Copyright © 2000 by João U. Nassif. Direitos reservados na forma da lei. Nenhuma parte pode ser reproduzida, arquivada ou transmitida sem a permissão expressa e por escrito do Organizador. Lei 9.610 de 19/02/1998. Direito de uso privado, e não coletivo,com fins de apresentação sobre tela único e individual A violação destas disposições submete ao infrator, e a toda pessoa responsável, às penas civis e penais previstas pela lei. Contato:joaonassif@gmail.com
sábado, agosto 24, 2024
domingo, junho 30, 2024
sexta-feira, junho 21, 2024
HOMENAGEM POSTUMA AO AMIGO,
Francisco de Assis Ferraz de Mello
Todo mundo me quer bem”
em 02/05/2010
O entrevistado do jornalista João
Umberto Nassif de hoje é o professor Francisco
de Assis Ferraz de Mello, que conta um pouco sobre sua memória na Esalq e da
Piracicaba antiga.
Francisco de Assis Ferraz de Mello
Todo mundo me quer bem”
em 02/05/2010
O entrevistado do jornalista João
Umberto Nassif de hoje é o professor Francisco
de Assis Ferraz de Mello, que conta um pouco sobre sua memória na Esalq e da
Piracicaba antiga.
Foto: Daniel Damasceno - Professor Francisco de Assis Ferraz de Mello: “Sou
normalmente chamado por Chico”
Francisco de Assis Ferraz de Mello conserva a alma de um menino. Nascido em
Piracicaba em 31 de maio de 1928, estará completando 82 anos de idade no
próximo dia 31. Com seu jeito simples, sem o deslumbre dos que conquistam seu
lugar ao sol, Chico Mello, como é carinhosamente chamado pela maioria de seus
amigos, ilustra muito bem o poder da vontade e determinação do ser humano. É a
testemunha viva da evolução de Piracicaba, desde os tempos em que a Avenida
Carlos Botelho era apenas uma via em terra nua, cortando as chácaras existentes
onde hoje é uma área nobre de Piracicaba. A Esalq ficava “afastada” da cidade.
O calouro Chico Mello, para fugir dos trotes dados pelos veteranos, muitas
vezes “cortou caminho” pelas chácaras existentes até chegar à sua casa próxima
ao Rio Piracicaba. Duas presenças constantes em sua vida são o Rio Piracicaba e
a Esalq. Em sua casa hospedou por muitos anos Felix do Amaral Mello Bonilha, o
folclórico Nhô Lica. Chico Mello é professor titular aposentado pela Esalq,
escritor, poeta, diretor do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba,
membro da Academia Piracicabana de Letras cujo patrono é Nelson Camponês do
Brasil, do Clube dos Escritores. Uma característica muito própria de Chico
Mello é ver sempre o lado positivo do ser humano, ele não se deixa levar pelos
rótulos dados a determinada pessoa. O alcance da sua visão vai além, prefere
ver as boas qualidades do indivíduo, de uma forma extremamente natural,
equilibrada.
Quantos filhos seus pais
tiveram?
Meus pais Alcindo Almeida Mello
e Zoraide Ferraz de Mello tiveram seis filhos, eu sou o segundo filho. O mais
velho é o Dirceu, eu, Oroty, Ibraim, conhecido na cidade como Susso, Zenaide e
Alfredo José. Meu pai era funcionário público estadual, trabalhava como Fiscal
de Algodão. Ele visitava as áreas de cultivo de algodão, fiscalizava as
fabricas que descaroçavam, desfibravam o algodão, na época havia diversas em
Piracicaba. Ele era muito brincalhão, tinha um bom coração.
Você tem apelido?
Sou normalmente chamado por Chico. Quando criança tinha o apelido de Nacho.
Seus estudos foram feitos onde?
Estudei no Grupo Escolar Moraes Barros, fiz parte do ginásio no Externato São
José, que funcionava no prédio onde mais tarde funcionou a Faculdade de
Odontologia, outra parte do ginásio eu estudei no Colégio Piracicabano. Na
Escola Normal Oficial, hoje Sud Mennucci, estudei o colegial.
Você foi aluno do Frei Paulo de Sorocaba?
Fui aluno de desenho, não cheguei a pintar. Isso foi em 1940. Nós íamos ao
Seminário Seráfico São Fidélis.
Qual era a sua forma de lazer?
Era o lazer da criançada pobre.
Nunca viajei, jogava bolinha de vidro, virava pião, jogava futebol, tinha nosso
timinho, era o Infantil Brasil. Não tínhamos uniforme, nem chuteiras. Apenas a
bola! Jogávamos perto da cadeia, hoje Primeiro Distrito Policial. Em frente à
cadeia moravam os soldados, os carcereiros. Eu morava ali, na esquina da Rua
Vergueiro com a Rua São José. Apesar de reformada, a casa existe até hoje. Meu
pai gostava de pescar. A minha infância passei junto ao Rio Piracicaba. Pescava
no Vai-E-Vem, trecho do Rio Piracicaba entre a Rua São José e a Treze de Maio,
uma extensão de uns duzentos metros, lá havia um bosque, que deu lugar a
avenida.
Você nadava no Rio Piracicaba?
Não, meu pai nunca deixou. Duas coisas que nunca fiz na minha infância: andar
de bicicleta e nadar. Já adulto, comprei bicicleta para meus filhos, foi quando
aprendi a andar de bicicleta!
Vocês observavam a chegada de
presos pela polícia?
O soldado descia a pé com a pessoa que estava sendo presa, e eu não me recordo
de ter visto algum preso chegando algemado, eles acompanhavam a autoridade sem
rebeldia.
Aos 22 anos de idade, estudante
da Esalq, você passou a ser arrimo de família?
Minha mãe teve que assumir sozinha a responsabilidade de criar os filhos, só
que por motivos de saúde ela tinha muitas limitações. Eu não tinha nem trajes
apresentáveis para ir à escola. Não tinha o material necessário para estudar,
nem mesmo o básico exigido. Um professor de matemática vinha de São Paulo para
lecionar na Esalq, exigia que os alunos usassem paletó e gravata, além de
possuírem instrumentos como régua, esquadro, compasso, compatíveis com seu
nível de ensino. Eu possuía esquadro, compasso, iguais aos utilizados nas
escolas primárias, de pouca precisão. Fui proibido por ele de frequentar as
suas aulas, quer pela minha vestimenta, quer pela falta de material adequado
para acompanhar as suas aulas. Na época não havia a obrigatoriedade de frequentar
as aulas. Eu realizei as provas desse professor, passei conquistando as notas
necessárias, a nota média como dizíamos, sem ter que prestar os exames finais.
Algumas pessoas da Esalq
perceberam suas dificuldades e o ajudaram?
Um dia eu estava descendo do bonde na Esalq, um dos diretores do Centro
Acadêmico, conhecido como Maia, disse-me: “Chico, o Centro Acadêmico vai dar
uma bolsa de quinhentos cruzeiros por mês, se inscreva, mande uma cartinha que
você ganha a bolsa”. Acho que eles já tinham conversado a respeito, meus
colegas sabiam das minhas dificuldades. Ganhei a bolsa! É o que eu falo de vez
em quando, o pessoal participa de concurso de beleza, concurso disso, daquilo.
Eu entrei em concurso de pobreza e ganhei! Mais tarde Louis Clement, Diretor
Presidente da Fabrica Arethuzina Boyes me deu uma bolsa, já de mil cruzeiros.
Fui até o Centro Acadêmico e comuniquei que havia ganhado outra bolsa, passando
a que eu recebia para alguém mais necessitado. Com a bolsa de estudo vivíamos
eu e a minha família, na época meu irmão Susso já trabalhava. Em períodos de
exames eu reunia a minha roupa e praticamente morava por 15 a 20 dias em um dos
dois apartamentos situados no fundo da garagem, onde era a casa do diretor da
Esalq. José de Mello Moraes, o Melinho, que foi diretor da Esalq por 25 anos.
Eu era muito amigo do seu filho, José de Mello Moraes Filho.
Em que ano você formou-se?
Foi em 1953. O próprio Melinho, através do seu filho, me convidou para
trabalhar com ele. Fui trabalhar no departamento de Química Agrícola, que
funcionava no prédio existente até hoje. Isso foi em 1954. Ali fiz doutorado,
livre docência. A Universidade se reestruturou, havia muitas cadeiras afins,
que foram agrupadas, formando os departamentos existentes atualmente. Passamos
a integrar o Departamento de Solos e Geologia, o primeiro chefe foi Eduardo
Salgado, depois foi Guido Ranzanni. Em seguida Moacir Camponês foi o chefe do
departamento, em seguida eu assumi a chefia, em seguida veio André Martin Louis
Neptune, nascido no Haiti.
Você é religioso?
Não sigo nenhuma religião. Minha mãe era católica, meu pai era espírita.
Qual é o seu sentimento com
relação a Esalq?
Tenho uma profunda gratidão, foi onde tive a possibilidade de estudar, e eu
sempre gostei de estudar.
Quais são os seus títulos na
escola?
Todos da carreira universitária: doutorado, livre docência, que é o concurso
mais difícil da universidade, são três a quatro dias de provas. Enquanto você é
doutor não pode dar aulas teóricas, apenas aulas práticas. O professor livre
docente pode dar aulas teóricas. Não é todo mundo que gosta de dar aulas
teóricas. O professor que é livre docente adquire a independência para
pesquisa, sem tutela. Fui catedrático substituto. Cheguei à posição de
professor titular. Os cargos de diretor de escola, reitor, envolvem fatores
diversos, que vão além da carreira de professor. Tem que ter vocação especial
para ocupar essas posições.
Você gosta de poesias?
Gosto muito. Tenho três livros de poesias publicados. Depois que me aposentei
publiquei sete livros.
Quem era Nhô Lica?
Sei que ele era parente do meu pai, não sei precisar em que grau de parentesco.
Minha mãe contava que três meses após ela e meu pai casarem-se, Nhô Lica
apareceu em casa. Sentou, começou a bater um papo, como ele não ia embora
arrumaram um lugarzinho para ele ficar, nunca mais ele saiu de casa!
Como era a convivência com o Nhô
Lica?
Ele conversava bem, só que os assuntos dele giravam em torno de pedras
preciosas, diamantes, às vezes ele falava trechos em francês.
Esse comportamento dele é fruto de alguma desilusão?
Eu acho que ele nasceu assim. Tem algumas teorias. Recentemente me contaram uma
delas, que ele tinha algum dinheiro, um viajante chegou a cidade, fez amizade
com ele, e disse-lhe: “Você me dá esse seu dinheiro, vou para Minas Gerais e
vou comprar pedras preciosas, trago, vendemos e ficaremos ricos”. Nhô Lica
teria cedido o dinheiro para ele que nunca mais voltou. Isso não está escrito No meu livro sobre Nhô Lica.
