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domingo, outubro 26, 2014
sexta-feira, outubro 24, 2014
CYRILLO BALESTERO
PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E
MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 25 outubro de 2014.
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 25 outubro de 2014.
Entrevista: Publicada aos sábados
no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
Cyrillo Balestero nasceu a 9 de
setembro de 1929, no Bairro Monte Alegre, filho de Miguel Balestero e Alzira Della Valle Balestero que tiveram
quatro filhos: Inês, Pedro, Cyrillo e
Ernesto.
A atividade do pai do senhor qual era?
Ele trabalhava na seção de mecânica , na Usina Monte
Alegre, na época de propriedade de Pedro Morganti.
O senhor estudou inicialmente em que escola?
Estudei no Grupo Escolar Marquês de Monte Alegre.Lá
estudei do primeiro ao quarto ano, minha primeira professora foi Da. Lavínia
Tricânico, com ela estudei o primeiro ano os outros três anos tive como
professora Dona Rafaelina. No Bairro Monte Alegre tinha vários núcleos de
moradores, o nome do lugar em que eu morava era Córrego da Onça, era uma
colônia, com umas dez casas, existe até hoje só que com o nome de Colônia Marco
Ometto. Terminei o quarto ano de grupo escolar com onze anos. Naquele tempo não
era como hoje que é proibido trabalhar com
essa idade. Tinha que trabalhar para conseguir comer. Os pais eram pobres. Com
11 anos fui cortar cana-de-açucar, era um ganho irrisório mas ajudava, nesse
serviço trabalhei até os quatorze anos, idade em que entrei na seção de
mecânica.
A que horas começava o corte de cana?
Lá pelas sete horas da manhã,
levava o almoço em uma marmita, ia sempre a pé, eu ia cortar sempre por perto,
quando era muito distante o proprietário da cana levava-nos na carroça. Naquela
época usava-se muito a alpargatas roda, um calçado feito de lona com solado em
corda. A minha mãe costurava todas as nossas roupas, ela era costureira de mão
cheia, dava aulas de costura em casa. Voltava lá pelas quatro e meia, cinco
horas da tarde. Tomava um banho, na época não havia chuveiro, era banho de
bacia, colocava a bacia no quarto e tomava banho lá. A água nós íamos buscar em um tanque que
ficava em frente de casa, distante uns cinqüenta metros, tinha uma lagoa, ia
buscar água lá. Bebíamos aquela água só que antes era filtrada em um pote de
barro. As brincadeiras de criança na época era jogar pião, jogava bola, com uma
bola feita de meia. A noite ficava embaixo do poste brincando de
esconde-esconde, eram brincadeiras inocentes.
ALPARGATAS RODA
12 MILHÕES DE PARES EM 1951
O senhor lembra-se quantas
pessoas trabalhavam na usina?
Não posso afirmar com absoluta
certeza, mas ouvia dizer que era de 400 a 450 pessoas.
A Usina Monte Alegre tinha uma
linha de trem própria?
O trenzinho da usina puxava cana,
trazia das fazendas onde era plantada. Naquele tempo era Fazenda Santa Rita,
hoje Bairro Santa Rita, Fazenda Taquaral, que é o atual Bairro Taquaral,
Fazenda Varginha, onde hoje é a UNIMEP, Fazenda Santa Isabel, na estrada velha
de quem vai para Tupi. Todas essas áreas
eram onde se plantava cana-de-açúcar. O transporte era feito pelo trenzinho.
A missa era realizada na capela?
Todos os domingos havia missa às
oito horas da manhã, eu fui coroinha. Batia o sino da Capela São Pedro, Alfredo
Volpi já tinha pintado o interior da capela. O pároco da Igreja Bom Jesus,
Monsenhor Martinho Salgot ia celebrar as missas. Quando ele não podia ir era
substituído por um dos três frades que geralmente iam. A missa era em latim, o
celebrante e os coroinhas ficavam de costas para o povo, olhando para o altar
que ficava em frente. Como coroinha usava batina de cor cinza em dias normais e
em dias de festa era usada batina vermelha, sempre com roquete branco. No dia
de São Pedro, nosso patrono, tinha festa o dia todo. A tarde havia procissão.
