PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E
MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 21 fevereiro de 2015.
Entrevista: Publicada aos sábados
no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços
eletrônicos:
Do alto dos seus 87 anos, Alcides
Barbieri impressiona pela sua disposição.Tem uma grande
paixão: amúsica. Com
voz possante e afinada, relembra e canta sucessos dos mais afamados cantores e
compositores. Com um memória prodigiosa, não erra na letra nem tropeça no tom.
Canta com a alma. Ainda se apresenta em shows que são realizados no Lar dos
Velhinhos de Piracicaba, onde faz muito sucesso com suas músicas e interpretações.
Alcides Barbieri é filho de
Antonio Barbieri e Maria Bossi, nem sempre a esposa assinava o nome do marido,
era um habito difundido por alguns responsáveis pelo registro do casamento. A
26 de junho de 1927, Alcides nasceu na Vila Rezende, na primeira casa que
existia logo no inicio da Avenida Rui Barbosa, á direita. Essa casa foi
demolida recentemente com a construção de mais uma ponte sobre o Rio
Piracicaba. Os pais de Alcides tiveram quatro filhos: Fioravante, Ernesto,
Alcides e Martinho.
Os pais do senhor casaram-se em
que localidade?
Eles casaram-se em um bairro
próximo a Artemis que na época era conhecido como Porto João Alfredo. De lá
vieram morar em Santa Terezinha, que naquele tempo era chamada de Corumbataí.
Depois é que mudaram o nome para Santa Terezinha. De lá mudaram para o bairro
Piracicamirim. Mais tarde mudou-se para a Vila Rezende. Meus pais e os pais do
meu pai, meus tios, todos moravam em uma mesma residência.
Qual era a atividade profissional
deles?
Meu pai era lavrador, passou a
trabalhar no Engenho Central, onde se aposentou. Exercia a função que era
denominada de feitor, tomava conta de uma turma de trabalhadores.
A linha de trem da Estrada de
Ferro Sorocabana passava nos fundos da casa onde o senhor nasceu?
Passava! Quando nós mudamos dessa
casa eu era uma criança muito pequena ainda. Mas, da linha da Estrada de Ferro
Sorocabana lembro-me muito bem. Quantas
vezes eu embarquei nela. Ia até o bairro Recreio. Quando tinha uma festa em
Santa Terezinha, festa da igreja tomava o trem na Vila Rezende, na Estação
Barão de Rezende e ia até o Corumbataí. Essa estação ficava próxima aonde
funciona hoje um posto de gasolina, no final da Avenida Rui Barbosa. Nessa
época morávamos mais abaixo, próximo onde é atualmente o Bairro Nhô Quim que na
época não existia ainda. Ali era um brejo. Mudamos para lá, foi onde me criei, onde
é a Escola Estadual MonsenhorJeronymo
Gallo era tudo pasto, quanto coelho do mato existia ali! No ano de 1950 mudamos
para uma casa que construimos na Avenida Dona Francisca. Na época a rua era de
terra.
Onde ficava a Estação Montana?
Pertencia ao Corumbatai, era para cá do Rio
Corumbatai. Eu descia do trem ali quando ia à Corumbatai (Hoje Santa
Terezinha). Dali ia a pé. Nós brincávamos que a Estação Montana era grande,
tinha muito movimento, tem a estação e um pé de mamona na frente!
Tem uuma história, que alguns dizem ser lenda, de que um maquinista morava
junto a linha do trem e desceu do trem em movimento sofrendo grave acidente. O
senhor ouviu falar a respeito?
Lembro-me desse caso. Aconteceu na linha da
Sorocabana. Nós os conheciamos por Zé Magro. Ao que consta a esposa dele estava
gravida, ele foi pular, ele deixou o ajudante, foi pular e sofreu um acidente
grave. Ele morava um pouco antes da Estação Barão de Serra Negra. Isso foi a
noite. Conheci o Valler, que tinha armazém e máquina de beneficiar arroz. O pai
dele chamava-se Angelo Valler. Ali na linha do trem do Engenho Central, antes
de chegar na Estação de trem da Sorocabana, ele cortava a Avenida Rui Barbosa,
a gazolina era tranpostarda em tambores, em um caminhão, ele foi atravessar ali
e bateu na máquina do trem do Engenho Central. Pegou fogo. De onde eu morava
escutava o barulho da explosão dos tambores de gasolina. O maquinista tentou
salvar a locomotiva, perdeu a vida, o nome dele era Vicente Capaldi. Hoje na
saída para Limeira tem um viaduto com esse nome.
O engenho tinha locomotivas próprias para trazer a cana-de-açucar para moer
no Engenho Central?
Tinha vários trens, eles puxavam cana das fazendas
Santa Rosa, São José, Capim Fino, eles usavam a linha da Sorocabana também, que
era da mesma bitola, tinham fornecedores de cana proximos ao Porto João
Alfredo, Santa Olímpia.
O senhor lembra-se do bonde?
Lembro-me, o ponto final dele era
na Estação Barão de Rezende, que nós chamávamos de Sorocabana. A Avenida Rui
Barbosa era de terra ainda, pedregulhada. O bonde percorria a Avenida Rui
Barbosa nos dois sentidos, assim como o trânsito. O pessoal de sítio passava
por ali, com cavalo, carrinho de tração animal. Tinha um carrinho, com um
tanque de água que molhava a Avenida Rui Barbosa, para não levantar poeira. Era
da Prefeitura. Lá no bairro São Luiz,
que tem a Capela São Luiz, ali nós chamávamos de Bimboca. Tinha um senhor que
era funcionário da prefeitura, ele pegava água, com um tanque pequeno sobre uma
carroça, para distribuir água. Não tinha luz, não tinha água encanada. Essa
água era para beber ou usar em alimentos. A maioria das mulheres trazia as
roupas para ser lavada na beira do Rio Piracicaba.
Seus primeiros estudos foram
feitos em que escola?
Estudei até o quarto ano primário
no Grupo José Romão. Minha primeira professora foi Dona Carmem. O professor do
quarto ano era o marido da Dona Carmem, Seu Jarbas de Oliveira Joas. Entrei no
grupo escolar em 1935 e sai em 1939.
O pai do senhor nessa época
exercia qual atividade?
Ele já trabalhava no Engenho
Central,
O senhor começou a trabalhar com
quantos anos?
Aos doze anos conclui o grupo
escolar. Já arrumaram um serviçinho para mim, tinha uma fábrica de vassouras,
na Avenida Rui Barbosa, de propriedade de Giovanni
(Joane) Ferrazzo, fabricava as vassouras marca “Elefante”. Quando ele mudou a
fábrica para o bairro da Paulista é que passaram as ser vassouras da marca
“Canta Galo”.
Em que local da Avenida
Rui Barbosa ficava a Fábrica de Vassouras “Elefante”?
A fábrica ficava no lado direito de que ia no sentido
centro bairro, ficava após o local onde mais tarde foi a Fábrica Tatuzinho. O
Joane morava na casa situada na frente, e nos fundos tinha um barracãozinho,
com uma entrada pela lateral da casa. A palha utilizada para fazer vassoura ele
adquiria na Argentina.
O senhor fazia o que na fábrica?
Comecei como ajudante, pegar o material para o
vassoureiro. No fim aprendia fazer a vassoura, fazia umas cem vassouras por
dia, era um moleque ainda.
A vassoura era costurada com arame ou barbante?
Fazíamos a vassoura no arame, em
uma máquina. Depois vinha o trabalho do costurador. Vassoura cinco fios.
Vassoura de veludo, de latinha, de cinco fios.
Como era uma vassoura de veludo?
A vassoura de veludo, na
cabecinha dela era enrolado um paninho de veludo! Só que era uma vassoura maios
do que as outras. Era mais luxuosa. Havia uma prensa, onde a palha era
prensada, o costurador fazia tudo na mão. Depois co o temo adquiriram uma
máquina elétrica. Era uma máquina americana. Permaneci trabalhando nessa
fábrica até completar dezoito anos. Com dezessete anos e meio eu fiz o Tiro de
Guerra.
Onde ficava o Tiro de Guerra?
Era na Rua do Rosário, onde hoje
me parece que é a Escola Industrial. O prédio onde era o quartel do Tiro de
Guerra está lá ainda. Após seis meses, tivemos que sair de lá, o Tiro de Guerra
passou para junto a Estação Sorocabana, onde permanecemos servindo mais seis
meses.
Faziam exercícios, marchas?
Fazíamos marcha de vinte e quatro
quilômetros. Fizemos dois acampamentos. Um deles foi adiante de Santa
Terezinha, fomos a pé. Permanecemos por duas noites acampados naquele local. Tínhamos que colocar estacas e
ficarmos cobertos com toalha que lavávamos de casa eram amarradas nas estacas.
Tínhamos que deitar no chão mesmo. Dormíamos de farda, foi o último ano em que
o Tiro de Guerra usou perneira. Não era coturno. Nosso calçado era um sapatão.
Era época de guerra, a Segunda Guerra terminou em 1945. Eu servi o Tiro de
Guerra de 1944 a 1945.
Havia a preocupação de fossem
mandados para combater na guerra?
Havia muito comentário, mas era
pouco provável que isso acontecesse, o governo tinha muita gente no Exército.
Quem era o comandante do Tiro de
Guerra de Piracicaba naquela época?
O sargento comandante nós
chamávamos de Sargento Ayres. O sargento da minha companhia era Júlio Cesar Huffenbaecher.
Como eram as aulas de tiro?
Nós íamos de bonde até a Esalq.
Depois descíamos até a beira do rio, onde havia um stand, onde praticávamos
tiros com fuzil. Quem não acertasse o alvo tinha que retornar outro dia para
repetir a posição. Comigo nunca aconteceu isso, nunca precisei retornar para
repetir o tiro. No inicio o alvo ficava a uns 20 metros de distância,
gradativamente íamos aumentando a distância entre o atirador e o alvo, até
chegar a uma distância de 150 metros, com a arma apoiada. Quando conclui o Tiro
de Guerra, sai da fabrica de vassouras e fui trabalhar no Dedini. Entrei no
Dedini a 2 de janeiro de 1946. Sai do Dedini aposentado em 1977. Quando fui
trabalhar no Dedini já se pagava o INSS, que era denominado na época de IAPI.
Qual era a função do senhor assim
que entrou no Dedini?
Entrei como ajudante. Mas depois me
tornei mecânico ajustador na seção de moendas. Comecei a ajudar a montar
moendas, depois me colocaram na banca para fazer um serviço mais delicado,
existia uma bombinha hidráulica que a moenda tinha que ter, trabalhei com
embreagem de moenda, enchia os mancais de metal patente ( uma liga metálica que
vem em barras).
O senhor conheceu o Comendador
Mário Dedini?
Conheci! Assim como seu filho
Armando Dedini. Conheci Leopoldo
Dedini.irmão do Comendador Mário.
Quando o senhor entrou na Dedini
ela já era uma empresa de grande porte?
Era uma empresa grande. O Dedini
depois adquiriu um terreno na saída para São Pedro, local próximo ao hoje
Jardim Primavera, ele transferiu a fundição para lá e montou uma laminação.
