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domingo, junho 01, 2014
sábado, maio 31, 2014
MARLY TERESINHA PEREIRA, LUCAS TEIXEIRA FRANCO DE MORAES, TXANA MASHA E TXANA DASU (CONTINUAÇÃO)
PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 31 de maio de 2014.
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 31 de maio de 2014.
Entrevista:
Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:http://blognassif.blogspot.com/
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:http://blognassif.blogspot.com/
ENTREVISTADOS: MARLY TERESINHA PEREIRA, LUCAS TEIXEIRA FRANCO DE MORAES, TXANA MASHA E TXANA DASU.
(CONTINUAÇÃO)
Txana Masha
você tem filhos?
Eu me casei com
dezenove anos, hoje tenho 33 anos, sou pai de três filhos, o mais velho com
oito anos, duas meninas uma com cinco outra com dois anos.
Os pais acertam os
casamentos dos seus filhos ou os filhos tem o direito de livre escolha?
Sempre há um elogio,
quando o jovem é bom pescador, bom caçador, trabalhador, ativo em todas as
coisas, é preferido à filha de um pajé.
É permitido ter mais de
uma esposa?
Pode ter até três
esposas, mas não de famílias diferentes, as três são irmãs. Não pode casar com
moça de outra família.
Existe o risco de
casamentos consangüíneos?
Somos formados por dois
clãs: inu e ruá, que significa povo da onça e povo da anta. Como inu eu não
posso casar com inani. Pode ocorrer de gerar pessoas deficientes por causa da
consangüinidade. Isso é uma tradição fruto de conhecimentos e saberes
ancestrais que permanecem até hoje.
Qual cargo você ocupa
na aldeia?
Sou professor bilíngüe,
ensino a língua indígena e o português.
Na fronteira temos ainda indígenas que vivem isolados.
Qual é a alimentação
básica?
É a mandioca, milho de
várias espécies, banana.
Vocês usam a bebida
extraída da mandioca ou milho fermentado?
A bebida fermenta é
ingerida por outro povo. Nós não consumimos álcool. Geralmente essas tribos
utilizam o álcool em rituais de festas, alegrias.
Vocês têm energia
elétrica?
Na aldeia de Txana Dasu
tem. Na minha não, ela fica situada há quatro dias rio acima de barco.
Isso significa que não
tem acesso a nenhuma tecnologia como telefone, televisão, computador?
Não temos. Não dispomos
nem de gerador de energia. Sentimos falta pela dificuldade de comunicação.
O sepultamento é
normal?
Sepultamos em uma cova,
o falecido é velado um dia, uma noite e metade de um dia. O cadáver é sepultado
envolto em uma rede de tecido, ou até mesmo em caixão de madeira, rústico.
Como é a relação de
vocês com os brancos que tem terras nas divisas?
A relação hoje é de
unificar. Às vezes sofremos algumas invasões, principalmente quando alguns
vizinhos que já cultivaram toda a área que lhes pertence, estão sem caça, eles
então adentram nosso território em busca da caça. Ou pescar em rio dentro de
território indígena. Mantemos o controle,
para nós o supermercado é a floresta, os rios. Nós produzimos muita banana,
pupunha, com essas e outras rendas adquirimos na cidade material que precisamos
na tribo, agulhas, pregos, ferramentas, enfim produtos industrializados
necessários à nossa sobrevivência.
Txana Masha
você consegue ver o espírito da pessoa?
Consigo. Temos medicina que vai muito mais além. Sai desse mundo, vai
para o mundo do astral e encontra o que está ao redor.
Como faço
para manter contato com vocês?
Só se você usar a medicina
que usamos, a Unixipan também conhecido como Ayahuasca[][] Santo Daime,
Você pode beber aqui e podemos nos encontramos no astral. Em Piracicaba você
pode se comunicar comigo ou com quem você mantém contato na tribo. Fazendo o
ritual, no cantico que eu fizer, você e o povo indigena ao seu redor. Você se
desloca no tempo e no espaço. Encanta-se e se desencanta, consegue entrar no
astral, no meio do rio, dentro da terra.
Isso significa que você tem
condições de saber o que aconteerá amanhã?
Sim, sabemos.
Qual é o indice de moléstias graves
na tribo?
Para nós kuni kuî não existia
doença. A doença é dos animais. A doença só é transmitida daquilo que comemos e
bebemos. As medicinas já foram pessoas como nós, que não se transformaram, não
se encarnaram.
Por exemplo, uma pessoa que tem
problemas cardiacos, de onde pode ser a sua origem?
Vários tipos de animais
têm doenças de coração, o coração da cotia, do gado, do porco, muitas vezes
você come indiretamente esses alimentos através de lingüiças, salsichas. Nós
temos as medicinas para isso. Para coração crescido.
Vocês têm uma farmácia
na floresta?
Temos uma farmácia
viva. Trazemos de pontos distantes da floresta e plantamos ao redor de onde
estamos. Qualquer sintoma nós temos o remédio a nossa disposição. Tem toda uma
consulta. As coisas têm um inicio um meio e um fim. Nós vemos porque aquilo aconteceu e como tem
que ser resolvido aquele problema.
Se eu for até a sua
tribo você pode me receber?
Com certeza! Estamos de
braços abertos para um ajudar ao outro. A nossa formação é para isso.
Quanto tempo eu preciso
permanecer lá me tratando?
Vai depender do estado
em que você se encontra. Irá sair de lá quando não sentir mais nada.
Você tem alguma
experiência nesse sentido? Já curaram alguém?
Várias pessoas.
Vocês cobram alguma
coisa?
Não cobramos nada,
sabemos que vida não tem preço.
Há como tratar uma
picada de cobra?
Claro! Para cada tipo
de veneno tem uma pratica de medicina própria.
Integrante da mesa a
Dra.Marly Teresinha Pereira pergunta a opinião do médico cirurgião Dr. Olivio
Alleoni, também integrante da mesa e que participa das gravações, sobre sua
forma de ver as plantas fitoterápicas?