Na construção da Catedral de Piracicaba foram colocadas pedras arrecadadas por
Nhô Lica?
Eu acho que ninguém sabe se foi. Quem poderia dizer alguma coisa a respeito
seria o Padre Rosa, que já é falecido. Nhô Lica levava muitas pedras ao Padre
Rosa, que talvez para não jogar fora ia colocando em algum canto. E deveria
existir um funcionário que foi amontoando aquelas pedras. Durante a construção
da Catedral falaram para pegar as pedras que o Nhô Lica trouxera e colocar
junto ao concreto. Isso eu não sei se é verdade.
Você chegou a frequentar o Teatro Santo Estevão?
Frequentei sim. Era simples, mas bonito. As cadeiras não eram almofadadas.
Eugênio Nardim dizia que a acústica era espetacular, ele tocava violino.
Para você todas as pessoas são
boas?
Eu nunca briguei na minha vida! Por que vou brigar? Nunca ninguém me ofendeu,
sempre respeitei a todos. Todo mundo me quer bem, na escola sempre fui muito
bem quisto. Um professor, já falecido, referia-se ao ambiente acadêmico como
“aquele serpentário”.
Você acessa a internet?
Estou aguardando um dos meus dois filhos me ensinarem.
Você lê bastante?
Leio jornais, revistas.
E livros clássicos?
Já li muito.
Qual o gênero de música que você
prefere?
Gosto muito de música popular. As músicas compostas pelo pessoal dos morros
cariocas são filosóficas. Veja a música de Cartola, “As Rosas Não Falam”:
“Bate outra vez
Com esperanças o meu coração
Pois já vai terminando o verão, enfim
Volto ao jardim
Com a certeza que devo chorar
Pois bem sei que não queres voltar para mim
Queixo-me às rosas, mas que bobagem
As rosas não falam
Simplesmente as rosas exalam
O perfume que roubam de ti, ai
Devias vir
Para ver os meus olhos tristonhos
E, quem sabe, sonhava meus sonhos
Por fim”
Você vê muita poesia nessa
simplicidade?
Na letra da música Cartola diz: “Que bobagem falar com as rosas, elas não
falam”.
De cururu você gosta?
Gosto, eu assisti muito cururu
no Teatro Santo Estevão mesmo. Meu pai gostava de cururu e me levava junto,
ficávamos até as três, quatro horas da manhã.
Comício político em praça
pública era um programa comum naquela época.
Assisti muito e gostava. Cheguei a ver comício de Adhemar de Barros. Lembro-me
que durante o comício havia um enorme balão de ar com propaganda dele, e
alguém, provavelmente com uma espingarda Winchester atirou, esvaziando-a. Na
sua próxima vinda a Piracicaba, Adhemar se lamentava: “Furaram meu balão!”.
Adhemar de Barros dizia: “Sou barranqueiro do Rio Piracicaba”.
Você ainda criança frequentava
as margens do Piracicaba?
Íamos para a Rua do Porto, havia
muitas chácaras onde apanhávamos frutas e comíamos. Havia as olarias. Era tudo
chão de terra, não havia asfalto.
A Esalq, na época era afastada
da cidade?
Não existia Jardim Europa, Cidade Jardim, nenhum dos outros bairros que existem
hoje próximos à escola. Havia até uma olaria, por sinal de uma prima, da
família Fessel. Meu tio, Luiz Dias Ferraz, tinha uma chácara onde hoje só
existem residências. Na época em que eu fui calouro, fugia do trote dos
veteranos, pulava as cercas das chácaras e ia sair na Vila Boyes. O trote era
bravo, uma das tarefas era levar o calouro para fazer faxina nas repúblicas. Eu
tomei pouco trote, corria muito bem! Ninguém me pegava. A Avenida Carlos
Botelho era toda de terra. A noite não havia iluminação nenhuma. A Avenida
Torquato Leitão era um caminho de terra entre as chácaras.
Viajou de trem pela Companhia
Paulista?
Fui com meu pai, quando ele viajava a negócios. São Paulo não era a loucura que
é hoje. Foi lá que pela primeira vez vi camarão. Eu tinha uns 15 anos de idade.
Qual foi o seu primeiro carro?
Em toda a minha vida eu só tive três carros. O primeiro foi um Fusca, que mais
tarde vendi e permanece em bom estado até hoje.
quarta-feira, junho 19, 2024
WALDEMAR ROMANO
25 DE MAIO 2024
O Cirurgião Dentista Dr. Waldemar Romano é um dos pilares do Instituto
Histórico e Geográfico de Piracicaba. Transmite serenidade e simpatia, é uma
pessoa dinâmica, discreta e participativa. Meticuloso, é associado ao IHGP há
algumas décadas, onde ocupou cargos de diretoria. Até hoje, seus préstimos são
importantes para essa entidade e para a comunidade piracicabana.
Waldemar possui uma memória invejável, um grande interesse pela
História, conserva consigo uma razoável bagagem de fatos, pessoas e lugares que
muitos não conhecem ou não se lembram mais. Cita datas e nomes de décadas
passadas com uma precisão absoluta.
Você
nasceu em qual cidade?
Nasci em Piracicaba, em 27 de julho de 1940, nasci na casa dos meus
pais, situada na esquina da Rua Governador Pedro de Toledo com a Rua Treze de
Maio, onde hoje é o Edifício Luciano Guidotti. Naquele tempo quase não se usava
maternidade. Meu pai é Américo Romani e a minha mãe Irene Augustti Romano.
Qual
era a atividade profissional do seu pai?
Meu pai cursou a Escola de Contabilidade Cristovão Colombo, popularmente
conhecida como Escola do Zanin, em 1939. Ele se formou como técnico de
contabilidade, naquele tempo, chamado de guarda-livros. Ele trabalhou pouco
tempo no Jornal de Piracicaba, já como Técnico de Contabilidade. A seguir foi
trabalhar com Nicolau Marino e família, em Rio das Pedras. Eles tinham áreas
com plantações, uma máquina de descaroçar algodão em um barracão grande, com um
escritório. Essas instalações ficavam próximas à Igreja Matriz de Rio das
Pedras. A família Marino tinha algumas fazendas.
Seus
pais tiveram quantos filhos?
Éramos em cinco filhos, hoje somos em quatro: Regina Maria, Nair,
Américo Junior, que faleceu, Maria Irene e Waldemar.
Você
morou quanto tempo em Rio das Pedras?
Morei lá por 5 anos quando era menino. Fui com 3 anos e fiquei até meus
8 anos de idade.
Meu pai ia voltar para Piracicaba, para trabalhar como Contador com o
meu tio Antônio Romano, na Retífica de Motores. Seis meses antes, ele me trouxe
para morar com minha avó, Maria Azzini Romano, que morava na casa onde nasci.
Foi a forma que encontraram para que o meu aproveitamento escolar evitasse
mudança de escola no meio do ano. Meu primeiro ano foi em 1948, no Grupo
Escolar Prudente de Moraes, que antes tinha sido, até a década de 30, a Escola
de Farmácia e Odontologia Washington Luiz onde hoje é o Museu Prudente de
Moraes. A partir do segundo ano em diante fiz no Grupo Escolar Dr. Moraes
Barros. Minha primeira professora foi Josephina Domenico Pinheiro, do segundo
ao quarto ano fiz com a professora Maria Emília Cardinali Piedade.
Mesmo
ainda muito pequeno, você, como toda a população, em menor ou maior escala,
pegou reflexos da Segunda Guerra Mundial (Racionamento de alimentos,
combustíveis, radicalismo ideológico contra imigrantes japoneses, italianos e
alemães. A eles, era proibida a propriedade de rádio receptor comum?
Sentimos algumas mudanças nesse período. Refletiu em toda a população.
Eu não acompanhava, em função da minha idade, tinha apenas 5 anos. A guerra
acabou em 1945.
Vocês
voltaram para Piracicaba, você prosseguiu nos estudos?
Bem, na verdade, eu não queria estudar! Eu queria trabalhar na retífica
de motores da família, a Retífica Romano S/A, sediada à Rua São José, 1122.
O famoso empreendedor, Comendador
Antonio Romano, tinha que grau de parentesco com você?
Era meu tio!
O
Comendador Romano (Título concedido pela Santa Se´) foi um cidadão
participativo, altruísta, muto bem-quisto pela comunidade, fez muito por
Piracicaba.
Sem dúvida nenhuma! Ele atuou em diversas áreas. Inclusive ele fez
diversas obras civis, em um tempo em que Piracicaba era bem menor, ou seja, o
impacto das construções era maior. Construiu em um quarteirão quadrado,
quarenta sobrados confortáveis. Ele construiu umas sessenta casas, adquiriu
outras. Até 1945, quando eles estavam com a oficina mecânica e ia passar para a
retífica, a minha família era muito pobre. Ninguém tinha casa própria, todo
mundo pagava aluguel.
Quando ele instalou a retífica, comprou um maquinário muito completo,
até encerrar as atividades, que foram encerradas de forma espontânea. Foi uma
atividade muito rentável.
O Edifício Antonio Romano foi um empreendimento ousado para a realidade
na época. Apartamentos com acomodações amplas, não deixando nada a desejar
perto dos existentes nas principais cidades do Brasil. Em sociedade com a
família Checolli, eles constituíram uma construtora, construíram o prédio na
Rua Prudente de Moraes, esquina com a Avenida Armando Salles, construíram o
prédio da esquina da Rua Prudente de Moraes esquina com a Rua São João, que
depois recebeu o nome dele. Construíram o prédio em frente à Loja CEM, o
Edifício Pedro Ometto.
Você
não queria estudar, queria trabalhar na retífica, você achava bonito!
Meu pai insistiu, até que resolvi estudar, fiz um curso preparatório
para entrar no ginásio.
Foi em uma escola particular, das professoras Adelina e Amália Tarsa.
Situava-se na Rua Rangel Pestana, 781, se não me engano. Isso para entrar no
ginásio do Sud Mennucci.
Era um
exame difícil, o chamado “vestibulinho”?
Eu e a minha irmã Regina fizemos o exame, eu me classifiquei em segundo
lugar e a minha irmã em terceiro. Quem foi classificado em primeiro lugar foi
Pedro Almeida de Negri, irmão do Dr. Cássio Almeida de Negri.
O
Sud Mennucci era uma escola diferenciada?
O Sud Mennucci, assim como outras escolas públicas, tinha uma seleção
rigorosa tanto de alunos como de professores. Isso possibilitava que o ensino
público, mesmo sendo gratuito, fosse de alto padrão. O Sud Mennucci tinha um
conceito muito elevado em Piracicaba. Tínhamos aulas de português com o
Professor Benedito de Andrade, poliglota, o Professor Argino da Silva Leite lecionava
matemática, Professora Zelinda, que era esposa do professor Argino, lecionava português.
