PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
Sábado 28 de abril de 2012
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
ENTREVISTADO: ARNALDO SORRENTINO
Arnaldo Sorrentino nasceu a 20 de março de 1940 no bairro do Tucuruvi em São Paulo. Seu pai Antonio Sorrentino foi inspetor na empresa General Motors do Brasil. Sua mãe Matilde Sarao Sorrentino por determinação médica deveria sair de São Paulo e ir á uma localidade com um clima mais saudável. A cidade escolhida por seus pais foi Águas de São Pedro. Isso foi no tempo em que funcionava o cassino no Grande Hotel em Águas de São Pedro, seu pai foi trabalhar como chefe geral das oficinas do Grande Hotel, onde residia com a família. Nessa época Arnaldo tinha cinco anos de vida. Infelizmente seus pais não se acostumaram em Águas de São Pedro, mudaram para Piracicaba. Aqui, seu pai montou uma pequena oficina e passou a trabalhar com motor de partida e gerador de automóvel. O curso primário Arnaldo estudou no Grupo Moraes Barros, o ginásio ele estudou no Colégio Dom Bosco. Interrompeu seus estudos para trabalhar e ajudar no sustento da família, no início fazia serviços gerais, o popular “bico”. Em 1958 foi admitido na empresa Mausa Metalúrgica e Assessórios Para Usinas Ltda. Onde permaneceu até 1969. Começou como apontador e ao sair da empresa era Chefe Geral dos Almoxarifados. A Mausa funcionava na Rua Santa Cruz, paralela a linha do trem da Sorocabana. Nessa época ele morava com seus pais na Rua Treze de Maio, depois mudaram para uma casa localizada na Rua Gomes Carneiro, próxima à Santa Casa de Misericórdia. Com seu ordenado Arnaldo mantinha a família composta pelos pais já com a saúde precária e sua irmã Josefina que cuidava de ambos. Outros três irmãos faleceram muito pequenos. Mais tarde sua irmã Josefina passou também a trabalhar em outro emprego. Em 1965 Arnaldo formou-se como Contador pela famosa Escola do Zanin. Seu sonho era fazer advocacia, só havia faculdade no período diurno. Em 1966 preparou-se de forma autodidata para prestar o vestibular. Prestou na PUC de Campinas. Fez carreira como educador, foi diretor titular da Escola Técnica Estadual Coronel Fernando Febeliano da Costa, foi Delegado Regional de Ensino. Casado com Irani Maria Hellmeister Sorrentino é pai de dois filhos Leonardo Hellmeister Sorrentino e Arnaldo Hellmeister Sorrentino.
O senhor foi estudar direito em que faculdade?
Um amigo, representante da Shell disse-me que iria abrir um curso de direito em Espírito Santo do Pinhal, montado por professores da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (FDUSP), também conhecida como Faculdade de Direito do Largo de São Francisco comandados pelo então ministro Gama e Silva. Prestei o vestibular lá, o curso era noturno.
As aulas eram todas as noites da semana?
Devo muito a uma amigo chamado Laurindo Pontim. Ele era chefe da fiscalização estadual em Limeira. Ele fez a seguinte oferta: “Arnaldo, você dorme na minha garagem.” Eu trabalhava na MAUSA, as 17hs pegava o ônibus até Limeira aonde chegava as 18h, o Seu Laurindo estava esperando com o carro. Iamos á faculdade onde estudávamos até as 23hs. Voltava para Limeira onde chegávamos por volta das 24hs. Tomava um lanche e ia dormir na garagem da casa do Seu Laurindo. No dia seguinte cedinho levantava, pegava o ônibus na esquina, vinha pra trabalhar em Piracicaba. Fiz isso por três anos. No quarto ano de faculdade juntamente com um grupo de amigos me transferi para a faculdade de direito em São João da Boa Vista, nessa época cada um de nós tinha seu carro próprio, passamos a revezar para realizar essa viagem. De Piracicaba a São João da Boa Vista a distância era de 152 quilômetros. Para Espírito Santo do Pinhal era quase a mesma distância.
