segunda-feira, junho 26, 2017

DOM IRINEU DANELON


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 10 de junho de 2017.

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

http://blognassif.blogspot.com/


http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADO: DOM IRINEU DANELON


 

O Bispo Diocesano de Lins, Dom Irineu Danelon, nasceu no dia 4 de abril de 1940 na cidade de Piracicaba, em uma região da cidade em que na época era considerada zona rural, Bairro São Jorge, ao lado do Terminal de Ônibus Urbano do Bairro São Jorge existe a Capela São Jorge, seus pais foram uns dos construtores. Fundou e acompanha a Pastoral da Sobriedade, que lida com dependências do álcool e outras drogas. É salesiano, tendo sido colega do padre Jonas Abib, fundador da Comunidade Canção Nova, grande expoente da Renovação Carismática Católica  no Brasil. Dom Irineu apresenta o programa Sobriedade Sim, na TV Século XXI, as segundas-feiras, as 20 horas. Também apresenta programas na Rádio Regional Esperança, da Diocese de Lins, Foi diretor da Gráfica Salesiana na Mooca. Irineu em grego significa portador de paz, pacífico.




Qual é o nome dos pais do senhor?

Meu pai Antonio Danelon, minha mãe Antonia Lovadini Danelon, tiveram os filhos: José, Antonio, Tarcísio e Irineu. Meus pais tinham um sítio, eles cultivavam de forma especial a horta, uma plantação que não precisa de muita terra.

O senhor chegou a trabalhar no cultivo de hortaliças?

Principalmente na horta! Eu tinha também os meus canteiros, meu pai ia ao mercado, vendia, o dinheirinho resultante da venda dos produtos dos meus canteiros ele me entregava. Assim ele me estimulava.

Além da Capela São Jorge, o senhor freqüentava qual igreja?

Freqüentava a Igreja dos Frades, isso significava ir até a cidade, eram cinco quilômetros de distância. O meu pai tinha como meio de locomoção carroça com roda de ferro, tracionada por animal.

O senhor ia a pé até a igreja ou escola?

Ia a pé, pisando no barro, tirava o sapato, quando chegava perto da cidade lavava os pés e punha o sapato. Subia o Morro do Enxofre (Avenida Madre Maria Teodora), pegava “rabeira” do caminhão carregado com cana-de-açúcar que subia o Morro do Enxofre. Os motoristas já nos conheciam, fazíamos um sinal, eles paravam. Era meio perigoso, as canas não tinham o mesmo comprimento, uma era mais comprida outra mais curta. Isso foi dos nove anos em diante, o primeiro ano escolar estudei em casa, os meus pais emprestaram parte da casa, que era grande, para fazer uma escolinha rural. O curso primário conclui no Grupo Escolar Dr. João Conceição. A minha primeira professora era Dona Elisa. Depois os Salesianos vieram para Piracicaba, os frades emprestaram para eles a Escola Dr. João Conceição. Ali passaram a lecionar o curso preparatório para ingressar no ginásio. Eles deram-me bolsa de estudos. Meus pais não tinham como pagar um colégio.

O senhor foi coroinha?

Fui, na Igreja dos Frades, lembro-me do Frei Liberato de Gries, Frei Felicíssimo, Frei Fulgêncio, Frei Evaristo. Tornei-me coroinha quando fui aluno dos salesianos, sou da primeira turma do Colégio Salesiano em Piracicaba. Os frades ficaram sabendo que eu era coroinha, quando iam para as celebrações em área rural me levavam. (A religiosidade do fiel da zona rural é muito respeitosa, o coroinha, que é um auxiliar do padre ou frade, é tratado quase como o próprio padre).

Os estudos continuaram em qual escola?

Fiz o ginásio e o curso colegial com os salesianos do Colégio Dom Bosco. Os salesianos construíram o próprio colégio, sob a orientação do Padre Pedro Baron. Inicialmente alugaram dependencias do Colégio Nossa Senhora da Assunção, e aos poucos foram construindo o atual Colégio Salesiano Dom Bosco onde atualmente tem até faculdades. Após concluir o ginásio fui para Lavrinhas, onde conclui o colegial. Fomos de trem, até São Paulo pela Companhia Paulista de Estradas de Ferro, de São Paulo até Lavrinhas pela Estrada de Ferro Central do Brasil . Fomos em oito rapazes, eu caipira de Piracicaba, nunca tinha saído da cidade. Tem muitos padres salesianos de Piracicaba, acho que são 29. É bonito o trabalho deles com a juventude. Depois eu fui promotor vocacional, buscava vocações, encaminhava, ajudava. Daqueles hoje tem 157 que são padres.




                                                    Seminário Diocesano de Lavrinhas




Em que ano o senhor ordenou-se como padre?

Foi em 1967, na igreja dos salesianos, Nossa Senhora Auxiliadora, no bairro Bom Retiro, em São Paulo. Fiz a Faculdade de Filosofia em Lorena, Teologia estudei no Instituto Pio XI em São Paulo, a minha primeira obediencia, é assim que denominamos quando recebemos a cartinha de obediência, fui trabalhar em Campinas, em um grande internato que havia lá, Liceu Nossa Senhora Auxiliadora, eu era professor e orientador dos meninos. Tinha 450 alunos internos! E 2.000 externos! O colégio é grandioso, ocupa duas quadras. Onde eu era padre novo o que chamam de Coordenador da Pastoral, ou então catequista. Após tres anos de permanência em Campinas, recebi a obediência de trabalhar na formação dos futuros padres. Em Lorena, onde permaneci por três anos. Deram-me obediência de novo, para volatar ao primeiro colégio, Liceu Nossa Senhora Auxiliadora de Campinas. Após algum tempo voltei para Lorena onde lecionei Filosofia.


Qual foi a próxima etapa?