Dr. Olívio responde que
em sua opinião o fitoterapico está muito mal explorado. A Universidade da Bahia talvez seja a única
que tenha estudo e transmissões de conhecimento de fitoterapia. Walter Accorsi, sua filha Walterly Accorsi
sempre fizeram todo esforço nesse sentido, a Esalq ajuda dentro de todas as
suas possibilidades, a fitoterapia provavelmente teria mais avanço se estivesse
anexo aos seus laboratórios centros de pesquisas médicas para testes de
drogas. A alimentação adequada é um dos
elementos da medicina preventiva. Em depoimento a Dra. Teresinha falou sobre
uma doença grave, que a obrigou a passar por um processo cirúrgico e
posteriormente a um tratamento bastante severo, que ela por opção própria
substituiu por tratamento fitoterápico. O resultado foi a cura esperada, pois
isso já faz cinco anos e não houve nova manifestação dessa doença grave.
O formando pela Esalq,
que tem participação ativa na vinda dos índios a Piracicaba, Lucas Teixeira
Franco de Moraes fez o comentário a seguir.
A alimentação é um
estudo afeito a Esalq, e as doenças em sua maioria decorrentes da má alimentação. Sua atuação deve ser preventiva, evitar que a
doença ocorra.
A impressão é que
nenhuma indústria farmacêutica tem interesse em desenvolver a fitoterapia, por
questões obvias. Vocês recebem a visita de estrangeiros na tribo?
Raramente nos visitam.
Nós estamos muito aquém
da compreensão da natureza? O indígena tem uma compreensão maior do que o homem
branco?
Cada povo é único. Não existe povo sem cultura e nem cultura sem
povo. Sabemos que a cultura é a vida de um povo. Cada povo entende qual é a
melhor forma para si. Hoje o mundo está caótico, tem alguma coisa que é de
grande importância para mim, mas para a sociedade ela perde até o valor.
Considera como algo negativo. Temos um país muito rico em sua biodiversidade,
mas falta isso ser explorado. O índio sempre foi sujeitado, sempre teve alguém
que falou pelo índio.
O branco sempre viu o
índio como objeto de curiosidade, quase como culturalmente inferior. Hoje
percebemos que a espiritualidade do indígena está muito acima da do branco.
É o caso da medicina,
enquanto o homem branco, para acreditar tem que levar a um laboratório fazer
pesquisas, nós já sabemos que aquela medicina serve para aquilo. Levado da
floresta para esses lugares de pesquisa eles agregam outras substâncias.
Sabemos que uma coisa misturada com outra é uma química. Vai provocar outra
reação. Ele controla a doença, mas prejudica outro órgão. O caso do diabetes ou
outras doenças do sangue, a pessoa começa a comer em excesso, ganha peso, o que
ela come não é um alimento natural, é um produto industrializado. Vai causando
uma gordura artificial. O resultado é o diabetes e outros problemas que
acometem o ser humano.
Vocês não comem doces?
Nós preservamos muito o
doce. Não comemos todos os dias o doce, açúcar. Quando tiramos o caldo da cana
e bebemos, imediatamente usamos uma planta que impeça o surgimento do diabetes.
Protege e limpa o corpo da pessoa, física, espiritual e psicologicamente. Por
isso temos muita saúde, quando aparece algum problema é porque a pessoa não
cuidou bem da sua saúde. Para isso temos medicinas específicas para tratamento
desse problema. Se a pessoa tem um problema de coração, lá ela terá uma dieta,
onde irá comer esses tipos de alimentos
Txana Masha
passa a expor sobre a cura de um doente.
Temos vários exemplos,
o meu sogro Vicente Saboia, da liderança tradicional, é um desses casos. Temos
exemplos de pessoas com doenças graves que foram curadas.
Se eu simplesmente
ingerir o Daime irá funcionar?
Tem que ter alguém para
explicar, orientar, é uma das medicinas, que é um eixo de todos os
conhecimentos. Um daimista é a pessoa mais sábia de um grupo. O daime é usado
como remédio. O Mestre Irineu (Raimundo Irineu Serra, fundador da doutrina religiosa do Santo Daime que usa como sacramento
a bebida chamada ayahuasca, batizada por ele de Daime) quando teve contato com o Daime viu que era utilizada pelo indio, ele
consagrou e recebeu dos astrais a doutrinação. Após Mestre Irineu vieram outros
mestres. Onde tem Daime tem
cura,sabedoria e purificação. Só deve ser ingerido mediante a orientação de
quem domina o conhecimento, senão como toda medicina utilizada sem orientação
pode trazer consequências inesperadas. Tem doenças que só o médico pode curar,
assim como tem doenças que só o pagé pode curar. Algumas doenças são enviadas
por espíritos visiveis ou invisiveis.
Vocês usam alguns amuletos para proteção contra o mal?
São os
colares com simbolos da floresta. Outra forma é pela dieta. Nós estamos aqui
com um objetivo, que esses valores sejam reconhecidos pela sociedade.
O acadêmico Lucas Teixeira Franco de
Moraes fala a respeito da Ayahuasca.
Ela é
patrimonio cultural brasileiro, não é considerada droga, há vários estudos da
USP sobre a Ayahuasca, o uso dela é
controlado, não pode ser comercializado, só pode ser utilizado para fins
religiosos. Existe uma legislação a respeito.
Dra. Marly
Teresinha Pereira a senhora esteve na selva?
