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terça-feira, agosto 13, 2019
quinta-feira, março 07, 2019
AMÉRICO SIDNEI RISSATO
PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E
MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 09 de março de 2019
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 09 de março de 2019
Entrevista: Publicada aos sábados
no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
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ENTREVISTADO: AMÉRICO SIDNEI RISSATO
Dr. Américo
Sidnei Rissato é o Delegado Seccional de Polícia de Piracicaba De uma
simplicidade admirável apesar do cargo importante que ocupa. Os comentários de
moradores de cidades onde anteriormente foi delegado de polícia, o elogiam pela
sua competência, têm admiração pelo seu profissionalismo e quase todos os que
postam mensagens pedem a Deus que o abençoe. Sua porta permanece sempre aberta
para àqueles que necessitam falar com ele, sem que isso deteriore a ordem e paz
do ambiente.
O senhor é natural de Piracicaba?
Nasci em Mogi
Mirim a 17 de abril de 1958. (Quem nasce na cidade de Moji Mirim
é chamado de Mogi-Miriano). Sou filho de João Rissato e Carmem Roman Rissato,
minha mãe nasceu na Espanha, tenho parentes em Málaga. O meu pai serviu o
Exército no tempo em que havia a Cavalaria Montada, em Ponta Porã, Mato Grosso do Sul, seguiu[U1] carreira no Exército. Deixou o Exército
e entrou para a Força Pública, hoje denominada Polícia Militar. Depois
trabalhou na segurança privada, terminou a carreira dele na Alpargatas de Mogi
Mirim, onde foi chefe de segurança. Eles tiveram seis filhos: Sonia, Américo, João
Luiz, Sandra, Rosangela, João Henrique. Todos com formação superior em diversas
áreas. Meu pai está com 87 anos e minha mãe com 82 anos.
Seus estudos iniciaram em Mogi Mirim?
Estudei
o curso primário no Grupo Escolar “Coronel Venâncio” o segundo grau estudei na
Escola Estadual "Monsenhor Nora". Mogi
Mirim é reduto de grandes juristas. Tive a honra de ter estudado com muitos
juristas importantes. Depois passei a trabalhar durante o dia na Champion Papel Celulose e estudei em Espirito Santo do Pinhal. Foi com muita dificuldade.
Entrava na Champion às sete e meia da manhã, tinha que pegar o ônibus às seis
horas da manhã, saía do trabalho às seis horas da tarde, ia para casa em Mogi
Mirim, chegava as sete horas da noite, pegava outro ônibus as sete e dez, sete
e quinze. Se tomasse banho não jantava, se jantasse não dava tempo de tomar
banho. Ia para a faculdade, voltava da faculdade a uma hora da manhã. No dia
seguinte era o mesmo procedimento. Saí da faculdade com 23 anos. Foi uma época
muito difícil, não tinha dinheiro para ir para a cantina comer alguma coisa.
E livros, como o senhor fazia?
Emprestava na biblioteca, dos
amigos.
Naquela época não existia
internet!
Fato pelo qual não me tornou uma
vítima, graças a isso hoje dou mais valor a certas coisas. A dificuldade para
conseguir só serviu para valorizar cada conquista. Tinha que trabalhar para
pagar os estudos.
Após formar-se em Direito, qual
foi o próximo passo?
Em 1983 comecei a fazer o estágio da OAB Ordem dos
Advogados do Brasil Tinha que fazer dois anos de estágio, no meu caso era não
remunerado. Em 1984 fiz o exame da OAB. Isso significava que aos finais de
semana tinha que ir à faculdade ou à uma faculdade que a OAB tinha um convênio,
lá tinha que fazer as provas, as peças, também tinha dias alternados que tinha
que ir ao fórum. Acompanhar audiências. Ir até a Delegacia de Polícia,
plantões. Flagrantes. Existia uma carteirinha azul, onde assinavam, o juiz, o
promotor, o delegado, eles assinavam atestando o comparecimento, carimbavam,
aquilo valia ponto para a OAB. Feito isso, quando saía da faculdade, prestava
um exame da Ordem e já saía ou não, com a sua carteira definitiva, aquela
vermelhinha. Em 1984 saí da faculdade. Fui advogar por quase dois anos. Atuei
nas áreas criminal e cível. O meu sonho era ser Delegado de Polícia.
O que levou o senhor a ter esse
sonho?
Acho que tive influência do meu
pai. Ele gostava muito dessa área. Da maneira austera, da forma de ele ser. Eu
admirava muito a profissão de Delegado de Polícia. Também admirava muito alguns
delegados de polícia que passaram por Mogi Mirim: Nestor Sampaio, foi um nome
que marcou muito. Dr. Cyro Vidal Soares da Silva. Alcides Carmona.
Dr. Miranda. Muitos nem sabem que eu me espelhei neles. Eu achava que o
Delegado de Polícia tinha um papel muito importante na sociedade, um poder de
decisão rápido. Era uma autoridade que estava a todo momento, a todo instante a
disposição da população atendia o povo e decidia de imediato. E suas decisões
eram eficazes. Decisões que se materializavam imediatamente.
O senhor decidiu fazer o
concurso?
Passei no concurso para Delegado de Polícia. Estudei
muito para passar nesse concurso, tal era a minha vontade, me inscrevi em 1985
passei no concurso em 1986. Fui para a Academia
de Polícia `Dr. Coriolano Nogueira Cobra´ Polícia Civil do Estado de São Paulo,
na Cidade Universitária onde fiquei por seis meses, morando na Academia, muitos
colegas tinham condições de pagar para ficar em algum lugar, eu fiquei no
dormitório da Academia, no porão da mesma. Quando eu estava fazendo a faculdade
comprei um Chevette bege, ano 1975, tive que vender o Chevette para poder me
manter durante o curso. Comia ali no restaurante da USP. Muitos finais de
semana nem retornava para casa para não ter despesas. O aprendizado foi muito
importante, os colegas e professores permanecem em nossa memória. O homem
muitas vezes ainda não tem consciência de que ele está de passagem nessa vida,
onde ele passa deixa o seu rastro, bom ou ruim. Deixa seu histórico de vida,
seu histórico profissional. Muita gente não pensa nisso, vai tocando, da
maneira que vier, vai.
O
senhor é religioso?
Sou!
Procuro estar sempre junto a verdade, participei de grupos de orações, da
renovação carismática, estou sempre procurando a verdade onde ela existir. Eu
acho que cada ser tem um mundo dentro de si. Cada ser é especial, tem o mundo
dele, a visão dele.