A missa era celebrada com o celebrante e os coroinhas dando as costas para os fiéis.
Havia a pratica de esportes?
Cheguei a jogar no União Monte Alegre
Futebol Clube, eu não era titular, tempo do Baltazar que depois jogou pelo
Jabaquara e pelo Corinthians.
Qual sua função ao entrar no
setor de mecânica?
Completei 14 anos dia 9 de
setembro, no dia 13 de setembro entrei na mecânica com carteira de trabalho
assinada. Minha função era ajudante de torneiro. Limpava o torno para o
oficial, varria o chão, arrumava as peças, de vez em quando dava uma mexidinha
na máquina, era um torno alemão. O torneiro com quem eu trabalhava era um
senhor muito bom, chamava-se Bernardo Trevisor, mais tarde ele foi chefe da
mecânica da Mausa. Ele fazia questão que eu aprendesse, com isso aprendi mesmo!
Na oficina era feita a manutenção da usina. Tinha muito serviço. O chefe da
oficina era João Bottene, era um
“crânio”, muito inteligente. Foi pioneiro do uso do álcool
combustível no Brasil.
Em 1945 nem se falava em motor a alcool, João Bottene transformou lá no Monte
Alegre, três ou quatro motores da gasolina para o alcool. Do caminhão que
regava as ruas, e no trilho tinha uma peruinha que inspecionava as linhas, o
motor era a gasolina ele transformou para usar alcool. O João Bottene morava no
Monte Alegre na época.
Ele que construía as locomotivas
utilizadas pela usina?
Uma das que ele construiu eu
trabalhei junto, na fabricação da locomotiva. No dia em que foi colocada em uso
a máquina, todo pessoal da oficina ficou em frente, em cima, da locomotiva. Tenho
até hoje a fotografia desse momento histórico. Era a locomotiva número 5, foi
batizada de “Joaninha Morganti”. Meu irmão, mais velho do que eu, gostava muito
de locomotiva, ele viu essa locomotiva em Perus, localidade próxima a São
Paulo, isso foi a uns 7 ou 8 anos, ela estava puxando cimento.
Locomotiva a vapor número 5, "Joaninha Morganti", construída por João Bottene, na fotografia estão todos os funcionários da oficina em cima e em volta dela
Qual era a bitola dela?
A distância entre os dois trilhos
era de 60 centímetros. Era movida a vapor e alimentada por lenha.
Após iniciar como ajudante na
oficina, quantos anos o senhor permaneceu na Usina Monte Alegre?
Fiquei quatro anos, com 18 anos
me aventurei em São Paulo. Minha irmã já morava lá. Um amigo que tinha
trabalhado comigo na oficina já tinha ido para lá. Uma das vezes em que ele
esteve em Monte Alegre, visitando a família, perguntou-me se eu queria ir para
lá. E explicou-me como eram as coisas por lá. Ele acertou tudo para mim,
fui trabalhar na Vila Leopoldina, era na
manutenção de uma tecelagem. Passei a morar na Vila Leopoldina, em um prédio em
que tinha um restaurante embaixo e alugava quartos na parte superior. Quando eu
vinha para Piracicaba vinha de trem pela Companhia Paulista. Após algum tempo,
minha irmã e meu cunhado insistiram para ir morar com eles, tinha serviço bem
próximo ao local onde eles moravam, nos Campos Elíseos, ao lado do convento
Coração de Jesus, na Alameda Dino Bueno. Meu cunhado trabalhava em uma retífica
que ficava embaixo do sobrado em que ele morava. Eu passei a trabalhar em outra
retífica que se situava mais ou menos a uns seis quarteirões dali, era a
Retífica Delgado. Naquele tempo ali havia uma estação de bondes, na Rua
Vitorino Camilo.
