domingo, fevereiro 05, 2017

ANA ELISA PIEDADE SODERO MARTINS

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 04 de fevereiro de 2017.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/



ENTREVISTADA: ANA ELISA PIEDADE SODERO MARTINS

Ana Elisa Sodero Martins nasceu em Piracicaba a 4 de janeiro de 1977, filha de Paulo Sodero Martis e Maria de Lourdes Piedade Sodero Martins.
Você realizou seus estudos em Piracicaba?
Estudei até a época do colegial no Colégio CLQ, situado a Rua Hide Maluf, lembro-me muito dos professores entre eles Newman Ribeiro Simões. Shunhiti Torigoi, José Arthur de Andrade, e outros professores que foram muito importantes para a minha formação.
Qual era a profissão do seu pai?
Professor universitário, tendo tornado-se um cientista na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz – ESALQ. Minha mãe é pedagoga e professora. Agora, aposentada, é poetisa. Na realidade ela sempre gostou muito de poesia, mas os afazeres do cotidiano impediam que ela se dedicasse integralmente a poesia. Eu sou bisneta, neta, filha de professores. Teve um período em que pensei muito sobre a profissão, se de fato era isso que eu gostaria de fazer.
Você teve a oportunidade de viajar bastante ainda muito jovem?
Meu pai nos levou para os Estados Unidos, na Califórnia, onde permanecemos por um ano. Lá tive a oportunidade de freqüentar a High School (Ensino Médio). A partir desse momento decidi viajar, fazer intercambio. Na época eu estava com 12 a 13 anos. Os intercâmbios são a partir dos 18 anos. Nesse período meu pai dizia: “Estude muito, se tudo der certo, você estudar, fizer tudo direitinho, você vai!”. Foi assim que começou a questão de viajar, de conhecer o mundo.
Você foi para que país?
Fui para a Índia! Os caminhos são traçados, há coisas que vem porque tem que ser. Eu queria fazer intercambio, independente de para onde iria, queria conhecer novos lugares, novas pessoas, línguas, eu fui através do Rotary. Comecei a fazer as seleções, as avaliações, Na época eu estava com 16 anos. Aos 17 anos, já concluindo o terceiro colegial, havia três opções: Alasca, o México e a Índia. Na época meu pai ficou muito temeroso, uma menina com 18 anos em um país tão diferente, como será? O Rotary é muito organizado, há muitos anos fazem o intercambio para que a juventude se una queremos um mundo unido. Que tenhamos essa amizade.  O modelo padrão de amizade consiste em compartilhar interesses e fazer coisas juntos, desfrutando de companhia e cuidando uns dos outros e fornecendo apoio o friendship interchange. Para que se conhecçam as culturas, os jovens façam esse intercâmbio e construam um mundo melhor.
Você foi para a India e ficou na casa de uma família?
Fiquei na casa de várias famílias. A cada três meses no ano eu mudava. Tanto que nas férias de lá eu já tinha feito um ano de faculdade, eu já falava inglês, foi um ano excelente.
Você foi para que local da Índia?
Fiz escala em Londres, desci em Calcutá.
Qual foi o primeiro impacto que você teve quando chegou à Índia?
Duas coisas que ficaram gravadas: o som, o barulho, música, muita gente, muitas buzinas, outra coisa os odores, de especiarias, perfume, esgoto.
Como eles a viam? Com curiosidade?
Eles me olhavam com muita curiosidade, percebi que me destacava como estrangeira, a questão da cor da pele, As pessoas olhavam mesmo. Eu nunca saia sozinha, não era autorizada a sair só. O pessoal do Rotary, as famílias tinham muito cuidado com isso. Se fosse sair ou era com as moças que cuidavam da casa, mesmo para ir para a escola nunca ia sozinha. E mesmo assim eu andava e as pessoas olhavam. Ficavam paradas olhando. Na época na Índia toda havia só quatro intercambistas do Rotary. Uma argentina, que ficou mais uma semana e estava terminando o intercambio e voltando, ai chegaram mais dois argentinos e um americano que chegou uns meses depois. Poucos jovens iam para a Índia, pelo menos os brasileiros queriam ir para a Europa.
Como é a casa de uma família indiana, tem padrões semelhantes aos nossos?
Como fiquei na casa de famílias rotarianas, que já são pessoas aculturadas, uma das famílias já tinha morado nos Estados Unidos, em duas casas em que morei, mesmo sendo famílias de posses, o banheiro era diferente, eram latrinas. O que eu achava interessante foi com a família mais tradicional com quem morei lá, era a hora de servir o almoço e o jantar, tinha o cozinheiro, mas quem servia era a minha mãe (a família que recepciona o intercambista o trata como membro da família). Meu pai sentava-se a cabeceira da mesa, depois o filho,que era o caçula, mas por ser o homem, sentava-se ao lado do pai, sentavam-se as filhas. A mãe não, só ficava servindo, cobria a cabeça para servir, servia o pai, o menino, depois me servia e por fim as meninas, era um ritual diário. Ela não se sentava a mesa conosco. Ela comia depois. Era uma pessoa culta, Tinha colegas da faculdade, indianas, estudando se formando, já estavam com os casamentos arranjados em andamento, as famílias já negociando, elas não tinham a mesma visão que eu tinha a respeito daquilo. Quem está de fora julga os modelos ou padrões de uma cultura. Elas diziam: “-Minha família me ama, eles querem o melhor para mim, vão encontrar um marido que esteja a minha altura!”. Como as famílias com quem fiquei eram famílias de posses, estudadas, por exemplo, a menina que ia se casar era engenheira. Elas tinham a chance de dizer que não iriam se casar. Poderiam. Elas não podiam definir com quem iriam se casar, os pais arranjavam um encontro, sempre com a família presente.
E na faculdade como era?
Na hora do lanche eram separados, meninos e meninas. Mesmo nas salas de aulas as meninas ficavam de um lado e os meninos de outro, separados.
Você foi ao cinema na Índia?
Ia muito ao cinema! Por conta de Bollywood. O nome Bollywood surge da fusão de Bombaim onde se concentra esta indústria e de Hollywood nome dado à indústria cinematográfica americana. Os filmes são muito alegres, dançam, cantam, coloridoss e sempre de amor. Os que eu assisti ou eram romances ou eram de lutas. Os romances são casamentos arranjados também, mantendo essa questão cultural. Isso foi em 1995, pode ser que hoje esteja mudado. Cinema era um lugar que gostávamos de irmos.
Como é a reação deles diante dos animais?
Nas ruas as vacas são livres, bem tratadas, os carros desviam, as pessoas param. Os cães também são bem tratados. As vezes eu pensava: “As vacas são melhores tratadas do que seres humanos!”. Tem muita gente nas ruas, muitos mendigos, muitas crianças, principalmente em Calcutá. Por isso que pensamos quando lemos a história de Madre Teresa de Calcutá, realmente ela fez um trabalho necessário.
Você conheceu a Madre Teresa de Calcutá?
Quando cheguei a Calcutá, o coordenador do Rotary veio para me receber junto com essa argentina, a Samanta, ela é muito cristã, de fazer trabalho voluntário, participativa, ela estava voltando para a Argentina e no dia seguinte iria chegar um argrntino. Dormimos, pela manhã, antes de ir até ao aeroporto buscxar o Juan. Entendi que estavamos indo para o aeroporto, só que o carro entrou por umas ruelas, até chegarmos a um determinado local, descemos, havia uma parede cheia de portas, era uma casa de três andares, vi várias irmãs, abrimos uma porta, era uma casa com muitos assentos, cheia de pessoas, foi quando vi que a minha frente estava a Madre Teresa de Calcutá! Eu não conseguia acreditar! A Samanta tinha pedido e o Rotary faz muito trabalho junto com as irmãs da caridade ela nos recebeu.

Ao ver a Madre Teresa de Calcutá qual foi seu sentimento?
Foi muito comovente! Ela era miúda, pequenininha. Ela nos deu a mão, nos abraçou. Agradeceu. Deu a sua benção. Senti uma paz muito grande. O olhar dela era de caridade mesmo. Ela já estava com uma idade bem avançada. E o local cheio de pessoas, conforme nos informou o nosso coordenador isso ocorria diariamente. Ela nunca se negava a atender ninguém.
Há uma diversidade religiosa na Índia, como você sentiu isso?
Há uma minoria católica. Há os muçulmanos, não cheguei a ficar em casa de muçulmanos, eles não recebiam estrangeiros. Tinha contato com mulçumanos na escola, Como nosso intercâmbio era cultural, cada um ficou em uma cidade, quando havia congresso do Rotary ou encontro dos jovens nos reuníamos. Incluindo os jovens do Rotary indiano formávamos grupos de 30, 50 jovens. Íamos aos clubes fazer palestras do que era o intercâmbio, cada um falarmos um pouco do seu país, da nossa cultura. Falávamos em inglês.
De Calcutá você para alguma outra cidade?
Ainda no Estado de Bengala cuja capital é Calcutá, fui para Ranchi, como era intercâmbio de estudos não podia faltar as  aulas, por isso não viajávamos muito. Antes de ir para a Índia recebi uma carta desse coordenador, dizendo que eu não esperasse viajar, por ser mulher, pelo fato de ser um intercambio de estudo e não de turismo. Teria freqüência na escola, faria os congressos, junto havia uma lista da forma adequada de como me vestir, até mesmo para minha proteção. Deveria levar roupas de mangas longas, saias longas, calças compridas não eram recomendadas. Fui com a minha mãe até uma costureira que fez várias saias longas. Chegando lá, na primeira semana de aula eu estava usando essas roupas longas, bem fechadas. A minha “mãe” de lá me disse: “-Vamos vestir você com roupas indianas!”. Têm dois tipos os sari, que é um pouco desconfortável para ficar vestindo, principalmente eu que não tinha prática.  O Salwar Suit como eles chamam, é uma calça bem folgada, e um vestido em cima. E ainda um pano com o qual pode-se cobrir a cabeça.
Você andou com a cabeça coberta?
Quando entrava em algum templo era necessário.
Aprendeu a dançar as danças típicas?
Um pouco. Nesse ínterim chegou o jornal “Estadão” com o meu nome, eu tinha sido aprovada no vestibular que havia feito para entrar na Universidade do Estado de São Paulo – USP. Meu pai fez a minha matrícula, embora estivesse sendo reprovada por falta, uma vez que estava na Índia! Quando voltei já estava inscrita.
O que você achou da alimentação indiana?
No começo eu achei dificil ! Picante, os gostos diferentes. Tudo muito temperado. Depois me acostumei. Vai se desenvolvendo o gosto, tanto que agora gosto muito de pimenta. Era uma comida linda de se ver, quando a minha mãe indiana cozinhava os pratos eram muito coloridos. Comem bastante frituras.