Quando foi instituído o décimo terceiro salário, sendo obrigatório o seu
pagamento, o Dedini já fazia isso há muito tempo!
O senhor freqüentava a igreja?
Ia sim! Na época existia a Igreja
da Imaculada Conceição, que após muitos anos passou a matriz. Freqüentei muito
a igreja que depois foi demolida. Ali eu fiz a minha primeira comunhão.
Casei-me com Maria Schiavinatto. Tivemos três filhos: Valter, Lucrécio e a
Iria.
O senhor morava na Vila Rezende
quando trabalhou no Dedini?
Morava perto, onde hoje é a Travessa Dom Luiz de Bragança.
O senhor chegou a conhecer a plantação de sisal feita por Virgilio Lopes
Fagundes?
Não me lembro dos donos, mas me
lembro da empresa. Ali onde é o bairro Algodoal, foi feita uma plantação de
algodão que deu origem ao nome do bairro. Depois é que foi montada essa
indústria de corda de sisal, ali foi planta a pita, tanto que as vezes alguém
perguntava para outro: “Aonde você vai?” recebia a resposta: “ Vou lá no pitá!”
já usando o sotaque piracicabano!. Quando começaram a construir no Nhô Quim o
bairro recebeu esse nome por causa do Esporte Clube XV de Novembro, o dono do
terreno insistia em dizer que era Vila Ducatti, mas a população adotou o Nhô
Quim.
O senhor conheceu bem o Engenho
Central em funcionamento?
Conheci! Quando estava de férias
no grupo escolar, eu ia levar almoço para o meu pai lá no Engenho.
O Engenho Central teve uma
divisão de bebidas fabricadas por eles, o senhor sabe onde ficava?
A bebida veio depois, mas não era
feita dentro Engenho Central, eram feitas nas proximidades de onde está
instalado o Shopping Piracicaba.
A Chácara do Dr. Kok ainda
existia?
Nós chamávamos de Jardim do Kok.
Ficava bem em frente a Igreja Imaculada Conceição e era uma área fechada.
Atualmente é a Praça Imaculada Conceição. O Dr. Kok morava mais para baixo, eu
não cheguei a conhecê-lo. Ele tinha uma pessoa que tomava conta daquela área.
Ele era dinamarquês.
O senhor conheceu o Mário Arias Vitiel, popularmente
conhecido como “Mário da Baronesa”?
Conheci muito! Tanto ele como seu filho, seu genro. O
Mário era uma pessoa muito boa. Foi dono de praticamente toda aquela região,
Jardim Monumento, e imediações, era uma enorme extensão de terras. A Baronesa
de Rezende eu não cheguei a conhecer.
O senhor gosta de música desde jovem, como surgiu esse
gosto pela música?
Eu escutava uma música pelo
rádio, era uma época em que nem rádio as pessoas tinham facilidade em adquirir.
Eram feitas festas de igreja por oito dias. Tinha o serviço de alto-falantes
que tocavam aquelas músicas, um moço oferecia uma musica a uma moça, uma moça
oferecia música a um moço. Havia o “Correio Elegante”, onde se escrevia um
bilhetinho e mandava entregar a pessoa que despertava interesse. A diversão
nossa era essa.
Quando o senhor começou a cantar?
Eu era um moleque, via alguém
tocando violão, chegava lá e como eu tinha uma voz bem elevada, com o tempo fui
pegando o tom das músicas. Naquele tempo quem fazia um enorme sucesso eram:
Vicente Celestino, Carlos Galhardo, Francisco Alves, Gilberto Alves, Dalva de
Oliveira, Linda Batista, Emilinha Borba, Aracy de Almeida.
O senhor fazia serenatas?
Fiz muitas! Eu só cantava. Às vezes íamos três; outras vezes o
violonista Vicente Munhoz e eu. Fazíamos serenata para uma moça, para uma
família.
A partir de que hora eram feitas
as serenatas?
Depois da meia noite. Estava tudo
quietinho. Geralmente na passagem do ano tinha um bandolinista que era vizinho
meu, ia junto com o Vicente Munhoz, e eles me convidavam para cantar, na
passagem do ano. As famílias abriam-nos a porta, ofereciam algo para beber ou
comer. Éramos muito bem recebidos. Havia muito respeito.
Se a moça gostasse da musica ela
acendia a luz e abria a janela do quarto. Isso acontecia?
Olha....eu fiz abrir muitas
janelas! Algumas vezes eu vinha passear na Praça José Bonifácio, na volta, ao
passar pelo Instituto Baronesa de Resende, tinha umas internas do colégio. É um
prédio assobradado. Como não tinha acompanhamento, parava ali, cantava uma
música sem acompanhamento, sem nada. As internas vinham na janela lá em cima.
As freiras não reclamavam?
Em uma festa na casa de uma
pessoa amiga estavam presentes uma freira e a minha mãe. A freira disse à minha
mãe: “- Eu soube que tem um filho da senhora que canta. Ele canta sempre
embaixo da minha janela!”. Minha mãe disse-lhe: “-È o meu filho que canta!”.
Quando parava ali no Colégio Baronesa de Rezende cantava umas duas músicas
apenas. E ia embora.
O senhor freqüentava o Mirante?
O passeio da gente era no
Mirante, geralmente domingo a tarde, após o meio-dia.
O senhor chegou a nadara no Rio
Piracicaba?
Nadei muito ali na Rua do Porto
onde havia um trampolim. Lembro-me das Festas do Divino.
E o Restaurante Papini, o senhor
conheceu?
Quantas vezes eu fui cantar no
Papini! Além do restaurante tinha jogo de boche. Erotides de Campos, dizem que
ia sempre no Papini. Eu não o conheci.
E o Seresteiro Victório Ângelo Cobra (COBRINHA)?
Fiz o programa do Cobrinha
diversas vezes na PRD-6! Estive na casa dele, cantando com ele, com o filho
dele. Ele ia viajar, ou queria descansar um pouco, perguntava se eu podia fazer
o programa para ele. Eu ia, era aos domingos. Uma meia dúzia de vezes eu fiz o
programa dele. Eu cantava, tinha o acompanhamento do regional com Orlandinho no
acordeom, Crispim no violão, Zé Moreno no violão, o Tampinha no bongô, era o
chamado Regional D-6. Aos sábados tinha um programa com o patrocínio do Café
Morro Grande, a gente cantava também. Era com um auditório. Cheguei a cantar no
Clube Coronel Barbosa.
Se alguém o convidar para fazer
uma serenata o senhor aceita?
Se vierem me convidar, ainda sou
capaz de atender ao pedido.
A música tem muito a ver com a sua disposição, sua saúde?
Acho que se não fosse a música eu
já estava morto!
O Teatro Juca Chaves fica no
bairro Itaim Bibi em São Paulo dentro do enorme prédio onde anteriormente
funcionou o Mappin Itaim e hoje funciona nos moldes de um shopping, sendo a
rede Extra a loja ancora. Após alguns acertos de agenda o Menestrel Juca Chaves
assentiu em conceder uma entrevista. O artista que nos palcos sempre teve um
brilho intenso, com seu humor refinado, entra caminhando de forma simples, quase
despercebida, cumprimenta de forma afável, pede licença por uns minutos e vai
tomar algumas providências muito rapidamente. Sua história e trajetória são
vibrantes. Conheceu todos os políticos de alto escalão. Inserido no meio
artístico sempre foi uma das grandes estrelas de uma imensa constelação de
artistas. O que impressiona positivamente são a simplicidade e humildade de
Juca Chaves. Extremamente preocupado com seus compromissos, obedece rigidamente
sua agenda, respeitando com rigor o horário pré-determinado. Uma qualidade rara
entre o meio artístico. Uma conversa com Juca Chaves pode levar horas de
momentos agradáveis. Além da grande experiência de vida, ele nunca perde a
oportunidade de inserir em seus comentários uma frase sutil, de extrema inteligência,
que às vezes requer do interlocutor um raciocínio rápido para acompanhá-lo. Teve
sólida formação musical. Estudou com Guerra-Peixe (harmonia, contraponto e
fuga), Oswaldo Lacerda (teoria musical e solfejo), Lurdinha Amaral (violão e
canto), Scupinari (violão clássico), Bernardo Federowsky (regência), Fausto
Antão Fernandes (canto orfeônico), Nair Medeiros (piano) e Maynard Araújo
(curso de folclore). Fundou o movimento Juventude Musical Brasileira, com o
Maestro Eleazar de Carvalho, de quem foi também aluno. Dos 16 aos 19 anos de
idade, teve intensa produção poética. Nessa época, sua composição "Nas
águas de Saquarema" chegou a ser interpretada por Leny Eversong na Rádio
Nacional. Foi um dos organizadores, em 1955, da revista "Rua Augusta
Chic", onde publicava suas poesias e crônicas
Juca Chaves em tom de humor diz
lembrar-se do dia em que nasceu: “-Lembro-me de 1938, no dia 22 de outubro, às
cinco horas da manhã, quando eu nasci, no Rio de Janeiro”. Minha mãe deu-me o
nome de Jurandyr porque ela estava lendo o livro Iracema de José de Alencar, e
na quinta página, se não me engano está escrito: “-E ai surgiu na floresta o
índio Jurandyr, o que veio trazido pela luz do sol, alto, moreno, forte,
bonito.” Este cara sou eu! Minha mãe surtou! Ela não tem culpa! E ai nasceu o
Jurandir!.
Qual é o seu nome completo?
É Jurandyr Czaczkes Chaves, como o nome Czaczkes é austríaco, quando
meu pai naturalizou-se brasileiro, estava fugindo da guerra, ele não queria
saber de nada da Europa, do Leste Europeu. Naquele tempo era obrigado ao
naturalizado ter um nome simples, eles escolheram o sobrenome Chaves. Czaczkes
é o nome do Premio Nobel da Literatura em 1966, Shmuel
Yosef Halevi Czaczkes. O nome do meu pai é Josef Czaczkes, aqui no Brasil passou a
ser José C. Chaves. Ele montou a primeira fábrica de plasticos do Brasil a
Industria de Baquelite Artepast, no Brás, ele foi um precursor desse produto no
Brasil. Fechou em 1945, após a guerra. Tinha 400 operários. Situava-se na Rua
Maria Marcolina, outro dia passei por lá, já mudou todo o Brás. Para ir até a
fábrica eu passava por duas porteiras de trem, indo daqui do Jardim Europa. Meu
pai, como todo europeu, morava no Jardim Europa, na Rua França, ele queria
morar na Rua Austria mas já estava toda ocupada. Eu era menino, vi asfaltar
oJardim Europa. Sentava no portão de casa e ficava olhando aquelas máquinas
trabalhando. Vi nascer o Jardim Europa.
Qual é o nome da sua mãe?
Clarita Wainstein. Sou descendente judaico. Minha esposa Yara diz que sou judeu do Paraguai.
Só fui à sinagoga para ver casamento dos outros. Eu casei sem sigagoga sem
nada, casei-me em casa, só com registro, completamos agora 40 anos, casamos-nos
no dia 2 de fevereiro de 1975, dia de Iemanjá na Bahia. Casei-me no Rio de
Janeiro, mas no dia2 de fevereiro em homenagem a Bahia. Conheci Yara em 1974,
no dia 15 de julho. Eu sou um heroi e ela também é uma heroina.
