sexta-feira, outubro 10, 2014

MARIA ODILA RAZERA GERAGE GARDENAL e JOÃO MATIAS GARDENAL


 
 PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 11 outubro de 2014.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/



 



ENTREVISTADOS: MARIA ODILA RAZERA GERAGE GARDENAL  e  JOÃO MATIAS GARDENAL

 

A Sra. Maria Odila Razera Gerage Gardenal nasceu em Piracicaba a 2 de agosto de 1942 filha de Rafael Gerage e Herminia Razera Gerage que tiveram 12 filhos: Leni, Neli Carolina, Darci, Miguel, Luzia, Antonieta, Irineu, Maria Odila, Terezinha, Roseli, Rafael e Carlos.  O Sr. João Matias Gardenal, nasceu em Laranjal Paulista a 3 de agosto de 1942, filho de Adamo Gardenal e Anunciata Mateucci Gardenal que tiveram treze filhos: Aparecida, Natalino, Vitória, Maria, Josué, Isabel, Irene, João Matias, Junia, Herminda Loide, Noemia, Tito e Juraci. A 10 de setembro de 1966, Maria Odila e Matias tiveram seu casamento celebrado pelo Padre Antonio Geroto na Igreja Sagrado Coração de Jesus, mais conhecida como Igreja dos Frades, em Piracicaba, tem os filhos Maria Adriana, Carlos Alberto e Emerson.

Da. Maria Odila como vocês se conheceram?

Foi na casa de uma cunhada do Matias. Na época eu fazia bordados ponto cruz, rococó,  para a cunhada dele, a Rosa, eu pegava peças dela como lençóis, para bordar. A Rosa e seu marido Josué Elias Gardenal moravam na Avenida do Café, duas casas antes de chegar a Rua da Glória. Nessa época o Matias estava residindo com eles, foi lá que o conheci. A Rosa incentivou o nosso namoro. Casamos e fomos morar na Rua Alfredo Guedes, 1828, era casa do meu sogro.

O senhor exercia qual atividade na época?

Trabalhava no Dedini.

Com quantos anos o senhor veio de Laranjal à Piracicaba?

Eu estava morando com meu irmão Josué quando completei 19 anos.

Quando o senhor chegou aqui qual foi a sua primeira atividade?

Em Laranjal Paulista eu trabalhava na roça, carpia mesmo! Aqui chegando fui trabalhar na oficina mecânica de propriedade do meu irmão Natalino. Antonio Gardenal. Comecei trocando molas, lonas. Serviços que não exigiam conhecimentos técnicos relevantes. O que eu fazia era serviço próprio de ajudante mecânico. Permaneci lá por cerca de um ano e pouco, de lá fui trabalhar no Dedini.

Que serviço o senhor fazia no Dedini?

Trabalhava na manutenção, a noite.

Como era o Comendador Mário Dedini?

Pelo menos nas vezes que nos encontramos era do tipo da pessoa que vinha cumprimentar, dava um aperto de mão, perguntava, falava, quando passava perto de alguém sempre cumprimentava a pessoa. Era um homem simples. Pelo menos dentro da oficina. Era interessado pelo serviço e atencioso com os funcionários. Permaneci trabalhando lá por três anos.

Saindo desse emprego no que o senhor foi trabalhar?

Fui ser motorista de caminhão, isso foi em 1965. Fui trabalhar com um Alfa-Romeu, o famoso FNM. O proprietário do caminhão era Raul Fernandes do Depósito de Madeiras Fernandes.

Como é dirigir um FNM?

Para quem tem braço bom é um caminhão gostoso. Não tinha direção hidráulica, era câmbio seco, tinha que ter uma boa audição, o câmbio seco só se engata a marcha no tempo certo do motor, na rotação correta do motor. Eram quatro marchas todas reduzidas. Tinha um motor muito bom.

Quebrava muito?

Quebrava, mas não por defeito do caminhão, as estradas é que não eram boas. A grande maioria das estradas era de terra. As estradas eram ruins, tinha que ficar engatando as marchas o tempo todo. Carregava 20.000 a 22.000 quilos. Saia de Chopinzinho, Pato Branco, Marmeleiro, Cascavel, Foz do Iguaçu no Paraná, só estradas de terra, com aclives que quando chegava ao topo o motor estava no último estágio de potência.

E quando chovia?

Tinha que esperar passar a chuva. Nesses caminhões não adiantava colocar correntes nos pneus. O motor era diesel.

Quem trocava o pneu quando furava?

Eu mesmo trocava. Colocava o macaco conhecido por “Chicão”. Só que usavamos uma madeira resistente, alta o suficiente para que pudéssemos aliviar o peso, ai entrava com o macaco hidráulico embaixo. O estepe ficava dependurado atrás, tinha uma catraca para solta-lo. Dava trabalho. Não furava muito os pneus.

O Alfa-Romeu esquentava muito o motor?

Não tinha esse problema. Era barulhento. Na época poucos caminhões tinham a cama dentro da cabine, o Alfa-Romeu tinha uma cama, dormia-se dentro da cabine. A velocidade normal era de 60 quilômetros por hora. No ponto morto não tinha limite. Em lugar que podia soltar, descia no ponto morto. De vez em quando dava uma cutucadinha no freio para ver se estava funcionando. Se precisasse segurar a curta distância era impossível. Para dar partida tinha duas baterias de 24 volts. Motor com seis pistões. O motor dele é muito semelhante ao do Scania, a diferença é que do Scania é bloco fundido e o do FNM era todo em alumínio.

O senhor lembra-se do Papa-Fila, que era o caminhão FNM com o reboque em forma de carroceria de ônibus, conduzia um grande número de pessoas?

Era o famoso Romeu e Julieta.  Vi em São Paulo esse Papa-Fila. O motorista ficava isolado na cabine. O FNM era um caminhão bom, o que tirou a fama dele foi a qualidade das estradas. De onde ele saia com carga pode ser que tenha caminhões fabricados hoje que não saiam.

Que cor era o caminhão do senhor?