                                                       SOM PROMORDIAL
È comida vegetariana basicamente?
Sim. Na maioria das famílias com quem vivi eram estritamente vegetarianas. Não eram veganas, comiam queijos, bebiam leite. Durante as minhas férias escolares, eu e um argentino fomos para o nordeste da India, em Hassan. Que é uma região bem mais asiática, próxima do Butão, país que faz fronteira com a Índia Até os traços da fisiononomia dos habitantes são diferentes, a pele mais clara, olhos mais puxados. Lá eles já comiam frango, carneiro. Visitimaos umas cahoeiras, que dizem que são eternas porque naquela região chove muito.Visitamos um templo, muito antigo, era um senhor que cuidava. Era um professor universitário, que depois que se aposentou, abandonou tudo, para viver esse voto de pobreza e cuidar do templo. Eu tenho a tatuagem do OM,  , é um mantra.

E o Rio Ganges ?
Nós nos banhamos no Rio Ganges!
Não é um rio poluído?
Só que é um rio sagrado ! Não tivemos nenhum problema, é um rio abençoado. É uma quetão de fé, tem que acreditar. Vimos os crematórios a margem do rio, as cinzas eles jogam no Rio Ganges. Todo lugar tem suas belezas, na Índia eu vivi com famílias muito abastadas. Às vezes até sentia-me constrangida. Ia para a escola com o motorista dirigindo o carro e me levando. Uma das casas em que fiquei era uma mansão com três andares. Eu saia de lá com o motorista que me levava de carro até a escola, em contraste havia nas ruas muitas pessoas pobres. Esse contraste muito grande sempre me causou questionamento. Na Índia andei muito de Tuc Tuc, bicicleta.




O período de intercâmbio terminou e voce voltou ao Brasil, já tinha sido aprovada na USP, qual curso voce fez?
Fui fazer História. Só que decidi trancar a matrícula e voltei para Piracicaba. Acabei prestando vestibular de Hotelaria em Águas de São Pedro. Era um curso rápido, dois anos, e daria a chance de viajar mais. Tive a oportunidade de estar mais perto do meu pai nesses meses que voltei de São Paulo e permaneci em Piracicaba.,Ele faleceu no dia em que eu estava prestando vestibular para Hotelaria.
Isso também proporciona uma excelente chefe de cozinha em sua casa?
Eu era mais da área de governança do que da área de cozinha, mas gosto muito de cozinhar, sempre faço comidas diferentes: mexicana, indiana. O arroz e feijão deixo para o meu marido fazer. Sou casada com Gabriel Mantoni Salvador, professor de História.
Ao terminar o curso de Hotelaria qual foi o seu próximo passo?
Fui fazer estágio nos Estados Unidos, em Dallas, onde fiquei por quatro anos. Dois anos fazendo estágio no hotel francês Le Meridien Dallas Hotel, bem no centro de Dallas. Fiz mais dois anos de College, um curso superior de tecnologia. Nos Estados Unidos é pré-universidade.  Dependendo das suas notas você pode escolher alguma universidade para fazer.

Em Dallas você percebeu que os seus moradores são conservadores?
São muito conservadores! Tive muita sorte, mesmo sendo latina, o fato de ser branquinha de olhos claros, raramente tinha problemas. Quando viajava com uma amiga brasileira, de ascendência negra, eu passava e ela passava por uma maratona, exigiam uma série de documentos, quando viam o nome diferente e o sotaque ambas éramos examinadas com mais rigor. Usávamos normalmente a carteira de motorista para nos identificarmos. Eu estava dentro da sala de aula quando as Torres Gêmeas foram atingidas, ai ficou mais difícil ainda. Foi uma das razões pelas quais eu voltei ao Brasil. Como eu fazia faculdade e tinha o visto de estudante, começou uma pressão muito grande. No Texas houve vários casos de retaliações a comerciantes indianos, que não tinham nada a ver com a tragédia que aconteceu.
Com relação ao porte da arma de fogo pelo americano o que você teve a oportunidade de observar?
Em uma época eu trabalhei em uma pizzaria, o meu chefe tinha arma de fogo, ele sempre dizia que desde criança sempre fez tiro ao alvo. Dizia: “Nós temos que nos protegermos!”.; Esse é o lema: “Defender a Pátria, a Família e a Propriedade”. Da época da hotelaria tem uma história engraçada, eu era assistente de gerente, na parte de governança, tinha uma equipe de umas 30 camareiras. Um dia recebi uma mensagem no rádio: “-Ana venha aqui no quarto número tal”, era a camareira chamando. Tinham deixado no quarto uma pistola. Não coloquei a mão, chamei a segurança, que chamou a polícia. O hospede foi localizado, chamaram-no para entregar a arma, ao mesmo tempo verificar se tinha toda a documentação em ordem, referente a arma. Era uma senhora de setenta anos! Com porte de arma e tudo! A polícia entregou-lhe a arma de forma muito natural. Tive a oportunidade de viajar bastante dentro dos Estados Unidos, minha irmã mudou-se para Indiana, um ano antes da minha volta. Todo ano eu ia esquiar no Colorado. È interessante ver tudo que é bom das culturas, o ser humano é capaz de criar coisas maravilhosas. Os norte-americanos têm uma vocação muito forte para descobrir, produzir. Muitas vezes são pequenas utilidades, mas a idéia criativa foi aplicada.Há a contra partida, eles de uma forma geral, julgam-se superiores, ou seja, os melhores.
Dos Estados Unidos você mudou-se para que país?
Vim para o Brasil. Fui cursar pedagogia na UNESP em Rio Claro. Conclui o curso e comecei a dar aulas de inglês em Piracicaba.
Você passou a trabalhar como pedagoga em que localidade?
A primeira escola regular mesmo foi no Acre.
E como surgiu essa mudança para o Acre?
Foi meu esposo, por amor. De todos os lugares do mundo em que sonhei ou desejei ir o Acre nunca esteve na lista. Ele terminou o curso de História uns três anos antes que eu terminasse o curso de pedagogia. Ele trabalhava aqui como professor substituto, ele tinha um amigo que he disse que tinha aberto um concurso em Rio Branco para professor e o convidou para irem juntos. Na brincadeira foram, pegaram um ônibus, viajaram 60 horas, isso foi em agosto de 2007. Esse amigo foi trabalhar em um projeto chamado “Asas da Florestania” que é um projeto para levar o professor para escolas de difícil acesso. Viajava de barco, mais 40 quilômetros de “ramal” que é estrada de terra mesmo. Ele ficava o mês todo em uma casa cedida por dos habitantes do local. Ali ele tinha o quarto dele. E dava aulas em outra sala.




                                                             ASAS DA FLORESTANIA
Como fazia com alimentação?
Ele tinha muita ajuda das pessoas da localidade, comia carne de caça, macaxeira.
E o seu esposo?
Ele ficou em Rio Branco, em um projeto do governo chamado “Poronga”. É um projeto de aceleração de ensino. Ele acabou sendo chamado para trabalhar em uma escola de freiras, a Imaculada Conceição, em Rio Branco, foi até uma Irmã, a Madre Elisa, uma italiana que deu o inicio a educação no Acre.




                                                    
                                                    PROJETO PORONGA
Atualmente você é professora no Acre?
Sou professora do Estado, dou aulas em uma escola rural chamada Santa Maria II. Fica a 700 metros da minha casa. Nós moramos na zona rural. Eu e meu esposo decidimos, já que estamos na floresta vamos ver um pouquinho como é.
Como é viver na floresta no Acre?
Ainda tem muita gente isolada. Rio Branco tem cerca de 400.000 habitantes. Boa parte utiliza água de poço, que é bombeada para uma caixa de água e distribuída pelas torneiras e chuveiros. Há ainda muitas fossas sépticas. Quando meu marido chegou a Rio Branco, há 10 anos, estava aquele processo de urbanização. O Governo Federal investiu no Acre. Os acreanos têm um senso de comunidade muito grande, tem senso de família. Eu as vezes até brinco que mantenho hábitos de paulista, minha casa é uma das poucas das casas cercadas.
Como o acreano vê o paulista?
Muito acelerado! Eles têm outro conceito de tempo. Eu e meu esposo somos bem felizes, todos os dias almoçamos juntos, vou para o meu trabalho de bicicleta, e agora está asfaltado! A pé levo sete minutos para chegar até a escola que leciono. Nós temos uma filha, a Agnes, em homenagem a Madre Teresa de Calcutá, ela tem a infância que eu tive em Piracicaba. Hoje aqui eu não vejo mais criança na rua, não há mais ninguém na rua, todos se fecham em suas casas. Lá ela com 4 para 5 anos brinca na rua, vai para a casa da vizinha, ela está tendo uma infância de criança.
A seu ver quais são as perspectivas de evolução para o Acre?
Eu espero que seja uma evolução que não afete a qualidade de vida. Qualidade de vida está diretamente ligada a floresta, o pessoal reclama: “-O clima está mudando”. Constatamos a olhos vistos. Principalmente quando faço trabalho com os meus alunos, entrevistamos os mais antigos, pessoal que veio do Ceará, muitos têm avós que estão bem velhinhos, foram os migrantes que vieram, “Os Soldados da Borracha”. Na década de 40.
Tem muitos “Soldados da Borracha” no Acre?
Tem! Eles já estão bem velhinhos, muitos já morreram. Eu faço questão de todos os anos entrevista-los. Oriento as crianças para que elas façam essas entrevistas.