Juca você estudou em qual escola?
O primeiro ano foi na Escola Britânica de São Paulo (British School), situada no
Jardim Paulistano. Sai por causa do horário que não se ajustava com o da minha
irmã , Dra. Marly Chaves.
Você lembra-se do nome da sua primeira professora?
Claro! Dona Nicota! O jardim de infância estudei no
Jardim Escola São Paulo, era um jardim de infância pequeno que havia no Jardim
Europa. Ai fui estudar no Mackenzie, fiz a Escola Americana no Mackenzie, fiz o
ginásio, e um ano e meio de científico, no meio decidi que como não iria ser
engenheiro deveria estudar o clássico. Consegui recuperar um ano e meio e
formei-me no clássico. Fui fazer faculdade de direito. Fiz o curso do
Castelões, aprendi português com ele. Ai estorou a minha carreira. O meu disco
começou a ser tocado no Brasil todo.
Quando você descobriu sua veia artística?
Desde garoto! Fazia pidas, cantava modinha no Clube
Pinheiros, fazia judo, natação, futebol.
Pessoas do seu circulo mais próximo de amizades conhecem uma
história onde você se defendeu de um assalto.
Isso foi ha dois anos, foi no Itaim Bibi, naquele tempo o
bandido não matava. Quando vi que o assaltante pegou no meu relógio, como eu
faço aikido
também, foi fácil eu sair.
Você pratica esportes
ainda?
As vezes. Quero voltar a treinar judo. Sou mais
judoca.
Sua esposa Yara pratica
alguma arte marcial?
Fazia Jiu-Jitsu comigo! Mais ai eu teuma aula a mais do que ela sempre!
Escondido! Estou inteligente ou não? Se voce deixar a mulher chegar primeiro
meu filho....
Como é a sua
relação com a colonia judaica no Brasil?
Eu adoro a colonia! Gosto de Israel, sou um fã de Israel.
Mas não sou fã das religiões, nenhuma,
eu acho que religião é bom para segurar uma parte de uma população que
precisa. Sou um livre pensador, não diria nem agnóstico. Um ateu ecumenico.
Minha esposa é “criston”. Conheço todas aigrejas de todo lugar do mundo por
causa dela. Conheço mais igrejas do que sinagoga. Sinagogas frequento em função
dos amigos. Tenho uma mágoa com a colônia, tenho 60 anos de carreira e nunca
tive um patrocinador judeu! Sou o único artista brasileiro que fala que é
judeu! O Silvio Santos fala hoje. Mas nunca falava antes. A colonia cobra. Eu
digo-lhes: “-Por quê vocês não me patrocinam?” Para fazer show na Sociedade
Hebraica de São Paulo eu pago! Pago a taxa de teatro. E lota, lota, lota! Eles
sempre medando uma driblada, são mais inteligentes do que eu! Eles são judeus
praticantes! Eu não, sou um judeu do Paraguai!
Você já foi à Israel?
Já estive em Israel em 1970. Fui para ver uma namorada
carioca que morava em Israel. Eu queria conhecer um kibutz. Achava que eram
cabaninhas, no meio da floresta. Sabe aquelas idéias? Em 1970 já eram prédios
com departamentos de altíssima segurança. Sabendo o que é evolução. Hoje é a
quarta potência do mundo! Eles e os japoneses são os maiores cientistas do
mundo.Eu vejo um povo que conseguiu tirar água de pedra e areia. Lá não tinha
nada, foi um erro de Moshe ou Moisés, era gago, está na bíblia que
“era balbuciante”, ele disse: “ Vamos para Ca...Ca...” Todo o mundo entendeu
Canaan, não, era Califórnia! São erro que não podem acontecer na religião!
A sua carreira como artista estourou em que
ano?
Comecei em 1956, com JuscelinoKubitschek quando fiz a música “PresidenteBossaNova”.
Não havia Bossa Nova ainda. Eu já estava
cantando Bossa Nova por ter ouvido essa palavra de Stanislaw Ponte Preta: “Isso
que é bossa, é bossa nova!”. A música estourou no Brasil, eu fiquei sendo
“Presidente da Bossa Nova”. Eu afirmava: “- Não sou Bossa Nova, odeio Bossa
Nova, parece música de impotente, é tudo pequenininho: carrinho, patinho,
renatinho, antoninho”. Eu gostava de modinha que é a mais importante música
brasileira, ela veio com a corte portuguesa em 1745, como música erudita. A
modinha era musica erudita portuguesa. Agora mesmo, graças a cultura do PT, que
luta muito pela cultura nacional, acabaram com a Lei Rouanet. Destruíram a Lei Rouanet
que ajudei a criar para ajudar artistas. Porque todos são intelectuais do PC,
acham que sabem tudo. Então veio um idiota e disse: “–Modinha não é erudita, é
popular porque já termina em “inha”, se fosse erudita terminava em “ao”.”
Perguntei: “-E ópera? Como fica nessa história? É popular também?”. Modinha é
do período clássico, erudita é a forma, a cultura da música, da arte. Isso é
difícil de fazer entender. Tenho mais de quarenta livros, sobre a história da
musica brasileira, que eu conheço, não é dicionário da Editora Abril. Você pega
a internet procura Wikipedia, aquilo é feito por garotos de 18 anos. Se
procurar o meu nome irá parecer que é outra pessoa. Eles não sabem nada, são
garotos que ouviram dizer, puxam o Google, e é cultura feita de pesquisa
imediata. Se você quiser saber quem descobriu o Brasil está lá: “Pedro Álvares
Cabral”. “O nome correto dele é Pedro Álvares de Gouvêa Cabral”. Gouvêa porque
ele era o décimo terceiro filho não podia ter o nome da família Cabral. Mas
quando ele descobriu, ou melhor, foi descoberto pelos índios, o Brasil foi dos
índios, os grandes protetores da terra, o índio diz que a terra não tem dono, a
terra é nossa dona. Eles têm uma cultura maior do que a do povo religioso em
qualquer lugar do mundo.
O índio tem mais cultura do que o branco?
Muito mais, que é a cultura da natureza. Eles vivem com o
que a natureza tem e respeitam a natureza. O índio só mata para comer. O animal
também só mata para comer. O branco não, mata para roubar, é o posseiro, é o
sem-terra, estes não gostam da terra. O índio respeita. Onde encostam os
sem-terras, ligas desses movimentos, primeiro eles não gostam de terra, pouquíssimos conseguiram tocar uma fazenda que já é dada. Deveriam fazer um
exame ante: “-Você gosta de terra? Você sabe trabalhar na terra?”. O Brasil não
gosta de estudar, o governo não investe no estudo, não interessa, porque se o
povo tiver cultura, souber ler e escrever, já irá ter problemas menores na
saúde e na educação e cultura. O Brasil não tem educação nem cultura. E cada
vez está piorando, nunca piorou tanto como nos últimos 18 a 20 anos. Eles sabem
disso. O Brasil de JuscelinoKubitschek
era bom porque tudo foi promovido para 50
milhões de habitantes. Que já é muito! Hoje tem 210 milhões de débeis mentais e
analfabetos. Como salvar o Brasil? O cientista Dr.
Elsimar Metzker Coutinho procurou fazer o que foi
negado pela igreja: controlar a natalidade! Como fez a China, a India e todos
os países da Europa. O Papa que tem dogmas, como toda religião, a judaica,
protestante, católica, muçulmana, ele, o Papa, sabe que a biblia católica diz que
você deve ter filhos. Ele afirmou que apesar de sermos feitos para termos
muitos filhos não precisamos faze-los como coelhos: dois filhos está bom! Ele é
muito inteligente. Eu falo que ele é da linha judeu-comunista-argentina. Porém
é onde ele está salvando a igreja católica.
Como foi a reação da população com relação a sua musica “Presidente Bossa
Nova”?
Foi total! Primeira sátira-política-musical. O disco
foi gravado em 78 rotações. Fui na cidade, na Rua Boa Vista, e tinha uma
lojinha com os dizeres: “Fazemos Discos”. Você dava vinte cruzeiros e ele fazia
o disco. Com aquele disquinho fui até as rádios para mostrar. Ninguém deu bola.
Ai eu fiz um programa com Aracy de Almeida, que depois ficou muito minha amiga.
A Aracy começou a me apresentar a todo mundo na Rádio Bandeirantes, minha
carreira estourou, fui o maior vendedor de discos na época. Conheço tudo de Noel Rosa, Caymi, Luiz
Gonzaga, Lamartine Babo, desses eu conheço a obra toda. Para mim são os máximos
da musica brasileira. Os que faziam modinha como Catulo, Pixinguinha, Donga.
Tenho uma foto de 1960 onde estão: eu sentado no chão, toda a verdadeira MPB:
Pixinguinha, Donga, Bide, é uma turma da verdadeira Musica Popular Brasileira. A
modinha brasileira começou antes, quando Carlos Gomes fez modinha, as óperas
dele são trechos de modinhas, ai vem um idiota e diz que modinha não é erudita!
Eles não sabem nada, vão ser criticosa porque não conhecem música. Pergunte se
tocam algum instrumento? A arte é subjetiva. O que eu sei de pintura? Não,
porque o pintor quiz dizer, ele não quiz dizer coisa nenhuma, as vezes ele
pintou alguma figura feminina que o atraiu. Um dia eu estava vendo um programa
de dois pintores famosos, atuais, dois homens cultos da pintura, criticos de
pintura, eles criticando um quadro dubio, se seria uma falsificação ou não. Um
deles disse: “-Aqui eu acho que o pintor quiz dizer isso!” O outro critico
disse: “Não! É um quadro cristão, em que Cristo carregava uma mulher nas
costas!”. O brasileiro é um preconceituoso nato. Um dia alguém disse-me que eu
era homofóbico, ela tinha ouvido dizer e nem sabia o que significava.
Disse-lhe: “É difícil! Tenho duas filhas negras! Na minha família tem dois gays
morando comigo!”
Quantas filhas você tem?
Quando estavamos na Bahia adotamos duas: Maria Clara
que está com 16 anos e Maria Morena, porque ela é mais clara do que Maria
Clara. Elas moram conosco. Para onde vamos elas estão sempre conosco. Elas
foram adotadas como filhas. Aliás é uma história bonita, quem fez a Lei da
Adoção foi JuscelinoKubitschek
em 1950. A primeira menina adotada no Brasil
chamava-se Maria Estela Kubitschek . Até então dizia-se
“-Peguei para criar”. Ou então diziam, “aquelas moreninhas”, não são morenas,
são negras! Uma é negra outra é mulata, que são as glórias das raças
brasileiras. Acho que o branco( entre os quais me incluo) veio para estragar o
mundo. Você que o negro na Africa, tudo que ele faz é puro. E foi jogado para
baixo. Ele sofre um preconceito maior do que o judeu sofre até hoje. O judeu se
defendeu porque tinha um raciocínio mais lógico, não era europeu. Mas o negro
foi escravizado sempre. Os melhores musicos do mundo são negros. Sem negros não
haveria futebol. Ai vem um idiota e diz : “Negro não pode entra no trem!”. Já
estão sendo pegos na Inglaterra. Aqui não acontece nada, mas lá quem afirma
isso vai para forca. O maior jornalista sobre esportes do mundo, deu uma
entrevista, se não me engano no programa “Roda Viva”. Quando o tema foi
corrupção no esporte ele jogou o Brasil no fundo do poço. O Brasil é o país
mais corrupto no mundo do esporte, comprou cinco copas! A custa do João
Havelange, eu gostava do João Havelange, achei que ele ajudou o futebol
brasileiro. Sem ele a Inglaterra ficaria com todos os juizes ingleses.