Era um verde claro. Trabalhei com esse caminhão de 1965 até 1968.

Quanto tempo o senhor levava até Pato Branco?

Fazia uma viagem por semana. Trazia 60 dúzias de madeira, pinho, tábua de 30 centímetros por uma polegada e levava 300 sacos de açúcar, na época eram sacos de 60 quilos cada um. 

Viajava a noite?

Sempre! Aproveitava que a temperatura era mais baixa. Não esquentava os pneus. Não se ouvia falar em assalto, era raríssimo. As estradas eram bem menos movimentadas. Eu ia até Itapetininga, Capão Bonito, descia a Estrada da Ribeira e subia a Estrada 27 para descarregar açúcar em Curitiba. Lá descarregava no Dias Martins, era depósito que refinava o açúcar, ficava no centro da cidade, entrava com o caminhão na Rua João Negrão, Rua XV de Novembro onde hoje é calçadão, tempo em que havia bonde em Curitiba. Em Londrina passava pela Avenida Paraná, com o caminhão carregado de madeira. Hoje a avenida toda é calçadão.

Após três anos e pouco o senhor foi trabalhar com o que?

Mudei de profissão, fui trabalhar como motorista de ônibus na empresa de ônibus Paulicéia. Os proprietários eram Ademar, Aldano e José (Gegé) Beneton. A mãe deles deve ser prima do meu avô. Fui fazer a linha do Centro até a Vila Rezende. Saia do abrigo, hoje denominado Terminal Urbano. A cada meia hora ia e voltava. Trabalhei uns 15 dias na rua. Não me adaptei ao serviço. Sai da rua e fui trabalhar de lavador e borracheiro, dentro da empresa. Um dia ele me disse para levar uma excursão de um pessoal do Bairro de Santana para Santos. Eu nunca tinha ido para lá. Era um ônibus monobloco, com poltrona. O meu problema era atravessar São Paulo, nunca tinha entrado em São Paulo dirigindo. Ia pela Via Anhanguera, pelo centro de São Paulo, bairro Ipiranga e Via Anchieta. Parei no Posto Santo Antonio em Jundiaí, tinha um pessoal de Jundiaí que estava saindo para Santos. Fui acompanhando um dos ônibus que ia para Santos e deu certinho. Lá fomos para a Praia José Menino. Durante a semana eu era borracheiro e lavador, aos finais de semana motorista de excursão. Ganhava horas extras, percentagem de 15 por cento do valor da excursão, ganhava o cigarro, almoço no restaurante, na volta faziam coleta de gorjeta para o motorista. Era bom. Isso foi em 1968 Em 1969 comprei uma borracharia na Renovadora de Pneus Rezende. Oswaldo Mantellatto e Antonio Domingos Gerolamo eram sócios, tinham uma filial em Barra Bonita. Fui ser gerente lá, de 1970 a 1978. Voltei à Piracicaba e adquiri a borracharia lá no Posto Menegatti, o “Postão”. Lá permaneci por sete anos.

O que melhorou nos pneus nesse período de tempo?

O pneu radial. A lona em vez de ser feita em nylon é feita em aço. Atualmente é muito fácil consertar furos de pneus, muitas vezes não é necessário nem tirar da própria roda.

Quantas libras de ar são colocadas em um pneu de caminhão?

Depende da medida do pneu. No caso do pneu radial é cerca de 100 libras.

Algumas vezes vemos tiras de pneu soltas nas estradas, por que isso ocorre?

Geralmente é falta de conservação do pneu. Um pneu novo, se pegar um prego e o prego ficar no lugar de tal forma que fique vazando ar, ele tampa o buraco na borracha, mas na lona ele não tampa, o aro vai saindo e procurando espaço, até soltar a casca do pneu, que são esses pedaços a beira da pista. Muitas vezes o motorista não vê, não bate pneu.

O que é bater pneu?

É ter um martelinho ou um pedaço de ferro, e aonde você para, você vai lá e dá uma batida, se ele estiver cheio ou baixo percebe-se na batida.  

O senhor chegou a viajar para o Norte do Paraná?

Viajei para Paranavaí, Campo Mourão, Nova Londrina, de Maringá a Paranavaí foi asfaltado em 1964. Eu levava cimento para colocar no piso, era areia, quando chegava com o caminhão carregado com 300 sacos de cimento já tinha os quadrados todos prontos, para fazer a base da pista. A carga de cimento é uma das piores cargas para transportar. O caminhão fica seco, dá um soco seco. A carga não tem balanço.

Após permanecer com borracharia no Postão, qual foi a próxima atividade do senhor?

Fui trabalhar como vendedor de pneu, na Ressolagem Jardim. Como conhecia bem Barra Bonita, Jaú, comprei um caminhãozinho e fui fazer essa linha. Logo já consegui quatro usinas de açúcar como clientes. Pegava os pneus gastos, trazia, ressolava e devolvia. Quando eram sete horas da manhã eu já estava dentro da usina. Muitas vezes eu chegava à Barra Bonita com o caminhão carregado e o chefe ainda não tinha chegado, às seis horas da manhã. Daqui até lá eu levava uma hora e meia para chegar. Tive caminhões Mercedes Benz, Volkswagen e o ultimo foi um Ford Cargo.

Por que o pneu de trator tem que ser cheio de água e ar?

Para o trator ficar mais pesado e não patinar. Você coloca o pneu em pé, o bico na extremidade superior, sem a válvula, coloca a água até começar a vazar no bico. Depois se coloca a válvula e completa-se com ar. Ele tem mais água do que ar.

Quem consegue erguer um pneu desses?

Só o guincho.

Em que ano o senhor parou de trabalhar com pneus?

Parei de trabalhar em 2003, foi quando fiz uma cirurgia e tive uma infecção. Acabei decidindo parar. Atualmente só faço tarefas em casa, cuido da manutenção. (Por opção o casal mantém a casa sem auxílio de terceiros).

