domingo, agosto 07, 2011

JOÃO BOSCO DE FREITAS- Sociedade de São Vicente de Paulo

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 28 de junho de 2011
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.tribunatp.com.br/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADO: JOÃO BOSCO DE FREITAS- Sociedade de São Vicente de Paulo
Frederico Ozanam nasceu em 1813. Aos 20 anos em Paris deu início a uma obra que ajuda milhões de famílias há mais de 170 anos: a Sociedade de São Vicente de Paulo SSVP. A missão da Sociedade de São Vicente de Paulo é aliviar a miséria espiritual e material dos que vivem em situação de risco social. São Vicente de Paulo é considerado o patrono de todas as obras de caridade. Atualmente a Sociedade de São Vicente de Paulo está presente em 143 países e tem mais de 700 mil membros espalhados pelo mundo. O Brasil é o maior país vicentino, denominação dada a quem adere a SSVP, aqui a instituição nasceu em 1872, com a Conferência São José, no Rio de Janeiro. Conta com cerca de 250 mil voluntários, organizados em 20 mil Conferências e 33 Conselhos Metropolitanos. As Conferências Vicentinas são grupos formados por homens e mulheres e também por crianças e adolescentes. Os grupos se reúnem semanalmente para debater e sugerir maneiras de atender as famílias carentes, que são cadastradas após sindicância sócio-econômica. As Conferências são coordenadas por Conselhos, que direcionam os trabalhos e atividades seguindo os princípios e fundamentos da Regra da Sociedade de São Vicente de Paulo. A administração da Sociedade de São Vicente de Paulo no Brasil é de responsabilidade do Conselho Nacional do Brasil; e no mundo, do Conselho Geral Internacional, com sede em Paris. Os Vicentinos realizam o sonho Ozanam, que é "formar uma grande rede de caridade de ajuda ao próximo", uma realidade que alivia o sofrimento dos pobres e incentiva a promoção da dignidade humana. A SSVP recebe colaboração de benfeitores, que contribuem financeiramente com a instituição, a visita domiciliar é a principal atividade dos Vicentinos. Semanalmente são feitas mais de 200 mil visitas, em diferentes bolsões de miséria. Assim, todos que são amparados pela instituição são incentivados a melhorar suas vidas em todos os sentidos. O trabalho da SSVP abrange ainda as Obras Unidas. São creches, educandários, asilos, entre outras instituições todas mantidas e administradas pela organização. Diversas unidades Vicentinas promovem cursos que visam a inclusão social das famílias assistidas; como os de alfabetização e de geração de renda são as Obras Especiais. Atualmente, meio milhão de brasileiros recebe o apoio da SSVP. Semanalmente a instituição distribui mais de 800 mil quilos de alimentos, arrecadados por meio de campanhas junto aos colaboradores, além de remédios, roupas, materiais escolares e utensílios diversos. No Brasil, cerca de 100 mil jovens Vicentinos semeiam o futuro da SSVP, atuam cerca de 600 Conferências de Crianças e Adolescentes. A Sociedade São Vicente de Paulo une homens, mulheres e crianças num mesmo ideal: praticar o amor ao próximo. O vice-presidente do conselho da SSVP em Piracicaba, João Bosco de Freitas relata um pouco mais do trabalho realizado pela instituição. Paulista, nascido em Tapiratiba a 23 de agosto de 1937, seu pai era administrador de fazenda, faleceu em 1942 em Resende, no Rio de Janeiro. Sua mãe voltou com os filhos para a casa da sua família em São Joaquim da Barra. João estudou no Primeiro Grupo Primário de São Joaquim, cursou o Ginásio Municipal, que atualmente leva o nome da professora de artes manuais. Formou-se professor e é diplomado pela Escola Técnica de Contabilidade São José.
O senhor exerceu algum trabalho até obter o diploma de professor?
Nós éramos muito pobres, eu fazia pequenos trabalhos, desde regar um jardim ir buscar leite para algum vizinho, varrer uma calçada. Quando passei a fazer o curso de técnico em contabilidade a tarde trabalhava e um escritório local. Permaneci em São Joaquim da Barra até concluir o Tiro de Guerra.
De lá o senhor transferiu-se para onde?