Estive por três anos na floresta, quando fui tomar o Daime foi
interessante, outra pessoa ingeriu, a
primeira vez, colocaram uma certa quantia para que eu tomasse, quando foi
recomendada uma quantia menor, com o passar do tempo continuei tomando já em
uma quantidade um pouco maior. A Unicamp trouxe a ayahuasca da amazonia e fizeram todo um
trabalho com dois grupos de mulheres em um estado psicológico bastante
avançado, depressivo. Um grupo tratado com placebo e outro tratado com a
ayahuasca, foi impressionante a rapidez que eles tiveram no comportamento delas
comparando os dois grupos. A Unicamp já identificou qual é o principio que
existe no chá, isso para eles já é claro. Funciona cientificamente. A lei
brasileira é muito clara quanto a prescrição de medicamentos, é uma
prerrogativa exclusiva do médico. O fato de ter um horto, no caso do branco,
ele está impedido de prescrever um tratamento. Boa parte do corpo médico é ainda reticente
quanto ao tratatamento pela fitoterapia. Temos uma lei nacional, o Programa
Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos já aprovada, deveria estar sendo
implantada, todo posto de saúde é obrigado a ter as plantas medicinais para
ofertar gratuitamente, e um médico com conhecimentos fitoterápicos também
atendendo. Isso é lei. Temos uma resistencia muito grande, onde possivelmente o
poder econômico cria uma barreira. A Fiocruz está trabalhando nisso, Glauco Villas-Boas é o responsável. Nós temos na Esalq alunos como
o Lucas Teixeira Franco de Moraes que levam essa bandeira. Ha alguns anos na
Esalq não se tocava nesse assunto. Hoje mudou o comportamento de muitos
professores. O Dr. Walter Radamés Accorsi foi o pioneiro, depois surgiram
vários professores trabalhando nessa linha. Já temos três médicos na cidade que
estão se atentando para a questão do tratamento fitoterápico em doenças graves.
Nossa idéia é montar junto com os médicos um posto de saúde municipal, já que a
lei federal assim determina, para transformar esse local em um piloto. Temos o
corpo médico. Buscamos o espaço fisico em algum posto de saúde. Estamos
trazendo além do conhecimento indigena, o africano e o indiano. Juntar todas as
correntes que trabalham com plantas medicinais.
Lucas como surgiu a idéia de promover a vinda do cacique e do pajé para
transmitir os conhecimentos fitoterápicos?
Eu frequento o centro espitualista xamanico
ancestral, situado em Juquitiba, na aldeia de Shiva. Consegui o
contato deles através do Akaiê de descendência
caramuru-tupinambá. A Aldeia de Shiva é um centro indigenista, tem um estudo da
cultura indígena. O conhecimento tradicional dessas culturas vem sido perdido
por pressões externas. O resgate dessas culturas tem muito a colaborar para os
homens brancos, para os habitantes urbanos. É um conhecimento puro, ancestral.
A essência é verdadeira. Esses índios sentem amor pelo que fazem, acreditam de
fato. Não tem interesses externos nem ambições. São puros. Querem promover uma
integração pacifica entre nós e eles. Por isso saem para divulgar a cultura
deles. A Esalq é uma escola que trabalha com a terra, com o território
brasileiro, com a produção alimentícia, tanto a ciência dos alimentos como com
a parte de produção, economia, administração, biologia, são áreas que
desenvolvem todos esses aspectos. Se a saúde do brasileiro for boa, através de
uma alimentação correta, um bom ambiente, o ambiente urbano arborizado, com
plantas dentro de casa, pássaros nas ruas, isso significa qualidade de vida
para as pessoas. As pequenas culturas são muito importantes em uma alimentação
saudável. O acesso a esses alimentos
acaba sendo dificultado às populações menos favorecidas. Hoje temos no Horto da
Esalq 220 espécies do mundo inteiro. Temos capacidade de produzir esses
produtos sem a necessidade de importá-los, como ocorre em parte atualmente. Há
produtos com propriedades medicinais que são produzidos em outros países, e nós
temos ainda aqueles originários do nosso país. Temos que aproveitar a
oportunidade que os índios brasileiros nos oferecem de compartilhar seus
conhecimentos sobre plantas nativas. Temos muito a aprender com eles, como
viver de forma mais harmônica com a natureza.
sexta-feira, maio 23, 2014
MARLY TERESINHA PEREIRA, LUCAS TEIXEIRA FRANCO DE MORAES, TXANA MASHA E TXANA DASU.
PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E
MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 24 de maio de 2014.
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 24 de maio de 2014.
Entrevista:
Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:http://blognassif.blogspot.com/
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:http://blognassif.blogspot.com/
ENTREVISTADOS: MARLY TERESINHA PEREIRA, LUCAS TEIXEIRA FRANCO DE MORAES, TXANA MASHA E TXANA DASU.
Marly Teresinha Pereira,
Lucas Teixeira Franco de Moraes, Txana Masha, Txana Dasu
e sua esposa constituiram um encontro do conhecimento cientififico e do
prático-espiritual da natureza. Uma aproximação importante entre culturas
diferentes mas com os mesmos interesses. Conhecer suas
relações com a natureza é uma das grandes buscas que o homem “civilizado” tem
como meta. A tecnologia deu um enorme salto nas últimas décadas. A humanidade tomada
por um encantamento onde tudo que é prático e com tecnologia de ponta torna-se
objeto de aspiração e consumo, alem da parafernália tecnológica, a alimentação
industrializada, tratamentos de saúde inovadores e medicamentos de refinado
estudo químico faz parte da vida do homem da nossa época. É tido e sabido que a
indústria farmacêutica é um dos negócios mais rentáveis sendo que algumas têm
como acionistas grandes instituições financeiras. São conglomerados com enorme
poder econômico e político, investem bilhões de dólares em pesquisas, contratam
grades cientistas, possuem tecnologia de ponta, sempre a procura da cura para
as doenças que afligem a humanidade. Todos conhecemos ou sabemos de casos de
pacientes que buscaram a cura na medicina milenar, baseada na cura pelas
plantas, transmitida de individuo à individuo ao correr dos séculos. Reunimos
em torno de uma mesa a professora doutora Marly Teresinha Pereira que possui
graduação em Engenharia Agronômica (1970) e mestrado em Economia Agrária (1990)
pela Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" da Universidade
de São Paulo e doutorado em Estudos das Sociedades Latino-americanas - área de
Sociologia (2003), pela Universidad Artes y Ciéncias Sociales - ARCIS, de
Santiago de Chile. É professora doutora do Departamento de Economia,
Administração e Sociologia da ESALQ-USP, desde maio de 1985. Gestora Estadual
da RedeFito Mata Atlântica, do Programa Nacional de Plantas Medicinais e
Fitoterápicos - PNPMF, junto ao Núcleo de Gestão em Biodiversidade e Saúde
NGBS, vinculado ao Centro de Produtos Naturais de Farmanguinhos/Fiocruz -
Ministério da Saúde. Ocupou o cargo de Secretária Executiva do Conselho
Estadual do Pronaf (2007-2009) e do Conselho Estadual de Desenvolvimento da
Agricultura Familiar - CEDAF (2009- 2010) junto à Secretaria da Agricultura e
Abastecimento do Estado de São Paulo. Tem experiência na área de Sociologia e
Extensão Rural, atuando principalmente nos seguintes temas: desenvolvimento
rural sustentável e solidário, políticas públicas para agricultura familiar,
territórios rurais, comunicação rural, organização rural, difusão de
tecnologia, crédito rural, PRONAF. Integrando a mesa estavam o formando pela
Esalq, Lucas Teixeira Franco de Moraes, três
indígenas de Tarauacá (Acre), sendo um estudante de medicinina alternativa, Txana Masha
acompanhado de Txana Dasu que é lider de uma aldeia o qual trouxe sua esposa.
