PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 17 de julho de 2011
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
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http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADOS: WLASTERMILER TEIXEIRA DE MATTOS E LUCIANO FURLAN
No Brasil, o sedentarismo é um problema que vem assumindo grande importância. As pesquisas mostram que a população atual gasta bem menos calorias por dia, do que gastava há 100 anos, o sedentarismo atinge 70% da população brasileira. A atividade física é assunto de saúde pública. Em todo o mundo observa-se um aumento da obesidade, o que se relaciona pelo menos em parte à falta da prática de atividades físicas. É decorrência do estilo de vida moderno, onde grande parte do tempo livre é destinado para assistir programas de televisão e utilizar computadores. Uma pequena mudança nos hábitos é capaz de provocar uma grande melhora na saúde e na qualidade de vida do indivíduo. A atividade física pode também exercer efeitos no convívio social do indivíduo, tanto no ambiente de trabalho quanto no familiar. Não é necessária a prática intensa de atividade física para garantir seus benefícios para a saúde. A realização de exercícios físicos atua no equilíbrio das substâncias relacionadas ao sistema nervoso, melhora o fluxo de sangue para o cérebro, ajuda na capacidade de lidar com problemas e com o estresse. Auxilia na manutenção da abstinência de dependências químicas (álcool, tabaco, etc...) e na recuperação da auto-estima. Há redução da ansiedade e do estresse. A atividade física regular é uma importante aliada no combate a hoje considerada “doença da moda”: a depressão. O Brasil tem alcançado sucesso em diversas áreas esportivas. É inegável a importância do futebol por despertar o interesse da população por esportes, além dos nossos consagrados astros do futebol a cada dia surgem novos atletas brasileiros que se destacam em esportes considerados de elite ou menos populares no nosso país, o que mostra a riqueza da nossa diversidade de valores. Um dos esportes que tem elevado o nome do Brasil no exterior é o Jiu-Jitsu. Diz a tradição que ao norte da Índia, há 2.500 anos, nascia o príncipe Sidartha Gauthama, que mais tarde veio a ser conhecido como Buda - o Iluminado. Com o Budismo, surgiu também o Jiu-Jitsu em virtude da necessidade de defesa dos monges, os quais não podiam portar armas, por motivos religiosos. Dotados de grande conhecimento do corpo humano, criaram o Jiu-Jitsu, que tem na defesa pessoal a sua principal essência, baseados em leis físicas, tais como equilíbrio, momento de força, alavanca, inércia, centro de gravidade. No Japão, o Jiu-Jitsu teve grande repercussão. O Jiu-Jitsu chegou ao Brasil em meados da década de 20, trazido pelo campeão japonês Mitsuo Maeda Koma (o lendário Conde Koma), que aportou no Pará e conheceu Carlos Gracie, a quem ensinou o Jiu-Jitsu na condição de este ser mantido em segredo. Carlos Gracie não só aprendeu a técnica, como ensinou a seus irmãos. Helio Gracie, o caçula da família, veio a ser o grande gênio nessa arte, a ponto de hoje ser considerada como a arte marcial mais completa e eficiente do mundo, no exterior é conhecida como Brazilian Jiu-Jitsu. Em Piracicaba Wlastermiler Teixeira de Mattos, mestre em Jiu-Jitsu desenvolve um trabalho de divulgação dessa arte, aliado ao professor Luciano Furlan, diretor de uma das mais conhecidas academias de Piracicaba. Wlastermiler nasceu em Piracicaba, 06 de agosto de 1975, em Piracicaba, é filho de Herbert Barbosa de Mattos e Maria Cecília Teixeira de Mattos. Luciano nasceu em Piracicaba, a 19 de janeiro de 1980, filho de Antonio Furlan e Luiza Maria Sartori Furlan.
Luciano onde você realizou seus estudos?
A minha formação escolar foi no Colégio Dom Bosco, até ingressar na UNIMEP, onde conclui a faculdade e fiz especialização em Fisiologia em São Paulo.
Cuidar do corpo está na moda?
