PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E
MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 15 novembro de 2014.
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 15 novembro de 2014.
Entrevista: Publicada aos sábados
no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
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http://blognassif.blogspot.com/
Luiz Ângelo Zaidan Castilho,
conhecido como Chupeta, nasceu a 7 de agosto de 1957 em Piracicaba. Seus pais
Luiz Castilho e Idória Zaidan Castilho tiveram seis filhos: Roseli, Moacir,
Célia, Antonio Carlos, Ivone e Luiz Ângelo. Luiz Castilho trabalhava na zona
rural, seu pai imigrou da Espanha e tinha uma propriedade rural no Bairro do
Serrote, veio para a cidade trabalhar. Foi revolucionário da Revolução
Constitucionalista de 1932, serviu no posto de cabo, no primeiro batalhão que
saiu da Praça da Catedral em Piracicaba e dirigiu-se até a Estação da Companhia
Paulista de Estradas de Ferro, com destino a cidade de São Paulo. Toda a documentação como revolucionário encontra-se
no Museu Histórico e Pedagógico Prudente de Moraes. Anualmente o presidente da Câmara de Vereadores de Piracicaba, João
Manoel dos Santos, presta homenagem aos revolucionários
de 1932 e entre os homenageados está Luiz Castilho que é sempre representado
por Luiz Ângelo Zaidan Castilho
Ao voltar da Revolução de 1932 qual foi a ocupação do seu pai?
Ele foi
trabalhar como motorista na Viação Piracicabana, dirigindo a famosa
“jardineira”. Ele chegou a trabalhar quando o ponto de partida dos ônibus da
Viação Piracicabana era ao lado da Catedral de Santo Antonio, alí é conhecido
como “prainha” quase na esquina com a Rua XV de Novembro. Naquela época atrás
da catedral existia um chafariz. O bonde passava ao lado. Piracicaba tinha
poucos bairros, além dos bondes alguns onibus também embarcavam e desembargavam
passageiros naquele local. É conhecido como “abriguinho”. Meu pai trabalhou
também no Expresso Piracicabano que era transporte de cargas. A viagem até São
Paulo era muito demorada, a estrada era de terra. Os veículos quebravam com
mais facilidade. Depois ele passou a trabalhar como chofer de taxi, dirigia o famoso “biriba”, era um automóvel Mercedes-Benz a
diesel. Depois ele adquiriu um Simca Chambord, usava quepe, tinha uns blasers,
sobretudo, tinha que trabalhar assim, inclusive com gravata. Na época usava-se
muito o sapato tipo Luiz XV. Era o padrão exigido para ser considerado “chofer
de praça”. Na época não havia taximetro e sim uma tabela de preços que variava
conforme o destino do passageiro.
Em que local ficava o ponto de taxi em que seu pai trabalhava?
O ponto
oficial dele era o Ponto Rádio-Brasserie, ficava em frente ao restaurante
Brasserie da família Lescovar, o Zica, Gilberto, João, a Magali. Ao lado havia
o restaurante Alvorada de Oscar Nishimura. Ao lado havia a Leiteria Brasil, o
Juca do Chalé do Juca, que tinha um filho chamado Levi. Eram muito amigos do
meu pai. Tinha o Bar do Tanaka, a Baiana, Café Haiti. A Nova Aurora, que servia
lanches, estava localiza onde hoje é o Bradesco, em frente ao Poupa Tempo. Ao
lado havia o Cine Polyteama, a Bomboniere do Passarella, a Escola Cristóvão
Colombo, conhecida como “Escola do Zanin”. Eu ia ao Cine Polyteama ou ao
Boadway. Lembro-me do filme “Os Dez Mandamentos” com
Charlton Heston, foi um dos melhores filmes que assisti em minha vida. Assistia
filmes de bang-bang, seriados, Os Tres Patetas, Charles Chaplin, esse era filme
mudo. Eu era garoto, ia com minha irmã, meu irmão, ficavamos quietinhos
prestando atenção. Frequentei o Cine Colonial, na Rua Benjamin Constant, quase
na esquina com a Rua Prudente de Moraes.
Em que
escola você estudou?
Comecei a estudar
no Grupo Escolar Moares Barros, minha primeira professora foi Dona Inês
Provenzano. No segundo ano foi Dona Yone. A mãe do Deputado Federal Antonio
Carlos de Mendes Thame, Dona Carolina Mendes Thame foi minha profesora no
terceiro ano, no Grupo Escolar Moraes Barros. O quarto ano fiz com a Dona
Therezinha Rapetti. Continuei a estudar na Escola Estadual
Professor Elias de Mello Ayres a seguir estudei no SENAI, fiz o curso de torneiro mecânico,
fresador. Lá tive entre os professores o Chico Gobbo, o Lucafó. Por um curto
período estudei na Escola Indústrial, tive como professor Danilo Sancinetti.