O senhor praticamente nem via sua família?
Quase nem via. Em 1971 me formei. Comecei a advogar em 1972. Concomitantemente com a profissão de advogado comecei a lecionar, era necessário ter o diploma como professor de português eu fui fazer Filosofia, Ciências e Letras, estudei latim, francês, e português. Estudei na faculdade em Machado, Minas Gerais. Em 1968, enquanto estava fazendo o curso de direito fui convidado a dar aula de português na Escola de Comércio Cristóvão Colombo, mais conhecida como Escola do Zanin. O diretor na época era Acácio de Oliveira Filho. Em 1972 comecei a lecionar no ensino do Estado. Comecei a dar aula de francês no Grupo Alfredo Cardoso e dava aula de português no Colégio Técnico Agrícola de Rio das Pedras. Prestei concurso, fiquei professor titular de português, meu primeiro local de trabalho já como titular foi em Paraisolândia, próximo á Charqueada. De manhã dava aula lá e noite no Colegio Estadual e Escola Normal Monsenhor Jeronimo Gallo.
O senhor sempre foi muito dinamico.
Sempre dei aula no Estado e sempre advoguei. Dava 40 horas de aula por semana, de manhã e a noite, a tarde advogava. Em 1980 passei a ser advogado da Guarda Municipal de Piracicaba, função que exerci por 10 anos. Nesse mesmo período comecei a lecionar na Faculdade de Ciencias Contábeis de Rio Claro onde fui titular em Organização e Contabilidade Agrícola, Direito Agrário, em Organização e Contabilidade de Seguro e Direito de Seguro. Por 10 anos lecionei nessa faculdade. Depois passou a se denominar Centro Universitário Claretiano. Dei aula nas duas instituições, como titular.
Em que áreas do direito o senhor atuou?
Na área criminal, no tribunal do juri, cívil, família.
Como surgiu a vocação do senhor para trabalhar na área criminal?
Como eu dava aula de português adquiri uma facilidade em me expressar oralmente, ser bom orador é importantíssimo, quando lecionei português sempre fiz com que meus alunos conseguissem capacitação na área de expressão oral. Eu dava cinco aulas por semana: Uma de redação, três de gramática e uma de expressão oral.
Quando o senhor começou a fazer juri?
O meu primeiro juri foi em 1976, o Forum era na Rua do Rosário esquina com a Rua Prudente de Moraes. Foi um juri de um rapaz que atirou contra a esposa, bem em frente ao INSS. Em seguida ele tentou o suicidio. Nós o absolvemos. Sempre fiz juri com um grande amigo, Antonio Henrique Carvalho Cocenza. Quiem me convidou para fazer esse juri foi o juiz Urbano Ruiz, hoje desembargador. Convidei o Henrique, passamos a fazer juri juntos. Com seu jeito expontâneo e alegre Henrique Cocenza dizia” Somos considerados a dupla Pelé e Coutinho”. Fizemos grandes trabalhos. Dos trabalhos realizados, um foi o da mãe que se jogou no Rio Piracicaba com seus três filhos. O filho mais novo faleceu. Ela foi a juri. No primeiro absolvemos, o promotor apelou, fizemos o segundo juri e absolvemos novamente. Na época o advogado dativo não ganhava um centavo. Atualmente a justiça pública remunera o advogado dativo. ( O termo “dativo” é utilizado para designar defensor (advogado) nomeado pelo juiz para fazer a defesa de um réu em processo criminal ou de um requerido em processo civil, quando a pessoa não tem condições de contratar ou constituir um defensor).
Outro caso entre muitos, qual foi?