Com o professor Benedito de Andrade tive aula um ano, tive aulas de Francês com
o professor Manassés.
Quem
era o diretor do Sud Mennucci na época?
Era o professor Arlindo Ruffato depois foi Adolfo Basile.
O diretor Arlindo era linha dura? Era meio quieto, mas era feroz de vez
em quando! ( Risos). Tive aulas de desenho com o professor Arquimedes Dutra. Aulas
de química tive com o professor Demóstenes Santos Correa. As aulas de física
eram com o professor Abelardo Cicarelli. Tive aulas também com o professor Frederico Alberto Blaauw e Mauro
Gonçalves foi meu professor também. Foi minha professora a historiadora-mor,
Maria Celestina Teixeira Mendes, a Mariinha. Eram professores muito bem-conceituados.
Praticamente, o aluno saía
dali pronto para o vestibular?
Fiz
o curso colegial com dedicação aos estudos, à noite, e ao mesmo tempo fazia
também o Tiro de Guerra. Isso foi em 1959.
Quem era o sargento que
o comandava?
Era o
Sargento Valdemy Gomes Barbosa. O Sargento Jovelino Guatura dos Santos já era também
comandante, mas de uma outra companhia. Naquele tempo fazíamos de fevereiro até
novembro. No ano em que fiz o serviço militar, tínhamos 400 atiradores. Hoje
parece que são em torno de 200 a 250. Muitos jovens são dispensados do serviço
militar.
Para
você foi importante prestar o serviço militar?
O único mal do Tiro de Guerra é que a mãe faz junto! Temos que deixar tudo limpinho todos os dias:
coturno limpinho, farda limpinha! E de vez em quando voltávamos para casa
enlameado! Principalmente quando tinhamos que rastejar! Quando comecei a fazer
não tinha sede, o Tiro de Guerra era situado no Largo da Estação da Estrada de
Ferro Sorocabana, onde hoje é o terminal do ônibus urbano, Havia um salão
alugado que era utilizado como uma sede provisória. Depois, por volta de junho
ou julho, mudou para a escadaria embaixo do Ginásio Municipal. A concentração era
feita lá, depois seguíamos em marcha pela Avenida Independência, pela zona
rural. Como estava sendo iniciado o Estádio Municipal, era a primeira gestão do
prefeito Luciano Guidotti, o local onde estava sendo construído o estádio era
um barreiro tremendo, o sargento nos fazia rastejar por lá. Voltávamos para
casa com uns dois quilos de barro cada um.
E
nessa época você morava onde?
Na Rua Governador Pedro de Toledo, 701, meu pai derrubou a casa antiga e
construiu uma nova casa. Isso foi por volta de 1965 a 1966 , o número passou a
ser 705. Fica entre a Rua Treze de Maio e a Rua Prudente de Moraes.
Você
se locomovia a pé?
Normalmente ia a pé. Às vezes, pegava o carro do vizinho.
Ter feito o
Tiro de Guerra foi importante para você?
Acho que valeu a pena! O único mal é que a mãe faz junto! A mãe que
sofre também! No Tiro de Guerra a gente aprende hierarquia, disciplina, coisas
que hoje fazem muita falta para a sociedade, para os jovens que vem vindo aí. Sinto
quando falam: “Quero ser dispensado! Não quero fazer!”. Se tiver saúde, faça! Talvez
falte noção dos benefícios que podem ter essa convivência, principalmente nessa
faixa etária.
Você
concluiu o Tiro de Guerra e o Curso Científico no Sud Mennucci. Você já tinha
definido qual seria a próxima etapa?
Quando entra nessa faixa de idade a maioria fica vendido! Eu fiz odontologia.
Por
influência de alguém?
Na região em que eu morava tinha uns amigos que eram dentistas, eles
comentavam comigo alguma coisa, contavam a respeito da profissão, mas na minha
família não tinha nenhum dentista. Prestei exame na Faculdade de Odontologia de
Piracicaba, que hoje é UNICAMP, naquele tempo não era. Passei em primeiro lugar
no exame vestibular. Naquele tempo a faculdade tinha 40 vagas. Ela começou em
1957 a Faculdade de Odontologia que hoje é UNICAMP. Até 1970, mais ou menos,
não preenchia as vagas. A minha turma tinha 32 alunos. Quem tomou frente à
faculdade foi Carlos Henrique Robertson Liberalli, doutor
em farmácia pela Universidade de São Paulo em
1946. Foi eleito membro da Academia Nacional de
Medicina em 1964. Ele era uma pessoa extremamente culta, inteligente e
empreendedora.
Quando
você entrou classificado em primeiro lugar, não passou a ser visto como um aluno
diferenciado?
Eu tinha facilidade em assimilar os ensinamentos.
Para
quem queria seguir a carreira de mecânico, entrar em primeiro lugar na
Faculdade de Odontologia foi um feito memorável!
Vou contar um caso notável. A Professora Zelinda, de português, era
extremamente rigorosa no ensino e no dar notas. Ela era fora do comum sob esse
aspecto. A primeira nota que tive com ela foi 0,7! Ela dava notas como -0,2; -0,3.
O
aluno ficava devendo nota para ela?
Ficava devendo!
Pensei: “Eu vou pegar essa professora!”. Ela tinha uma biblioteca que era da área dela,
de português. Autores clássicos como Machado de Assis, Eça de Queiroz, escritores
da época passada. Os clássicos. Passei a pegar um livro por semana, nem sempre
lia inteiro, lia um pedaço, lia outro pedaço, devolvia o livro. Com isso
cativei a professora, e ela passou a me dar a nota que eu merecia.
Pelo
seu esforço, seu empenho, você acabou conquistando a simpatia da professora.
Você passou a falar no nível dela.
Fiquei amigo dela. Alguns alunos nem a cumprimentavam.
Hoje eu agradeço a muitos professores, hoje sinto os frutos bem importantes.
Infelizmente a pedagogia utilizada por essa professora era de difícil
compreensão, as aulas do Professor Benedito de Andrade eram magníficas. Ele era
um verdadeiro artista. Para dar aulas, ele cativava todo mundo, ninguém dava um
pio na aula dele. Outra professora que foi muito severa, a quem agradeço, foi a
professora Mariinha, Maria Teixeira Mendes, ela faleceu há poucos anos, com
quase 100 anos de idade. Ela era bem severa. Com isso aprendi a escrever,
embora não seja muito afeito a colocar textos em jornal, mas tenho condições de
analisar textos escritos, concordância gramatical, o uso correto da linguagem. Sou
bastante detalhista nisso. Outra área que passei a gostar muito é a de
História! Tanto que acabei ficando associado do Instituto Histórico e Geográfico
de Piracicaba.
Em
que ano você tornou-se associado do IHGP?
Foi em 2003.
Quais
associados são os pioneiros e fundadores do IHGP?
Temos a Dra. Marly Therezinha Germano Perecin e o Dr. Antonio Messias
Galdino. O Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba foi fundado em 1967. Parece-me
que o professor Frederico Alberto Blaauw também
foi fundador, mas não faz mais parte, eu falo que parece-me porque estive vendo
as composições de diretorias, na primeira e segunda diretoria ele fazia parte. Portanto
ele deve ter feito parte e depois se afastou.
Ao ingressar na
Faculdade de Odontologia de Piracicaba, ela situava-se em qual local?
Funcionava
na Rua D.Pedro II, 627, esquina com a Rua Alferes José Caetano. A FOP tinha
convênio com o Panamá, na minha época tinha uns cinco ou seis panamenhos
fazendo o curso. Naquela calçada tinha só a faculdade, um barracão grande que
era usado como estacionamento de caminhão pelo posto de gasolina que ficava na
esquina, de propriedade do João Rocha. O posto de gasolina lá, tinha o desenho que
é o mesmo do único posto remanescente daquela época, antes de 1950, que fica na
Rua Governador Pedro de Toledo esquina com a Rua Prudente de Moraes. Antes, mesmo
desse tipo de posto de gasolina, eram instaladas bombas de combustível na
calçada. Tem uma bomba de combustível, que era do Adamoli, passou pelo IHGP que fez a doação para o Museu Luiz de Queiroz.
Era manual. Onde hoje é o prédio Mimi Fagundes, havia um posto de combustível. Era
Posto São Paulo, se não me engano. Agora só ficou aquele posto da Prudente de
Moraes, inclusive é onde abasteço.
Na época em que você
fez a Faculdade de Odontologia eram quatro anos de curso?
Eram
quatro anos. Participei muito do Centro Acadêmico. No primeiro ano fiquei
Diretor de Assistência Social aos Acadêmicos. Conseguia remédios de graça, algumas coisas para eles utilizarem. Depois
fui Presidente da Associação Atlética, Presidente do Centro Acadêmico. No último
ano de faculdade, fui Presidente do Conselho Fiscal do Centro Acadêmico. Quando
estava no quarto ano da Faculdade de Odontologia, fui eleito vereador.
Você participava de
algum esporte?
Dentro
do Centro Acadêmico só participei um pouco do Atletismo, em especial de
corridas. Corrida de 1.500 metros. Eu não treinava, então não podia ter uma performance
para conseguir medalha.
Você foi eleito
vereador ainda muito jovem!
Fui
eleito por algumas forças, por exemplo a minha família, acadêmicos, tive 561 votos,
fui o mais votado na época, fui o mais votado do Partido Republicano, na época
também tinha muitos partidos políticos, a Câmara era composta por 21 vereadores.
Sem remuneração nenhuma, na verdade a gente acabava pagando, como você estava
em uma condição de mais evidência, recebia mais convites para festas, mais
convites para casamentos, na época vereador não recebia nada.
A Câmara funcionava
onde?
Era
em um anexo da própria Prefeitura Municipal, mas tinha entrada independente. Com
o mesmo número de hoje. Creio que em 1975, o prefeito era Adilson Benedito Maluf
e o presidente da Câmara era Antonio Messias Galdino. Fizeram aquele prédio que
está sendo utilizado até hoje, na Rua Alferes José Caetano e não o anexo da Rua
São José esquina com a Rua do Rosário. Um fato curioso é que embora a Câmara
anteriormente ficava no meio do quarteirão, número 834, junto a um jardim da
Prefeitura, o prédio novo foi construído na esquina, mantendo o número 834. Ou
seja, a Câmara Municipal mudou cerca de 50 metros sem alterar o número do seu
prédio. (Possivelmente para economizar tempo e dinheiro, pois uma série de
modificações teriam que ser feitas, em documentos, endereço de postagem, etc.)