Meu pai faleceu a 24 de janeiro de
1967.
O Chalé
do Juca ficava em que local da Praça José Bonifácio?
Quase embaixo da
Rádio Difusora havia a agência de jornais e revistas, o Balacini tinha o Café
do Bule, o Chalé do Juca foi bem antes do Balacini. Na esquina da Rua São José
com a Praça José Bonifácio era a Leiteria Brasil, ao lado era o Chalé do Juca,
antes de chegar na Rádio Difusora. Onde hoje é o Banco Safra, na Rua Prudente
de Moraes esquina com a Praça José Bonifácio era o Bar e Sorveteria Paris
antigamente. Eu frequentava ali quando já estava trabalhando na Rádio Difusora.
Tinha um pastel muito gostoso. Do outro lado da calçada tinha a loja
Eletro-Rádio Calcedoni. A padaria Vosso Paão era na esquina, onde hoje é o
Edifício Canadá, o prprietário era o Seu Alvaro Azevedo, eu entrava na Rádio
Difusora às cinco e meia da manhã, passava ali, comprava pelo fundo da padaria
dois ou três pães, ia comer na rádio.
Você
lembra-se de que havia uma fonte luminosa na Praça José Bonifácio?
Com
certeza! Tinha um chafariz, era muito bonita. Pelo fato do meu pai trabalhar
ali, as vezes para não ficar sozinho em casa meu irmão me levava até aquela
praça linda, maravilhosa. Com belas àrvores, bancos confortáveis. Alí tem o
Monumento dedicado aos Voluntários de 1932, meu irmão brincava comigo, dizia
que uma daquelas estátuas era a imagem do meu pai.
Qual era a sua idade quando sua mãe faleceu?
Eu tinha
oito meses de vida, ela faleceu em abril de 1958. Fui criado pelo meu pai, pela
minha tia Rosires Rolin, pela família. A medida em que meus irmãos cresceram
passaram a ter uma profissão. Morávamos na Rua Treze de Maio, entre Rua
Vergueiro e Rua Tiradentes, nas proximidades da Fábrica Boyes.
Com quantos anos você começou a trabalhar?
Ainda
muito novo passei a ajudar trabalhando, entregava carne para um açougue, com
uma bicicleta Monark, daquelas que tinha um cesto na frente. Trabalhava no
açougue do Seu João(Nani)Bissoli, ficava na Rua Treze de Maio esquina com a Rua
do Vergueiro. Esse açougue existe até hoje. Eu entregava carne na casa das
familias Aldrovandi, Dedini, Ricciardi. Eles sabiam que eu ia entregar naquele
horário, eu abria o portão colocava junto a porta e ia embora, logo algum
funcionário recolhia.
Isso no tempo em que a carne era embrulhada em jornal?
Primeiro
era embrulhada em um papel celofane, em seguida, embrulhava em um jornal.
Qual era a carne mais vendida naquele tempo?
Era
denominada carne de vaca. Era artigo de luxo. Eu só entregava em casa de
pessoas ricas. O pobre chegava no açougue com um ou dois cruzeiros e comprava
carne moída de segunda, ou então aquela carne que já tinha sido separada da
melhor parte da peça. Tanto depois da guerra , como depois da Revolução de 1964,
o país passou por uma crise difícil. Quem era filho de rico permaneceu rico, o
filho de pobre ficou mais pobre ainda. Na Rua do Vergueiro existia, não sei se
ainda existe, uma feira livre, nós íamos comprar óleo comestível de amendoim,
algodão, que era vendido a granel. Havia uma bomba e uma manivela no tambor de
200 litros e adquiria-se conforme o dinheiro disponível. O óleo que vinha em
lata, marcas famosas como Salada, Sol Levante, era para pessoas abastadas. Em
casa o fogão era a lenha. Comprava lenha na lenhadora situada a Rua Treze de
Maio, da família Bovi.
No fogão a lenha o fogo permanecia sempre aceso?
Acredito
que sim. Lenha não era muito caro na época. Geralmente colocava-se um toco
grande e ele fica lá o tempo todo aceso. O meu pai fazia muitas corridas
(viagens) aos sítios, para ir daqui até o Anhembi era uma dificuldade, a
estrada era de terra. Nessa época ele tinha na praça aqueles carros antigos,
Ford ou Chevrolet. Era comum o carro ferver o radiador, furar pneu. Em época de
chuva o carro encalhava, tinha que colocar correntes de aço em volta do pneu.