O
senhor ocupa um cargo extremamente importante em Piracicaba, que é uma cidade
bem cotada no País.
Muito
bem cotada! É uma cidade grande não só no tamanho, mas grande em tudo. Nas
obras, nos homens, que labutam, trabalham, admiro muito a administração desta
cidade, não estou me referindo à política, estou me referindo a administração
como um todo. A união perfeita do Prefeito, Ministério Público, com as outras
instituições da segurança pública como a Guarda Municipal, Polícia Militar,
organização que tem na Associação Comercial, onde estive por várias vezes,
convidado para debater diversos assuntos. A organização que tem a Câmara
Municipal, o trabalho constante de vereadores.
O
senhor assumiu a Delegacia Seccional quando?
Faz
pouco tempo que estou aqui, cheguei dia 12 de julho de 2018. Aos sessenta anos
de idade, já dá para saber de onde vem a verdade e onde há um engodo. Os
vereadores falam o que o coração sente, dá para perceber. Falam com muito
orgulho desta cidade.
Até
chegar a posição que o senhor ocupa, há uma sequência natural na carreira. A
primeira cidade em que o senhor exerceu a profissão como delegado foi onde?
Comecei como plantonista no Primeiro Distrito de
Campinas. Naquela época não existia a DDM -
Delegacia de Defesa da Mulher, comecei no Setor de Atendimento da Mulher, isso
em 1987, depois fui chamado para trabalhar como Delegado Titular da Primeira
Delegacia de Polícia de Euclides da Cunha Paulista, na divisa de Mato Grosso do
Sul e Paraná. Região de Presidente Prudente, respondia para a Seccional de
Presidente Wenceslau. Onde teve a invasão de terras, onde estava o Bosanela, o
Rainha, era uma época violenta, lá era distrito, o município era Teodoro
Sampaio, que tinha também o distrito de Rosana, onde ficava o Porto Primavera.
Eu ia para Rosana, um colega que entrou na polícia na mesma época, João Batista
Reinaldo, natural de Dois Córregos, ele pediu para trocar comigo, ele queria ir
para Rosana, onde tinha mais conhecimento da área, ali ele pode ficar em uma
cidade que existia para os funcionários da Usina
Hidrelétrica de Rosana. Eu fiquei em Euclides da Cunha Paulista, ali não se
conhecia asfalto e nem casa de alvenaria. Na época era uma cidade do
risca-faca! Era violento, com invasão de terras, na época eu era ainda
solteiro. Fiquei, passei dois natais e passagens de ano sozinho. Ficava a 840
quilômetros de Mogi Mirim, era muito longe. Quando vinha, vinha de carro.
Muitas vezes vinha de ônibus, ficava mais barato, vinha pela Viação Andorinha! Ia
até Presidente Prudente, depois ia pegando vários ônibus em cada trecho. Levava
muito tempo para chegar. Naquele lugar não havia telefone automático, você
discava e pedia para a telefonista completar a ligação.
E quando precisava de alguma informação?
Havia o aparelho de telex que ficava em Teodoro
Sampaio, distante 60 quilômetros! Nem a delegacia tinha! Cheguei lá com a
missão de montar a delegacia. Montei a Delegacia de Polícia em um imóvel
alugado pela prefeitura de Teodoro Sampaio, a cadeia era de madeira! No mesmo
prédio trabalhava a Polícia Militar. Trabalhávamos juntos.
Tinha crimes violentos ou eram mais desentendimentos?
Os crimes mais violentos eram
homicídios. Ocorriam muitos homicídios. Qualquer coisa já era motivo para dar desentendimentos,
briga de jogo de palitinho, o sujeito ia até a delegacia para dizer que iria
matar fulano. Ou diziam: “Ele colocou um apelido em mim”, ou “Tá mexendo com a
minha companheira. “-Vou matar esse cara!”. No início eu não acreditava, depois
vi que matavam mesmo! Não adiantava interferir, fazer inquérito sobre ameaça,
não adiantava nada, eles estavam decididos a matar e matavam. Não tinha jeito. Diziam:
“Onde mandarem esse caboclo, onde tiver terra vai virar lama, onde tiver lama,
vai virar terra. Mas que eu vou meter a peixeira nele, eu vou!”. Decidiam tudo
na faca. Era difícil atender uma ocorrência dessas, todos estavam bem
esquartejados. A identificação era relativamente fácil, ou vinham de Terra
Rica, que era divisa ali, ou de Angélica, Mato Grosso do Sul. Isso no tempo do
radialista e apresentador na televisão de Curitiba, de um programa que abordava
temas polêmicos, notícias policiais, Luiz Carlos Alborghetti, era muito famoso na época,
estava sempre com uma toalha no pescoço, o Ratinho era repórter de campo. O Alborghetti
era escandaloso ao extremo. Ali as estações de rádio e televisão eram
sintonizadas pelo sinal do Paraná. Para atravessar para o Estado do Paraná
tinha o Rio Paranapanema, atravessava de balsa. A mesma coisa para atravessar
para o Estado do Mato Grosso do Sul.
Os crimes tinham mais algum motivo para serem cometidos?
As invasões de terra, os “campeiros”
como eram chamados aqueles que protegiam as fazendas, e os invasores de terra.
Os campeiros seguravam aquilo na peixeira, andavam a cavalo, alguns de jipe,
caminhonete, as coisas eram resolvidas na bala ou na peixeira. Tinha também a
área do baixo meretrício, que por incrível que pareça era a área mais
respeitada!
E coronéis ainda tinha?
Tinha! Nossa! Eles costumavam oferecer
para a polícia auxiliares, só que já sabíamos que esses auxiliares eram para
legitimar algum ato deles. Permaneci lá por volta de dois anos, e sem falsa
modéstia fiz um bom trabalho. Na época foi reconhecido pelo Delegado Geral de
Polícia. Ele me promoveu e ofereceu o Primeiro Distrito de Mogi Mirim. Cidade
dos meus pais. Só que na realidade eu não tinha como dizer para ele que eu não
queria trabalhar na cidade onde nasci e fui criado. Como não tinha como dizer
não para ele, fui para lá e por lá fiquei por nove meses. Ai vagou a Delegacia
de Polícia de Artur Nogueira, eu já conhecia de passagem, inclusive quando era
mais jovem, pensava: “Quando for delegado de polícia, vou ser delegado aqui!”.
