sábado, setembro 20, 2014

JACQUELINE SANTANA


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 13 setembro de 2014.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/

                                        ENTREVISTADA: JACQUELINE SANTANA
 
Jacqueline Santana assumiu a Rádio Educativa FM como Diretora-Presidente no dia 02 de janeiro de 2013. A emissora conta com 13 funcionários, somando aos que prestam serviços voluntários à equipe é composta por 30 membros. Formada em Comunicação e Pós–Graduada em Administração Pública e Gerência de Cidades.

O que são voluntários de uma rádio?

São pessoas que apresentam programas ou trabalham nos departamentos, voluntariamente.  Essas pessoas assinam um termo de voluntariado que significa que elas não têm nenhum vinculo empregatício com a emissora e nos ajudam no decorrer dos trabalhos. Elas compõem a comunicação da Rádio Educativa de forma voluntária. Para trabalhar na Rádio Educativa ou é através de concurso público ou ocupa cargo de confiança. Estamos tentando mudar isso agregando grupos de voluntários, e conseguimos isso no decorrer desse tempo, desde 2013, a trazer mais voluntários.

Há alguns critérios para ser voluntário?

Existem critérios rigorosos, diretrizes. Estabeleci a minha estratégia para comunicação da rádio de 2013 a 2016. Desde que assumi fizemos um grande investimento em tecnologia. Temos todo o apoio e empenho do Prefeito Gabriel Ferrato. A Rádio Educativa é uma rádio pública mantida pela prefeitura, ela está locada na Secretaria da Educação. A ordenadora de despesas da Rádio Educativa é a Secretária de Educação, Professora Ângela Corrêa.

Qual é o foco da grade de programação da Rádio Educativa?

Quem acessar o site educativafm.com.br poderá acessar todos os programas, lá é descrito um pouco de cada programa, tem a fotografia dos comunicadores. Está tudo no site. Quando assumi a idéia era de que a Rádio Educativa era uma emissora voltada para o público acima de trinta anos, classes A e B. Meu objetivo é mudar isso, fazer com que pessoas de todas as idades e cada vez um número maior de ouvintes, optem também pela Rádio Educativa. Não somos concorrentes de ninguém. Não temos anunciantes. Desde que assumi a Rádio Educativa não tem apoio cultural de empresas particulares. Quem mantém a rádio é a prefeitura, então quando eu preciso de recursos recorro a autorização do prefeito. Tenho todo apoio e respaldo dele, não se justifica ter o chamado apoio cultural de terceiros.

Há uma afirmação que não se sabe ao certo contabilizar, de que muitos magnatas norte-americanos deixam uma sólida formação cultural aos filhos. A maior parte dos bens materiais eles doam à fundações com fins filantrópicos. Alguma vez isso ocorreu com a Rádio Educativa?

Nós nunca tivemos esse tipo de contato. Caso surja uma proposta dessas, iremos registrar essa doação, documentar de forma legal e oficial. O que nós já recebemos em doação na minha gestão, foram LPs, os discos de vinil.

Vocês aproveitaram esse material?

Digitalizamos esse material, estamos digitalizando todo nosso acervo que é composto por mais de 70.000 músicas, é uma das discotecas mais completas da região. Nós registramos com fotografias as doações de LPs. Utilizamos as músicas desde que atendam os critérios da rádio. Desde que assumi a Rádio Educativa fez um grande investimento em tecnologia, mudamos todo o sistema de informática da rádio, substituímos equipamentos por outros tecnologicamente mais avançados, aumentamos a velocidade de internet da rádio. Ampliamos a equipe de jornalismo e comunicação com a participação de voluntários. Dentro do nosso objetivo de aproximar a Rádio Educativa do público, temos levado a emissora para fora dos estúdios. Geramos o som da Sapucaia e transmitimos o evento na integra, pela primeira vez produzimos o som que ia ser levado ao ar lá, Sapucaia é um evento que antecede ao carnaval. Quem organiza a Sapucaia é a Secretaria de Turismo. O som é gerado em trios elétricos. Transmitimos o carnaval na integra, pela primeira vez na história da Educativa. Montamos um estúdio na Festa das Nações este ano, e antes desse estúdio elaboramos na rádio um programa aonde todas as barracas vieram até aqui, com antecedência contaram o que iriam oferecer no dia da festa. Divulgamos a Festa da Polenta. Organizamos junto a Secretaria de Turismo o Show de Aniversário da cidade. Fizemos a abertura ao vivo do 41º Salão Internacional de Humor de Piracicaba.

O site da Educativa tem recebido muitas visitas?

O site da Educativa foi lançado em outubro do ano passado, 10 meses após o seu lançamento temos cerca de 200.000 acessos por mês. Quase 7.000 pessoas acessam a educativafm.com.br todos os dias para ouvir a programação. A Educativa alcança um raio de 80 quilômetros ao redor da sua antena de transmissão que fica no SEMAE, chegando a uma potência de 1.000 WATTS. Com isso atinge um grande número de cidades localizadas nesse limite. Divulgamos eventos de outras cidades, desde que nos procurem. Teve um show de Cezar e Paulinho em Santa Barbara D`Oeste, fomos até lá, eles concederam uma entrevista exclusiva para a Rádio Educativa. Recebemos representantes de cidades vizinhas, nesta semana estará conosco a Sra. Clarissa Chiararia ela é Secretária de Turismo da Cidade de São Pedro. A Educativa está atraindo o interesse das autoridades da região, mas o foco é a população local e regional.

Embora não seja assistencial a Educativa é uma rádio de prestação de serviços. Nós estamos aqui para atender a demanda do público. Temos uma página também no face book Rádio Educativa FM de Piracicaba 105,9.

Como é a relação da Rádio Educativa com outros veículos de comunicação?

Isso é fantástico! Eu não me recordo de algum veículo de comunicação local em que a Radio Educativa não esteve presente desde o ano passado. È muito bom poder contar com esses parceiros que tornam a rádio viva, presente. O jornal da Ordem dos Advogados do Brasil colocou na capa do jornal uma matéria sobre a Educativa. A revista Trifatto colocou uma página da rádio destacando o apoio do prefeito Gabriel Ferrato para todas as ações que foram realizadas. Criamos a Galeria de Fotos da Rádio, as pessoas que nos visitam gostam de serem incluídas nessa galeria. Em termos de programação, a pedido de ouvintes a Educativa toca MPB e musica internacional em todos os horários. Inserimos as locuções musicais, o ouvinte está acompanhado até de madrugada, ele não fica apenas ouvindo musica, sozinho. Há um locutor até nas madrugadas. O rádio é uma boa companhia.

Vocês têm pesquisa de audiência?

Não temos pesquisa de audiência, o custo é levado, trabalharmos com o dinheiro público. Com isso medimos a audiência de outras formas, como o número de acesso ao site, o número de visitantes que deixam suas imagens registradas na galeria de fotos. Há pessoas de todas as faixas etárias que desejam conhecer a rádio. Muitos acompanham a rádio pelo face book, pelo site. O número de visitante é tão grande que já pensei em estabelecer um horário de visitas. Temos recebido crianças de escolas, recentemente representantes de fanfarras. Vamos ter o Whatsapp (Um programa que colocado no celular permite escrever e mandar a mensagem imediatamente). A Rádio Educativa terá também um aplicativo no celular, é só baixar o aplicativo pelo site e ouvir no celular a Rádio Educativa. É uma rádio que está atualizada com o avanço tecnológico.

Temos pessoas que são praticamente anônimas em Piracicaba, mas de grande projeção em outras localidades, como por exemplo, um ciclista com 350 medalhas ganhas em competições. Como a Educativa pode valorizar esse atleta?