Perguntaram: “Na Inglaterra não tem essa corrupção?”. Ele respondeu: “
–Corrupção não, tem estupidez!”. Segundo ele, o inglês é estupido, mas não é
corrupto. Se for corrupto, politicamente ele é crucificado, ele vai para a
forca! Não tem brincadeira, aliás isso acontece em qualquer país civilizado do
mundo. Nos Estados Unidos se um individuo der um tiroem um policial ele já é
preso. Sem direito a defesa. Fica oito anos preso. Após oito anos irá ser
julgado por ter atirado em um policial, se matou o guarda já é cadeira
elétrica. Igual aqui, o individuo mata a mãe, duas crianças, se apresenta a
autoridade policial como réu confesso, e sai pela porta da frente.O delegado
com a maior cara de pau afirma que não houve um motivo para o crime! No Japão
que é um país mais digno eles pegam a espada e se matam sozinhos, não precisa
pedir para ele se matar. Eles tem vergonha da palavra “roubar”. Um dia um
jornalista brasileiro estava no Japão e perguntou: “ Voces tem tudo limpinho
aqui, vocês tem leis?” A japonesa respondeu-lhe: “Não. Aprendemos com nossos
pais!”. Eu pergunto, como um pai, semi analfabeto, que mal ganha para o
sustento, mora na favela mixa, não é a boa favela que existia quando eu nasci,
tinha uma baba que morava na favela, tinha um pessoal que tocava violão. Hoje a
favela é o reduto final, a única alegria deles é o carnaval, que é bonito,
muito criativo. A única festa bonita do Brasil é o carnaval.
Juca você iniciou no mundo musical muito jovem?
Quando fiz a música tinha dezesseis anos, eu tenho um
programa na Rádio Gazeta, que deixei gravado, foi a primeira vez em que apareci
em rádio e televisão. A Regina de Moraes, que lia, disse: “-Vamos apresentar
pela primeira vez no rádio, o mais moço e promissor talento da música popular
brasileira, trata-se de Jurandyr Chaves, um jovem de 16 anos e muitos sonhos
pela frente. Canção de Jurandyr Chaves "Nas águas de Saquarema" canta Leny
Eversong acompanhada da Orquestra Sinfônica da Rádio Nacional, maestro
Guerra-Pexe que era meu professor. Eu comecei na rádio, quando fui ao Rio de
Janeiro, fui para ser criticado, queria me mostrar, aí recebi um apoio muito
bom de Lamartine Babo, Vinicius de Moraes e Jobim. Eu era garoto, achei
formidável aquilo tudo.
Outra música sua que marcou época foi “Por Quem Sonha Ana Maria”
Aquilo marcou porque houve uma musa verdadeira.
Perguntavam-me se ela existia, eu respondia que sim, era do Colégio Des Oiseaux. Todo mundo
do colégio a conhecia. Eu ia a porta do colégio a freira vinha, a madre
superiora vinha. Ana Maria era uma moça linda que nunca deu bola para mim não.
Eu era muito pequenininho para ela, ela era mais alta, bonita, Ela dançava
comigo, eu punha um tamanco e ela tirava o sapato. Ela era gentil. Fiz umas
seisa oito modinhas para ela, muito importantes. Mas fiz mais modinhas para
Yara, umas doze ou quatorze modinhas. Para mim as melhores.
A Yara é
a mulher da sua vida?
Foi e continua sendo! Até então
todas passavam rapidamente. Eu gostava de namorar. Sem maldade, gostava de
namorar. Falavam que eu só namorava modelos e mulheres altas. Namorava modelos
porque era mais fácil de entrar e de sair e altas porque todas eram mais altas
do que eu. E namorava meninas bonitas porque de feio chega eu. Se eu tenho
charme , como Jorginho Guinle, mais baixinho do que eu! Nunca tive complexo.
Juca poe-se a cantarolar: Eu sou baixinho, feio
e narigudo/dizem que eu sirvo só pra dar recado/mas na verdade eu sirvo para
tudo/até chifrudo eu sou sem ser casado!/eu tenho chifre mas não tenho queixa/
se bem que a testa fique bem maior/até que é bom quando a mulher nos deixa,
agente sempre arruma outra melhor.Essa é a vida que eu sempre quiz,/ eu sou cornudo mais eu sou feliz,/
essa é a vida que eu sempre quiz,/ eu sou cornudo mas eu sou feliz. Peguei essa
música e gravei na Itália, como a do Nazo: Nariz,
ai, meu nariz,/Como falam mal deste nasal que é tão normal,/Ouço diariamente
muita gente infeliz
Você em seus shows,
contando piadas ou cantando, faz seu público raciocinar?
Faço sim. Humor não é
para gargalhar, gargalhar é uma forma de rir grosseira. Como a mulher que grita
durante a relação sexual, grita tanto que o vizinho processa. Como fiz uma vez
que processei uma vizinha quando minha filha disse-me: “-Pai estão matando um
gato!”. Ainda fui processado por ela! E o juiz deu ganho de causa para ela! O
grande problema do Brasil é que o poder mais corrupto do Brasil é a justiça. A
justiça é injusta, imbecil. Essa mulher morava no andar acima do meu. Por isso
hoje só moro em cobertura, quando subo a escada eu respeito. Se o meu cachorro
está fazendo barulho, põe um chinelinho de tecido no cachorro.
Como se chama o seu cachorro?
João! Outros que tive
antes tinham nomes judaicos: Josef, Salomão. Tive dois jegues na Bahia, comprei
por R$50,00 cada um. Um colecionador de cavalos raros, disse-me: “-Eu soube que
você tem um haras Juca!”. Disse-lhe: “Tenho duas crias! Paguei cinqüenta!”. Ele
disse-me: “- Cinqüenta mil! Eu também comprei um árabe agora, cinqüenta mil o
cavalo!” Um dia a Tônia Carreiro foi jantar em casa, o jegue encosta nela, na
mesa, ela olhou o jegue ao lado. Deu um grito. Disse-lhe: “-É o garçom!”. Muita
gente me telefonava dizendo: “quero ver suas crias!”. Coloquei escrito assim:
“Haras Duas Marias. Lentas, velhas e sem dentes, aqui estão as nossas crias,
independentes. Abaixo assino humilde Mimosa Van Rothschild”. Quando nasceu o filho dela dei
o nome judaico: Davids Jacob Salomon Van Rothschild
II. Quando eu chegava de viagem eles gritavam durante meia hora. O jegue é um
animal muito fiel, é um animal puro. Ele não tem mistura. Não é como a raça
brasileira. Só se faz jegue com outros jegues. Usou-se o jegue em todo o Oriente,
como meio de transporte. Cristo andava de jegue, é o que tinha na época. A
humildade não é virtude, a virtude é você ser bom. Você não é bom pelo que se
faz notar, você é bom quando falta e sentem a sua falta. Ninguém morre quando
deixa uma saudade. Se você deixa saudade você não morreu! Quando penso em Mozart em Tchaikovsky, penso em amigos meus!
Você é conhecido como “Menestrel”, como surgiu esse cognome?
Quem me deu esse nome foi Flávio Alcaraz Gomes, era o maior repórter do
Brasil, da Rádio Guaíba, que fez a revolução de Jango Goulart. Eu ganhei um
revólver do Brizola. Ajudei a acabar com o parlamentarismo. Juca canta a
música; Constituição ,constituição/acabou-se que tormento/já
temos o parlamento falta o rei que papelão./Que papelão, que papelão/o canhão
foi superado, pois Brizola, com Machado foi fazer revolução./Revolução,
revolução/foi as armas, o gaúcho/o Lacerda deu o repuxo e o Dennis ficou na
mão/Ficou na mão, ficou na mão/pois prendia todo mundo/o regime foi pro
fundo,/marechal foi pra prisão./Foi pra prisão, foi pra prisão/e o Brizola nem
deu bola,/o Jango botou cartola/e
acabou a revolução.
Você era amigo do Jango?
Eu
gostava do Jango, ele era o Vice-Presidente, igual aos outros vives, igual ao Itamar
Franco.
Há uma composição sua dedicada à Primeira Dama, esposa do Jango?
Juca
Canta a modinha:
Dona Maria Tereza,/diga a seu Jango
Goulart,/que a vida está uma tristeza, que a fome está de amargar,/E o povo
necessitado, /precisa um salário novo,/mais baixo pro deputado, /mais alto pro
nosso povo./Dona Maria Tereza,/assim o Brasil vai pra trás,
quem deve falar, fala pouco,/Lacerda já fala demais./Enquanto feijão dá sumiço,
e o dólar se perde de vista,/o Globo diz que tudo isso,/é culpa de comunista./Dona
Maria Tereza,/diga a seu Jango porque,/o povo vê quase tudo,/só o parlamento
não vê,/Dona Maria Tereza,/diga a seu Jango Goulart,/lugar de feijão é na
mesa,/Lacerda é noutro lugar háháhá!
Aos dezessete anos comecei a trabalhar
como jornalista e fui entrevistar o Carlos Lacerda, cheguei à redação do jornal
Última Hora, de Samuel Wainer, ela
dizia de mim: “ O Juca é uma quadrilha sozinho”. Ele mandou entrevistar o
Lacerda. Perguntei-lhe: “- Quem é esse burguês?”. Samuel então me disse:
“-Aprenda garoto, antes de falar burguês, como esse pessoalzinho que começou na
UNE, um autêntico burguês que falsifica carteira de estudante, Lacerda é um
cara importante, já derrubou cinco governos! Fui falar com Carlos Lacerda.
Apresentei-me: “Dr. Carlos, sou jornalista, foca, estou começando, eu queria
que o senhor me ajudasse porque estou começando agora. Ele respondeu-me: “-Vou
te ajudar na entrevista!” Deu-me uma tremenda entrevista. O jornalista tem que
ser humilde, hoje a nova geração é mais simpática, mas houve um tempo que era
terrível. O jornalista vinha, o fotografo vinha por traz sem educação nenhuma
tirava sua fotografia. E achava que devia atrapalhar tudo, que ele tem o
direito da Lei de Imprensa. Não é assim. Todos têm o seu limite, para isso que
existe a Lei de Imprensa. É o que falo sempre: “Imprensa é coisa séria, por
dinheiro são capazes de publicar até a verdade.”. Isso ocorre no mundo todo.
A imprensa é o quarto poder?