Dona Maria Odila complementa:

Acho que é bom para a saúde, trabalho não mata ninguém. Se tiver o que fazer não fica apenas lendo, deitadinha, com depressão. Indo à luta é muito mais saudável, dorme-se melhor, alimenta-se melhor, a vida é outra. Caminhamos cerca de quatro quilômetros todos os dias.

Dona Maria Odila vocês são católicos praticantes?

Somos, tornamo-nos mais assíduos após voltarmos de Barra Bonita, quando os filhos estavam mais crescidos, morávamos próximo a Igreja Matriz da Vila Rezende, na Rua Rafael Aluisi, a minha filha como era pianista tocava o órgão da igreja na missa das sete horas, a família inteira estava presente. Em 1995 mudamos para um local mais distante, mas continuamos a freqüentar a mesma igreja. Depois a nossa filha casou-se passamos a ir às missas das três horas da tarde, aos sábados. O coordenador geral, Edélcio Camargo viu em nós a oportunidade de sermos ministros da eucaristia. Fizemos um curso preparatório para sermos ministros. Atualmente o pároco é o Padre Orivaldo Casini, o Monsenhor Jorge continua exercendo suas funções.

O que faz um ministro da eucaristia?

O ministro é Ministro Extraordinário da Eucaristia, o padre é Ministro Ordinário. Os Ministros Extraordinários ajudam o padre a participar da missa, distribuindo a eucaristia. Na Igreja Matriz da Vila Rezende a eucaristia são duas espécies, o pão e o vinho. Existe uma escala de ministros para cada missa e data a ser realizada. São 18 ministros para cada missa, sendo que 10 participam e 8 ficam como substitutos, o nosso coordenador, Dimas Broió organiza a escalação dos ministros. Caso não estivermos escalados nem por isso deixamos de ir a missa. Há ainda os coroinhas, os diáconos, que auxiliam o padre diretamente na celebração. Na Matriz da Via Rezende, a cerimônia de entrada segue a seguinte ordem: a cruz é introduzida em primeiro lugar, a seguir os três leitores, em seguida cinco ministros de cada lado, formando uma fila dupla, seguido do padre com os coroinhas. É um cerimonial.

É uma função do Ministro da Eucaristia a visita a enfermos?

É uma função que é determinada pelo coordenador. Levar a comunhão aos enfermos. Nós ainda não fomos escalados para realizar essa atividade.

Existe alguma atividade dos ministros antes da celebração da missa?

Dona Maria Odila responde que a preparação da missa por dois ministros ou duas ministras, consiste em preparar as âmbulas com o cálice. Âmbula é um recepiente onde são colocadas as hóstias não consagradas. O vinho é um vinho especial distribuido pela Curia Diocesana. São colocadas onze âmbulas, para os 10 ministros e uma para o padre. Em média em cada âmbula são colocadas 40 hóstias.

E ficam em que local essas ambulas?

Fora do sacrário elas permanecem em volta do cálice. São preperados três corpóreos, são três toalhinhas, que são colocadas em cima do altar, só para colocar as âmbulas, o cálice do padre, a âmbula maior onde está a eucaristia, hóstias já consagradas, após a consagração o padre inicia a distribuição da eucaristia seguido dos ministros que fazem a distribuição.

Quando é distribuída a eucaristia ela é colocada na mão ou na boca do fiel?

O fiel é que determina. Todos os ministros antes de fazer a distribuição fazem a assepcia das mãos,

Qual o número de fiéis que participam da missa?

A igreja comporta 1.000 pessoas sentadas.

O Ministro da Eucaristia usa algum paramento?

Usa a Opa, que é um blaser branco, especial, próprio para a distribuição da eucaristia. Usamos apenas durante a missa. O sangüineo é uma toalhinha que é colocado junto a âmbula, a hóstia consagrada simbolizando o corpo é molhada no vinho que simboliza o sangue de Cristo, ou nós ou o fiel molhamos a hóstia no vinho, a maior parte das pessoas prefere ela mesma molhar a hóstia no vinho, se ficar alguma particula de vinho em seu dedo ela usa o sangüineo para reter essa minima porção de vinho, que significa o Sangue de Cristo. O Sangüineo é mais tarde lavado em uma taça, e a àgua que resulta dessa limpeza é colocada em uma planta. Ele é lavado isoladamente, não pode ser misturado a mais nenhum tipo de tecido ou roupa. Simboliza o nosso respeito ao Jesus Eucarístico. Após a celebração da missa é feita a purificação, se restou alguma eucaristia, é colocada na âmbula maior e depositada no sacrário. Os ministros comungam após os fiéis comungarem, tomamos o vinho consagrado. As âmbulas são colocadas em um aparador. Após o término da missa dois ministros vão até esse aparador e passam em média meio copo de água em cada âmbula, depois em todos os cálices, são enxugados com o sangüineo existente no local. A água após passar pelas âmbulas, ou tomamos ou é colocada em uma planta. Nós usamos uma âmbula que têm um cálice encaixado dentro. Nesse pequeno cálice é que é colocado o vinho. As hóstias ficam em torno do cálice.  
Sangïneo
 

Dona Maria Odila qual é o sentimento em ser Ministro da Eucaristia?

Quem escolhe as pessoas é Deus. Para nós foi uma grande honra em sermos escolhidos. É um ministério muito lindo. Acredito que a pessoa que nos convidou foi orientada pelo Espírito Santo. Para nós significa uma grande responsabilidade. Acho que os pais devem dar o exemplo aos filhos, aos netos. O Sr. João Matias complementa dizendo:  Considero importante a pessoa freqüentar uma igreja, é um local aonde poderá encontrar a paz.

 

 

sexta-feira, outubro 03, 2014

ALDO PERNAMBUCO SOBRINHO


 PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 04 outubro de 2014.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
 

ENTREVISTADO: ALDO PERNAMBUCO SOBRINHO

 

Aldo Pernambuco Sobrinho nasceu em Piracicaba a 30 de agosto de 1971 é filho de James Pernambuco (Conhecido como Bilo) e Diva de Moraes Pernambuco que tiveram os filhos James, Gisele e Aldo. Aldo é casado com Renata, são pais de um filho, Bryan.

