminuiu
muito a revelação de novos jogadores para serem vendidos para os times de
outras cidades.
A recente vitória do Ituano que conquistou o título estadual pode incentivar o futebol do
interior?
Com
certeza! Antigamente era difícil um time do interior ser campeão. Tinha que
ganhar na bola e algumas vezes no apito também. Havia por parte de alguns
juízes um favorecimento aos times
grandes. Havia também um favorecimento ao chamado “time caseiro”, tenho a
experiência de ter jogado em várias cidades, jogar contra o time local, no seu
campo, era difícil. Todo lance duvidoso era contra o time visitante. Tinha que
jogar muito bem, não deixar dúvidas. Tinha um juiz, que dizia ao jogador; “Caia
que eu dou o pênalti! Se você não cair como posso dar o pênalti?”. Isso são
fatos que vivi não me contaram.
Você
chegou a jogar contra times tidos como grandes?
Sim,
contra o São Paulo, por exemplo, no tempo da dupla de zagueiros Jurandir e
Dias. O Jurandir era de grande estatura, o Roberto Dias era um craque.
O XV
de Novembro é um dos valores que identificam Piracicaba?
Com
certeza! Lembro-me que quando os treinos eram no Estádio Roberto Gomes Pedrosa,
havia um senhor que ficava na portaria e arrecadava um valor simbólico,
equivalente a R$ 1,00 hoje, isso para o publico assistir os treinos do XV. Teve
dia de ter 2.000 pessoas assistindo a um treino do time. Naquela época havia o
folclore de haver dois treinos coletivos na semana. Normalmente as terças e
quinta feiras.
No
seu ponto de vista hoje é diferente por quê?
Quantos
campos de futebol você vê hoje? São poucos. E estão distantes. Havia muito mais
times e jogadores que se despontavam no futebol amador. Eram convidados para
fazerem testes no XV. O pessoal da ESALQ jogou muito com o XV. O Atlético (
Clube Atlético Piracicabano) tinha um timaço. Assim como outros times como o
MAF, Usina Costa Pinto, eu mesmo joguei no Vera Cruz, no União Porto, no
Palmeirinha.
Falta
estímulo ao jovem para que participe de esportes?
Falta.
Hoje há também essa lei que nós temos de que o jovem só pode trabalhar depois
de completar 16 anos, eu sou contra. Acho que ele fica muito tempo sem fazer
nada. A criança tem o direito de brincar, mas a partir dos 12 a 13 anos ele já começa a
ser adolescente. Ele não se contenta com uma bolinha de gude, ou uma bola de
pano para ficar chutando. Não irá brincar de “queimada” que hoje nem se vê
mais. Ainda existe o trabalho infantil escravo. E não precisa ir longe, em
Piracicaba mesmo você irá encontrar. Dos 14 aos 16 anos tem muitos garotos que
já são homens. E não podem trabalhar! Na nossa época com essa idade era
contratado como aprendiz. Fiz o primário no Grupo Escolar Moraes Barros, o
diretor era Seu Irineu. Em frente ao Grupo Escolar ficava a Fábrica de Bebidas
Andrade. Bebíamos um refrigerante “Caçulinha” sem gelo!
Você
além de estudar fazia alguma outra atividade?
Ajudava
meu pai, varria a arquibancada, eu tinha uns 12 anos. Todo domingo havia jogo,
na segunda feira tinha que varrer as arquibancadas, o campo todo. Era um
quarteirão quadrado. ( Cerca de 10.000 metros
quadrados ). Minha mãe lavava roupas, o uniforme do XV,
muitas vezes eu tinha que ajudar a lavar as meias. Meu pai ganhava salário
mínimo, mais a residência, água, luz e morávamos no centro.
Quanto
tempo você demorava para varrer o campo todo?
Dois
dias! Lavava os vestiários.
Alguma
vez você encontrou alguma coisa curiosa no estádio, deixada por algum torcedor?
Achava
de tudo! Dentadura, aliança, dinheiro, boneco, blusa, paletó, cachimbo, radinho
de pilha.
Após
concluir o curso primário no Grupo Escolar Moraes Barros você foi estudar onde?