Embora usando roupas normais do homem branco, estavam caracterizados com
colares, cocares, pulseiras e pinturas na face. Cada um desses adereços tem um
significado, que na cultura indígena é considerado sagrado.
Txana Masha entre você e
Txana Dasu qual dos dois tem um grau de importância maior dentro da aldeia?
Txana Dasu é lider de
uma aldeia, e eu sou estudante de medicina alternativa, o pajé com seu
conhecimento ancestral transmite-os. É ele quem me conduz até a floresta, onde
mostra as éspécies de plantas, quais suas finalidades, como deve ser
administrada, cultivada. O aprendizado é feito por tada a minha existência. Nasci no Acre, no distrito de Tarauacá na
fronteira com o Peru.
Quais recursos médicos
existem lá?
Em terras indigenas há
frequência de médicos tradionais, temos dois médicos indigenas que estão se
formando em Cuba.
Qual motivo levou esses
dois indigenas a estudarem medicina regular em Cuba?
Foi um projeto promovido
pelo governo que os levou para lá. Foram oferecidas duas vagas aos indios que
tivessem concluido o ensino de segundo grau. Uma vez por ano eles nos visitam,
falam o idioma da nossa etnia, o huni kuî.
Txana Dasu você nasceu
em que dia?
Nasci no dia 10 de
agosto de 1986, de parto natural, na própria aldeia. O nome indigena da minha
mãe é Daní, significa tudo que existe sobre a superfície da Terra. O nome do
meu pai é Nuí cujo significado pode ser saudade, sentimento profundo. Por parte
de mãe sou filho único, por parte de pai tenho cerca de 15 irmãos e irmãs, o
meu pai teve várias esposas.
O homem assume a
manutenção de todas as esposas e filhos?
Se ele teve uma esposa,
ao deixá-la é costume que ela cuide de si e dos filhos. Ele irá criar uma nova
família.
Você acredita em Deus?
Acredito. Eu acredito
em um Deus que criou a Terra e o Céu e todo o Planeta. Não posso afirmar que
Ele tenha forma humana. Ele está em todas as partes, na diversidade que ele
criou. Nas plantas. Nos seres que tem vida. Se não existisse Deus não haveria
vida. Deus está vivo em cada ser que vive. Nas pessoas, nas plantas, na terra,
na água, nas pedras.
Esse é o motivo pelo qual
os indígenas respeitam muito as plantas e os animais?
Na história do povo
indígena, a medicina no passado era uma pessoa, ela passou por uma
transformação que chamamos de morte. Ela passa do mundo material para o mundo
invisível. Ocorre com a pessoa que tem uma preparação de espiritualidade mais
avançada, ela se encarna como se fosse uma planta, tem o sentido de ouvir o que
você está falando. O índio pega uma planta, fala que quer tirá-la para ajudá-lo
no sentido em que ele está precisando. Na saúde ou no que ele possa receber. O
índio pede à planta uma autorização para tirar dela a sua propriedade
medicinal.
Estou observando que ao
falar com alguém você olha diretamente nos olhos da pessoa. É uma
característica sua?
Para nós significa uma
firmeza e a verdade. Quando você tem uma verdade você tem que encarar as coisas
com o olhar vivo. Você nunca deve falar e ficar olhando para outro lado, dessa
forma nunca saberá o que de fato está acontecendo. Você tem que ter essa firmeza
dentro de você. Não é você quem fala, é seu espírito que fala por você.
Você constituiu
família?
Tenho esposa, chama-se
Batani, somos casados há três anos. Não tenho filho ainda.
Você e sua esposa moram
em que tipo de casa?
Moramos nós dois, em uma
casa normal, de madeira e coberta com palha. Banho nós tomamos no rio. Quando queremos comer
algum tipo de carne vamos à floresta, caçar. Pescamos no rio.
Vocês cultuam os
antepassados?
O índio já nasce com
aquele espírito que já é próprio do seu avô ou avó, para que a cultura nunca se
acabe. Uma pessoa que viveu, foi ótima, quando desencarna temos toda
reverência, pelo que ele fez, pela sua bondade, e reverência a Deus para que
ele possa estar em um plano astral em um mundo invisível, com uma
espiritualidade mais elevada, que ele seja um protetor para aquela nação e um
guia iluminado para que possa ajudar outras pessoas necessitadas.
Você está usando um
cocar muito vistoso, qual é o significado dele?
Na minha língua é
chamado de “maiti”. É um diploma muito sagrado para a nação indígena e símbolo
mais importante dentro de uma tribo.