Acharam que eu tinha jeito, mandaram-me estudar em Roma. Fui fazer uma complementação de estudos, permaneci em Roma por quatro anos, na Universidade Salesiana de Roma, eu morava nela mesmo, participava de todos os eventos, com a comunicação fácil   que demonstrei ter era convidado para ir a diversos eventos, não podia deixar de dar a contribuição. Minha tese de doutoramento foi sobre a situação do menor no Brasil. Fundei a Pastoral da Sobriedade, cujo objetivo é espalhar o que eu estudei, sobre a importância da educação de todos os menores, não existe menor de segunda classe. Partilho muito do ideal de vida de São João Bosco, a importancia da educação integral. Para todos.













                                     


















                                                 Monsenhor Jonas Abib e Dom Irineu Danelon


                                                          Como nasceu a RCC



                                                    Dom Danelon e TV SÉCULO XXI

                                          Entrevista com Bispo D Irineu na Radio Regional Esperança Lins-SP.

 Dom Irineu Danelon fala de seus 25 anos de episcopado



                                                         Gráfica Salesiana da Mooca

                     









Em Roma o senhor teve contato com o Papa?

Quase todas as semanas íamos fazer as visitas em que ele recebia o público todo. Era o Papa João Paulo II.

O senhor chegou a ter alguma conversa pessoal com o Papa João Paulo II ?

Por três vezes! No período das férias eu fui para Castel Gandolfo, onde o Papa passa as férias. O Papa João Paulo morava ali, eu também morava em Castel Gandolfo o encontro era quase semanal. Lá tem a comunidade salesiana também.

Como era o Papa João Paulo II ?

Era muito receptivo, Tivemos conversas particulares por três vezes ou até mais. Geralmente falávamos sobre o que a Igreja precisa, sobre os padres novos. Ele deu início ao Concilio, e o resultado é o que vemos hoje.

Chegaram a tomar alguma refeição juntos?

A primeira refeição ele foi até a minha casa, foi almoçar em casa, era em frente uma da outra, Depois ele me convidou para almoçar com ele. Aquele menino caipira do sítio, de Piracicaba, olha onde foi parar!

Quando o Papa João Paulo foi almoçar em sua casa o que foi servido?

O Papa já tinha vindo ao Brasil, sabia que aqui todo mundo come feijão, então tinha feijão e arroz lá também.

O Papa comeu arroz e feijão?

Ué! Estava na mesa não é? Ele sabendo que eu era de origem italiana mandou fazer uma polenta, foi o que ele trouxe. Essa adquação é muito edificante. O Papa João Paulo II manifestava um amor especial aos brasileiros. Quando fui almoçar na casa do Papa também tinha arroz, feijão, macarronada. Na terceira vez ele almoçou na Comunidade Salesiana onde eu morava. Ai já foi um almoço comunitário.

Houve alguma oportunidade de encontrar o Patriarca da Igreja Ortodoxa?

Fui fazer uma visita de quase um mês na Terra Sntaa, tive a oportunidade de almoçar com o Patriarca  da Igreja Ortodoxa, isso em Jerusalem. Foi um almoço informal.

Qual era o idioma utilizado para conversarem?

Era o italiano.

O senhor fala quantos idiomas?

Nem português como deveria falar! Caipiracicabano acredito!

O senhor tem como característica marcante a humildade.

Não tenho que me prevalecer em nada porque tudo foi Graça de Deus.

Após ter permanecido em Roma, de volta ao Brasil, para que local o senhor foi solicitado?

Voltando de Roma fui nomeado diretor do Liceu Nossa Senhora Auxiliadora em Campinas onde permaneci por cinco anos. O Padre Inspetor me nomeou diretor do Seminário de Filosofia, em Lorena, tinha uns setenta alunos, seminaristas. Após isso fui nomeado promotor vocacional dando apoio aos jovens que queriam ser padres. Fui nomeado Inspetor Vocacional de toda nossa Inspetoria Salesiana em São Paulo e o Estado do Paraná. Me fizeram diretor do Seminário de Filosofia, onde estudei.

O senhor teve a ordenação episcopal em que ano?

Foi em 1988.

Como Bispo de Lins quantas cidades pertencem à diocese?

A diocese abrange 97 cidades, de Lins até Mato Grosso, depois que fizeram a Rodovia Marechal Rondon ficou até fácil, as cidades todas estão ao lado. Quando eu cheguei lá ainda era estrada de terra.

Todo bispo tem um lema, qual é o do senhor?

O meu lema é: “O amor jamais passará” (Caritas Nunquam Excidit) é da Primeira Carta de São Paulo aos Corintios, capítulo 13, versículo 12.

                      QUADRO NA RESIDÊNCIA DE DOM IRINEU DANELON

Há uma diminuição de vocaçoes sacerdotais?

Depende muito da formação que os padres realizam. È necessário buscar, preparar, apoiar, as vezes até economicamente, tudo tem um custo. Não faltam vocações, necessita haver apoio. O padre ao exercer bem o seu ministério atrai o jovem para o sacerdócio.

Nomes de grande projeção nacional, empresários, publicitários, segundo a mídia, dizem que rezam o terço regularmente.

Eu rezo o rosário, que são três terços, todos os dias. Principalmente durante as viagens, quando se tem mais tempo. Não é necessário rezar em voz alta.

O senhor tem algum livro escrito?

Tenho vários. Um deles é Promoção Vocacional, não faltam candidatos ao seminário, o que falta é quem os promova. Quem chame, dê animação. Como bispo eu ordenei 27 padres. Trabalhei no aspirantado, no noviciado, tenho um especial amor a esses jovens que enfrentam muitas dificuldades para poder tomarem essa decisão. A gente compreende, visita a família, apazigua a família, há casos em que os pais estão esperando do filho um apoio econômico.

Como o senhor vê essa profusão de religiões?