Há uma grande procura de academias de ginástica por razões de saúde e por razões estéticas também. Hoje a imagem idealizada é a do corpo sarado a famosa “barriga de tanquinho”, vemos as mais diversas atividades físicas realizadas nesse sentido. Algumas pessoas buscam a atividade física inclusive para se livrarem da dependência química de álcool, tabaco. A prática de atividade física é um fator que auxilia muito no combate á essas dependências, algumas pessoas conseguem sucesso, outras não. A participação do Estado como agente motivador de atividades físicas é muito tímida, muitos gastos em saúde feitos pelo Estado em sua rede de atendimento médico poderiam ser evitados ou minimizados se houvesse maior atenção á atividades físicas como preservação de saúde e qualidade de vida.
Há alunos tabagistas freqüentando a academia?
. Estimamos que cerca de 10% dos alunos são tabagistas. Houve uma redução, talvez até em decorrência de campanhas efetuadas conscientizando o usuário do tabaco dos seus malefícios á saúde. É impossível aliar bem estar físico ao alcoolismo ou tabagismo. Atualmente temos quase 1000 alunos na faixa etária de 14 a 70 anos. O aluno com idade mais avançada vem á academia na busca de saúde, qualidade de vida, lazer, ele realiza todo tipo de atividade física que um jovem faz, obedecendo a uma carga adequada, exercícios adequados, próprios ás suas condições físicas, seus limites necessariamente são respeitados, ele recebe uma educação especial do educador físico, do fisioterapeuta.
Há quanto tempo você trabalha nessa área?
Atuo há 10 anos, no Clube de Campo de Piracicaba trabalhei por 7 anos, lá eu era professor de musculação. Simultaneamente eu tinha uma academia na Rua Dona Eugênia. Mais tarde juntamente com o Mário Ângelo de Lima, montamos outra unidade maior, mantendo a da Rua Dona Eugenia.
Há uma migração de associados de clubes sociais e esportivos para academias particulares?
Acredito que sim, principalmente pela especialização das academias, em pessoal em equipamentos oferecidos aos freqüentadores das academias.
Wlastermiler você fez seus estudos onde?
Estudei no Grupo Escolara Barão do Rio Branco, em seguida fui aluno do Colégio Dom Bosco Assunção. Sou formado em Educação Física pela UNIMEP.
Quando iniciou o seu contato com o Jiu-Jitsu?
Foi em 1999, o que me atraiu muito foi a disciplina existente nesse esporte, o Jiu-Jitsu é uma arte, onde o indivíduo mais fraco aprende a defender-se do mais forte através de uma técnica muito aprimorada. Minha atenção foi despertada pelo equilíbrio das pessoas que ensinavam essa arte. Existe um grande respeito entre professores e alunos, a obediência a uma hierarquia é exemplar. Meu mestre é Roberto Tozzi, que possui uma academia em Campinas e outra em Valinhos.
Qual é a sua graduação em Jiu-Jitsu?
Há quatro anos sou faixa preta. Há 4 anos dou aulas, a idade mínima para começar é de 4 a 5 anos, existem freqüentadores de até 60 anos, geralmente são mestres. Eu sempre gostei de esporte, praticava muito futebol, com o tempo passei a me interessar mais pela arte do jiu-jitsu. Temos que observar que o fato de um aluno freqüentar as aulas de jiu-jitsu seja por um dia ou por um ano, não faz dele necessariamente um legitimo praticante da arte. Quem entende a essência do jiu-jitsu evita ao máximo envolver-se em conflitos gratuitos, é uma arte que proporciona mais equilíbrio, calma, paz. Às vezes após um longo dia de trabalho, chego cansado, estressado, assim que estou no tatame deixo ali o stress, a tensão, é prazeroso. Está ocorrendo uma divulgação maior do jiu-jitsu no interior do Estado de São Paulo, é a única arte onde o trabalho entre os competidores é realizado no chão, ela vem complementar uma série de artes marciais onde a disputa é feita em pé. O praticante de qualquer arte marcial que também praticar jiu-jitsu terá pleno domínio sobre seu adversário. Muitos profissionais, das mais diversas áreas e classes sociais têm procurado as nossas aulas, como forma de autodefesa, principalmente pela forma como é ensinado qual deve ser o seu comportamento diante de uma situação de alto risco. Atualmente até as mulheres buscam esse tipo de treinamento, temos um bom percentual feminino freqüentando as nossas aulas.
Luciano, o fato de estar havendo um grande crescimento do número de academias de ginástica, deve-se a maior preocupação com a saúde?