Eu dava aula em Rio Claro, o juiz titular de lá nos convidou para trabalhar no caso, na época o advogado dativo não era remunerado, trabalhava por amor a justiça. Ninguém queria fazer esse juri, era um cidadão já falecido, por onde ele passou ele matou muitas crianças, se não me engano foram suas vítimas 23 crianças. Em Rio Claro a polícia decobriu que foram 4 vítimas. Henrique e eu fizemos a defesa do criminoso, apresentamos a tese de que ele era inimputável por ser psicótico e totlmente incapaz. Na época até o Fantástico da Rede Globo nos entrevistou. Foi um trabalho de grande repercusão. Ele foi para o manicomio, onde faleceu depois. Esse cidadão tinha dupla personalidade, ele residia próximo a Marginal do Tietê em São Paulo, tinha família, filhos, era um pai exemplar. Mas quando ele saia se transformava.
O senhor tem algum livro escrito?
Ainda não. Fiz muitas crônicas, principalmente na Tribuna Piracicabana, devo ter feito mais de 200 crônicas. Sempre tive apoio da Tribuna, e sempre escrevi para a Tribuna.
Quantos juris o senhor já fez?
Perdi a conta. Até um certo tempo eu mantinha um controle, pegava os atestados. Com o passar do tempo deixei de lado o registro pessoal dos juris realizados. Acredito que devemos ter feito uns 200 juris nesses anos todos.
Como é o processo que antecede um julgamento?
Dentro da minha técnica de trabalho, ha casos em que acompanhamos desde o seu início, desde a polícia até a hora de fazer o juri. Há casos em somos nomeados para fazer o trabalho. Pega-se o bonde andando, lá no final as vezes. Costumo pegar o processo, xerografar o processo inteiro, faço uma análise completa do processo. Verifico tudo aquilo que possa favorecer ao indiciado, tudo que possa ser alegado em sua defesa. Apresentamos tantas teses quanto forem necessárias para absolve-lo. Desde que não sejam teses conflitantes, sejam teses compatíveis. Sempre lutando pela absolvição do indiciado, ao contrário da promotoria pública. O promotor público acusa, mas dependendo do caso ele pode pedir a absolvição. A defesa não pode pedir a condenação, sob hipotese nenhuma. Tem que defender o indiciado, senão o juiz pode determinar que ele está indefeso e ai anula o juri.
No Brasil há quem critique a ação dos advogados, que foram instruidos desde a faculdade, a realizarem uma autêntica disputa, as vezes até mesmo com envolvimento pessoal dos advogados das partes, ao invés de procurarem uma conciliação que seria mais eficaz aos seus clientes.
Nos paises desenvolvidos o que impera é a advocacia preventiva. Não se pratica nenhum ato sem que a pessoa esteja assistida por um advogado. No Brasil todo mundo acha que ja nasce sendo advogado, entende de tudo, quando acontece um problema o advogado irá ter que defendê-lo naquilo que ele praticou. No Brasil funciona exatamente a advocacia atuante. Quando o caso já está concretizado, há dificuldades de conciliação. Com os tribunais conciliatórios melhorou bastante. O próprio tribunal de justiça pede ao advogado que se pronuncie se há a possibilidade de conciliação ou não.
Em alguns casos, esses tribunais conciliatórios são realizados de forma a cumprir uma agenda ou alimentar alguma estatísca de forma distorcida, onde de fato não há nenhuma intenção de conciliação entre as partes?
Estamos caminhando ainda para isso, existe um propósito de que nós consigamos chegar em um ponto satisfatório.
De uma forma geral, o profissional de direito está amadurecendo?
Está sim. Hoje existe a especialização. Quando eu comecei a advogar o advogado era um clinico geral. Tinha que pegar a maquina de escrever e lá realizar seu trabalho. Hoje temos advogados previdenciários, trabalhistas, criminalistas. Cada um atua em sua respectiva área.
Piracicaba teve grandes nomes de advogados generalistas?