Não
sei quem destruiu o prédio da Prefeitura antiga, que era um palacete onde morou
Francisco José da Conceição nascido em Piracicaba, em 1822 , faleceu em Rio das Pedras, no dia 2 de outubro de 1900. Fazendeiro,
político e cafeicultor. Foi agraciado como primeiro e único Barão de Serra
Negra em 1871.
Cirurgião Dentista Dr. Waldemar Romano é um dos pilares do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba. Transmite serenidade e simpatia, é uma pessoa dinâmica, discreta e participativa. Meticuloso, é associado ao IHGP há algumas décadas, onde ocupou cargos de diretoria. Até hoje, seus préstimos são importantes para essa entidade e para a comunidade piracicabana.
Waldemar possui uma memória invejável, um grande interesse pela
História, conserva consigo uma razoável bagagem de fatos, pessoas e lugares que
muitos não conhecem ou não se lembram mais. Cita datas e nomes de décadas
passadas com uma precisão absoluta.
Você
nasceu em qual cidade?
Nasci em Piracicaba, em 27 de julho de 1940, nasci na casa dos meus
pais, situada na esquina da Rua Governador Pedro de Toledo com a Rua Treze de
Maio, onde hoje é o Edifício Luciano Guidotti. Naquele tempo quase não se usava
maternidade. Meu pai é Américo Romani e a minha mãe Irene Augustti Romano.
Qual
era a atividade profissional do seu pai?
Meu pai cursou a Escola de Contabilidade Cristovão Colombo, popularmente
conhecida como Escola do Zanin, em 1939. Ele se formou como técnico de
contabilidade, naquele tempo, chamado de guarda-livros. Ele trabalhou pouco
tempo no Jornal de Piracicaba, já como Técnico de Contabilidade. A seguir foi
trabalhar com Nicolau Marino e família, em Rio das Pedras. Eles tinham áreas
com plantações, uma máquina de descaroçar algodão em um barracão grande, com um
escritório. Essas instalações ficavam próximas à Igreja Matriz de Rio das
Pedras. A família Marino tinha algumas fazendas.
Seus
pais tiveram quantos filhos?
Éramos em cinco filhos, hoje somos em quatro: Regina Maria, Nair,
Américo Junior, que faleceu, Maria Irene e Waldemar.
Você
morou quanto tempo em Rio das Pedras?
Morei lá por 5 anos quando era menino. Fui com 3 anos e fiquei até meus
8 anos de idade.
Meu pai ia voltar para Piracicaba, para trabalhar como Contador com o
meu tio Antônio Romano, na Retífica de Motores. Seis meses antes, ele me trouxe
para morar com minha avó, Maria Azzini Romano, que morava na casa onde nasci.
Foi a forma que encontraram para que o meu aproveitamento escolar evitasse
mudança de escola no meio do ano. Meu primeiro ano foi em 1948, no Grupo
Escolar Prudente de Moraes, que antes tinha sido, até a década de 30, a Escola
de Farmácia e Odontologia Washington Luiz onde hoje é o Museu Prudente de
Moraes. A partir do segundo ano em diante fiz no Grupo Escolar Dr. Moraes
Barros. Minha primeira professora foi Josephina Domenico Pinheiro, do segundo
ao quarto ano fiz com a professora Maria Emília Cardinali Piedade.
Mesmo
ainda muito pequeno, você, como toda a população, em menor ou maior escala,
pegou reflexos da Segunda Guerra Mundial (Racionamento de alimentos,
combustíveis, radicalismo ideológico contra imigrantes japoneses, italianos e
alemães. A eles, era proibida a propriedade de rádio receptor comum?
Sentimos algumas mudanças nesse período. Refletiu em toda a população.
Eu não acompanhava, em função da minha idade, tinha apenas 5 anos. A guerra
acabou em 1945.
Vocês
voltaram para Piracicaba, você prosseguiu nos estudos?
Bem, na verdade, eu não queria estudar! Eu queria trabalhar na retífica
de motores da família, a Retífica Romano S/A, sediada à Rua São José, 1122.
O famoso empreendedor, Comendador
Antonio Romano, tinha que grau de parentesco com você?
Era meu tio!
O
Comendador Romano (Título concedido pela Santa Se´) foi um cidadão
participativo, altruísta, muto bem-quisto pela comunidade, fez muito por
Piracicaba.
Sem dúvida nenhuma! Ele atuou em diversas áreas. Inclusive ele fez
diversas obras civis, em um tempo em que Piracicaba era bem menor, ou seja, o
impacto das construções era maior. Construiu em um quarteirão quadrado,
quarenta sobrados confortáveis. Ele construiu umas sessenta casas, adquiriu
outras. Até 1945, quando eles estavam com a oficina mecânica e ia passar para a
retífica, a minha família era muito pobre. Ninguém tinha casa própria, todo
mundo pagava aluguel.
Quando ele instalou a retífica, comprou um maquinário muito completo,
até encerrar as atividades, que foram encerradas de forma espontânea. Foi uma
atividade muito rentável.
O Edifício Antonio Romano foi um empreendimento ousado para a realidade
na época. Apartamentos com acomodações amplas, não deixando nada a desejar
perto dos existentes nas principais cidades do Brasil. Em sociedade com a
família Checolli, eles constituíram uma construtora, construíram o prédio na
Rua Prudente de Moraes, esquina com a Avenida Armando Salles, construíram o
prédio da esquina da Rua Prudente de Moraes esquina com a Rua São João, que
depois recebeu o nome dele. Construíram o prédio em frente à Loja CEM, o
Edifício Pedro Ometto.
Você
não queria estudar, queria trabalhar na retífica, você achava bonito!
Meu pai insistiu, até que resolvi estudar, fiz um curso preparatório
para entrar no ginásio.
Foi em uma escola particular, das professoras Adelina e Amália Tarsa.
Situava-se na Rua Rangel Pestana, 781, se não me engano. Isso para entrar no
ginásio do Sud Mennucci.
Era um
exame difícil, o chamado “vestibulinho”?
Eu e a minha irmã Regina fizemos o exame, eu me classifiquei em segundo
lugar e a minha irmã em terceiro. Quem foi classificado em primeiro lugar foi
Pedro Almeida de Negri, irmão do Dr. Cássio Almeida de Negri.
O
Sud Mennucci era uma escola diferenciada?
O Sud Mennucci, assim como outras escolas públicas, tinha uma seleção
rigorosa tanto de alunos como de professores. Isso possibilitava que o ensino
público, mesmo sendo gratuito, fosse de alto padrão. O Sud Mennucci tinha um
conceito muito elevado em Piracicaba. Tínhamos aulas de português com o
Professor Benedito de Andrade, poliglota, o Professor Argino da Silva Leite lecionava
matemática, Professora Zelinda, que era esposa do professor Argino, lecionava português.
Com o professor Benedito de Andrade tive aula um ano, tive aulas de Francês com
o professor Manassés.
Quem
era o diretor do Sud Mennucci na época?
Era o professor Arlindo Ruffato depois foi Adolfo Basile.
O diretor Arlindo era linha dura? Era meio quieto, mas era feroz de vez
em quando! ( Risos). Tive aulas de desenho com o professor Arquimedes Dutra. Aulas
de química tive com o professor Demóstenes Santos Correa. As aulas de física
eram com o professor Abelardo Cicarelli. Tive aulas também com o professor Frederico Alberto Blaauw e Mauro
Gonçalves foi meu professor também. Foi minha professora a historiadora-mor,
Maria Celestina Teixeira Mendes, a Mariinha. Eram professores muito bem-conceituados.
Praticamente, o aluno saía
dali pronto para o vestibular?
Fiz
o curso colegial com dedicação aos estudos, à noite, e ao mesmo tempo fazia
também o Tiro de Guerra. Isso foi em 1959.
Quem era o sargento que
o comandava?
Era o
Sargento Valdemy Gomes Barbosa. O Sargento Jovelino Guatura dos Santos já era também
comandante, mas de uma outra companhia. Naquele tempo fazíamos de fevereiro até
novembro. No ano em que fiz o serviço militar, tínhamos 400 atiradores. Hoje
parece que são em torno de 200 a 250. Muitos jovens são dispensados do serviço
militar.
Para
você foi importante prestar o serviço militar?
O único mal do Tiro de Guerra é que a mãe faz junto! Temos que deixar tudo limpinho todos os dias:
coturno limpinho, farda limpinha! E de vez em quando voltávamos para casa
enlameado! Principalmente quando tinhamos que rastejar! Quando comecei a fazer
não tinha sede, o Tiro de Guerra era situado no Largo da Estação da Estrada de
Ferro Sorocabana, onde hoje é o terminal do ônibus urbano, Havia um salão
alugado que era utilizado como uma sede provisória. Depois, por volta de junho
ou julho, mudou para a escadaria embaixo do Ginásio Municipal. A concentração era
feita lá, depois seguíamos em marcha pela Avenida Independência, pela zona
rural. Como estava sendo iniciado o Estádio Municipal, era a primeira gestão do
prefeito Luciano Guidotti, o local onde estava sendo construído o estádio era
um barreiro tremendo, o sargento nos fazia rastejar por lá. Voltávamos para
casa com uns dois quilos de barro cada um.
E
nessa época você morava onde?
Na Rua Governador Pedro de Toledo, 701, meu pai derrubou a casa antiga e
construiu uma nova casa. Isso foi por volta de 1965 a 1966 , o número passou a
ser 705. Fica entre a Rua Treze de Maio e a Rua Prudente de Moraes.
Você
se locomovia a pé?
Normalmente ia a pé. Às vezes, pegava o carro do vizinho.
Ter feito o
Tiro de Guerra foi importante para você?
Acho que valeu a pena! O único mal é que a mãe faz junto! A mãe que
sofre também! No Tiro de Guerra a gente aprende hierarquia, disciplina, coisas
que hoje fazem muita falta para a sociedade, para os jovens que vem vindo aí. Sinto
quando falam: “Quero ser dispensado! Não quero fazer!”. Se tiver saúde, faça! Talvez
falte noção dos benefícios que podem ter essa convivência, principalmente nessa
faixa etária.
Você
concluiu o Tiro de Guerra e o Curso Científico no Sud Mennucci. Você já tinha
definido qual seria a próxima etapa?
Quando entra nessa faixa de idade a maioria fica vendido! Eu fiz odontologia.
Por
influência de alguém?
Na região em que eu morava tinha uns amigos que eram dentistas, eles
comentavam comigo alguma coisa, contavam a respeito da profissão, mas na minha
família não tinha nenhum dentista. Prestei exame na Faculdade de Odontologia de
Piracicaba, que hoje é UNICAMP, naquele tempo não era. Passei em primeiro lugar
no exame vestibular. Naquele tempo a faculdade tinha 40 vagas. Ela começou em
1957 a Faculdade de Odontologia que hoje é UNICAMP. Até 1970, mais ou menos,
não preenchia as vagas. A minha turma tinha 32 alunos. Quem tomou frente à
faculdade foi Carlos Henrique Robertson Liberalli, doutor
em farmácia pela Universidade de São Paulo em
1946. Foi eleito membro da Academia Nacional de
Medicina em 1964. Ele era uma pessoa extremamente culta, inteligente e
empreendedora.