                                                     SOLDADOS DA BORRACHA

Você faz um jornal em conjunto com seus alunos?
Eu faço jornal em folha de papel sulfite.
E recursos materiais?
É difícil! Para a escola é muito difícil, depende muito de ser amigo das escolas, das professoras, nós fazemos muita coisa com recursos pessoais, as professoras arcam com muitas despesas do próprio bolso. Como coordenadora da escola eu tenho a sorte de ter um gestor que é um ótimo administrador. Com o mínimo do mínimo “per capita” por criança temos uma escola que tem Wi-Fi do ano passado para cá, com acesso a internet usamos vídeos, temos trabalhado muito com as professoras. É difícil o acesso delas a museu? Mas na internet tem museu! Vamos visitá-los! Usar a tecnologia, mas para que se mantenha muita coisa da cultura. Eu brinco com as crianças: continuem se alimentando de macaxeira, abóbora arroz, Nada de tomar refrigerantes, o quintal de vocês tem cupuaçu, tem acerola, vamos fazer sucos. Eles não têm acesso a comida industrializada pelo alto custo, nisso eles tem sorte. A falta de recursos nesse sentido é positiva. Eles comem o que plantam.
O índice de doenças pode ser comparado às crianças de regiões mais ricas?
Eu os vejo mais saudáveis pela qualidade de vida que tem. Pela alimentação, atividade física, as pessoas caminham muito. Ou é de bicicleta ou é de “pés” como eles falam!
Aqui nós temos um mal chamado “stress” que já está sendo diagnosticado entre jovens, ou até mesmo com adolescentes, isso acontece também no Acre?
Bem pouco! Eu que às vezes falo quando vou ser acreana a chegar nesse ponto, de ficar tranqüila, de conseguir deitar na rede, de vez em quando, depois do almoço. Aquela meia horinha na rede. Eles descansam, estão sempre reunidos em família. Aquelas famílias grandes.
Tem alguma data festiva onde ocorrem grandes comemorações?
A questão religiosa está mudando muito. Há a Festa de São Sebastião, por conta dos rios, A cidade de Xapuri que é a cidade de nascença de Chico Mendes tem uma festa muito grande que é a Festa de São Sebastião. Tem a Festa de Tarauacá e uma que temos visto pouco que é a Marujada. O meio de locomoção no Acre são os rios. Agora tem uma quarta ponte, até recentemente eram poucas as pontes. Em vez das pessoas caminharem, pega um barquinho que cruza o rio, do Primeiro Distrito para o Segundo Distrito, o barquinho, chamado catraia, vai e vem atravessando o rio, essas catraias tem os condutores. 
                                                               MARUJADA
Além de você e seu marido tem mais algum piracicabano em Rio Branco?
Piracicabano não. Tem muitos paranaenses, alguns gaúchos,
E exploração de madeiras nobres, queimadas tem ocorrido?
Havia diminuído muito, infelizmente nesse último ano a população percebeu que começou de novo. As pessoas mais antigas contam que na década de 70 ficavam embaixo de uma fumaça que causavam muitos problemas respiratórios. Não há como descrever, só vivenciando como foi. Às vezes eu prefiro que não se desenvolva na área material, sempre falo para meus alunos estudem engenharia florestal, biologia, química, para vocês aproveitarem, daqui a alguns anos as riquezas do mundo serão a água e as plantas.
Há algum coral que você tenha montado com os alunos? 
Quando fui professora da Fundação Bradesco consegui montar um coral com os alunos. Eu gostava muito, era uma fundação de excelência. A gente sente o que é o ideal de uma escola. De quem acredita na educação e tem recursos para investir,
O Ensino Profissionalizante em Rio Branco como está?    
Tem o Instituto Federal do Acre – IFAC, o SENAC, o SESI. O número de indústrias é pequeno, concentra-se mais na fabricação de móveis. Houve tentativas em outras áreas, mas a distância encarece os produtos.
Há algumas negociações entre o Brasil e o Peru para que se estabeleça uma saída do Acre para o Oceano Pacífico?
Há uma relação amistosa, o governador do Estado do Acre tenta abrir um corredor entre o Acre e o Pacífico, só que há muitos entraves políticos e comerciais. Há dois anos houve uma grande enchente no Rio Madeira, não chegava nada daqui de São Paulo. Ou os grandes supermercados mandavam por avião os produtos. O único lado positivo é que abriu temporariamente o comércio livre entre Peru e Acre, recebíamos batatas peruanas, cenouras. Essa saída para o Pacífico se limitasse a trazer produtos alimentícios já seria de grande impulso para o Acre.
Vocês pensam em voltarem para São Paulo?
As vezes a gente pensa. Eu me sinto muito segura na cidade. Quanto mais tempo eu passo lá, mais futilidades, materialidades, eu vejo quando venho para cá, Até me assusto.
Pode-se dizer que nas grandes “cidades civilizadas” vivemos um mundo artificial?       
Complemente de ilusões! Tenho alunos de 6 a 10 anos, você vê que determinada criança tem um enorme potencial, apesar de todo esforço a escola não tem um laboratório de informática, não tem uma biblioteca. Rio Branco tem uma biblioteca de excelência, só que a criança tem que pagar seis reais por dia, ela não tem!
Há uma disseminação de religiões nunca vista antes, esse fenomeno ocorre também no Acre?
Muito! A ponto de fazer com que festas religiosas tradicionais sejam ameaçadas por preconceitos gerados por novas crenças. Até mesmo o folclore riquissimo em sua essência está ameaçado de extinção por influencias e visões distorcidas. O que fica evidente é que a visão individual sobrepoem-se ao credo, duas pessoas de uma mesma crença podem agirem de formas opostas.
Um dos pontos que está massificando o povo são os recursos eletrônicos. Em particular os celulares, autenticos caça-níqueis com jogos e outros atrativos cada dia mais sofisticados e que exigem pouco ou nenhum raciocínio. Esse modernismo já chegou no Acre ?

As crianças com quem trabalho não tem acesso por falta de recursos principalmente. Os poucos que tem me fizeram pensar: “-Até aqui!”Já vou dizendo: “- Vai brincar, vai bater bola menino!” O meu marido que leciona em uma escola cujo padrão dos alunos em média é elevado, ele tem problemas . Há crianças que chegam com três celulares! Crianças de sete anos com celular. Nessas horas penso que a falta de dinheiro ajuda! As crianças lá brincam, tem que ter criatividade. Sobem em árvores, estão juntos, não estão isolados como uma pedra. Se reunem, um quer conversar com o outro. Andam muito de bicicleta.  


NOTAS
O Alasca (em inglês Alaska e em russo Аляска) é um dos 50 estados dos Estados Unidos e o maior em extensão territorial, sendo maior do que os estados americanos de Texas, Califórnia e Montana juntos (respectivamente o segundo, o terceiro e o quarto mais extensos). É também o estado mais escassamente povoado dos Estados Unidos, com uma densidade populacional de 0,42 hab/km², a menor entre todos os 50. Tem menos habitantes do que qualquer estado americano com exceção de Wyoming, Dakota do Norte e Vermont. Se fosse um país independente, o Alasca seria o 17° maior país do mundo em extensão territorial. Relativamente isolado do restante do país, é considerado parte dos Estados do Pacífico. Nos dias atuais, a discussão sobre a sua independência tem ganhado força. É certo também que algumas ameaças de mísseis do extremo oriente só podem atingir os Estados Unidos pelo Alasca.
O Alasca é o estado mais setentrional e ocidental dos Estados Unidos. É também considerado por alguns como o estado mais oriental do país, uma vez que duas das ilhas do Arquipélago dos Aleutas estão localizadas no Hemisfério Oriental. A maior parte da população do Alasca vive na região sul e sudeste do estado. Muito do Alasca é escassamente povoado. Por causa disso, o seu cognome oficial é The Last Frontier ("A Última Fronteira"). O Alasca é uma península e faz fronteira somente com o Canadá, através do território de Yukon e da província de Colúmbia Britânica. É um dos dois estados americanos que não fazem parte da área contínua dos Estados Unidos, os 48 estados localizados entre o Canadá e o México. O segundo estado é o Havaí.[5]
O nome Alasca provém da palavra Alakshak, que significa "grande terra"[6] ou "grande península" em aleúte, um idioma esquimo-aleutiano falado em partes do seu território; essa palavra foi depois traduzido em russo Аляска para acabar na língua inglesa.[7] O Alasca foi comprado do Império Russo em 1867, graças à insistência do então Secretário de Estado americano William Henry Seward, por 7,2 milhões de dólares. À época, Seward foi criticado por outros políticos e ridicularizado pela maioria da população americana pela sua decisão, uma vez que boa parte da população americana acreditava então que o Alasca não passava de uma região coberta de gelo imprestável e que só servia para morada de ursos. Porém, descobertas de grandes reservas de recursos naturais desde então atraíram milhares de pessoas à região. Em 3 de Janeiro de 1959, o território do Alasca foi elevado à categoria de Estado, tornando-se o 49º estado americano