Seus estudos você realizou em que escola?

Estudei no Grupo Escolar Moraes Barros, meu primeiro professor foi Seu Dirceu.  Estudei depois na Escola Estadual Prof. Mello Moraes e Colégio Técnico Industrial de Piracicaba. Ainda existia o Estádio Roberto Gomes Pedrosa, antigo campo do VX de Novembro, onde atualmente existe um supermercado.

Você chegou a freqüentar o antigo campo do XV de Novembro?

Meu pai gostava do XV e tinha muita amizade com o Colega que o convidava e eu acabava indo junto. Sempre joguei futebol, mas não profissional. Quando eu era jovem, o Córrego Itapeva era a céu aberto, junto onde hoje é a Avenida Armando Salles de Oliveira. Já existia a Cidade Jardim, o Jardim Europa.

O seu pai foi um entalhador?

Na realidade meu pai foi um marceneiro, ele trabalhou onde hoje é o Posto de Saúde, na Rua D.Pedro I, atrás do Mercado Municipal, ali era a oficina do Neno, meu pai trabalhou muitos anos com o Neno, como era conhecido Eugênio Nardin. O Neno fabricava móveis e entalhava também, tinha os entalhadores, os lustradores. Meu pai é natural de Piracicaba, começou a trabalhar lá ainda garoto. Meu pai sempre trabalhou como marceneiro, com o Neno ele deve ter trabalhado uns 15 anos. Fazia móveis finos.

Que tipo de madeira era usada naquela época?

Acho que mais cedro e imbuia.

E Pinho de Riga?

Em Piracicaba não se acha mais, em São Paulo pode até ser que você encontre. Mogno é raridade, não se acha mais

Antigamente o bacalhau era importado embalado em caixas de pinho de Riga.

Hoje vem em uma madeira bem mole. Descartável. Antes as madeiras eram boas, hoje a maioria dos moveis é em MDF. (MDF é a sigla de Medium Density Fiberboard, que significa placa de fibra de média densidade, é um material oriundo da madeira, fabricado com resinas sintéticas).

O sobrenome Pernambuco sugere que há uma ligação com aquele estado.

Já me perguntaram qual é a origem do sobrenome Pernambuco, eu não sei dizer. Meus tios também são todos de Piracicaba. Não há nenhuma relação próxima com o estado de Pernambuco.

Quando seu pai deixou de trabalhar com o Eugenio Nardin, montou a sua própria marcenaria?

Exatamente! Meu pai nasceu em 1919, creio que ele veio para cá na década de 40. Aqui meus tios Aldo e Julio o ajudaram a comprar as máquinas. Meu tio Aldo foi o primeiro motorista do Engenho Central, meu pai guardava tudo que era publicado a respeito, após seu falecimento esse material se perdeu. Ha muitos anos saiu em “O Diário” uma matéria sobre o meu tio Aldo que foi buscar um automóvel Ford ano 1929 no porto de Santos. Meu pai ainda muito jovem passou a fabricar móveis, charretes, as rodas eram de madeira e o aro de ferro que eram feitos pelo Romeu Ferreiro, estabelecido na curva do “S”, existente na Avenida Armando Salles de Oliveira.

A charrete mais conhecida é a de tração animal, mas na época existiam charretes de mão?

Acho que para a charrete de mão em 1958 era dada pela prefeitura uma placa que era a licença PMCM Prefeitura Municipal Carro de Mão era necessário ter aquela licença para transportar mercadorias. Eram umas carroçonas grandes, altas, ele saia daqui e levava os móveis não sei para quem, lá na Estação da Paulista.

Subia a Rua Boa Morte?

Subia empurrando na mão. Eu tinha uma até um ano atrás.

Eram muito comuns umas carrocinhas conduzidas à mão.

Até hoje existe no Cemitério da Saudade. No Museu da Água existe uma exposta.

O seu pai tinha o desejo de que os filhos seguissem a carreira dele?

O meu pai tinha a preocupação de que os filhos sofressem algum tipo de acidente por causa do grande número de máquinas cortantes. Depois que ele viu que eu passei a me interessar mais, vir com mais freqüência para ver ele fabricar as peças, ele foi abrindo mais a porta, deixando eu vim ver. Mostrava, falava o que era. Como eram feitos os móveis, os encaixes. E de fato é grande o número de ferramentas perigosas. Meu pai mesmo teve uns dois ou três acidentes, mas era um marceneiro que tinha todos os dedos.

Os clientes traziam os projetos dos móveis que desejavam?

Traziam sim, desenhos feitos a nanquim, escrivaninhas. Ele tinha uma pasta só com esses projetos.

Que idade você tinha quando começou a olhar com mais interesse as coisas que o seu pai fazia?

Eu estava com uns treze anos quando comecei a ver as peças que ele fazia com outros olhos a parte da marcenaria. A parte do entalhe foi com 15 a 16 anos que passei a freqüentar a oficina do Eugenio Nardin, situada na Rua do Vergueiro. Eugenio fazia todo tipo de móvel fino, restauração, pintura.

Você lembra-se da sua primeira obra em madeira?

Foi um banquinho! Meu pai não deixava mexer nas máquinas, ele tinha muito cuidado para não acontecer nenhum acidente.

Por que você gosta do entalhe?

Porque você pega uma madeira bruta e consegue fazer o que desejar com a madeira.

Quais são as madeiras boas para entalhes?

Cedro, imbuia, cerejeira, se tivesse, mogno.

Para realizar o entalhe é necessário ter muitas ferramentas?

Há a necessidade de ter um arsenal de ferramentas. Uma da bancas de carpinteiro que meu pai utilizava tem a data atrás, 16 de outubro de 1933. É de cabriúva. Meu pai e um amigo dele que fizeram. As roscas são de madeira.

Você após freqüentar a oficina do Eugênio Nardin, voltava para a oficina do seu pai?

E tentava entalhar algumas coisinhas.

Seu pai permaneceu aqui na oficina até que ano?

Faz oito anos que ele faleceu, aos 85 anos, trabalhou até falecer.

