PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 11 outubro de 2014.
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 11 outubro de 2014.
Entrevista: Publicada aos sábados
no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
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http://blognassif.blogspot.com/
ENTREVISTADOS: MARIA ODILA RAZERA GERAGE GARDENAL e JOÃO MATIAS GARDENAL
A Sra. Maria Odila Razera Gerage
Gardenal nasceu em Piracicaba a 2 de agosto de 1942 filha de Rafael Gerage e
Herminia Razera Gerage que tiveram 12 filhos: Leni, Neli Carolina, Darci,
Miguel, Luzia, Antonieta, Irineu, Maria Odila, Terezinha, Roseli, Rafael e
Carlos. O Sr. João Matias Gardenal, nasceu
em Laranjal Paulista a 3 de agosto de 1942, filho de Adamo Gardenal e Anunciata
Mateucci Gardenal que tiveram treze filhos: Aparecida, Natalino, Vitória, Maria,
Josué, Isabel, Irene, João Matias, Junia, Herminda Loide, Noemia, Tito e
Juraci. A 10 de setembro de 1966, Maria Odila e Matias tiveram seu casamento
celebrado pelo Padre Antonio Geroto na Igreja Sagrado Coração de Jesus, mais conhecida
como Igreja dos Frades, em Piracicaba, tem os filhos Maria Adriana, Carlos
Alberto e Emerson.
Da. Maria Odila como vocês se conheceram?
Foi na casa de uma cunhada do
Matias. Na época eu fazia bordados ponto cruz, rococó, para a cunhada dele, a Rosa, eu pegava peças
dela como lençóis, para bordar. A Rosa e seu marido Josué Elias Gardenal moravam
na Avenida do Café, duas casas antes de chegar a Rua da Glória. Nessa época o
Matias estava residindo com eles, foi lá que o conheci. A Rosa incentivou o
nosso namoro. Casamos e fomos morar na Rua Alfredo Guedes, 1828, era casa do
meu sogro.
O senhor exercia qual atividade na época?
Trabalhava no Dedini.
Com quantos anos o senhor veio de Laranjal à
Piracicaba?
Eu estava morando com meu irmão
Josué quando completei 19 anos.
Quando o senhor chegou aqui qual foi a sua
primeira atividade?
Em Laranjal Paulista eu
trabalhava na roça, carpia mesmo! Aqui chegando fui trabalhar na oficina
mecânica de propriedade do meu irmão Natalino. Antonio Gardenal. Comecei
trocando molas, lonas. Serviços que não exigiam conhecimentos técnicos
relevantes. O que eu fazia era serviço próprio de ajudante mecânico. Permaneci
lá por cerca de um ano e pouco, de lá fui trabalhar no Dedini.
Que serviço o senhor fazia no Dedini?
Trabalhava na manutenção, a
noite.
Como era o Comendador Mário Dedini?
Pelo menos nas vezes que nos
encontramos era do tipo da pessoa que vinha cumprimentar, dava um aperto de
mão, perguntava, falava, quando passava perto de alguém sempre cumprimentava a
pessoa. Era um homem simples. Pelo menos dentro da oficina. Era interessado
pelo serviço e atencioso com os funcionários. Permaneci trabalhando lá por três
anos.
Saindo desse emprego no que o senhor foi
trabalhar?
Fui ser motorista de caminhão,
isso foi em 1965. Fui trabalhar com um Alfa-Romeu, o famoso FNM. O proprietário
do caminhão era Raul Fernandes do Depósito de Madeiras Fernandes.
Como é dirigir um FNM?
Para quem tem braço bom é um
caminhão gostoso. Não tinha direção hidráulica, era câmbio seco, tinha que ter
uma boa audição, o câmbio seco só se engata a marcha no tempo certo do motor,
na rotação correta do motor. Eram quatro marchas todas reduzidas. Tinha um
motor muito bom.
Quebrava muito?
Quebrava, mas não por defeito do
caminhão, as estradas é que não eram boas. A grande maioria das estradas era de
terra. As estradas eram ruins, tinha que ficar engatando as marchas o tempo
todo. Carregava 20.000 a 22.000 quilos. Saia de Chopinzinho, Pato Branco,
Marmeleiro, Cascavel, Foz do Iguaçu no Paraná, só estradas de terra, com
aclives que quando chegava ao topo o motor estava no último estágio de
potência.
E quando chovia?
Tinha que esperar passar a chuva.
Nesses caminhões não adiantava colocar correntes nos pneus. O motor era diesel.
Quem trocava o pneu quando furava?