Bandeira do Alasca durante o domínio Russo



                                                       
                                                         Bandeira atual do Alasca 

Madre Teresa de Calcutá

Madre Teresa de Calcutá (1910-1997) foi uma missionária católica albanesa.Logo cedo descobriu sua vocação religiosa. Com dezoito anos entrou para a Casa das Irmãs de Nossa Senhora do Loreto. Criou a Congregação Missionárias da Caridade. Dedicou toda sua vida aos pobres. Em 1979 recebeu o Prêmio Nobel da Paz. Foi Beatificada pela igreja católica em 2003 e canonizada em 2016.
Agnes Gonxha Bojaxhiu (1910-1997) nasceu no dia 26 de agosto na Albânia. Foi educada numa escola pública da atual Croácia. Ingressou na Congregação Mariana. Com o consentimento dos pais, entrou no dia 29 de Setembro de 1928 para a Casa das Irmãs de Nossa Senhora de Loreto, em Dublin, Irlanda. O seu sonho era a Índia, onde faria um trabalho missionário com os pobres. Em 24 de maio de 1931, fez votos de pobreza, castidade e obediência, recebendo o nome de Teresa.
Da Irlanda, partiu para Índia. Foi enviada para Darjeeling, local onde as Irmãs de Loreto possuíam um colégio. De Darjeeling a Irmã Teresa foi para Calcutá onde passa a ensinar História e Geografia no Colégio de Santa Maria, da Congregação de Nossa Senhora do Loreto, em Calcutá. Mais tarde foi nomeada Diretora.
Em setembro de 1946 durante uma viagem de trem, ouviu um chamado interior que a fez decidir abandonar o noviciado e se dedicar aos necessitados. Depois de apresentar seu plano, recebeu a autorização do Papa Pio XII, no dia 12 de Abril de 1948. Embora deixando a congregação de Nossa Senhora de Loreto, a Irmã Teresa continuava religiosa sob a obediência do arcebispo de Calcutá. Só em 08 de Agosto de 1948 ela deixou o colégio de Santa Maria.
Madre Teresa dirigiu-se para Patna, para fazer um breve curso de enfermagem. Em 21 de dezembro obtém a nacionalidade indiana. Data que reuniu um grupo de cinco crianças, num bairro pobre e começou a dar aula. Pouco a pouco, o grupo foi aumentando. Dez dias depois eram cerca de cinquenta crianças. Tendo abandonado o hábito da Congregação de Loreto, a Irmã Teresa usava um sari branco, debruado de azul e colocou-lhe no ombro uma pequena cruz. Ia de abrigo em abrigo levando, mais que donativos, palavras amigas e as mãos sempre prestáveis para qualquer trabalho.
Em 19 de março de 1949, as vocações começaram a surgir entre as suas antigas alunas do colégio. A primeira foi Shubashini. Filha de uma rica família, disposta a colocar sua vida ao serviço dos pobres. Outras voluntárias foram se juntando ao trabalho missionário. Mais tarde chamadas de "Missionárias da Caridade". Em 1949, a constituição da irmandade, começou a ser redigida.
A Congregação de Madre Teresa, foi aprovada pela Santa Sé em 07 de outubro de 1950. Em agosto de 1952, é aberto o lar infantil Sishi Bavan (Casa da Esperança) e inaugurado o "Lar para Moribundos", em Kalighat, auxiliando pobres, doentes e famintos. A partir dessa data, a sua Congregação começa a expandir-se pela Índia e por várias partes do mundo.
Madre Teresa de Calcutá recebe o Prêmio Nobel da Paz, em outubro de 1979. Nesse mesmo ano, João Paulo II recebe a Madre, em audiência privada e a nomeia "embaixadora" do Papa em todas as nações. Muitas universidades lhe conferiram o título "Honoris Causa". E em 1980, recebe a ordem "Distinguished Public Service Award" nos EUA. Em 1983, estando em Roma, sofre o primeiro grave ataque do coração. Tinha 73 anos.
Em setembro de 1985, é reeleita Superiora das Missionárias da Caridade. Nesse mesmo ano, recebe do Presidente Reagan, na Casa Branca, a Medalha Presidencial da Liberdade, a mais alta condecoração do país. Em agosto de 1987, vai à União Soviética e é condecorada com a Medalha de ouro do Comitê Soviético da Paz. Em agosto de 1989, realiza um dos seus sonhos, abrir uma casa na sua Albânia, sua terra natal. Em setembro de 1989, sofre o seu segundo ataque do coração e recebe um marca-passo. Em 1990, pede ao Papa para ser substituída no seu cargo, mas volta a ser reeleita por mais seis anos, até 1996.
Madre Teresa de Calcutá morre no dia 05 de setembro de 1997, depois de sofrer uma parada cardíaca. Seu corpo foi transladado ao Estádio Netaji, onde o cardeal Ângelo Sodano, Secretário de Estado do Vaticano, celebrou a Missa de corpo presente. O mesmo veículo que, em 1948, transportara o corpo do Mahatma Gandhi foi utilizado para realizar o cortejo fúnebre da "Mãe dos pobres". Em 19 de outubro de 2003 Madre Teresa de Calcutá é beatificada pelo Papa João Paulo II. No dia 4 de setembro de 2016 foi canonizada pelo Papa Francisco.




                     OITO HORAS DE MÚSICA RELAXANTE PARA ADORMECER






ROSÉLYS SEGHESE ALLEONI

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 28 de fevereiro de 2017.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADA: ROSÉLYS SEGHESE ALLEONI


Uma verdadeira revolução no ensino da música, crianças realizando apresentações musicais aos cinco, seis anos. Graças ao interesse e ao esforço de Rosélys Seghese Alleoni que se deslocou até os centros onde essa nova técnica de ensino é estudada e ministrada, Piracicaba dispõem desse método criado por um gênio, o japonês Shinichi Suzuki, que faleceu no Japão em 26 janeiro de 1998, com quase 100 anos de vida. Com uma sólida formação musical Rosélys aprofundou-se no estudo desse método e hoje oferece aos alunos da Escola de Musica de Piracicaba “Ernst Mahle” a formação musical a partir dos cinco anos de vida. Uma grande descoberta para a humanidade e uma grande conquista para Piracicaba.



                                                                         2 years old

Rosélys Seghese Alleoni nasceu em Piracicaba a 9 de fevereiro de 1946.  É filha de Iracema Seghese Alleoni e Antonio Francisco Alleoni que tiveram cinco filhos: Rosélys, Carlos Alberto, Elisete, Elizabete e Silvana.
Você nasceu em que bairro de Piracicaba?
Nasci na Vila Rezende, na Avenida Rui Barbosa, no primeiro quarteirão, logo após da ponte sobre o Rio Piracicaba. Nossa casa era do lado esquerdo. Sou rezendina, com orgulho!
Os seus estudos foram iniciados em que escola?
Foi no Instituto Baroneza de Rezende, fiz o pré-primário, o primário, comecei a tocar piano com uma das irmãs, a Irmã Clemência.
O que fez com que você se interessasse em tocar piano, sendo tão jovem ainda?
Vários fatores contribuíram, um deles foi a indicação de um dos meus médicos, o pediatra Dr. Tito Gomes de Moraes, em uma das suas conversas com a mamãe ele disse que seria ótimo que eu tocasse piano, iria me proporcionar um bem estar maior. Na época eu tinha algumas limitações para locomoção sem auxilio de alguém. Minha mãe atendendo a indicação do Dr. Tito colocou-me no curso de piano. A minha madrinha, Inês Seghese, irmã da mamãe, deu-me de presente um piano, que conservo até hoje. Nessa época eu tinha entre seis a sete anos. Isso foi me incentivando.
Quando você viu o piano que tinha recebido como presente, qual foi o impacto que ele lhe causou?
Ele chegou todo encaixotado, a minha casa tinha uma escada, foi uma emoção muito grande. Foi um presente que eu nem esperava em ganhar. Até então eu não tinha piano em casa, tinha as aulas no colégio e estudava lá. Sempre gostei bastante de tocar piano.
Qual era a atividade profissional do seu pai?
Ele começou com uma fábrica de vassouras, iniciou com seu irmão, Irineu Alleoni, a vassoura chamava-se “Marabá”.  (O grande artista plástico, Marco Antonio Cavallari reconhecido mundialmente, por suas inúmeras obras expostas em muitos países sendo talvez uma das mais conhecidas pela mídia a reconstituição a partir do crânio da cabeça de Josef Mengele componente do primeiro escalão nazista, Cavallari tem seu nome como escultor no laudo oficial da polícia brasileira, alemã, israelense e americana. Em entrevista dada para esta coluna afirmou que muito jovem começou a trabalhar, conforme suas palavras: “Sei fazer vassoura de piaçava, fazia quarenta dúzias por dia, isso na Fabrica de Vassouras Marabá”.) Depois ele teve um sócio, o Ferreti. A fábrica começou com o meu avô, Antonio Alleoni. A nossa casa era na Avenida Rui Barbosa e eles tinham a indústria em um barracão na Avenida Maria Elisa. Permaneceram por alguns anos, depois se mudaram, meu pai construiu a nossa casa na Rua Dona Eugênia, e ao lado um barracão onde atualmente tem casas e prédio construídos no local. Quando mudei para essa casa eu tinha uns 10 anos.  
Você formou-se como pianista?
Sou formada em Piano pelo Conservatório Dramático e Musical de Piracicaba. Também sou formada como professora primária, antigo Magistério ou Normal no Colégio Piracicabano. Posteriormente estudei com a pianista Maria Dirce Rodrigues de Almeida, com quem aprendi toda a parte pedagógica do ensino do Piano. Sou graduada em Educação Artística pela Universidade Metodista de Piracicaba- UNIMEP.
Você lecionou piano?
Fui professora de Piano no Conservatório Dramático e Musical de Piracicaba por 25 anos. Em 1982 passei a lecionar na Escola de Música de Piracicaba, hoje Escola de Música de Piracicaba “Maestro Ernst Mahle”.
Você sempre buscou aprimorar sua técnica participando de diversos cursos.
Fiz o curso de Visão Científica da Pedagogia da Técnica Pianística com o Professor Luis Carlos de Moura Castro – Texas USA. Princípios de Técnica Pianística com o Professor Alfeu Araujo. Freqüentei Cursos de Técnica Pianística com Dirce A. Camargo, Olga Normanha, Beatriz Balzi, Maria Helena Pacheco Ferraz, Fernando Lopes e Professor Alfeu Araujo, M.Helena P. Ferraz, Fernando Lopes, Alfeu Araujo. Participei dos Master Classes com os pianistas Luis Carlos Moura Castro (USA), Estela Caldi, Daisy de Luca. Estudei harmonia e flauta doce com o maestro Ernst Mahle. Participei de inúmeros cursos referentes a Iniciação Musical e Pedagogia Pianística. Como professora do Iº e IIº Graus (Curso Técnico, reconhecido pelo MEC) tive vários alunos que conquistaram prêmios em Concursos Nacionais e Estaduais como Concurso Jovem Instrumentistas do Brasil, Magda Tagliaferro, Souza Lima e Art Livre Em 2005 obtive da Suzuki Association Of The Americas em curso realizado em Lima, Peru o Certificado de Capacitação para Ensino do Método Suzuki para Piano, com crianças a partir de 4 anos. Recebi a Capacitação em Filosofia e Leitura Musical, com a Professora Caroline Fraser, em Lima, Peru. Em 2009 participei do curso “Toda Criança é Capaz”, ministrado pela Associação Suzuki das Américas com a professora Shinobu Saito, teacher tainer da Associação Suzuki Americana (SAA). Em setembro de 2009 participei do curso “Lectura Musical Com El Metodo Del Lingua Materna” com a professora Caroline Fraser, do Peru reconhecida pela Associação Suzuki das Américas (ASA), como professora de capacitação do Método Suzuki para piano e coordenadora de piano pela Associação Suzuki do Peru. Em 2011 participei do Curso de Rítmica Dalcroze, ministrado pelo Professor Iramar Rodrigues (Suiça). Em 2013, com Caroline Fraser, Peru, Curso Sobre Método Suzuki. Em junho de 2014 tive a participação no 1º Encontro Internacional de Pianistas de Piracicaba, assistindo a palestras e masterclasses com as pianistas e professores João Paulo Casarotti e Leslie Spotz (USA).