Teve Jacob Diehl Neto, Sinhô, Cruz, João Basílio, e tantos quantos outros, que deixamos de citar os nomes para não cometermos injustiça de esquecer o nome de alguém. Mas a advocacia mudou muito, meu filho Leonardo Hellmeister Sorrentino já advogado há 10 anos, atua na Baixada Santista, ele gosta de atuar na área de crime, mas na parte empresarial. O advogado jovem hoje pauta por uma determinada área.
O senhor atua junto a Câmara Municipal de Piracicaba?
Atuo como advogado do Presidente da Câmara Municipal, João Manoel dos Santos. Sou advogado da Câmara já há seis anos e meio.
O senhor é religioso?
Sou praticante da Igreja Messiânica, que considero como uma filosofia. Sou diretor da escola Centro Educacional Evangelho Vivo.
O senhor é presidente do Conselho Coordenador das Entidades Civis de Piracicaba?
Participo do Conselho há mais de 10 anos, eleito pelos meus pares sou Presidente do Conselho. O Conselho tem mandato de um ano, prorrogável por mais um ano, estou no período da prorrogação, meu mandato vai até dezembro de 2012. Meu vice-presidente é o economista Edie Brusantin, ex-professor da Unicamp, o meu primeiro tesoureiro é Gabriel de Oliveira Duarte, empresário. O meu segundo tesoureiro é o advogado Antonio Agostinho Caporali de Souza o meu primeiro secretário é José Chabregas, professor, o meu segundo secretário é Antonio Carlos Fernandes, ex-funcionário da Caterpillar. É um trabalho altruista. O Conselho existe desde 24 de abril de 1956, fundado por três piracicabanos: Dr. Fortunato Losso Neto, Dr. Felipe Westin Cabral de Vasconcelos, Dr. Alcides Di Paravicini Torres. São 56 anos sempre lutando pelos grandes empreendimentos de Piracicaba. Devo salientar que temos o companheirismo e a participação de tres grandes entidades de Piracicaba: ACIPI, nossas reuniões se realizam todas as segundas terças-feiras do mes nas depeneências da ACIPI, A Tribuna Piracicabana, através do nosso prezado Evaldo Vicente, sempre nos dando apoio, sempre trabalhando, e o Clube Coronel Barbosa que sempre cede suas instalações para eventos.
Atualmente quantas entidadades são representadas pelo Conselho?
Nesses anos todos, de acordo com o livro publicado narrando nossa trajetoria, tivemos a participação de mais de 200 entidades. Hoje participantes efetivas são em torno de 33 entidades.
O senhor acredita que falta divulgação da atuação do Conselho?
A Tribuna Piracicabana divulga muito nosso trabalho, o mesmo não ocorre com outros veículos de comunicação da nossa cidade.
Há uma certa alienação das entidades com relação ao Conselho?
A própria dinamica dos dias atuais sobrecarregam as atividades do individuo. O Conselho embora seja apolítico influencia nas decisões tomadas com relação a cidade. A Rodovia do Açucar, a Faculdade de Odontologia de Piracicaba, nasceram dentro do Conselho. A implantação dos primeiros 100 hidrantes na cidade. Normalmente formulamos uma proposta e vamos pedir a atuação nesse sentido por parte do poder público no ambito municipal, estadual e federal. O Conselho tem uma ação tramitando contra o Complexo Cantareira, no sentido de reverter esse quadro e melhorar as condições para Piracicaba. O Conselho está participando desse complexo que torna o Rio Piracicaba navegavel com o porto em Artemis. Por lei municipal o Conselho faz parte de todos os conselhos da cidade.
Existe instituições sememelhantes ao Conselho Coordenador das Entidades Civis de Piracicaba em outras localidades?
Eu desconheço alguma outra cidade que tenha um Conselho Coordenador das Entidades Civis.
ENTENDA COMO FUNCIONA O JURI
(CASO NARDONI)
ENTENDA COMO FUNCIONA O JURI
(CASO NARDONI)
JURADO É DISPENSADO POR ESTAR DE BERMUDA NO FORUM.
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