Você é a pessoa mais
importante dentro da tribo?
Onde eu moro estou
representando a espiritualidade como se fosse um padre ou um pastor. E aquela
pessoa que está estudando o conhecimento da cultura, espiritualidade, medicina,
história, divindade. Dentro desse estudo o que fortalece é você representar um
líder espiritual, tendo um diploma desses como uma coroa de um líder.
Qual é a hierarquia
dentro da tribo?
O cacique trabalha com
a burocracia, é o político. O pajé é o doutor. É a pessoa que está trabalhando
na cura, estudando a medicina. O cacique respeita o pajé. Tudo que o cacique
vai fazer ele consulta o pajé se é uma atitude acertada ou não.
Há quanto tempo você
recebeu esse cocar?
Há uns três anos.
Demorei mais de 10 anos para recebê-lo. Aprendi com outro pajé. Minha mãe é
pajé. É um dos raros casos de pajé feminino. Existem outros pajés onde você vai
buscar a experiência, eles irão lhe ensinar.
Existe uma espécie de
reserva quanto a passar todas as informações de um pajé mais experiente para um
pajé menos experiente?
Tudo tem um segredo,
ele ensina, mas tem um mistério que reserva só para si, é uma forma de
proteção. Ele tem que analisar se aquele filho está preparado para receber
aquele tipo de ensinamento. Há uma complexidade, uma seriedade muito grande.
Existe o pajé do bem e
o pajé do mal?
A história diz que
havia o pajé do bem e que se fosse provocada a sua ira ele praticava o mal.
Existe outra linha de pensamento que ao encontrar uma pessoa que esteja fazendo
o mal o pajé entrega para Deus. O pajé sempre deseja fazer o bem.
Você está com vários
adereços, a gargantilha significa o que?
É uma estrela em
formato de flor, representa a Mãe Terra, é aquela que brota e supre a
necessidade de todos os filhos que estão em cima dela. Outro colar representa
também a mãe terra e o meu nome como Beija-Flor e tem um beija-flor beijando a
flor. É aquele que só toma néctar Divino de Deus.
Qual é a sua
alimentação habitual?
É baseado em batata,
banana, melancia, mamão, amendoim, caças, peixes.
Você come algum
alimento industrializado?
Quando estou na cidade
e não tenho outra opção procuro selecionar os menos industrializados.
Você já tomou um famoso
refrigerante muito consumido pelos brancos?
Já tomei. Mas é
raríssimo isso acontecer.
Qual seu alimento
preferido?
Na aldeia é o mingau da
banana. A banana grande tem que estar madura, minha mãe cozinha, pisa
naturalmente, faz um mingau e tomamos.
E bebida?
A água! Não usamos
bebida alcoólica. Só tem uma bebida que é da própria macaxeira mesmo (uma espécie de mandioca a
macaxeira
pode ser descascada mesmo crua). É utilizado em cerimônias, para a gente se
fortalecer. Ele deixa leve e mais forte para fazer os trabalhos.
Como funciona e quando
se dá um cerimonial?
O cerimonial é voltado
mais à espiritualidade em busca de falar com os espíritos indígenas,
principalmente os pajés desencarnados. Fazemos o cerimonial evocando todos os
elementos da floresta, os espíritos encantados, espíritos da luz em reverência
ao que você quer fazer aquele cerimonial,
por exemplo uma cura, uma libertação, e tudo tem uma preparação antes de ser
realizada. Três dias antes da realização do cerimonial não se come carne
vermelha, não pratica o sexo. Há toda uma consciência pura de coração, saúde,
para que naquele cerimonial que vai envolver uma medicina poderosa, que leva ao
plano astral onde você irá conhecer o presente, o passado e o futuro, faz com
que traga sua própria força de vida para conhecer seu interior fortalecendo aquilo
que você quer trabalhar. Tem os cânticos, batidos, tudo que existe em uma
cerimônia voltada para a espiritualidade da própria tradição.
Esse cerimonial é
aberto a presença do homem branco?
Tem alguns rituais que
é aberto ao público. E tem rituais que só são permitidos para os que estão
estudando, os iniciados.
Existe um processo
determinando a passagem da criança para jovem e do jovem para adulto?
Tudo tem uma
preparação. Quando era pré-adolescente existe um ritual para quando ele chegue
na adolescência já com firmeza, para que não venha a fazer algo que prejudique
a sua saúde, ou algo que mais tarde o leve a se arrepender de ter feito. Ele
irá chegar a maturidade e irá sentir que foi bem cuidado, fez as coisas
certinhas, para que atinja o seu objetivo de vida. Há rituais desde o
nascimento até quando desencarna.
O que é feito com uma
pessoa que não é desejada dentro do contexto da tribo?
Sabemos que cada pessoa
tem sua conduta individual. Quando ele comete algo que seja fora do contexto,
temos a facilidade de chamá-lo, fazemos um circulo em torno dele e conversamos,
porque cometeu tal ato, qual é o sentido daquilo. Se está sendo importante para
ele ou não está. Temos uma conversa para que ele possa compreender e não faça
mais aquilo que é errado. Poderá prejudicar a nossa tradição e a própria imagem
dos indígenas. Atualmente vemos muita descriminação com os indígenas. Se algo
acontece no Centro-Oeste do pais, envolvendo indígenas, toda a etnia indígena é
prejudicada. Por isso temos esse amor para com essa pessoa, para que não faça
mais aquilo.
E se ele persistir no
erro?
Deixamos claro que ele
está conhecendo a lei indígena, no caso de continuar no erro ele irá conhecer a
lei que os brancos impõem. Se for preso sentirá aquilo tudo muito pesado para
ele, não cometerá mais o erro.
Vocês têm alguma lei
que pune quem age de forma errada?
Temos, mas é totalmente
voltada à espiritualidade. Se ele fez um erro, tem medicina que o fará
compreender que aquilo que ele fez é errado. Bater ou expulsar é mais pesado
para nós fazermos.