É o quarto. Mas tem um poder maior que o da imprensa que é o terceiro,
que é o gay. Hoje metade dos gays já estão na imprensa, então já uniu, ficou
uma força maior. Porém é um poder instantâneo, eles deixam-se sentirem-se
poderosos. É um comunicador, assim como nós somos artistas. Qual é o dever da
imprensa? É falar a verdade! A verdade doa a quem “doar”.
Você generaliza que a imprensa é constituída por um
grande numero de gays?
A maioria! No Brasil gay evoluiu. É uma escolha sexual que é justíssima,
até entre os animais existem os gays, eu, por exemplo, seria um caracol, tem os
dois sexos. Mas não tenho, nem um! Eu gosto de um sexo só porque sou
preguiçoso, já lutei com a minha mulher por quarenta anos seguidos, está ótimo!
E ter satisfação! Já é maravilhoso! Eu quero ver pela frente, mas é um gosto.
Gay faz o que ele quer. Só que tem uma coisa, o gay é sofisticado, alegre.
Geralmente cineastas, intelectuais. Geralmente! O viado é histérico! Faz
aqueles gestos, aquelas coisas, desnecessárias. Eu não entendo porque. Por que
um homem, que nasceu homem, tem que fazer assim com a mão? Ele se acha chique
fazendo assim? Pelo contrário! Parece uma mulher vulgar da sociedade. Uma
imitação vulgar das coisas. Assim como
uma menina que quer ser lésbica porque ela gosta, não precisa ficar coçando
embaixo. Não precisa ser macho! As lésbicas não gostam de macho. Elas gostam de
mulheres. Assim como homem gosta de homem. São direitos e deveres que eles têm.
Eu acho uma coisa tão simples, e tem gente publicando e matando. Você sabe que
as religiões mataram gays no mundo todo. Tchaikovsky foi um. Está provado hoje
que ele morreu não porque tinha cólera, ele morreu porque o Czar mandou matar.
Era uma vergonha ter um gay como o maior músico do país! Do mundo! Acho Tchaikovsky
acima de todos.
Quantos Presidentes da República do Brasil você conheceu?
Sobre Getulio Vargas eu ouvia falar. Na época eu era menino. Eu era
garoto de colégio, quando ele morreu deu aquela alegria: “Hoje não tem aula
porque Getúlio morreu!”. Getúlio era o Pai da Pátria e a Mãe do Rico. Após
Getulio veio Dutra, fui preso por causa disso. Eu tinha uma coruja a quem dei o
nome de Maria Gaspar Dutra. Fui chamado no DOPS, o capitão muito simpático, me
recebeu, perguntou-me; “Ô Seu Menestrel, você sabe por que tem o nome de Maria
Gaspar Dutra no seu animal?” Disse-lhe, que não era um animal, mas sim uma ave
e assim se chamava porque era a cara do Dutra. A coruja tem a cara do Dutra! O
capitão perguntou-me: “Só por isso?”. Respondi-lhe: “ O que mais teria?”. O
capitão retrucou: “–O senhor sabe quem é a Maria Gaspar Dutra?”. Respondi-lhe: “– Claro! Minha coruja!”. O
coronel perguntou e quem eu me inspirei para dar esse nome. Respondi-lhe que
foi no Dutra. Ele perguntou-me: “-Tem certeza?”. Respondi-lhe: “-Absoluta!” Ao
que ele me disse: “- Então o senhor está livre!”. Foi a minha vez de perguntar
do que era acusado. Ele disse-me então: “ –Maria Gaspar Dutra é a mãe do
Marechal Dutra!”. Anos depois encontrei-me com esse capitão, já promovido a uma
patente mais alta, ele me perguntou em tom de brincadeira: “-Como está a
Maria?”.
Juca você fez uma música de grande sucesso sobre a compra
de um porta aviões feita pelo Brasil.
Juca, poe-se a
cantar:
Brasil já vai a
guerra, comprou um porta-avioes/Um viva pra inglaterra de oitenta e dois
bilhões/Ahhhh! Mas que ladrões/Comenta o zé povinho,/Governo varonil,/Coitado
coitadinho,/Do Banco do Brasil/Há há, quase faliu/A classe proletária/Na certa
comeria
Com a verba gasta diaria/Em tal quinquilharia/Sem serventia./Alguns bons
idiotas,/Aplaudem a medida,/E o povo sem comida,/Escuta as tais lorotas/Dos
patriotas.
Porém há uma peninha/De quem é o porta avião/É meu diz a marinha,/É meu diz a
aviação/Ahhhh! Revolução!/Brasil, terra adorada/Comprou um porta aviões/Oitenta
e dois bilhões/Brasil, oh pátria amada,/Que palhaçada.
Juca Chaves prosegue: A música
deu um escândalo, proibiram, a censura de época proibiu, era uma censura
religiosa acima de tudo. Eu ganhei o precesso, atraves de um juiz do Rio de
Janeiro, a acusação dizia que esse garoto de dezoito anos quer desmoralizar,
afundar o porta-aviões! O juiz disse que se um garoto de dezesseis anos pode
afundar um vaso de guerra que vocês compraram, então não precisa do vaso de
guerra! No tempo da Revolução de 1964,
que poderia ter dado certo, não fosse pelas piguices religiosas, a censura era
religiosa, uma mulher definia a censura do Brasil, era a censura do artista.
Sou o artista que tem o maior numero de músicas proibidas: 68 músicas. A
primeira vez que usou-se a palavra tesão na música brasileira fui eu: Tesão
odara/ um beijo santo, se amar é tanto/ Eu te amo Yara/ ... Era uma modinha, a
censura proibiu naquela época. Isso foi em 1976 ou 1977. Porém, a censura dizia
que a mulher brasileira não estava preparada socialmente e sexualmente para
ouvir a palavra “tesão”. Eu não entendi
o que ele quiz dizer com isso, e o irmõa dela que era um intelecual e fez o
julgamento, era o sub-chefe da censura, concordou. Nós brasileiros vivemos em
função de pieguices, de caipirismos. Tipico de D.Pedro I, que não era o bom,
bom era D.Pedri II, mais habil, mais inteligente. D.Pedro I passou sifilis para
muitas negras brasileiras, deu um ponta pé no ventre da sua mulher grávida, que
causoua morte da criança. D.Pedro II era bom, queria saber o que estava
acontecendo no mundo, da Exposição de Paris em 1890 ele trouxe tudo que havia
de bom no mundo: cineminha, balão, avião, o próprio telefone ele trouxe dos
Estados Unidos. D.Pedri II era Uma pessoa exclarecida. Durou pouco, tudo que é
bom dura pouco, veio o Marechal Deodoro e quebrou a Monarquia. Não era para
quebrar naquela hora, durasse mais seis anos. O primeiro grande governante
brasileiro foi Mauricio de Nassau, que todos diziam ser judeu-holandês, era na
verdade judeu-alemão. Fugindo da Inquisição. Ele expos o nome de Nassau por que
se escondeu em Nassau, seu pai era um milionário holandês. Tempo das tulipas.
Como se sabe que ele era judeu? Porque quando foram redescobrir uma igrejinha
em Recife, cavaram, acabaram descobrindo uma sinagoga. Viram que a sinagoga
estava embaixode uma igreja. Com isso soube-se que quem chegou primeiro era
judeu. Mauricio de Nassau foi o maior governate da História do Brasil. Em seis
anos ele fez de Recife a capital das Américas. Ele e mais alguns brasileiros
compraram a Ilha de Manhattan
(Estados Unidos) dos indios Algonquin. Manhattan (Em 1610, o nome da ilha era Manahat designando em homenagem ao Rio
Maurício e ao Rio
Hudson) foi
adquirida por Mauricio de Nassau e um grupo de brasileiros e holandeses. Essa
história está escrita no Blue Bar do The Algonquin
Hotel, onde o Lula ( Luis Inácio Lula da Silva) se hospeda,
portanto é bom. Ele sabe o que é bom. Ele não é um sem-champagne, ele tem bom
gosto! Sabe o que é caviar! Pergunte ao Lula que ele sabe bem, muito bem. Existe
uma música que eu respondi ao maior sambista brasileiro hoje, o Zeca
Pagodinho,, ele é ótimo, ele fez a música do caviar: Você sabe o que é
caviar?/Nunca vi, nem comi/Eu só ouço falar/Você sabe o que é caviar?/Nunca vi,
nem comi/Eu só ouço falar...Ele fez para mim essa música, soe eu falava em
caviar nesse país! Ele fez por brincadeira. Eu sempre dei aquela idéia de
querer vender a ilusão. Mulheres, caviar, champanhe. Eu nem bebo...
Juca, você veiculou
pela mídia uma propaganda onde mencionava caviar e o automóvel Jaguar?
As propagandas
diziam: “Ajude o Juquinha a comer caviar” e “Ajude o Juquinha a comprar seu
Jaguar”. Isso é uma ação de publicidade, que, aliás, deu certo. Foi muito
divertido ver como o Zeca Pagodinho fez a música, e eu fiz uma resposta, pena
que ainda não conseguimos cantar juntos. Eu tenho a resposta: “ Você que nunca
viu, nem ouviu, ô meu/ nem comeu o tal de caviar/ caviar não é coisa só para
rico, eu explico/ basta ser pobre e ter bom paladar e aproveitar/ caviar são
ovas de esturjão então/ vá para o Mar Cáspio/ Lá esse peixe tem/ Se não souber
onde fica eu explico, dou uma dica/ Pergunte ao Lula que ele sabe bem/ e muito
bem! ( Essa modinha foi cantada apenas duas ou três vezes em shows, é
semi-inédita!).
Você é um ícone
nacional, qual é a reação dos seus fãs?
Tem gente que diz:
“Juquinha! Eu te adoro quando te vejo na TV!” Mas não paga né? Na TV não é fã,
é admirador! Fã é o que vai ao teatro e paga! E não meia! Estudante paga meia
entrada no Brasil por culpa do governo. O governo que impõe essa lei. Ensina o
estudante a lesar uma profissão que é o artista. Se ele paga meia, vale meia
pessoa. Se a culpa é do governo, porque não fica valendo meio voto? Deveria ter
uma lei, estudante paga meia, às nossas custas, que o voto dele tenha metade do
valor. Eles fazem isso para comprar o estudante. O governo brasileiro compra o
estudante brasileiro, e acredita que está dando cultura. Querem formar 4800 em
não sei o que, só que são apenas 200 vagas. Por quê? O governo não quer gastar
dinheiro nem em cultura, nem em prisão. Preso custa muito caro. O preso só irá
dar valor à sua prisão quando ele pagar pelo estrago que cometeu, se ele quebra
seu carro, arrebenta você, ele deveria pegar quatro penas, sendo que a mais
importante é: pagar o prejuízo. Só sai da prisão se pagar o prejuízo! Pagar
como? Ai meu filho, tem várias maneiras na prisão que você pode conseguir
dinheiro. Um delas é a mais comum, como existe na s cadeias muita gente, e o
governo não tem inteligência para pegar esse pessoal toda e colocar para
trabalhar na lavoura, quem trabalha na terra fica com a cabeça boa. Por que o governo não resolve? Não interessa
resolver! Deixa todo mundo junto, fazendo assim, quando saírem de lá, vão
entrar inclusive nas grandes manifestações. Para quebrar as boas manifestações.