Fui
para o SENAI, que está até hoje no mesmo local, perto do colégio Dom Bosco.
Naquela época o curso no SENAI durava quatro anos, dois anos de oficina e dois
anos que equivalia ao ginásio. Formei-me torneiro mecânico, trabalhei na Indústria
Fazanaro. Só que não me identifiquei
muito com a profissão. Em paralelo continuava jogando bola. Saia do trabalho às
cinco horas da tarde e vinha a pé para treinar no campo do XV. Na época o
Fazanaro ficava na Rua Bom Jesus. Naquela época havia o curso de madureza (ensino
supletivo), no Colégio São Bento de Araraquara. Estudava aqui e prestava os
exames lá. Por dois anos fui jogador profissional do XV de Novembro. Nunca
consegui ter uma projeção, apesar das pessoas que me conheciam me chamarem de
“Virgilinho”, por causa do meu pai Virgilio.
O que
faltou para você despontar como estrela do futebol?
Acho
que faltou orientação. Fui já de inicio para o meio de jogadores experientes,
com hábitos pouco disciplinados para o esporte. Eu continuava ganhando o
salário mínimo, que penso que tinha menor poder aquisitivo do que hoje. O Baú
da Felicidade foi inaugurado aqui em Piracicaba, um chefe de uma equipe,
Antonio Carlos Coletti, me conhecia, sabia que tinha alguma experiência em
vendas, já tinha feito uns bicos. Ele me convidou, afirmou que poderia ganhar
três vezes mais. O técnico do XV, o Dema, tentou evitar a minha saída da
equipe, mas eu disse-lhe que não estava vendo ali muito futuro para mim.
Trabalhei um ano e pouco no Baú da Felicidade, a loja ficava na Rua Governador,
próxima ao Clube Cristóvão Colombo do centro. Era uma loja enorme, Ia da Rua
Governador Pedro de Toledo até os fundos na Rua Benjamin Constant.
Era
no auge do Baú da Felicidade?
Vendia-se
muito. Eletrodomésticos e móveis. E tínhamos uma cota de carnês do Baú da
Felicidade. Esse era o chamado “filet mignon”. Na época eu tinha uns 21 anos.
Nessa época consegui comprar meu primeiro carro, um Fusca 1961, coral. Isso foi
em 1972. Era um carro usado. Passei a jogar futebol só no amadorismo. Em 1973
foi inaugurada em Piracicaba a Eletroradiobraz. Eu e um amigo éramos
vendedores do Baú, estávamos trabalhando na rua, vimos uma grande fila no
SENAI, ficamos curiosos, perguntamos o que estava acontecendo, um representante
da empresa disse que estavam contratando pessoal para trabalhar na
Eletroradiobraz. Fizeram uma proposta melhor do que tínhamos no Baú. Fui
trabalhar no setor de móveis da Eletroradiobraz.
A vinda da Eletroradiobraz à
Piracicaba foi um acontecimento marcante para o comércio local?
Foi tido como a inauguração de um
Shopping. A Banda União Operária executando musicas, o prefeito Adilson Maluf
cortando a fita inaugural. Foi uma festa! Foi uma revolução no comércio local.
Fui registrado no dia 20 de agosto de 1973, fiquei 30 dias em treinamento em
Campinas, para inaugurar a loja no dia 3 de outubro de 1973, o público estava
entrando pela Rua Visconde e os operários acabando de cimentar a saída pela Rua
Silva Jardim. Na época tínhamos o Supermercado Brasil, a Ultragaz que era uma
loja e a Casa Pernambucana, que trabalhava mais com tecidos. Eram as lojas
maiores da época.
Quantos anos você permaneceu na
Eletroradiobraz?
Fiquei 28 anos lá dentro. Com o
falecimento do Plínio Sigmar Bortoletto, que era presidente do sindicato, como
suplente dele assumi em 2000
a presidência do sindicato. Na Eletroradiobraz trabalhei
como encarregado de móveis, de máquinas e ferramentas, de lazer, barracas,
camping, bicicletas. Da linha branca: geladeira, fogão, máquina de lavar roupa.