Quais motores eram retificados na
época?
Retificavam-se muito motores de
automóveis Dodge, Ford, Chevrolet. Todos de carros importados. Motores de ferro
fundido e pistão de alumínio. Lá também eram fabricadas algumas peças para
diferencial, que eram as peças mais difíceis de serem encontradas. Era uma
retífica com 50 a 60 funcionários. No Monte Alegre eu ganhava dois mil réis por
hora, lá entrei ganhando seis mil réis por hora. Eu não estava acostumado a
ganhar tanto dinheiro assim, cada vez que vinha para casa deixava um
dinheirinho com meus pais. Passado um tempo, um irmão veio trabalhar em
Piracicaba, perguntou-me por que eu não voltava agora a cidade já tinha locais
que ofereciam emprego. Acabei vindo à Piracicaba. Fui trabalhar na Mecânica
Irval, era uma oficina de recuperação de tratores, situava-se na Rua Alferes
José Caetano, a meia quadra abaixo da Estação da Paulista. Não trabalhei ali
por muito tempo, fui trabalhar na Mausa situada na Rua Santa Cruz, junto com
João Bottene, o Bernardo que era o meu professor lá no Monte Alegre era o chefe
da oficina na Mausa. Os proprietários da Mausa eram João Bottene e Dr. Rubens
de Souza Carvalho. Quando entrei ali existia só o barracão do lado debaixo da
Rua Santa Cruz, depois foi aumentando, compraram na frente, ao lado.
Piracicaba era bem menor nessa
época.
As indústrias daqui aram muito
limitadas, havia uma restrição de funcionários de uma empresa não ser bem
aceito em outra empresa, em termo vulgar, as famosas “panelinhas”, grupos
fechados. Quem trabalhava na Mausa não podia entrar no Dedini, quem trabalhava
no Dedini não podia entra na Mausa. Quem trabalhava no Monte Alegre não podia
trabalhar na Mausa. Tinha que trabalhar em outro lugar para depois ser aceito
em uma dessas empresas. Com a expansão das indústrias isso tudo acabou.
Na Mausa em que setor o senhor
trabalhava?
Trabalhava em torno mecânico. A
Mausa fabricava maquinas e peças para usina de açúcar. Turbinas, filtros
rotativos, João Bottene projetava tudo. Ele residia na Rua D.Pedro II a 50
metros da Mausa. Eu entrei na Mausa em 1950 e permaneci lá até 1962. Em 1955 eu
me casei com Oralda Orlandim, naquela época havia o costume de quadrar o
jardim, lá que nos conhecemos, casamos no dia 8 de maio de 1955, na Catedral de
Santo Antônio, estava ainda em construção a catedral nova, mas já estava
funcionando. O padre celebrante foi um primo da minha esposa, Padre Otales
Schimidt, era de Rio Claro, pertencia a ordem dos claretianos.
O senhor sempre foi religioso?
Sempre. Fui vicentino a partir de
1966 quando passei a trabalhar na Paróquia do Bom Jesus. O trabalho do
vicentino é um trabalho no anonimato, fazemos o trabalho, as campanhas, distribui
gêneros alimentícios para as famílias necessitadas. Antes de a família receber
ajuda é feita uma sindicância. Trabalhávamos para elevar o nível da família
necessitada, mas exigia que estivessem trabalhando. Não era para receber a
cesta de alimentos e ficar em casa sem fazer nada. No inicio distribuíamos um
vale íamos a um armazém, uma venda, próxima a casa da família assistida,
acertava com o proprietário, o socorrido iria com o nosso vale, e ele fornecia
as mercadorias até o limite daquele vale. E dava só gêneros de primeira
necessidade.
Quantos socorridos eram
atendidos?
Os vicentinos formam grupos, cada
grupo é chamado de conferência. Na Paróquia do Bom Jesus tinha seis
conferências, seis grupos de vicentinos. Cada conferência recebia o nome de um
santo. A minha era a Conferência São Francisco de Sales. Chegamos a ter 11
membros, assistindo 8 famílias.