Fantástico exemplo. Essa pessoa pode nos procurar. Visitei uma academia na cidade que chamou a atenção o número de troféus. Olhei muitos deles, pelo número era difícil visualizar todos. Nenhum deles tinha o nome de Piracicaba. A minha indagação foi por que não constava o nome de Piracicaba em nenhum dos troféus. O responsável respondeu que em nenhuma das conquistas desses troféus tinha tido apoio da prefeitura da nossa cidade. Isto estava errado. Fiz uma reunião com o Secretário de Esportes e com o apoio do prefeito Gabriel Ferrato hoje essa equipe de atletas que é composta inclusive por tri-campeão mundial de levantamento de peso fará um evento aqui no Ginásio Waldemar Blatkauskas dia 14 de setembro as 13:00 horas com todo apoio da prefeitura. Após essa reunião os atletas já receberam apoio da prefeitura com transporte e alimentação para competir em diversas vezes em cidades da região. As vezes a única coisa que falta são essas pessoas virem até nós. Podem entrarem em contato comigo através dos telefones 34334430 ou 34322051 vou agendar uma reunião com a pessoa interessada e tomar as providências cabiveis.  O Espaço Seresta é um exemplo de programas solicitados pela população.

A Rádio Educativa busca trazer cursos a seus profissionais?

Recentemente trouxemos uma palestra sobre administração financeira. É uma forma de valorizar o profissional. Para exigir um trabalho de qualidade tem que oferecer ferramentas. É importante oferecer elementos de motivação. Na Rádio Educativa uma das características é que todos trabalham e bastante. O próprio voluntariado tem um comprometimento natural. A Rádio Educativa oferece projeção e eu acho que essa projeção é uma forma minima de agradecer aqueles que trabalham voluntariamente. Confiança e credibilidade significam consciência. Encerro meu expediente com a certeza de que fiz o melhor de mim.

Entre os novos programas colocados este ano você pode citar mais algum?

Colocamos o programa “Pensando Rural” voltado ao homem do campo. Tem musica, receitas de queijadinha, bolo de fubá. É uma parceria do Pira-21 com a Esalq. Outro programa que foi incluido na grade é o “Giro Educativa” apresentado pelo Kal Mattus, vem logo após o programa “Bom Dia Cidade”, o objetivo é arejar a programação, é um bate papo descontraido, muita música, risada, ele vem após um jornalismo mais denso. É apresentado das 10:00 às 11:00 de segunda a sexta feira. O “Espaço Seresta” que é apresentado aos domingos, esse ano teremos novos programas que farão parte da grade. Recebi muitos pedidos para que eu apresentasse um programa, existe a intenção de lançar “O Perfil” com Jacqueline Santana. Se esse projeto nascer será a pedido de um número considerável de ouvintes. Já fui apresentadora em mais de uma emissora, na verdade o microfone é uma ferramenta que faz a comunicação ter um acesso maior, o importante é você saber desenvolver a informação que irá colocar no microfone. Gosto muito de desafios. A Rádio Educativa procedeu ainda reparações na estrutura física da rádio, limpeza das espumas acusticas, instituiu a reciclagem de materiais como procedimento padrão.

MERCEDES VECCHINI


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 06 setembro de 2014.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/

ENTREVISTADA: MERCEDES VECCHINI 

A professora Mercedes Vecchini simboliza milhares de professoras que exerceram o ensino como uma missão. No anonimato da sua função, percorreram escolas transpondo obstáculos de toda natureza. Ensinaram gerações, estabeleceram bases para o desenvolvimento do nosso país através da educação. Sem nenhum recurso tecnológico tinham como objetivo fazer com que os alunos raciocinassem. Analisassem e interpretassem conceitos pré-estabelecidos. Nascida em Piracicaba, a 6 de fevereiro de 1935, filha de Eugênio Vecchini e Irene Razera Vecchini, que tiveram também o filho Tarcísio.

Em que bairro de Piracicaba você nasceu?

Segundo minha mãe dizia, nasci nas proximidades de onde atualmente é a Avenida Dona Jane Conceição, na época essa região era tomada em grande parte por plantação de algodão, pertencente à família Conceição. Andava-se mais utilizando atalhos, as ruas praticamente eram diferentes dos traçados atuais, o chão era de terra. Onde é atualmente a Rua Sud Mennucci havia uma rua sinuosa, de terra, e existia uma Santa Cruz muito reverenciada. (A construção de uma Santa Cruz é um hábito de origem cristã trazido com os colonizadores, cuja função é sinalizar o lugar onde uma pessoa faleceu, quase sempre em circunstâncias trágicas, seja por morte natural, por assassinato, um acidente qualquer ou queda de raio). Na Rua Sud Mennucci esquina com a Avenida João Conceição havia uma fundição, onde hoje funciona uma imobiliária, o prédio é o mesmo, foi reformado. Ao lado havia uma escolinha isolada, composta por uma classe apenas, o prédio era do Sindicato dos Ferroviários da Companhia Paulista de Estradas de Ferro. A professora que lecionava chamava-se Diva, a casa em que ela morava na Rua Alferes José Caetano, existe até hoje.

Qual era a atividade do seu pai quando se mudaram para a Paulista?

Ele era comerciante, tinha uma venda (ou armazém) onde atualmente é a Loja do Italiano, na Rua do Rosário esquina com a Avenida do Café. A nossa venda era na frente e a nossa residência era anexa, na parte de trás do prédio. Em frente onde é a loja Paulistinha existia uma máquina de beneficiar arroz de propriedade do Grella. Vizinho a nossa venda era o Bar do Geep (José Tozzi). Na esquina da Rua do Rosário com a Avenida Dr. João Conceição era o armazém do Bortoletto, na época era um dos raros donos de telefone nas redondezas. Atualmente é a agência do Bradesco. Na esquina da Rua do Rosário com a Avenida Dona Jane Conceição era o campo do Jaraguá Futebol Clube, o campo do MAF ( Abreviatura de Manoel Ambrozio Filho) era mais adiante.

A Família Mori, que teve importante atuação no comércio de pescados em Piracicaba, estabeleceu-se no bairro após a Familia Vecchini?

Quando eles construíram a casa que pertence a Família Mori nós já estávamos aqui.
Meu pai e meu tio Pedro tinham uma máquina de beneficiar arroz e fazer fubá, situava-se no Bairro Santa Terezinha. Ao lado passava o trem da Estrada de Ferro Sorocabana.
Meu “nono” (avô) Luiz Razera,deu à nossa família uma casa muito bonita, que existe até hoje, situada um quarteirão abaixo da Santa Casa de Misericórdia. A Avenida Independência não tinha calçamento. Moramos um tempo ali. De lá fomos morar em uma região rural entre a Nova Suissa e o Pau D`Alhinho. Meu pai adquiriu um sítio que tinha pertencido a família Gozzo. Eles foram muito laboriosos, cultivaram todos os tipos de frutas. Meu pai levava frutas, beringelas, laranja, banana ao Mercado Municipal, com uma carroça tracionada pelo cavalo “Lambari”. Nessa chácara permanecemos por uns quatro anos. Íamos a Escola do Pau D`Alhinho, inclusive membros da família Totti formávamos um grupo de 7 a 8 crianças que iam juntos até a escola. Ficava a uma distância de uns cinco quilômetros que percorríamos a pé. Quando tinha usava chinelo, senão ia descalços. A minha primeira professora era Dona Araci, ela morava na Rua Boa Morte. Dona Idalina Alcantara Gil também foi minha professora naquela escola. As duas professoras iam dar aulas de charrete.