Sou contra essas manifestações em que o povo sai calado na rua e vem a outra
para quebrar.
Você conheceu Jânio
Quadros?
Muito! O Jânio era muito inteligente e muito
culto. Tinha as respostas maravilhosas, sabia tudo. Só que ele era ligado por
um problema, a mulher dele era muito religiosa, ela mandava, por exemplo,
proibir o biquíni, ela que mandou proibir biquíni, não foi o Jânio! Ela disse:
“É uma imoralidade o biquíni!”. Ela não dizia por maldade, é que ela achava
imoral. Era aquela geração que não evolui. Como hoje vejo minha filha se
shortinho de u palmo, eu morro, mas ela é de uma geração que todas as suas
amigas usam isso. Quero dar uma bronca na minha filha, mas como posso fazer
isso se aparecem oito meninas amigas dela, adoro receber pessoas amigas, e vejo
que que todas as amigas da s minhas filhas pensam da mesma forma. Todas falam
através de um aparelhinho odioso chamado celular! Até o garoto que vai tentar
conquistar a menina não a toca, ele escreve no Whatsapp . Ai
como é bom! Ai fica rápido! Tudo errado! É uma lingua diferente. São estudantes
que se orgulham da carteirinha para pagar meia. E ai um milhão foram
reprovados, todos, 100% de reprovação na prova do ENEM! Ninguém sabe escrever
no Brasil! Uma vez coloquei um anuncio: “Quero uma secretária que saiba ler,
escrever e falar português”.
Quantos livros você já lançou?
O primeiro livri foi “Eu - Baixo Retrato”, o segundo livro nasceu depois, “O
Incrível Juca Chaves”, saiu junto com um disco. Um terceiro livro pequenininho
feito pela Editora Maltese, chamado: “A Culpa é do Governo”, é a história do
Brasil liberado pelo Vice-Presidente da Republica do Brasil, como livro didático
com humor contando a história de todos os presidentes, ficou entre os cinco
primeiros livros mais vendidos nas duas primeiras semanas após seu lançamento. Eu
quero editar o final, fui a uma editora, eles querem me dar oito por cento e
ficar com noventa e dois por cento. Eu disse-lhes: “Que tal inverter?” “-Vamos
brincar, eu sou o judeu e vocês são os palestinos. Eu fico com noventa e dois
por cento e vocês ficam com oito por cento.” Jorge Amado era muito amigo meu lá
na Bahia, tinha um grupo maravilhoso, nós tivemos grandes momentos na Bahia nós
tínhamos reuniões todas as semanas, um dia estava Fernando Sabino, Calazans
Neto, o artista plástico Carybé, e outros, quando chegou lá o editor e disse
entusiasmado: “Jorge! Tenho uma novidade ótima para você! Não precisa mais
numerar o livro! Eu disse: “-Ótima para quem?” Ficou um silêncio na mesa! É
ótimo para o editor! Não numerando ele pode dizer o numero de livros que
vendeu. Como gravações, eu vendia um milhão de fitas cassetes e recebeia só
sobre cem mil. Não havia numeração. Quando protestei todo mundo riu, o primeiro
disco numerado no Brasil foi o meu, o garoto que fez a edição numerada, a
noite, eu paguei, ele foi mandado embora da Polygram. O presidente da
gravadora, inclusive em um programada Hebe Camargo disse: “-Não existe máquina
para numerar disco”. Eu disse: “-Existe! Ela se chama honestidade!”.
Qual é a importância da memória para
o ser humano?
A memória é mais importante que o
coração! O coração eu já antei em uma das musicas”...o coração é um músculo
apenas...” A verdade é o que você aprendeu quando era criança: se aprendeu que
dois mais dois são quatro e meio, irá repetir isso a sua vida inteira. Como
repete os dogmas da sua vida. Você repete o que você aprendeu.
Quantas músicas você tem gravadas?
Trezentas e pucas. Todas compostas
por mim. Umas 10 ou 20 também entram outros compositores. Tenho parceria com
Olavo Bilac, Guilherme de Almeida, Castro Alves, só de gente bacaninha! Não
tenho parceria com mais ninguém, tudo que fiz é meu, eu erro sozinho! Gosto de
fazer errando, gosto de compor. Atualmente o Brasil não tem música, são meninos
que tocam teclado com duas notas,: sol e dó. Eram três notas antes. Com isso
nãoexiste melodia nem harmonia, somente o dedilhar. E tem que dançar com a
perna de um lado e a perna de um lado e perna de outro lado. Mais ou menos como
indio! Eu danço como indio, aprendi com o índio a dança da chuva, essas chuvas que
estão caindo nestes dias é porque eu rezo toda manhã! (risos). Danço a dança do
ídio, bato um pé para um lado, outro pé para outro. Estou tentando ajudar a
Cantareira! Aliás o desperdício de água é muito maior em função dos erros do
homem. Israel já esteve aqui no Brasil para com seus técnicos para ensinar como
se faz, não adianta, eles não aprendem que é com gotejamento. Israel tira água
do deserto. No Brasil, o nosso lençol freático na beira do mar vai de Fortaleza
a Espírito Santo. É o maior lençol freático do mundo! Senão não teria
coqueiros! O brasileiro só precisa cavar um metro! Nem precisa pedir
autorização. Não pode pedir autorização no Brasil senão o departamaneto de água
como da Bahia te rouba. Roubam! A eletricidade te rouba. Passou a se particular,
era melhor quando era do governo. Olha que ponto chegamos! É o único país do
mundo que quando tem algo privatizado piora. O Brasil diminuiu a sua potencia
de honestidade, crriatividade. Faltam tres idades no Brasil: Honestidade,
Pontualidade e como dizem os portugueses: Capacidade! Se nós tivermos esssas
três coisas, é diferente. O pessoal não bebe cerveja no Brasil, entorna. O
brasileiro não diz: tomei uma e sim tomei umas! É ua questão de educação!
Pessoas dirigindo bebados e não é preso! Nos Estados Unidos se o individuo
estiver bebado e causar um acidente ele está perdido, não tem defesa. Se não
causar acidente mas estiver bebado ele já é preso. Vai até o juiz, que bate o
martelinho e estipula a fiança em 5.000 dólares. Se o individuo não tiver fica
preso. É tão simples!
Juca, qual é sua opinião sobre o
Marechal Humberto de
Alencar Castelo Branco?
Ele foi o primeiro idealista da
parte deles. Ele cometeu um erro, muito crasso, ele era muito sério, era um
militar pensando como pensavam os militares antigamente. Ele era duro. Sua
morte , ao meu ver não foi casual. Um jatozinho vai e bate logo no avião do
presidente! Não se chegapróximo ao avião do presidente, se chega é para matar.
Foi de uma super honestidade. Conheci o Castelo. Depois conheci o Presidente
Costa e Silva que era um bonachão, simpático, mas fez uma lei muitodura que foi
o AI-5 Ato Institucional número 5, o AI -5 foi feito em um momento em que o
Brasil estava quase igual a hoje, não tão ruim! O Brasil naquele tempo por
muito menos fez uma revolução.
Porque o país tornou-se mais
passivo?
O problema mais grave é a justiça. O
maior poder corrupto brasileiro é a justiça. Por erros judiciarios passei por
maus momentos, quem me salvou foi um dos raros honestos chamado Peluso. Este
homem chegou para me salvar, na hora em que eu já estava devendo ua casa que eu
vendi, não recebi, e fiquei devendo 10 anos depois três vezes o valor da casa.
Dentro da casa tinha toda a minha coleção de quadros: Portinari, 11 Di
Cavalcanti, tantos Volpis e outras obras do mesmo nível. Eu era colecionador.
No entanto, a pessoa com quem eu estava demandando ganhava sempre, tinha três
juízes do lado, dois eu consegui colocar na cadeia. Eles esatavam envolvidos em
grandes coisas, o meu caso chocou, a própria revista Veja transportou o
individuo que armou isso tudo, me vendeu a casa, ele se diz arquiteto mas é um
decorador muito bom, ele construiu a casa com alvará de demolição. Quando fui
vender, o comprador que sabia disso, sem que eu tivesse conhecimento dessa
situaçção toda, entrou. A revista Veja
deu toda a força que ele se transformou noEmpresário do Ano de 1976. Com isso
ele conseguiu ser preso muito tempo depois no Rio Grande do Sul, quando ele
comprou a Rio Guaiba, usando a mesma tática que usou comigo. Na época ele deu
um golpe de 30 milhões. O golpe que ele deu em mim foi pequeno, mas era tudo
que eu tinha. Ha dois anos ele foi assassinado no Paraguai, pelas costas. Se
entrase no Brasil seria morto. E era apoiado por revistas, jormais. Essa é a
diferença entre Brasil e Estados Unidos, lá tem poucas leis e boas, aqui tem
muitas leis e más. Aqui cada lei tem outras cinquenta leis para defender o
bandido dessa lei.Claro que um individuo que é bandido hoje e tem um partido
que aprova é claro que ele vai querer leis que o proteja.
Você foi candidato a deputado?
Fui uma vez na Bahia, fui o terceiro
candidato, só entravam dois senadores, eu tinha só 20 dias para fazer a
campanha. Só falei quatro vezes, nunca fui andar na rua. Mas eu falei: quero
três coisas para o Brasil: Controle de natalidade, planificação familiar para
diminuir a população, obrigatoriedade de aulas de musica nos colégios, o
brasileiro nãosabe cantar, não sabe música também não sabe matemática, a música
é ligada a matemática. Isso pouca gente sabe, mas deveria saber! O terceiro
ponto é a saúde, sem saúde não adianta nem ter educação.Para que tudo isso
aconteça, temos que ter um governo culto, e não irá ter isso com os líderes que
nós temos. Ai vem a diferença, quando você tem um governo um pouco melhor, Fernando
Henrique era um homem cultíssimo, no entanto ele virou as costas para o Brasil
na sua segunda gestão. Quando encontrocom ele falo isso! É um homem cultíssimo
mas não usou acultura, no final ele já estava bonitão!
Você disse isso à ele?
Falei! Falei e cantei no
Programa do Jô que ficava por trás
acenando negativamente! E o público aplaudindo! O Jô é uma pessoa muito
inteligente, sabe fazer as coisas.
O que você achava do presidente Emílio Garrastazu Médici ?
No final ele já estava calmo! Foi
o melhor momento do Brasil economicamente, politicamente. Foi o grande momento
brasileiro da Copa do Mundo em 1970.
E as frases como “Ame-o
ou deixe-o”
Isso é aquele famoso exagero,
nacionalismo falso. Nacionalismo é você saber cantar o Hino Nacional, não
gritando, mas cantando. Não precisa colocar a mão no coração, isso é besteira!
Você vê que os americanos não ficam clocando a mão no coração, eles ficam
duros, parados, não falam, não gritam, não comentam. E cantam afinado. Acho um
desrespeito a música desafinar. Quando vejo brasileiros cantando “Parabéns a
Você” eu fico nervoso! Nas festinhas de família todos cantam: “Parabéns à você,
nesta data querida” (Juca canta propositadamente desafinado). Não sabem cantar
Parabéns! O brasileiro não canta nada, é um povo sem música! Hoje qual é a
música nacional? É o Funk, são dois acordes.