De onde surgiam os recursos para
essa ação?
Colaborávamos na medida do
possível. Também pedíamos. No natal fazíamos uma lista e pedíamos dinheiro
mesmo para comprar uma cesta de natal para os pobres. Depois acabou essa ação
de fazer lista e pedíamos os alimentos mesmo.
Quantas unidades de vicentinos
havia em Piracicaba?
Até quando eu estava na ativa
eram 33 conferências. Até hoje em todas as paróquias os vicentinos atuam
ativamente. Ainda na Paróquia Bom Jesus fui Ministro da Eucaristia, por onze
anos, o padre Reinaldo Zaniboni era o pároco. No inicio éramos onze ministros,
depois passamos para quatorze. Isso foi
de 1995 até 2005.
Até 1962 o senhor trabalhou na
Mausa, de lá o senhor foi trabalhar onde?
No SENAI. Prestei concurso no fim
de 1961, fiz os exames teóricos e práticos em São Paulo. Chamaram-me para
trabalhar em São Paulo, eu já era casado, tinha três filhos: Rosany, Miguel e
Maria do Carmo. Depois que veio o André. Não aceitei ir para São Paulo, iria
modificar muito a vida da minha família. Aí ofereceram para trabalhar em Santa
Bárbara D`Oeste. Naquele tempo era Fundação Romi-SENAI. Os funcionários eram do
SENAI e as instalações do Romi. Aceitei. Ia às segundas feiras e voltava as
sexta feiras a noite. Lá eu fazia minhas refeições no Restaurante do Bacchim e
morava em uma espécie de república, tinha mais uns três ou quatro funcionários
que eram de Piracicaba e trabalhavam lá no SENAI de Santa Bárbara. Conheci os
filhos do Comendador Emílio Romi. Isso foi de 1962 a 1965.
Foi na época em que a Romi
fabricava a Romisetta?
Eu vi lá! Não cheguei a dirigir.
Eu trabalhava no prédio onde até hoje é a Fundação Romi, a fábrica da Romisetta
era abaixo, atrás da estação de trem. Um funcionário da Romi fazia o contato
Romi-Escola, ele usava uma Romisetta.
Romisetta
Qual era a função do senhor no
SENAI?
Fui instrutor de torneiro
mecânico. Em maio de 1965 fui transferido para o SENAI de Piracicaba. O Jordão
era o diretor. Conheci João Pires da Rosa, Luiz Alberto Gonçalves Rosa,
Clemente Nelson. Mesmo após ter saído do SENAI dei uns cursos extras lá.
O SENAI era motivo de orgulho
para os piracicabanos?
Era uma escola diferenciada. O
aluno entrava para aprender a trabalhar. O curso durava um ano e meio. Tinha
aulas teóricas e práticas. Naquele tempo o aluno não pagava nada. As indústrias
é que mandavam os alunos para lá, ele já ia empregado.
Em média uma turma tinha quantos
alunos?
Na oficina, na minha seção, tinha
dez tornos cada um com um aluno.
No SENAI só havia alunos do sexo
masculino?
Em Santa Bárbara D`Oeste eu vi
uma aluna, no curso noturno. Ela fez um semestre comigo. Foi a única que vi até
hoje. E era uma boa aluna.
Qual era a carga horária do
aluno?
Entrava as sete e meia, saia as
onze e meia, voltava a uma hora da tarde até as cinco horas. De manhã ficava na
sala de aula, a tarde na oficina. Passava o dia inteiro na escola. No começo
não havia cantina, o aluno trazia o almoço de casa, ou ia almoçar na sua casa.
Depois colocaram cantina.
Quantos professores lecionavam no
SENAI em Piracicaba?
Na seção de torno éramos três, na
seção de ajustagem eram quatro, na seção de mecânica de auto eram dois. Depois
tinha os professores que lecionavam matemática, português, ciência. desenho.
O senhor chegou a projetar
diversos produtos, um deles é uma chocadeira?