Quando
você entrou classificado em primeiro lugar, não passou a ser visto como um aluno
diferenciado?
Eu tinha facilidade em assimilar os ensinamentos.
Para
quem queria seguir a carreira de mecânico, entrar em primeiro lugar na
Faculdade de Odontologia foi um feito memorável!
Vou contar um caso notável. A Professora Zelinda, de português, era
extremamente rigorosa no ensino e no dar notas. Ela era fora do comum sob esse
aspecto. A primeira nota que tive com ela foi 0,7! Ela dava notas como -0,2; -0,3.
O
aluno ficava devendo nota para ela?
Ficava devendo!
Pensei: “Eu vou pegar essa professora!”. Ela tinha uma biblioteca que era da área dela,
de português. Autores clássicos como Machado de Assis, Eça de Queiroz, escritores
da época passada. Os clássicos. Passei a pegar um livro por semana, nem sempre
lia inteiro, lia um pedaço, lia outro pedaço, devolvia o livro. Com isso
cativei a professora, e ela passou a me dar a nota que eu merecia.
Pelo
seu esforço, seu empenho, você acabou conquistando a simpatia da professora.
Você passou a falar no nível dela.
Fiquei amigo dela. Alguns alunos nem a cumprimentavam.
Hoje eu agradeço a muitos professores, hoje sinto os frutos bem importantes.
Infelizmente a pedagogia utilizada por essa professora era de difícil
compreensão, as aulas do Professor Benedito de Andrade eram magníficas. Ele era
um verdadeiro artista. Para dar aulas, ele cativava todo mundo, ninguém dava um
pio na aula dele. Outra professora que foi muito severa, a quem agradeço, foi a
professora Mariinha, Maria Teixeira Mendes, ela faleceu há poucos anos, com
quase 100 anos de idade. Ela era bem severa. Com isso aprendi a escrever,
embora não seja muito afeito a colocar textos em jornal, mas tenho condições de
analisar textos escritos, concordância gramatical, o uso correto da linguagem. Sou
bastante detalhista nisso. Outra área que passei a gostar muito é a de
História! Tanto que acabei ficando associado do Instituto Histórico e Geográfico
de Piracicaba.
Em
que ano você tornou-se associado do IHGP?
Foi em 2003.
Quais
associados são os pioneiros e fundadores do IHGP?
Temos a Dra. Marly Therezinha Germano Perecin e o Dr. Antonio Messias
Galdino. O Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba foi fundado em 1967. Parece-me
que o professor Frederico Alberto Blaauw também
foi fundador, mas não faz mais parte, eu falo que parece-me porque estive vendo
as composições de diretorias, na primeira e segunda diretoria ele fazia parte. Portanto
ele deve ter feito parte e depois se afastou.
Ao ingressar na
Faculdade de Odontologia de Piracicaba, ela situava-se em qual local?
Funcionava
na Rua D.Pedro II, 627, esquina com a Rua Alferes José Caetano. A FOP tinha
convênio com o Panamá, na minha época tinha uns cinco ou seis panamenhos
fazendo o curso. Naquela calçada tinha só a faculdade, um barracão grande que
era usado como estacionamento de caminhão pelo posto de gasolina que ficava na
esquina, de propriedade do João Rocha. O posto de gasolina lá, tinha o desenho que
é o mesmo do único posto remanescente daquela época, antes de 1950, que fica na
Rua Governador Pedro de Toledo esquina com a Rua Prudente de Moraes. Antes, mesmo
desse tipo de posto de gasolina, eram instaladas bombas de combustível na
calçada. Tem uma bomba de combustível, que era do Adamoli, passou pelo IHGP que fez a doação para o Museu Luiz de Queiroz.
Era manual. Onde hoje é o prédio Mimi Fagundes, havia um posto de combustível. Era
Posto São Paulo, se não me engano. Agora só ficou aquele posto da Prudente de
Moraes, inclusive é onde abasteço.
Na época em que você
fez a Faculdade de Odontologia eram quatro anos de curso?
Eram
quatro anos. Participei muito do Centro Acadêmico. No primeiro ano fiquei
Diretor de Assistência Social aos Acadêmicos. Conseguia remédios de graça, algumas coisas para eles utilizarem. Depois
fui Presidente da Associação Atlética, Presidente do Centro Acadêmico. No último
ano de faculdade, fui Presidente do Conselho Fiscal do Centro Acadêmico. Quando
estava no quarto ano da Faculdade de Odontologia, fui eleito vereador.
Você participava de
algum esporte?
Dentro
do Centro Acadêmico só participei um pouco do Atletismo, em especial de
corridas. Corrida de 1.500 metros. Eu não treinava, então não podia ter uma performance
para conseguir medalha.
Você foi eleito
vereador ainda muito jovem!
Fui
eleito por algumas forças, por exemplo a minha família, acadêmicos, tive 561 votos,
fui o mais votado na época, fui o mais votado do Partido Republicano, na época
também tinha muitos partidos políticos, a Câmara era composta por 21 vereadores.
Sem remuneração nenhuma, na verdade a gente acabava pagando, como você estava
em uma condição de mais evidência, recebia mais convites para festas, mais
convites para casamentos, na época vereador não recebia nada.
A Câmara funcionava
onde?
Era
em um anexo da própria Prefeitura Municipal, mas tinha entrada independente. Com
o mesmo número de hoje. Creio que em 1975, o prefeito era Adilson Benedito Maluf
e o presidente da Câmara era Antonio Messias Galdino. Fizeram aquele prédio que
está sendo utilizado até hoje, na Rua Alferes José Caetano e não o anexo da Rua
São José esquina com a Rua do Rosário. Um fato curioso é que embora a Câmara
anteriormente ficava no meio do quarteirão, número 834, junto a um jardim da
Prefeitura, o prédio novo foi construído na esquina, mantendo o número 834. Ou
seja, a Câmara Municipal mudou cerca de 50 metros sem alterar o número do seu
prédio. (Possivelmente para economizar tempo e dinheiro, pois uma série de
modificações teriam que ser feitas, em documentos, endereço de postagem, etc.)
Não
sei quem destruiu o prédio da Prefeitura antiga, que era um palacete onde morou
Francisco José da Conceição nascido em Piracicaba, em 1822 , faleceu em Rio das Pedras, no dia 2 de outubro de 1900. Fazendeiro,
político e cafeicultor. Foi agraciado como primeiro e único Barão de Serra
Negra em 1871.
Francisco José da Conceição Barão de Serra Negra |
Quando
esteve em Piracicaba, esteve hospedado no Palacete Miranda construído por Luiz
de Queiroz, e visitou o Barão de Serra Negra em seu palacete. Eu me lembro de
que quando João Hermann era prefeito, ele mudou o seu gabinete para aquela
esquina onde hoje é um cartório, na Rua São José esquina com a Rua do Rosário.
Ali já funcionou o SAMDU – Serviço de Atendimento Médico Domiciliar de
Urgência, depois foi a sede da UNIODONTO e agora é um Cartório. É um casarão!
Muitas localidades preservam seus patrimônios
históricos. Isso gera um fluxo de turistas elevado, e traz um retorno para a
cidade. Um exemplo gritante é a cidade de Curitiba, que investiu muito na
preservação histórica. Talvez nem todos saibam,
mas o Governador Adhemar de Barros nasceu em Piracicaba!
Waldemar afirma: A sua casa foi demolida!
Ficava na esquina da Rua Boa Morte com a Rua Ipiranga! Na Rua Ipiranga havia a
única Sinagoga da cidade, que funcionou até o início da década de 60. Foi
diminuindo a colônia de judeus aqui na cidade. Cerca de 80, 100 anos atrás eram
mais numerosos. O prédio foi vendido. O comprador tinha planos de construir no
local, demoliu a casa que tinha sido uma sinagoga.
Você conheceu o Teatro Santo Estevão?
Eu morava ali perto, na Rua Governador Pedro
de Toledo, desde novembro de 1953, ele foi demolido em 1954 ou 1955.Eu nunca
entrei naquele Teatro. Visto pelo lado de fora, era uma construção sem grandes desenhos,
não tinha as características de arte que são normais em algumas construções
antigas. Podemos até dizer que no lado externo era uma construção simples. Mas
deveria ser conservado, pelo seu valor cultural.
O famoso Hotel Central deixou muitas lembranças?
No meu entendimento, perto de uma igreja, não
se constrói ao lado dela, um prédio que seja mais alto do que ela. Quando a
igreja é mais alta do que os seus vizinhos, você está pondo o espírito acima da
matéria. O prédio que ocupou o local onde era o Hotel Central, coloca a matéria
acima do espírito. Não sei de quem é aquele prédio. Infelizmente as construções
tombadas são conservadas de pé, porém a maioria não os conserva bem. Na Rua do
Rosário, onde era antigamente a Sociedade Portuguesa, o dono daquele prédio é
um amigo meu, um engenheiro, ele
conserva tudo perfeitamente.
Em contrapartida, o prédio vizinho foi demolido e só restou a
fachada!
Pelo que eu vi, os tombamentos em Piracicaba começaram
na década de 80, salvo engano, foi na gestão de Adilson Benedito Maluf. Esses
procedimentos são novos, então perdeu-se muita coisa.
Na esquina das Ruas Voluntários de Piracicaba e Alferes
José Caetano tinha um casarão onde funcionou a Biblioteca Municipal.
Entrei lá muitas vezes para estudar.
Você sabe quem morou originariamente naquela casa?
A prefeitura alugava aquela casa.
Na esquina da Rua Treze de Maio com a Rua São José
havia uma casa muito vistosa, antiga, com classe. Foi demolida para ser
construído um prédio comercial. Nas proximidades, tinha um outro imóvel que foi
demolido e que também tinha características próprias de épocas passadas. Já faz
uns 10 anos que se tornou apenas um terreno para vender ou alugar.
Voltando ao seu período na Faculdade, a sua integração foi
tranquila?
Passei em primeiro lugar no vestibular, depois fui um
aluno médio, dentro do padrão, na parte prática eu fui bem, tinha habilidade. Desde
o tempo de ginásio eu tinha habilidade com detalhes, o meu professor de
trabalhos manuais foi o professor Lino Sansigolo, ele trabalhava muito os alunos,
era bem dedicado. Fiz muitos trabalhos manuais, delicados, com serra tico-tico.