Após nove meses, o Delegado Seccional me chamou, estava havendo problemas em
Artur Nogueira, que deveriam ser sanados. Em cidades menores é muito comum
autoridades constituídas não obedecerem uma área de atuação bem delimitada pela
própria Constituição Federal. O Seccional perguntou se eu aceitava, disse que
sim, fui ser o Delegado Titular de Artur Nogueira. Lá eu conheci a minha
esposa, lá me casei com Simone Sia. Nasceu o meu primeiro filho, Lucas Sia
Rissato, que é o segundo vereador mais bem votado de Artur Nogueira. Ele
elegeu-se com 25 anos. Ele só veio me comunicar que tinha sido eleito. Sempre
fui muito democrático, embora delegado de polícia, e alguns acham que delegado
de polícia é truculento, a maioria dos delegados que conheço são bem
democráticos. Procuram garantir os direitos das pessoas, e isso começa em casa!
Quanto tempo o senhor permaneceu em
Artur Nogueira?
Fiquei
ali por cerca de 10 anos, fui trabalhar em Americana como assistente do
Delegado de Polícia Dr. Paulo Roberto Rodrigues Jodas. Trabalhei com ele, foi
um dos melhores Delegados de Polícia que conheci também. Um homem muito sério,
muito competente. Dali fui ser Delegado Titular de Cosmópolis, após algum tempo
fui ser titular em Sumaré. Fiquei um ano em Sumaré, aí fui fazer o Curso Superior de Polícia Integrado. Fiquei um ano, foi em 2013. Logo em
seguida fui indicado para a Classe Especial, Delegados Classe Especial são
poucos. O curso CSP indica que você está preparado para ser um delegado da
Classe Especial, mas não significa que deverá ser. Tem que haver indicação de
dentro da Instituição, alguém que reconheça o seu trabalho. O Conselho se
reúne, vota. Acabei sendo promovido à Classe Especial, que é a última classe. Poucos
chegam a Classe Especial, deve ter 160 delegados que pertencem a Classe
Especial em um universo de 4.000 delegados.
Após terminar o curso o senhor assumiu qual delegacia?
Voltei para Sumaré onde fiquei um
mês e novamente fui chamado para ser assistente da Delegacia de Americana. Eu
queria dar um pouco mais de mim para a minha instituição, queria assumir uma
seccional. Mudar a maneira de administrar, tentar montar uma nova dinâmica de
administração em uma seccional. Depois em um departamento, como diretor, tentar
mudar alguma coisa, meu sonho sempre foi esse. Eu tenho a certeza de que estou
fazendo o melhor de mim aqui em Piracicaba, minha porta sempre aberta, um
atendimento aos colegas muito cordial, tenho que atender os colegas muitíssimo
bem. Qualquer instituição em que não exista respeito entre seus membros, ela é
fadada ao insucesso. Temos que sermos unidos. Se não temos tantas condições de
trabalho isso não depende de nós, a nossa união depende de nós. Esse processo
por ser inovador, nem sempre é entendido por todos de plano. É característico
de cada ser humano. Uns absorvem rapidamente, conhecem imediatamente o grau de
autonomia e o limite. As lamentações intermináveis acaba criando um ambiente
altamente contagiante e negativo. Você tem que fazer alguma coisa para melhorar
o ambiente em que você está, com aquilo que dispõe no momento. Lamentações só
destroem qualquer iniciativa que existe e pode melhorar o ambiente, obter
resultados positivos.
Qual foi o seu próximo passo na
carreira profissional?
Fui para São Paulo. Sempre gostei
muito da parte de inteligência. Me chamaram em São Paulo, comecei a trabalhar
com aplicativos de inteligência de computador, celular, isso chamou a atenção,
de que eu entendia a respeito. Não era uma parte que eu estava procurando, na
verdade eu queria ser seccional mesmo! Fui chamado como Divisionário
da Assistência Policial do Dipol - Departamento de Inteligência da Polícia Civil
de São Paulo. Um cargo importantíssimo. Permaneci lá de 11 de janeiro de 2014
até setembro de 2015. Meu pai não estava bem, pedi para retornar para o
interior. Fui trabalhar de novo como assistente da Delegacia Seccional de
Americana. Já tinha desistido do meu sonho de assumir uma seccional no
interior, aposentar-me como seccional e fazer alguma coisa que eu achava que
podia fazer melhor. Pedi as minhas licenças que deixei para tirar em outro
momento oportuno, para aposentar-me. Em junho de 2018 estive com o Dr. Paulo
Bicudo, que era Diretor aqui, tive uma conversa com ele, disse da minha
intenção de aposentar-me, como delegado da região, gostaria de encerrar a minha
carreira aqui, mostrar que eu consigo administrar uma seccional. Ele disse-me:
“Você chegou a ser Divisionário de um Departamento como o Dipol Departamento de
Inteligência, departamento tão importante!”. Disse-lhe que eu gostaria de fazer
alguma coisa pela minha região, se não fosse bem na minha região que fosse no
interior do Estado. Sou do interior e tenho muito orgulho de ser do interior.
Sou caipira do interior, gosto do interior, quero fazer algo pelo meu interior.
Entrei com o meu pedido de aposentadoria, fui para casa tirar as minhas
licenças. Nesse interim Dr. Paulo Bicudo foi chamado para ser Delegado Geral.
Ele levou o Delegado Seccional junto, para trabalhar com ele, Dr. Glauco Roberto Rufino. Um belo dia Dr. Paulo
Afonso Bicudo me chamou. Disse-me: “Retire seu pedido de
aposentadoria e assuma a Seccional de Piracicaba! Você vai me ajudar muito, eu
gosto muito de Piracicaba”. E aqui estou eu! No começo do ano chegou o Dr. Kleber Antonio
Torquato Altale.
Dr. Américo, há uma corrente de
pensamento que afirma que o problema criminal é decorrência do problema social.
Qual deles temos que resolver primeiro?
O ser humano é um ser
eminentemente social. Ele não consegue viver fora do meio em que ele nasce,
vive, é criado. Não consegue viver fora da disputa, da contenda. Onde está o
ser humano, está o problema. As instituições funcionam muito bem se não tiver a
interferência do ser humano, de forma negativa. Todas instituições são perfeitas,
embora criadas por seres humanos são perfeitas.
O que podemos melhorar no Brasil?