Após quatro anos a sua família mudou-se para Piracicaba?

Inicialmente meu pai adquiriu um terreno próximo ao hoje Teatro Municipal, construiu uma casa um dos nossos vizinhos era o Rapetti. Nesse período eu passei a estudar na Escola Normal, depois Sud Mennucci. Lembro-me da nascente Olho da Nhá Rita, ficava próximo a Avenida 31 de Março. Íamos pescar guaruzinho com peneira no Ribeirão Itapeva, era bonito, piscoso, chorei muito quando o cobriram. Em uma determinada época estava faltando água fizeram um poço artesiano, próximo a Rua da Glória, ficou conhecida como “Bica do Morlet”. Funciona até hoje. Meu pai comprou o terreno na esquina da Avenida do Café com a Rua do Rosário e construiu o armazém e a casa. Isso foi por volta da década de 40.

Nesse período em que estudava, também trabalhava?

Fui trabalhar no Laticínios Piracicaba, o Cabrini era o proprietário. Meus pais gostavam de jogar baralho, jogavam com o casal Cabrini, pais do famoso repórter. A seguir estudei da quinta até a oitava série no Sud Mennucci. Tive aula com o Professor Otávio, de matemática, Evaristo, que dava aulas de português, Benedito Dutra Teixeira deu aula de música.

Você fez o magistério em que escola?

Fiz na Escola Normal Rural “José de Mello Moraes”, funcionava no prédio da Zootecnia da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz. Formei-me professora em 1966.  Nós deveríamos escolher escola rural após nos formarmos.

Qual foi a primeira escola em que você foi lecionar?

Fui dar aulas em Franco da Rocha, vizinho a São Paulo. Ia de trem pela Companhia Paulista de Estradas de Ferro. Em Franco da Rocha pegava um ônibus e ia até a escola. Lembro-me de um professor de educação física, muito entusiasmado, montamos uma peça de teatro chamava-se “Os Loucos Vem de Fora”, os atores eram os professores. Durante a semana eu permanecia em Franco da Rocha, voltava na sexta feira a tarde. Eu lecionava de manhã. Nesse período morei em uma residência que tinha dependências fora do corpo principal da casa. Nessa época comecei a estudar a noite o curso de  Administração Escolar no bairro da Lapa, em São Paulo. Ia com o subúrbio. Fui removida para Várzea Paulista, junto com outra professora, a Eurides, ficamos em uma casa de uma senhora que tinha duas filhas. Na Escola Experimental de Jundiai fiz o segundo ano de Administração Escolar. Eu decidi fazer um curso de Pedagogia, em Piracicaba, viajava todos os dias. Saia às cinco e meia da manhã de Piracicaba, embarcava no Expresso Piracicabano, descia na entrada de Jundiaí, lá eu tinha em uma garagem, um automóvel Dauphine, quatro portas, preto. Naquela época a moda era carro de duas portas. A seguir removi para Campinas, inauguramos o Colégio Costa e Silva situado a caminho da Via D.Pedro I. Lá eu morei em um pensionato, perto da Igreja do Carmo. Após dois anos, removi para a Usina Furlan, na SP-304, Rodovia Luiz de Queiroz onde permaneci uns três anos.

Você chegou a ser diretora de escola?

Por 10 anos fui diretora substituta. Onde a diretora tirava licença ou férias eu ia substituir. A escola no Campestre eu que montei. É uma escola de primeira até a quarta série. A merendeira era Dona Deolinda, filha do Mellega.

E quando você se aposentou o que você foi fazer?

Uma das decisões que tomei foi ficar sócia da Friendship Force International, em bom portugues significa A Força da Amizade.  Conheci muitos países, sendo que falo apenas um pouco de espanhol.

E através dessa associação você conheceu praticamente o mundo todo?

Quem me recebe em outro país nem imagina como sou. Quando chego em visita a outro país fico hospedada na casa de uma família que faz parte da Friendship Force International. Procuro agir com muita educação, respeitando os hábitos e costumes dessa família. Sempre fui muito bem recebida em todos os paises em que estive. O tempo de permanência é de sete dias, e eles fazem questão de mostrar todos os detalhes da cidade que estamos visitando. Um país que me marcou muito foi a Hungria, em particular sua capital Budapeste (em húngaro Budapest) Localiza-se nas margens do rio Danúbio Sua região metropolitana, também chamada de Grande Budapeste. Budapeste foi fundada em 1873 com a fusão das cidades de Buda na margem direita do Danúbio, com Peste, na margem esquerda.

Você recebeu visitantes internacionais em sua casa?

Recebi, inclusive uma australiana muito simpática. Quando estive na Austrália também fiquei encantada com os país, o eucalipto cor de rosa, plantado em jardins, praças. Fui para Itália, fiquei um mês em Genebra, já por iniciativa minha. Estive na França. Na Inglaterra me perdi, lá eu fiz o sistema opcional. Funciona da seguinte forma, uma semana você permanece na casa de alguém como convidado, caso queira fazer o opcional dai é por conta própria. Como turista normal.

Estou vendo que você tem um carro em excelente estado de conservação, você dirige ainda?

Dirijo! O maior problema é sair da garagem, a rua em que moro tem um trânsito intenso e muito rápido. Infelizmente muitos motoristas não se importam com nada. Dou sinal de braço, perna (risos), ninguém respeita! A circulação urbana está muito agressiva. Para a área rural eu vou, visito familias amigas.

Você pratica alguma atividade física?

Na Estação Idoso “José Nassif”, na Estação da Paulista, existe uma academia, eu andei frequentando. Uma das atividades que gosto muito é participar do coral.

Que voz você faz?

Sou soprano no Coral da Terceira Idade na Estação. O ensaio é toda segunda feira das duas horas até as quatro horas da tarde.

Você se considera uma pessoa ativa?

Acho que estou meio limitada, talvez o fato de não estar em contato com tantas pessoas como sempre estive também ajuda a criar uma zona de conforto, a uma certa acomodação, que não é muito saudável.

Você está com uma camiseta do Projeto Rondon, qual é a razão?

É que em 1973 eu fiz parte do Projeto Rondon, sou da turma 33. O Projeto Rondon foi criado em 1967 e durante as décadas de 70 e 80, permaneceu em franca atividade, tornando-se conhecido em todo Brasil. O projeto promovia atividades de extensão universitária levando estudantes voluntários às comunidades carentes e isoladas do interior do país, onde participavam de atividades de caráter notadamente assistencial, O Projeto Rondon foi retomado pelo governo federal em 2005, mais de quinze anos depois de sua extinção.

Para qual localidade você foi?

Fui para Cruzeiro do Sul, no Acre. Tenho minha familha lá! Eles já ficaram uma semana na minha casa, eu já fui duas ou tres vezes de volta para lá. Fiz uma grande amizade com a Gisalda, que conheci lá e mora em Cruzeiro do Sul. Ela é paisagista do municipio. É mães de dois filhos padres: um marista e um espiritano. Agora se quiser ir por via rodoviária para Cruzeiro do Sul já é posssível. Ficou pronta a ponte do Rio Juruá, é muito linda!

Pelo Projeto Rondon quanto tempo você permaneceu lá?

Ficamos um mês. Fui na área da educação.

Como eram as coisas lá naquela época?