E a grande musicalidade brasileira
tão falada?
Já foi! O Brasil teve coisas
maravilhosas. Tinha letras maravilhosas, não esse negocinho de “inho”,
“ai”,”ão”. Eu procuro fazer rias ricas. Tanto queu dia uma jornalista gaúcha
perguntou-me: “Juca, tchê, Menestrel, porque tu fazes rimas ricas?” Respondi-lhe:
“-Porque as musas são pobres!” Aprendi com Guilherme de Almeida, cujas rimas
foramas mais bonitas e complexas do Brasil, ele rimava monsilaboscom ditongos, sabia
usar a poesia e o sneto. Que é uma arte. Poesia para mim, tem que ser rimada e
metrificada. Soneto. Porque senão não é poesia! Mulher que fala: “Sou poeta!”
já me irrita. Poetisa! A Dilma diz que é presidenta. Isso criou um problema
nacional. O próximo presidente tem que ser ou um homosexual ou mulher, Não pode
ser homem, teria que ser “presidento”. Ela estraçalhou a sintaxe brasileira!
Simplesmente isso! Não pode ser presidenta! Isso é ua vaidade pessoal, eu achei
que lógico, ela com aquela cara de inteligente, ela estava gozando todo mundo!
Eu sou cantanta! Não cantante! Ela dá enfase para presidenta! Antes de ser
operado fui jogar na loteria, para ganhar 240 milhões, estava precisando
realmente. Eu devia 240 mil reais. Mas eu queria 240 milhões porque acho que
resolveria meu problema “ ad eternum” (para sempre). A Yara
quando casei foi Miss Campinas, primeira bailarinha clássica, foi professora da
Claudia Raya.
Você foi
comunista?
Picasso e toda
uma turma eram todos do “partidão”. Quando fui comunista tinha um grande
prestígio. Eu tinha uns 20anos, não tinha nada para dividir com os outros. Quando
comprei meu primeiro Jaguar, vieram buscar, eu disse: “-Não! Esse eu não dou!”.
Mas você
não era comunista?
Claro, mas ai eu não queria mais
dividir com ninguém! Era um Jaguar, não era um livro! Em Portugal logo após a
revolução do cravo vermelho, tirando Portugal da maior ditadura que já vi na
minha vida, de Salazar, 80 anos, vinha a Polícia
Internacional e de Defesa do Estado (PIDE) e jogava os estudantes no Rio Tejo,
o estudante amanhecia morto. Naquele tempo era terrível, eu morei um
tempinho em Coimbra, os estudantes eram maravilhosos, jogaram as capas pretas
para eu passar por cima! Foi a mior homenagem que recebi na minha vida!
Quantos automóveis Jaguar você teve?
Dezoito! Tenho um amigo jaguarista,
que perguntou-me: “-Como você vê o óleo do carro?”. Respondi-lhe: “ Vejo em um
dos aparelhos que tem, são aparelhos ingleses, que marcam o óleo.”. Ele
disse-me: “ –Eu olho para o chão!”. O carroé baixinho e bate nas belas ruas de
São Paulo! Não são rua, são córregos! O bairro mais caro de São Paulo, que é
hoje o Itaim Bibi, o pessoal é louco!
Até veio uma mulher em casa para comprar meu apartamento, achei interessante
ela perguntar: “-Aqui é o Itaim nobre?”. Respondi-lhe: “- Não senhora, é o
Itaim pobre! Nobreza não há no Brasil minha senhora! Aqui não é um pais de
nobreza, era um pais de imperadores, não tinha reis!” Disse-lhe: “-Posso
recomendar um lugar onde tem nobreza!”. Ela disse: “-Aonde? Aonde?”. “- Em Versailles ! A senhora vai a França no Palácio de Versalhes
a senhora procura o Luis, no caso ele é o XIV, a senhora o procura, ele é
nobre, fala em meu nome, o Juca me mandou, o Menestrel mandou um abraço Luis!
Aí lá tem nobreza que não acaba mais! Tenho até sátiras a nobreza em Portugal,
todo mundo era nobre em Portugal! Nobreza não tem valor algum, é o chamado
sangue azul, mais importante é o meu sangue! Que é o roxo! Menestrel tem sangue
roxo!
Por
quê?
Não sei, dizem! Os reis se vão e os
menestréis ficam! Aqui já foram muitos! Todos os presidentes que já rodaram já
foram! Eu continuo! Já vieram para mim para ceder o orgão. Respondi: “- O orgão
eu não doou! Eu doou o piano!”.
Com relação a Piracicaba, voce tem algo
a dizer?
Eu me lembro de muita coisa de
Piracicaba. A famosa música da pamonha. Piracicaba tem seu rio famoso. Acho
aquilo uma delicia. Gosto de fazer teatro lá. É um público maravilhoso. O
grande problema do teatro atualmente é o preço do teatro, se eu cobrar R$
30,00, com a história de pagar meio ingresso, vira R$15,00, não dá! Você paga
teatro, paga despesas, paga hotel, sobra quanto?
Quantos patrocinadores você precisa
para realizar um show?
As vezes um só! Uma vez tive uma reunião com uma gerenta de
marketing do Banco do Brasil. Disse-lhe: “-Estou com vontade de ir fazer shows
no Japão!”. Ela perguntou-me: “-Quanto vai custar para o Banco do Brasil?”.
Repondi-lhe: “-Nada!” O Banco Itaú está com mais clientes brasileiros no Japão
do que o Banco do Brasil. São 240.000 Dekassegui no Japão (Descendentes
de Japonêses). Tive uma idéia. Uma boa idéia. Que é vocês não
cobrarem para assistir o show do Juca Chaves que vai para lá, a colonia
japonesa gosta de mim, para assistir o show de graça, basta ter o cartão do
Banco do Brasil. O Banco do Brasil paga o valor do meu ingresso. Vocês não estão
pagando meu ingresso, estão ganhando um cliente que paga por 100 ingressos
vendidos.
Você fez curso de publicidade?
Não, eu gostava de fazer publicidade
dos meus shows. Criei muita coisa que hoje é marca. A começar do meu boneco, o
Juquinha, quem desenhou foi Ciro Del Nero, que foi o maior decor de teatros do
Brasil. Era a pessoa que mais sabia sobre Grécia no Brasil. Sou o único artista
no Brasil que tem uma marca registrada.
Quando sairá sua biografia
autorizada?
Será minha biografia autorizada que
eu desautorizei e agora liberei. Assim que eu tiver um tempinho de sentar em
cinco dias escrevo isso.
Você vai lançar aqui na terra ou de
avião?
Quando eu lanço, faço grandes
lançamentos. Por exemplo, quando lancei o meu primeiro disco de ouro lancei do
Corcovado, falei: “- É o lançamento mais elevado da história brasileira!”.
Quando fiz meu lançamento de carreira fiz no quinto degrau do lado esquerdo de
quem sobe no Viadutodo Chá. Por causa da música: “Ultimamente o meu viver tem sido
escuro/O vil metal fez de meu bolso um inimigo/O meu sapato é uma manchete, só
tem furo/E ando mais duro que o filé que mal mastigo/Tal um foguete americano
eu sou um fracasso/Tento subir, porém, só desço neste mundo/Estou mais pobre
que cultura de ricaço/Já nem no banco onde adormeço tenho fundo//
Minha família deserdou-me, fim do amor/Me abandonou a interesseira namorada/Até
foi bom, só que fiquei "na fina flor"/Bem mais de fora do que quarto
de empregada/Hoje o meu lar é o viaduto Dona Sônia,/Aonde insone um boêmio
fez-me ser por hobby/E alí vegeto sem ter luxo ou cerimônia/Quinto degrau do
lado esquerdo
de quem sobe/Como se vê, não sou esnobe”. Fiz o
lançamento lá, dando água com açucar para os jornalistas. Perguntaram-me: “Mas
àgua com açúcar Juca?” Respondi: Tá bom! Para quem não ganha nada está ótimo!”.
Lotou de jornalistas, que acharam original. Isso que o publicitário brasileiro
não tem. Ele não é original. Poucas publicidades você vê com originalidade. Tem
sempre exceções, algumas até bonitas,
escrevo,
cumprimento. Emílio de Menezes fazia coisas maravilhosas por volta de 1920.
Juca lembra-se do famoso jingle: “Veja ilustre passageiro,/ o belo tipo faceiro/ que o senhor tem a seu
lado/E no entanto, acredite,/ quase morreu de bronquite/ salvou-o Rhum
Creosotado.” Essa publicidade marcou o Brasil, foi feita em versos. Emílio
de Menezes foi poeta, sonetista maravilhoso, só fazia trocadilhos maravilhosos.
Ele era amigo de Olavo Bilac, um dia, na Confeitaria Colombo, perguntaram-lhe
como estava o Olavo, que tinha ficado doente. Emilio respondeu: “Em casa
fazendo um tratado de versificação” (Olavo estava se tratando para ver se
ficava são). Emílio era genial! Essa genialidade acabou no Brasil! Uma ou outra
pessoa surge com uma frase genial, como a do Joãozinho Trinta: “ Pobre gosta de
luxo, quem gosta de miséria é intelectual”. Intelectual adora miséria. Filmes
brasileiros agora estão imitando filmes americanos, de morte, crime, ganhamuma
fortuna esses cineastas, para não falar
nada! Não fazer nada! Ganham valores absurdos para produzirem aqueles
cineminhas baratos, onde você ove a voz diferente do moimento da boca. Contrate um bom artista! Tanto assim quejá
aparece um ou outro já melhor. Mesmo assim o texto é fraco. O cinema brasileiro
tem que melhorar muito. Querem fazer cinema porque acham chique! A televisão é
bem feita. A Globo faz uma boa novela,
só que acho um absurdo o brasileiro ficar 50 capitulos assistimdo bobagem. Não
aprendendo nada. Poderiam colocar um
teatro de vanguarda. Você liga a televisão italiana, que é quadradinha, mas lá
tem Cyrano de Bergerac, VictorHugo, você vê grandes
obras do mundo inteiro. Mas em seriados. Aqui tem muita coisa clássica, José de
Alencar, poderia ter tanta coisa bonita no Brasil. Os clássicos brasileiros.
Mas não, ficam fazendo 50 capítulos para a mulher chegar e falar: sabe! Falando
italianado, como o paulista fala, roubando o nosso “s”, o italianoveio roubar
nosso “s” no Brasil. Eles não têm plural, é difícil para eles falarem nós
fomos. É muito divertido ver cada colônia falar, com sotaque, nós brasileiros
dizemos que os portugueses têm sotaque, nós é que temos sotaques. A língua portuguesa é de Portugal. Que é a
correta. Nós não falamos “vou ir”. “Vou ir” é um pecado para a língua
brasileira! O pessoal aqui põe dois verbos juntos, usam de “tu” para “você”. A
língua acabou no Brasil. Com o advento da internet parece que você esta
escrevendo em hieróglifos. Quando alguém manda uma mensagem para mim, muitas
vezes fico pensando: “O que quer dizer isso?”. Como vou saber que “td” é tarde?