        Shinichi Suzuki A beautiful heart = a beautiful tone

Além desses cursos todos, você tem realizado ações culturais em Piracicaba? 
Criei o Recital Mirim, para dar oportunidade aos musicistas mirins de 5 a 11 anos se apresentarem. Criei o Concerto para a Juventude, onde jovens tenham a oportunidade de mostrar o seu trabalho em todos os instrumentos e voz. Fui por 5 anos secretária da Sociedade de Cultura Artística de Piracicaba.
O que é o Método Suzuki?
Esse método foi criado por um filósofo, educador, músico. Ele viveu na época da Segunda Guerra Mundial, ele percebeu que as crianças estavam ficando muito tristes nesse período, ele queria fazer alguma coisa para que elas tivessem um pouco mais de alegria. Começou a estudar como a criança aprende a falar. De que forma ela aprendia. A criança aprende a falar antes de ler e escrever: ouvindo e repetindo. Ele percebeu que a criança tinha muita facilidade independente da língua: japonesa se morasse no Japão, alemão se morasse na Alemanha. As crianças aprendiam com muita naturalidade a língua do local onde morasse. Ele passou a estudar de que forma ela aprendia e passou a aplicar isso no sentido de que forma ele iria ensinar a música. Dessa forma toda criança é capaz: ouvindo e repetindo. Shinichi Suzuki criou um método fantástico, as crianças aprendem com muita facilidade, é muito lindo ver esse desenvolvimento.

     Suzuki Violin Book 4 Graduation Recital, 5 years old.   

      

                        First concert - 2 year old violinist   



                 Violin graduation concert, Gossec Gavotte


Você tem alunos com que idade?
Começo a lecionar para alunos a partir dos cinco anos. Já até realizaram recitais!
A seu ver qual é a importância da música para o ser humano?
É incalculável.
Como você descobriu o Método Suzuki?
Através da leitura, pesquisas, internet. Busquei o máximo que consegui. No Brasil esse método começou no violino, no Sul do Brasil. No piano encontrei em São Paulo algumas professoras que tinham ido buscar o método, mas não eram habilitadas a ministrarem aulas sobre o método para professores. Para ser training (O processo ou a rotina de quem treina) são necesários muitos anos de estudos além de uma série de pré- requisitos para ensinar professores do Método Suzuki. Nem é a minha pretensão. Eu quero é trabalhar mesmo com alunos, com as crianças. Depois de muita procura fiquei sabendo que no Peru tinha o Método Suzuki para piano. Fui para o Peru, juntamente com a professora Luciane Penati.Prmanecemnos por 10 dias fazendo toda a filosofia. O método é uma filosofia. O método não envolve apenas o aluno e o professor, trabalham os pais, aluno e professor. Shinichi Suzuki afirma que o método é uma mesa de três perninhas, se uma das pernas não existir o método já não funciona.
Esse método de aprendizado pode ser aplicado para outras matérias além da música?
O Kumon acho que é meio parecido. Fiquei até com vontade de fazer o Kumon para ver se tinha alguma relação (Kumon é um método que visa desenvolver o autodidatismo nos alunos de forma individualizada, A palavra designa além do nome do fundador  Toru Kumon o método de estudo. Acredito que haja alguma relação, mas não sei definir qual seria essa relação. Há semelhanças, é diário, no piano é dito que “você tem que praticar todos os dias que você come” o tempo não é tão importante, no começo a criança tem pouco material, se ela ficar cinco minutinhos no piano é maravilhoso. A criança vai criando esse hábito, os pais têm que estar muito presentes, eles assistem a aula com a criança, ela não fica sozinha.
Isso não é meio complicado?
No Brasil é muito complicado quando envolve essa parte familiar. Tenho aluno em que os pais estão sempre presente, não importa se são 10 ou 15 minutos. Com isso o menino deslancha, vai muito rápido. Outros aluninhos vão para a aula e ninguém toma conhecimento. Torna-se mais complicado.
Caso a criança esteja sob os cuidados de uma pessoa da família, avó, por exemplo, ela pode participar?
Já tive casos em que a avó participava. Frequentava a aula e depois trabalhava com a criança em casa. Criança de cinco anos não irá lembrar tudo que eu disse à ela. Os pais têm essa missão, de ser o professor em casa. Orientar a criança. Isso é importante porque o professor fica pouco tempo com a criança. No inicio damos só meia hora de aula. A concentração dela é ainda muito pequena. Com o passar do tempo percebemos que a concentração da criança vai aumentando de uma forma visível.
É um trabalho que não se limita a música, abrange a mente humana?
Trabalhamos com o ser humano, com o indivíduo. Ele irá aprender muita coisa: raciocínio, memorização, concentração, disciplina, postura, coordenação motora, percepção auditiva, sensibilidade, musicalidade, socialização, ritmo, afinação, auto-estima. Há um leque muito grande de benefícios, não é o simples fato de estar tocando piano. A criança que estuda música é centrada, tem um objetivo a alcançar. No ensino ele tem várias metas, ela vai alcançando essas metas. Ela irá aprender a trabalhar em sua vida.
Algumas famílias ainda têm algum preconceito, de que o filho torne-se um músico, e em decorrência das distorções, principalmente na música popular, isso pode comprometer o futuro profissional do jovem.
Na verdade nunca ouvi nada a respeito. Os meus alunos eu não tenho como objetivo em torná-los profissionais. Irá tornar-se um musico profissional se for a vontade dele. Estou fazendo o meu papel de pedagoga para ele adquirir conhecimentos, ter uma apreciação musical, saber ouvir uma música, alguns escolhem essa carreira. Tive dois alunos que seguiram e hoje são bem sucedidos, um está nos Estados Unidos e a outra viajou para o exterior, atualmente está na Escola de Musica de Piracicaba fazendo doutorado. Escolher uma carreira é uma iniciativa muito pessoal. Posso até falar que a pessoa tem talento. Mas a iniciativa e decisão são da pessoa. Tive alunas ótimas, hoje uma é médica e outra é advogada, a música serviu para a vida delas, enfrentar platéia. Cada vez que você sobe no palco é um enfrentamento, você está “dando a cara para bater”.


                  Pânico de Palco ou "Stage Fright", por Luiz Carlos de Moura Castro   

                    RECITAL POR LUIZ CARLOS DE MOURA CASTRO

Você tem um grande número de apresentações?
Identifico-me mais com a área de pedagogia, gosto de ensinar. É o meu ponto forte.
Quando um aluno vai se apresentar o seu coração bate forte?
Nesse instante estou junto, com certeza! Temos que estar sempre incentivando, motivando.
Existe o inverso também, aquele aluno que não progride de forma alguma?
Eu nunca falo nada. As mudanças são muito grandes. Já tive alunas ótimas que desistiram e péssimas que se tornaram pianistas maravilhosas. Por isso não podemos falar nada. É uma coisa que às vezes vai fluindo, então tem que deixar. Vou até o ponto em que a pessoa diz que não quer mais.
Ou seja, é praticamente impossível definir o ser humano?
Nunca se pode dizer: “Você não tem capacidade para isso, então não pode fazer!”. A vida dá tantas reviravoltas, que as vezes a pessoa tem um estalo, uma luz.
Somos 200 milhões de habitantes, porém não temos a mesma proporção de interessados em musica clássica.
São poucas famílias que ouvem música clássica.
A tão decantada musicalidade brasileira tem atingido alguns limites abaixo de qualquer comentário, isso é a força da mídia?
É a mídia. Os veículos que atingem a massa popular não transmitem musica erudita, basta olhar o que é transmitido pela televisão. São raríssimas as apresentações, e mesmo as vezes assistimos na TV Cultura alguma coisa. A música é assim: “Se você não ouve você não gosta”. Se você ouvir cinco vezes uma peça de Villa Lobos irá amar. Agora nunca ouve, ou ouve uma única vez, não vai gostar. Não vai gostar nunca! Tem que ouvir, a gente precisa ouvir! Tem que degustar a música.
A diferença do teclado para o piano é muito grande?
É bem grande! Desde a parte técnica, o teclado é baseado em um sistema eletrônico, ele não tem peso e também você não pode mostrar o seu sentimento. Já está gravado, não dá para transmitir. Quando alguém está tocando piano há pessoas que não transmitem nada e outras estão tocando musicas tão simples e conseguem passar isso para você. É  aonde está a beleza. O João Pedro Carlini Garcia é um menino de 10 anos que ganhou o premio de musicalidade, para mim foi o maior premio. Ele conseguiu sensibilizar o júri. 
Música e saúde estão interligadas?


Muito. Todo ser humano não pode viver sem música. Seria muito triste se vivêssemos em um mundo sem música, ela está presente em todos os momentos, felizes, tristes, a musica influencia muito no nosso interior. Existe a musicoterapia, não é a minha área, mas deve ser muito linda também. 


NOTAS



·         SOCIEDADES MÉDICAS DE PIRACICABA, ANTECESSORAS DA (APM) ASSOCIAÇÃO PAULISTA DE MEDICINA SEÇÃO REGIONAL DE PIRACICABA 19/01/1950 RESUMO HISTÓRICO