Lá existe o Campus Avançado. Fomos em doze pessoas: duas da área de educação, dois agrimensores, dois engenheiros, dois dentistas, e mais quatro pessoas de outras áreas. Fomos de avião, a Força Aerea Brasileira que nos levou. Foi a primeira vez que entrei em um avião. Tive a oportunidade de conhecer a cabine dos pilotos, os instrumentos do avião. Foi uma aula de aviação!

sexta-feira, agosto 29, 2014

IRENE SOUZA FERRAZ


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 30 de agosto de 2014.

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
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ENTREVISTADA: IRENE SOUZA FERRAZ

 


Nascida em uma fazenda, no município de Bariri, a 21 de abril, filha de Antonio de Paula Ferraz e Julieta de Souza Ferraz, que tiveram 12 filhos, sendo que três faleceram ainda muito novos. A filha primogênita foi a Maria, a seguir: Conceição, Jandira, Nair, Marina, Irene, Luiz, Antonio e Expedito. Logo que se casaram Antonio e Julieta eram proprietários de uma fazenda no bairro rural de Recreio, próximo a Charqueada. Após alguns anos seus pais venderam essa fazenda em Recreio e adquiriram outra fazenda enorme em Avanhandava seu pai após alguns anos vendeu essa fazenda ao seu cunhado, e adquiriu outra fazenda em Bariri, local em que Irene nasceu. Alguns anos depois ele adquiriu uma propriedade muito próxima a Guaiçara, localidade próxima a Lins.

Até que ano escolar a senhora estudou em Guaiçara?

Estudei até o segundo ano primário. Quando eu tinha uns nove anos nossa família mudou-se para Piracicaba à Rua Floriano Peixoto, no centro. Matriculei-me no Grupo Escolar Barão do Rio Branco. Lembro-me perfeitamente da minha professora do terceiro ano: Maria José. Depois mudamos para a Rua Moraes Barros, fui estudar a quarta série primária no Grupo Escolar Moraes Barros. Bem em frente existia a Fabrica de Bebidas Andrade. A minha professora era Dulcelina Ferraz de Arruda Leite.

Na esquina havia um casarão, que mais tarde foi a Biblioteca Municipal, e recentemente foi demolido sendo que no local está sendo construído um edifício. Quem residia naquele casarão?

Quem morava ali era o Padre João. (Em 1916 assume o cargo de Capelão da igreja São Benedito, o Cônego João Batista Ferraz.) Era primo-irmão do meu pai. Ele tinha herdado uma grande fortuna, aquela casa foi construída por ele onde morou até falecer. Ele sempre auxiliou muito aos necessitados. Conclui o curso no Grupo Escolar Moraes Barros, naquele tempo davam diploma escrito com letras góticas, esse diploma está na no Grupo Escolar Moraes Barros, há uns 15 anos foi aniversário acho que de 100 anos do Grupo Moraes Barros, a diretora estava organizando uma comemoração, pediu meu diploma emprestado, infelizmente não recebi esse diploma de volta, na época fiquei meio chateada. Para entrar no ginásio tinha que fazer um exame de admissão. Naquele tempo a classe era composta só por meninas e outra classe só por meninos. Tudo que aprendi com essa professora foi muito importante, cheguei a usar até em aulas que dei em faculdade. Era um ensino de nível elevado.

Após terminar o primário qual foi a próxima atividade da senhora?

Fui trabalhar! Minha irmã mais velha já tinha arrumado um emprego para mim. Tínhamos que trabalhar. As mais velhas tinham aprendido corte e costura, Por sinal a mais velha era modista mesmo. A Nair trabalhava na Livraria Giraldes, na Rua Moraes Barros. Ela trabalhou lá muitos anos.

A senhora foi trabalhar aonde?

Fui trabalhar na Galeria dos Tecidos de propriedade de Ultimio Tardivo. Era uma loja só de tecidos, situava-se na Rua Governador Pedro de Toledo, quase esquina com a Rua Moraes Barros quase em frente a Porta Larga. Trabalhávamos mais com sedas puras, era uma loja muito chique, muito boa.

O que uma menina de quinze anos fazia em uma loja dessas?

Vendia! Cortava o tecido certinho! Ganhava quarenta mil réis por mês. Trabalhei na Galeria dos Tecidos por dois anos. Após esse período fui trabalhar em São Pedro em uma loja de tecidos de propriedade de João Coury, onde permaneci por nove anos.

Como a senhora decidiu mudar-se para São Pedro?

O Sr. João Coury gostava muito de leitura, ele era cliente da Livraria Giraldes, minha irmã que o atendia. Ele a convidou para ir trabalhar na Casa Coury. Ele precisava de uma funcionária que inclusive soubesse fazer a escrita da casa, eu sabia fazer. Sempre fui a mais atirada dos irmãos. Desde muito pequena. Minha mãe fazia trabalhos de tricô, crochê, fazia trabalhos bonitos. Fazia joguinhos de lã para recém-nascidos. Colocava em uma cestinha e dava para que eu vendesse. Eu ia de porta em porta, vendia tudo, voltava com o dinheiro e entregava para a minha mãe, feliz da vida! Eu deveria ter uns nove anos. Um dia minha irmã citou o meu nome ao Sr. João Coury, deu-lhe o endereço de onde eu estava trabalhando. Ele foi até lá, era um sírio muito distinto, fino. Ele se apresentou, e me convidou para ir trabalhar em São Pedro, disse-me que a minha irmã Nair tinha dito que talvez eu fosse. Ele disse-me que pagava oitenta mil réis, o dobro do que eu ganhava. Ele disse-me ainda que eu teria um quarto meu, comida, tudo incluso, já que não dava para ir e voltar todos os dias até São Pedro. Ele era casado, tinham perdido um filho com uma doença que hoje jamais morreria: apendicite. A loja em São Pedro chamava-se Casa Coury, ficava na Rua Veríssimo Prado. Naquela época São Pedro ainda não era considerada a terra do bordado. A cada 15 dias eu vinha visitar minha família em Piracicaba. Era estrada de terra, a condução era a famosa “jardineira”, a gente comia poeira até Piracicaba. Tinha o trem também, a “Maria Fumaça” da Estrada de Ferro Sorocabana. De trem levava quatro horas de viagem de São Pedro até Piracicaba. De ônibus levava umas duas horas, até mais um pouco, parava em todo quanto era lugar. Após um ano que eu estava trabalhando lá, foi trabalhar conosco a minha irmã Jandira que até então trabalhava na Ótica e Relojoaria Gatti, situada na Rua Governador Pedro de Toledo esquina com a Rua Moraes Barros. A Casa Coury em São Pedro tinha muito movimento. O pessoal do Alto da Serra vinha, levava sacos de mercadorias. Quando o Sr. Coury veio para o Brasil era mascate, ele conhecia todo mundo do Alto da Serra de São Pedro, fazendeiros, foi assim que ele conseguiu montar essa loja. Depois ele casou-se com Dona Maria (Mariquinha), ela era brasileira.

Lá vendia de tudo?

Só não vendia calçados. Mas desde chapéu para homens, guarda chuvas, armarinhos, era uma loja quadrada, com um balcão enorme. Tinha três portas de aço enormes. Era separada da casa. Havia uma escada que ligava a loja até a casa. A casa era grande, tinha um terreno muito grande. Era um lugar muito bom para morar. A principio eu pensei em ir e ficar por um ano, até guardar algum dinheiro. Meu objetivo era estudar. No fim fiquei por nove anos. Quando sai deixei o casal chorando.

A senhora não estudou lá?