Isso decorre da procura da população por um local onde possa realizar atividades físicas, aliado ao fato de estar havendo um grande crescimento da cidade;
Quando o verão se aproxima há a corrida “ao milagre do corpo sarado” quase imediatamente?
As próprias novelas que mostram cenas com visuais maravilhosos, os atores interpretando suas personagens jogando vôlei, em cenas de praia, as imagens divulgadas por revistas, tudo isso motiva as pessoas a buscarem a forma física tida como ideal. Há pessoas que chegam aqui e dizem: “-Daqui a dois meses vou fazer uma viagem a Porto Seguro e preciso melhorar!” Alguns querem fazer um verdadeiro milagre, e não é assim que funciona! Temos relatos de alguns alunos que em função de freqüentarem a academia deixaram de freqüentarem a noite de forma compulsiva. A atividade física exige disciplina. Isso acaba refletindo positivamente na relação familiar, profissional e escolar.
Há rotatividade de alunos?
Existem alunos que freqüentam pouco tempo e desistem pelos mais variados motivos. Há também alunos que estão a anos conosco. Há casos onde o aluno matriculado deixa a academia por redução de despesas, mantendo em contrapartida hábitos dispendiosos, como bons restaurantes, boas viagens, bons vinhos. O ideal seria equilibrar saúde e lazer.
Wlastermiler essa preocupação com a prática de esportes é maior em outros países?
Por exemplo, os atletas americanos recebem todo tipo de suporte, material, treinamentos, médico. Aqui no Brasil, o cidadão tem um apoio incipiente, quase nulo.
Luciano complementa:
É uma questão de falta de vontade do governo. Uma questão cultural.
Wlastermiler
Acho que já melhorou só que falta muito para chegar ao nível de outros países. Aumentaram ás áreas de lazer. Tenho um projeto apresentado á Prefeitura de Piracicaba, “O Jiu-Jitsu e sua contribuição na inclusão social e no desenvolvimento integral de crianças e adolescentes”, voltado á criança carente, para tirar a criança da rua, da droga. Só que a Prefeitura não aprovou até o presente momento, não consegui nem retorno do projeto. Pode ser falta de verba, pode ser de natureza política. É um projeto muito barato, necessita de poucos recursos. Atualmente trabalho na formação de atletas para competirem em campeonato estadual, brasileiro e mundial. Dou as aulas para quem quiser conhecer a arte. A disputa é acirrada, quando competia conquistei o terceiro lugar na classificação estadual. Deixei de investir na minha formação como atleta de competição para poder investir na parte profissional de formação de atletas. Atualmente estou formando equipes para competição. Meu objetivo é destacar os atletas que se empenharem, irei dar todo o meu apoio á eles. A academia de onde venho, em Campinas, tem cerca de 1000 alunos em jiu-jutsu. Piracicaba tem aproximadamente 300 alunos, é uma arte que está crescendo de forma exponencial.
Qual é a relação entre o judô e o jiu-jitsu?
O judô é uma arte em pé, deu uma queda, pontua e parou. O jiu-jitsu começa onde o judô acaba. Um lutador que conhece as duas artes ele sabe disputar em pé e no chão. Um complementa o outro. Está havendo uma grande migração do pessoal do judô para o jiu-jitsu, surgindo uma nova arte que é o MMA - Mixed Martial Arts. Grandes professores do Brasil estão lecionando na Arábia, Abu Dabe, Europa, Estados Unidos. Um grande amigo formado comigo está dando aulas na Califórnia. Infelizmente eles saem do Brasil para formar novos valores em outros países por causa do apoio que recebem no exterior. Hoje a família Grace tem forte atuação nos Estados Unidos, Inglaterra, Japão.
Você tem noticias se policiais treinam jiu-jitsu?
Por dois anos dei aulas á um grupo de policiais militares, soldados, sargentos, tenentes.
Quem pagava essas aulas?
Os próprios alunos, do bolso deles.
O Bullying é um termo utilizado para descrever atos de violência física ou psicológica, intencionais e repetidos, que constantemente a mídia expõe como fato comum em alguns ambientes escolares, o jiu-jitsu pode ser a solução?
Com certeza deixaria de existir! O esporte socializa aquilo que ás vezes o aluno leva como ofensa, se estiver integrada a pessoa nem leva muitas brincadeiras como ofensa. Muitas ações tomadas de forma prejudiciais poderiam ser canalizadas para o lado positivo, com a ajuda do esporte.
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