Eu tinha uma espécie de moinho holandês, cheio de detalhes, fiz uns sete ou
oito daqueles moinhos. Fazia em casa, serrando a madeira. Posso dizer que já
tinha preparado os meus dedos para trabalhos delicados. Tive facilidade em
aprender. Em 1964 instalei meu consultório, na Rua Alferes José Caetano, juntamente
com o meu colega Francisco Braga, alugamos uma casa e instalamos lá, no número 902.
Depois mudei para a Rua Moraes Barros, 1.127, onde fiquei até junho de 1978. De
julho de 1978 até encerrar a minha atividade, trabalhei na Rua Bom Jesus, 811,
já era imóvel de minha propriedade. Encerrei a minha atividade relativamente
cedo, embora gostasse muito de trabalhar na profissão. Minha esposa teve um AVC
hemorrágico muito forte em julho de 1998, precisando da minha ajuda para tudo. Ela
ficou dependente de mim por quase 10 anos, vindo a falecer em 15 de março de
2008.
Vocês tiveram filhos?
Tivemos duas filhas: Aline e Claudia: Aline que tem um filho chamado Nicolas. Outra é a Cláudia, que tem uma filha chamada Amanda e um filho chamado Igor. A Amanda está fazendo medicina em Jundiaí e o Igor, seu irmão, está fazendo curso de Informática na UNICAMP. O Nicolas, está fazendo cursinho para entrar em escola superior.
Qual era o nome da sua esposa?
Maria Ignês de Mattos Romano, ela foi funcionária da
Câmara Municipal, onde a conheci, em 1963. Quando eu era estudante, frequentava
a Câmara para assistir as sessões anteriores ao meu ingresso, eleito como
vereador. Quando entrei lá já conhecia um pouco do funcionamento. Eu gostava de
ver os debates, naquele tempo só havia microfone local, a transmissão por rádio
começou através da Rádio Difusora PRD-6. Hoje a Câmara tem muitos recursos na
área de comunicação. Na época, a Câmara inteira tinha 4 funcionários! Eram:
Lino Vitti, Rubens Vitti, José Gomes que fazia serviço de rua e a Maria Ignês,
minha futura esposa. Nesse tempo acho que o Guilherme Vitti estava trabalhando
no gabinete do prefeito. Hoje são quatro ou cinco funcionários para cada
vereador. O Guilherme Vitti acredito que foi para a Câmara dos Vereadores
depois da construção do prédio novo. Ele então foi para a Seção de Arquivo
Histórico. Hoje há um departamento com diversos funcionários. Aliás, eles
publicam na imprensa local, diversos fatos da Câmara de tempos atrás. Eu tenho
lido o trabalho deles.
Você conheceu Terenzio Galesi?
Pessoalmente não o conheci. Só a fama. Foi um dos
primeiros banqueiros de Piracicaba, milionário, construiu o prédio que existe
até hoje na Rua Prudente de Moraes, com um segundo andar, usando material
importado da Inglaterra.
O Mario Stolf, que era vereador também, era uma
pessoa muito boa. Excelente, se alguém
falar que ele ganhou dinheiro na política, eu falo que ele perdeu.
Todos perderam!
Todo mundo que trabalhou de graça, perdeu.
Ele teve em Piracicaba a Agência Citroen, na
esquina da Rua Moraes Barros com a atual Avenida Armando de Sales Oliveira, na
época não existia essa avenida, o córrego do Ribeirão Itapeva era a céu aberto,
hoje corre sob a avenida. Um dia o Mário me disse: “Terenzio Galesi era muito audacioso,
até mesmo esnobe, ele, às vezes, fumava cigarro de palha, só que no lugar da
palha ele pegava a cédula de dinheiro de valor mais alto que circulava, e fumava!”
Uma demonstração no mínimo exótica.
Infelizmente o Terenzio perdeu muito dinheiro em
suas atividades comerciais e bancárias. Na parte inferior do prédio, que existe
parcialmente até hoje, havia trilhos para um vagonete transportar mercadorias. Sua
propriedade ia da Rua Prudente de Moraes até a Rua São José. Mais tarde, no
térreo, funcionou o jornal “O Diário”, de propriedade de Sebastião Ferraz,
depois adquirido pelo jornalista Cecílio Elias Netto, tendo entre seus colaboradores
, Galdino e Rolim.
Quando você montou o consultório, era muito comum,
naquela época, a extração total dos dentes?
No meu tempo, o conceito já estava mudando! Aqueles
que se formaram na Faculdade de Odontologia antiga que existiu em Piracicaba de
1914 a 1932, era transmitido o conceito de destruir. O paciente chegava com uma
porção de problemas nos dentes, isso em 6,7,8 dentes! O conceito era “-Vamos
limpar tudo!”. O conceito de dentadura, popularmente denominada também de chapa,
quando me formei já estava mudando. Tinha material mais avançado, já estava
mudando a conscientização da população, foi um processo lento para mudar, a
geração que nasce com um conceito dificilmente muda. Não sei mexer direito com
computador, não sei mexer direito com celular, porque não tenho estímulo para
isso.
Quando passamos pela Câmara, aprovamos uma lei para
fluoretação das águas de Piracicaba, foi uma das primeiras cidades do Estado de
São Paulo a fluoretar as águas. Só não fluoretou logo após a lei, por volta de 1964,
quando era prefeito o Luciano Guidotti . Ele escutava alguns outros assessores,
que achavam que iam colocar o produto na água para depois lavar calçada, lavar
carro; Aí veio o Nélio Ferraz de Arruda, que como prefeito ia colocar, depois não
colocou, mais tarde veio o Salgot, que não deu nem tempo de esquentar a cadeira,
foi cassado. A seguir veio o Cassio Paschoal Padovani, uma porção de colegas nossos,
entre eles, Antonio Oswaldo Storel, Antonio Durval Dorta, Milton
Nascimento, Edson Furlan. Eles faziam parte da nossa associação. Quando o
Cássio entrou, logo na primeira vez, ele entendeu perfeitamente. O Cássio tinha
uma forma de pensar muito lógica. Ele chamou o Paulo Geraldo Serra que era o diretor
do SEMAE. O SEMAE foi fundado nessa pequena gestão do Salgot, em 1969. Dizem
que o Cássio disse ao Serra e a mais alguém, eu não estava lá no momento: “- “Quanto
tempo vocês levam para pôr isso em prática?”. O Serra respondeu: “- Uns três
meses!”. O Cássio determinou: “- Três meses é muito, vocês vão colocar em 20
dias!”. Essa fluoretação de águas é o melhor método para águas de abastecimento
público, é o melhor método para se aproveitar a ação do flúor na prevenção do
dente, para proteger o esmalte do dente. Por isso que hoje aqui em Piracicaba, não
sei em outras cidades, nunca trabalhei fora de Piracicaba, dificilmente se
encontra uma criança com dente cariado. Outros fatores concorreram, a educação
da saúde, hoje as mães na época da gestação, recebem orientação, inclusive da
importância da higiene bucal, sobre o valor dos dentes, quando as crianças
nascem as mães cuidam melhor. No tempo em que eu era menino, ainda estudante,
abusava-se de balas, de açúcar, abusava-se de qualquer coisa que provocava
cárie nos dentes.
Na
verdade, os recursos materiais naquela época eram limitados.
Eu
quando era menino, meus pais eram pobres, levava pão com açúcar na escola. Não
tinha orientação. Hoje está muito melhor. Dá gosto de ver!
Você conheceu a clínica
do Marcelino Serrano?
Conheci!
Era uma clínica popular. Ele trabalhava naquele estilo bem antigo, tinha muita
gente que ia lá. Ele almoçava lá, jantava lá, ia para casa às 10 horas da
noite. Ele trabalhava muito, punha como empregados dele uns dois ou três, depois
dele vieram outros, entre eles, Vasco Altafin.
O Dimas de Almeida era dentista
prático?
Não.
O Dimas era formado em Alfenas. No tempo em que não tinha faculdade aqui,
alguns alunos foram estudar em Alfenas: Jonas Vaz de Arruda, Rene Gerdes, Dimas
de Almeida, Alberto Nobre Ferraz. E de Campinas, antes de instalar a nossa
faculdade aqui, foram contemporâneos nossos, alunos e professores vindos da PUC,
entre eles, Krunislave Nóbilo, o pai
dele era iugoslavo, José Rensi, Said Dumit.
Da Escola de Ribeirão Preto, que naquele tempo era particular, depois a USP
assumiu, vieram Aparecido Nascimento, Lourenço Bozzo, Walter Daruge, irmão do Eduardo
Daruge, este último foi meu professor, Angélica que era casada com o Walter,
Neimar dos Santos que não ficou na faculdade, Roberto Domingos dos Santos, esses
vieram de Ribeirão Preto. O Professor Eduardo Daruge me ensinou Odontologia
Legal, depois mudou para Deontologia. Ele se especializou em pesquisa com
cadáver, identificação humana. Ele tem trabalho sobre os que eram inconfidentes
mineiros, o Eduardo, filho dele, ajudou nisso aí. A Clotildes Fernandes é minha
colega de turma, eu a conheci desde criança, quando eles vieram de São Pedro.
Eles moravam na Avenida Saldanha Marinho, tinha ela, a irmã dela, a Natália, o
irmão, Jorge, já falecido, eu morava na Rua do Rosário, 122, eu vim de Rio das
Pedras, morei nessa casa até novembro de 1953.
Você sente saúde do tempo em que morou em Rio das Pedras?
Tenho ido pouco para lá. Agora está bem diferente. Geralmente
eu vinha de trem de Rio das Pedras para Piracicaba. O trem parava no
Pinheirinho, parava no Chicó.
Você chegou a conhecer o Rancho Alegre?
Conheci! Era um rancho aberto, na época não existia a
Avenida 31 de Março. Íamos pela hoje Avenida Bairro Verde, na época não era
avenida e o chão era de terra.
Você conheceu o dentista Antonio Abe?
Ele formou-se um ano antes de mim. Tinha consultório na
Rua XV de Novembro, 444, no Edifício Domus. Quando jogava futebol era
determinado, geralmente jogava como lateral direito.
No IHGP – Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba,
você ocupou todos os cargos, menos o de presidente.
Quando fui admitido, o presidente era Haldumont Nobre
Ferraz, o Tiquinho, ele foi presidente por duas gestões, na segunda gestão dele
eu entrei na diretoria dele, pelo estatuto ele não poderia mais ser reeleito,
ficou o Paulo Celso Bassetti, depois do Bassetti voltou
o Tiquinho mais uma vez, nessa ocasião fui Tesoureiro ou Segundo Tesoureiro, depois
veio o Pedro Caldari, eu fiquei Secretário, fiquei fora em duas gestões, depois
voltei ocupando alguns cargos. Atualmente sou Segundo Tesoureiro.
Qual é a sua visão
sobre o Instituto Histórico?