Eu mesmo trocava. Colocava o
macaco conhecido por “Chicão”. Só que usavamos uma madeira resistente, alta o
suficiente para que pudéssemos aliviar o peso, ai entrava com o macaco
hidráulico embaixo. O estepe ficava dependurado atrás, tinha uma catraca para
solta-lo. Dava trabalho. Não furava muito os pneus.
O Alfa-Romeu esquentava muito o motor?
Não tinha esse problema. Era
barulhento. Na época poucos caminhões tinham a cama dentro da cabine, o
Alfa-Romeu tinha uma cama, dormia-se dentro da cabine. A velocidade normal era
de 60 quilômetros por hora. No ponto morto não tinha limite. Em lugar que podia
soltar, descia no ponto morto. De vez em quando dava uma cutucadinha no freio
para ver se estava funcionando. Se precisasse segurar a curta distância era
impossível. Para dar partida tinha duas baterias de 24 volts. Motor com seis
pistões. O motor dele é muito semelhante ao do Scania, a diferença é que do
Scania é bloco fundido e o do FNM era todo em alumínio.
O senhor lembra-se do Papa-Fila, que era o
caminhão FNM com o reboque em forma de carroceria de ônibus, conduzia um grande
número de pessoas?
Era o famoso Romeu e
Julieta. Vi em São Paulo esse Papa-Fila.
O motorista ficava isolado na cabine. O FNM era um caminhão bom, o que tirou a
fama dele foi a qualidade das estradas. De onde ele saia com carga pode ser que
tenha caminhões fabricados hoje que não saiam.
Que cor era o caminhão do senhor?
Era um verde claro. Trabalhei com
esse caminhão de 1965 até 1968.
Quanto tempo o senhor levava até Pato Branco?
Fazia uma viagem por semana.
Trazia 60 dúzias de madeira, pinho, tábua de 30 centímetros por uma polegada e
levava 300 sacos de açúcar, na época eram sacos de 60 quilos cada um.
Viajava a noite?
Sempre! Aproveitava que a
temperatura era mais baixa. Não esquentava os pneus. Não se ouvia falar em
assalto, era raríssimo. As estradas eram bem menos movimentadas. Eu ia até
Itapetininga, Capão Bonito, descia a Estrada da Ribeira e subia a Estrada 27
para descarregar açúcar em Curitiba. Lá descarregava no Dias Martins, era
depósito que refinava o açúcar, ficava no centro da cidade, entrava com o
caminhão na Rua João Negrão, Rua XV de Novembro onde hoje é calçadão, tempo em
que havia bonde em Curitiba. Em Londrina passava pela Avenida Paraná, com o
caminhão carregado de madeira. Hoje a avenida toda é calçadão.
Após três anos e pouco o senhor foi trabalhar
com o que?
Mudei de profissão, fui trabalhar
como motorista de ônibus na empresa de ônibus Paulicéia. Os proprietários eram
Ademar, Aldano e José (Gegé) Beneton. A mãe deles deve ser prima do meu avô. Fui
fazer a linha do Centro até a Vila Rezende. Saia do abrigo, hoje denominado
Terminal Urbano. A cada meia hora ia e voltava. Trabalhei uns 15 dias na rua.
Não me adaptei ao serviço. Sai da rua e fui trabalhar de lavador e borracheiro,
dentro da empresa. Um dia ele me disse para levar uma excursão de um pessoal do
Bairro de Santana para Santos. Eu nunca tinha ido para lá. Era um ônibus
monobloco, com poltrona. O meu problema era atravessar São Paulo, nunca tinha
entrado em São Paulo dirigindo. Ia pela Via Anhanguera, pelo centro de São
Paulo, bairro Ipiranga e Via Anchieta. Parei no Posto Santo Antonio em Jundiaí,
tinha um pessoal de Jundiaí que estava saindo para Santos. Fui acompanhando um
dos ônibus que ia para Santos e deu certinho. Lá fomos para a Praia José
Menino. Durante a semana eu era borracheiro e lavador, aos finais de semana
motorista de excursão. Ganhava horas extras, percentagem de 15 por cento do
valor da excursão, ganhava o cigarro, almoço no restaurante, na volta faziam
coleta de gorjeta para o motorista. Era bom. Isso foi em 1968 Em 1969 comprei
uma borracharia na Renovadora de Pneus Rezende. Oswaldo Mantellatto e Antonio
Domingos Gerolamo eram sócios, tinham uma filial em Barra Bonita. Fui ser gerente
lá, de 1970 a 1978. Voltei à Piracicaba e adquiri a borracharia lá no Posto
Menegatti, o “Postão”. Lá permaneci por sete anos.