A meu ver o que falta no Brasil é
o amor à Pátria, amor ao Brasil. Se todo aquele que assumisse um cargo público,
seja ele eletivo ou através de concurso, que ele assumisse e fizesse aquilo
como se fosse uma empresa dele. Como aquilo fosse dele. Tratasse do público
dele como ele gostaria de ser tratado. A política da enganação não teria mais
espaço. A política do “esperto” não teria mais espaço!” O povo por mais inculto
que ele seja, o povo não é bobo! Embora nossa democracia seja um pouco nova, o
povo está percebendo a enganação! É incrível como eles tem o poder de se
reinventar, esses políticos se reinventam, conseguem aperfeiçoar as práticas de
enganar o povo. Quando o povo começa a perceber eles mudam a prática! Se
aperfeiçoam! Tenho notado que o povo está muito “vacinado”! Mas ainda caem em
muitas armadilhas! O brasileiro criou a cultura da Lei de Gerson: Levar
vantagem em tudo! A qualquer custo, de qualquer maneira. O que está faltando ao
nosso país é mais amor. Amor ao próximo. Amor à Pátria. Amor à bandeira. Amor
ao que é seu! Está faltando mais amor! Infelizmente o brasileiro vai atrás da
vantagem pela vantagem! Isso vemos até nas conversas mais corriqueiras, como em
futebol por exemplo. O torcedor de um time afirma que o time do outro ganhou
porque o árbitro favoreceu o time vencedor, o gol foi marcado com a bola
batendo na mão do jogador. O torcedor do time vencedor alega que o jogador é
“experto”! O gol foi com a mão, mas valeu! O juiz não viu, é nosso o gol! Falta
ética como um todo. Alguns tem plano de saúde, não importa como ele quer usar!
Por sua vez, alguns exames caros e desnecessários são cobertos por esse plano,
que no final tem o custo diluído entre os associados encarecendo-os. É
incrível, o usuário por ter um plano de saúde acha que deve usufruir ao máximo,
mesmo que seja algo sem relevância médica. Os que faltam ao trabalho e “cavam”
um atestado médico. O brasileiro está tentando levar vantagem em tudo e todo
mundo tentando levar vantagem em tudo alguém fica na desvantagem! Com isso, o
que está acontecendo é que todos estão em desvantagem! O camarada tem um
discurso mas as atitudes dele é contra seu próprio discurso!
O senhor vê alguma perspectiva positiva
pela frente?
Acho que nós temos que nos
reinventarmos, não só na política, mas como Nação! Alguém tem que ter mais amor
pela pátria. É muito cedo ainda para dizer alguma coisa, espero que até julho o
país entre nos trilhos. Tem que haver mudança de hábitos.
O delegado tem aposentadoria
compulsória?
Tem, aos 75 anos. O que eu acho
um erro! Você não dá chance para quem está chegando! Simplesmente você abarrota
a instituição. Não existe aquela oxigenação natural que deve existir em toda
instituição. Se você chegar a qualquer empresa, onde a maioria da diretoria é
composta por pessoas acima de 65 a 70 anos e os jovens vão chegar lá com que
idade? Não estou afirmando que a velhice seja retrógrada, mas ela tem um
limite. Tudo tem o seu tempo. Por mais que eu queira fazer hoje com 60 anos de
idade não sou o mesmo que era com 25 anos. Como Delegado de Polícia aos 25 anos
de idade eu tinha pouca experiência mas tinha um “gás” tremendo! Dormia muito
pouco, trabalhava com muita intensidade. Hoje sou mais cauteloso. Não posso
errar. Até mesmo quando dirijo percebo que sou mais lento. Por que sou mais
lento? Porque estou mais velho e a velhice deixa mais lento? Não! Sou mais
lento porque sou mais cauteloso, antigamente eu dirigindo, saía para
ultrapassar olhava só uma vez no retrovisor. Hoje olho uma vez, olho duas vezes
para ultrapassar! Com isso perco alguns
segundos, mas faço uma manobra com absoluta certeza. Essa experiência é uma
vantagem. Sou da opinião que deveria existir uma espécie de Conselho da Polícia
Civil, com conselheiros aposentados, para ajudar, transmitir as experiências,
formatar novas diretrizes. Por muitos caminhos que os jovens estão passando
hoje, nós já passamos.
A Delegacia Seccional de
Piracicaba abrange quantas cidades?
Abrange 11 cidades: Piracicaba;
São Pedro; Águas de São Pedro; Charqueada; Santa Maria da Serra; Capivari;
Elias Fausto; Mombuca; Rafard; Rio das Pedras e Saltinho.
Diminuiu a criminalidade na nossa
região?
Diminuiu! E tem diminuído!
Procuramos identificar qual tipo de crime ou delito que ocorre em cada região.
Hoje eles fazem clínica geral. Antigamente era mais setorizado, onde havia mais
receptadores, locais onde havia mais ladrões. Antigamente Piracicaba era
comparada a Sumaré. Era uma região onde havia muita receptação. Piracicaba teve
uma fase muito feia em termos de criminalidade. Piracicaba melhorou muito,
muito mesmo.
terça-feira, março 05, 2019
ALTAIR HELENA PIACENTINI
PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E
MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 24 de novembro de 2018.
Sábado 24 de novembro de 2018.
Entrevista:
Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
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ENTREVISTADA: ALTAIR HELENA PIACENTINI
ENTREVISTADA: ALTAIR HELENA PIACENTINI
A história bucólica de Altair
Helena Piacentini é uma demonstração de que vencer os obstáculo interpostos
pela vida requer muita fé, determinação. Altair nasceu a 8 de outubro de 1921,
está portanto com 97 anos, desfrutando de excelente saúde. Filha de Pedro
Piacentini e Olímpia Gazziola Piacentini., que tiveram quatro filhos: Francisco
Antonio, Padre Narciso Piacentini e Altair, o quarto filho faleceu ainda muito
novo. A Paróquia Santa Cruz, em São
Paulo, teve origem na antiga Capelinha Santa Cruz, construída em 1903, na Avenida
Santa Inês. Em 1965, seu irmão, Padre Narciso Piacentini, então Capelão do
Hospital do Servidor Público de São Paulo foi convidado para celebrar missas na
capelinha. O Padre Narciso não só aceitou, como passou a ter uma grande devoção
à capelinha. A comunidade cresceu muito, a capela tornou-se pequena. No dia 30
de abril de 1972 Dom Evaristo Arns, Arcebispo de São Paulo inauguro a Igreja, sendo que simbolicamente
Dom Evaristo e o diretor do Horto Florestal de São Paulo plantaram cada um uma
árvore em homenagem ao novo templo.
Em que cidade a senhora nasceu?