Devagarzinho você foi ganhando espaço na arte do entalhe?

Meu pai tinha uma roda de amigos que freqüentavam a marcenaria, ao final de tarde aparecia muitos amigos para conversar, trocar idéias. Ele pegava algum entalhe que tinha feito e mostrava com orgulho aos amigos. Aprendi entalhe com Eugênio Nardin e com Pedro Senicato, o Pedrinho Entalhador. O Sbrissa e o Pedrinho Entalhador faziam sobre tampo de caixão funerário. Não era com resina sintética como hoje, era tudo entalhado. Alguns entalhavam o caixão inteiro.

Você já entalhou urna funerária?

Entalhei só um sobre tampo. O Pedrinho desenhou como estava bem doente, pediu para o Hélio entrar em contato comigo. Fiz o sobre tampo para o Hélio tirar o molde em resina e comercializar para as fábricas de urna. Eu fiz o molde. Ele faz a peça em resina. Com 23 anos eu já estava bonzinho no entalhe. É uma arte em que a cada dia vai se aprendendo alguma coisa. O que gostava de fazer era porta. A minha primeira peça que fiz e gostei muito foi um relógio de madeira.

Você dá aulas de entalhe?

Dou aulas todas às tardes.

Qual é o requisito para ser aluno da arte de entalhar?

Qualquer pessoa dos 12 aos 99 anos pode estudar entalhe! O aluno mais novo acredito que foi o Marcelinho, tinha uns 12 anos. Atualmente tenho cerca de 15 alunos, de 23 a 75 anos.  Um dos alunos é um senhor que vem de Tietê. Eles dizem que é uma terapia. Tanto é que saiu uma matéria chamada “Terapia do Entalhe”. Tem que ter calma se tiver pressa não irá conseguir fazer nada. Sou detalhista, se o aluno errar irá fazer novamente. Você pega uma madeira cheia de farpa, tira na plaina. Nas máquinas pesadas eu faço o trabalho, por precaução e cuidado com o aluno. Nas aulas eles usam as minhas ferramentas, quando começam a gostar passam a adquirir as próprias ferramentas.

Quem tem mais facilidade para entalhar o homem ou a mulher?

Ambos têm condições, depende apenas do aluno ou aluna. Tive uma aluna, a Eliane, que tinha uma mão para entalhar que era muito eficiente.

O entalhe está voltando a entrar em evidência?

Acho que o entalhe está sendo realçado. O surgimento de novelas de época traz muitas peças entalhadas. Muitas molduras. A atenção dos decoradores está se voltando para peças diferentes. Através da internet mantenho contato com entalhadores praticamente do mundo todo. Há uma grande troca de informações. Até mesmo na maneira de como se amola um formão.

Você faz entalhes específicos, sob encomenda?

Antes de começar a entalhar a peça propriamente dita eu faço um estudo. Temos exposto ali a parte de cima de uma cabeceira de cama. Depois de feito o estudo, se o cliente aprovar passo a entalhar.

Quem gosta de móveis entalhados?

Pessoas mais maduras e refinadas. Há uma movimentação nesse sentido, se só o móvel entalhado pode criar um ambiente mais sóbrio, a mescla com outro tipo de decoração pode dar refinamento.

Para ser entalhador tem necessariamente que ter a mão firme?

Não. Quando o aluno ingressa seus primeiros trabalhos são um peixe e uma flor. Nesses trabalhos fico conhecendo o movimento de mão, a coordenação do aluno. Faço trabalhar a mão direita e esquerda que são os movimentos contrários do cérebro.

A seu ver em matéria de entalhe quais são os países que se destacam?

Eu creio que seja a Espanha e a Alemanha.

Na cidade de São Paulo tem bons entalhadores? Eles o conhecem?

Existem bons entalhadores, alguns me conhecem. Em meu conceito o entalhe é uma arte que deve ser ensinada, passada aos que interessarem, muitas pessoas podem ter até um dom maior do que quem ensina.

Proprietários de antiquários procuram seu trabalho?

Alguns sim. Tenho sido procurado por igrejas, atualmente estou restaurando peças da Catedral de Santo Antonio. Às vezes as pessoas falam: “- Mas é um dedo que você está fazendo!”. Só que para esculpir um dedo tem que dar o volume certo, a nervura certa. Fazer a unha perfeita, igual a outra.

Entre as centenas de ferramentas de entalhe, uma se destaca pelo formato, o macete do entalhador. Como pode ser definido seu uso?

Uma das aulas é usada para ensinar os alunos a fazerem seu próprio macete. É feito de madeira dura, geralmente o rouxinho, garapeira, cabreuva. Existem macetes antigos, como de bronze por exemplo.

Quanto tempo dura um curso de entalhe?

Depende do aluno. Esse senhor que vem de Tietê faz cinco anos que está comigo como aluno. É um bom entalhador. Ele vem às terças-feiras, e segundo suas palavras se não vier a semana fica sem sentido. É uma terapia.

Quando o futuro aluno mostra interesse em matricular-se qual é a primeira providência que você toma?

Eu digo: “- Vamos fazer uma aula para ver se é isso mesmo que você gosta de fazer”. Uma aula dura cerca de duas horas.

Você tem um grande número de ferramentas diferentes, todas são necessárias?

Cada formão tem um formato. As goivas, que são formões com sulcos, formões retos, semi-goivas.

Você tem uma furadeira manual que deve ser muito antiga.

Deve ter umas oito décadas.

O que é a ferramenta chamada guilherme?

É uma ferramenta utilizada antigamente para fazer os rasgos para encaixar porta. O barilete, que é um tipo de raspilha.

A madeira para ser trabalhada tem que estar totalmente seca?

Para ficar totalmente seca pelo menos uns seis meses.

Você está restaurando uma espada e uma palma em madeira, que pertencem a Catedral de Santo Antonio. Você tem conhecimento de quem é essa obra?

Não sei responder com exatidão, a informação que me chegou é de que veio de Portugal. Aquele Cristo Rei veio todo desmontado. As placas são encaixadas, parafusadas.