Estudei o que apareceu naquele tempo São Pedro era um décimo do que é hoje. As ruas eram de terra batida, não havia asfalto. Eu fiz SENAC lá, um ano. Apareceu, foi o prefeito Pedrinho Aguiar que trouxe esse curso. Tínhamos que estudar para valer, tinha até sociologia! Após um ano ganhamos um diploma enorme. O prefeito convidou as moças para fazer esse curso. Quem passasse em primeiro lugar, no final do ano, teria como prêmio uma viagem para São Paulo, para fazer outro curso lá, mais avançado. Eu ganhei o prêmio, fiquei em primeiro lugar. O prefeito Pedrinho foi conversar com o Sr. Coury. Sempre trabalhei muito, até hoje trabalho. Sempre gostei de trabalhar, nunca parei. No final daquele ano o curso foi encerrado com uma festa muito bonita. Isso foi por volta de 1942. Guardo esse diploma até hoje. Houve um exame, que veio lacrado de São Paulo e só foi aberto na hora em que foi aplicado às alunas. O Sr. João Coury concordou e dar-me uma semana de licença para viajar. Uma classificada em segundo lugar foi também para que eu não viajasse sozinha.

Em que local de São Paulo vocês ficaram?

Ficamos no Pacaembu. Isso foi uma iniciativa do governo. Lá estavam todos os alunos que haviam passado em primeiro lugar, de diversas cidades. Ficamos no próprio estádio,   havia quartos com três a quatro camas cada um. Visitamos pontos característicos de São Paulo. Foi o melhor passeio que fiz! Tinha outro curso que deveria ser feito e daria como prêmio uma viagem à Europa. Pensei a respeito e decidi que deveria aproveitar aquele momento, mas não me interessei em fazer uma viagem tão longa. Passeamos muito, divertimo-nos muito e depois voltamos para casa. Isso ocorreu quando eu já estava trabalhando há uns três anos na Casa Coury. Quando completou nove anos, eu já tinha guardado um pouco de dinheiro e pensei em fazer o curso de madureza (atual supletivo),  pensei: vou entrar no curso normal.

A senhora fez o curso de madureza aonde?

Fiz em dois lugares. Em Piracicaba não havia o curso de madureza. Hoje só não estuda quem não quer. Estudei o ginásio, para depois entrar no Normal. Era uma luta tremenda. Após um ano fui prestar exame em Itapetininga, no Instituto Peixoto Gomide, uma das escolas mais tradicionais do Estado de São Paulo. Eram nove exames escritos e nove exames orais, dezoito exames.

A senhora ficou hospedada aonde em Itapetininga?

Fui com uma colega que tinha uma prima que morava lá. Essa sua prima, Benedita, que nós a chamávamos de Ditinha, por coincidência era inspetora de alunos desse instituto. Era uma escola muito bonita, existe até hoje. Fiquei 21 dias em Itapetininga. Consegui passar em cinco matérias, quatro eu fiquei devendo. Voltei à Piracicaba, meu pai estava  na Santa Casa de Misericórdia onde permaneceu por três meses até vir a falecer. Naquele ano desisti de estudar. No ano seguinte voltei a trabalhar e estudar, trabalhava na Casa São Paulo, era de uns sírios, situava-se na Rua Governador Pedro de Toledo. No final do ano fui prestar exame em Jaboticabal. Fomos um grupinho, éramos três carros. Conseguimos passar e viemos com o certificado do ginásio. Matriculei-me na Escola Normal, tive que prestar exames em três matérias que faltavam. Eram matérias mais fáceis, fiz a adaptação. Tive algumas aulas com um parente muito famoso, era artista: Antonio Pacheco Ferraz que viveu até os 101 anos. Ele residia em São Paulo, como seus pais moravam em Piracicaba ele vinha sempre e dava-me algumas aulas. No Curso Normal passei em segundo lugar. Sou formada como professora na turma de 1955.

A senhora decidiu fazer o que a seguir?

Tive um convite desse mesmo primo, Antonio Pacheco Ferraz, é interessante que ele era primo por parte da minha mãe que era Pacheco e por parte do meu pai que era Ferraz. No final do ano, ia fazer os exames, fui até a casa dele, na época ele estava com sua família em uma casa próxima ao Mercado Municipal de Piracicaba, o professor que ia fazer os exames era João Dutra. Fui atrás do meu primo Antonio, em casa o seu apelido era “Nenê”. Ele me disse: “–Irene você tem dom para desenho, porque não presta concurso para desenho!”. Respondi-lhe: “-Ah Nenê! Eu gosto de matemática, gostaria de prestar concurso para matemática!”. Ele me disse: “ –Você vai se formar neste ano, vai lá para a minha casa e eu vou lhe ensinar desenho e você presta concurso para ensinar desenho para ginásio!”. Ele morava em São Paulo, na Vila Mariana, próximo a Igreja da Saúde. Ele era casado com uma prima irmã: Hermozila a mãe dela era Ferraz e o pai dela era Pacheco. Pais e mães de Antonio Pacheco Ferraz e Hermozila Ferraz Pacheco eram primos-irmãos legítimos. Eles se gostavam desde criança, ele foi estudar na Europa, ficou noivo duas vezes, ela ficou noiva aqui duas vezes, ela não tirava o Nenê da cabeça e nem ele deixava de pensar nela. Tiveram um filho, o Francisco.

Que idade a senhora tinha quando foi para São Paulo?

Em torno de 28 anos. Fui morar na casa do meu primo Antonio Pacheco Ferraz, a Hermozila foi minha colega de passeio em Piracicaba, ele me disse: “- Você se dá tão bem com a Hermozila!” De fato, fiquei lá dois anos e quatro meses. Eles moravam em um sobradão, muito bem arrumado. Ele me disse: “-Você fará companhia para a Hermozila!”. Lá na época existiam alguns sobrados, mas era um tanto quanto isolado. Ele ficava preocupado porque ela ficava sozinha com o menino na época com uns seis anos. Fiquei pensando, ser professora de desenho? Eu fazia bem feito, mas não era a minha matéria. Antonio Pacheco Ferraz era professor da banca examinadora da Escola Caetano de Campos. Ele me deu umas aulas, eu tinha facilidade para desenho, o meu irmão Antonio Souza Ferraz pintou vários quadros, meu primo Antonio Pacheco Ferraz dizia que o meu irmão era artista nato.

A senhora prestou o concurso para professora?

No dia certo do exame fui para a Escola Caetano de Campos, na Praça da República, passei em todos os exames. Nesse meio tempo apareceu um rapaz que eu conheci quando estudei em Itapetininga, Seu nome era Hélio dos Santos, era filho único, morava com a mãe viúva, em São Paulo. Era funcionário do Estado. A mãe dele era inspetora de alunos. Todo mês eles iam para um sítio que tinham em Itapetininga. As vezes iam visitar a Dona Ditinha que era prima deles. Eu estava lá e esse rapaz me conheceu. Fizemos amizade. Saíamos passear em grupo, junto com outros filhos da Dona Ditinha. Um ano em que permaneci em Itapetininga ele ia todo mês para lá. Minha irmã recomendou que eu voltasse para Piracicaba. Voltei. Um dia recebi uma carta desse rapaz. Disse que viria a Piracicaba fazer um passeio e que gostaria de encontrar-se comigo. Ele veio, na época eu estava ainda estudando. Ele voltou à São Paulo. Após me formar fui para São Paulo, eu estava na casa do Nenê, ia prestar concurso para ser professora do Estado. Um dia o Hélio apareceu na casa do Nenê. Ele foi com a mãe dele, Dona Adelaide. Foram fazer uma visita. Enquanto Dona Adelaide estava conversando com a minha prima ele se declarou, disse que desde que tinha me conhecido em Itapetininga não me esquecia. Concordamos em nos conhecer melhor, a começar a namorar até que ele me propôs casamento.