Nasci em uma chácara em
Piracicaba, no bairro da Água Branca. Meu avô Ferdinando Gazziola tinha uma
chácara lá. Meus pais também tinham uma chácara lá. Meu avô paterno chamava-se
Raimundo Piacentini. Meus pais mudaram-se com a família para Rio das Pedras, eu
tinha 5 anos, fomos morar no bairro Bom Retiro. Lá em Rio das Pedras eu estudei
no Grupo Escolar Barão de Serra Negra, Osário Germano e Silva foi o meu último
professor. Moramos na Rua Rangel Pestana, conhecida pela cidade como Rua Torta.
Naquela época existia a Estação de Trem da Estrada de Ferro Sorocabana. Lembro-me de que assistíamos filmes em um
telão no clube social da cidade. Não havia calçamento na cidade, era chão de
terra.
A senhora conheceu antigos
moradores, como Natin Marino?
Conheci! Faleceu recentemente.
Conhecia Paschoal Consomangno, Limongi, família Saliba, família Coury, Basílio,
a minha mãe fazia crochê para o enxoval das moças. Conheci a fábrica de
macarrão, conheci Américo Froner e Laura Froner, tinham a pedra de fazer fubá.
Lembro-me das bandas de Jazz que havia na cidade.
Eu não queria encerrar os
estudos, só que naquela época estudar era para poucos, eu tinha duas tias
freiras: Irmã Justa Maria, irmã da minha mãe e Irmã Isabel, irmã do meu pai. As
duas eram franciscanas. Fui para o Patronato São Francisco em Campinas. Permaneci por três anos lá. Só vinha nas férias.
Como era a vida de aluna interna?
Éramos em poucas alunas internas. Havia
muitas alunas externas. Naquela época não se fazia a faculdade com a facilidade
que existe hoje. As moças iam aprender a costurar, fazer bordados, pintura,
fazer flores. Após esse período, voltei para Rio das Pedras, onde permaneci por
um ano. Vi que não havia condições de conseguir trabalhar na cidade.
Para vir para Piracicaba qual era
a condução utilizada?
Utilizávamos ônibus e trem. O
ônibus era mais rápidos.
Quem era o pároco de Rio das
Pedras naquela época?
Era o Monsenhor Martinho Salgot. Quando
vim trabalhar em Piracicaba, inicialmente fui morar na casa do Monsenhor
Martinho Salgot, Dona Rosa era cunhada do Monsenhor Martinho Salgot, ela que
que me convidou, nessa época Francisco Salgot Castillon, sobrinho do
Monsensenhor estava em São Paulo, estudando engenharia.
Nesse período a família da
senhora estava em Rio das Pedras?
Após um ano, trabalhando com
costura, fui buscar minha família em Rio das Pedras. Aluguei uma casa e meus
pais vieram. Meu pai estava receoso em vir para cá. Meu pai era artesão: fazia
jacás, trabalhava com bambu e madeira, fazia covo para pesca, naquela
época usava-se muito cestas de
bambu para levar almoços. Ele trabalhava em casa mesmo.
E a senhora trabalhava em casa?
Trabalhava em casa confeccionando
roupas femininas. Por um ano eu ia costurar nas casas das pessoas, aqui em
Piracicaba. Depois Dona Odila Lopes Fagundes Morganti, esposa de Lino Morganti
me chamou, fui trabalhar na casa dela onde permaneci por 10 anos.
A senhora conheceu o Palacete da
Família Morganti, no Bairro Monte Alegre?
Conheci muito! Lembro-me de um
mordomo.
Era o pai de Togo Ieda, hoje
advogado.
Aquele palacete era um luxo
deslumbrante. Eu costurava lá dentro, era na sala de jantar da meninas, tiveram
três filhas: Heloisa, Liliane e Renata. Eu costurava muito bem, bordava, A Dona
Odila reconhecia o meu trabalho. Eu morava perto do Mercado Municipal de
Piracicaba, As seis e meia da manhã eu pagava o ônibus e chegava no Monte
Alegre as sete horas. Geralmente eu tomava café em casa. Lá eu almoçava, parava
um pouquinho. Era um local muito bonito.
E para os homens quem costurava?
Meu irmão Francisco Antonio era
alfaiate, no início ele trabalhava na minha casa, ele fazia roupas para o
pessoal de Piracicaba. Naquele tempo alfaiate era uma profissão valorizada. Era
comum o uso de terno, usava-se casimira, linho. As roupas eram feitas sob
medida. Usava-se muito algodão naquela época. Normalmente eu tirava a medida,
fazia o molde no papel, depois eu cortava e costurava na máquina Singer, com
motor.
Nesse período a senhora chegou a
conhecer alguém? Casou-se?
Conheci! Quadrando o jardim em
Piracicaba! Era assim que a maioria se conhecia! Ele era alfaiate chamava-se
Antonio Banzato, depois Dona Odila gostou muito dele. Ele estudou o Curso de
Desenhista Técnico na Escola Latino-Americana de São Paulo. As lições vinham
ele as fazia em uma prancheta que havia em casa, assim que terminava mandava às
sextas-feiras e vinham as lições para ele no sábado. Ele passava os domingos
fazendo as lições. Até que ele tirou o diploma. Ele estudou na Escola
de Desenho Megatec em Piracicaba também. Foram contratados vários
engenheiros estrangeiros, italianos, holandeses, para construir a Fábrica de
Papel em Piracicaba. Meu marido aprendeu muito com eles também. Interessante
observar, que ele era desenhista nato, muitas técnicas de pintura e desenho ele
aprendeu com um professor famoso: Frei Paulo! Isso antes dele dedicar-se ao
desenho técnico. Logo no início, o Sr. Lino Morganti disse-me” Não precisamos
de desistas artísticos e sim de desenhistas técnicos”. Com isso meu marido foi
sendo promovido até ser chefe se seção. Casamos no dia 17 de fevereiro de 1952,
na Igreja dos Frades. Meu marido faleceu com 68 anos.
A senhora conheceu Alfredo Volpi responsável por pinturas existentes
até hoje na Capela Monte Alegre?
Eu ouvia falar o nome dele. Mas o meu
trabalho era dentro de casa.
Monte Alegre era uma cidade: tinha dentista,
um laboratório muito bem montado, um verdadeiro hospital! Meu filho nasceu lá.
Quantos filhos vocês tiveram?
Tivemos quatro filhos: Marco
Antonio; Luís Alberto; Maria Teresa e Maria Olímpia. Eu fazia as roupas que
eles usavam, não é como hoje que compra-se a vontade a roupa pronta.
A senhora tem uma disposição
acima da média, o que faz com que esteja sempre disposta?
Não sei dizer. Acho que é da
própria natureza. Como de tudo, embora não goste de carne vermelha.
O segredo é a quantidade de
ingestão de alimentos?