Diversas entidades médicas foram fundadas em Piracicaba antes da fundação da Regional da APM de Piracicaba, porém, todas tiveram vida efêmera. Segundo o relato do Dr. Oswaldo Cambiaghi em seu livro "MEDICINA EM PIRACICABA" (contribuição à sua história) - 1984 - foram as seguintes:
CENTRO MÉDICO - fundado em 13 de maio de 1913, por iniciativa do Dr. José Rodrigues de Almeida, teve como presidente o Dr. Torquato da Silva Leitão e secretário o Dr. José Rodrigues de Almeida.
SOCIEDADE MÉDICA DE PIRACICABA - fundada em 2 de julho de 1924, tendo à frente o Dr. José Rodrigues de Almeida, a primeira diretoria foi constituída pelos profissionais: Presidente, Dr. Coriolano Ferraz do Amaral; Vice presidente, Dr. Orestes Pentagna e Secretário, Dr. Francisco Simões da Costa Torres.
SINDICATO MÉDICO DE PIRACICABA - 13 de setembro de 1931 por iniciativa do Dr. Rosalvo Salles, iniciaram-se os trabalhos para a fundação do sindicato e elaboração do seu estatuto. Finalmente, no dia 3 de outubro de 1931, foi fundado o Sindicato Médico de Piracicaba com a presença Prof. Dr. Franklin de Moura Campos. Sua primeira diretoria ficou assim constituída: Presidente, Dr. Galdino Ferreira de Carvalho; Secretário, Dr. José Rodrigues de Almeida; Tesoureiro, Dr. Francisco Alves Corrêa de Toledo; Membros do Conselho Deliberativo: Dr. Coriolano Ferraz do Amaral; Dr. Júlio César de Mattos; Dr. Fernando da Rocha Paes de Barros e Dr. Francisco de Assis Jorge Monteiro.
SOCIEDADE DE MEDICINA E CIRURGIA DA SANTA CASA DE MISERICÓRDIA - em 25 de janeiro de 1947, fundava-se a sociedade dos médicos da Santa Casa de Piracicaba, com a finalidade de promover reuniões mensais de caráter médico científico e a Mesa Administrativa sorteava Bolsas de Estudos aos Membros do Corpo Clínico e ao mesmo tempo o Corpo Clínico proporcionava Bolsas para o comparecimento em congressos e cursos de aperfeiçoamento no país e no exterior. Na primeira reunião ordinária estiveram presentes os seguintes médicos: Dr. José da Cunha e Oliveira Júnior, Dr. Caio Ferreira Carneiro, Dr. Samuel de Castro Neves, Dr. Tito Gomes de Moraes, Dr. Irineu Bacchi, Dr. José Pessoa de Aguiar, Dr. Raul Machado Filho, Dr. Zeferino Bacchi, Dr. Bernardo Dias de Aguiar, Dr. Fortunato Losso Neto e Dr. João José Corrêa. As diretorias eleitas foram assim constituídas (1947): Presidente, Dr. Raul Machado Filho; Secretário, Dr. Bernardo Dias Aguiar - (1948): Presidente, Dr. João José Corrêa; Secretário, Dr. Wanderley Fonseca.
Em 1950 a Associação Paulista de Medicina que abrigava aos médicos da capital, graças aos trabalhos dos professores Dr. Jairo de Almeida Ramos e Alípio Corrêa Neto decidiram estender seu âmbito de ação também para o interior, criando as seções regionais e filiadas. Em Piracicaba, o grande batalhador para a instalação da regional foi o Dr. Luiz Gonzaga de Campos Toledo (Dr. Lula) e, sendo na época o Presidente de Sociedade de Medicina e Cirurgia o Dr. Nelson Meirelles, que reconhecendo a importância desse acontecimento, decidiu, em conjunto com outros colegas, paralisarem temporariamente as atividades da Sociedade para dar apoio a fundação da Regional da APM de Piracicaba.
ASSOCIAÇÃO PAULISTA DE MEDICINA - SEÇÃO REGIONAL DE PIRACICABA - A Associação Paulista de Medicina (APM) fundada em 29 de novembro de 1930, abrangia os médicos da Capital de São Paulo, porém com a reforma do Estatuto em 1948, todos os médicos do Estado passaram a integrá-la, incorporando-se a ela as várias sociedades já existentes.
A partir dessa data, o Dr. Lula, que era Delegado do Departamento de Previdência não mediu esforços e após três reuniões de Intercâmbio Científico e Cultural com Diretores da APM, decidiram fundar a Regional de Piracicaba e depois de mais outras tantas reuniões preparatórias, no dia 19 de janeiro de 1950, na sede da Legião Brasileira de Assistência (Società Italiana de Mutuo Socorso), instalou-se a Assembléia Geral de Fundação com a presença de 38 médicos (fundadores), foi eleita por voto secreto, a primeira.
Diretoria que ficou assim constituída:

Presidente - Dr. Tito Gomes de Moraes
Vice presidente - Dr. Bernardo Dias de Aguiar
1º Secretário - Dr. Plínio Alves de Moraes
2º Secretário - Dr. Ben-Hur Carvalhais de Paiva
Tesoureiro - Dr. José Cunha e Oliveira Júnior
1º Orador - Dr. Fortunato Losso Netto
2º Orador - Dr. José Wenceslau Júnior

Entretanto, o Dr. Tito, presidente eleito, renunciou ao cargo alegando que por justiça o presidente deveria ser o Dr. Lula. O Vice presidente, Dr. Bernardo convocou a Assembléia Extraordinária, quando compareceram 29 sócios e o Dr. Lula recebeu 27 votos válidos, tendo ainda 01 em branco e 01 destinado a outro colega. A primeira sede foi instalada no Edifício Leitão, na Rua Alferes José Caetano, esquina com a Rua São José. Posteriormente passou a funcionar na Santa Casa, onde todos os membros do Corpo Clínico eram associados. Nessa época a Regional de Piracicaba estava integrada pelas seguintes cidades: Capivarí, Santa Bárbara D`Oeste, São Pedro, Águas de São Pedro, Tietê, Laranjal Paulista, Cerquilho, Rio das Pedras, Pereiras, Charqueada, Rafard e Santa Maria da Serra.
A IDÉIA DA SEDE PRÓPRIA - Em 1959, sob a presidência do Dr. Alcides Aldrovandi, realizou-se em Águas de São Pedro o VII Congresso Médico da APM. Foi aí que sedimentou a idéia de que a Regional necessitava da sua sede própria e assim os companheiros da diretoria se puseram em luta. Esse sonho já vinha sendo alimentado pelo Dr. Lula há muito tempo e não estava morto.
PRIMEIRA CASA DO MÉDICO DE PIRACICABA - inaugurada no dia 11 de agosto de 1962, no 12º andar do Edifício Lúcia Cristina, Rua XV de Novembro, 802. A Regional de Piracicaba comprou um apartamento e o Departamento de Previdência da APM o outro, assim a Casa do Médico ficou com a cobertura do prédio. Esse mérito é do Dr. Alcides Aldrovandi, sua Diretoria e aos Diretores da APM nas pessoas do Dr. Edson de Oliveira, Dr. Henrique Melega e Dr. Nicolau Oppido Sobrinho.
SEGUNDA CASA DO MÉDICO DE PIRACICABA - a cidade foi crescendo e aumentando o número de médicos. A sede ficou pequena e já não comportava para as atividades científicas, culturais e sociais, pois quando se construiu a primeira sede éramos 50 médicos, 12 anos após passou a ser cerca de 200. Desta vez, coube ao Dr. Legardeth Consolmagno, iniciar os trabalhos para a construção da nova Casa do Médico. Sob a presidência do Dr. Legardeth foi nomeada uma comissão pró construção da "Nova Casa do Médico", que ficou assim constituída: Dr. João José Corrêa, Dr. Arthur Campanhã Affonso, Dr. João Carlos Sajovic Forastieri, Dr. Benito Filippini e Dr. Geraldo Ferreira Borges. Adquirido o terreno de 1.000 metros quadrados e doado ao Departamento de Previdência por escritura lavrada no dia 25 de julho de 1975, sendo presidente da APM o Dr. Henrique Arouche de Toledo. Contratou-se a firma L M P K - Engenharia Projetos e Obras Ltda., para elaborar os projetos e orçamentos. No dia 15 de agosto de 1976, foi lançada solenemente a Pedra Fundamental e em 27 de agosto de 1977, foi inaugurada a Nova Casa do Médico de Piracicaba na Avenida Centenário, 546, com seus 640 metros quadrados de construção, tudo muito simples, o máximo que foi possivel com as dificuldades da época e sem nenhuma ostentação, empregando sempre o material mais econômico.
UTILIDADE PÚBLICA - A Associação Paulista de Medicina - Seção Regional de Piracicaba é reconhecida de UTILIDADE PÚBLICA pela Lei Municipal nº 361, de 6 de junho de 1953, quando era prefeito o Dr. Samuel de Castro Neves.
Dr. Legardeth Consolmagno
Piracicaba, 10 de julho de 2003

        ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS
apresenta
MÚSICA DE CÂMARA
Luiz Carlos de Moura Castro,
piano
Sexta-feira, 29 de agosto de 2008, às 17h30min.
Direção Artística
André Oliveira e Guilherme Bernstein
Produção Artística
Nikolai Brucher
Realização

Patrocínio Petrobrás


Sobre o Artista

Luiz Carlos de Moura Castro 
Natural do Rio de Janeiro, Luiz Carlos
de Moura Castro graduou-se em piano pela Escola de Música da UFRJ e pela
Academia Lorenzo Fernandez. Posteriormente, realizou ainda estudos de
aprofundamento na Academia Franz Liszt, em Budapest. Em 1968, a convite
de Lili Kraus, tornou-se professor da Texas Christian University e atualmente
integra o corpo docente da Hartt School of Music em West Hartford,
Connecticut. Além disso, Moura Castro leciona na Catholic University, em
Washington D.C., na Escola de Música Juan Pedro Carero, em Barcelona e
retorna anualmente ao Brasil para lecionar Master Classes nos Seminários de
Música Pro-Arte, no Rio de Janeiro.
Nos anos recentes, Moura Castro atuou em diversos festivais
internacionais no Brasil, na Argentina, na Bélgica, na Itália, em Portugal, na
Espanha, no Japão, no Canadá, na Venezuela e nos Estados Unidos. Além
disso, realizou palestras e concertos em Ekaterinenburg, na Rússia; em
Rovello, na Itália e em Praga, na República Tcheca. Como membro da
American Liszt Society ele organiza anualmente o Festival Liszt do Rio de
Janeiro.
Como concertista, o pianista já se apresentou com diversas orquestras,
incluindo a Orquestra de Câmara de Lausanne; a Orquestra da Rádio de Lisboa;
a Filarmônica de Turim; a Sinfônica de Yaroslav, na Rússia; e as orquestras de
Dallas, Fort Worth, Hartford e Syracuse, nos EUA, além de todas as grandes
orquestras brasileiras. Sua carreira solo inclui recitais no Piccolo Scala, em
Milão; no Teatro Ghione, em Roma; na Sale Gaveau, em Paris; no Palau de la
Musica, em Barcelona; no Rubinstein Hall, em S.Petersburgo e no Merkin Hall
do Metropolitan Museum de Nova York.
Sua discografia inclui mais de 30 CDs para os selos Ensayo (Espanha),
Euterpe (Suiça), L’Art (Brasil) e Musical Heritage (EUA). Entre suas gravações
mais recentes estão o 2º e 3º concertos e as Variações Paganini de
Rachmaninov, a Rhapsody in Blue de Gershwin, o Momoprecoce de Villa-Lobos,
os dois concertos de Liszt, canções brasileiras com Maria José Montiel, o
quinteto com piano de Henrique Oswald, obras de Schubert, a 2ª Suite para
piano a 4 mãos de Rachmaninov com Bridget de Moura Castro, obras brasileiras
para violoncelo com Guerra-Vicente, Noturnos de Chopin e os cinco concertos
para piano de Beethoven com a Orquestra Sinfônica da Venezuela.
ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS
Avenida Presidente Wilson 203, Castelo
Rio de Janeiro – RJ, CEP: 20030-021
Tel.: (21) 3974-2500
www.academia.org.br

academia@academia.org.br


A Música que Machado ouvia

(Clube Beethoven)
Joaquim Antônio Callado Flor Amorosa
(1848-1880)
Alexandre Levy Tango Brasileiro
(1864-1892)
Ernesto Nazareth Odeon
(1863-1934) Batuque
Francisco Mignone Valsa de Esquina No3
(1897-1986)
Frederic Chopin Noturno op.15, No2, em Fá# menor
(1810-1849) 4 Mazurcas
3 Valsas
Heitor Villa-Lobos 3 Peças do Carnaval das Crianças
(1887-1959) Manhã da Pierrete
A gaita de um precoce fantasiado
O ginete do Pierrozinho
Robert Schumann Carnaval, op.9