A história da chocadeira é
interessante. O professor Salatti um dia apareceu na escola com uma caixinha,
ele sabia que eu era muito interessado no assunto. Antes de entrar no SENAI,
ainda trabalhava na Mausa, conheci o instrutor do SENAI, Seu Ozias, ele morava
perto de casa. Sempre tive uma queda para criação. Ele me disse: “-Cyrillo!
Quer fazer uma chocadeira? Eu ensino!”. Fiz, uma até grande, cabia 220 ovos. O
Salatti devia saber do caso, quando apareceu com aquela chocadeirinha me
chamou. Conversamos. Fiz uma idêntica. Era para 30 ovos.
Como funciona uma chocadeira?
Os ovos são colocados em
bandejas, tem que serem virados três vezes ao do dia, tem que estar com a
temperatura de 38 a 39 graus, umidade controlada de 70 a 80 por cento. Para
chocar um ovo é o mesmo tempo que leva a galinha, 21 dias. Eles nascem
sozinhos, são colocados em uma caixinha com água e ração eles se viram
sozinhos. Naquele tempo meu pai era vivo, ele fazia a caixa, eu fazia a
instalação. Já fiz mais de 200 chocadeiras. Até hoje faço, mais para me
distrair. Já fiz chocadeira para 480 ovos. Já levaram chocadeiras que fabriquei
para o Paraná, Minas Gerais, até em Tocantins.
O senhor aposentou-se quando?
Em 1 de fevereiro de 1978, aos 49
anos. Tinha 35 anos de carteira de trabalho assinada. Meu irmão e eu abrimos
uma oficina, “Retifica de Carcaças Pedrinho”, carcaças são os blocos do motor.
A empresa existe até hoje, meu filho que assumiu. Trabalhei 20 anos junto com
meu irmão. Trabalhávamos para as retificas Consentino, Rezende, São Cristóvão.
Em 2007 eu fiz cirurgias nos joelhos, parei de trabalhar na retífica.
Qual é o segredo de estar com tão
boa disposição como o senhor têm?
Não consigo ficar parado. Tenho
que fazer alguma coisa. Entrei na Conferência Vicentina em 1966, parei no ano
passado. Fiz parte do Conselho da Creche dos Vicentinos, na Rua D.Pedro com a
Rua Visconde de Rio Branco. Fiz parte do grupo que cozinhava nas promoções.
Fazíamos feijoada para 600 marmitex, puchero e de vez em quando jantares.
Quando fazia bingo era galinhada. Eu fiz o cursilho em 1970, em 1978 fui
trabalhar no cursilho. Em dois cursilhos eu trabalhei na sala de aula. Depois
fui para a cozinha. Comecei como ajudante, lavava pratos. Depois passei para
fazer o café, já estava no fogão junto com os cozinheiros. Passei para ajudante
de cozinheiro, em seguida cozinheiro, fui coordenador da cozinha, fazia o
cardápio, calculava quantidades, fazia as compras. Tudo na chácara da diocese
no bairro Nova Suissa. Trabalhei no cursilho por 27 anos. No cursilho tinha o
Hércio Cortozi e o Elpídio Roberti, formamos uma equipe e fomos trabalhar na
Festa das Nações, na barraca italiana. Desde a primeira festa, que foi
realizada no Lar Franciscano de Menores, e lá permaneceu até a décima segunda.
Trabalhei até a décima quarta Festa das Nações. No Engenho trabalhei apenas em
duas festas. Trabalhava para a Creche São Vicente de Paula e para a Creche Ada
Dedini Ometto. Alguns cozinheiros da creche Ada Dedini Ometto assumiram e nós
paramos. Era gostoso, cansativo, mas gostoso.
sexta-feira, outubro 17, 2014
ALFRED ALFONS ALEXANDER POTTAG
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 18 outubro de 2014.
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 18 outubro de 2014.