Vejo como a falta de uma catequese em profundidade. A simples decoração de algumas perguntas e respostas não tem o conhecimento profundo de Jesus Cristo. As vantagens que tem um discípulo de Jesus. Alguns têm a religião mais por tradição familiar, sem uma formação especial. Como conseqüência a religião tornou-se um costume mais do que uma doutrina.

Há diferença entre religião e fé?

A fé faz parte da verdadeira religião.

O senhor tem devoção especial a algum santo?

Por tradição, Santo Antonio, meu pai é Antonio, minha mãe Antonia, o padroeiro de Piracicaba é Santo Antonio, meu irmão Antonio casou-se com uma moça chamada Antonia, tenho muita fé em São João Bosco. É admirável a sua forma de vida, a maneira educada de tratar as pessoas, pelo empreendimento que ele teve na sua vida. Tanto na cadeia, nas escolas, no colégio que ele fundou, fui o primeiro aluno do Colégio Salesiano Dom Bosco de Piracicaba, então ele é um dos meus santos desde criança.

O senhor praticava esportes?

Nunca fui bom de bola! Mas sempre participei, no sítio em que eu morava tinha um cercado, lá foi transformado em um campo, um gramado bonito, nos fins de semana tinha o joguinho de futebol lá. Eu era mais juiz do que jogador!

Como foi a reação familiar na ordenação episcopal do senhor?

Meu pai já havia falecido, minha mãe participou da missa da minha ordenação episcopal. Ela ficou muito emocionada, chorou durante a missa toda. Quando dei a palavra à ela, em sua simplicidade ela afirmou que valeu a pena todo sacrifício. Foi sacrificada, uma formação de longo período. Ela ia de vez em quando de Piracicaba para Lavrinhas, tinha que tomar dois trens. Parar em São Paulo. Tudo desconhecido para ela. E também porque eu era um dos filhos já estudados, que talvez levasse um apoio financeiro à família, mas no fim eu recebia o apoio da família. Eles nunca esperaram que o filho fosse padre, não tinha ninguém com essa formação na família. Muito menos bispo. Ela chorou. Eu chorei. Muitos dos que estavam na missa choraram.




                                                   Filme Dom Bosco – completo



O Sonho de Dom Bosco - Il sogno di Giovanni - Brasil - Italia - Recine 2011


Brasília - sonho de Dom Bosco

Relíquias de Dom Bosco

A urna com as relíquias de Dom Bosco em Piracicaba,SP
 




domingo, junho 25, 2017

GEORGINA NASSIF


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado de 03 de junho de 2017

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
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http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADA: GEORGINA NASSIF


Georgina Nassif nasceu em Santa Bárbara D Oeste  a 22 de janeiro de 1926,  filha de Nagib Nassif e Rosa CanaãNassif que tiveram 13 filhos, sendo que 3 deles faleceram ainda muito novos. Rosa e Nagib tiveram os filhos Mary e Linda nascidas no Líbano. Os demais nasceram no Brasil, são: Josefa (em alguns documentos consta Josefina), José, Afife, Isabel, João, Georgina, Jorge e Geraldo.










Os seus pais vieram do Líbano?

Ambos vieram do Líbano, Rosa era a única filha do sexo feminino, tinha outros irmãos, sendo que dois deles também vieram para o Brasil, ambos eram advogados: Mário Canaã e Jorge Canaã. Nagib Nassif e Rosa Canaã Nassif casaram-se no Líbano. A autorização para o casamento foi concedida por outro irmão, o mais velho de todos, que na falta dos pais, pelas leis locais tinha esse poder. Rosa casou-se com 14 anos de idade, Nagib tinha mais de 40 anos. Foram morar com os pais de Rosa em Beirute. Tiveram as duas filhas, Mary e Linda, Rosa estava grávida pela terceira vez, quando Nagib decidiu aventurar-se em terras brasileiras.

Em que local Nagib fixou residência no Brasil?

Em Santa Bárbara D Oeste ao que consta adquiriu uma propriedade urbana. Ele passou a ser o que quase todos os imigrantes libaneses foram: mascate. Pelas informações que tenho, ele percorria grandes distâncias. Chegou a Minas Gerais, Goiás, mascateando. Com isso ele economizando, trouxe a esposa e as filhas para o Brasil. Montaram um armazém em Santa Bárbara  D Oeste. Nesse período teve o dissabor de ter sido furtado em uma soma relevante por pessoa que considerava amiga, a família mudou-se para o bairro rural de Caiuby, onde estabeleceu um pequeno armazém. A família cada dia mais numerosa, os rendimentos não atendiam plenamente as necessidades. É uma tradição de alguns povos, que o filho primogênito assuma funções relevantes. José, o primogênito, era funcionário do Cartório de Santa Bárbara D Oeste. Diante das circunstancias emergenciais, seu parco salário não era suficiente para ajudar a prover a prole, na época constituída em sua maioria por crianças.







                 GEORGINA COM UMA AMIGA NO TERRAÇO SUPRIOR DO SOBRADO AO FUNDO   A VISTA DE PIRACICABA  

MESMO TERRAÇO COM A FOTO DE ALGUNS DE SEUS SOBRINHOS

Qual foi a atitude de José?

Embora muito jovem, percebeu que seu pai já não estava em suas melhores condições de saúde, decidiu pedir a demissão no cartório e passou a negociar, fazer corretagem, de algodão. Para economizar, ia a cavalo até as propriedades interessadas em vender o algodão, depois com um caminhão muito precário, adquirido com muito esforço, ia buscar a mercadoria. Apesar de estarmos nos referindo a década de 30, a região merecia o cognome de Oeste Paulista, não só pela localização geográfica, mas também pela semelhança com a vida difícil e violenta do Oeste Norte Americano, principalmente no meio rural, onde povos dos mais diversos pontos do mundo se aglomeraram: russos, norte-americanos (Os Confederados do Sul dos Estados Unidos), italianos, libaneses, espanhóis, portugueses. Eram todos imigrantes que traziam cicatrizes do país de origem.  Um povo sofrido e de muita garra. Havia homens famosos por sua valentia e destemor, era muito comum andarem armados com armas brancas ou de fogo. Isso trazia temor e respeito.