Você dá aula de entalhe para restaurador?

No momento estou dando aula para uma pessoa que restaura.

As ferramentas profissionais de entalhe são fáceis de encontrar?

Normalmente as melhores ferramentas são as importadas da Europa, Estados Unidos. No Brasil temos apenas uma fábrica e cuja qualidade fica aquém das importadas. As ferramentas fabricadas na Argentina já têm uma qualidade melhor.

Mundialmente o entalhe é uma arte que tende a aumentar ou a diminuir?

Tende a crescer. No Brasil já esta havendo uma nova mentalidade sobre o entalhe. Na Espanha e na Alemanha são matérias curriculares.

Você está no face book?

Estou como Aldo Entalhe. E quem quiser vir conhecer, fazer uma aula, fica feito o convite, estou aqui a disposição.

Quantos entalhadores existem em Piracicaba?

Entalhadores estilo ornato, que é o estilo que eu faço, que eu saiba só existe eu. Depois existem entalhadores que fazem placas. Sou um pesquisador nato, gosto de saber como o pessoal fazia, eu procuro descobrir quem se dedica a arte do entalhe.

Aldo, você se considera o único representante de uma arte que está quase em extinção em nossa cidade?

Por isso sempre procurei divulgar pela mídia, as pessoas que faziam em Piracicaba foram aos poucos falecendo. No sul Treze Tílias é uma cidade que tem uma feira só de escultores, acontece durante uma semana. Em Campinas tem uma catedral muito bonita, entalhada, demoraram treze anos para entalhar. No centro de convivência tem um entalhador muito bom. O Mosteiro São Bento, em São Paulo, é maravilhoso em termos de entalhe. Em Piracicaba tem entalhe na Igreja dos Frades, a porta da Igreja da Paulicéia, a porta da Igreja São Dimas, a Catedral tem alguma coisa. Agora a porta entalhada na igreja ao lado da Matriz da Vila Rezende. Levo meus alunos a esses locais para que conheçam os estilos, como se pode fazer uma voluta, um contorno. Não sou dessa época mas dizem que o Colégio Industrial ensinava a entalhar. Atualmente o pessoal não tem muita paciência para fazer um entalhe, por isso você vê todo mundo estressado, todo o mundo quer tudo muito rápido, apressado.

Você recomenda à quem está quase a beira de uma terapia, que venha fazer uma experiência com entalhe em madeira?

É uma sugestão interessante. Aqui você vai trabalhar o seu lado psicológico. Os alunos comentam e eu tenho um aluno que era muito ansioso ele disse que aprendeu a curar a ansiedade aqui. Tem até um médico cardiologista que é aluno, faz o curso para relaxar o stress.

sexta-feira, setembro 26, 2014

PEDRO LUIZ DEFAVARI - CLUBE DOS VETERANOS


 PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 27 setembro de 2014.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
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ENTREVISTADO: PEDRO LUIZ DEFAVARI - CLUBE DOS VETERANOS

 

Pedro Luiz Defavari nasceu em Rio das Pedras a 20 de maio de 1959, filho de Izaltino Roque Defavari e Alzira Longatto Defavari (Dona Lila) que tiveram os filhos: Maria José (Zinha), Carlos, Pedro, Valdir e Adilson. Pedro é casado com Da. Rosangela, são pais de Douglas e Amanda. Pedro é o fundador do Clube dos Veteranos de Rio das Pedras, fundado a 23 de outubro de 1989. O que sobressai no Clube dos Veteranos é que é uma reunião de amigos com objetivos de amizade e respeito.

Pedro você além do seu trabalho tem um hobby ao qual se dedica muito.

Meu hobby principal é o futebol. Gosto também da pesca. Posso afirmar que cerca de setenta por cento das amizades que tenho foram feitas por intermédio do futebol.

Você chegou a jogar  em times de expressão no futebol?

Cheguei a jogar no juvenil do Esporte Clube XV de Novembro de Piracicaba. O presidente era Romeu Italo Ripoli, o responsável por nós era o Pedro Sallun.  Jogávamos na preliminar depois jogava o time principal. Viajamos para outras cidades junto com o time titular. Foi um período em que o Esporte Clube XV de Novembro  estava muito bem classificado. Com 15 anos fiz teste na Associação Portuguesa de Desportos em São Paulo, fui aprovado. Foi até curiosa a circunstância, um amigo, o Aristides, que jogava na Portuguesa, levou o Vanderlei para fazer o teste, meu pai estava dirigindo o veículo, eu fui junto, mais por curiosidade. Acabei entrando em campo na hora de fazer o teste, fui aprovado enquanto meu companheiro foi barrado, não pelo futebol, mas pela idade. Na semana seguinte voltamos Aristides, Vanderlei e eu, sendo que o Aristides que tinha 18 anos permaneceu em São Paulo, o Vanderlei com 16 e eu com 15  ficamos retidos na rodoviária pelo fato de termos menos de 18 anos e não estarmos acompanhados de um adulto. Por sorte, encontramos a Da. Lurdinha Vicente, esposa de Vicente Borsatto, ela perguntou o que estava acontecendo. Expliquei. Ela assumiu a responsabilidade sobre nós perante o juizado de menores, assim voltamos. Meu pai e Romeu Gardim tinham ido nos buscar. Isso foi por volta de 1976.  Fiz também teste no Guarani Futebol Clube, passei. Por um ano treinei no Juvenil do XV de Novembro.

Seus estudos foram feitos em Rio das Pedras?

O primário eu estudei no Barão de Serra Negra, o ginásio na Escola Estadual Professor Manoel Costa Neves depois fui estudar contabilidade na Escola Municipal Contador Waldomiro Domingos Justolim, conhecida popularmente como Escola de Comércio. Na época o Zicão era o diretor, tinha os professores Genival, Avelino.

Na época qual era a atividade profissional dos seus pais?