Muitos faziam alguma encomenda ao meu pai, ele ia entregar, nós íamos juntos.
As vezes tinha que ficar dois a três dias para consertar o carro que tinha
quebrado na estrada. Muitas vezes ia a pé até o destino para avisar que o carro
tinha quebrado, ou até a casa mais próxima. Vinham com a carroça para auxiliar.
Algumas vezes tinha que esperar chegar a peça, que nem em Piracicaba tinha,
vinha de São Paulo. Eram carros importados. As pessoas que moravam em colônias
em sítios, fazendas, faziam pedidos ao meu pai. Produtos mais específicos como
enxoval, por exemplo, meu pai adquiria em São Paulo. Aproveitava a viagem e
trazia todo tipo de produto que era encomendado. Ele era um misto de taxista e
comerciante. O nome do meu pai é Luiz Castilho, mas no sítio apelidaram-no de
Moacir. Então diziam: “-Moacir, preciso que na semana que vem você traga tal
coisa!” Levava muito querosene que o pessoal pedia. Chegava ao sítio, a pessoa
as vezes falava: “- Moacir leve aquele porco!” ou “-Leve tantas galinhas, ovos
!”.
Após ajudar a entregar carne no açougue
onde você foi trabalhar?
Fui
trabalhar em uma oficina de tratores, como lavador de peças na Ritamil de
propriedade de José Alexandre Zanin, Nelson Rios e Irineu Ambrozano. Eles
trabalhavam muito com os tratores “URSUS” A Ritamil ficou representante da CBT
do Brasil, permaneci lá até por uns quatro anos. Tinha que lavar a peça
primeiro com óleo diesel, batia um jato
de água, deixava secar, lavava novamente com gasolina, depois dava um banho de
glicerina. Eu deixava a peça do jeito que eles queriam.
Como é que você passou a frequentar o rádio?
Naquela época
poucos tinham televisão, as coisas gostosas aconteciam no rádio. Meu pai
trabalhava no ponto de taxi em frente a Rádio Difusora de Piracicaba PRD-6. O
João de Oliveira, que é o nosso técnico aqui na Rádio Educativa de Piracicaba,
trabalhava na rádio Voz Agrícola do Brasil, a noite. Havia um programa de um
amigo meu, o Domingos Almeida Alves Costa, o Bolinha, era uma rapaz muito
bacana, um dia me convidou para ir até o seu programa. Passsei a ir. Um dia ele
me deu um gravador enorme, e disse-me: “-Vamos ver se você passa em teste de
rádio!”. Mandou-me ir até a Escola Estadual
Monsenhor Jerônymo
Gallo entrevistar alunos, professores e o diretor que era o Professor Lineu
Cardoso. Fui todo empolgado. Eu devia estar com uns 15 a 16 anos. Foi ai que
comecei a trabalhar em rádio. Acabei sendo o reporter estudantil, fiz uns
quatro ou cinco programas, fazia ótimas perguntas. Era mais direcionado aos
alunos. Eu ia até o Jerônymo Gallo de bonde. Pegava o bonde em frente a Casa
Oliveira, na esquina da Rua Prudente de Moraes com Rua do Rosário, descia nas
proximidades da Tatuzinho, fábrica de aguardente. De lá ia a pé até o colégio.
Eu estava muito empolgado, só que não ganhava nada. Nessa época meus pais já
tinham falecido, eu morava com meus irmãos. Meu irmão mais velho, Moacir, o
Tidinho, já tinha a propria oficina auto-elétrica, consertava velocimetros,
limpadores de parabrisas. Hoje ele é o eletricista de automóvel mais antigo de
Piracicaba. Atualmente ele tem oficina na Rua D.Pedro, ao lado do China-In-Box.
Um outro irmão, o Antonio Carlos, montou o Peru Auto-Elétrico.
Você continuava a frequentar a rádio?