Fui morar em São Paulo, um grande número de jovens tinha como aspiração ingressar no Banco do Brasil, era o grande emprego da época. Meu sonho era ser radialista. (Curso que João concluiu recentemente, com registro em carteira profissional). Quando eu era menino meu tio João, que era cego me ensinou a transmitir jogos de futebol. Outro tio trabalhava na Rádio Gazeta que ficava na Rua Casper Libero, uma noite fui visitá-lo, às 22 horas a rádio encerrava a sua programação, eu pude realizar meu sonho em falar ao microfone, mesmo com a emissora fora do ar, só com os alto falantes internos ligados. Transmiti um jogo hipotético entre Brasil e Argentina, eu tinha 14 anos. Lembro-me de que o São Paulo tinha feito uma excursão á Itália, o Geraldo José de Almeida acompanhou a comitiva do São Paulo. Em determinada noite ele transmitiu um jogo entre o São Paulo e o selecionado italiano. Um jogo em que o São Paulo perdeu, o placar era de 4 a 1 para a Itália, uma tristeza geral. Os comentários, a publicidade, tudo correndo conforme os hábitos da época. O jogo terminou, Geraldo José de Almeida saiu do ar, foi quando o plantão esportivo feito por Narciso Vernizzi anunciou que era o dia Primeiro de Abril e aquele jogo embora tivesse sido transmitido em sua integra, nunca de fato havia ocorrido. Era tudo uma brincadeira da rádio!
Em São Paulo o senhor lecionou?
Mandei convites da minha formatura á diversos familiares, entre eles havia um tio que tinha contatos importantes em São Paulo, entre eles com a Deputada Estadual Maria Conceição da Costa Neves (Conhecida também como Conceição Santa Maria). O Estado não conseguia suprir a necessidade de vagas escolares, em abril de 1956 o prefeito de São Paulo criou por decreto 900 classes, o professor nomeado tinha que arrumar uma sala em algum local de periferia e assumir o ensino dessa classe. Assim começou o ensino municipal em São Paulo! Com a influência do meu tio consegui uma classe no bairro hoje considerado como bairro de elite, o Real Parque Morumbi. Eu andava a pé cinco quilômetros para chegar lá, sendo que três quilômetros eram de terra nua. Descia do ônibus no ponto final, próximo a fábrica de Sorvetes Kibon, ia a pé até o Rio Pinheiros, atravessava a ponte e continuava já em chão sem calçamento. Eu lecionava na Escola Isolada do Real Parque Morumbi, hoje situada na Rua Barão de Melgaço.O magistério é gratificante, apesar das dificuldades. Antes tínhamos a dificuldade da distância a ser percorrida para lecionar, hoje a dificuldade é a falta de respeito do aluno para com o professor. Em 1959 eu comecei a trabalhar também no Diário Popular, na Rua do Carmo. O proprietário era José Walter, seu primo Newton Rodrigues era meu amigo e me convidou para ocupar uma vaga no jornal. Trabalhei como revisor, na época Joelmir Beting trabalhava na redação de esportes. Em 1962 fui trabalhar no Diário do Comércio, nessa época me casei e fui morar na Rua Visconde de Parnaíba. Nesse jornal entrei como revisor, passei a arquivista e fui seu redator. Em 22 de fevereiro de 1989 quando Dona Luiza Erundina foi eleita prefeita, não me enquadrei com os ideais políticos dela. Eu me aposentei.
Como educador qual é a opinião do senhor sobre a aprovação continuada?
É um desastre! Em qualquer coisa na nossa vida só podemos alcançar progresso pelo mérito. Exclusivamente pelo mérito!Quem criou a promoção continuada foi Dona Luiza Erundina quando foi prefeita de São Paulo. O Mario Covas era governador, gostou da idéia, o Estado assumiu. Dona Luiza Erundina, como assistente social por formação, entendia que a reprovação era desestimulante. Isso é perfeitamente correto, até a reprovação em um exame laboratorial é desestimulante! Foi com base nisso que ela achou que a criança sendo automaticamente promovida ela iria se estimular, sentir-se mais segura de si e apresentar bons resultados. Ledo engano! Ela apostou errado, outros apostaram errados e cada vez mais se aposta errado na educação.
Na visão do senhor qual é a saída?
É a saída adotada pelos Tigres Asiáticos, investir cada vez mais na educação, sem atrelar á política. A educação deve ser um instrumento de promoção da família, do bairro, da cidade, do país.
Como se deu a sua vinda a Piracicaba?
Minha esposa Deise Grillo de Freitas trabalhava na área comercial, soube que havia á venda uma loja no shopping em Piracicaba. Adquirimos a loja e viemos para cá, não me arrependo de ter vindo á Piracicaba, embora não possa dizer o mesmo do negócio, estabelecimentos comerciais em shopping em determinadas situações são belas ilusões. Poucos comerciantes que trabalham em shoppings centers conseguem obter algum lucro. Os proprietários dos shoppings são os grandes beneficiados, não perdem nunca.