Ele era professor?

Não, era funcionário público, como o salário era restrito ele deixou doze anos de trabalho e foi trabalhar na Companhia Água Branca, uma empresa muito rica. Um grande amigo dele, o Joaquim era diretor dessa empresa, sempre dizia que ele poderia trabalhar lá e ganhar três a quatro vezes mais do que no Estado. Depois que ele firmou o namoro comigo, saiu do Estado e foi trabalhar com esse amigo. Íamos nos casar. Ele havia comprado o necessário, estava preparando tudo certinho. Ele queria fazer um casamento igual ao do Joaquim que fazia sete meses que havia se casado. Um dia ele me disse: “-Irene, falta três meses para nos casarmos, vou mostrar para você como será nosso casamento”. Deu todos os detalhes, onde seria a festa, a viagem de núpcias no Rio de Janeiro no Copacabana Palace. Fiquei muito contente, muito feliz. O meu casamento ia sair da casa do meu primo Antonio Pacheco Ferraz. O Hélio me disse: “-Irene, você vai escolher uma escola do Estado, só que para quem está começando não será aqui em São Paulo, você irá lecionar lá não sei aonde. Você vai sair de São Paulo, eu estou aclimatado aqui, não quero sair daqui. Eu gostaria que você desistisse você não precisa trabalhar.” Disse-lhe: “Imagine! Formei-me com tanto sacrifício, quero lecionar!”. Ele então me disse, você pode arrumar escola, perto de casa, aqui em São Paulo. Concordei com ele. Era um moço bom, congregado mariano, religioso. Faltava apenas três meses para nos casarmos, enxoval completo, alianças, viagem de núpcias programada. Ele viajava para essa companhia, ia pela Via Dutra. Ia para todos os lugares de carro. Em uma dessas viagens, no dia 29 de abril de 1958, ele sofreu um acidente de carro e faleceu. Eu já estava lecionando na Prefeitura de São Paulo, na Cidade Vargas, no final do metrô Jabaquara.

Quando a senhora ficou sabendo da tragédia?

Era bem cedo, eu estava indo para a escola, o Joaquim, amigo do Hélio foi para me dar a noticia, mas não teve coragem. Ele bateu na casa vizinha e deu o recado. A vizinha era um sobrado geminado com o do Nenê, da sacada ela bateu na janela do quarto do Nenê. Eram umas seis horas da manhã. O Nenê acordou assustado, quando recebeu a noticia de que o Hélio estava no necrotério. Nenê e Hemozila sentaram-se na cama, não sabiam como me dar a noticia. Ficaram os dois conversando, eu já estava de saída para a escola, quando eu estava para descer a escada passei pelo quarto deles que estava com a porta meio aberta, escutei falarem “Irene”. Logo imaginei que mamãe tinha falecido, ela andava muito doente. Bati na porta, falaram que eu entrasse. Perguntei o que estava acontecendo. Foi quando me disseram: “Seu noivo morreu, está no necrotério”. Era uma terça-feira. Eu tinha estado com ele no domingo. O Nenê foi comigo até o IML na Rua Teodoro Sampaio. Parecia que estava dormindo. Nem parecia estar morto. Ele faleceu no dia 29 de abril e foi sepultado no dia primeiro de maio. Larguei escola, larguei tudo. Voltei à Piracicaba, sem rumo. Fiquei quase um mês. Foi quando apareceu uma amiga, veio junto com o marido e me disse: “–Vamos voltar agora mesmo, ou você irá perder a sua escola!”. Eu disse-lhe: “–Aparecida, não sei se vou voltar a lecionar!”. No mês seguinte voltei a lecionar, meio sem rumo. Eu já estava lecionando na Adutora Rio Claro, antes de Santo André. Quando surgiu esse ensino, mais do que depressa fui atrás do padre Meirelles pároco da Igreja Nossa Senhora das Graças, ele arrumou uma sala fui até a prefeitura, me inscrevi, no mês seguinte estava nomeada. Wladimir de Toledo Piza como Prefeito do Município de São Paulo, tomando conhecimento da falta de vagas para crianças em idade escolar, criou as Escolas Primárias Municipais, rompendo com o Convênio Escolar que a prefeitura mantinha com o Governo estadual e implantou 2.000 escolas em um ano. Para viabilizar o orçamento as construiu em madeira, por serem de rápida execução e de baixo custo e adaptou outras, precariamente, em garagens e associações de bairro, visando atender a demanda anos depois elas ganhariam prédios definitivos. Com o passar do tempo a prefeitura construiu uma escla, a Escola Municipal Cidade Vargas. Nessa escola permaneci por 17 anos. Fui designada para dirigir uma escola em Campo Limpo, no Jardim das Rosas. Para chegar na escola tinha que tomar tres conduções, incluindo onibus e taxi. Ia de onibus até o Largo Treze. De lá em diante ia de taxi.

A senhora chegou a conhecer algum outro moço, após o falecimento do Hélio?

Depois que o Hélio faleceu tive um convite para ir para a Serra do Navio, Território do Amapá, para lecionar lá. Fui, fiquei seis meses. Uma companhia americana tinha arrendado um território por cinquenta anos, tinham feito uma cidade em Macapá. No Porto de Santana embarcavam o minério de manganês, ficava a cinco horas da Serra do Navio, onde havia uma cidade que eles fundaram  Terezina. Implantaram um sistema administrativo tipico americano. Fui para dar aulas a filhos de funcionários brasileiros. Voltando a São Paulo continuei lecionando, com o passar do tempo após morar em apartamento próprio, por conveniência pessoal, passei a morar em um pensionato. Havia uma professora aposentada cujo filho tomava refeições aos sábados no pensionato, o advogado Francisco Dantas Pinheiro. Ambos tinhamos por volta de quarenta anos. Casamos na Igreja Santa Terezinha, em uma travessa da Avenida Angélica. Permanecemos casados por 15 anos.

DENISE OTERO STORER


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 16 de agosto de 2014.

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

http://blognassif.blogspot.com/


http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADA: DENISE OTERO STORER

 



O amor de Denise Otero Storer pelas artes plásticas, pelo cinema, pela literatura, ela considera como um presente dado pelo seu pai Telmo Otero, Denise desde pequena o acompanhava aos Salões de Belas Artes. Os primeiros salões que Denise freqüentou eram realizados nas dependências da FOP- Faculdade de Odontologia de Piracicaba, a Rua D.Pedro II esquina com Rua Alferes José Caetano. Ele chegava a sua casa e dizia à Denise: “- Hoje vou levá-la a abertura do Salão de Belas Artes!” Ela era ainda muito nova, mas gravou em sua memória Levava-a ao cinema para ver Cantinflas, Sarita Montiel, Jerry Lewis, ele também adquiriu coleções de Monteiro Lobato para que Denise pudesse ler. Proprietário da Casa Triângulo – comércio de materiais para construção, fundada em 1950, Telmo Otero presidiu a ACIPI- Associação Comercial e Industrial de Piracicaba de 1977 a 1991, entre os fatos que marcaram sua gestão, um deles foi a construção da sede da entidade uma obra que começou a ser idealizada por presidentes anteriores a Telmo, mas que foi colocada em execução em sua gestão, conforme previa um projeto na década de 70. Telmo Otero sempre foi muito influente junto a sociedade piracicabana, no exercício de suas atividades na ACIPI agiu com grande dinamismo, deixando um legado de obras e princípios comerciais que até hoje estão presentes em nossa sociedade. Denise Otero Storer é nascida em Piracicaba a 19 de setembro de 1951 ela e Maria Tereza são filhas de Telmo Otero e Anesis Antonia Bragaia Otero. Denise Otero casou-se com o engenheiro civil Cesar Marcom Storer. Recebeu diversos prêmios: Aquisição (1991, 1995, 1996), Medalhas de Ouro (1996, 1998), Medalha de Prata (1991) e Menções Honrosas (1991, 1994, 1996), em Salões de Artes Plásticas de Piracicaba, Araras, São João da Boa Vista, Amparo e Franca. Fez diversas exposições individuais em diferentes locais de Piracicaba. Foi membro de comissões organizadoras, de seleção e premiação de diversos Salões de Arte além de capas de “folder” e folheto turístico.