O que melhorou nos pneus nesse período de
tempo?
O pneu radial. A lona em vez de
ser feita em nylon é feita em aço. Atualmente é muito fácil consertar furos de
pneus, muitas vezes não é necessário nem tirar da própria roda.
Quantas libras de ar são colocadas em um pneu
de caminhão?
Depende da medida do pneu. No
caso do pneu radial é cerca de 100 libras.
Algumas vezes vemos tiras de pneu soltas nas
estradas, por que isso ocorre?
Geralmente é falta de conservação
do pneu. Um pneu novo, se pegar um prego e o prego ficar no lugar de tal forma
que fique vazando ar, ele tampa o buraco na borracha, mas na lona ele não
tampa, o aro vai saindo e procurando espaço, até soltar a casca do pneu, que
são esses pedaços a beira da pista. Muitas vezes o motorista não vê, não bate
pneu.
O que é bater pneu?
É ter um martelinho ou um pedaço
de ferro, e aonde você para, você vai lá e dá uma batida, se ele estiver cheio
ou baixo percebe-se na batida.
O senhor chegou a viajar para o Norte do
Paraná?
Viajei para Paranavaí, Campo
Mourão, Nova Londrina, de Maringá a Paranavaí foi asfaltado em 1964. Eu levava
cimento para colocar no piso, era areia, quando chegava com o caminhão
carregado com 300 sacos de cimento já tinha os quadrados todos prontos, para
fazer a base da pista. A carga de cimento é uma das piores cargas para
transportar. O caminhão fica seco, dá um soco seco. A carga não tem balanço.
Após permanecer com borracharia no Postão,
qual foi a próxima atividade do senhor?
Fui trabalhar como vendedor de
pneu, na Ressolagem Jardim. Como conhecia bem Barra Bonita, Jaú, comprei um
caminhãozinho e fui fazer essa linha. Logo já consegui quatro usinas de açúcar
como clientes. Pegava os pneus gastos, trazia, ressolava e devolvia. Quando eram
sete horas da manhã eu já estava dentro da usina. Muitas vezes eu chegava à
Barra Bonita com o caminhão carregado e o chefe ainda não tinha chegado, às
seis horas da manhã. Daqui até lá eu levava uma hora e meia para chegar. Tive
caminhões Mercedes Benz, Volkswagen e o ultimo foi um Ford Cargo.
Por que o pneu de trator tem que ser cheio de
água e ar?
Para o trator ficar mais pesado e
não patinar. Você coloca o pneu em pé, o bico na extremidade superior, sem a
válvula, coloca a água até começar a vazar no bico. Depois se coloca a válvula
e completa-se com ar. Ele tem mais água do que ar.
Quem consegue erguer um pneu desses?
Só o guincho.
Em que ano o senhor parou de trabalhar com
pneus?
Parei de trabalhar em 2003, foi
quando fiz uma cirurgia e tive uma infecção. Acabei decidindo parar. Atualmente
só faço tarefas em casa, cuido da manutenção. (Por opção o casal mantém a casa
sem auxílio de terceiros).
Dona Maria Odila complementa:
Acho que é bom para a saúde,
trabalho não mata ninguém. Se tiver o que fazer não fica apenas lendo,
deitadinha, com depressão. Indo à luta é muito mais saudável, dorme-se melhor,
alimenta-se melhor, a vida é outra. Caminhamos cerca de quatro quilômetros
todos os dias.
Dona Maria Odila vocês são católicos
praticantes?
Somos, tornamo-nos mais assíduos
após voltarmos de Barra Bonita, quando os filhos estavam mais crescidos,
morávamos próximo a Igreja Matriz da Vila Rezende, na Rua Rafael Aluisi, a
minha filha como era pianista tocava o órgão da igreja na missa das sete horas,
a família inteira estava presente. Em 1995 mudamos para um local mais distante,
mas continuamos a freqüentar a mesma igreja. Depois a nossa filha casou-se
passamos a ir às missas das três horas da tarde, aos sábados. O coordenador
geral, Edélcio Camargo viu em nós a oportunidade de sermos ministros da
eucaristia. Fizemos um curso preparatório para sermos ministros. Atualmente o
pároco é o Padre Orivaldo Casini, o Monsenhor Jorge continua exercendo suas
funções.
O que faz um ministro da eucaristia?