Eu como pouco.
Em Rio das Pedras havia muitas procissões?
Tinha! Não vou à Rio das Pedras
faz muito tempo, tenho vontade de voltar, para matar a saudade. Como estará a
Escola Barão de Serra Negra? Eu gostava da minha escola!
Imagino que está igual ao tempo
que a senhora frequentava, possivelmente com algumas mudanças superficiais.
Lembro-me da porteira do trem,
não tem mais trem? Nossa a Sorocabana acabou!
A senhora lembra-se da olaria,
das plantações de café?
Lembro-me sim.
Há quantos anos a senhora está
morando no Lar dos Velhinhos de Piracicaba?
Estou aqui já a 21 anos. Vim em
1997. Um dos meus filhos mora em Campinas, ele vem toda semana. Os outros por
razões profissionais moram em locais muito distantes. Tenho sete netos e três
bisnetos!
Como é o seu dia, normalmente?
Quando vou a missa pela manhã,
acordo as cinco e meia. Deito em torno das oito e meia da noite.
Gosta de televisão?
Gosto.
Acompanha política?
Não.
Do alto da sua experiência de
vida, qual é a sua opinião sobre tantas mudanças que presenciamos?
Certas coisas passaram a ser
melhores e outras piores. Os recursos materiais evoluíram muito, mas a parte
espiritual regrediu. Antigamente casava-se e ia morar com a sogra, imagine se
disser isso hoje em dia? Eu morei um ano com a minha sogra.
A senhora é do tempo em que as
pessoas em Rio das Pedras colocavam as cadeiras nas calçadas e conversavam.
O pessoal fazia isso. Minha mãe
não gostava de fazer isso.
Hoje tornou-se temerário esse
tipo de reunião!
É verdade!
Por acaso a senhora usa celular,
recursos eletrônicos?
Já ofereceram-me, mas não quero
nada disso!
Era comum Rio das Pedras receber
circos?
Era sim, iam muitos circos,
lembro-me do Circo Garcia.
A senhora gosta de ler?
Gosto! Gosto muito das
publicações católicas. Dou uma olhadinha nos jornais também. Quem morreu!
(risos). É para ver se tem algum parente, algum conhecido.
A senhora é uma pessoa muito
sincera, poucos dizem, mas muitos já buscam a seção de necrologia de imediato!
A senhora praticou algum esporte?
Não, nenhum.
A nova geração é muito preocupada
com saúde, isso é importante. Mas algumas pessoas exageram, fazem procedimentos
arriscados para manterem-se com aparência jovial.
Isso é bobagem! Imagino que fazem
isso porque não trabalham em casa! Quem trabalha em casa, trabalha, trabalha,
trabalha e não tem tempo para ir atrás dessas “novidades”.
A senhora trabalhou com agulha de
tricô, crochê?
Eu ainda faço tricô, crochê! Faço
sapatinhos para recém-nascidos! (A sua acompanhante Marlene pega uma caixa em
um armário, cheia de sapatinhos). Vão para as crianças pobres da Santa Casa. Eu
mando para Ribeirão Preto também. (O bom gosto, acabamento e qualidade dos
sapatinhos deixam transparecer o com que amor foram feitos).
Quanto tempo a senhora gasta para
fazer um sapatinho desses?
Faço dois pares por dia! São
feitos a mão!
E a lã onde a senhora arruma?
Eu compro com minhas economias.
ANGELO ALBERTO BERTOCCO
PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E
MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 02 de fevereiro de 2019.
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 02 de fevereiro de 2019.
Entrevista: Publicada aos sábados
no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADO: ANGELO ALBERTO BERTOCCO
ENTREVISTADO: ANGELO ALBERTO BERTOCCO
Quem tem o maior número de dados precisos de
uma empresa, independente do seu porte, está fadado a fazer as correções
necessárias. Ter um histórico que permite prever o futuro. E com isso obter
sucesso. Salvo as exceções de filhos pródigos, hábitos dispendiosos e outros
meios de gastar mais do que recebe. Atualmente o empresário brasileiro tem uma
das mais pesadas cargas tributárias, nossa burocracia é arcaica, com um cipoal
de leis, não somos nem práticos nem objetivos. Algumas leis são tão esdrúxulas
que o próprio profissional de contabilidade tem que ter um tempo para poder
entendê-la. Conforme narra o escritor Clemente Nelson de
Moura em seu livro a História da Contabilidade em Piracicaba, tivemos o
privilégio de termos escolas de contabilidade, formando uma base sólida para as
empresas. O Professor José Romão Leite Prestes, mudou-se de São Paulo para
Piracicaba em 1845, fundou uma escola que chegou a ter 200 alunos. Entre outros
ensinamentos os alunos faziam a “escrituração boa e limpa”. Jeronymo José Lopes
de Siqueira foi Escriturário do Engenho Central. Outro guarda-livros foi
Francisco Pimenta Gomes que a 12 de agosto de 1882 anunciou leilão de bens e
vendas de escravos no Tabelião dos Pescadores. Piracicaba teve muitas escolas
de contabilidade com excelentes professores: A Escola de Comércio Prudente de
Moraes, com sede na Sociedade Beneficente Operária, em meados de 1921, o
Professor, Dr, Jorge Canaan fundou na Rua do Rosário o Curso Prático Comercial.
Dr. Jorge Canaan, era imigrante libanês, fixou-se no Rio de Janeiro onde
estudou contabilidade, e mais tarde formou-se em Direito. Foi grande amigo de
Dr. Noedy Kraembhul e Jacob Diehl Neto que sempre o estimou
e admirou. Quando Jorge Canaan faleceu Jacob caiu em prantos (há documentação a
respeito). Hoje existe em São Paulo a Rua Jorge Canaan, há pós-doutorados
realizando pesquisas sobre a importância do seu trabalho (Há documentação a
respeito). Grande orador, tinha o brilho que hipnotizava a sessão do tribunal
em São Paulo, Rio de Janeiro e Piracicaba.
Outras escolas de Contabilidade abriram e com o tempo encerraram suas
atividades. A Escola Técnica de Comércio Cristóvão Colombo inicialmente
denominada “Curso Commercial Christovam Colombo” foi fundada em 12 de outubro
de 1913 pelos professores Pedro Zalunardo Zanin, diretor, e Adolpho Carvalho,
vice –diretor. Pedro Zanin era guarda-livros da Usina Monte Alegre, emprego que
deixou assim que fundou a escola. Após funcionar em diversos locais, em fins de
dezembro de 1943, passou a funcionar na Praça José Bonifácio, 930, telefone
366. Até 1936 já haviam sido diplomados 440 alunos, sendo que muitos ocupavam
funções importantes. Ângelo Alberto Bertocco tem uma estreita ligação com a
Escola Técnica de Comércio Cristóvão Colombo. Ângelo Alberto Bertocco nasceu a 20 de outubro de 1932
em Brotas, é filho de Waldomiro Bertocco e Nina Yarid Bertocco que tiveram os
filhos Ângelo e Marcus Antônio.