Vocês fazem o uso da Ayahuasca? (Ayahuasca[][] também chamada hoasca,
daime, iagê ou mariri, é
uma bebida produzida a partir de duas plantas amazônicas para fins
rituais e utilizada na medicina
tradicional dos povos da Amazônia).
Os pajés trazem essa medicina para nós. A Ayahuasca, o rapé, a Sananga e outras formas de medicina. A
Sananga é um colírio indígena para os olhos. A pessoa que tem um problema de visão irá
fazer com que a pessoa não precise usar óculos de grau, por exemplo. Tem muito
índio que com 70 anos de vida ainda coloca linha no furo da agulha, sem óculos.
É muito utilizada para prevenir e curar catarata. A Sananga é usada dentro de
um ritual e por aquelas pessoas que vem utilizando a medicina indígena. (O rapé
é utilizado para muitos fins. Os principais são as mazelas do corpo físico,
como dor de cabeça, sinusite, nariz congestionado, até mesmo as mazelas do
espírito. Assim quando se usa o rapé deve-se ter em mente que o que entra em
você são as plantas da floresta e também espíritos de cura da floresta.).
Txana Mashã qual é a sua
função dentro da tribo?
Sou professor, graduado em Letras, curso realizado no municipio de Tarauacá, represento uma aldeia com 17 famílias,
composta por 90 pessoas, a minha área de pesquisa é voltada ao mundo
espiritual. Passei por uma formação, uma dieta, hoje com 33 anos tenho 19 anos
dedicados ao mundo espiritual. Eu nasci no dia 10 de abril de 1980. Minha mãe
chama-se Sabiani, meu pai não é indigena, meu pai é cearense. Quem me criou foi
minha mãe e meus irmãos mais velhos, tenho 12 irmãos, seis por parte de mãe e
seis por parte de pai, tenho cinco irmãs, tres por parte de pai e duas por
parte de mãe. O pajé renuunciou ao cargo e eu com 33 anos recebi esse tipo de
trabalho. Rituais com Ayahuasca,
o rapé, a Sananga. Aprender muito mais. Minha
esposa chama-se Biruani.
Normalmente com que idade vocês se casam?
Depende do jovem. A partir de 15 anos, 20 anos.
(CONTINUA)
sábado, maio 17, 2014
KARIN IZABEL FITAS LOUREIRO – CECAN
PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E
MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 17 de maio de 2014.
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 17 de maio de 2014.
Entrevista: Publicada aos sábados
no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
CECAN -CENTRO DO CÂNCER DA SANTA CASA DE PIRACICABA (
INSTITUTO DE ONCOLOGIA CLÍNICA DE PIRACICABA)
Karin Izabel Fitas Loureiro
nasceu na cidade de São Paulo a 27 de agosto de 1975, filha de Antonio Augusto
Loureiro e Emília Fitas Loureiro. Foi aluna do Colégio Santana, fez magistério
no Cefam- Centro Específico de
Formação e Aperfeiçoamento do Magistério formou-se em Tecnologia de Processamento
de Dados pela Universidade de Guarulhos.
Em que ano você veio para
Piracicaba?
Foi
no ano de 2005, vim trabalhar no CECAN convidadda pelo Dr. André Moraes para
trabalhar na parte de pesquisa clínica.
No que consiste essa
pesquisa clínica?
São
estudos para a administração de novos medicamentos. Todo medicamento existente
no mercado já passou por estudos clinicos. Existe várias fases de estudo de uma
droga nova, são fases: 1, 2, 3, 4 e 5. Normalmente fazemos estudos das fases 3
e 4. A maioria dessses estudos envolvem outros países, é um intercâmbio
internacional. Geralmente um medicamento já em uso é comparado ao uso e
resultados de um novo medicamento. Esses estudos são aprovados pela ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária, pelo
Food and
Drug Administration (FDA) norte-americano. O Estudo clínico ao mesmo tempo em que é feito no Brasil também
se realiza em vários outros países. Há um trâmite regulatório imenso. Um
exemplo, a paciente tem câncer de mama, já realizou um tratamento, é oferecida
uma outra opção, se a paciente concorda, é feito um contato com uma central,
normalmente fora do país, é dado um número aleiatório (randômico) a paciente, o
medicamento vem por lote e numeração. Determinada pessoa que recebe esse
número, será sempre o mesmo número no mundo todo. Todos os dados do paciente é
informado a essa central, menos a identidade. Todos os exames, de sangue,
imagem , são analisados no exterior.
Quantos centros de estudos nesses moldes existem no Brasil?
São muitos. Em Barretos, Jaú. Em São Paulo quase todas as faculdades tem
esses centros de estudos.
Quantos pacientes o Cecan atende por mês?
Entre quimioterapia e radioterapia por mês são atendidos por volta de 600
pacientes.
Qual a faixa etária dos pacientes atendidos pelo Cecan?
A partir dos 18 anos de idade. Aqui só atendemos pacientes adultos.
A incidência maior de câncer no homem atinge qual parte do seu organismo?
A próstata. Na mulher a mama.
O câncer de próstata tem cura?
Pode ser curado, desde que se faça o tratamento, seja diagnosticado o
quanto antes possível, através de exames regulares, assim como o câncer de
mama. A mulher ao menos uma vez ao ano deve ir ao ginecologista, pode detectar
logo no inicio um câncer de ovário ou de mama.
O Cecan atende aos pacientes da Santa Casa?
Atendemos todos os pacientes da Santa Casa, que necessitem do tratamento
para câncer, isso envolve pacientes particulares, conveniados , pacientes do
SUS.
A partir do diagnóstico positivo é feito o tratamento que no Cecan envolve
quais procedimentos?