Você começou os seus estudos em qual localidade?

Em Caiuby. Tive uma professora de nome Adélia Granja e no ano seguinte a sua irmã Madalena Granja. Estudei lá até o terceiro ano primário. No ano seguinte mudamos para Piracicaba, os negócios prosperaram, passamos a residir a Rua do Rosário, 2547, no primeiro sobrado após a linha da Companhia Paulista de Estradas de Ferro. Fui estudar no Externato São José, situado a Rua D. Pedro II esquina com a Rua Alferes José Caetano. Éramos três irmãos estudando lá: eu, Jorge e Geraldo. O João já estava estudando na quinta série, salvo engano, estudava no Colégio Piracicabano. Nesse ínterim papai faleceu isso foi na década de 40. Eu freqüentava a Igreja dos Frades ou Sagrado Coração de Jesus, freqüentava o Lar Escola Maria Nossa Mãe para fazer retiro espiritual.








Vocês continuaram a estudar no Externato São José?

Em decorrência do falecimento de papai, sendo que éramos três filhos estudando no mesmo local, não nos foi concedido nenhum tipo de desconto. Isso fez com que ficássemos impossibilitados de continuar os estudos naquele local, a escola foi irredutível. A nossa irmã Linda trabalhava no Colégio Piracicabano, expôs o assunto, este nos acolheu com muita boa vontade. Com isso concluí o curso primário e o ginásio no Colégio Piracicabano. A Mary, nossa irmã casou-se em Santa Barbara D Oeste com José Curiacos, que havia sido professor universitário no Líbano, no Brasil teve que abraçar a profissão de comerciante. Lembro-me que era pequena e queria assistir o casamento da Mary com o José, mas naquele tempo segundo nossos costumes, crianças não participavam de cerimônias de adultos. Isso em tudo, criança não podia ficar próxima a adultos.

Após concluir o ginásio no Colégio Piracicabano qual foi a sua opção?

Fui fazer o Curso Normal, no Sud Mennucci. Após me formar fui para Biguá, no litoral. sul paulista. Existia a estação de trem da Estrada de Ferro Sorocabana, era uma viagem longa, quem me acompanhou foi meu cunhado José Curiacos. Eu era mocinha, foi lá que ingressei no magistério. Aluguei uma casa, minha sobrinha Helena Curiacos Nalin foi comigo, e outra colega. Éramos três professoras com uma empregada que fazia o trabalho doméstico. Biguá era uma vilinha, dava aulas para classes mistas, permaneci lá por uns quatro ou cinco anos. Vinha para Piracicaba aproximadamente uma vez por mês. De lá fui removida para São Paulo, na periferia, lecionava em um grupo escolar, surgiu uma vaga no Instituto Pinheiros, ficava na estrada Regis Bittencourt, lá dei aulas para o terceiro ano escolar, permaneci uns três anos. De lá voltei ao grupo escolar que havia lecionado anteriormente, em São Paulo. Lá completei 50 anos de formada professora.

Quantos ônibus você tomava para dar aulas em São Paulo?

Tomava um ônibus apenas, era o ônibus que ia para Itapecerica da Serra, até a escola em que lecionava levava uma meia hora. A classe era composta por cerca de cinqüenta alunos. Eu morava em Pinheiros a Rua Teodoro Sampaio, 1355, onde permaneci por uns 10 anos. Quando me aposentei fui morar no Alto da Lapa, a Rua Eleutério Prado.

Em Piracicaba, ainda mocinha, você era uma das senhoritas que quadrava o jardim?

Eu detestava, mas tinha amigas que adoravam. Eu gostava de ficar parada. Olhando. Voltávamos do centro de bonde. Na época eu morava no sobrado, havia um professor universitário, falecido recentemente, que era apaixonado por mim.

Naquela época havia os famosos cururus?

Nossa! Tinha, o meu irmão José havia construído um barracão que usava como depósito de cereais, na entressafra, o barracão ficava vazio, era utilizado para memoráveis cururus. Pessoas de alta reputação na cidade não perdiam um. Estava na moda. Autoridades jurídicas, policiais, pessoas gradas, assim como a população do bairro. Era praticamente o salão social do bairro. Muitas festas de casamento aconteceram ali. Piracicaba não tinha a oferta de locais sofisticados como hoje.  Era tudo na base da camaradagem. Como mocinha não era apaixonada por cururu, mas ia para prestigiar.

A sua irmã, Linda Nassif, foi diretora do internato feminino do Colégio Piracicabano?

Foi na época eu era criança ainda. Estamos nos referindo a aproximadamente oito décadas passadas. Eu cheguei a conhecer a antiga piscina do Colégio Piracicabano, situada a Rua do Rosário, onde termina a Rua D.Pedro II, há uma entrada para uma unidade da UNIP, ao lado foi construído um estacionamento, ali começavam os degraus que levavam os alunos até a piscina.

Como eram os carnavais de Piracicaba?

Eu não sabia nada a respeito, fazia retiro espiritual e religioso no Lar Escola Maria Nossa Mãe.

E cinema você freqüentava?

Ia com a minha irmã Linda. Os cinemas eram o São José, Broadway, Politeama. Lembro-me da Bomboniere do Passarella. Lembro-me da fonte luminosa, do Comurba.

E parques de diversões?

Na esquina da Avenida Dona Jane Conceição com a Rua do Rosário, havia um terreno baldio, onde se instalavam os parques por um período de tempo. Hoje no local existe um conjunto de lojas. O bairro da Paulista recebeu muitos circos, inclusive famosos.