Até que idade o senhor permaneceu em
Brotas?
Até os 14 anos. Estudei no Grupo Escolar Morais, nome dado ao Grupo
Escolar de Brotas inaugurado em 15
de janeiro de 1912. Lá estudei até o quarto ano primário. Meu pai sempre
trabalhou em comércio, teve bar, sorveteria, confeitaria, Já aos onze anos
batia sorvete, fazia sorvete de massa, o sorvete de palito tem o momento
certinho do colocá-lo no sorvete. Os sorvetes mais procurados eram o de limão,
de massa o creme holandês, coco, coco queimado, abacaxi vendia bem. O sorvete
de groselha era de palito. Eram sorvetes feitos com a própria fruta. O bar de
propriedade do meu pai chamava-se “Bar Meia Noite”. Trabalhei com o meu pai
também quando ele vendia retalhos de tecidos por peso.
Com 14
anos o senhor veio para Piracicaba?
Vim sozinho, de jardineira. Ia até Torrinha e
de Torrinha para Piracicaba. Ou então de Brotas até Rio Claro e de Rio Claro
para Piracicaba. A estrada era de terra, levantava uma poeira! Quando chovia
era um barro só! Aqui fiquei na casa de uma madrinha minha Tereza Cardinalli.
Dia 20 de outubro de 1947 completei os meus 15 anos de vida. Minha madrinha foi
embora para São Paulo em 31 de dezembro de 1948. Fiquei um ano e pouco na casa
dela. Nesse meio tempo trabalhei em lanchonete no “Café Broadway” ao lado do
Cine Broadway. Logo ali na esquina da Rua São José com a Rua Alferes José
Caetano era a Funerária Libório. Trabalhei em bar, em uma loja “Casa São
Carlos” ficava na Rua Governador Pedro de Toledo, entre a rua Rangel Pestana e
a rua Pedro II, era do Sr. Antonio Tanus. No início o Sr. Antonio achou que eu
não estava preparado para vender roupas finas. Com o tempo fui me aperfeiçoando,
depois ele não queria que eu saísse da loja. Nesse tempo eu estava fazendo a
primeira série na Praça José Bonifácio, 930, na Escola Técnica de Comercio
Cristóvão Colombo. A filha do Seu Zanin era Dona Evelina Zanin. Em 15 de maio
de 1939 faleceu Pedro Zalunardo Zanin, assumiu a
direção da Escola seu filho, o Contabilista Antonio Ítalo Zanin. Fui
falar com Seu Antonio Zanin, que era o diretor, disse-lhe que teria que sair da
escola. Ele queria saber o porquê, expliquei, ele disse-me: “Você não vai
embora, vai trabalhar aqui!” Passei a trabalhar como auxiliar de secretaria. Eu
já estava na segunda série. Nesse período minha madrinha estava mudando para
São Paulo, Seu Antonio disse-me: “Eu arrumo um lugarzinho para você aqui.” Era
um quartinho. Conclusão lá eu morava, trabalhava e estudava! A Escola foi para
mim uma família!
No tempo em que o senhor trabalhou na Escola
Cristóvão Colombo ela ficava em qual local?
Ficava na Praça José Bonifácio, existia o
Cine Politeama, ao lado o Passarella, que era famosa pelas balas e doces, hoje acredito
que no local foi construído o estacionamento do Bradesco. Um pouco depois do
Passarella era a Escola. O prédio foi derrubado para construir o Banco Itaú.
Antes, ao lado da escola, para quem olha na entrada, do lado esquerdo havia uma
pastelaria. Estava ainda instalado naquela quadra o Cartório do 2º Ofício.
Tendo à frente Mozart Aguiar e Cícero Portela. Entre o Cartório e a pastelaria,
havia um corredor que dava acesso a uma escada. Ali era a Escola Cristóvão
Colombo. Eram dois andares.
Quantos alunos frequentavam a Escola
Cristóvão Colombo?
Chegou a ter 600 alunos! Havia sete classes
de manhã, três classes a tarde e sete classes à noite. Os cursos eram:
Comercial Básico e Técnico em Contabilidade. Esses dados eu sei porque fui
subindo de posto, comecei como auxiliar, passei a Secretário, ajudava alunos em
aulas, cheguei até a responder pela Diretoria quando seu Pedro faleceu.
Havia um controle rígido de presença de
alunos?
Havia! Era uma escola com excelentes
professores. Naquela época havia outra escola de contabilidade no Instituto
Piracicabano e na Vila Rezende, na Escola Imaculada Conceição, que os alunos
encarregaram-se de denominar “Escolinha do Carequinha”. Coisa de aluno. Eu não
cheguei a conhece-lo, mas havia um escultor, Cienfuegos, que esculpia em
madeira belíssimos quadros, verdadeiras obras de arte, com o local próprio para
colocar a fotografia do formando. A ESALQ conserva muitos desses quadros com as
fotos dos seus formandos.
Em que ano o senhor saiu da Escola
Cristóvão Colombo?
Saí em 1980. Em 1984 a Escola de
Comércio Cristóvão Colombo encerrou suas atividades. Um dos grandes professores
foi o Dr. Frederico Alberto Blaauw. O
Monteiro, da Casa Monteiro situada na Avenida Rui Barbosa, era um dos alunos
que acompanhavam as aulas do Professor Blaauw com a máxima atenção. Não faltava
de jeito nenhum. Aprendeu, formou-se contabilista e hoje atua no comércio. O
Monteiro foi um dos alunos que eu admirava. O aluno aprendia português com o
Professor Blaauw. A Escola Cristóvão Colombo primava pelos seus professores,
Professor Acácio de Oliveira Filho, Affonso José Fioravante, Alfredo do Amaral
Filho, Antonio Romero, Antonio Buco, Deusdedir Gobbo. Dr. Aurélio Scalise,
Geraldo Bragion, Lourdes Aparecida Rocha Carvalho, Nazira Graciema da Silva,
Thales Castanho de Andrade, Benedito de Andrade e muitos outros nomes de peso.