A confirmação da existência do câncer se dá através da biópsia. Os
pacientes que chegam aqui já fizeram a biópsia. Eles então recebem a
quimioterapia, que pode ser venosa ou oral. Ou é feita a radioterapia, que é na
própria região afetada. Há pacientes que fazem ambos tratamentos. Muitas vezes
é feita a quimioterapia, para diminuir o tamanho da área afetada e depois fazer
a cirurgia. De acordo com o resultado da cirurgia o paciente pode retornar para
continuar o tratamento.
Há quanto tempo você trabalha no Cecan?
Ha nove anos.
Nesse período você tem visto muitos pacientes com sobrevida?
Bastante! Depende do diagnóstico, depende da doença e o que interfere
muito, é a vontade da pessoa de viver. Desde que estou aqui a cada dia aprendo
mais, e fica evidente a importância da garra que o paciente tem em querer
viver. Isso faz a diferença. E também o apoio da família. Cerca e 70% dos
pacientes que atendemos é através do SUS. Muitos deles vem até aqui sem ninguém
acompanhando-os. Muitos são com poucos recursos financeiros, tem habitos como
tabagismo, fazem ingestão de alcool. Estão bem debilitados. Alguns nunca se cuidaram da forma correta. Outros
não tem noção da importância do mal que os acomete. Dizem “tenho aquela doença”
não querem dizer o nome. Algumas famílias pedem que não seja dito ao paciente
que ele está com câncer. Ele não sabe.
No seu ponto de vista você acha que o paciente tem que ter consciência da
doença que têm?
Na minha opinião ele deve saber. Caso o paciente saiba que sua sobrevida é
de três ou quatro meses ele irá tomar algumas atitudes que nunca teve coragem
de tomar.
A sua função dentro do Cecan qual é?
Sou coordenadora de pesquisa clínica e gerente de Relações Humanas.
Quantos médicos atendem no Cecan?
São oito médicos.Na parte de quimioterapia temos 11 enfermeiros e técnicos.
Na Radioterapia temos 6 técnicos. Dois dosemetristas e dois físico-médicos. São
eles que fazem os cálculos de doses a serem ministradas nos pacientes.
O tratamento do câncer é de um custo elevado, como vocês mantém esse
tratamento?
Recebemos através do SUS, dos convênios.
O Cecan tem uma boa imagem junto a população e a seus pacientes.
O Cecan recebe o paciente para tratamento, ele não vem até aqui para
falecer. Temos que atende-lo com alegria, dar carinho, acolhimento ao paciente.
Ele tem que se sentir bem aqui. Sem medo ou receio. Tentamos sempre fazer o
tratamento confortável. Ele precisa disso. Como cuido do departamento de
Relações Humanas procuro incentivar o
bom humor entre nosso pessoal. Implantamos entre os funcionários e pacientes um
brechó, com a autorização dos responsáveis pelo Cecan. Em um sábado realizamos
a venda simbólica dos bens que cada um voluntariamente deu. Com o resultado
apurado na páscoa enfeitamos a clinica com motivos alusivos a data e
conseguimos dar um chocolate para cada paciente, isso é muito importante para ele: sentiu-se
lembrado! No Natal fizemos um bingo. No dia das mães fizemos um evento,
chamamos o pessoal da Mary Key que sempre nos apoia, fizemos a semana da
beleza, todos voluntários. Enquanto a paciente estava esperando durante a
quimioterapia, era feita a unha dela, uma maquiagem, uma massagem. Você sente
pela expressão do rosto da paciente que ela está gostando. No ano passado
fizemos um show junto com a Regina Gomes, falando da vida de Elis Regina. Foi
realizado no Teatro da Unimep. Vieram vários músicos para acompanhá-la no show,
um deles toca no conjunto do Roberto Carlos. No mês de junho, durante todo o
mês realizo festas juninas, dentro da clínica. Fazemos umas barraquinhas, tudo
é decorado como alusões a data, faço pipoca, chá de gengibre, tem paçoca. Fica
o dia todo para o paciente comer. Eles adoram. Cria um clima diferenrente do
cotidiano. Chegamos a dançar quadrilha com os pacientes. Vestimos um paciente
de noivo, uma das médicas foi a noiva. É muito gratificante a reação deles. A
alegria deles é enorme com o mínimo de atenção que recebam.
Existem pacientes que permanecem internos?
Não, eles vem e saem todos os dias. Aqui só realizam consultas e
tratamento. Procedimentos cirurgicos são realizados dentro da Santa Casa.
Quando um paciente tem um câncer a família fica também doente?
Tem muitas famílias que ficam. Há pacientes que ficam com depressão. A
psicologa faz o seu trabalho, muitas vezes tem que cuidar até da própria
família do paciente. Para a mulher existe alguns momentos em que ela se abala
muito, principalmente quando perde os cabelos. Para algumas é o momento mais
difícil do tratamento. Mexe com a vaidade, com a auto estima feminina. Tem
algumas voluntárias que vem ensinar a colocar o lenço, como fazer um visual
diferente.
O homem é mais depressivo do que a mulher nesses casos?
Eles não demonstram tanto, não exteriorizam, mas na minha opinião são mais
depressivos do que a mulher.
Você demonstra uma energia muito forte para trabalhar com essas situações,
isso é uma característica pessoal sua?
Acredito que sim, e trabalhando aqui sinto mais motivação em ajudá-los.
Existem muitas pessoas necessitando de ajuda, um pequeno gesto já é muito
importante para eles que estão muito sensiveis. Tem o caso de um paciente que
está fazendo radioterapia hoje, ele mora em uma determinada cidade próxima, o
transporte da prefeitura da localidade passa na casa dele as quinze para quatro
horas da manhã. Outro dia ele chegou antes das seis horas da manhã e o
transporte veio buscá-lo só as sete horas da noite.
E a alimentação desse homem?
Alguns pacientes trazem algo para comer, outros não trazem nada.
Simplesmente eles não têm nada para trazer para comer. Muitas vezes pedimos à
Santa Casa, eles mandam, a título de caridade. As vezes o paciente passa mal,
não em função do tratamento, mas sim porque estava sem comer nada. As próprias
enfermeiras acabam comprando um suco, uma bolacha para dar ao paciente.