(1810-1856)


Ao longo do séc.XIX, a ascensão da classe burguesa no Rio de Janeiro levou a

um crescente interesse pelo piano, que representava valor agregado e ostentação nas casas das famílias de classe média e fazia parte da educação das meninas. Surgiu assim uma demanda que estimulou o desenvolvimento de um comércio musical de pianos,edições, composições, arranjos e sobretudo do ensino de música.
Joaquim Antonio Callado foi um dos primeiros chorões cariocas e seu
trabalho contribuiu significativamente para o desenvolvimento e estabelecimento do gênero. O chôro “Flor Amorosa” de 1880, com letra de Catulo da Paixão Cearense, éconsiderado a sua derradeira composição.
Alexandre Levy foi um dos primeiros compositores eruditos brasileiros a
tentar estabelecer uma identidade nacionalista em sua música. O Tango Brasileiro de1890, apesar da evidente influência da habanera espanhola, apresenta ao mesmo tempo uma sonoridade com características bem brasileiras.
Ernesto Nazareth iniciou seus estudos ao piano com sua mãe, passando em seguida por outros mestres. Na composição foi um autodidata, aprendendo com as obras de outros compositores, sobretudo Chopin, cuja escrita pianística tanto influênciou seu estilo. Atuou como pianista em casas de música e no cinema mudo e compôs mais de uma centena de polcas, maxixes, tangos e valsas. Nelas, revelam-se aspectos marcantes da musica brasileira, em especial do cenário musical carioca do final do séc.XIX.
Francisco Mignone entrou para a história da música brasileira como autor de grandes obras sinfônicas como “Festa nas Igrejas”. Porém, com o pseudônimo de Chico Bororó, produziu também um grande número de obras em linguagem popular, e estas
duas vertentes viriam a se fundir nas valsas de esquina, onde a linguagem popular aparece com uma roupagem formal erudita.
A música para piano representa quase a totalidade da produção musical do compositor polonês Frédéric Chopin e sua importância para o desenvolvimento da escrita pianística no séc.XIX é única. Afastando-se gradualmente das grandes formas, como a sonata, Chopin optou por também dedicar-se à elaboração das pequenas formas, contribuindo para o estabelecimento de sua importância dentro do repertório romântico.
Como resultado, deixou-nos uma grande quantidade de valsas, mazurcas, noturnos, scherzos, prelúdios e outras pequenas peças que ajudaram a moldar a música para piano do romantismo brasileiro.
O pianismo brasileiro indubitavelmente atingiu um ápice na obra de Heitor Villa-Lobos, que, mesmo não sendo um grande pianista, desenvolveu uma escrita extremamente individual. O Carnaval das Crianças é um ciclo de 8 peças com temática carnavalesca composto em 1920. Posteriormente, em 1929, o compositor transformou esta suite em uma fantasia para piano e orquestra intitulada “Momoprecoce”.
Ao lado dos mais de 250 lieds, as obras para piano representam a maior parte da produção de Robert Schumann, um dos mais emblemáticos compositores do Romantismo alemão. O Carnaval op.9, uma de suas obras mais conhecidas, foi composto em 1835. Trata-se de um ciclo de 22 pequenas peças para piano que são unificadas através do emprego de um motivo recorrente representado pelas notas Lá –
Mib – Dó – Si, na nomenclatura musical alemã A – S (soa como Es) – C – H, que seriam as letras musicais no nome do compositor (SCHumAnn

ARY WERNECK

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 21 de janeiro de 2017
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADO: ARY WERNECK
(ARISTIDES DE OLIVEIRA CAMPOS)




Aristides de Oliveira Campos é o nome civil do artista Ary Werneck nome sugerido em 1976 por uma diretora de teatro que admirava e quis homenagear Nelson Werneck Sodré (Pesquisador e escritor sobre a história do Brasil publicou dezenas de livros que se tornaram obras de referência para os historiadores e estudiosos do país.).
Você nasceu em qual cidade?
Nasci a 30 de agosto de 1934, em Jardinópolis, uma pequena cidade próxima a Ribeirão Preto. Meu pai era mineiro, seu nome é Abílio de Oliveira Campos e minha mãe Catharina Balbina do Nascimento, da região de Ribeirão Preto, com ascendência paulista de 400 anos. Tiveram quatro filhos: Alderico, Aristides, Irineu e Ivone de Lourdes.
Você estudou inicialmente em qual cidade?
O meu pai era encanador, no tempo em que era um ofício que exigia do profissional uma série de atribuições técnicas, os canos tinham que serem trabalhados com tarrachas, faziam-se as roscas, ele era contratado para fazer encanamentos nas cidades próximas. Fomos morar onde na época era chamado de distrito Sales de Oliveira. (Atualmente Sales Oliveira é um município  Estado de São Paulo, que faz parte da Região Metropolitana de Ribeirão Preto). Entrei na escola com sete anos, meu pai aos 36 anos faleceu. Estudei na Escola Capitão Getulio Lima em Sales de Oliveira. Lembro-me da minha escola até hoje. Fiz os quatro primeiros anos lá, quando conclui não havia outro curso a seguir em Sales de Oliveira. Após o falecimento do meu pai, minha mãe e nós, seus quatro filhos, mudamos para Ribeirão Preto. Quando meu pai faleceu minha mãe tinha 34 anos. Ela teve que trabalhar muito para nos criar. Ela lavava roupa para outras pessoas, lembro-me de que eu ajudava quando ela ia passar roupa. Era utilizado ferro a carvão, ela passava roupas para pessoas grã-finas: camisas, saias. Trabalhava com dois ferros, enquanto usava um o outro já era preenchido com brasa do fogão a lenha. Isso foi no período da Segunda Guerra Mundial. Lembro de que tudo era racionado, havia o cartão de racionamento. Lembro de que meu tio Alberico resolveu fazer gasogênio, para um ônibus que circulava pelo local. Ele cortava a lenha, fazia o carvão e vendíamos em um posto de gasolina. Na época a gasolina era importada, vinha em tambores era colocada em bombas de gasolina. Essa gasolina era bombeada manualmente, abasteciam os veículos.  Os ônibus denominados de jardineiras, utilizavam muito o gasogênio, era comum pararem na estrada, dar todo tipo de problema, mas acabavam chegando ao seu destino. O Brasil produzia muito pouca coisa, Importávamos o trigo que era consumido. Lembro-me com muita saudade da estrada de ferro.  A Companhia Mogiana de Estradas de Ferro passava bem no meio da cidade. Todos os dormentes que eram cortados para a Mogiana, cortados na Alto Sorocabana, envelheciam ali, no pátio, era cortadas com quatro faces, chanfradas, tinha acredito que uns dois metros e vinte sentimetros de comprimento, eram colocados ali para secarem em pilhas com dormentes sobrepostos dois a dois. Minha mãe descobriu que em cada dormente daquele tinham umas lascas que ficavam como cascas. Ela pediu licença para o chefe da estação ela, meus irmãos, eu, íamos tirar aquelas cascas enormes, juntavamos tudo em um quartinho no fundo de casa. Cozinhamos com aquelas cascas durante muito tempo. Outra coisa que ela fazia também, aos domingos após a missa, íamos até a beira da estrada de ferro, que era pertinho. Tinha a linha de trem, logo depois acompanhando os trilhos era plantada erva cidreira, Ao lado havia um pasto e em seguida a cerca, ali ela plantava abobora, pepino, buxa, antes de roçarem o pasto íamos lá e trazíamos, aboboras, pepinos. Havia uma fruta silvestre chamada marolo. Agora estão cultivando, na época era uma fruta silvestre que não se plantava. Tem um perfume que se sente a distância. Tenho muita saudade daquele perfume e da doçura da fruta.
Você permaneceu em Sales de Oliveira até quando?
Eu calculo que permanecemos lá até uns três anos após ter terminado a escola. De lá fomos à Ribeirão Preto aonde conhecíamos uma senhora amiga da família. Ribeirão Preto é uma cidade muito importante, eu me lembro de Ribeirão Preto com 70.000 habitantes. Com quatro jornais diários. Quatro estações de rádio. Com uma biblioteca chamada Padre Euclides. O que sobrou do Cassino Antárctica e transformou-se em um auditório. No passado a Antarctica tinha nontado esse cassino e patrocinava tudo. O Bar Pinguim já existia. Lembro-me do Edifício Antônio Diederichsen, um prédio de seis andares, mas muito alto para a época. Tinha uma parte residencial e outra de escritórios. Embaixo lojas. Na esquina da Rua São Sebastião tem a Cafeteria A Unica, eu acho que é o mellhor café do mundo. Próximo havia uma loja que vendia produtos importados: pera, maçã. Até hoje lembro-me do aroma da maçã. Minha mãe era uma escavadora. Quando a maçã estava um pouquinho amassadinha eles nos davam. Bem como outras frutas finas importadas. Essa loja chamava-se “ A Deliciosa”. Tinha as lojas Caprichosa que tinha artigos para senhoras, Caprichosinha com artigos para crianças e Caprichoso que era uma alfaiataria. Em frente tinha uma casa chamada “Arca de Noé”, o proprietário era um português, vendia todo tipo de frios importados: salame, presunto. Na Praça XV, que é a praça principal da cidade, tinha o Teatro D. Pedro II, a Companhia Cervejaria Paulista, produzia uma cerveja preta chamada Niger. A Cervejaria Paulista foi adquirida pela Antarctica. Na esquina havia o Palace Hotel, onde ficavam os grandes artistas.  Na Praça XV tínhamos três café, entre eles o Café Pinho, famosíssimo e o Café Triangulo. Ainda na praça tínhamos uma loja de pianos, que tem uma ligação com Piracicaba. Ribeirão Preto tem dois times gloriosos de futebol: Botafogo e Comercial. O Comercial foi muito famoso nas décadas de 20,30, foi jogar na Europa, quando voltou fizeram uma campanha gloriosa pelo Norte do Brasil, sendo chamado “Leão do Norte” por causa disso. Atualmente não existe mais o Comercial, só o Botafogo. Belmácio Pousa Godinho  nascido em Piracicaba, foi jogar no Comercial contratado a peso de ouro.  Belmacio foi um importante futebolista, músico e comerciante. A família tem a loja “A Musical” em Piracicaba até hoje.
Você concluiu o ginásio em Ribeirão Preto?
Quando vim para Ribeirão Preto já tinha passado alguns anos, fui trabalhar. Trabalhei no comércio, na Cervejaria Paulista, por parte de mãe eu tinha um tio, ele possuía um Chevrolet ano 1944. Era representante comercial, viajava pelo Sul de Minas Gerais: Muzambinho, Sacramento, Guaxupé, eu ia com ele só para abrir as malas com mostruário de roupas, depois guardar e fechar. Naquela época não havia a quantidade de escolas que temos agora. A maioria era de escolas particulares. Quando tive a oportunidade fiz os chamados exames de madureza.
Como se deu a sua entrada para o teatro?
Em Ribeirão Preto havia um teatro chamado “Teatro Escola Ribeirão Preto”.
O que o levou a entrar para o teatro?
A fascinação pelo teatro. Quando a minha mãe foi para Ribeirão Preto ela foi trabalhar em uma pensão, como cozinheira, isso facilitava também porque morávamos no porão da pensão. Na época Ribeirão Preto estava no roteiro feito pelas grandes companhias de teatro. Os artistas famosos ficavam no Palace Hotel, Grande Hotel, Hotel Brasil, Hotel Aurora, e os técnicos, chamados maquinistas naquela época, ficavam na pensão aonde a minha mãe trabalhava. Eu ajudava a distribuir filipetas, às vezes tinha que conseguir algum móvel, às vezes ganhava ingresso para ir assistir ao espetáculo. Com isso vi grandes artistas que trabalhavam naquela época: vi muitas vezes Procópio Ferreira, Itália Fausto, Jaime Costa, Dulcina de Moraes e seu marido Odilon, ela era filha de Conchita de Moraes, eram atores de grande importância. Ribeirão Preto tinha um teatro amador muito forte também. Lá foi fundada uma escola de teatro chamada Teatro Escola de Ribeirão Preto, a fundadora, segundo consta, era chamada de Dona Pequena é tia do ator Lima Duarte.