Com isso, os alunos tinham um ensino de alto nível. Grandes empresários,
comerciantes, industriais, executivos, saíram dos bancos da Escola de
Contabilidade Cristóvão Colombo entre muitos Pedro Caldari, Tarcísio Mascarin, tinha
muitos alunos que trabalhavam no Dedini. O pai do Olênio Veiga, mestre do
violino, avô do Dr. Ivan Veiga foi um excelente professor de português.
Humberto D`Abronzo formou-se lá. Justo Moretti, professor da ESALQ, estudou lá,
outro grande violinista.
Algum religioso estudou na Escola Cristóvão Colombo?
Lembro-me de duas freiras, Irmã Hortência e Irmã Ana, iam às aulas com o
habito de freiras. Muitos militares cursaram a escola. A Escola de Comércio era para dar ferramentas para trabalhar.
Existe ainda o arquivo da escola?
Os documentos todos da escola foram encaminhados para a Delegacia de
Ensino. Uma vez precisei de uns documentos, havia dado uma enchente e
danificado tudo.
A que horas a escola iniciava as aulas?
Eu que abria a escola. Os horários eram: das 8:00 às 11:00; das 14:00 às
17:00 e das 18:00 às 21:00 horas. No curso tinha aulas de datilografia até a
terceira série, Havia aula de taquigrafia, Quem era muito bom em taquigrafia
era o Telmo Otero, ele que lecionava taquigrafia. Muitos estudantes da Escola
de Agronomia vinham cursar a noite a Escola Cristóvão Colombo.
Como era o Sr. Zanin?
Era muito querido pela cidade, tinha inúmeras amizades, não fazia
distinção de classe, conversava com todos, sabia dialogar. Ele residia na Rua
Governador Pedro de Toledo, próximo à rua Gomes Carneiro.
O senhor é uma pessoa muito considerada em Piracicaba.
Na escola sempre fui, e fora da escola também. Naquela época trabalhava
de terno, gravata. Quando iniciei a Escola Cristóvão Colombo ficava na rua
Governador Pedro de Toledo quase esquina com a rua XV de Novembro. Próxima onde
hoje há uma farmácia na esquina, quase em frente a Sociedade Sírio-Libanesa. O
prédio era da família Testa, foi demolido. Minha função era a de secretário,
mas cheguei a ser tesoureiro da Escola. O porteiro é quem varria a escola
inteirinha, quando ele faltava, eu até varria a escola. O Seu Zanin sempre foi
muito bom para mim. Eu que recebia dos alunos, na falta de tesoureiro, muitas
vezes sentava com o aluno e escutava as suas dificuldades. Uma vez eu estava
atravessando o jardim da Praça José Bonifácio, veio um rapaz, apressado, e
disse-me: “Seu Bertocco, tenho que agradecer muito o senhor, eu estava para
sair da escola, o senhor não deixou, eu não tinha dinheiro, o senhor deu um
jeito”. Para dizer a verdade, chorei junto com ele!. Tão logo fui admitido na
escola como secretário, procurei atualizar o cadastro dos alunos, alguns nomes
estavam com grafia diferente do documento apresentado. Consegui colocar um
uniforme para a escola.
Como era o uniforme da escola?
Camisa
branca e calça marrom. As moças com saia marrom e blusa branca. O emblema da
escola era colocado nas camisas e blusas, quem desenhou o emblema foi Edson
Rontani! O Edson foi um grande amigo, participava das festas da escola. A
escola tinha o seu brazão, bandeira. Tudo desenhado pelo excelente Edson
Rontani. Tínhamos um grêmio, fazíamos excursões, passava cinema na escola.
Palestras. Tudo isso eu consegui fazer.
Em desfiles cívicos a escola participava?
Participava!
Até hoje sinto falta. Foi tudo construído com muito carinho, era uma outra
época, dificilmente haverá algo parecido. O professor entrava na sala de aula
os alunos levantavam-se, aguardavam a ordem para sentar. O Professor Andrade
nunca fez chamada por número, sempre pelo nome.
A escola proporcionou conhecimentos que resultaram em casamentos?
Tinha um
grande número de moças e rapazes. Nada mais natural do que resultasse em um bom
número de casamentos!
Os alunos daquela época costumam visita-lo em sua casa?
Ganhei uma gravação com mais
de 400 músicas de Roberto Carlos! Um ex-aluno fez uma pesquisa, por uns quatro
anos, das gravações internacionais e nacionais do Roberto Carlos, ficou
excelente. Recebo a visita de muitos ex-alunos da Escola Cristóvão Colombo. Fiz
o cursilho, com essa experiência formei um movimento religioso dentro da
escola: Juventude Estudantil Cristã – JEC. Fazia reuniões no Seminário Seráfico
São Fidélis ou no Seminário da Nova Suiça. Participavam uma centena de pessoas.
Ou até mais.
O senhor
morou quanto tempo na escola?
Morei cinco anos. Depois
casei com Elza Ochiusi Bertocco e fomos morar na Rua XV de Novembro. Vivi com a
minha esposa 60 anos, 4 meses e 14 dias casados. Manoel
Lopes Alarcon foi meu padrinho, era seresteiro. Conservo até hoje uma coleção de medalhas,
certificados, que ganhei por estimular o esporte entre os nossos jovens. O
bispo na época era Dom Aniger Francisco Maria Melillo. O Cecílio
Elias Netto exerceu por muitos anos a função de Reitor do Cursilho. Após deixar
a Escola Cristóvão Colombo, tive um pequeno escritório, todos que ali
trabalharam estão muito bem.
O
senhor é detalhista?
Quando
o assunto me desperta o interesse sou detalhista.
O senhor já
ganhou o título de cidadão piracicabano?
Não. Ganhei o título de
Contabilista do Ano. Além de uma profusão de medalhas, troféus, Moro nesta casa
desde 1957.
No escritório
dependurada, a gravura de um jovem, pergunto quem é.
Eu! Foi uma pintura de Edson
Rontani! Mais acima outro quadro temático de Edson Rontani.
As festas de formatura eram realizadas em qual local?
Geralmente no Teatro São José. Ângelo Alberto Bertocco do
alto dos seus 87 anos dirige o seu veículo, sendo que a sua vaga na garagem
possivelmente desafiaria muitos motoristas com experiência. O seu raciocínio
rápido e sua memória prodigiosa, mostra como o ser humano pode e deve agradecer
os anos vividos. A simpatia de Ângelo Alberto Bertocco possivelmente é a mesma
como sempre tratou os alunos da gloriosa Escola de Contabilidade Cristóvão Colombo, a nossa querida Escola do Zanin.
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