Naquele tempo a água era retirada de um poço?

Não havia água encanada no bairro. A água era retirada com manivela, mais tarde que colocaram um motor, a função do mesmo era encher uma caixa de água que ficava no alto da casa e distribuía para a casa toda. A privada ficava em área externa, distante da casa e principalmente do poço, era popularmente chamada de “casinha”.

O meio de transporte mais comum para São Paulo era o trem?

Usei muitas vezes, havia vagões mais confortáveis, eram os de primeira, os sem assento almofadado, com menos conforto eram os de segunda. A diferença era o preço de cada um.

Após mudar-se para São Paulo, você adaptou-se bem?

Adaptei-me sim. Embora tenha levado uma rotina que incluía serviço, igreja e supermercado.

Você é uma pessoa que sempre foi muito católica, foi Filha de Maria?

Fui sim, foi uma entidade que se destacou, como uma das mais importantes associações religiosas femininas. As Filhas de Maria poderiam transmitir as doutrinas católicas em seus lares, normas e tradições católicas. Usava a fita vermelha, ainda a mantenho. Na realidade a fita vermelha era do apostolado da oração. Naquele tempo para ingressar a igreja usava-se véu, as jovens ou solteiras usavam véu branco, e as senhoras casadas usavam véu preto. Cheguei a usar roupa branca e fita azul. Toda primeira sexta-feira do mês eu não falto a missa.


Qual é o seu santo padroeiro?

Era Santo Antonio, agora é o Espírito Santo e os Arcanjos.

Antigamente havia as famosas quermesses, você as freqüentava?

Ia muito pouco, não gostava. Tinha uma amiga que gostava muito, e também às vezes arrumava um namorado. Eu ficava por perto, esperando.

Você era a famosa “vela”?

Exatamente! Para quem não sabe, “vela” era o nome dado para a acompanhante de uma moça que está namorando. Eu era a “vela” sem chama!

Tinha o serviço de alto falante, você recebia mensagens através do correio-elegante?

Mandavam! Eu recebia, mas não respondia!

O locutor anunciava: “O rapaz de camisa branca e calça azul, com blusa preta oferece para a moça de vestido branco, cabelos escuros, com simpatia e admiração”. Era mais ou menos assim?

Era exatamente isso! Às vezes tinham alguns mais criativos!

Tem algum cantor que você gostava?

Tinha! Orlando Silva, Vicente Celestino, Nelson Gonçalves.




Na Rua do Rosário, a poucos metros da esquina da Avenida Dr, Edgar Conceição, havia uma bomba de gasolina manual, da TEXACO?

Era da nossa família! Muitas vezes eu manuseava essa bomba. Às vezes o motorista que estava abastecendo acabava ajudando bombear a gasolina, não era elétrica! Quando mamãe estava ao lado, ninguém deixava que ela fizesse esse trabalho. Além do barracão que servia para armazenar os produtos da safra, havia na esquina da Rua do Rosário com a Avenida Dr. João Conceição um armazém, com uma porta que se comunicava com a casa onde morávamos. Geralmente eram as mulheres da família que atendiam o balcão. Ali eram feitas as vendas de varejo.
     GEORGINA NO DIA DO CASAMENTO DA SU IRMÃ LINDA COM ANTONIO MARTINS AO FUNDO A BOMBA MANUAL DE GASOLINA DA TEXACO JUNTO AO MEIO FIO, NA RUA DO ROSÁRIO EM FRENTE AO NÚMERO 2555.




Naquele tempo a Paulista tinha poucas casas?

O sobrado onde morávamos estacava-se. Existiam outras construções, porém mais modestas. Já existia a casa em frente de propriedade de Isidoro (Nenê) Lopes. Em torno da hoje Praça Takaki existia muitas pessoas excelentes. A praça em si era apenas um terreno vazio. A Padaria Takaki veio bem depois, anteriormente fazia muito sucesso o Bar Serenata, de Miguel Fernandes. Era um ponto dos ônibus que iam para a zona rural. O telefone mais próximo ficava a duas quadras de casa, era do Bortoletto, que tinha um armazém onde hoje é uma agência do Bradesco, na esquina da Rua do Rosário com a Avenida Dr. João Conceição. A Rua do Rosário era chão de terra, ou muita poeira ou quando chovia, muito barro. Era mão dupla, iam e voltavam pela mesma rua. Havia muitos caminhões de cana-de-açúcar que levavam suas cargas até o Engenho Central, na Vila Rezende.

                                                                                     


     ALGUNS DOS SOBRINHOS DE GEORGINA. BONS TEMPOS....


Lembra-se de Jorge Canaã?

Lembro-me pouco, mais das cartas que ele me mandava. Conservo algumas até hoje. Ele me deu um dicionário que posteriormente dei ao meu irmão João. Jorge disse que aquele dicionário o havia acompanhado desde suas primeiras letras. Jorge era poliglota, muito querido por vultos do direito piracicabano: Noedy Krahenbuhl Costa e Jacob Diehl Neto. Jorge Canaã tinha um raciocínio muito rápido, um dos seus passatempos preferidos era fazer torcadilhos refinados. Por isso mesmo muito apreciados entre seus pares.

Você fala àrabe?

Muito pouco, entendo alguma coisa. Quem sabia mais era a Mary e a Linda.

          GEORGINA DE FÉRIAS NA PRAIA DE SANTOS

Quem era boa cozinheira da gastronomia àrabe?

A Isabel era excelente.

Em seu Curso Normal você teve aulas com os irmãos Dutra?

Tive com os dois! Archimedes e João., com o Jethro Vaz de Toledo que dava aulas de português.




Como professora aposentada, como você vê o ensino?