Meu pai tinha um bar e mercearia, que depois passou para mini-mercado. Ficava na Rua Prudente de Moraes, 825. O começo de tudo foi no final da Rua Prudente de Moraes, onde hoje é a rotatória. Do lado direito de onde hoje há um posto de gasolina era o Bar do Gustão Scarassatti, pai do Anésio, do Mário. Ao lado tinha outro bar de propriedade dos irmãos Tota e Quinca, Meu pai transferiu de um lado para outro, depois passamos para um prédio próprio, na Rua Prudente de Moraes mesmo, mais acima um pouco. O Sr. Bussolotti fez um empréstimo ao meu pai que acabou construindo um pequeno barracão. Isso foi por volta de 1970. Em 1980 adquirimos do Comendador Oswaldo Miori o supermercado situado na Rua Pudente de Moraes.

Com quantos anos você começou a ajudar os seus pais?

Com 12 ou 13 anos, no bar e mercearia. A pessoa vinha com a listinha de compras, nós pegávamos a mercadoria e entregava ao cliente. As entregas eram feitas pelo meu pai com uma perua Kombi, de vez em quando eu ia junto também. A Kombi era a condução da família nos momentos de lazer. Na frente iam meus pais e atrás os cinco filhos!

Após deixar o XV de Novembro você continuou jogando?
                                          ASSOCIAÇÃO ATLÉTICA RIOPEDRENSE

Comecei a brincar na Associação Atlética Riopedrense, da Terceira Divisão. Sempre joguei como meia-direita, sempre com a camisa 8. Fiquei um ano, depois o time perdeu a vaga.  Joguei na época em que o presidente era Antenor Soave e o Toninho Bassa era o técnico. Vieram umas normas da Federação Paulista de Futebol, que era necessário construir uma arquibancada para 3.000 pessoas. O time ficou um ano sem disputar o campeonato. A proposta era de ser feita a arquibancada nesse ano, o que não aconteceu e a Riopedrense parou de disputar.

O jovem em Rio das Pedras tem recebido incentivo para praticar esportes?

A situação dos jovens é digna de tristeza. A falta de interesse por qualquer tipo de esporte por parte de alguns mandatários anulou a participação do jovem em atividades esportivas. Já tivemos períodos de intensa atividade esportiva, como na época de Geraldo Bianchin, havia campeonatos, era completamente diferente.

A seu ver qual é a importância da prática de esportes?

Como disse no início, a maior parte das amizades que tenho fiz por intermédio do futebol. Quem gosta de esportes, de futebol, para fazer amizade com outra pessoa que faz a mesma coisa é a coisa mais simples, a gente fala a mesma lingua. Conhece o carater da pessoa mais fácil ainda. Quem pratica esporte só tem a ganhar, quem pratica por algum tempo dificilmente extravia sua conduta. Isso é fato!

As autoridades constituidas, em todos os níveis, federal, estadual, municipal, deveriam incentivar mais a prática de esportes de uma forma geral?

Nós vemos em entrevistas concedidas por atletas o pouco caso com relação a pratica de esportes. Aqui em Rio das Pedras tem um atleta que pratica corrida, o Mazaia, ele se inscreveu em uma corrida em Santos, ele necessitava de um patrocínio de R$ 400,00, a prefeitura da cidade não tinha essa verba. Infelizmente isso ocorre tanto no esporte profissional como no amador na natação, futebol, volei. É só dizer que necessita de patrocínio e não encontra nenhum tipo de incentivo. A única coisa que ainda está em pé em Rio das Pedras é o Clube de Campo, o Banhara que fez, o Comendador Oswaldo Miori é que estava dando-lhe suporte, isso faz 50 anos ou mais. Em 2003 conseguimos fazer o Clube dos Veteranos, o time de futebol iniciciou-se em 1989.

Como surgiu o Clube dos Veteranos?

Quando fiz 30 anos convidaram-me para disputar um campeonato em Cerquilho, jogando pela Meias Selene. O Carlos Hansen, foi talvez o único profissional que sobressaiu na cidade, que jogou no Comercial Futebol Clube de Ribeirão Preto, por sete anos. No caminho pensei em montar um time de veteranos, o Carlos Hansen disse que ajudava.  Escolhi 17 pessoas, não necessáriamente bons jogadores de futebol. O primeiro jogo que fizemos foi em 1989 em Saltinho. Para nós jogar futebol é um pretexto, o gostoso é após o jogo, sentar, bater um papo, criar um ambiente descontraido. Comecei por brincadeira e deu certo. De 1989 até 2002 jogávamos na região, Iamos com vários carros, quando iam muitas pessoas alugávamos onibus.

Que cor era o uniforme?

O primeiro uniforme nosso já existe a 25 anos, está intacto, a camisa nas cores azul, vermelha e branca, cores da bandeira de Rio das Pedras. Até hoje as pessoas que ingressam no time vestem essa camisa e tiram uma fotografia uniformizado.

Você tem um carinho muito especial pelo clube.

Já passaram 63 pessoas pelo clube, jogando bola.

Você tem todas as estatísticas do clube?

Tenho tudo. Desde o primeiro jogo. Quem marcou, quem jogou. Qantos jogos fizemos, quanto tempo o jogador permaneceu. Quantas presenças a pessoa teve. Estou fazendo uma revista onde estou contando a história de cada um.

Isso é uma característica da sua formação como contabilista?

Pode até ser. Mas eu acho que é mais porque gosto. Acho que nunca ninguém fez isso. O profissional tem esses dados porque está documentado em televisão, ou em outra mídia. Agora ter o capricho de pegar um caderninho e marcar o dia do jogo, quem veio jogar, quem jogou, quem marcou gol, digo: é muito dificil encontrar quem faça.

Você é o Rocha Neto (Maior documentarista de esportes de todos os tempos)de Rio das Pedras?

Mais ou menos! Um fato que considero marcante é o de um atleta que sempre saiu vencedor em um esporte de competição individual. Um dia encontrei-o completamente alcoolizado, sem forças para ficar em pé. Conversei rapidamente com ele. Aos poucos ele passou a freqüentar o Clube dos Veteranos. Sentiu-se valorizado. Hoje é um grande companheiro. Essa é uma das historinhas que marcaram.