Acho
muito importante! Infelizmente, pelo Código Civil, tem que ser administrado de
forma gratuita por todos os diretores. Está cada vez mais difícil encontrar
quem participe como diretor ou associado. Posso afirmar que isso acontece na
maioria das instituições de cunho Cultural ou filantrópico. Fiz parte do Rotary
Club – Paulista de 1978 a1982. Naquele tempo, só participavam os homens, tinha cerca
de 40 a 50 membros. Hoje podem participar os homens e as mulheres e têm de 20 a
25 membros, se conseguir. Hoje a gente vê, foi criado mais um Rotary, foi
criado mais um Lions, eu não sou favorável a ficar repartindo em pequenos
grupos. Isso porque não consegue unir um número suficiente para dar impacto. Não
adianta ficar 6 ou 7 se reunindo. Você tem que ter uma equipe para trabalhar.
Quero
deixar bem claro que sou favorável ao Rotary e ao Lions Clube. Sou favorável a
todas as entidades com fins filantrópicos, culturais como é o IHGP, como é a Academia
de Letras, só está cada dia mais difícil, e os jovens não têm muito entusiasmo
por isso!
O que acontece com os
jovens de hoje?
Leitura
de livros mesmo, não gostam! Gostam de ler no computador, no celular, e vão ler
aquilo que é obrigatório para fazer provas e passar! Com raras exceções!
Acho
muito importante o trabalho que vem sendo desenvolvido pela Marly, Ivana, Leda,
Carmem e outras pessoas, junto a escolas, estimulando crianças a ler, livros
infantis. Algum fruto vai dar!
Tenho
a impressão de que no futuro as pessoas voltarão a valorizar a leitura convencional.
Você pode fazer uma defesa de tese, dando alguns parâmetros e o computador irá,
em pouco tempo, oferecer uma maravilhosa tese. Quem for analisar pode usar um
programa para identificar como foi feita essa tese. Irá constatar que ocorreu a
ajuda de um computador. Foi então criado um programa para despistar que essa
tese é de um meio eletrônico! É uma disputa de gato e rato!
O que você acha do
conceito de que através da inteligência artificial iremos progredir 1.000 anos
em 100 anos, ou seja um século a cada 10 anos?
Atualmente,
nós humanos, já estamos escravizados pela tecnologia! Agora quando vamos ao
supermercado a máquina registradora marca tudo: preço, desconto, etc... Quando
eu era menino, marcava-se em uma caderneta, o proprietário, ou balconista,
tinha sempre um lápis preso entre a orelha e a cabeça. Isso tudo escrito com
lápis. Levávamos a caderneta para casa e ninguém punha a mão! No dia certo,
somavam-se todas as contas para pagar. O faturamento era manual. Na base da
confiança mútua. Quantas vezes eu fui comprar com caderneta! Existia uma
honestidade muito grande. Hoje nós temos praticamente tudo embalado. Ou é lata,
ou é plástico. Naquele tempo, pegava-se com o pegador, arroz, feijão, milho,
tudo a granel!
Você tem algum hobby?
Meu hobby é ler. Livros, revistas, leio muito jornal, tenho
muitos livros, em casa tenho duas estantes grandes de livros. Principalmente
livros de História. De Piracicaba, tenho algumas coisas raras. Tivemos uma
revista chamada Mirante, que funcionou de 1957 até 1962, tenho 54 volumes
encadernados. Na época eu era estudante. Todo livro da História de Piracicaba
que eu encontro eu compro. Essa revista tinha muita coisa, era dirigida pelo
Arlindo Romani, Roberto Wagner (Hoje é nome de avenida que margeia o Rio Piracicaba),
no começo estava o Joaquim do Marco, Edson Rontani. Depois foi extinta. Voltou
a ser editada, mas não na mesma categoria. Em 1980 saíram umas 10 edições. A
outra era melhor em termos de apresentação, conteúdo. Tenho muitos almanaques de
Piracicaba, aqueles almanaques, só o de 1914 eu tenho xerocado. O almanaque de
1900, um amigo meu, deu para mim, logo depois ele faleceu. Era original,
encadernado. Algum tempo depois, alguém da família me procurou, perguntando
sobre o almanaque que o falecido tinha emprestado para mim. Como não tinha como
provar que ele tinha feito uma doação para mim, devolvi, para não passar por
proprietário de coisa alheia. Consegui tirar cópia de alguma coisa. Se eu
encontrar um hoje, em condições de xerocar eu faço a cópia. Depois apareceram
diversos almanaques pequenos, eu os comprava. Tenho almanaque de 1956, está
encadernado também, foi editado pelo Krähenbühl, está encadernado também. Esses outros que vieram depois 1965,
70 e 80, eu tenho todos, espero que sejam todos. São muitos. Eu gosto de História.
Quando você era jovem,
frequentava cinema?
Nunca fui fanático. Alguns filmes
melhores eu ia assistir.
Naquele tempo tínhamos vários
cinemas: Politeama, Broadway, Palácio, Colonial, São José, depois apareceu o
Paulistinha. No Paulistinha, acho que entrei uma vez só.
Os filmes passavam primeiro no centro, depois
ia para lá. O ingresso custava metade do que era cobrado no centro. Em frente
ao cinema havia uma intensa troca de gibis antes do horário do filme.
Era uma época mais ingênua! Mais sincera.
Quando eu morava na Rua Governador, com os
amigos, fui diversas vezes no Bar e Sorveteria Paris, ficava onde hoje é o
Banco Safra. Os donos eram japoneses ou descendentes, lá conheci um deles: Tuneharo Anraku ,ele foi mais amigo meu. Tinha mais alguns
que não me lembro o nome, tinha o Milton, ele era mais novo do que eu. Milton
era uma parada! Sossegado! Para conversar com ele precisava diminuir muito o
seu ritmo. Um dia, eu já devia estar com os meus 40 anos, trabalhava lá no Bom
Jesus, passei na Rua Santa Cruz, ele tinha aberto um bar, para servir lanches,
bebidas. Parei lá para comprar um sanduiche de carne. Perguntei: “-Milton, que
carne você usa para fazer esse sanduiche?”. Ele em seu ritmo muito calmo,
disse-me meio sossegadamente: “É coooontraaaa”, ou seja, era contrafilé.
Ele formou-se em engenharia, mas acho que
nunca trabalhou na área. Piracicaba, com a queda do Comurba, criou um receio da
população em morar em edifícios. Nessa época, a empresa do Comendador Antonio
Romano e companhia, estava construindo o Edifício Pedro Ometto, ao passar por
lá procure ver a espessura dos pilares que existem lá, eles iam começar a
construir quando caiu o Comurba, puseram excesso de concreto naquilo! Já faz 30
anos que eu moro em apartamento. Quando eu era jovem, era favorável a
construção de prédios. Hoje sou contra. O que vem ocorrendo ultimamente é o
correto: condomínio horizontal. Edifício com 18,20,30 andares são sujeitos a problema
de trânsito, esgoto, abastecimento de água, problemas elétricos às vezes, elevador
que não funciona, estou lá, então permaneço, mas se fosse para entrar hoje eu
não iria. Eu achava bonito os edifícios altos. Assim como quando era menino achava
bonitas as chaminés das indústrias soltando aquele rolo de fumaça!
João Chiarini você conheceu também?
João Chiarini tinha a
Livraria Pilão, comprei muito livro dele lá. Ele foi eleito vereador entre 1951 e 1955.
Você andou de bonde?
Andei bastante!
Saltava do bonde com ele em movimento?
Saltei umas duas ou três vezes, com
cuidado para não encontrar um poste na frente!
O bonde que ia para a Escola de
Agronomia, ESALQ ,saía do ponto inicial, o abrigo atrás da Catedral, esse
abrigo existe até hoje, ia pela Rua XV de Novembro até a Rua José Pinto de Almeida,
virava para a esquerda seguia até Rua Marechal Deodoro, subia duas quadras,
virava na Rua São João e chegava até dentro da Agronomia, na esquina do restaurante.
Lá virava os encostos dos bancos, e estava pronto para voltar.
O bonde que ia para a Vila Resende
passava na Rua do Rosário, em frente onde eu morava. Ia até o ponto final, na
Vila Rezende, pela Avenida Rui Barbosa. Ele saía do lado da Catedral, virava na
Rua Moraes Barros, virava na Rua Alferes José Caetano, ia até a Rua Prudente de
Moraes, vira ali, seguia pela Rua do Rosário, em frente a atual ACIPI tinha um
desvio, era onde o bonde que vinha no sentido contrário passava, mais adiante,
na Rua Campos Salles havia outro desvio.
Próximo à ponte Irmão Rebouças tinha um
moinho de fubá?
Tinha! Era o Moinho de Fubá do Luiz
Carlos Pitta, ficava próximo ao atual Hotel Beira Rio.
Ali, onde era a Praça Barão de Serra
Negra, que era uma praça linda, maravilhosa, foi construído o Hotel. Na minha
opinião, uma das coisas que o Guidotti fez errado. Eu conheci aquela praça. São
raras as fotografias daquela praça. Era linda! Tinha as ruas em diagonal, no
meio tinha um coreto, tinha um arvoredo maravilhoso. Foi o Barão de Serra Negra
que construiu aquela praça. Vejo hoje o mundo materializado demais. Às vezes eu
falo brincando que o mundo perdeu a alma.
Foto tirada em 28 de maio de 1967, ocasião em que se
casavam Waldemar Romano (cirurgião-dentista e vereador) e Maria Ignês de Mattos
Romano (funcionária da Câmara Municipal). Os convidados foram recepcionados na
casa da família, situada no centro de Piracicaba. Na foto, a família Romano:
Maria Azzini (ao centro) e os filhos Américo, Elza, Henrique, Pedro (Bene),
Antonio, Elisa e Hélio. Atualmente, Hélio reside no bairro Cidade Alta.
Henrique em Artemis. Os demais são falecidos.
A família, sob coordenação e liderança de
Antonio Romano (comendador pela Santa Sé), foi proprietária da Retífica Romano
S/A, instalada à rua São José, 1122, encerrando suas atividades em 1980. Pedro
Romano foi proprietário da Funilaria Bene, situada à rua Bom Jesus, 735, ainda
em atividade e sendo seus proprietários aqueles que, até 1997, foram seus
empregados. Elza Romano, formada pelo Instituto Educacional Sud Menucci, foi
professora primária em Penápolis, Pirambóis, Distrito de Tupi (Piracicaba) e
aposentou-se no Grupo Escolar Barão do Rio Branco. (Fonte: Edson Rontani
Jr.)
Waldemar, a sua mãe, conforme você disse,
“fez junto com você!” o Tiro de Guerra, isso porque todos os cuidados para com
a sua apresentação impecável tinham muito da participação dela!