Deteriorado! O nível abaixou muito! As mães, responsáveis, ouviam o que as professoras diziam a respeito dos filhos delas, e também perguntavam.

A tecnologia em suas diversas versões, desde a televisão até a internet ajuda?

A meu ver, absurdos como a recente onda da “Baleia Azul” só traz profundos prejuizos. O uso indiscriminado dos recursos de tecnologia só serviu para intervir negativamente na família. Existe uma grande diferença entre educação e ensino. Os pais devem educar e o professor deve completar através do ensino. Hoje os pais querem que o professor eduque e ensine, isso é completamente errado, a educação tem que partir da casa da criança. Os pais são os exemplos que os filhos seguem, em todos os sentidos.
                     UM DOS COLÉGIOS EM QUE GEORGINA LECIONOU EM SÃO PAULO

Antigamente o profesor era uma figura respeitada?

Era! Primeiro eram os pais, depois os professores.

O que você achou em dar aulas por cinquenta anos?

Tenho saudade até hoje!
            GEORGINA SENDO HEMENAGEADA POR SEUS ALUNOS


sexta-feira, junho 09, 2017

LEDA COLETTI


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 27 de maio de 2017.

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
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http://blognassif.blogspot.com/


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ENTREVISTADA: LEDA COLETTI

 
Em seu prefácio do livro de Leda Coletti, “Eu, Educadora”, Carmen Maria da Silva Fernandez Pilotto, escritora, poetisa, integrante da direção da Academia Piracicabana de Letras e outras instituições literárias de expressão cultural de Piracicaba, com precisão cirúrgica sintetizou quem é Leda Coletti:“ Permeada de valores familiares, não deixou que a inquietação e seu lado sensível fossem ofuscados pela rotina e as dificuldades da época, quando garotas não ousavam ou em que a vanguarda de suas ações propostas na área da educação ainda assustassem os menos esclarecidos. A cada nova instabilidade ou mudança, sua força era redobrada, como um autodesafio que a fazia entrar por um caminho sem volta, o da convicção de oferecer melhoria de instrução para sua nação. Dever cumprido certamente, fosse na roça ou na cidade, no ambiente escolar, social ou familiar, Leda sempre foi um preito ao ensino. Sua história é certamente o retrato de sua personalidade: um ser humano de nobreza impar, atento aos menos favorecidos, seja pela delicadeza dos agradecimentos aos que contribuíram para a transposição das etapas profissionais e pessoais ou nos excepcionais registros de locais e inusitados momentos e objetos que conseguimos visualizar em seu pitoresco relato”. Leda começou a escrever poesias em 1992, após sua aposentadoria como Supervisora de Ensino. Já escreveu mais de duas centenas delas, bem como trovas, crônicas e contos tendo obtido vários prêmios nessas categorias. É Membro Titular Fundador do Clube dos Escritores de Piracicaba e do seu Conselho Acadêmico, do Centro Literário de Piracicaba - CLIP; do Grupo Oficina Literária de Piracicaba – GOLP; colaboradora da coluna Prosa & Verso do jornal A Tribuna Piracicabana. Colaboradora do Jornal de Piracicaba; do Informativo dos Escritores; Sócia Convidada do CLIRC- Centro Literário de Rio Claro; Acadêmica da Academia Piracicabana de Letras; participante do Sarau Literário Piracicabano; Voluntária do Recanto dos Livros- Lar dos Velhinhos de Piracicaba; Realizou um Livro Infantil com mais de 30 Antologias de Poesias e Contos. Leda Coletti fez um minucioso trabalhos de pesquisa em seu livro “A Saga dos Dal Piccolo”. Escreveu “Aconchego” um livro de contos, crônicas e poesias. Em seu livro “Eu, Educadora” apresenta uma rica trajetória, de vida, sempre com entusiasmo, acreditando que a EDUCAÇÃO é a tão procurada solução para os problemas que nos afligem como pessoa e como Nação. Uma narrativa que prende a atenção do leitor. Uma obra que leva o leitor a um passeio encantador e profundas reflexões. É em “Louvar e Agradecer ao Senhor”, que Leda flutua em seus versos, levando a sua paz de encontro ao universo. Leda Coletti nasceu a 29 de março de 1941, é filha de Antonio Coleti (com um “t” apenas no Coleti) e Amélia Dal Piccolo (Originalmente a família era Dal Piccol na Itália) Coleti. Antonio e Amélia tiveram três filhos: Gema Guiomar, Leda e José Tadeu, todos nascidos no bairro rural Vila Nova, a dez quilômetros da cidade de Piracicaba.