O ministro é Ministro
Extraordinário da Eucaristia, o padre é Ministro Ordinário. Os Ministros
Extraordinários ajudam o padre a participar da missa, distribuindo a
eucaristia. Na Igreja Matriz da Vila Rezende a eucaristia são duas espécies, o
pão e o vinho. Existe uma escala de ministros para cada missa e data a ser
realizada. São 18 ministros para cada missa, sendo que 10 participam e 8 ficam
como substitutos, o nosso coordenador, Dimas Broió organiza a escalação dos
ministros. Caso não estivermos escalados nem por isso deixamos de ir a missa.
Há ainda os coroinhas, os diáconos, que auxiliam o padre diretamente na
celebração. Na Matriz da Via Rezende, a cerimônia de entrada segue a seguinte
ordem: a cruz é introduzida em primeiro lugar, a seguir os três leitores, em
seguida cinco ministros de cada lado, formando uma fila dupla, seguido do padre
com os coroinhas. É um cerimonial.
É uma função do Ministro da Eucaristia a
visita a enfermos?
É uma função que é determinada
pelo coordenador. Levar a comunhão aos enfermos. Nós ainda não fomos escalados
para realizar essa atividade.
Existe alguma atividade dos ministros antes
da celebração da missa?
Dona Maria Odila responde que a
preparação da missa por dois ministros ou duas ministras, consiste em preparar
as âmbulas com o cálice. Âmbula é um recepiente onde são colocadas as hóstias
não consagradas. O vinho é um vinho especial distribuido pela Curia Diocesana. São
colocadas onze âmbulas, para os 10 ministros e uma para o padre. Em média em
cada âmbula são colocadas 40 hóstias.
E ficam em que local essas ambulas?
Fora do
sacrário elas permanecem em volta do cálice. São preperados três corpóreos, são
três toalhinhas, que são colocadas em cima do altar, só para colocar as
âmbulas, o cálice do padre, a âmbula maior onde está a eucaristia, hóstias já
consagradas, após a consagração o padre inicia a distribuição da eucaristia
seguido dos ministros que fazem a distribuição.
Quando é distribuída a eucaristia ela é colocada na mão ou na boca do fiel?
O fiel é
que determina. Todos os ministros antes de fazer a distribuição fazem a
assepcia das mãos,
Qual o número de fiéis que participam da missa?
A igreja
comporta 1.000 pessoas sentadas.
O Ministro da Eucaristia usa algum paramento?
Usa a Opa,
que é um blaser branco, especial, próprio para a distribuição da eucaristia.
Usamos apenas durante a missa. O sangüineo é uma toalhinha que é colocado junto
a âmbula, a hóstia consagrada simbolizando o corpo é molhada no vinho que
simboliza o sangue de Cristo, ou nós ou o fiel molhamos a hóstia no vinho, a
maior parte das pessoas prefere ela mesma molhar a hóstia no vinho, se ficar
alguma particula de vinho em seu dedo ela usa o sangüineo para reter essa
minima porção de vinho, que significa o Sangue de Cristo. O Sangüineo é mais tarde
lavado em uma taça, e a àgua que resulta dessa limpeza é colocada em uma
planta. Ele é lavado isoladamente, não pode ser misturado a mais nenhum tipo de
tecido ou roupa. Simboliza o nosso respeito ao Jesus Eucarístico. Após a
celebração da missa é feita a purificação, se restou alguma eucaristia, é
colocada na âmbula maior e depositada no sacrário. Os ministros comungam após
os fiéis comungarem, tomamos o vinho consagrado. As âmbulas são colocadas em um
aparador. Após o término da missa dois ministros vão até esse aparador e passam
em média meio copo de água em cada âmbula, depois em todos os cálices, são
enxugados com o sangüineo existente no local. A água após passar pelas âmbulas,
ou tomamos ou é colocada em uma planta. Nós usamos uma âmbula que têm um cálice
encaixado dentro. Nesse pequeno cálice é que é colocado o vinho. As hóstias
ficam em torno do cálice.
Sangïneo
Dona Maria Odila qual é o sentimento em ser Ministro da Eucaristia?
Quem escolhe as pessoas é Deus.
Para nós foi uma grande honra em sermos escolhidos. É um ministério muito
lindo. Acredito que a pessoa que nos convidou foi orientada pelo Espírito
Santo. Para nós significa uma grande responsabilidade. Acho que os pais devem
dar o exemplo aos filhos, aos netos. O Sr. João Matias complementa dizendo: Considero importante a pessoa freqüentar uma
igreja, é um local aonde poderá encontrar a paz.