Sua atividade junto a grupos religiosos iniciou-se em que local?
Quando mudamos para o bairro Nova Piracicaba, passamos a freqüentar o Santuário Nossa Senhora dos Prazeres, nessa época conheci alguns vicentinos. Fui convidado a ingressar na Sociedade São Vicente de Paulo, isso foi em 2002. Eu sentia a necessidade de ser útil para mim e para meu semelhante. Na Paróquia de Nossa Senhora dos Prazeres há duas Conferências, a de São Paulo Apóstolo e a de Nossa Senhora dos Prazeres.
O que é ser vicentino?
É ser tocado por Deus para olhar para seu semelhante, com caridade no coração ajudar, tentar pelo menos promover a família de um necessitado. É um momento grandioso na vida da gente. Engajar-se nesse movimento é muito bom. Quando Ozanam fundou esse movimento a miséria na França era muito grande. Somos apolíticos, nosso grande objetivo é a caridade com o sentido de promoção, não praticamos o assistencialismo, e exercemos a evangelização.
O senhor exerce qual cargo na instituição?
Na Conferência sou vice-presidente, para exemplificar, a Conferência equivale a um município de um país. A conferência agrupa até 15 pessoas, ela tem uma área de atuação na cidade e se reúne uma vez por semana. Não somos uma entidade assistencialista, somos pregadores da palavra, evangelizadores. É um movimento católico, embora admita em suas fileiras quem não seja católico, embora este não possa ocupar cargo. Pode existir Conferência isolada sem estar ligada a uma paróquia. Essas Conferências se agrupam em um numero mínimo de oito, formando o que chamamos de Conselho Particular. Os Conselhos Particulares se agrupam em um numero de pelo menos cinco, formando um Conselho Central. Esses Conselhos Centrais se agrupam em um Conselho Metropolitano, que por sua vez se agrupam no Conselho Nacional. Do dia 4 a 10 de julho teremos a semana missionária, é aberta ao público, na Capela São Luiz será na quarta feira dia 6 de julho, das 20 às 22 horas, o Padre Edson estará presente. Todos estão convidados. Piracicaba tem uma atuação vicentina muito forte, existem aproximadamente 500 vicentinos.
Os vicentinos assistem famílias evangélicas?
Dos meus assistidos 65% são evangélicos! Não olhamos a crença de ninguém. A Sociedade tem uma credibilidade muito grande. Assistimos cerca de 60 famílias no Bosque do Lenheiro, desde 1999 quando o bairro começou, as ruas eram de terra ainda. Visitamos as famílias semanalmente. As cestas básicas nós levamos geralmente aos sábados.
Mas e o programa da Bolsa Família não supre as necessidades mínimas dessas famílias?
Isso é uma forma de captar votos dos eleitores. Cento e poucos reais vai sustentar uma família de sete a oito pessoas? Se não fosse o trabalho dos vicentinos, de outras entidades, de pessoas que trabalham anonimamente, essas pessoas morreriam de fome!
Qual é o maior problema encontrado nessas áreas assistidas?
O problema cultural é gravíssimo! São bem poucos os que têm o ensino fundamental.
Isso é fruto da falta de interesse dessas pessoas ou falta a ação efetiva do Estado?
Credito ás duas partes. Especialmente dessas pessoas, mas o Estado não atua como deveria atuar. Como educador posso afirmar que o bairro está aparelhado fisicamente para atender as necessidades de educação, não existe motivação nem empenho para que os educadores e dirigentes cumpram sua missão, a orientação oficial não estimula o trabalho do educador.
O desenvolvimento e o futuro do menor é motivo de preocupação dos vicentinos?
A questão do menor nos preocupa muito. Infelizmente de um modo geral a família do menor não está estruturada, o responsável pelo menor não acredita que o fator cultural possa alterar a vida do mesmo. Se o exemplo dentro de casa é desfavorável a criança se envolve muito pouco com a escola. Para eles a escola não oferece atrativos quando se dirigem á ela vão contra a sua vontade. Eles não conseguem visualizar que a escola é um meio de melhorar a sua vida. Se a família também não tiver essa visão, as coisas ficam muito difíceis. Se a família for bem estruturada as crianças vão para a escola, apresentam bons resultados.



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