Essa propriedade rural onde vocês moravam era da família?
Era um sítio que pertencia ao meu avô Pedro Coleti e sua esposa, nossa avó, Eugênia Barban Coleti. Nunca me esqueço que quando estudei havia uma lição no livro de francês que mencionava o sobrenome Colette. Meus avôs paternos são de Pádua (em italiano: Padova; em vêneto: Padoa) e Mântua (em italiano Mantova) e os avós maternos Maria Eberle Dal Picolo, conhecida por todos da redondeza como Marieta, nascida em Vicenza, localidade proxima a Treviso e Martinho Dal Picolo (Martino Dal Piccol, nascido em Colbertaldo, na comuna de Vidor, província de Treviso). Meus avós vieram da Itália, no inicio trabalharam em propriedades de fazendeiros. Os Coleti vieram da Itália, trabalharam em prpopriedades de outros fazendeiros, adquiriram esse pedaço de terra. Sempre aqui na redondeza. Os Dal Picolo são de Ribeirão Preto, Batatais. Segundo informações dos tios e da “mama”, após chegar em Santos, de navio, a sua família foi contratada para o cultivo e colheita de café em uma grande fazenda de propriedade da tradicional família paulista, os Junqueira, em Ribeirão Preto. Conforme afirmava meu tio José o pai do nosso nono (avô) chamava-se Lourenço Dal Piccolo e a mãe Maria Luiza de Poi, nomes já abrasileirados. Depois que o “nono” comprou a propriedade no local denominado Santa Fé, próximo a Codistil. Onde eu nasci também é ali perto da Cruz Caiada, junto a Estrada de Piracicaba para Rio Claro. Martinho Dal Picolo tinha uma propriedade em Batatais, vendeu e adquiriu esse sítio chamado Santa Fé. A primeira filha que nasceu nesse sítio foi a minha mãe.
Como se deu a união entre as famílias Coleti e Dal Picolo?
Os Coletti e os Dal Picolos eram vizinhos. Minha mãe e meu pai estudaram na mesma escola, na Vila Nova. Todas as minhas tias casaram-se com rapazes da vizinhança, eram filhos ou netos de sitiantes. O meu pai na época era neto de sitiante. As minhas outras tias geralmente eram casadas com sitiantes, filhos dos donos das terras.
Qual era o produto que mais se cultivava nessa época?
Já era a cana de açucar!
Essa cana era fornecida para alguma usina?
Eles mesmos processavam a cana de açucar, tinham engenho de pinga. Forneciam para as industrias de Piracicaba que engarrafavam e comercializavam. Minha mãe contava que quando ela e papai casaram-se, foram morar com meus avós. Na época cada tio tinha a sua casa própria. Mais tarde mudaram-se todos para a cidade. O meu pai e o tio dele, que era mais novo do que ele, tornaram-se sócios, venderam esse sítio e adquiriram uma propriedade maior em Rio Claro. Nesse período tornaram-se sócios de membros da família Ometto da cidade de Iracemapolis.  Passaram a produzir açucar na  Usina Santana.  Meu pai era o administrador rural, meu tio Pedro Coleti ficava na parte burocrática.
                                                     CASA DA FAMÍLIA
Nessa época qual era a sua idade?
A nossa família mudou-se para Piracicaba, eu tinha sete anos. Foi quando iniciei meus estudos no Externato São José, no prédio situado a Rua D.PedroII esquina coma a Rua Alferes José Caetano, onde mais tarde funcionou a Faculdade de Odontologia de Piracicaba. Aqui eu fui alfabetizada.
Em que local de Piracicaba você morava?
Morava a Rua Governador Pedro de Toledo, proximo a Estação da Companhia Paulista de Estradas de Ferro. Conheci a família Rensi, Algodoal, tinhamos excelentes vizinhos. Lembro-me da Gisela, vinhamos do Externato São José até a nossa casa juntas, de bonde. Naquele tempo o calçamento era de paralelepipedo. Eramos crianças, íamos sozinhas até a escola, nossos pais não precisavam nos acompanhar. Era divertido, formávamos um grupo de umas cinco meninas que moravam proximas.
Após dois anos no Externato São José, qual foi sua proxima etapa?
Fomos morar na fazenda, situada a três quilômetros de Rio Claro. Hoje já é área urbanizada, com residências. Fui estudar no Colégio Puríssimo Coração de Maria, era uma congregação gaúcha. Estudei lá até o Normal. No período em que morava na fazenda, papai me levava até a escola todos os dias, lembro que o carro era um Simca. Era estrada de terra. Quando chovia de Rio Claro à Piracicaba tinhamos que dar a volta, passando por São Pedro. Assim mesmo era dificil, a estrada de São Pedro também era de terra. De Rio Claro à Piracicaba não tinha como trasitar de carro. Mesmo com o tempo bom demorava-se muito. Naquela época Rio Claro tinha um problema sério de fornecimento de água. Papai mandou construir uma casa na Rua 10, no bairro Boa Morte, em Rio Claro. As ruas eram feias, com buracos, as ruas não eram asfaltadas. Hoje Rio Claro é uma cidade linda, amo Rio Claro! Em Rio Claro havia o Ginásio Koelle ou Escola Alemã, muito famoso, muito bom.
Você formou-se professora em que ano?
Em 1958 conclui o Curso Normal na Escola Purissimo Coração de Maria. Eu era a caçula da classe. Passei por um período de adptação quando fui estudar em Rio Claro. De uma experiência pessoal, percebi como é importante ter discernimento e sabedoria no incentivo dos alunos. O professor tem que estar muito atento a reação dos alunos quando recepcionam um aluno novo, por melhor que esse aluno seja. Muitas vezes o comportamento do aluno em classe não reflete a sua realidade naquele momento. Ganhei medalha por bom comportamento durante o ano inteiro.
Você lembra-se do nome da sua primeira professora?
Ainda hoje estava comentando sobre isso, lembro-me dos nomes das professoras do segundo ano em diante. Tenho a frustração de não me lembrar do nome da minha primeira professora, que foi ótima professora, por quem fui alfabetizada. Ela deu-me a nota máxima, na época era 100. Eu que tinha chegado atrasada 15 dias, tinha vindo direto da roça. Devo ter sido muito bem alfabetizada. Talvez eu encontre alguém da turma de 1948 que possa me fornecer o nome dela. Ela era professora do Externato São José. A minha professora do segundo ano foi a professora Maria Stella de Aguiar Ayres (Irmã Missionária da Congregação das Missionárias de Jesus Crucificado – Irmã Maria Stella da Eucaristia); depois foi Da. Deise, no ginásio tive uma professora de português inesquecível, a professora Ivanira Bohn Prado, conservo até hoje as cartas que ela me escreveu, uma grande poetisa, eu e outra amiga de Rio Claro íamos  visitava-la todos os anos.