Entrevista: Publicada aos sábados
no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
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ENTREVISTADO: ALFRED ALFONS ALEXANDER POTTAG
Alfred Alfons Alexander Pottag
nasceu a 27 de fevereiro de 1926, na cidade de Gleiwitz O/S, Alemanha, filho de
Martha Pottag e Fritz Pottag. Hoje ele reside em Piracicaba, do alto dos seus
88 anos conserva uma vitalidade invejável, ao apanhar uma caneta que ia cair
seus movimentos foram rápidos, conserva um forte sotaque, muito sorridente e
solícito, extremamente organizado, mantém documentos que demonstram sua
trajetória pessoal e profissional. Trabalhou no Brasil em uma empresa de origem
alemã, na parede estão dependurados os quadros com muitos certificados
atestando seu excelente desempenho profissional nessa conceituada empresa. Sua
trajetória de vida é exemplar, mesmo em condições mais adversas possíveis. Atualmente Gliwice (em alemão
Gleiwitz) é uma cidade no sul da Polônia. Após o fim da
Primeira Guerra Mundial ocorreram confrontos entre alemães e poloneses por
questões de territórios. Habitantes etnicamente poloneses queriam incorporar a
cidade de Gleiwitz. Houve resistência por parte da população etnicamente alemã.
A Liga das Nações realizou um plebiscito em 20 de março de 1921 sendo que 78
por cento da população votou pela sua permanência como integrante da Alemanha. Quando
o território era parte da Alemanha, em Gleiwitz foi erguida
uma torre de rádio em madeira, existente até hoje e é a mais alta estrutura em
madeira da Europa. Têm 118 metros de altura, uma escada de 365 degraus dá
acesso ao topo. A 31 de agosto de 1939 ocorreu o famoso Incidente Gleiwitz, a
invasão da rádio por um grupo de pessoas usando uniformes poloneses apoderou-se
da estação de rádio de Gleiwitz para transmitir em polonês uma mensagem
anti-germânica. No dia seguinte, a 01 de setembro de 1939, a Alemanha invadiu a
Polônia iniciando a Segunda Guerra Mundial. Alfred Alfons Alexander Pottag
então com 13 anos, morava em Gleiwitz, centro do teatro de operações. A casa em
que residia permanece no mesmo estado em que se encontrava na ocasião, sendo
que nesse período foi totalmente conservada pelos proprietários, sem alterar as
características originais.
O senhor estudou na Alemanha?
Estudei na Mittelschule, termo em
alemão literalmente traduzido para nível intermediário entre ensino fundamental
e ensino superior, utilizado nos sistemas de ensino das diferentes partes da
Europa de língua alemã, isso foi em 1941. A profissionalização concluí em 5 de
maio de 1944, como técnico mecânico. A 15 de maio fui convocado pela marinha
alemã para ir para a França. Em janeiro embarquei no navio Julius Rütger, era
um navio tanque, eu tinha feito o curso de telegrafista na marinha, trabalhei
nessa função. Depois embarquei no Gazella. Embarquei na Flotilha Hella DGO 29.
Como era a bordo?
Passamos por
muitas batalhas, sempre sendo bombardeados, por aviões, navios.
O senhor teve algum ferimento nessas
batalhas?
Felizmente não. Meu posto era na
sala de telegrafia.
Como era a alimentação dentro do navio?
Normal. Tinha um cozinheiro que
preparava a comida. Todos os alimentos eram enlatados. Isso foi muito ruim,
quase tive escorbuto, doença que surge como conseqüência da falta
extrema de vitamina C no organismo. O médico trouxe-me pomada a base de limão
para higienizar e passar na gengiva. Havia muito peixe, defumado.
Quantas horas dormia-se por dia?
A cada quatro horas havia
revezamento. O telegrafista tinha que mandar e receber mensagens em código.
(Criptografia- Enigma é o nome
por que é conhecida uma máquina
electro-mecânica de criptografia com rotores, utilizada tanto para criptografar
como para descriptografar mensagens secretas, usadas em várias formas na Europa a partir dos anos 1920. A sua fama vem de ter sido adaptada pela
maior parte das forças militares alemãs
a partir de cerca de 1930).