Qual é a faixa etária dos freqüentadores do Clube dos Veteranos?

O mais novo é o Fernando, está com 29 anos. A norma é ter no mínimo 30 anos para ingressar no clube. Com mais idade, que está jogando, é o Nico Padovese, com 66 anos. Se deixar ele joga o primeiro e o segundo tempo de jogo. A regra é jogar meio tempo cada um, para dar a oportunidade de todos jogarem. O João Morales (João Pitoco), também tem 66 anos e joga só que é 5 meses mais novo do que o Nico Padovese. São pessoas privilegiadas. O meu sonho era também estar jogando até hoje, consegui jogar até os 50 anos, o meu joelho me obrigou a parar.

A que horas começa o jogo?

Aos sábados às três horas da tarde o pessoal começa a chegar normalmente o jogo inicia-se três e meia, quatro horas. São dois tempos de 40 minutos cada um. Após o jogo o pessoal toma uma cervejinha, come um petisco, brincam, conversam. Lá pelas sete e meia da noite o pessoal começa a ir embora.

Em que dia você se casou?

Foi em 18 de setembro de 1988

Como sua esposa vê essa sua dedicação ao Clube dos Veteranos?

Fui um privilegiado. Ela gosta de atletismo, apóia, é companheira mesmo. Vamos fazer 26 anos de casados, nunca discutimos.

Seu filho gosta de futebol?

Gosta, o que o meu pai fez para mim eu fiz para ele. Ele ficou até mais tempo do que eu no Esporte Clube XV de Novembro de Piracicaba. Ficou de dois a três anos, saiu, fez um teste no Noroeste de Bauru, passou no teste, ficou por lá. Quando ia começar o campeonato ele parou e veio trabalhar comigo.

Qual é a área total do Clube dos Veteranos?

São 62.000 metros quadrados. Dividimos em 22 chácaras, entre os 22 jogadores do time, cada um na época adquiriu uma chácara para ele. Acredito que seja algo inédito, um condomínio de 22 amigos. O engenheiro Walmir Marcelo que também fazia parte do time fez a divisão.

Se alguém quiser adquirir um terreno lá, como funciona?

O interessado em vender informa ao conselho do clube. Se ninguém do Clube dos Veteranos quiser, passa a prioridade de venda ao Master.

O que é Master?

É outro time que criei que joga aos domingos, já faz seis anos. Os Veteranos jogam com times convidados. O Master só joga entre eles. Camisa vermelha contra camisa branca. Hoje tem 65 participantes do Master, aos quais dedico o domingo. São dois jogos, acima de 50 anos é uma turma, abaixo de 50 anos é outra turma que joga. Ao todo somando os participantes dos Veteranos e do Master são cerca de 100 pessoas. O jogo começa às oito e meia da manhã para o pessoal com mais de 50 anos, das dez horas em diante o pessoal com menos de 50 anos. Hoje no Master tem o Samuca que está jogando futebol todos os domingos aos 73 anos. O Master joga 35 minutos cada tempo. Muitos fui convidando, eles diziam “- Eh Pedro! Você está louco! Faz 10 anos que parei de jogar futebol, hoje tenho 50 anos!”. Eu dizia “- Começa devagarzinho! Deixa a mulher um pouco sossegada em casa!”.  Hoje tem fila com 10 pessoas esperando uma vaga para poder participar do clube. Tem um médico, Dr. Renan, que joga e faz plantão.

Infelizmente existem alguns pseudo-atletas que usam uma partida de futebol como pretexto para se excederem na bebida na confraternização após a partida. Como você controla isso com um número tão grande de pessoas?

A base de tudo é o respeito. Sinto-me muito respeitado. Acredito que isso seja um dom. Convidar alguém para participar é fantástico. Convidar alguém para se retirar é muito difícil. Infelizmente passei duas vezes por isso. Teve um caso em que a pessoa era muito polêmica, achava que todos estavam contra ele. Eu tentei ajudá-lo, lapidar, não é assim fulano. Isso durou três anos. Chegou a um ponto em que não tinha mais o que fazer, fizemos uma cartinha de dispensa. Outro caso no primeiro dia em que ele foi ao clube já discutiu com um sócio. Tentamos mais algumas vezes, mas ele sempre acabava discutindo com alguém, ao que parece alguns não simpatizavam com ele. Até que fui obrigado a dizer-lhe que parasse de freqüentar por algum tempo. Foi muito difícil dizer-lhe isso.

Vocês jogam boche?

As sextas-feiras uns 10 ou 12 sócios se reúnem, fazem um jantar e jogam boche. Eu tinha 3 anos, meu pai tinha a cancha de boche, e de tempo em tempo é passado o rodo para nivelar a cancha, eu sentava em cima do rodo enquanto meu pai puxava! Essa convivência com o boche é desde a infância. Posso afirmar que jogo bem a ponto, e mesmo atirando a bola. Para conviver com outras pessoas tem que ter autocontrole. Cada jogo é uma história. Antes de jogar costumamos rezar. Aos que vão para somar a porta sempre estará aberta. Os que imaginam em dividir não serão bem vindos. É nossa palavra de ordem. O respeito é o alicerce, nossa base. Estamos sempre lapidando.

A seqüência de quem ingressa é jogar futebol no Clube dos Veteranos, com mais idade passa para o Master e com o passar do tempo passa a jogar boche.

Seria isso mesmo! Hoje o Veteranos está completo, com 22 jogadores, se necessitar de um jogador os 22 escolhem um nome para colocar dentro do clube. O Conselho recebe o nome dessas pessoas e é feita a votação. Não é importante apenas que o atleta seja bom de bola, ele deve vir para somar com suas qualidades pessoais. A confraternização após o jogo torna o evento importante para todos.

É um lugar onde encontramos tranqüilidade, diversão sadia. Em dia de jogo quem quiser conhecer o Clube dos Veteranos é só dirigir-se até lá. Fica a dois quilômetros da Praça da Matriz. Dá para ir caminhando.

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