Como foi seu ingresso na Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Rio Claro?
A faculdade de Letras foi para Araraquara, em Rio Claro ficou História Natural, Geografia, Matemática e Pedagogia. Eu tinha concluído o curso Normal, como gosto muito de estudar gostei muito das disciplinas pedagógicas. O professor de Prática de Ensino, Odilon Correia, dizia que eu tinha muita aptidão para ministrar aulas. Quando fui para a faculdade a minha intenção era aprender técnicas pedagógicas. Tinha uma vontade tremenda em aprender. Infelizmente não foi bem assim. A tal ponto que tínhamos tempo integral na faculdade. Eles visavam mais pesquisadores. Desde o primeiro ano tivemos psicologia experimental.
Era do Estado a faculdade?
Os professores todos eram da Universidade de São Paulo. O professor que mais impressionou pelo seu método de ensino foi Frank Perry Goldman, norte-americano, professor da cadeira de Sociologia. Éramos em 12 alunas apenas, no curso de pedagogia. Acho que apenas 3 não permaneceram como professores de faculdade.
Você participou de um movimento jovem?
Participei ativamente da Juventude Universitária Católica, fazia projetos sociais, participava dos congressos, era um movimento que envolvia o Brasil inteiro. Participei de diversos congressos nacionais. Estivemos em São José dos Campos, ficamos alojados no ITA- Instituto Tecnológico de Aeronáutica. Percorri muitas cidades do Brasil, np Estado de São Paulo, como São José do Rio Preto, Agudos. Eu sempre fiquei na parte social. Havia também a parte política. Algumas estrelas que hoje brilham na política nacional, paticiparam desses congressos. A JUC era formada pela alta elite do Brasil. Eu era muito jovem, tinha de 18 a 21 anos. Quando me formei, automáticamente deixei de pertencer a JUC. O nosso trabalho sempre foi voltado para o bem comum.
Você teve a experiencia de ver o professor ser devidamente valorizado?
Eu vivi um período em que ser professor era uma ascenção social importante, o professor era valorizado em todos os sentidos, inclusive monetariamente. Seus ganhos permitiam viver com dignidade. Um diretor de escola era considerado uma autoridade na cidade.
Em que turma você formou-se na facudade?
Foi na primeira turma de pedagogia. Me ofereceram aulas em Brotas. Pegava o trem da Companhia Paulista de Estradas de Ferro, isso em uma época em que os trens eram luxuosos, havia primeira classe, com restaurante. Instituiram o Curso Normal que não havia na cidade e precisavam de professor. Minha missão era formar professoras primárias. Eu ministrava todas as disciplinas pedagógicas. Psicologia, Sociologia, Psicologia da Educação, história da Educação, Filosofia da Educação, Teoria e Prática do Ensino Primário. Fiquei uns dois anos lá, a primeira turma tinha uns trinta alunos. Foi uma revolução na cidade! E realmente o Curso Normal era necessário! Fico muito triste quando vejo que a educação no Brasil perdeu muito do seu valor. Uma das formas de mudarmos é formarmos professores. Não que não se formem professores, só que naquela época o professor entrava em uma sala de aula sabendo como deveria agir. Ele conhecia uma sala de aula. Dificilmente eu reprovava um aluno. Mas por que? Porque eles tinham facilidade em aprender! Eu dominava o assunto de tal forma que conseguia chegar até o nivel de compreensão do aluno. Lecionei para o Curso Normal, para o colegial e para crianças também. Quando eu lecionva a matéria Teoria e Prática do Ensino Primário as minhas alunas faziam estágio nas minhas escolas, eu ia com elas, não me limitava a só ficar fora de aula, ia com as professoras também, sentava e adorava ficar com as crianças. Depois as alunas davam aulas, elas saiam já formadas, com uma certa prática, podemos dizer. Elas sentiam a sensação em dar aulas.
Naquela época quantos anos durava o Curso Normal?
Eram quatro anos, depois passou do Curso Normal para o magistério, diminuiu, então é claro, não tinham aquela formação anterior. Nessa época eu estava em Araraquara. De Brotas eu fui lecionar por um ano na zona rural, em Ipeúna. Meu pai tinha vendido a propriedade em Rio Claro e adquiriu outra em Ipeúna. Havia uma escola no sítio vizinho. Permaneci no sítio, morando com os meus pais, de lá eu pegava o jipe, acho que fui a segunda motorista de jipe de Ipeúna. As vezes tinha que colocar correntes nos pneus, eu ia pelos carreadores de cana. Os alunoss de lá iam comigo. A estrada era bem difícil, só com jipe mesmo. A distância entre a nossa casa e a escola era de uns três quilometros.
                                                      LEDA COLETTI
Você já foi jipeira então?
Já fui! No dia em que fui fazer o exame para tirar a carta de habilitação, o jipe da autoescola quebrou. Isso foi em Rio Claro. Fiz o exame com um Dauphine! Naquela época meu irmão era seminarista, todo o fã-clube do seminário foi lá para torcer para mim. Eu fiquei mais nervosa ainda! Fui reprovada. Mais tarde fiz ao exame em Piracicaba com um Volkswagen, passei na primeira vez. Em 1967 depois de prestar o exame de habilitação e ser aprovada ganhei um carro Volkswagen, já antigo e com bastante quilometragem. Entre consertos, peças e combustível ia quase todo o meu salários. Foi quando meu pai fez uma maravilhosa surpresa. Deu-me de presente um “Fusca”, imaculadamente branco, zerinho, zerinho. Dei ao carro o nome de “Leal”. Não sei se foi porque gostou do nome ou se quis fazer jus ao significado do mesmo ele se mostrou um dos maiores e melhores amigos. Nas longas viagens que fazia aos finais de semana, enfrentava 230 quilometros, conversava com ele. Também cuidava da sua aparência, estava sempre limpo e lustroso. Quantos admiradores aquele Fusca teve! Havia até fila para comprá-lo caso eu me interessasse em vendê-lo. Diziam: -Além de Volkswgaen , é carro de mulher e ainda professora!”

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