O Cecan é uma entidade terceirizada da Santa Casa?
Exatamente, mantemos um contrato com a Santa Casa.
O paciente residente em Piracicaba tem transporte que faz sua locomoção?
A prefeitura se encarrega disso. Nossa assistente social, Karina Vieira se
encarrega de providenciar isso tudo. Alguns pacientes vem uma vez por mês,
pegam o remédio e tomam em sua própria casa.
Há pacientes que persistem em manter habitos que prejudicam sua saúde?
Tem paciente que faz radioterapia, quimioterapia, acaba de realizar o
procedimento de tratamento e vai para o lado exterior do prédio fumar pela
traqueostomia. (Traqueostomia é
um orifício artificial criado cirurgicamente através da frente de seu pescoço e
em sua traquéia). A primeira vez que vi não acreditei naquilo. Infelizmente
isso existe.
A incidência de câncer está cada vez maior?
Está. A meu ver o stress, a alimentação, a qualidade de vida, isso tudo
contribui. O alto nível de consumismo impulsiona o ritmo de vida. O ser humano
busca cada vez mais a aquisição de bens sem desfrutar plenamente o que já
conquistou. As pessoas se auto impõem um ritmo de trabalho alucinante.
O tratamento realizado pelo Cecan em Piracicaba pode ser considerado
equivalente aos procedimentos realizados nos grandes centros?
A tecnologia permite que o mesmo tratamento realizado em renomados
hospitais de São Paulo sejam identicos aos procedimentos feitos pelo Cecan. O
corpo clínico é altamente qualificado.
Na nossa região há muitos casos de câncer de pele?
Por muito tempo descuidou-se da proteção contra os raios solares.
Atualmente a população está mais bem informada, cuida-se melhor. Usam protetores
solares, bonés, chapéus. Hoje temos condições de diagnosticar a doença e
tratá-la, antigamente a pessoa ia a óbito sem saber o motivo. Há um volume
maior de informações, a medicina é mais acessível.
O Cecan pode ser acessado pela internet?
Estamos elaborando nosso site, acredito que até julho deverá estar
disponível ao público.
Há uma pré-disposição para o Cecan informar melhor a população sobre o
câncer, prevenções e tratamento, em particular em grupos que solicitem esse
tipo de informação?
Acredito que sim, nós não temos uma estrutura voltada para esse tipo de
trabalho, porém é passivel de estudo formarmos um polo que possa divulgar o
mínimo necessário. Grande parte da população não tem a mínima noção do que é
uma radioterapia. Um procedimento que geralmente é feito em apenas quinze
minutos, por um período pré-determinado. Por exemplo, trinta aplicações uma a
cada dia, em um período de trinta dias. São tratamentos dados em dosagem
pré-calculadas e dispersos nos correr dos dias. A radioterapia é feita muito
para aliviar a dor.
No seu ponto de vista, convivendo com tantos pacientes, você acredita que a
pessoa que tem um espírito elevado, popularmente chamado de “alto-astral” é um
bom caminho para combater o câncer?
Acredito muito nisso. Já vi muitos pacientes com garra vencerem a doença. Analisando
casos percebo que pessoas rancorosas, que guardam mágoas, coincidentemente
constituem um número maior de portador de câncer. O inverso também ocorre,
pacientes com famílias esfaceladas, problemáticas, mas que mantém o espírito de
solidariedade, de auxiliar ao próximo, vencem barreiras enormes.
Vocês fazem o transpante de medula?
Temos profissionais habilitados para isso, mas nessse caso encaminhamos o
paciente para São Paulo ou outras regiões que realizem esse procedimento.
Há como clubes de serviços, entidades beneficentes contribuirem com o
Cecan?
Pelo fato de atendermos a população nas faixas de A até Z, os voluntários
podem contribuirem com o que quiserem. Sempre haverá alguma coisa em possam ajudar.
Hoje por exemplo, ganhei duas caixas grandes de bolacha. Vou embalar em
pequenas porções e dar aos pacientes. Geralmente os doadores são pesssoas
anonimas, familias de pacientes que são tratados aqui, os Doutores da Alegria
nos ajudam sempre, estão presentes em todos eventos que realizamos.
Como é a história dos Super Herois?
Pessoas com roupas de super herois iniciaram o seu trabalho na luta contra
o câncer infantil, viram que funciona, decidiram fazer visitas para adultos.
Você não tem noção da reação dos pacientes. Toda sexta-feira eles vem até aqui,
normalmente 10 horas da manhã. Os pacientes ficam fascinados. Até mesmo os mais
idosos. É uma animação enorme. Os pacientes adoram. É um momento de
descontração, o paciente esquece que está em tratamento. Tem quimioterapia que
demora seis a sete horas, com o paciente sentado na poltrona, se você fizer um
bingo das 9 horas da manhã até o meio dia o paciente não percebe o tempo
passar. Alguns acabam o tratamento e permanecem jogando. Outro não é o dia de
ele vir ele vem para participar do bingo. A carência deles é enorme. Na minha
opinião a população pode ajudar mais.
Quem quiser colaborar pode procurar você aqui no Cecan, que fica anexo a
Santa Casa de Piracicaba?
Pode me procurar que dependendo do que a pessoa for fazer eu ajudo. Vamos
criar, fazer.
Uma contadora de histórias pode vir até aqui?
Apoio e ajudo no que for necessário.
Existem muitas famílias que apoiam o paciente, mas existe também famílias que
abandonam o paciente?
Existe sim, são famílias que internam o paciente e o deixam internado na
Santa Casa. Muitas vezes o paciente tem alta eles nem vem buscar.
São pessoas carentes?
Acredito que todos são carentes de afeto, mas nesses casos são pessoas que
também são carentes financeiramente. Há paciente que vem sozinho, nunca vimos
ninguém da sua família. Atualmente a demanda para tratamento é muito grande.
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