De fato! E a minha mãe hoje,
com 100 anos de idade, completados no dia 25 de abril de 2024, assiste televisão,
enxerga bem, escuta bem.
Onde o meu tio Comendador Antonio Romano, construiu quarenta sobrados, tem várias travessas, uma delas é em homenagem ao meu avô Caetano Romano. Isso na época em que construiu, uma das travessas recebeu o nome do meu avô Caetano Romano, por iniciativa do vereador Jorge Moysés, o Gito, que exerceu mandato de 1960 a 1963. Meu avô era muito pobre, trabalhou com diversas coisas. No fim, ele faleceu com pouca idade, ele era sapateiro.
Ele era imigrante?
É aí que entra o detalhe, todos os meus bisavós eram italianos! Do lado da minha mãe é Augustti, tinha Foltran, Bortoletto, do lado do meu pai minha avó que era Azzini, em São Pedro tem uma família Azzini, talvez seja parente, os meus bisavós possivelmente passaram pela Casa do Imigrante, hoje Museu do Imigrante. Fui até lá, mas na época estava fechado para reforma.
Eles vieram de qual região da Itália?
Vieram do Norte da Itália, minha bisavó falava do Vale do Pó, que é no Norte. Uma das maiores planícies da Itália, situa-se entre os Alpes e Apeninos. É percorrida pelo Rio Pó.
A minha bisavó chamava-se Alexandrina Romani, meu avô foi registrado como Romano, disse: “Agora todos os meus filhos terão o sobrenome Romano. Os Romaní que moram em Santa Bárbara D`Oeste são todos meus primos! Américo Emílio Romani, que foi prefeito em Santa Barbara D`Oeste é nosso primo em segundo grau.
Como a sua família escolheu a localidade para morar inicialmente?
Quando os meus bisavós vieram para cá, foram trabalhar nas terras dos Moraes Barros, naquele tempo prevalecia o cultivo do café. Eles mudaram-se para Recreio, de lá foram para Mombuca, em seguida vieram para Piracicaba. Minha mãe nasceu no Campestre. Augustti, Foltran, que são da família da minha mãe, quando vieram para cá, acho que foram direto para o Campestre pelo jeito, tinham a plantação de café, mas também o que usavam em casa: milho, batata, galinhas, porcos. A casa em que a minha mãe nasceu, não sei se demoliram, a cerca de 10 anos eu fotografei aquela casa. O Campestre na época era bem rústico, estrada de terra, uma irmã do meu avô era conserveiro daquela estrada! Trabalhava com enxada! Com enxada puxando pedra para cobrir os buracos, vinha a chuva e tinha que fazer tudo de novo. Meu pai nasceu em 1918, ele contou uma vez para mim, que os italianos quando chegaram no Brasil, sofreram muito, quando ele me falou, já fazia uns 30 anos que estavam no Brasil, e segundo ele, essa fase difícil ele não vivenciou com a mesma rigidez. Ele disse-me: “-Comer pão com sardinha, sabe como é que era? Dependurava a sardinha em um arame ou em um barbante, batia o pão na sardinha, outro batia o seu pedaço de pão no sentido contrário e a sardinha balançava de um lado para outro! Você comia pão com gosto de sardinha!”. Hoje em Santos você compra sardinha por R$ 10,00 o quilo!
As coisas mudaram muito, em escala mundial. O que observamos em fotografias antigas, e mesmo há uns 50 anos atrás, era a ausência de obesos. Piracicaba teve um obeso de 120 quilos que era muito famoso, pelo seu peso, a ponto de fazer propaganda. Gordura era sinal de saúde!
Waldemar, qual era o material utilizado para a obturação de um dente?
Tínhamos dois tipos de materiais que eram predominantes: para os dentes posteriores aquele escuro, é o melhor material que existia. Antes de eu me formar, usava-se muito ouro, ouro batido. Quando me formei aparecia um ou outro que dizia: “Quero por um dente de ouro!”. Eu aconselhava a pessoa não colocar dente de ouro. Usei ouro em alguns casos, mas usava amalgama de prata, é um excelente material, só que depois começou o conceito de que o mercúrio prejudicava a saúde da pessoa. Acho que não prejudicava, desde que você trabalhasse com ele corretamente, você espremia tudo que sobrava de mercúrio. Espremer em uma camurça. Se não estremece o excesso de mercúrio aquele trabalho iria cair a qualquer hora, se tivesse excesso de mercúrio, talvez sim, prejudicasse a saúde. Aquele que foi espremido o mercúrio fazia parte do amálgama. Não ia sobrar na boca! Depois veio o conceito de que por estética nos dentes de trás, começou a ser usada resina especial nos dentes posteriores. Nos dentes da frente, quando me formei não tinha essas resinas, usava-se material pior. Gastava-se mais na escovação. Chamava-se silicato. Usava uma matriz de celuloide, prendia no lugar, que segurasse bem o celuloide, ele ficava perfeito. Só que ele gastava mais depressa. Às vezes manchava. Naquele tempo fumavam muito. Era charme. Não era proibido fumar dentro de casa, os ônibus que iam para São Paulo tinham até cinzeiros nos braços das poltronas.
Havia pessoas com toda a boca cheia de dentes de ouro?
Há 100 anos atrás existia! Hoje quando percebem que alguém foi enterrado e tem ouro nos dentes, roubam. O ouro como material é excelente, mas não se usa mais. Essa resina que se usa para o dente posterior hoje está mais aperfeiçoada. Há 20 anos, a resina não tinha a qualidade do amalgama. Hoje melhorou bem. Infelizmente o preço é muito elevado.
Já tinha protético como profissão na época?
Tinha, inclusive tinha protético que fazia dentaduras tratando diretamente com o paciente.
Dentadura é um procedimento difícil de ajustar na boca do paciente?
Conforme a boca! Tinha boca que era difícil, outras eram mais fáceis.
Você atendeu algum paciente que tenha engolido a dentadura?
Tive um caso de uma paciente, ela era de Tupi, existe a ponte móvel, é um serviço antigo, hoje está sendo substituída pelo implante. Se for fazer uma ponte de um dente ou dois dentes, é melhor fazer implante. É mais caro, mas é melhor. Ela tinha uma ponte móvel parcial, que outro profissional tinha feito, ela apareceu com a ponte em meu consultório, e eu disse a ela que aquela ponte não era muito conveniente fazer. Melhor fazer outro tipo de trabalho. Você pode engolir isso aí. E não é que ela engoliu mesmo! Um sábado à tarde ela chegou na porta da minha casa e disse-me: “–Engoli a ponte!”. Eu disse-lhe, que a ponte estava em uma área que não é a minha. Estava no estomago! Disse-lhe para comer bastante coisa seca, comer paçoca, comer isso ou aquilo, depois você tem que ir ao hospital e ver onde está essa ponte. Tirar uma radiografia. Ela foi, tirou a radiografia, estava no estomago.
Teve que fazer uma cirurgia?
Ela acabou eliminando pelas vias naturais. A ponte tem umas garras, parece um caranguejo, pode rasgar. O médico falou a mesma coisa para ela, procurar fazer uma comida bem seca, para poder rodear a ponte e proteger o intestino.
A ocorrência de mau hálito, pode ter várias origens?
Pode ocorrer por diversos motivos: excesso de dente estragado, existem medicamentos que secam a boca e produzem mau hálito, quando seca a boca pode também cair a dentadura, a aderência dela é pela umidade. Os medicamentos destinados ao tratamento psiquiátrico, geralmente secam a boca. Outro fator que causa mau hálito é ficar muito tempo sem se alimentar. De madrugada por exemplo, é comum ter um pouco de mau hálito por ter ficado muito tempo sem comer nada.
Há pessoas que expelem gotículas de saliva quando falam, qual é o motivo?
Acho que é o método de abrir a boca, usar a língua, dá para corrigir, ensinar a pessoa a falar diferente, mais baixo. A pessoa que tem a língua presa também pode ser que tenha esse problema.
Deve procurar um profissional da área?
A pessoa terá que se educar.
Ao cirurgião-dentista é facultada a prática de intervenções faciais?
Existem certas intervenções que são facultadas, o cirurgião buco-maxilo-facial é um especialista que poderá fazer intervenções cirúrgicas em ambiente controlado, geralmente um hospital, onde terá o suporte de outros profissionais da saúde.
Waldemar Romano dedicou-se muito a APCD- Associação Paulista de Cirurgiões Dentistas. como membro muito ativo, sendo que declinou de ocupar cargos nessa gestão, visto que desde 1965 ocupou os mais diversos cargos. Foi presidente por um mandato, declinou aceitar ser presidente outras vezes. Nem por isso deixou de trabalhar com empenho pela entidade. Em São Paulo frequentei muito, implantei Conselhos Regionais de São Paulo, abrangendo todos os Conselhos do Interior e da Capital. Na época eram 50 a 60 regionais, agora são cerca de 80 regionais, inclusive da Capital.
Quem regulamenta o exercício da profissão?
É o CRO – Conselho Regional de Odontologia, onde por duas gestões fui Conselheiro. Existe ainda o CFO- Conselho Federal de Odontologia. No Sindicato dos Odontologistas de São Paulo também fiquei Diretor um tempo. Agora temos Sindicato em Piracicaba também. E tem uma Delegacia Regional dentro da APCD.
Hoje temos uma área de 6.000 metros quadrados com 2.000 metros quadrados de construção.
O Museu Odontológico de Piracicaba ao completar 25 anos comemorou com o lançamento do livro: “Museu Odontológico – 25 anos”, de autoria dos cirurgiões-dentistas Drs. Reinaldo José Ferraz Salvego e Waldemar Romano.
Você criou o Museu de Odontologia de Piracicaba?
Na verdade, quem criou o Museu foi a falecida Dra. Grace Harriet Clark Alvarez, ela construiu o Museu em 1980, ficou até 1988 quando ela faleceu. Daí eu fiquei Diretor por uns tempos, depois ficou Erasto da Fonseca, Ciro Delábio Silveira, ultimamente era o Reinaldo José Salvego, ele faleceu. A UNICAMP assumiu o Museu da FOP.
Quantos dentistas existem em Piracicaba?
Se considerarmos todos, passam de 1.000. Na ativa, trabalhando, acredito que há cerca de 300.
300. O serviço diminuiu muito, o que aumentou foi o implante e a estética.
Postagem em destaque
-
PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS JOÃO UMBERTO NASSIF Jornalista e Radialista joaonassif@gmail.com Sábado 02 de setembro de 2...
-
PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS JOÃO UMBERTO NASSIF Jornalista e Radialista joaonassif@gmail.com Sábado 15 de março de 2013. ...
-
PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS JOÃO UMBERTO NASSIF Jornalista e Radialista joaonassif@gmail.com Sábado 18 de março de 2017 ...