Seus primeiros estudos foram em que escola?

O curso primário foi no Grupo Escolar Moraes Barros, Da. Neide foi a minha primeira professora. No terceiro ano minha professora era Dona Maria José. Eu tinha muita vontade de ficar sócia da Biblioteca Municipal, que na época ficava na Rua Alferes José Caetano esquina com a Rua Voluntários de Piracicaba. (Um casarão centenário, que recentemente foi demolido para dar lugar a mais um espigão no adensamento populacional). Foi uma grande alegria o dia em que me tornei sócia, houve a necessidade de ser acompanhada da minha mãe como adulto responsável. Até hoje gosto do odor característico de livros! A meu ver os novos recursos tecnológicos tablet, PC, ou simplesmente tablete não substitui o livro. Gosto de frequentar sebo (Palavra para designar livro de segunda mão).

Após concluir o primário qual foi o próximo curso que você fez?

Entrei no Jeronymo Gallo e no Instituto de Educação Sud Mennucci, onde fui classificada em segundo lugar. Optei em estudar no Sud Mennucci, na época as mães gostavam que as filhas fizessem o curso Normal, já era um diploma. Tive aula com Dona Zelina, Seu Argino, Lino Vitti, Evaristo, Benedito de Andrade, Godoy. Era no tempo em que o bonde virava na Rua José Pinto de Almeida, sentido da Rua XV de Novembro. Tínhamos os Cinemas, Polyteama, Broadway, Palácio.

Você tocava algum instrumento na famosa fanfarra do Sud Mennucci?

Eu só participava do desfile, não tocava nenhum instrumento. Eu convivi logo no comecinho do curso a existência de um muro que separava a entrada das meninas e dos meninos. Logo depois tiraram o muro.


Quem era seu professor de arte?

Tinha um professor de desenho, o Seu Costa, mais conhecido como “Costinha”, ele foi um professor de desenho que tinha muita consideração pelo meu trabalho, ele sabia que eu tinha uma coisa especial com relação a desenho. Foi o primeiro professor de desenho a me ensinar a tirar no natural. Enquanto todo mundo estava fazendo desenho geométrico ele colocava umas caixas para que eu fizesse um pouquinho de desenho artístico. Ele me deu algumas diretrizes de desenho artístico. Quando eu era criança lembro-me que meus pais compravam cadernos de desenho feito de papel jornal e lápis de cor. Eu desenhava meu mundo ali. E até hoje é assim! O meu processo criativo está muito ligado com o que eu vivo. Por isso também tenho várias fases de trabalho, depende muito da época eu necessito transmitir algo que estou vivendo ou observando. São todos tipos de emoções que procuro transmitir. Posso dizer que não pinto “comercialmente”. Sempre contei a minha história através da minha arte.

Olhando ao acaso uma pintura sua, sente-se um convite para vivenciá-la. Como você consegue transmitir esse sentimento ou ele existe apenas nos olhos de quem vê a tela? 

Essas coisas fazem parte da minha história. A carrocinha que você vê pintada no quadro é aquela que vinha na porta da minha casa para vender verduras.

Nesse quadro em especial, a carrocinha está ambientada em um ambiente rural, na tela ela foi inserida de acordo com algum processo trabalhado por sua inspiração?

Não é algo imaginário, e sim alguma coisa que existe. Toca o meu coração. Lembra alguma coisa da minha infância.

Toda essa riqueza de detalhes como você consegue transportar para a tela?

Isso envolve técnica, saber definir planos, saber dar volume no trabalho, saber trabalhar no primeiro plano. Isso é um aprendizado, que não é adquirido instantaneamente. Demanda um tempo para dominar essas técnicas. A emoção é o último fator, quando você consegue dar emoção a um quadro é após todos esses ingredientes terem feito parte de você. A técnica é a asa que me permite voar na minha criatividade. Só que para voar eu necessito ter asas! Para criar alguma coisa eu tenho que dominar essa coisa. Existe uma diferença entre errar e distorcer. O erro eu faço mesmo sem querer. Cometo o erro porque não sei fazer. A distorção não, eu sei fazer e quero fazer diferente. É proposital.

Você formou-se como professora normalista quando concluiu o curso no Instituto Sud Mennucci?

Já sai do Sud Mennucci com aulas de desenho pedagógico, aulas de desenho geométrico. Permaneci no Sud mesmo, dando aulas. Por pouco tempo dei aulas também, no Jerônimo Gallo. Quando me formei tinha por volta de 18 anos. Sempre gostei de dar aulas, tenho facilidade de passar as informações ás pessoas, elas me entendem bem. Faço analogias para que fique mais fácil o entendimento. Eu gosto do que eu faço. E gosto de passar adiante o que sei. Assim como sempre estou aprendendo com outras pessoas.

Você prosseguiu nos estudos?

A minha paixão era fazer Belas Artes. Era um curso que só tinha em São Paulo.

Qual foi a reação do seu pai, Telmo Otero, com relação a esse desejo da filha?

Ele não permitiu de jeito nenhum! Tentei encontrar alguma faculdade que eu pudesse fazer, mas que tivesse relação com arte. Escolhi Letras. Fiz Literatura Inglesa, Americana, Portuguesa, Brasileira. Quando conclui a UNIMEP já saí com aulas. Era a primeira aluna da classe. Comecei como professora. Logo me deram tudo, laboratório de línguas, o colegial inteiro, noturno. De manhã e a tarde eu dava aulas de artes para cerca de 100 alunos, uma escolinha de crianças, adolescente, que ficava na casa da minha mãe mesmo, na Rua do Rosário, 133. Eu devia ter uns 20 anos, percebi que tinha que fazer uma opção, ou ficava com a arte ou com o inglês. Só que a arte sempre falou mais alto, e infelizmente deixei o Instituto Piracicabano. Foi um período interessante, levei minha arte para lá também, fazia teatro, interpretava William Shakespeare, levava discos do Elton John, na época traduziamos letras, eu desenhava na lousa, naquela época não tinhamos os recursos que existem hoje. Era uma aula artístitica. Acabei por optar só pela arte. Casei-me aos 24 anos, tive os filhos Cesar e Beatriz. Èramos estudantes quando eu e o meu marido Cesar Marcom Storer nos conhecemos, eu tinha 17 anos ele tinha 19 anos.

Denise, você transmite sentimentos especiais com sua arte e as pessoas se manifestam a respeito. Algumas de suas obras quando postadas na rede social é motivo de muitos elogios.

Embora não sejam explicitos as pessoas percebem os nossos sentimentos. Quando faço uma obra é essa emoção que carrego dentro de mim que coloco ali. Eu trabalho com a verdade, não me importo com o que os outros pensem a respeito. Essa arte é a minha vida, eu escrevo através dela.

Quais são as técnicas de pintura que você mais utiliza?