Quando descia no porto qual era o melhor
local para abrigar-se?
Escondíamos na floresta. Os
russos sempre vinham na hora certa. Às oito horas da manhã já vinham os aviões
bombardeando. Já ouvia o motor dos aviões que estavam chegando. O navio tinha a
defesa antiaérea. As flotilhas tinham metralhadoras, canhões.
Quanto tempo durou a participação do senhor
na Segunda Guerra?
Foram alguns meses, os russos
chegaram muito rápido. Sempre fugíamos antes de eles chegarem. Quando os navios
estavam no porto os russos vinham atacar com seus aviões, às oito horas da
manhã, ao meio dia, às quatro horas e às seis horas da tarde, eram quatro
ataques sempre na mesma hora. Antes de chegarem os bombardeiros já fugíamos. Em
8 de maio de 1945 acabou a Segunda Grande Guerra. A capitulação foi propalada à
todo mundo, ao meio dia tinha acabado a guerra. Após o meio dia viriam os
russos, teríamos que entregar tudo para eles. O comandante do nosso navio
disse-nos que às oito horas da noite iríamos fugir, no meio daquela confusão
toda. Voltamos para a Alemanha. Encontramos com militares da Suécia, iríamos
nos rendermos a eles. Perguntaram se tínhamos algum ferido, dissemos que não.
Perguntaram se tínhamos combustível para continuar, dissemos que tínhamos, eles
então não nos deixaram aportar. Foi bom. Bem depois eu ouvi falar que os
soldados da Suécia, da Noruega, mandavam os que se rendiam para os russos e os
russos mandavam os prisioneiros para a Sibéria! Continuamos a viagem, até o
ponto em que perguntei a outro marinheiro se sabia onde estávamos, ele disse-me
que conhecia aquele local, era a Ilha de Rügen, Alemanha. Era 13 de maio de
1945, viajamos a noite, foram cinco noites. Nosso navio era o DGO-29.
Permanecemos no porto, até que veio uma patrulha mista, alemães e ingleses,
perguntaram quem erramos, respondemos que éramos marinheiros. Permanecemos
algumas semanas, fomos até Franzburg, voltamos.
Os ingleses estavam comandando a operação
naquela área?
O comandante inglês, junto com
seus oficiais, nos separou por idade, acima de 25 anos para um lado, com menos
para outro lado. Ele perguntou quais eram as funções em que cada um era
especialista. Telegrafista, mecânico, especialista em minas, fui trabalhar uns
dias em um navio inglês, em agosto de 1945 veio um navio chamado Tanga, com 20
ingleses, sendo 2 oficiais, 2 russos, 1 telegrafista russo, foram pegar
pequenas flotilhas, passar para eles, todos os navios eram levados para os
russos, fizemos isso umas cinco ou seis vezes, levar navios para os russos,
inclusive entregamos um navio chamado “Pátria”. Estávamos na condição de
prisioneiros. Os ingleses nos deixaram com os holandeses, para tirar a minas
deles.
Como eram retiradas as minas no mar?
Os
holandeses tinham cinco ou seis flotilhas, sempre com patrulha holandesa.
Quando via as minas, deixavam que fizéssemos o trabalho perigoso para eles. Dá para
ver onde está a mina. Normalmente a mina é ancorada num lugar pré-determinado, ficando flutuando
sob a superfície e na altura determinada por um cabo ligado a uma espécie
de ancora, quando cortado o cabo a mina
subia. Para cortar o cabo eram passados um navio a cada lado do cabo, a mina
subia e aflorava a superfície. Passava três vezes pelo cabo em um sentido, e
mais três vezes no sentido perpendicular ao sentido anterior. Assim cortava o cabo. Esse cabo que passavamos
era como uma serra de metal. A artilharia holandesa então atirava e explodia
a mina, desativando-a.