Antes que o show acaba, vamos para Piracicaba! Tinha uma música que eu gostava
de cantar: “ Vamos Marica vamos, vamos para Jundiaí/ com tudo você vai, só
comigo não quer ir”. Essa é uma modinha tradicional que a minha mãe cantava
para mim.
Nesses
anos todos, tivemos grandes programas de humor, pode citar alguns?
A “Escolinha do Professor Raimundo” foi uma das melhore
coisas da televisão brasileira, de humor simples, fino, puro, igual ao mexicano
Chaves. Acho que podiamos ter humor bom, como tinhamos naqueles programas de
rádio: PRK-30, no Rio de Janeiro tinha o “Balança Mas Não Cai”. Eu acompanhava
tudo isso. Meu pai trazia o jornal “O Governador”. Como jornalista entrevistei
o Barão de Itararé, Apparício Fernando de Brinkerhoff Torelly, também conhecido por Apporelly ( E pelo falso título de
nobreza de Barão de Itararé). Fiz a
entrevista em um apartamento pequenininho, próximo a Avenida São João, cheio de
jornais empilhados, e um formigueiro do tamanho do apartamento, ele montou o
formigueiro para ele ver como as formigas vivem. Ele ficava estudando o
trabalho das formigas. Ele tinha piadas maravilhosas. Quando a polícia entrou
batendo nele, gritou: “Viva a Revolução”, quando a polícia entrou dando
cacetada ele gritou “De 30, de 30 !”. Outra grande dele foi que a polícia
entrou batendo nele, ele colocou um cartaz escrito na porta: “ Entre sem
bater”. Quando estive na última vez com Millor Fernandes, estava a Fafá de
Belem, havia um grupo bom de caricaturistas, Millor disse: “Estamos acabando,
Juca!”. Nunca mais me esqueci disso.
Você esteve com Nelson
Rodrigues?
O vi uma vez, não gostava da maneira como ele se
expressava na redação. Mas ele tinha coisas ótimas. Inteligentíssimas. Tinha
umas coisas machistas como: “ Nem toda mulher gosta de apanhar, só a normal!”.
Não é bem assim! Pelo contrário, acho que a mulher não gosta de apanhar! Mulher
gosta de apanhar a carteira do homem!
Como solucionar a situação política, economica e cultural
do Brasil?
Fácil. Pintar 120 milhões de brasileiros e jogar na
floresta! Uma segunda porssibilidade é mandar cem milhões de brasileiros para o
Japão, e eles mandam cem japoneses com alta tecnologia de construção para cá.
Ai mandamos outros cem milhões de brasileiros para lá e eles mandam mais
japoneses com alta tecnologia para cá. Com isso vamos encher o Japão de
brasileiros, vai afundar a ilha! Para alegria dos chineses! Ai vamos para a
China e fazemos um negócio da China! Com alta tecnologia japonesa, que é a
melhor do mundo!
Há a possibilidade de lançar a chapa Juca Chaves para
Presidente do Brasil?
Quero ser Vive-Presidente! Muito melhor! Vice-Presidente
faz o que quiser e ninguém está sabendo o que o nosso está faendo. Já percebeu?
Já o Presidente todo mundo cai de pau. Essa culpa toda não é da Dilma. É de
toda uma equipe de maus administradores, maus economistas, que raciocinaram
como pobre, ai vem aquela frase: “Conversa de sapateiro se fala de sola!”, uma
frase judaica, pobreza vem do pobre, pobre julgando como pode ficar rico, só
pode dar pobreza. Quando Karl Marx e
Friedrich Engels
previram economia livre, foi para um povo culto, para a Inglaterra ou para a
Alemanha, nunca para a União Soviética ou para a China. A China na época era um
bando de imbecis em que estudante batia em professor na rua.A União Soviética
eram aqueles camponeses todos coitados, e uma elite, que tudo que tem de bom
ainda na Rússia, é como o que tem de bom no Brasil do período de Mauricio de
Nassau. É o passado, tempo dos czares. Você vai à França, a França de hoje não
é a França de Luis XIV, Luis XV, Luis XVI. Georges-Eugène Haussmann, o Barão Haussmann, entre 1853 e 1870. foi
responsável pela reforma urbana de Paris. Ele fez
a arquitetura da única cidade do mundo que é toda de quatro andares. Igual a
São Paulo, quatro andares acima do possível e imaginável! São Paulo é toda
ilegal, completamente. Esse prefeitinho, que já se esperava que não ia fazer
nada, fez uma coisa boa, apesar de ser do “partidão”. Ele proibiu novos
apartamentos, só agora, mas saiu a lei. No Itaim já iam construir um prédio de
30 andares, colado ao meu prédio que tenho uma vista para a Avenida Paulista.
Eu ia morrer. Não deixaram, ele falou, só quatro andares, reposição.Acho já
muito. Quando Oscar Niemeyer e LucioCostafizeram a Barra da Tijuca era permitido quatro andares no
inicio. É o único lugar civilizado do Rio!
A Bahia estava ótima, ai entrou esse petezão e colocou prédio em todo
quanto é lugar. Na orla! Todos com aquela cara de prédio de pobre. Pior do que
a favela, porque a favela tem mato! Tem verde!Os prédios são favelas sem verde!
Eles colocam no anuncio: “Você de frente para o verde”, colocam um coqueiro.
Você
gosta de futebol?
Sou
torcedor do São Paulo. Fiz até uma música afirmando isso:
Miau, boa pedida,eu sou um gato,/gato miando
nos telhados lá da Augusta./Gato que assusta, gatas que tem,um bom telhado,
pois enfim sou um gato bem,/um gato bem, um gato bem, um gato bem./A exemplo do
Ricardo Amaral,/sou um gato social,/um bichano disputado/No telhado, porémsendo
um gato bem lançado/à velha Novacap/já ouviram o meu miado//Meu nome sai aí a
três por dois,/até a rua Augusta, esporte, sociedade pois,/bom São Paulino,
fino felino,/não há gata que resista a esse meu miar de artista,/muito em
vista,/Na órbita, nos telhados onde eu vou,/fazer a serenata para minha gata do
dezoazor,/embora, a plus ultra muito grossa/não entenda a minha bossa/vou miar
em teto quente na tangente do conveniente./Miau, miau,/miau miau/sou um gato/social,/miau,
miau/miau, miau,/sou um gato social. Sou do tempo de Leônidas, que para mim foi
maior do que Pelé. Eu não tenho duvidas, perguntei a vários europeus que
conheceram. Ele é para nós é um gênio, um Deus, em 1954 a Hungria teve o melhor
futebol do mundo. Ganhava de 7, 8. Perdeu o último jogo para a Alemanha porque
a Alemanha conhecia o doping. Um dos aspectos é para quem entra mais dinheiro,
futebol tem esse negócio. Futebol sem dinheiro não é futebol. Perde o encanto
daquilo tudo. Mas não precisava exagerar fazer um estádio daquele jeito! O
Estádio do Corinthians foi uma vergonha! Foi uma doação minha, que sou
são-paulino, não temos nada da simpatia do presidente que elege a ele. Um
presidente tem que ser neutro. Ele deu três trilhões, ele jogou fora, quantos
hospitais se fariam com três trilhões? O que é mais importante? Política quando entra no esporte acontece o
que aconteceu. Sabe lá o jornalista inglês, aquele profissional é bom.
Quais são as novidades que você estará
apresentando em breve?
Eu estou aguardando os acontecimentos
brasileiros. Vou viajar. Pretendo voltar para a Europa, não quero voltar à
América, lá já estive por bastante tempo. América é boa para quem quer
consumir. Eu quero ver arte. Itamar Franco foi mandado para Itália. Foi adido
cultural. Algo que eu gostaria de ser, para ajudar a levantar mais ainda o nome
do Brasil. Perguntaram ao Itamar que ele achou de Roma, morando na praça mais
bonita do mundo, que é a Piazza Navona, dentro da Embaixada do Brasil,
que é a embaixada mais bonita do mundo. Itamar deu seu parecer sobre Roma: Tem
muita estátua!
Qual
é a sua visão sobre o grande número de partidos políticos existentes no Brasil?
Sou a favor de dois partidos apenas.
Na Suécia existe isso, todo candidato tem que fazer um concurso para entrar.
Você quer ser vereador em Piracicaba, tem que prestar um exame. Quantos ônibus,
ambulâncias, hospitais, delegacias, a cidade tem. Você tem que saber para ser
vereador. Mandar um Tiririca pare ser deputado federal! Não sabia nem escrever,
aprendeu no dia! Não que ele seja mau, talvez ele tenha o principio democrático
melhor do que muitos. Mas não pode ter, ele nunca leu nada. Ele era divertido.
Mais um palhaço no Brasil! Quando fiz a musica “Fim do Mundo Vem Aí” eu canto:“ O mês de dezembro, 21 esse é o seu dia, já em outubro se me lembro, a
eleição virá, sorria! Candidato Tiririca, filósofo tão profundo, declarou pior
não fica, e ficou, é o fim do mundo! Nem Àfrica, nem Europa, nem tão quente,
nem tão frio, teremos a nossa copa, para o Galvão gritar Brasil nos estádios
sem escolas, quem paga as obras em agosto, nunca o governo, ora bolas, somos
nós pagando imposto. Agredimos um suiço, boa coisa ele não é, Dona Dilma
ouvindo isso, revidou o pontapé, seu atraso é que aborrece, presidenta não
confunda, politico é que merece um solene pé na bunda.”
Juca você canta descalço, qual
é o motivo?
Virou habito. Quiano comecei a
cantar, no Clube Pinheiros eu cantava descalço, em um caramanchão, ai comecei a
fazer televisão, ficava descalço. Cantei para o JuscelinoKubitschek fiquei descalço, ele tirou o sapato, ficou de meia, posso
ficar descalço, agora é um problema quandoé inverno, peguei quase pneumonia,
ponho um aquecedorzinho no pé. Mas eu quero ficar descalço. Ai tenho que
colocar bota. Ai eu digo: “-Um homem inteligente calça as botas e bota as
calças. Muita gente diz: “Vejo você na rua calçado!”. Claro. Eu durmo descalço,
na minha intimidade estou descalço, canto descalço, mas não ando descalço na
rua!
Isso é só divertido?
Só divertido, mais nada. O
Brasil é um país divertido hoje, é carnaval! É o que disse aquele jorrnalista
inglês, enquanto vocês ficam “samba, samba”, o Brasil está sendo espoliado,
roubado e ninguém pode fazer nada. Porque o próprio governo está roubando. Em
uma casa, se o pai roubar, a mãe roubar, o filho irá roubar! É uma questão de
educação! Um dia perguntaram-me, qual era o livro qeu eu teria o orgulho de ter
a assinatura do autor. Falei: a Bíblia!
Juca Chaves, gostaria de
deixaruma mensagem aos leitores e ouvintes?
Tenho uma teoria muito
importante que gostaria de torná-la publica: “ Depois da tempestade vem o
tsunami” (muitos risos).