Linha de imagem: televisão, som. De Eletroradiobraz passou a se denominar
Jumbo-Eletro e atualmente Pão de Açúcar, sob o controle de um grupo francês.
Ainda sou funcionário do Pão de Açúcar.
Seus vencimentos provêm de qual
entidade?
Provém do sindicato. Sou
funcionário cedido ao sindicato. Em 1999 inaugurei o Pão de Açúcar 24 Horas. O
Creso R. Lopes era meu gerente, continua gerente até hoje. Foi feita uma
reforma rápida, contratou-se meia dúzia de funcionários. Nós já tínhamos uma
equipe que trabalhava a noite que eram os repositores, pessoal da limpeza,
segurança. Foram contratados dois caixas, uma moça na padaria e rotisseria. No
inicio foi difícil, tinha que fazer a leitura às duas horas da manhã, às quatro
horas da manhã, pelo fato de morar ao lado eu fazia essas leituras, com chuva,
com frio, a cada duas horas ia até a loja. Fazia uma avaliação, olhava, não
tinha ninguém. Hoje o Creso diz que tem sete caixas operando e quase não dá
para atender a todos. De madrugada é um movimento tremendo, criou-se um habito.
Como você define comércio?
Todo mundo precisa comprar. Só
que a pessoa gosta de comprar onde é bem atendido. E bem recebido. Comércio é
uma arte. Precisamos qualificar cada vez mais os funcionários que trabalham no
comércio. Infelizmente há uma rotatividade muito alta de funcionários. Os empresários
investem muito pouco em treinamento.
Aí entra também o custo do
funcionário, ele ganha mal e o empresário paga muito.
A carga tributária é alta. Se um
funcionário ganha R$ 1.000,00 somando a carga tributária até a demissão dele
ela chega a 100%, ou seja, para empresa ele irá custar R$ 2.000,00. Todo mundo
vende com lucro, ninguém vende com prejuízo, e a concorrência por mais barato
que ela venda o produto ela nunca chega ao preço de custo.
Piracicaba é uma boa praça
comercial?
É uma cidade que tem dinheiro, é
um bom mercado. Quando uma empresa se estabelece na cidade já fez uma pesquisa
antes de vir. Todas as empresas que vieram se deram bem.
Quais categorias abrangem o seu
sindicato?
Os empregados do comércio
varejista e atacadista de Piracicaba. São 7.000 comerciários. Temos apenas 15%
desse total que são associados. O setor
de padarias já pertence a outro sindicato. Lanchonetes são ligadas ao setor
hoteleiro.
Quantos diretores têm no Sindicato dos Empregados no Comércio de Piracicaba?
São 16, sendo que 5 permanecem na
sede prestando serviços diretamente ao sindicalizado.
O sindicato oferece vários
benefícios aos associados?
O associado paga R$ 20,00 por
mês. Ele tem tratamento dentário gratuito, para ele, esposa e filhos. Está a
disposição durante o dia e funciona também a noite. Temos a farmácia que vende
medicamentos a preço de custo. Oferecemos três advogados: civil, trabalhista e
previdenciário. Gratuito tanto na consulta como no processo. Temos uma
videoteca com uns quatro mil títulos de filmes. O associado pode freqüentar o
nosso Clube dos Comerciários, em Artemis, uma área de 20.000 metros
quadrados , com piscina, campo de futebol, quiosques,
salão de festas. O comerciário que tiver filho tem R$ 50,00 por filho para
adquirir material escolar. Oferecemos a colônia na Praia Grande, que hoje
paga-se R$ 70,00 por dia para usufruir com direito ao café da manhã, almoço,
jantar, quarto com ar condicionado, frigobar, televisão. O associado pagando R$
20,00 por mês tem direito a tudo isso. Oferecemos cursos, palestras, em nossa
sede.
Quando foi fundado o sindicato?
Em 17 de julho de 1962 foi criada
a Associação dos Comerciários de Piracicaba, transformada em sindicato em 8 de
janeiro de 1963. Fundado por Nagib Ismael, então funcionário da Porta Larga.