Isso foi motivando a sua vontade de ingressar no teatro, qual foi a primeira peça em você participou?
Foi “Casa de Orates”, uma peça de Aluisio Azevedo. Casa de Orates é um asilo de malucos. (Casa de Orates palavra de origem espanhola que quer dizer loucos, doidos). Para mim isso foi importantíssimo, eu estava trabalhando com os bons atores da cidade. Em Ribeirão Preto recebemos o Teatro da Universidade de Coimbra. Fizeram apresentações no Rio de Janeiro, São Paulo e Ribeirão Preto. Apresentaram “O Auto da Barca do Inferno” uma complexa alegoria dramática de Gil Vicente. Ribeirão Preto tinha uma Orquestra Sinfônica altamente conceituada, que infelizmente encerrou suas atividades. Durante a Segunda Guerra tínhamos um maestro idoso, chamado Inácio Stabile, quando ele faleceu trouxeram um maestro da Itália chamava-se Enrico Ziffer, na época tínhamos dois corais, eu participava, fazia a voz de tenor. Ele ficou tão animado que quis montar uma ópera. Ele conseguiu patrocínio e trouxe os artistas principais de fora. Escolheu as óperas mais conhecida como; “La Traviata”, onde participei; “La Bohème”, o pessoal do coro entrava, era uma maravilha! Foi uma vivência cultural muito grande. Naquele tempo tínhamos o chamado “Teatro de Lona”. Também denominado de “Circo Teatro”. Tivemos grandes espetáculos de Circo Teatro que viajava. Apresentávamos peças como: A Mulher Que Veio de Longe; Amar Foi a Minha Ruína, O Mundo Não Me Quis, eram sucessos garantidos.
Quando você mudou-se para São Paulo?
Fui em 1956, tinha 22 anos. Meu tio José Mário convidou-me para ir trabalhar Trabalhei em uma loja chamada Casa José Silva que vendia roupas masculinas. Eu era auxiliar, os vendedores eram muito bem pagos, bem vestidos. Trabalhavam com gravata, paletó. Diga-se de passagem, que naquela época todo mundo usava paletó, gravata e chapéu No Cine Ipiranga não entrava quem não estivesse usando paletó e gravata. Havia grandes lojas, lembro-me da “  Exposição” cujo slogan era: “ Basta ser um rapaz direito para ter crédito na Exposição”.
O teatro continuava em sua vida?
Fazia os espetáculos nos fins de semana, foi uma época em que o pessoal da musica raiz quis entrar no circo, eles já cantavam, eram fortes, além de nós que nos apresentávamos tinham os violeiros que cantavam. Lembro-me que Cascatinha & Inhana fizeram uma turnê grande conosco. Nos anos 50, 55, após a Segunda Guerra, começaram a vir para o Brasil as grandes cabeças do Teatro, inclusive o fundador da  Companhia Cinematográfica Vera Cruz Franco Zampari. Todo mundo juntou-se no TBC – Teatro Brasileiro de Comédia, na Rua Major Diogo, era a elite, embora ninguém fosse profissional ainda. Até que em 1952 tornaram-se artistas atuando como profissionais, com alto nível. Só fomos ter a nossa categoria reconhecida como profissional em 1972 pelo Ministério do Trabalho. De 1964 a 1972 tínhamos nossa carteira funcional emitida pelo Departamento de Diversões Públicas, ligado ao Ministério da Justiça, maldosamente também chamada de “carteirinha de prostituta”, isso porque essas profissionais para se safarem da policia se registravam como atrizes sendo que eram de fato prostitutas. Jamais pisaram em um palco.ndo o TBC  Trabalharam muito pela categoria de ator e artista Lélia Abramo, Cacilda Becker, Juca de Oliveira. O pessoal da categoria era muito unido naquele tempo. Quaganhou importância e as companhias se dividiram, tinha uma crítica que acompanhava o teatro, começou com Décio de Almeida Prado, Sabato Magaldi veio depois. O Professor Alfredo Mesquita organizou em sua casa a EAD- Escola de Arte Dramática. Fiz um concurso, fui aprovado, mas não pude dar continuidade. Tinha que sobreviver, naquele tempo saia vendendo liquidificador, enceradeira, não havia lojas que vendessem esses produtos. Ninguém queria vender em loja esse tipo de produto. A Arno foi a primeira empresa que organizou esse tipo de venda de porta em porta para esses produtos.
Com raríssimas exceções o ator não é valorizado financeiramente?
Até hoje é uma profissão muito difícil. Em alguns países, há uma organização muito bem feita, e as coisas funcionam a contento. Aqui há o Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversão de São Paulo que é o mesmo tanto para o funcionário como para o patrão.
De quantas peças você participou?
Foram muitas peças, fazíamos muito Teatro Popular. Fundamos um grupo de teatro chamado PETECA – Pequeno Teatro da Capital. Fazíamos muitos entretenimentos, esquetes, peças curtas, variedades, canto, musica.
É mais difícil fazer o público rir ou chorar?
Acho mais difícil fazer rir. A comédia tem um “time” que o drama às vezes você está contando alguma coisa e leva a emoção, o riso tem o tempo certo, para ser engraçado tem que ter aquele momento, aquele instante. Fazíamos muitas comédias de costumes, eram originarias do teatro francês. Eu acho que tudo começou mesmo quando importamos grandes diretores: Gianni Ratto, Ruggero Jacobbi, Zbigniew Marian Ziembinski, Maurice Vaneau, o TBC era a grande estrela do teatro, o TBC não parava. Era uma peça atrás da outra.
Como o ator sente o público?
Cada lugar tem um publico diferente. Há localidades ou regiões, onde o publico vai ao teatro porque acha chique. Outros lugares o publico freqüenta porque gosta de fato. Enfim há inúmeras formas de manifestação do publico com relação ao espetáculo apresentado.
Você conheceu Plínio Marcos?
Conheci muito, do Teatro de Arena, do Redondo. (Bar Redondo tradicional ponto de encontro de artistas nas décadas 60,70,80 é vizinho do Teatro de Arena, na Rua Rego Freitas, ganhou esse nome pelo formato circular do prédio) Hoje também tem um pessoal novo na Praça Roosevelt. Mas o Redondo continua sendo ponto de encontro de artistas..
Quantas peças você escreveu?
Registradas na SBAT - Sociedade Brasileira de Autores Teatrais tenho quatro peças.Duas políticas e duas infantis. Uma política chama-se”O Diabo Mostra o Rabo”. Uma peça infantil é “Alma das Coisas”. Quero apresentar a peça “ O Diabo Mostra o Rabo”.  A nossa vida é curta, mas a arte é para sempre.
Ha quanto tempo você está em Piracicaba?
Já faz muito tempo, meu irmão mais velho veio para Piracicaba no inicio da década de 60. Ele faleceu, recebeu em homenagem uma rua com seu nome Alderico de Oliveira Campos, o Tenente Campos.
Quantos filhos você tem?
Tenho um, chama-se Paulo, tem 54 anos, já é avô também, ou seja, eu sou bisavô!
Você atuou em diversas ações culturais em São Paulo, sob patrocínio?
Tinha uma empresa que trabalhava basicamente com cultura, tive o patrocínio de diversas empresas de grande porte. Até que decidi morar em Piracicaba. Aqui realizei ações culturais, produzi um espetáculo que financeiramente foi oneroso para minhas economias. No inicio sentia muito a falta do ambiente teatral que eu vivia em São Paulo.
Ari tem um poema que você gosta muito e o acompanha em seus pensamentos?
Tem sim. É de Vinicius de Moraes. Chama-se Soneto da Fidelidade.

De tudo ao meu amor serei atento

Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.



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