A principio comecei com o óleo, era a técnica mais conhecida, com mais facilidade de encontrar material. Por volta de 1990 a prefeitura patrocinou um curso na Pinacoteca Municipal, com um professor, Norberto Stori, da FAAP - Fundação Armando Álvares Penteado. Ele veio para dar um curso de aquarela, por um período de dois anos. No final, dos aproximadamente 60 alunos que iniciaram o curso apenas sete alunos concluíram e formaram um grupo “7+2”.

Por  que esse grupo se chamava “7+2” ?

Éramos sete alunos que tinhamos concluido o curso e convidamos mais dois amigos para fazer parte: o Arair Ferrari e Natal Gonçalves. Durante aproximadamente uma década fizemos bastante exposições.

Quem pode matricular-se na sua escola de arte?

Qualquer pessoa que tenha interesse pela arte, desde principiantes. A partir dos doze a treze anos até sem limite de idade máxima. Tenho um aluno que entrou com dez anos, hoje tem dezesseis anos e ganhou menção honrosa no Belas Artes.

Temos grandes artistas em todas as áreas, o que falta para serem devidamente valorizados no Brasil?

É uma questão cultural. As vezes estou pintando no meu ateliê, como da rua é  possivel ver a obra que está sendo realizada, algumas pessoas passam, param, admiram, dizem que imaginam o quanto deve ser bom pintar. Geralmente acabam perguntando: “-E você não trabalha?”. Na concepção dessa pessoa pintar, desenvolver uma arte já a quarenta anos não é trabalho! Minhas obras são vendidas a um preço acessivel, só que por questões culturais gasta-se muitas vezes mais em uma bolsa do que em um quadro. 


Quantas obras você já realizou?

Quando meu marido aposentou-se, propô-se a catalogar todas as obras. Só que eu já tinha vendido muitas. Quando ele catalogou existiam cerca de 3.000 obras. Portanto deve ser um número maior.

Seus trabalhos estão em diversos países?

Tenho trabalhos que realizei espalhados pelo mundo afora. Tenho várias histórias a respeito. Um americano veio até o meu ateliê e encomendou especialmente para ele uma aquarela com o salto do Rio Piracicaba. Ele levou, enquadrou, colocou sobre a sua lareira, tirou uma fotografia e me enviou por e-mail para que eu visse. Em 2013 quando uma turma de engenheiros da Esalq comemorou 40 anos de formatura da turma fiz a capa do livro, a contra-capa e todos os trabalhos que foram presenteados aos alunos-colaboradores, fiz 23 aquarelas só sobre o prédio principal da Esalq, em angulos diferentes, nenhum repetido. A Unimep tinha um convênio com o Instituto Metodista Bennett do Rio de Janeiro, fui convidada para fazer uma exposição lá. Além de levarem a exposição, fizeram um coquetel de abertura, e deram-me a passagem de ida e volta de avião. O curioso é que essa foi a primeira vez em que andei de avião! (Denise após isso viajou para Europa, recentemete esteve na América do Norte).

Como o nosso jovem vê a arte?

Me parece que está havendo um pouco mais de atenção nesse ponto. Vejo salões, pinacotecas, escolas, excursões levando alunos com monitores explicando, isso antigamente era raro. Talvez essa nova geração se interessse mais pela arte. Em diversas cidades de outros paises, vi crianças em museus, salões de arte, discutindo cores, percebe-se claramente que em determinados locais há um grande incentivo à arte. E o Brasil parece estar caminhando nesse sentido, de educar a pessoa.

Um patrimonio mundial da cultura artística que existe no Museu de Arte Moderna de São Paulo, MASP, porque não é usufruido mais?

Muitas pessoas nem conhecem, nunca foram. Não sabem o que é uma Pinacoteca do Estado.  Vale a pena visitar só para ver o prédio maravilhoso. Eu acredito que isso vai se invertendo. As pessoas estão tendo mais acesso a cultura, a própria internet facilita.

Para quem conhece apenas um pote de tinta e um pincel, ao iniciar um curso de pintura com você, quanto tempo essa pessoa levará para ter alguma noção de arte?

Depende da pessoa, da bagagem que ela traz, tem pesssoas que já tem um certo talento. Nesse caso é só lapidar um pouco e logo estará desenvolvendo. Outras não, tem que começar do nada, mas eu acredito, não daria aula para principiante se não acreditasse nisso, na possibilidade do seu sucesso. Penso que todo mundo tem todos os ingredientes em seu interior, basta querer desenvolve-los.

Há pessoas que desenham intuitivamente , com relativa perfeição, até em cantinho de jornal, qual é o caminho que esse futuro artista pode seguir?

Sou uma professora bem abrangente, dou aula de pastel seco, pastel oleoso, aquerela, óleo, moderno, classico, acrílica. Dou aulas de artes, a colagem dentro do contexto de arte também. Tem quem goste de fazer o moderno, o abstrato.

O conceito de que arte é coisa de elite existe ainda?

Isso está errado. O artista tem que estar onde o povo está. O artista não pode ser elitizado. No meu entender, o artista não é um intelectual. Ele é um artista! Sou apaixonada por desenho, é minha arte primeira, desde criança eu desenho.

Você tem alguns quadros com paissagens européias?

Tenho! Eu fui para lá! Não pinto coisas que não vivo! Preciso sentir o cheiro,saber a cor, viver o momento. Tenho que vivenciar para transportar aquilo para a tela. Meu processso criativo é esse. Pode ser uma situação que eu esteja presenciando. Acho que a arte não pode ter barreiras, fronteiras ou limites. Cada individuo é único.

A Bienal é um evento marcante e algumas vezes saimos do recinto com a duvida se algo exposto tem o valor de arte ou foi apenas a intenção de arrumar uma bela confusão?

A Bienal tem coisas maravilhosas, tem coisas que vi lá e nunca mais me esqueci. Lembro-me de uma em que tinha um espaço, tudo em construção, vamos dizer assim, inacabada. Um monte de tijolos. Uma pá. A impressão é de que não tinha dado tempo para fazer a obra. Era a obra! Mais tarde tinha um monitor explicando a obra! Mais parecia um espaço em reforma. É uma arte conceitual, tem toda uma filosofia envolvendo aquele trabalho. Precisa conhecer um pouco a trajetória do artista para poder avaliar, por isso não se deve colocar tudo no mesmo patamar.

Além da arte, o que você gosta de fazer?

Gosto muito de ler, de ir ao cinema, musica, prefiro mais musica clássica. Toco violão.

Como é a dona de casa Denise?

Normal! Cozinho, tem dias que acho que está muito bom, outros dias acho que não.

Qual prato que você cozinha e ninguém resiste?

É o puchero, receita que herdei da minha avó!

As mudanças ocorridas com o crescimento de Piracicaba reflete nas obras do artista?

Acredito que sim, o volume de informações é maior.

O aumento da violência influencia?

Acho que já temos tanta violência na mídia, não vejo a necessidade de que eu mostre isso na arte. Tem artista que gosta do motivo social, de alertar as pessoas. É valido. Mas eu prefiro ter um olhar diferente, passar isso para as pessoas para que os olhos delas fiquem contentes. Minha filosofia de vida já prega isso. Que temos que ser positivos. Para mim é uma missão, fazer com que as pessoas fiquem felizes. Temos que puxar as coisas boas que as pessoas tem dentro de si. Quando um aluno ganha um prêmio, participa de uma exposição, sinto uma realização pessoal muito grande.

A arte de Denise Storer está ao alcance de quem desejar adquirir?

Os preços são bem acessíveis. Desde uma pequena aquarela até um quadro maior. Basta a pessoa querer e gostar.

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