Eu comecei a frequentar a Rádio Difusora, isso por
volta de 1973. Em 1974 passei a trabalhar na Rádio Difusora como operador. Em 1
de janeiro de 1975 fui registrado como Operador de Som da Rádio Difusora. A
proprietária era Dona Maria Conceição Figueiredo. José Roberto Suave era o
diretor. Luiz Hercoton era o gerente da rádio. Trabalhava com disco de acetato,
em 78 rotações, 45 rotações. Quando entrei na Difusora uma das primeiras coisas
que fui fazer foi com o Luigi Américo Martani que era o técnico geral da Rádio
Difusora e o Arildo José Pelligrinotti que era seu ajudante, fui aprender no
estúdio da rádio a gravar em acetato. Gravava publicidade em acetato. Trabalhavamos
com quatro pratos de toca-discos, dois trabalhavam na rotação 45 rpm e 78 rpm
(rotações por minuto).E outros dois em 33,45 e 78 rpm. A publicidade não era
tão simples como é feita hoje, tinhamos que acertar tudo aquilo rapidamente.
Era uma loucura! Alí que nascia o técnico bom, o sonoplasta do rádio. Depois é
que veio o gravador de rolo, trabalhei com 4000DS AKAI, AKAI 4000D, com todos
os modelos da AKAI que você possa imaginar. Quando comecei a trabalhar na Rádio
Difusora tive a oportunidade de trabalhar com esporte e jornalismo. A
transmissão do jogo do XV de Novembro, a equipe da Rádio Difusora, composta por
Ary Pedroso, Erotides Gil, Nadir Roberto, Benedito Hilário, Luiz Gomes de
Oliveira, que era o plantonista junto comigo, Rubens de Oliveira Bisson,
Orlando Murillo, Dalgo Migliolo, Ulisses Mike, Jamil Netto, Idalicio
Castellani, Waldemar Bília.
Qual é o seu conceito sobre o trabalho em rádio?
Não é você
que escolhe trabalhar no rádio, é o rádio que escolhe você. É um trabalho
diferenciado. . Você pode fazer todo tipo de curso, se o rádio não escolher, a
pessoa não irá trabalhar em rádio.
Quanto tempo você
permaneceu na Rádio Difusora?
Trabalhei
de 1974 a 1979 na Rádio Difusora de Piracicaba. Fiz alguns trabalhos para a
empresa SETA Serviços de Reflorestamentos, de propriedade de João Hermann
Netto. Naquela época o salário em rádio eu acho que era até melhor do que hoje,
O João Hermann gostava muito de mim, quando foram inaugurar o Teatro Municipal,
o Teatro Losso Netto, o João me disse: “Você quer continuar trabalhando ainda
em rádio? Tem uma vaga no Teatro Municipal para sonoplasta. O teatro tinha
acabado de ser inaugurado eu entrei, foi em 1979. A primeira peça em que
trabalhei foi “Gota D`Agua”. Foi uma coisa tão linda! No fim eu fazia
sonoplastia, iluminação, contra-regra. Tinha que participar dos ensaios. Quando
vinha uma peça de fora, passavam o roteiro, ensaiava, na hora do espetáculo
estava tudo em ordem.
Você
nunca sentiu vontade de ir para o palco?
Muitas pessoas me perguntam: “- Você nunca sentiu vontade
de ser locutor?” Respondo: “-Não! Eu prefiro fazer a minha parte nos
bastidores”. Acho muito gostoso o trabalho de bastidor. Quem aparece no
trabalho é o locutor, mas atrás do locutor tem que ter um grande técnico.
Sonoplastas, eu acredito que em Piracicaba são raros, o João de Oliveira, eu, são os que conheço. Os
demais são operadores de som, operador de áudio, operador de mesa de som, nós
dois trabalhamos sem roteiro, da forma artesanal. Hoje é muito comum a pessoa
sentar à mesa com um roteiro, um mapa, Com o tempo o locutor e o técnico
entendem-se apenas com o olhar, sinais. Alguns técnicos nem imaginam o que seja
um BG, que é o fundo musical. ( BG é derivada de background é
descrito como um pano de fundo, ou seja, alguma coisa que está em segundo plano,
mas que é perceptível). Eu admiro muito a diretora da Rádio Educativa
Municipal, ela fez uma transformação na tecnologia da rádio, quem não
acompanhar as novidades que ela trouxe para nós, simplesmente a pessoa está
fora do mercado. Atualmente temos que estarmos
atento aos computadores da emissora, o tempo todo, temos que trabalhar com
previsão do que irá acontecer após a apresentação imediata.
A Rádio Educativa passou por muitas mudanças?
A diretora da Rádio Educativa de Piracicaba,
Jaqueline Santana, ao assumir a rádio revolucionou todas as áreas. Colocou equipamento
de ponta, reciclou o treinamento do pessoal, Nossa internet era acessada por 50
pessoas ao dia. Hoje são 10.000 pessoas que acessam diariamente. Hoje a nossa
rádio é ouvida no mundo todo.