O senhor está vivo por ter muita sorte, esse é um serviço perigoso!
Eu nunca fiz esse desarme, ficava no navio Tanga que acompanha as
operações! Tiramos minas até chegar a Roterdan.
Quando o senhor deixou de ser prisioneiro de guerra?
No começo de dezembro de 1945, subinhos em caminhões que iriam nos levar em
campos de prisioneiros. Inclusive tenho uma marca proxima ao olho, isso foi uma
passagem que nunca me esqueci. Um coronel inglês, muito altivo, com um bastão
sob o braço, deu ordem de comando em inglês, de forma enérgica, muito rápido,
não compreendi imediatamente, ele perguntou-me de forma mais energica alguma
coisa que não entendi. De alguma forma entendi que ele queria que em consideração
a sua autoridade batesse a continência para ele. Imediatamente obedeci, e fiz o
sinal de continência a que estava acostumado no exército...alemão!
Imediatamente ele bateu com o bastão em meu rosto, muito próximo ao olho,
deixando a marca que tenho até hoje.
Nesse período é que o senhor foi libertado?
Só que antes de tudo fizeram
avaliações médicas, tudo anotado em uma caderneta, as injeções e vacinas que
eram dadas. Cada folha era analisada, passava por várias mãos de analistas do
exército inglês. Era feita uma autentica classificação e análise do soldado
prisioneiro. Incluindo fotografia, impressão digital. Alfred busca em seus
arquivos a ficha original e exibe com satisfação, dá para sentir o prazer da
perfeita ordem e disciplina germânica, que zelou por seus documentos todas
essas décadas, no mais perfeito estado de conservação. Na Alemanha cada família tem uma caderneta, em
capa dura, com o símbolo do Estado Alemão onde são registrados os eventos
importantes, desde o casamento, nascimento dos filhos, com toda a relação de
ascendentes e descendentes diretos. È uma cópia dos documentos arquivados na
prefeitura da localidade aonde a pessoa reside.
O senhor casou-se?
Casei-me com Anna Paula Pottag,
na Alemanha, tivemos três filhos: Carmen, Ralf Siegfried e Fred Wolfgang. Em
1960 cheguei ao Brasil. Trabalhei sempre na Bosch, a Bosch
inventou e produziu o primeiro aquecedor do mundo, sendo a pioneira neste
mercado. Os Aquecedores a Gás de
Água Bosch Junkers.
Existiam várias fábricas e divisões, mas todas com a marca Bosch.
Quanto tempo o senhor trabalhou na Bosch?
Foram
quarenta anos.
O senhor voltou a passeio a atual Gliwice, hoje território polonês, (em alemão Gleiwitz)
Em 2005 fiz uma viagem com meu filho pela
Alemanha, fui visitar a casa onde nasci o local onde foi a prefeitura, a
estação de trem, a universidade, a escola onde estudei, ao lado, o jardim biológico
com dois leões de pedra na entrada, a maior torre de rádio em madeira da
Europa, com décadas de existência. Há uma placa onde marca o dia da entrada da
Alemanha na Polônia, foi quando se iniciou a Segunda Grande Guerra Mundial a 31
de agosto de 1939. Alfred mostra a fotografia de uma estrutura em vidro e
alumínio que compõem um edifício, construída quando ele morava em Gleiwitz. Nesta igreja (ele mostra a fotografia tirada em 2005), onde fui
batizado, recebi a primeira comunhão. Conversei com o padre, que embora seja
polonês fala alemão, fiquei impressionado que bastou dar a data do meu
nascimento e ele imediatamente localizou o documento do meu batizado. Todos os
meus dados estão anotados, filiação, ascendentes. Ele fez uma cópia, só que
traduzimos em português. Encontrei meu cunhado, ele tinha voltado em 1959 para
a Alemanha, ele foi escravo dos russos até 1959. O pai dele fez a opção de ser cidadão
polonês. Almoçamos, juntos com mais parentes e amigos na casa dele. Todos
optaram pela nacionalidade polonesa.
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